ANÁLISE DO CONSUMO DE INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS EM UMA FARMÁCIA COMUNITÁRIA NO MUNICÍPIO DE TIANGUÁ, CE

ANALYSIS OF THE CONSUMPTION OF PROTON PUMP INHIBITORS IN A COMMUNITY PHARMACY IN THE MUNICIPALITY OF TIANGUÁ, CE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202408241436


Francisco Leonardo Pontes Sales1
Evelyn Iara Ferreira Melo Dias2
Patrícia Vasconcelos de Freitas3
Marília Viana Albuquerque de Almeida3
Olindina Ferreira Melo3


Resumo

Os IBP’s se trata de uma das classes de medicamentos mais prescritas na prática clínica na área da gastrenterologia e nos cuidados de saúde primários. Este estudo teve como objetivo caracterizar o consumo de Inibidores de Bombas de Prótons por clientes atendidos em uma farmácia comunitária, Tianguá, Ceará. Estudo exploratório, transversal com abordagem quantitativa realizado em uma Farmácia Comunitária. Os participantes foram 100 clientes que adquiriram IBPs. Dados coletados por meio de entrevista durante os meses de maio a junho de 2023. As variáveis foram idade, sexo, escolaridade, tempo de uso dos IBPs, indicação e reações adversas possíveis. Em destaques a faixa etária de 19 a 29 anos e uso de omeprazol 20mg. Em seguida na lista dos mais usados têm-se o pantoprazol 40mg (18%), esomeprazol 20 mg (10%) e omeprazol 40 mg (52%). Sobre o tempo de uso, percebeu-se que 50% dos entrevistados fazem uso inferior a um ano, 34% de 2 a 3 anos e uma minoria faz uso de mais de 4 até 7 anos ou mais. Sobre a indicação desse medicamento verificou-se a automedicação com 39%, indicação médica (36%) e ainda a indicação do farmacêutico (25%). Motivos do uso foram sintomáticos como azia (55%), gastrite (7%), refluxo gástrico (14%), dor de estômago e Helycobacter pylori (12%), ambos. Apesar deste estudo não ser de base populacional para toda a região estudada, as informações encontradas podem proporcionar uma melhor compreensão com relação ao uso de IBP’s por clientes das demais farmácias da região. 

Palavras-chave: Bomba de prótons. Farmácia. Inibidores.

1. INTRODUÇÃO

As informações produzidas pelo Estudo e Uso de Medicamentos (EUM) são importantes para a detecção, análise e solução de todos os problemas causados pela utilização errada dos medicamentos. O estudo e uso de medicamentos apresentam-se como uma alternativa para detectar possíveis abusos no uso dos medicamentos, podendo levar a possíveis medidas que permitam reduzir esses custos sem perda de qualidade nos tratamentos médicos (MELO; RIBEIRO; STORPIRTIS, 2018). 

Prefigura-se que esses estudos são necessários para a produção de conhecimento sobre padrões acerca da utilização de medicamentos específicos, podendo contribuir também para a formação de uma consciência cada vez mais crítica entre os profissionais que prescrevem e dos que dispensam os medicamentos e ainda dos próprios consumidores (MCCOUL, 2019). 

A automedicação se trata da prática de consumir medicamentos sem avaliação inicial de um profissional de saúde. Dessa forma a pessoa tende a medicar-se por conta própria ou chega a ser por indicação de amigos ou conhecidos. Este hábito geralmente está ligado à intenção do paciente na busca por aliviar algum sintoma (MATHIAS, 2022). 

Por sua vez, com relação ao uso racional de medicamentos é importante salientar que o farmacêutico é o profissional responsável por promover o uso racional deles, além de detectar, prevenir e/ou resolver problemas relacionados ao uso dos medicamentos, especialmente os Inibidores da Bomba de Prótons (IBP’s) (GENNARO, 2019). 

Os IBP’s se trata de uma das classes de medicamentos mais prescritas na prática clínica, tendo uma presença preponderante na área da gastrenterologia e nos cuidados de saúde primários. Com a generalização do uso destes fármacos nas últimas décadas, e apesar de exibirem um perfil de segurança favorável, surgiram questões relacionadas às consequências do uso prolongado dos mesmos (KATZUNG, 2019). 

