PERCEPÇÕES DA EQUIPE DO NÚCLEO DE ATENÇÃO DOMICILIAR DE UM HOSPITAL PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL SOBRE O ATENDIMENTO MULTIPROFISSIONAL ONCOLÓGICO.

PERCEPTIONS OF THE HOME CARE CENTER TEAM OF A PUBLIC HOSPITAL IN THE FEDERAL DISTRICT ON MULTIPROFESSIONAL AL ONCOLOGY CARE.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202408212204


Adrianne Alves Soares1
Orientadora: Me. Flávia Ladeira Ventura Dumas2
Coorientadora: Esp. Larissa Araújo Silva3


RESUMO

Introdução: O câncer é uma doença que caracteriza-se pelo crescimento desordenado de células, com tendência a invadir órgãos e tecidos e a provocar metástases. As equipes multiprofissionais que atuam na assistência domiciliar, devem reunir suas habilidades para ajudar o paciente a se adaptar com as mudanças de vida impostas pela doença, e promover a reflexão necessária para o enfrentamento desta condição. Objetivos: compreender a visão da equipe multiprofissional sobre o atendimento na assistência oncológica domiciliar realizado pelo Núcleo Regional de Atendimento Domiciliar (NRAD) de Taguatinga-DF. Métodos: Trata-se de um estudo transversal, descritivo, por meio de análise de questionário. A abordagem utilizada foi a interpretação dos relatos que foram analisados, descrevendo a visão da equipe sobre o atendimento multiprofissional na assistência oncológica domiciliar. Resultados: Aplicou-se um questionário com sete perguntas de múltipla escolha e análise das respostas dos participantes. Incluindo perguntas que variam desde o papel facilitador da equipe na transmissão do diagnóstico e tratamento dos pacientes atendidos em domicílio, até a interação inter e multiprofissional da equipe. As principais alternativas identificadas foram: ‘’Muito’’ e ‘’Completamente’’. Assim, foi possível identificar a visão dos participantes em cada pergunta da entrevista, corroborando os resultados com vários autores acerca dos temas propostos. Conclusão: Pode-se constatar que compreender a visão da equipe multiprofissional em atendimento domiciliar na assistência oncológica, contribuiu para descrever como a equipe executa suas ações com os pacientes, seus familiares e seus cuidadores, assim como ocorre suas interações profissionais.

Palavras-chaves: Equipe Multiprofissional. Oncologia. Atenção Domiciliar

ABSTRACT

Introduction: Cancer is a disease characterized by the disordered growth of cells, with a tendency to invade organs and tissues and cause metastases. Multidisciplinary teams that work in home care must bring together their skills to help the patient adapt to the life changes imposed by the disease, and promote the necessary reflection to face this condition. Objectives: to understand the multidisciplinary team’s view of home oncology care provided by the Núcleo Regional de Atendimento Domiciliar (NRAD) of Taguatinga-DF. Methods: This is a crosssectional, descriptive study, using questionnaire analysis. The approach used was the interpretation of the reports that were analyzed, describing the team’s view on multidisciplinary care in home oncology care. Results: A questionnaire with seven multiple-choice questions was administered and participants’ responses were analyzed. Including questions that range from the team’s facilitating role in transmitting the diagnosis and treatment of patients cared for at home, to the team’s inter and multidisciplinary interaction. The main alternatives identified were: ‘’Very much’’ and ‘’Completely’’. Thus, it was possible to identify the participants’ views on each interview question, corroborating the results with several authors on the proposed themes. Conclusion: It can be seen that understanding the vision of the multidisciplinary team in home care in cancer care contributed to describing how the team performs its actions with patients, their families and their caregivers, as well as how their professional interactions occur.

Keywords: Multidisciplinary team. Oncology. Home Care.

INTRODUÇÃO

O câncer é definido como o conjunto de mais de cem doenças, que tem como característica principal o crescimento desordenado de células, que tendem a invadir tecidos e órgãos vizinhos e provocar metástases, podendo ser resistentes ao tratamento e causar a morte do hospedeiro (INCA, 2020).

