IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO ODONTOLÓGICA PARA A SAÚDE BUCAL DA GESTANTE

IMPORTANCE OF DENTAL ASSESSMENT FOR THE ORAL HEALTH OF PREGNANT WOMEN

IMPORTANCIA DE LA EVALUACIÓN DENTAL PARA LA SALUD BUCODENTAL DE LAS EMBARAZADAS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10248211345


Maria Ivanilde de Andrade1
Shara Santos Delis de Souza2
Thays Stephany Oliveira Braga3
Adriana Gomes Gonçalves4
Cristiane Luiza Silva Durso5
Cristina Maria Espino Ferrari6
Isabela Saldanha de Carvalho Coutinho7


RESUMO

O acompanhamento pré-natal assegura o desenvolvimento da gestação sem impacto para a saúde materna, permitindo o parto de um recém-nascido saudável. Destaca-se, nessa fase, a importância dos cuidados com a saúde bucal da gestante e sua relação com a saúde e desenvolvimento do bebê. Nesse contexto, o atendimento odontológico pode auxiliar na detecção de doenças e agravos que afetam a saúde da gestante e do feto. Objetivo: descrever sobre a importância da avaliação odontológica para a saúde bucal da gestante. Metodologia: trata-se de um estudo descritivo, de revisão bibliográfica, no qual foram selecionados 18 artigos nas bases de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE). Resultados: os artigos foram categorizados por número, título, autores, ano de publicação e tipo de estudo e expostos em um quadro para análise. Os resultados evidenciaram efetividade na inserção de cuidados odontológicos no pré-natal, e aspectos positivos nas percepções desse tipo de cuidado pelas gestantes, assim como o aumento e a acessibilidade aos serviços odontológicos, com maior adesão ao aconselhamento fornecido pelos profissionais de saúde. Considerações finais: constatou-se a importância da avaliação odontológica no período gestacional. Entretanto, o acesso à consulta odontológica não é uma realidade para a maioria das gestantes. Disparidades no acesso a esse tipo de serviço são observadas entre diferentes grupos, fazendo-se necessário reconhecer sua importância para uma assistência pré-natal integral no âmbito do SUS.

Palavras-chave: gravidez, saúde bucal, assistência odontológica.

ABSTRACT

The prenatal care provided ensures that the pregnancy goes smoothly, with no impact on the mother’s health, allowing her to give birth to a healthy newborn. At this stage, the importance of caring for the oral health of pregnant women and its relationship with the health and development of the baby is highlighted. In this context, dental care can help detect diseases and conditions that affect the health of pregnant women and their unborn babies. Objective: to describe the importance of dental assessment for the oral health of pregnant women. Methodology: This is a descriptive, literature review study in which 18 articles were selected from the Latin American and Caribbean Health Sciences Literature (LILACS) and Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) databases. Results: The articles were categorized by number, title, authors, year of publication and type of study and displayed in a table for analysis. The results showed that the inclusion of dental care in prenatal care was effective, and that there were positive aspects in pregnant women’s perceptions of this type of care, as well as an increase in access to dental services, with greater adherence to the advice provided by health professionals. Final considerations: the importance of dental assessment during pregnancy was noted. However, access to dental appointments is not a reality for the majority of pregnant women. Disparities in access to this type of service are observed between different groups, making it necessary to recognize its importance for comprehensive prenatal care within the SUS.

Keywords: pregnancy, oral health, dental assistance.

Resumen

Los cuidados prenatales garantizan que el embarazo se desarrolle sin afectar a la salud de la madre, permitiéndole dar a luz a un recién nacido sano. En esta etapa se destaca la importancia de cuidar la salud bucodental de la embarazada y su relación con la salud y el desarrollo del bebé. En este contexto, la atención odontológica puede ayudar a detectar enfermedades y afecciones que afectan a la salud de las embarazadas y los fetos. Objetivo: Describir la importancia de la evaluación dental para la salud bucodental de las embarazadas. Metodología: Se trata de una revisión bibliográfica descriptiva en la que se seleccionaron 18 artículos de las bases de datos Latin American and Caribbean Health Sciences Literature (LILACS) y Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE). Resultados: Los artículos fueron categorizados por número, título, autores, año de publicación y tipo de estudio y presentados en una tabla para su análisis. Los resultados mostraron que la inclusión de la atención odontológica en la atención prenatal fue eficaz, y que hubo aspectos positivos en la percepción de las gestantes sobre este tipo de atención, así como un aumento en el acceso a los servicios odontológicos, con una mayor adherencia a los consejos proporcionados por los profesionales de la salud. Consideraciones finales: se señaló la importancia de la evaluación dental durante el embarazo. Sin embargo, el acceso a las consultas odontológicas no es una realidad para la mayoría de las gestantes. Se observan disparidades en el acceso a este tipo de servicio entre diferentes grupos, por lo que es necesario reconocer su importancia para la atención prenatal integral dentro del SUS.