De acordo com Souza et al. (2018) o uso de IBP’s pode gerar um grave problema de saúde pública, principalmente, por meio da automedicação, onde existe a ausência de prescrição médica. Segundo Miranda (2015), no Brasil as classes terapêuticas dos medicamentos mais utilizados por automedicação são os Anti-inflamatórios Não Esteroidais (AINEs), em seguida vem os miorrelaxantes/ espasmolíticos e por fim os antiulcerosos, como os Inibidores da Bomba de Prótons (IBPs) e outras classes. 

À vista disso, outro estudo realizado por Fontanella, Galato e Remor (2018) destacou que os medicamentos mais consumidos por universitários são analgésicos, anticoncepcionais, anti-inflamatórios, vitaminas, IBPs, antiácidos e os antiespasmódicos significando um consumo excessivo e exorbitante dos mesmos, consequentemente, gerando graves problemas futuramente, pois esse público tem chamado atenção nas pesquisas realizadas anteriormente. 

Atenta-se que os IBP´s foram introduzidos no mercado nos anos 80, como uma nova opção terapêutica medicamentosa para controle do ácido gástrico. Desde então, a sua utilização no tratamento de distúrbios gastrointestinais e em outras doenças ácido-relacionadas ficou estabelecida (KATZUNG et al., 2019). 

Compreende-se que sua ação farmacológica ocorre através da inibição específica e irreversível da bomba H+/ K+-ATPase. Porém, em regimes de dose única, um número significativo de bombas (70%) só é irreversivelmente inibido entre dois a cinco dias. Justificando a negativa indicação de IBP como sintomáticos, sendo escolhido o emprego de antagonistas dos receptores de Histamina (H2) ou os antiácidos comuns que também objetiva diminuir a secreção de ácido gástrico usados nas terapias de doenças gastresofágicas (BRASIL, 2012). 

Em virtude dos aspectos citados, o presente trabalho possui como questão norteadora: Como acontece o consumo de IBP’s por clientes atendidos em uma farmácia comunitária da cidade de Tianguá, Ceará. Ressalta-se a importância da escolha desse público atendido na Farmácia Comunitária da qual faz uso de inibidores de bomba de prótons, pois será possível contribuir na construção de subsídios para a adoção de medidas educativas em prol do uso racional desta classe de medicamentos. 

Por seu turno, esta pesquisa justifica-se pela necessidade de identificar esse público e compreender os fatores envolvidos no consumo dos IBPs, assim como identificar a automedicação. Desta forma será possível para o profissional farmacêutico direcionar ações de promoção do uso racional dos medicamentos no contexto da Farmácia Comunitária. 

Complementa-se que o uso indevido desses medicamentos que são usados na terapia para o controle do ácido gástrico: os IBPs, em longo prazo se tornam uma ameaça e podem gerar problemas ainda mais sérios e muitas vezes irreversíveis.

2. METODOLOGIA 

O estudo é classificado como estudo exploratório, transversal com abordagem quantitativa. A pesquisa foi realizada em uma Farmácia Comunitária no município de Tianguá, Ceará, no período de maio a junho de 2023. Este município pertence à microrregião de Ibiapaba e tem 75.140 habitantes. 

Os participantes do estudo inicialmente foram 164 clientes que buscaram adquirir os IBPs na farmácia. Foram incluídos 100 participantes que fizeram aquisição de IBPs e que aceitaram participar da pesquisa. Foram excluídos 64 que desistiram de participar da pesquisa. E, não incluídos os demais clientes atendidos na Farmácia que não adquiriram os IBPs. 

Os dados foram coletados por meio de entrevista aos clientes que buscam adquirir os IBPs durante os meses de maio a junho de 2023. A abordagem ao cliente foi de forma tranquila e averiguado pelo pesquisador sobre a disponibilidade do cliente em participar da pesquisa. A entrevista aconteceu com um tempo médio de 20 minutos considerando o número de perguntas.

Em relação à análise de riscos com o tipo de pesquisa da entrevista, pode ser citado a não aceitação dos entrevistados por constrangimento ou a falta de conhecimento do mau uso dos IBPs.  Para minimizar os riscos de constrangimento durante a entrevista foi dada total liberdade na expressão dos participantes, sigilo no uso e exposição de suas respostas. 