De acordo com dados do INCA (2022), o câncer é o principal problema de saúde pública no mundo, figurando como uma das principais causas de morte e, consequentemente, uma das principais barreiras para o aumento da expectativa de vida em todo o mundo. Na maioria dos países, a doença corresponde à primeira ou à segunda causa de morte prematura, antes dos 70 anos. No Brasil, são esperados 704 mil casos novos de câncer para cada ano do triênio 2023-2025, com destaque para as regiões Sul e Sudeste, que concentram cerca de 70% da incidência.

Para Batista (2015), a incidência crescente de casos de neoplasia tem ocasionado uma transformação no perfil epidemiológico da população, seja pelo aumento da exposição aos fatores cancerígenos, pelo envelhecimento populacional, pelo aprimoramento das tecnologias para o diagnóstico, como também pela elevação do número de óbitos por câncer. Além disso, segundo Valaristino (2019), o aumento de doenças degenerativas e crônicas têm estimulado mudanças nas políticas de saúde, havendo necessidade de novas estratégias de atenção à saúde no Brasil, em especial aos pacientes que recebem cuidados em domicílio.

Segundo Oliveira (2019), a equipe multiprofissional tem a função de oferecer assistência humanizada além de fornecer suporte, conforto e manter uma comunicação transparente com o paciente e a sua família, auxiliar no luto, temor, dúvidas, estresse e frustração, utilizando as melhores intervenções.

‘’A atenção domiciliar foi instituída pela Portaria nº 2.029, de 24 de agosto de 2011’’ (MS, 2011) e, por último, foi redefinida pela Portaria nº 3.005 de 2 de Janeiro de 2024, que altera as Portarias de Consolidação nºs 5 e 6, de 28 de setembro de 2017, para atualizar as regras do Serviço de Atenção Domiciliar (SAD) e do Programa Melhor em Casa (PMeC). Segundo esta última portaria, a Atenção Domiciliar (AD) é indicada para pessoas que necessitam de atenção à saúde e que estejam em situação de restrição ao leito ou lar ou em condição clínica ou de vulnerabilidade, de forma temporária ou permanente, na qual a atenção domiciliar é considerada a oferta mais oportuna para tratamento, paliação, reabilitação e prevenção de agravos. A Equipe Multiprofissional de Apoio para Reabilitação (EMAP-R) será composta por, no mínimo, três profissionais de nível superior, dentre as ocupações a seguir: fisioterapeuta, fonoaudiólogo, nutricionista, terapeuta ocupacional, psicólogo e enfermeiro. 

Segundo Procópio et al. (2019), a Atenção Domiciliar (AD) é uma modalidade de atendimento que tem por objetivo: promover saúde, prevenir, tratar, reabilitar e paliar. Além disso, para o autor Vasconcelos (2018), o atendimento domiciliar é uma alternativa que auxilia no tratamento do doente, na redução da ansiedade do paciente e de seus familiares, possibilita o empoderamento da família no cuidado, além de colaborar para a redução da demanda por atendimentos hospitalares e dos custos e os riscos relacionados a internações hospitalares.

De acordo com o estudo de Silva (2018), as equipes multiprofissionais que atuam nesse tipo de assistência, devem reunir as habilidades de uma equipe interdisciplinar para ajudar o paciente a se adaptar com as mudanças de vida impostas pela doença, e promover a reflexão necessária para o enfrentamento desta condição, a família é a parte mais importante do atendimento, por isso, é função de toda equipe treinar o familiarcuidador para um adequado auxílio ao paciente no domicílio.

‘’O cuidador é a pessoa, da família ou da comunidade, que presta cuidados a outra pessoa de qualquer idade, que esteja necessitando de cuidados por estar acamada, com limitações físicas ou mentais, com ou sem remuneração.’’ (Ministério da Saúde, 2008). Além disso, o estresse pessoal e emocional do cuidador imediato é enorme. Dessa maneira, esse cuidador necessita manter sua integridade física e emocional para planejar maneiras de convivência.

Por outro lado, a participação da família e/ou cuidador nos cuidados dos pacientes proporciona para o paciente: livre-arbítrio, alívio, segurança, qualidade de vida bem como a preservação do convívio familiar e social.