Palabras clave: embarazo, salud bucal, atención odontológica.

1 INTRODUÇÃO

A gestação é um período fisiológico complexo com mudanças físicas, psicológicas e emocionais que afetam sensivelmente a vida da mulher (MONTEIRO et al., 2016). Diante disso, o acompanhamento pré-natal assegura o desenvolvimento da gestação, permitindo o parto de um recém-nascido saudável, sem impacto para a saúde materna, com abordagem dos aspectos psicossociais e das atividades educativas e preventivas (LOPES; MACÊDO; PESSOA, 2018).

Ressalta-se que as alterações decorrentes da gestação expõem a mulher ao risco de desenvolver doenças na cavidade oral, oportunizando o aparecimento de cáries dentárias e doença periodontal (MARTINELLI et al., 2020). Essas doenças podem trazer prejuízos para as gestantes e influenciar no desenvolvimento e bem-estar do bebê, evidenciando a necessidade do acompanhamento odontológico nesse período.

Diante disso, o momento gestacional deve ser devidamente reconhecido e dominado pelo cirurgião-dentista, a fim de destituir mitos e orientar a gestante em relação às mudanças na saúde bucal e sua implicância na saúde geral (MARAGNO et al., 2019).

Nesse sentido, Kozen Junior, Marmitt e Cesar (2019), informam que as alterações hormonais e fisiológicas da gravidez, o aumento no consumo de alimentos e a frequência insuficiente de escovação dental podem predispor ou agravar doenças bucais. Esses fatos evidenciam a necessidade de ofertar às gestantes, assistência odontológica logo no início do pré-natal, para que as necessidades odontológicas sejam sanadas e desfechos negativos possam ser evitados (MARTINELLI et al., 2020).

Kozen Junior, Marmitt e Cesar (2019) alertam que durante a gestação, o aumento de estrógeno pode levar à inflamação periodontal, edema, alta sensibilidade e tendência ao sangramento, possibilitando o aparecimento de gengivites. O aumento do volume uterino comprime o estômago levando ao aumento no número de refeições. Isto, somado à falta de cuidados com a higiene bucal, aumenta a probabilidade de desenvolvimento de cárie dentária entre gestantes. Para, além disso, Larêdo et al. (2022), acrescentam que a saúde oral de gestantes é significativamente inferior quando comparadas com puérperas e não gestantes.

Nesse contexto, Maragno et al. (2019), informam que o acolhimento da gestante visa à redução de fatores de risco e precisa ser desenvolvido através de um trabalho multidisciplinar e integral, incluindo a saúde bucal, pois nesse período, mudanças na cavidade oral como infecções periodontais, poderão levar a nascimentos pré-termos e de baixo peso.

Neste cenário, destaca-se a importância dos cuidados com a saúde bucal da gestante e sua relação com a saúde e desenvolvimento do bebê, em que a educação e prevenção de problemas bucais podem garantir uma redução no número de microrganismos bucais, consequentes mediadores de inflamação (GOUVEIA et al., 2018).

Mediante o que foi exposto, Gouvêia et al. (2018) salientam que o pré-natal odontológico é um momento-chave para manter ou resgatar a saúde bucal por meio de medidas preventivas e/ou curativas, minimizando possíveis alterações indesejáveis no nascimento e desenvolvimento do bebê.

Tendo isso posto, reafirma-se que o atendimento odontológico ou pré-natal odontológico é uma ferramenta que pode auxiliar na detecção de doenças e agravos que afetam a saúde da gestante e do feto, bem como auxiliar na prevenção desses tipos de agravos (LARÊDO et al., 2022).

Considerando a significância da temática, o objetivo deste estudo foi descrever sobre a importância da avaliação odontológica para a saúde bucal da gestante.

3 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo, de revisão bibliográfica, no qual a busca dos dados ocorreu no acervo da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). As bases utilizadas para consulta foram a Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE). Os estudos foram selecionados a partir dos seguintes critérios: documentos do tipo artigos, publicados no idioma português, nos últimos dez anos, com resumos e textos disponíveis nas bases consultadas. As palavras-chave utilizadas foram: gravidez, saúde bucal e assistência odontológica, associadas ao operador booleano AND. A partir da utilização desses critérios, foram identificados 18 artigos para compor a amostra da revisão.