Em relação aos benefícios têm-se disponíveis mais informações acerca do uso de IBPs e todos os riscos que o uso indevido poderá trazer. A busca pela solução do problema e a garantia dos benefícios, foi repassado aos entrevistados, e será de responsabilidade dos mesmos cumprir aquilo que foi repassado quanto ao seu uso. 

Os resultados obtidos na análise que foi realizada com os entrevistados estavam descritos em uma planilha de dados no Microsoft EXCEL® distinguindo quanto a idade, sexo, escolaridade, tempo de uso dos IBPs, indicação e reações adversas possíveis. Estes foram consolidados em gráficos e tabelas com o intuito de proporcionar mais visibilidade e objetividade aos resultados. 

A pesquisa seguiu a Resolução de n. 446 de 11 de agosto de 2011 e aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário Inta – UNINTA com o parecer de nº 6.028.254. 

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 

3.1 Caracterização dos clientes quanto ao sexo, idade e escolaridade

 No Gráfico 1 é possível observar a quantidade e seu valor percentual com relação aos usuários de IBPs com relação ao sexo. Pode-se inferir a tendência maior de prescrição para uso dos mesmos aos indivíduos do sexo feminino. Os resultados apontaram uma influência de 56 (56%) para o sexo feminino, ao passo que o sexo masculino representou 44 (44%) com relação ao uso e consumo de IBPs de um total de 100 usuários. 

Gráfico 1 – Identificação dos usuários de IBPs por sexo atendido na farmácia comunitária do estudo no período de maio a junho de 2023. 

Fonte: Autoria do pesquisador, 2023.

De acordo com Bertoldi et al. (2018) a utilização de medicamentos IBPs mais freqüente em mulheres pode ser explicada pelo maior risco de apresentarem sintomas gastrintestinais em situações como gastrites, úlceras cuja dor abdominal é um sintoma característico.

Em outro estudo farmacoeconômico realizado em uma UAPS – Residencial do município de Congonhas – Minas Gerais, identificou-se que a maioria era do sexo feminino (16%) relacionados ao uso de IBP’’s, todos ligados ao período de tratamento na cicatrização de úlceras gástricas e/ou duodenais para tratar a doença por refluxo gastroesofágico (GUALBERTO et al., 2023). 

É notório que mulheres são mais propícias a usar medicamentos do que os homens, incluindo os antidepressivos, analgésicos e ansiolíticos, enquanto os homens possuem uma frequência maior de uso de medicamentos provocados por problemas cardiovasculares. De forma geral, mulheres possuem uma maior prevalência de uso de medicamentos, mesmo sem contar com os contraceptivos hormonais. Dessa forma existe essa diferença por estar ligada aos fatores ligados à maior utilização de serviços de saúde e maiores cuidados que a figura feminina possui com a saúde, que iniciam na adolescência, em função de intercorrências ligadas ao ciclo menstrual e da gravidez, sendo de suma importância esse estudo para a pesquisa em questão (TAKAHAMA; TURINI; GIROTTO, 2014). 

Com relação à faixa etária (tabela 1) foi possível verificar que entre o sexo feminino predominou a faixa etária de 19 a 29 anos com 42,85%. O mesmo foi constado na faixa etária dos clientes do sexo masculino com 38,64%. A faixa etária entre 30 a 40 anos ficou em segundo lugar em ambos os sexos com 19,65% para feminino e 34,10%, masculino. 

Ao correlacionar com a escolaridade verificou-se que predominou clientes do sexo masculino com ensino fundamental I completo e nível superior incompleto (27,28%). O mesmo para o sexo feminino com 25,00% ensino fundamental I completo e 28,57% com nível superior incompleto, conforme tabela 1.

Tabela 1 – Identificação dos usuários de IBPs por idade e escolaridade atendidos na farmácia comunitária do estudo no período de maio a junho de 2023.

Fonte: Autoria do pesquisador, 2023.

Na avaliação relacionada à frequência geral dos usuários de IBP, foi verificado que a maioria (32%) era constituída por adultos e jovens. Atualmente, o uso desordenado e contínuo que se dá é a falta de tempo, que se trata de um grande fator com relação ao cumprimento de dieta ou digestão inadequada dos indivíduos, levando à efetivação de refeições rápidas. 

