ESPIRITUALIDADE E CUIDADOS PALIATIVOS: ESTADO DA ARTE 

SPIRITUALITY AND PALLIATIVE CARE: STATE OF THE ART

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10248232013


Regislene Bomfim de Almeida Brandão1
Beatriz Castro e Silva de Albergaria Barreto2
Maria Clara Rodrigues Lima Medeiros3
Igor Marcelo Castro e Silva4


RESUMO

A espiritualidade não se vincula necessariamente a uma doutrina religiosa e tem sido ferramenta importante no tratamento de cuidados paliativos, trazendo por consequência um aumento da qualidade de vida do paciente. Trata-se de uma revisão integrativa sobre o tema espiritualidade e cuidados paliativos e que teve como objetivo analisar a contribuição da espiritualidade na qualidade de vida de pacientes em cuidados paliativos. Para a seleção dos artigos, utilizou-se três bases de dados, sendo estas a Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e PUbMED, adotando os seguintes

descritores: “espiritualidade”, “cuidados paliativos”, “qualidade de vida”, para localização das publicações. A amostra se constituiu de treze artigos e, após a aplicação dos critérios de elegibilidade, sete artigos se relacionaram corretamente com o tema proposto, conforme registrado no fluxograma baseado no modelo PICO. Com base nos artigos, concluiu-se que há uma grande relevância da espiritualidade como recurso que contribui na qualidade de vida dos pacientes em cuidados paliativos.

Palavras-chave: 1. Espiritualidade 2. Cuidados Paliativos 3. Qualidade de vida  

ASTRACT

Spirituality is not necessarily linked to a religious doctrine and has been an important tool in palliative care treatment, resulting in an increase in the patient’s quality of life. .This is an integrative review on the topic of spirituality and palliative care, which aimed to analyze the contribution of spirituality to the quality of life of patients in palliative care. To select the articles, three databases were used, these being the Virtual Health Library (VHL), Scientific Electronic Library Online (SciELO) and PUbMED, adopting the following descriptors: “spirituality”, “palliative care”, “quality of life”, to locate the publications. The sample consisted of 13 articles and, after applying the eligibility criteria, seven articles were correctly related to the proposed topic, as recorded in the flowchart based on the PICO model. Based on the articles, it was concluded that there is a great relevance of spirituality as a resource that contributes to the quality of life of patients in palliative care.

Keywords: 1. Spirituality 2. Palliative Care 3. Quality of life

RESUMEN

La espiritualidad no está necesariamente ligada a una doctrina religiosa y ha sido una herramienta importante en el tratamiento de cuidados paliativos, resultando en un aumento de la calidad de vida del paciente. Se trata de una revisión integradora sobre el tema de espiritualidad y cuidados paliativos, que tuvo como objetivo analizar la contribución de la espiritualidad a la calidad de vida de los pacientes en cuidados paliativos. Para seleccionar los artículos se utilizaron tres bases de datos, siendo la Biblioteca Virtual en Salud (BVS), Biblioteca Científica Electrónica en Línea (SciELO) y PUbMED, adoptando los siguientes descriptores: “espiritualidad”, “cuidados paliativos”, “calidad de vida”, para localizar las publicaciones. La muestra estuvo compuesta por trece artículos y, luego de aplicar los criterios de elegibilidad, siete artículos se relacionaron correctamente con el tema propuesto, según consta en el diagrama de flujo basado en el modelo PICO. Con base en los artículos se concluyó que existe una gran relevancia de la espiritualidad como recurso que contribuye a la calidad de vida de los pacientes en cuidados paliativos.

Palabras clave: 1. Espiritualidad 2. Cuidados Paliativos 3. Calidad de vida

INTRODUÇÃO

Atualmente, com o rápido avanço tecnológico permeando diversas áreas, a medicina vive um dilema ético que gira em torno do binômio prolongamento da vida versus alívio do sofrimento, quando se trata de pacientes com doenças cuja probabilidade de cura são remotas.