4 resultadoS e discuSSõES

Os artigos selecionados foram categorizados em um quadro (Figura 1.) por número, título, autores, ano de publicação e tipo de estudo.

Figura 1. Categorização dos estudos incluídos na revisão.

NúmeroTítulo do ArtigoAutores e ano de publicaçãoTipo de estudo
01Assistência odontológica à gestante: conhecimento e prática de dentistas da rede pública e seu papel na rede cegonha.BERNARDI, C.; MASIEIRO, A. V.; OLIVEIRA, J. B. (2019).Estudo transversal.
02Sistematização de um protocolo de atendimento clínico odontológico a gestantes em um Município Sul Catarinense.CHECHINEL, D. B et al. (2016)Pesquisa descritiva.
03Adequação da assistência odontológica pré-natal: desigualdades sociais e geográficas em uma região metropolitana do Brasil.ESPOSTI, C. D. D et al. (2021)Estudo seccional.
04Utilização de serviço de saúde bucal no pré-natal na atenção primária à saúde: dados do PMAQ-AB.GONÇALVES, K. F. et al. (2020)Estudo transversal.
05A atuação do residente em Odontologia Hospitalar neonatal na abordagem multidisciplinar do SUS: relato de experiência. GÔUVEIA, N. S et al. (2018)Relato de experiência.
06Não realização de consulta odontológica entre gestantes no extremo sul do Brasil: um estudo de base populacional.KONZEN JÚNIOR, D. J.; MARMITT, L. P.; CÉSAR, J. A. (2019)Estudo observacional.
07Saúde bucal e gravidez: desafios e fragilidades no cuidado sob a perspectiva dos resultados do Previne Brasil.LARÊDO, G. B. S et al. (2022)Estudo de natureza descritiva.
08Autopercepção do pré-natal odontológico pelas gestantes de uma unidade básica de saúde.LOPES, I. K. R; PESSOA, D. M. V.; MACÊDO, G. L. (2018)Pesquisa qualitativa.
09Conhecimento dos médicos e enfermeiros sobre o pré-natal odontológico em um Município da região carbonífera de Santa Catarina.MARAGNO, J. M.  et al. (2019).Pesquisa quali-quantitativa.
10Fatores associados ao cuidado de saúde bucal durante a gravidez.MARTINELLI, K. G et al. (2020)Estudo transversal.
11Atenção à saúde de gestantes na estratégia saúde da família: condições de vida e utilização dos serviços de saúde bucal.MOLIN, E et al. (2012) Estudo transversal.
12Tratamento odontológico na gravidez: o que mudou na concepção das gestantes?MONTEIRO, A. C. C et al. (2016)Estudo observacional.
13Assistência odontológica à gestante: conhecimento e prática de dentistas da rede pública e seu papel na rede cegonha.RODRIGUES, L. G et al. (2019)Estudo transversal.
14Acesso à assistência odontológica no acompanhamento pré-natal.SANTOS NETO, E. T et al. (2012)Estudo seccional.
15Atenção à saúde bucal de gestantes no Brasil: uma revisão integrativa.SOUZA, G. C. A et al. (2021) Revisão integrativa da literatura.
16Saúde bucal na gestação: percepções e práticas da gestante na Estratégia Saúde da Família.TEIXEIRA, G. B et al. (2021)Estudo transversal.
17Atendimento odontológico a pacientes gestantes: como proceder com segurança.VASCONCELOS, R. G et al. (2012)Revisão de literatura.
18  Prevalência de consulta odontológica e fatores associados à sua realização durante o pré-natal: estudo transversal com puérperas em hospitais do Sistema Único de Saúde, Santa Catarina, 2019.WAGNER, K. J. P.; RESES, M. L. N.; BOING, A. F. (2021)Estudo transversal.

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2024.

4.1 Discussão dos resultados

Em se tratando da Atenção à saúde bucal de gestante, os estudos analisados por Molin et al. (2012), evidenciaram que muitas gestantes não utilizam o serviço odontológico pelo fato desse tipo de serviço não se encontrar disponível junto à consulta programática no acompanhamento pré-natal, evidenciando a necessidade de estratégias de captação das gestantes, diferentes daquelas tradicionais, visando aumentar a adesão nos serviços de saúde odontológica.