Com isso os alimentos que são mal digeridos e absorvidos de forma inadequada acabam irritando a mucosa gástrica e se tornando assim um agravante para o surgimento de gastrite, úlceras entre outros problemas ligados ao uso dos IBPs. É possível se pensar que estas alterações do padrão alimentar poderiam estar ligadas à alta frequência de uso de IBP pela atual população (DDINE et al., 2022). 

Outra questão relacionada ao uso dos IBPs é a situação financeira, sugere-se então que possa existir uma maioria dos jovens do estudo são pessoas que não possuem renda fixa, pois ainda se encontram buscando trabalhos que fazem atividades extras e que moram ainda com seus pais.

Em se tratando do estilo de vida sugere-se que os estudantes praticam atividades físicas, dentre duas a quatro vezes na semana, o mais predominante dentre os pesquisados, e se alimentam de forma regular, buscando uma qualidade de vida cada vez melhor, buscando alimentos mais saudáveis. 

Com relação ao nível de escolaridade, não foi encontrado nenhum estudo abordando a relação de nível de escolaridade com o uso de IBPs (RUPPENTHAL; PETROVICK, 2020). 

3.2 Caracterização do consumo dos IBP’s mais consumidos quanto ao tempo de uso, automedicação, motivo do uso, reação adversa e uso concomitante de outros medicamentos.

A tabela 2 descreve a identificação de IBP’s mais consumido pelos clientes atendidos na farmácia comunitária do estudo será descrito os dados na tabela 2. Foi avaliada a identificação dos IBP’s mais utilizados pelos clientes da farmácia comunitária, categorizando o uso de omeprazol 20mg, da qual foi o mais utilizado, comparado aos demais IBP utilizados, agregados em uma só categoria. Em seguida está na lista dos mais usados o pantoprazol 40mg (18%), esomeprazol 20 mg (10%) e omeprazol 40 mg (52%). 

Tabela 2 – Identificação do IBP’s mais consumido por clientes atendidos na farmácia comunitária do estudo no período de maio a junho de 2023.

Fonte: Autoria do pesquisador, 2023.

Segundo Souza et al. (2013), o omeprazol se trata do medicamento mais prescrito no Brasil para tratamento de doenças de refluxo, esofagite, síndrome de Zollinger – Elison e Hipergastrinemia. Além do mais, este medicamento é regulamentado pela ANVISA como sendo o item de venda sob prescrição médica, e ainda faz parte da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais do Brasil (RENAME) (PIMENTA et al., 2018). 

Foi realizado um estudo farmacoeconômico na UAPS – Residencial do município de Congonhas, Minas Gerais sendo incluídos no estudo pacientes que estavam acima de 60 anos considerados como idosos no estudo, ambos os sexos, atendidos pela UAPS no período de abril a maio de 2018, da qual foi analisado os prontuários médicos de 60 pacientes da qual se especifica do seu uso 85% dos entrevistados, relatados em uso do máximo 6 meses do medicamento omeprazol, sendo para as indicações seguintes: epigastralgia, gastrite endoscópica e para tratamento de Helicobacter pylori (GUALBERTO et al., 2023). 

Com relação às vantagens e desvantagens do uso do omeprazol o uso excessivo do remédio pode prejudicar na absorção de minerais e vitaminas e provocar diferentes problemas de saúde, como osteoporose, anemia e até a demência. Porém ainda se trata do melhor medicamento da categoria de protetores estomacais e é indicado no tratamento de refluxo, gastrite e úlceras. Ele age na alteração da acidez gástrica e interfere na absorção de vitaminas e minerais dos alimentos ingeridos (PIMENTA et al., 2018). 

Araújo (2017) também demonstraram que o omeprazol 20mg (52%) e o pantoprazol 40mg (18%) foram os IBP mais adquiridos pela população brasileira em 22 farmácias comunitárias, o que acaba levando aos resultados estudados. Os autores ainda discorrem que existem alguns fatores associados ao uso prolongado de IBP, incluindo a idade avançada, uso de AINES e antidepressivos seletivos da recaptura de serotonina que levam ao uso dos IBPs 

Dentre as vantagens do uso do Pantoprazol está o alívio dos sintomas gastrintestinais decorrentes da secreção ácida gástrica, tratamento de Gastrites ou gastroduodenites agudas ou crônicas e de dispepsias não ulcerosas, e após um ano de uso desse medicamento a probabilidade do paciente desenvolver câncer de estômago aumentou cinco vezes (BARBOSA et al., 2020).