Quando nos referimos especificamente sobre prolongamento da vida no processo da terminalidade, a distanásia, obstinação terapêutica excessiva não capaz de modificar o quadro clínico e que inflige mais dor e sofrimento ao paciente, é considerada prática condenável no Brasil (DINIZ, 2006). Tendo como prática mais adequada os cuidados paliativos, conforme orienta o Código de

Ética Médica – CFM (Capítulo 1, Princípio Fundamentais, XII, p.17, 2019): “nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários e propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os cuidados paliativos apropriados”.   

Neste sentido, para Mi-Kyung & Mary (2017), o cuidado no contexto da assistência paliativa se diferencia do curativo porque reafirma a vida e encara a morte como uma realidade a ser vivenciada com os familiares. Em tal situação, o cuidado tem como premissa melhorar a qualidade de vida do paciente e de seus familiares diante de uma doença avançada, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, e pela valorização da cultura, da espiritualidade, de crenças e valores que permeiam a terminalidade.  

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define o cuidado paliativo como uma abordagem que auxilia na melhora da qualidade de vida dos pacientes e familiares que enfrentam os problemas associados às doenças ameaçadoras da vida, por meio da prevenção e do alívio do sofrimento, avaliação da dor e outros problemas físicos, psicossociais e espirituais, respeitando-se a dignidade humana, proporcionando conforto e bem estar ao indivíduo (WHO, 2012). É possível notar na definição acima que a questão espiritual é tema de destaque e que, nos últimos anos, passou a ser vista pelo mundo acadêmico e pelos profissionais de saúde não apenas como termo místico, mas como parte do conceito em saúde e da qualidade de vida de um sujeito, sendo incorporada nas ações que envolvem os cuidados paliativos e saúde. 

Para Panzini et al. (2007), a espiritualidade não se vincula necessariamente a uma doutrina religiosa, mas sim ao significado ao qual o indivíduo dá para a sua vida, sua capacidade de transcender, e a forma com a qual processa as suas vivências, sendo um importante instrumento para entender o conjunto de significações do paciente.  Considerada como agente transformador e regulador de emoções, a espiritualidade deve ser usada como ferramenta terapêutica, constituindo uma estratégia essencial para melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivenciam um processo de doença terminal (ARRIERA, 2017). Segundo Koenig et al. (2012), pessoas que desenvolvem certos valores e práticas, tais como a oração e a meditação, têm melhor qualidade de vida e respondem de maneira mais satisfatória quando submetidas a determinados tratamentos de saúde. 

Como a essência dos cuidados paliativos é holística, não se descarta a utilização da medicina científica, pois são valorizadas todas as dimensões do paciente, buscando fornecer o bem-estar, o alívio da dor, do sofrimento inclusive psicológico, incorporando sentido, propósito e qualidade de vida tanto aos pacientes, quanto aos seus familiares. 

Reformular um novo compromisso com os sistemas de valores, muitas vezes advindo do lado espiritual, é necessário para o enfrentamento do sofrimento, criando um processo de ressignificação e restaurando sentindo e esperança para doentes terminais, vinculando a marcha da morte a um sistema de significados (DRANE, 2003). 

Neste contexto, este estudo, através da revisão integrativa, buscou o estado da arte  da  dimensão espiritualidade e cuidados paliativos.  

MÉTODOS 

Trata-se de uma revisão integrativa, que é um dos métodos de pesquisa utilizados na prática baseada em evidências e que tem por objetivo organizar, sistematizar e dialogar com pesquisas sobre um determinado assunto, contribuindo para o aprofundamento teórico do tema estudado a partir de uma pergunta norteadora. 

Como objetivo geral, buscou-se analisar a contribuição da espiritualidade na qualidade de vida de pacientes em cuidados paliativos.

Nesta revisão, partiu-se da seguinte questão: Como a espiritualidade contribui na qualidade de vida dos pacientes em cuidados paliativos?

A partir da pergunta de pesquisa, a revisão integrativa seguiu as seguintes etapas, a saber: definição do problema de pesquisa, o objetivo, definição dos descritores, coleta de dados nas bases escolhidas, análise dos critérios de inclusão e exclusão, discussão dos resultados e fechamento do estudo. Dentro desta metodologia, é preferível que se utilize como fonte de dados a consulta às bases de dados indexadas, pois estas elencam periódicos que passaram por um processo seletivo mais rigoroso em relação à cobertura e conteúdo, o que permite a maior visibilidade dos artigos indexados, conferindo ao periódico um valor técnico, razão que o diferencia dos periódicos não indexados (DANTAS, 2004).