Nesse sentido, Larêdo et al. (2022), ressaltam que para alcançar um nível satisfatório no acesso e oferta de serviços odontológicos, deve haver fortalecimento e expansão das políticas públicas de saúde bucal. Sendo necessária constante pactuação, capacitação e atualização dos cirurgiões-dentistas, bem como a interação das equipes de saúde da família (eSF) com as equipes de saúde bucal (ESB), para que haja atendimento multiprofissional e integralizado às mulheres no período gestacional.

Nessa direção, os resultados apresentados por Kozen Junior, Marmitt e Cesar (2019), mostram efetividade na inserção de cuidados odontológicos no pré-natal realizado nos serviços públicos de saúde. Entretanto, esses estudos refletem a existência de lacunas na utilização da assistência odontológica na gravidez, destacando a necessidade de ampliar o acesso e incentivar as gestantes a procurarem pelos serviços odontológicos, especialmente àquelas gestantes de baixa renda e baixa escolaridade. Sendo assim, a ampliação da cobertura de ESB nas eSF é de fundamental importância para qualificar o acesso e a atenção à saúde bucal das gestantes.

Na opinião de Maragno et al. (2019), a assistência odontológica tem se mostrado eficaz durante o acompanhamento pré-natal, porém, há ainda muito o que ampliar, uma vez que a falta de conhecimento e a prevalência de mitos envolvendo a gestante e a consulta odontológica são comuns por parte de médicos e enfermeiros, tornando essencial o conhecimento técnico-científico desses profissionais para lidar com essa questão. Com isso, enfatiza-se a necessidade da interdisciplinaridade, com vistas à melhoria da qualidade da assistência às gestantes, na integralidade.

Em suas análises, Martinelli et al. (2020), verificaram que a assistência à saúde bucal na gestação persiste negligenciada, principalmente para as gestantes mais vulneráveis, no qual os procedimentos preventivos são mais acessados quando comparados aos procedimentos curativos, levando à necessidade de ampliação do atendimento odontológico para esse público. Diante dessas informações, faz-se necessária a efetivação de protocolos de atendimento odontológico à gestante, que incluam ações de promoção da saúde, proteção e cuidados específicos, baseadas principalmente na integralidade e nas especificidades de cada mulher.

Para, além disso, Chechinel et al. (2016) reforçam que o conhecimento dos cirurgiões-dentistas sobre as alterações que ocorrem na gravidez é importante para se realizar um atendimento mais seguro e que o uso de um protocolo clínico no dia a dia proporciona mais segurança nos atendimentos, como também satisfação profissional aos cirurgiões-dentistas que utilizarem tais protocolos.

Nessa linha de pensamento, Vasconcelos et al. (2012) informam que o conhecimento dos cirurgiões-dentistas sobre os trimestres na gravidez é importante para mensurar e poder prever possíveis problemas, possibilitando cuidados odontológicos na prescrição de medicamentos e exames radiográficos, induzindo a um tratamento seguro, eficaz e com menor risco de efeitos deletérios aos bebês.

Em relação ao atendimento odontológico de gestantes nas unidades básicas de saúde (UBS), Rodrigues et al. (2018), consideram que o acesso facilitado aos serviços odontológicos disponíveis nesses ambientes está sendo executado, graças ao encaminhamento feito pelos profissionais da Estratégia Saúde da Família (ESF) e pelas informações prestadas pela ESB. No entanto, Esposti et al. (2021) concluíram que existem desigualdades geográficas na adequação do pré-natal odontológico, levando a barreiras de acesso.  Nesse ínterim, Gonçalves et al. (2020) sublinham que fatores individuais e fatores relacionados à organização do serviço estão associados à utilização de serviços de saúde bucal durante o pré-natal. Para esses mesmos autores, mulheres com menor renda e menor idade utilizam os serviços de saúde bucal no pré-natal em menor proporção.

Contextualmente, Esposti et al. (2021) reafirmam que serviços com registro de consultas de gestantes e com horários de atendimento que satisfaçam as necessidades das gestantes tem associação com uma maior utilização de serviços de saúde bucal no pré-natal. Tendo isso posto, recomenda-se que os gestores da área de saúde materno-infantil incluam a análise da determinação social do acesso aos serviços pré-natais de qualidade no planejamento e avaliação desses serviços, para que possam de fato construir um sistema de saúde equânime, como pretende ser o Sistema Único de Saúde (SUS) (ESPOSTI et al., 2021).