E por fim outro fator que leva ao uso dos mesmos tem relação ao poder aquisitivo por ser tratar de um fator preditivo para o uso de medicamentos, em que indivíduos com poder aquisitivo menor não possuem um acesso fácil e rápido aos serviços privados de saúde (COSTA et al., 2021). 

Dessa forma o estudo foi realizado em uma Farmácia comunitária, logo, não se trata de um serviço privado de Saúde. 

A tabela 3 descreve quanto ao tempo de uso, quem indicou e o motivo pela qual levou ao uso dos IBPs pelos clientes atendidos na farmácia comunitária do estudo. Com relação ao tempo de uso, foi possível perceber que 50% dos entrevistados fazem uso inferior a um ano, e 34% de 2 a 3 anos, e uma minoria faz uso de mais de 4 até 7 anos ou mais. 

No que diz respeito ao tempo de uso, foi visto então que a maioria dos participantes fazia uso crônico dos IBPs, da qual é considerado uso crônico aquele realizado de três ou mais meses consecutivos. 

Sobre a indicação desse medicamento foi perceptível uma relação entre a automedicação (39%) e a indicação médica (36%) e ainda a indicação de um farmacêutico (25%), onde os valores foram bem relativos para os três tipos especificados na pesquisa. 

E o que levou ao uso dos medicamentos está ligado aos sintomas que na maioria deles é azia (55%) em seguida o refluxo gástrico (14%), dor de estômago e Helycobacter pylori (12%) e a gastrite (7%).

Tabela 3 – Caracterização quanto à forma de uso dos IBPs por clientes atendidos na farmácia comunitária do estudo no período de maio a junho de 2023.

Fonte: Autoria do pesquisador, 2023.

O uso crônico é algo preocupante, porque apesar de estudos publicados ainda não conseguiram estabelecer associação definitiva entre o uso contínuo de IBP e sua incidência com relação às complicações graves, os indícios são suficientes na busca pela recomendação do uso criterioso e monitoramento desses pacientes (Hoefler; Leite, 2019). Menegassi e colaboradores (2020) mostraram ainda que podem ocorrer alterações proliferativas de mucosa oxíntica desses indivíduos que fazem uso crônico de inibidores de bomba de prótons. 

Os IBPs como o pantoprazol, lansoprazol e esomeprazol foram relatados por Ortiz-Guerrero et al. (2018) como sendo um dos causadores de alguns efeitos neurológicos adversos por atravessarem a barreira hematoencefálica, desde cefaleia, tonturas e vertigens. Outros efeitos ligados ao Sistema Nervoso Central são a depressão, insônia, diplopia, sono perturbado, sonolência, entre outros. 

Com relação à automedicação o número de pessoas que procuram os medicamentos por conta própria tem crescido (Sousa; Silva; Neto, 2018). A automedicação pode levar a diversos riscos, como, o aumento do erro nos diagnósticos de doenças, a utilização de dosagem insuficiente ou excessiva, além do aparecimento de efeitos indesejáveis graves ou até reações alérgicas, além de causar enfermidades iatrogênicas e esconder doenças evolutivas (CASTRO, 2016) (LEITE; VIEIRA; VEBER, 2018).

O uso de medicamentos relacionados a automedicação pode acarretar no agravamento de uma doença, uma vez que seu uso inadequado pode vir a esconder outros sintomas. Ainda possui como conseqüências: reações alérgicas, dependência e até a morte. Entre os riscos mais presentes para a saúde daqueles que estão acostumados a se automedicar está o perigo de intoxicação e a criação de resistência aos remédios (GONZAGA; KOTZE; OLANDOSKI et al., 2021). 