Desta forma, os descritores utilizados foram: “espiritualidade”, “cuidados paliativos” e “qualidade de vida”, utilizando o operador booleano AND em três bases de dados, a saber: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e PUbMED.

Como critérios de inclusão foram levantadas publicações completas, disponíveis gratuitamente, indexadas nas bases entre os anos de 2018 e 2023, em português e inglês. Foram excluídos os artigos duplicados e de revisão integrativa, monografias, dissertações, teses completas, artigos não disponíveis gratuitamente, e aqueles que não respondiam ao objetivo do estudo.

Para responder à pergunta norteadora, foi utilizada a estratégia PICO, ver Tabela

1, definida pelo acrômio População, Intervenção, Comparação e Desfecho (SANTOS; PIMENTA; NOBRE, 2007). 

Tabela 1 – Descrição da estratégia PICO

AcrônimoDefiniçãoDescrição 
PPopulaçãoPacientes em cuidados paliativos 
IIntervençãoDesenvolvem            atividades espiritualidadede
CControle ou comparação Não se aplica 
ODesfecho (“outcomes’’)Melhoria na qualidade de vida 

Fonte: Arquivo pessoal dos autores   

Para análise dos artigos, foi utilizado a análise de conteúdo de Bardin e os artigos foram discutidos em categorias analíticas. 

RESULTADOS 

O fluxograma abaixo (Figura 1) descreve as etapas da coleta dos dados que foram analisados nesta revisão:

Figura 1 – Fluxograma de elegibilidade dos artigos 

Fonte: Arquivo pessoal dos autores

A pesquisa nas bases de dados resultou em 263 artigos iniciais, após os critérios de inclusão e exclusão, 250 trabalhos foram excluídos e após a pré-análise (leitura do resumo) mais 3 trabalhos foram excluídos por não estarem de acordo com o objetivo do presente trabalho e 1 por não está em disponível gratuitamente; restando assim nove artigos; sendo sete da BVS, um da SCIELO e apenas um da PUbMED. 

Vale ressaltar que um artigo se encontrava duplicado tanto na PubMED quanto na SCIELO e foi excluído, resultando em sete trabalhos para análise, todos na BVS.

Os artigos foram organizados e analisados de acordo com ano, país de publicação, título, objetivo do estudo, método, amostra e resultados (conforme Tabela 2).