Quanto aos fatores demográficos e assistenciais, Wagner, Reses e Boing (2021) afirmam que a escolaridade, emprego atual, consultas médicas e de enfermagem e atividades educativas aumentam a chance de realização da consulta odontológica por gestantes que realizaram o pré-natal na Atenção Primária à Saúde (APS). Entretanto, esses mesmos autores consideram que o acesso à consulta odontológica no pré-natal ainda não é uma realidade para a maioria das mulheres, e que disparidades no acesso a esse tipo de serviço são observadas entre diferentes grupos, fazendo-se necessário reconhecer sua importância para uma assistência pré-natal integral no âmbito do SUS.

Sob esse aspecto, Souza et al. (2021), concluíram que as gestantes atendidas na APS possuem poucas informações sobre saúde bucal, convivem com os mitos odontológicos e apresentam medo de se submeter a tratamentos odontológicos durante o período gestacional. Ademais, apresentam saúde bucal precária e encontram barreiras no acesso aos serviços de saúde bucal. Nesse contexto, Vasconcelos et al. (2012), alertam que o atendimento odontológico às gestantes deve ser realizado, preferencialmente no segundo trimestre, e existe a necessidade de educação em saúde para as mulheres gestantes, possibilitando a inserção de novos hábitos que culminarão na promoção de saúde bucal.

Em contrapartida, Bernardi, Masieiro e Oliveira (2019) reforçam que os índices de conhecimento dos profissionais em relação à assistência odontológica no pré-natal apesar de se mostrar satisfatórios, não se reproduzem totalmente na prática. Neste contexto, reforça-se a importância da formação em saúde para o trabalho interprofissional, no intuito de melhorar as condições de saúde bucal e sistêmica de gestantes, puérperas e bebês. Ademais, Esposti et al. (2021) reforçam que é preciso estabelecer parcerias entre os sistemas de formação interprofissional e interdisciplinar, com vistas ao cuidado pré-natal integral, a partir de uma maior preparação dos profissionais responsáveis por esse cuidado como as capacitações dos profissionais nos serviços, principalmente da equipe odontológica, para que atue com liderança na ampliação da atenção pré-natal de qualidade.

Assim, ao reconhecer o importante papel das atividades educativas para a melhoria da qualidade da assistência nos serviços de saúde pública, além da crescente organização do processo de assistência pré-natal, Santos Neto et al. (2012), sugerem uma conjugação das políticas em parceria com os usuários do SUS neste campo na vida e na ação, que explicitem e articulem políticas de saúde mais específicas, voltadas para a formulação de propostas e de materiais educativos, coerentes com os contextos sociais, para que sejam implementadas a fim de impulsionar a qualidade de vida e a qualidade da ação como progressão dos saberes sobre a saúde das mulheres e das crianças do Brasil.

Sob essa ótica, Teixeira et al. (2021), relatam evidente necessidade de uma melhor inclusão da odontologia no cuidado pré-natal da ESF, uma vez que o reconhecimento da importância da saúde bucal na gestação, pelos profissionais e mulheres grávidas, é fundamental para um cuidado integral nesse período singular da vida da mulher.

Em particular, Santos Neto et al. (2012), atentam para o fato de que o acesso das mulheres à assistência odontológica parece funcionar como agente potencializador da qualidade de vida pela percepção subjetiva de bem-estar. Portanto, a odontologia precisa ser expandida e estar mais integrada aos serviços de saúde pública, fornecendo respostas adequadas às necessidades de saúde e ao sofrimento das gestantes, sem perder o foco de que as ações educativas são facilitadoras para despertar uma assistência pré-natal mais integral e humanizada que repercuta na qualidade de vida.

Para Gouvêia et al. (2018), a promoção de saúde bucal é fundamental também no ambiente hospitalar, na qual a odontologia hospitalar neonatal pode atuar em diversos cenários de prática. Para esses mesmos autores, a odontologia hospitalar neonatal busca, sobretudo, durante o pré-natal, a conscientização materna sobre a importância do acompanhamento odontológico no período gravídico-puerperal, visando à promoção da saúde e a educação das gestantes de alto risco sobre a importância do pré-natal odontológico na prevenção de alterações bucais e sistêmicas, além dos benefícios do aleitamento materno exclusivo, mudanças de hábitos alimentares, orientações de higiene bucal e o atendimento ambulatorial odontológico propriamente dito.