É importante salientar que os farmacêuticos não podem prescrever IBP’s, apenas orientar e acompanhar quanto ao seu uso, onde os pacientes recebem medicamentos que são adequados para suas necessidades clínicas, em doses e período de tempo necessário. Sendo uma das funções do farmacêutico buscar monitorar de forma comum e simples os pacientes adequadamente e notificar a ocorrência de reações adversas deletérias do uso de IBP, sendo necessário, porém não havendo prescrição por parte do profissional (PIMENTA, 2018). 

Os IBPs na maioria das vezes são indicados principalmente para promover a cicatrização de úlceras gástricas e duodenais e para tratar a DRGE. Dessa forma ao inibir a secreção do ácido gástrico, os IBPs promovem uma melhoria nos sintomas como azia, refluxo gástrico e dor de estômago em geral, podendo silenciá-los e evitar a procura por uma ajuda profissional, levando em conta o seu uso (GOODMAN; GILMAN, 2020). 

O uso indevido de IBPs traz como conseqüência um grave problema de saúde pública, principalmente, quando se tratando dos casos de automedicação, caracterizada pela utilização de medicamentos por iniciativa do próprio paciente ou de um amigo ou responsável, com a finalidade de tratar doenças ou aliviar sintomas (Souza; Marinho; Guilam, 2018). No entanto, isso pode levar a conseqüências desde efeitos adversos, enfermidades iatrogênicas, além de camuflar doenças evolutivas (LEITE; VIEIRA; VEBER, 2018) 

Segundo o protocolo clínico das ulceras gástricas relacionados ao uso de IBPs embora com grau de evidência fraco, os Guidelines recomendam usar IBP (Inibidores da bomba de prótons) aos H2RA (Antagonistas do receptor H2 da histamina) (fisiopatologia e custo-efetividade), desde que utilizadas de forma correta e indicada a profilaxia. Essa exceção é feita diretamente aos pacientes em uso de anti-agregação plaquetária com clopidogrel, cujo seu efeito pode ser reduzido, já que existe uma inibição da enzima CYP2C19 (necessária inclusive na conversão da pró-droga) pelos IBP (COELHO; CASTRO, 2022).

Com relação a automedicação e a participação do farmacêutico no papel de orientar com o intuito de combater a automedicação. Ele deve ser preparado para atuar na atenção farmacêutica como forma de estratégia para diminuir o uso desnecessário de medicamentos e, dessa maneira, o profissional precisa melhorar a adesão farmacoterapêutica, e assim o paciente recebe todas as orientações e informações que são necessárias. Dessa forma é preciso sensibilizar o paciente com relação a importância do uso correto dos medicamentos, garantindo assim a segurança e a eficácia dos mesmos (RESENDE, 2018). 

Com relação às reações adversas, foi visto que a maioria (95%) dos entrevistados não citou nenhuma reação adversa e uma minoria de (5%) obteve reações sendo mais citadas náuseas, conforme gráfico 2.

Gráfico 2 – Identificação de reações adversas dos IBPs por clientes atendidos na farmácia comunitária do estudo no período de maio a junho de 2023.

Fonte: Autoria do pesquisador, 2023.

É importante destacar com relação às reações adversas, da qual foi uma minoria que relatou, porém, sendo necessário falar que essas causas são resultadas do uso inapropriado do medicamento. Por isso, vários estudos ressaltam a importância de seguir as prescrições com as melhores evidências disponíveis para o uso desses medicamentos (LEITE; VIEIRA; VEBER, 2018). 

Os possíveis efeitos adversos estão associados com o risco da qual não foi citado nessa pesquisa como problemas cardiovasculares, lesão renal crônica, deficiências de vitamina B12, pólipos de glândula fúndica, pneumonia, câncer de intestino/cólon e hipomagnesemia (EUSEBI et al., 2017).

Alguns estudos ainda mostraram que pacientes consumidores de IBP’s têm, de forma geral, mais comorbidades do que aqueles que não consomem essa medicação e assim podem desenvolver mais doenças, sendo ainda uma possível justificação para o fato primordial dos IBP’s estarem associados a poucos efeitos adversos, em curto prazo, para além de e incluindo o carcinoma gástrico (MOAYYEDI et al., 2018). 