Tabela 2 – Relação dos artigos analisados

N ºAno/PaísBase de Dad osTítuloObjetivo do estudoMétodoAmostraResultados
A 12022 EUABVSSpirituali ty         in patients with heart failure Explorar           o conhecimento atual sobre espiritualidade em pacientes com Insuficiência Cardíaca           (IC). Descrever associações entre resultados        de espiritualidade, qualidade de vida (QV) e IC. Propor aplicações clínicas e direções futuras em             relação             ao cuidado             espiritual nesta populaçãoRevisão sistemática47 artigosA espiritualidade serve como um alvo potencial para intervenções de cuidados paliativos para melhorar a QV, apoio do cuidador e resultados do paciente, incluindo reinternação e mortalidade. Sugerimos o desenvolvimento de uma ferramenta de triagem de espiritualidade, semelhante ao Patient Health Questionnaire-2 usado para triagem de depressão, para identificar pacientes com IC em risco de sofrimento espiritual. Novas ferramentas serão em breve validadas pelos membros do nosso grupo. Dado a espiritualidade na IC permanece menos estudada em comparação com outras populações de pacientes, mais ensaios controlados e são necessárias medidas uniformes de espiritualidade para compreender melhor o seu impacto.
A 52020 Brasil  BVSQualida de de vida de paciente   s     com câncer avançad    o       na terapêut ica paliativa e             no cuidado paliativoAvaliar a qualidade de vida de pacientes com câncer avançado em terapêutica paliativa e em cuidado paliativoEstudo quantitativo , observacio nal, transversal e analítico, desenvolvid o          num hospital de ensino no Paraná, Brasil.126 pacientes, sendo 107 em terapêutica paliativa e    19          no cuidado paliativo exclusivo.A  qualidade de vida global na terapêutica paliativa e no cuidado paliativo foi respectivamente 71,54/59,65; quando correlacionados o escore  total de qualidade de vida do Quality of Life QuestionnaireCore 15-Palliative com o Functional Assessment of Chronic Illness Therapy–Palliative Care 14 (p = 0,001) e a Edmonton Symptom Assessment System    (p   0,001), observou-se diferença significativa   de melhor qualidade de vida na terapêutica paliativa.  
A 62018 BrasilBVSPercepç   ão      de paciente s oncológi cos em cuidado s  paliativo s sobre qualidad    e       de vidaCompreender a percepção de pacientes oncológicos em cuidados paliativos sobre qualidade de vida e identificar proposições para seu aperfeiçoamentoTrata-se de uma pesquisa quantitativa 96 pacientes em cuidados paliativos internados em       um hospital público Qualidade de vida atrelada aos significados de saúde, bem-estar, felicidade e espiritualidade; no entanto, a família e problemas financeiros também tiveram impacto na percepção do construto. Intervenções voltadas para o alívio do sofrimento, possibilidade de retorno ao trabalho e resolução de problemas tiveram sugestões de melhoria.
A 72018 BrasilBVSEspiritu alidade no cuidado de enferma gem ao paciente oncológi co em cuidado s paliativo sConhecer   a abordagem espiritual realizada nos cuidados pelosprofissionais de enfermagemEstudo qualitativo, descritivo e exploratório com   oito pacientes atendidos pela equipe de Consultoria em Cuidados Paliativos de             um hospital escola do Sul   do Brasil8 pacientes oncológicos em cuidados paliativosA espiritualidade é apontada pelos pacientes como uma estratégia de enfrentamento da doença. Ainda, considerou-se pelos participantes que a enfermagem, por ser a profissão com maior tempo de permanência junto ao paciente, tem a possibilidade de ofertar o cuidado espiritual, no entanto sua abordagem está focada no modelo biomédico.

Fonte: Arquivo pessoal dos autores    

Dos sete artigos encontrados, três são de pesquisas de campo (A5, A6 e A7), dois de revisão sistemática (A1 e A2) e dois de revisão bibliográfica (A3 e A4).

Seis foram de pesquisas realizadas no Brasil, e um nos Estados Unidos (A1). Observa-se que apenas um artigo incluiu paciente com doença cardíaca crônica em cuidados paliativos, demonstrando que a maioria dos artigos publicados ainda tem como foco principal neste tipo de cuidado, os pacientes com doenças oncológicas, sendo importante ressaltar que segundo a OMS, outras doenças entram no rol de pacientes em cuidados paliativos.

Vale destacar que três artigos discutem a relevância do envolvimento do profissional de saúde em atrelar a espiritualidade aos cuidados paliativos.  Após análise dos artigos, foram levantadas duas categorias, a saber: 1) a importância da espiritualidade para a qualidade de vida pacientes em cuidados paliativos; e 2) a espiritualidade integrada aos cuidados paliativos pelo profissional da saúde.

DISCUSSÃO 

Nos estudos revisados, observou-se que ao se abordar as preocupações espirituais e fornecer aos pacientes assistência espiritual apropriada, os cuidados paliativos propiciam melhora na qualidade de vida, e no alívio do sofrimento dos pacientes.

Villegas et al. (2022) mostram que a dimensão espiritual tem impacto na saúde biopsicossocial, associando-se à melhora da qualidade de vida, maior sobrevida, melhor saúde mental, maior preocupação com a própria saúde e à menor prevalência de doenças em geral, evidenciando que a espiritualidade não deveria ser diretriz somente de quando um paciente entra em cuidados paliativos.

As práticas religiosas são consideradas coping positivo que influenciam na qualidade da morte durante o processo de terminalidade (TOBIN et al., 2022). Para Villegas et al. (2022), Sassani; Sanches (2002) e Marques; Pucci (2021) a equipe de saúde precisa reconhecer a necessidade de abordar tal temática, identificando o grau de importância dado por cada paciente às questões espirituais/religiosas.