Nessa lógica, Lopes et al. (2018), observaram aspectos positivos nas percepções do pré-natal odontológico pelas gestantes, como a importância desse tipo de serviço para o binômio mãe-filho, o aumento e a acessibilidade aos serviços odontológicos, com maior adesão ao aconselhamento fornecido pelos profissionais de saúde. Esses mesmos autores apontam para a necessidade de estabelecer uma linguagem unificada entre os profissionais de saúde para maior conscientização acerca do pré-natal, de modo que possam garantir esse tipo de atendimento durante a gestação e implementar ações de promoção a saúde bucal tanto para mãe como para o futuro bebê.

Por fim, os estudos de Monteiro et al. (2016) evidenciaram que apesar da mudança de hábitos das gestantes em relação aos cuidados com a saúde bucal e na compreensão das mesmas sobre as alterações que ocorrem no período gestacional, é preciso que os profissionais envolvidos trabalhem estratégias educativas no sentido de consolidar as mudanças de conhecimento e comportamento, a fim de motivar as gestantes na procura pela assistência odontológica atrelada ao acompanhamento pré-natal. Adicionalmente,

Vasconcelos et al. (2012) expõem a necessidade de educação em saúde com mulheres gestantes como parte do tratamento odontológico para desmistificar crenças populares, possibilitando a inserção de novos hábitos que culminarão na promoção de saúde bucal da mulher e de seus filhos.

5 conclusão

A literatura mostra a importância da avaliação odontológica no período gestacional. No entanto, fatores individuais, fatores relacionados à organização do serviço e fatores relacionados à escolaridade, emprego, número de consultas pré-natal e atividades educativas estão associados à utilização e adesão das gestantes aos serviços de saúde bucal durante o pré-natal, podendo aumentar ou diminuir a realização do acompanhamento odontológico na gravidez.

Reforça-se a importância da formação e capacitação em saúde para o trabalho interprofissional, no intuito de melhorar as condições de saúde bucal e sistêmica de gestantes, melhorando a sua adesão a esse tipo de atendimento. Destarte, a educação em saúde para as ESB e ESF possibilita a inserção de novos hábitos que culminarão na promoção de saúde bucal durante a gestação. Para, além disso, devem ser implementadas estratégias de captação precoce e orientações das gestantes acerca da realização da avaliação bucal para que haja a integração do acompanhamento pré-natal odontológico durante o período gravídico.

REFERÊNCIAS

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KONZEN JÚNIOR, D. J.; MARMITT, L. P.; CÉSAR, J. A. Não realização de consulta odontológica entre gestantes no extremo sul do Brasil: um estudo de base populacional. Ciênc. Saúde Colet. (Impr.), v. 24, n. 10: 3889-3896, out., 2019.

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MARTINELLI, K. G et al. Fatores associados ao cuidado de saúde bucal durante a gravidez. Arquivos em Odontologia, v.56, p.1-9, jan. /dez., 2020.

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1 MsC, Doutoranda em Biotecnologias em Saúde (UnP)
FASEH-Vespasiano-MG, Brasil
Rua São Paulo, 958, Jardim Alterosa, Vespasiano-MG
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(31) 99832-7787

2 Acadêmica do 9° Período do Curso de Enfermagem
FASEH – Faculdade da Saúde e Ecologia Humana
Rua São Paulo, 958, Jardim Alterosa, Vespasiano-MG
E-mail: sharasantos202@gmail.com
(31) 98695-1700

3 Acadêmica do 9° Período do Curso de Enfermagem
FASEH – Faculdade da Saúde e Ecologia Humana
Rua São Paulo, 958, Jardim Alterosa, Vespasiano-MG
E-mail: to63995@gmail.com
(31) 98607-0673

4 Acadêmica do 4° Período do Curso de Odontologia
FASEH – Faculdade da Saúde e Ecologia Humana
Rua São Paulo, 958, Jardim Alterosa, Vespasiano-MG
E-mail: adrianaggoncalves@hotmail.com
(31) 99278-7270

5 Acadêmica do 4° Período do Curso de Odontologia
FASEH – Faculdade da Saúde e Ecologia Humana
Rua São Paulo, 958, Jardim Alterosa, Vespasiano-MG
E-mail: cristianedurso@yahoo.com.br
(31) 97310-8338

6 Acadêmica do 8ª Etapa do Curso de Medicina
FASEH – Faculdade da Saúde e Ecologia Humana
Rua São Paulo, 958, Jardim Alterosa, Vespasiano-MG
E-mail: cristinaferrari2001@gmail.com
(31) 98327-8967

7 Mestranda em Gestão de Serviços da Atenção Primária à Saúde
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(31) 99737-4664