O objetivo desse estudo é compreender a visão da equipe multiprofissional sobre o atendimento na assistência oncológica domiciliar realizado pelo Núcleo Regional de Atendimento Domiciliar (NRAD) de Taguatinga-DF e descrever a forma que essa equipe executa algumas de suas ações com os pacientes, seus familiares e cuidadores.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo transversal, descritivo com abordagem quantitativa, por meio de análise de questionário aplicado a equipe do NRAD de Taguatinga. A abordagem utilizada teve como foco a interpretação das respostas que foram analisadas, descrevendo a visão da equipe sobre o atendimento multiprofissional domiciliar de pacientes oncológicos. A coleta de dados ocorreu através de análise de entrevista com roteiro semiestruturado, em que consistia perguntas previamente formuladas pela pesquisadora. As entrevistas foram realizadas após aceite e concordância do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) enviado a cada participante da pesquisa. O TCLE e o questionário foram enviados e aplicados aos participantes através da plataforma Google Forms, sendo respondidos por via online e disponibilizados por meio do link do site.

A amostra contou com os profissionais que atuam na equipe do NRAD de Taguatinga, que atendem pacientes oncológicos em cuidados domiciliares, no período de janeiro a dezembro de 2023.

Os critérios de inclusão do estudo foram os profissionais da equipe multiprofissional de saúde inseridos no programa NRAD de Taguatinga, que atuam na assistência oncológica em domicílio. Foram excluídos os profissionais residentes que trabalham na equipe multiprofissional e aqueles que estavam de férias ou em qualquer tipo de licença.

A presente pesquisa se desenvolveu obedecendo as seguintes etapas após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa-CEP: coleta de dados através da análise de entrevista semiestruturada aplicada à equipe multiprofissional do NRAD de Taguatinga, tabulação dos dados, discussão e conclusão dos resultados. A coleta de dados foi realizada no período de Novembro a Dezembro de 2023.

Para análise dos dados dos prontuários foram realizadas as estatísticas através do Microsoft Excel, utilizado para a confecção da tabela dos dados sociodemográficos e utilização do Microsoft Word para a confecção dos gráficos que contêm a frequência das respostas do questionário. As variáveis quantitativas serão apresentadas na forma de porcentagem de cada variável dos dados pessoais dos participantes e de gráficos em colunas representando a porcentagem das respostas dos participantes.

O questionário é composto por cinco perguntas relacionadas ao sexo, idade, estado civil, profissão e tempo de atuação na equipe do NRAD. O roteiro de avaliação escolhido foi por meio de entrevista semiestruturada, composta por sete perguntas de múltipla escolha (incluindo cinco opções, entre elas: ‘’Nada’’, ‘’Muito pouco’’, ‘’Médio’’, ‘’Muito’’ e ‘’Completamente’’) a respeito da opinião e da visão dos profissionais da equipe multiprofissional sobre a importância da equipe no atendimento domiciliar, dividido em categorias: o papel da equipe em facilitar a transmissão do diagnóstico e tratamento dos pacientes oncológicos atendidos em domicílio; estratégias que buscam diminuir o sofrimento das famílias do paciente durante o tratamento; a importância da realização de cursos específicos na área oncológica para aprimorar o conhecimento desses profissionais; a importância da dor no paciente oncológico, assim como a compreensão do profissional de saúde frente a casos de terminalidade e, ao mesmo tempo, oferecer assistência adequada ao paciente nesse momento, e por último, questões relacionadas à interação e à atuação entre os membros da equipe multiprofissional e se essa assistência prestada tem impacto positivo na vida dos pacientes em tratamento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os participantes da pesquisa foram os profissionais da equipe do Núcleo Regional de Atenção Domiciliar de Taguatinga, entre eles, dois fisioterapeutas, uma nutricionista, uma fonoaudióloga, uma médica e três técnicas de enfermagem, totalizando oito profissionais da equipe que aceitaram responder ao roteiro de entrevista com perguntas elaboradas, relacionadas à atuação da equipe multiprofissional em cuidados oncológicos/ assistência domiciliar. Após análise das respostas de cada profissional a respeito da atuação dentro da equipe multiprofissional, os dados foram tabulados pelo Microsoft Excel e Microsoft Word com a utilização de tabela e gráficos. A maioria desses profissionais (62,50%) atua em assistência domiciliar há mais de seis anos. Dentre os participantes, sete (87,50%) representam o sexo feminino e apenas um (12,50%) do sexo masculino. Acerca da idade dos participantes, pode-se observar uma média de idade de 40 a 59 anos. Além disso, seis participantes são casados e dois possuem estado civil solteiro.