Dentre os profissionais da equipe de saúde, destaca-se a relevância daqueles voltados à saúde mental, que além de proporcionar o lugar da escuta individual, ajudam a vencer as turbulências e as ansiedades geradas pela doença e pela finitude, trazendo um lugar de resolução das questões humanas, que envolvem relações interpessoais, questões financeiras, afetivas, dentre outras (SASSANI; SANCHES, 2002  E MARQUES; PUCCI, 2021).

Marques & Pucci (2021) trazem assim, uma preocupação com a formação técnica dos profissionais, demonstrando que a temática espiritual será sempre um assunto recorrente nos atendimentos em cuidados paliativos, sendo possível observar que, para os profissionais, o cuidado da dimensão espiritual do paciente aumenta e corrobora para a sua qualidade de vida.

Na pesquisa de campo de Silva et al. (2019), que aplicou questionários de qualidade de vida com 126 pacientes, sendo 107 em terapêutica paliativa e 19 no cuidado paliativo exclusivo afirmam que uma das estratégias para melhorar a qualidade de vida destes pacientes é incentivar os pacientes a visualizarem os aspectos positivos no enfrentamento da doença, incentivar o combate às emoções negativas, e estimular a presença de entes queridos. 

Outro ponto importante trazido por Silva et al. (2019), é que a melhoria do bemestar emocional está relacionada a importância do apoio percebido nas interações sociais (familiares, amigos e equipe de saúde), compreendendo o suporte emocional, informacional e assistencial, e que os profissionais poderão promover estas estratégias com o apoio de outras pessoas, incluindo o apoio religioso.

Meneguin et al. (2018), também, trazem a importância da religião e da espiritualidade serem frequentemente adotadas para lidar com o estresse e o sofrimento gerados pelo câncer. Para eles, os pacientes percebem que esses constructos podem contribuir para o alívio do sofrimento diante do momento em que se encontram, proporcionando força para continuar a viver e contribuindo, consequentemente, para melhoria da qualidade de vida. Ao procurarem a religião/espiritualidade os pacientes afirmam que aumentam a esperança, a fé na cura da doença e um possível retorno à saúde.

Neste mesmo entendimento, Crize et al. (2018) trazem que a espiritualidade reflete no bem-estar dos pacientes e proporciona um melhor enfrentamento da doença, pois serve de suporte para que os pacientes em cuidados paliativos vivenciem com maior naturalidade a evolução da doença, enfrentem o tratamento por meio da reflexão sobre a vida e alívio das dores, além de proporcionar forças para seguir em frente, e se preparar para morte de uma forma mais tranquila.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Esta revisão demonstrou a importância e a relevância da espiritualidade como recurso que contribui para melhoria na qualidade de vida dos pacientes em cuidados paliativos, estabelecendo que a inclusão da dimensão espiritual na prática dos profissionais de saúde gerou uma nova concepção de cuidar, gerindo com maior propriedade os cuidados paliativos. 

Fica evidente a importância de que a formação continuada aos profissionais de saúde, sejam eles diretamente voltados aos cuidados paliativos, sejam aqueles que diagnosticam uma doença crônica que venha a ameaçar às dimensões biopsicossociais, tenham a espiritualidade como uma ferramenta complementar para melhor qualidade de vida de pacientes em cuidados paliativos, considerando os seus reflexos positivos em relação àqueles a serem cuidados, como também, à todos os envolvidos no tratamento.

Nota-se que ainda existem desafios contextuais a serem superados, pois a realidade atual ainda evidencia que os cuidados paliativos estão voltados principalmente para a oncologia, apesar do necessário direcionamento para outras áreas de especialidades médicas.

Portanto, quando ocorrer a ampliação para as demais doenças crônicas e incuráveis, trará benefícios para os pacientes, alcançando, por derivação, a sua rede familiar e de apoio.

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1 Médica residente do Programa de Residência Médica de Clínica Médica do Hospital Universitário Presidente Dutra- HUUFMA

2 Acadêmica de Medicina da Universidade Salvador- UNIFACS

3 Co-orientadora. Médica preceptora do Programa de Residência Médica de Clínica Médica do Hospital Universitário Presidente Dutra- HUUFMA

4 Orientador. Professor adjunto da Universidade Federal do Maranhão. Médico preceptor do Programa de Residência Médica de Clínica Médica do Hospital Universitário Presidente Dutra- HUUFMA