E por fim, foi feito a identificação do uso concomitante dos IBP’s com outros medicamentos, da qual demonstrou que (54%) não faz uso de outros medicamentos, e (46%) faz uso de outros medicamentos como: dipirona, ibuprofeno, fluoxetina, paroxetina, enalapril, ozempic, paracetamol, domperidona, Selene (anticoncepcional), azitromicina, olmerzatana, propanalol, clonazepam, metformina, glicazida, diclofenaco, idapamida, cetoprofeno e losartana.

Gráfico 3 – Identificação do uso concomitante dos IBPs com outros medicamentos por clientes atendidos na farmácia comunitária do estudo no período de maio a junho de 2023.

Fonte: Autoria do pesquisador, 2023.

Segundo Wolfe et al. (2020), os IBP’s não devem, por rotina, ser administrados concomitantemente com outros agentes como anti-secretores, incluindo ARH2, análogos de prostaglandinas (por ex., misoprostol) ou análogos da somatostatina (por ex., octeótrido), devido sua redução marcada com relação ao efeito inibitório desejado.

Com relação ao uso de ácido acetilsalicílico, o ibuprofeno, a dipirona, paracetamol e outros antiinflamatórios não esteróides e de IBPs acaba gerando o desenvolvimento de úlceras pépticas relacionadas à infecção da mucosa do estômago por Helicobacter pylori, das quais provocam erosões e úlceras no estômago, principalmente em pessoas de idade avançada. 

Atualmente, existem estudos que apontam para a eficácia de terapia concomitante (com relação a associação de fluoxetina, paroxetina, amoxicilina por 10-14 dias), terapia feita em sequência com o uso de (amoxicilina + IBP por 5 dias (FONTANELLA, GALATO E REMOR, 2018). 

Com relação aos antivirais, antidepressivos, ansiolíticos, antifúngicos, anticonvulsivantes, imunossupressores e alguns quimioterápicos estão entre as classes de medicamentos que apresentam um maior risco em uso concomitante com IBP, o uso concomitante pode causar um aumento dos níveis séricos dos antivirais por indução do sistema microssomal hepático, correndo o risco de resistência ao tratamento desses medicamentos (MICROMEDEX, 2020). 

Dessa forma os inibidores da bomba de prótons consistem em medicamentos utilizados muitas vezes empiricamente (seja por prescrição ou automedicação) para o tratamento das manifestações digestivas que se tratam das doenças já citadas ou na prevenção do surgimento de tais sintomas. E ainda é considerado o maior avanço no tratamento de doenças gástricas. Porém se não usados corretamente podem gerar sérios problemas, eles ainda sem dúvida são os mais potentes inibidores da secreção ácida gástrica disponível e, portanto, são essenciais na terapia de várias doenças do ácido assim relacionado.

4. CONCLUSÃO

Os inibidores da bomba de prótons consistem em medicamentos usados muitas vezes empiricamente (por prescrição ou automedicação) para tratamento das manifestações digestivas que lembram as das doenças já referidas ou na prevenção do surgimento de tais sintomas. 

Por sua vez, é considerado o maior avanço no tratamento de doenças gástricas. Quando usados corretamente, os IBPs são sem dúvida os mais potentes inibidores da secreção ácidas gástricas disponíveis e, portanto, tornaram-se essenciais na terapia de várias doenças ácida relacionadas. 

A despeito deste estudo não ser de base populacional para toda a região estudada, as informações encontradas podem proporcionar uma melhor compreensão com relação ao uso de IBP’s por usuários de farmácias comunitárias do município de Tianguá/CE. Desta forma, podem levar a futuras ações em saúde com objetivo na promoção do uso racional de IBP’s, que visam promover intervenções ligadas à minimização dos problemas identificados. 

Pautado nas considerações, este estudo ainda demonstrou um diagnóstico mais preciso sobre a representatividade da utilização de medicamentos do tipo IBPs para distúrbios gastrintestinais entre a utilização de outros medicamentos, mostrando o perfil sociodemográfico da população estudada da qual mais acessa este tipo de medicamento dentre mulheres mais jovens e idosos. 

REFERÊNCIAS

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1Discente do Curso de Bacharelado em Farmácia do Centro Universitário Inta – UNINTA, Sobral, Ceará.
2Discente do Mestrado em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Ceará, Sobral, Ceará.
3Docente do Curso de Bacharelado em Farmácia do Centro Universitário Inta – UNINTA, Sobral, Ceará.