Tabela 1- Frequência dos dados sociodemográficos dos participantes

Fonte: Dados da pesquisa 2023

Figura 1- Frequência das alternativas (questões 6 a 9)

Figura 2- Frequência das alternativas (questões 10 a 12)

Nas respostas obtidas a partir do roteiro de entrevista é possível identificar as opiniões dos participantes da equipe acerca dos temas apresentados. Na primeira pergunta sobre o papel da equipe multiprofissional de facilitar a transmissão do diagnóstico e a aceitação do tratamento do paciente oncológico atendido em domicílio, metade dos participantes (50%) responderam a opção ‘’Muito’’ para a pergunta e 37,50% escolheram a alternativa ‘’Completamente’’. Assim, é importante destacar que a assistência oferecida pela equipe multiprofissional no atendimento domiciliar de pacientes oncológicos, facilita o enfrentamento do paciente e do cuidador no decorrer do tratamento da doença. De acordo com Moura (2022), ao delinear o perfil da população atendida, é provável que ocorra a melhoria e a adequação do serviço, mediante a análise de dados que permitam o planejamento adequado de assistência à saúde, minimizando os riscos e promovendo a qualidade de vida. A equipe multiprofissional possui o papel de facilitar a transmissão do diagnóstico, a aceitação do processo do cuidado, o alívio dos efeitos secundários, mudanças positivas no estilo de vida do paciente e da sua família, além da aproximação do profissional com os aspectos sociais e emocionais do paciente, possibilitando um aprendizado prático sobre a integridade e humanização do atendimento.

A respeito das demandas diárias no cuidado ao paciente oncológico, 87,7% dos profissionais responderam ‘’Muito’’ para o profissional que busca estratégias que permitam diminuir o sofrimento das famílias, tanto no momento da alta quanto durante o atendimento domiciliar. O estudo de Araújo (2012) relata que existe um interrelacionamento entre sintomas psicológicos apresentados pelo paciente e pela família. A família é afetada pela doença e a dinâmica familiar afeta o paciente” (Araújo, 2012). Quando o indivíduo enfrenta o processo adoecer/morrer toda sua família é envolvida e o cotidiano de ambos muda de forma que toda a atenção é voltada para as necessidades de seu ente querido.

Cabe destacar ainda, que a visão da equipe em relação ao atendimento na assistência oncológica domiciliar melhora a relação entre equipe e família, fortalece o vínculo e a adesão ao tratamento. De acordo com os autores Mansano e Schlosser (2012), os profissionais de saúde que trabalham no contexto de atenção ao câncer convivem constantemente com situações de dor, perda, medos, dúvidas. Por isso, são exigidas habilidades e competências não só técnicas, mas também interpessoais, como empatia, acolhimento e diálogo, além do autoconhecimento. Além disso, o tratamento oncológico é cercado de incertezas, pois mesmo após esta rotina e o fim do tratamento, o paciente e a família têm de conviver com as sequelas do tratamento e com o medo de recidivas. Todo esse impacto influencia diretamente na qualidade de vida do paciente e da família que o cerca.

Quando perguntado ao participante, se este considera importante a realização de cursos específicos na área oncológica para aprofundamento do conhecimento e para a contribuição dos atendimentos oncológicos domiciliares, 6 profissionais (75%), responderam ‘’completamente’’ para a pergunta, e 2 (25%) responderam a alternativa ‘’muito’’. O que demonstra interesse por parte da equipe em manter uma educação continuada a fim de oferecer melhor assistência aos seus pacientes. Atualmente, segundo dados do INCA (2019), o câncer é a segunda principal causa de morte por doença na população brasileira. Esse cenário aponta para a necessidade da formação de profissionais qualificados, com competência específica para o enfrentamento dessa doença, sob a ótica interdisciplinar e de acordo com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e da Política Nacional de Humanização (PNH), pressupostos fundamentais para a implementação da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer (INCA, 2019). Nesse contexto, cabe aos profissionais, com sua capacitação técnico científica aliada a sensibilidade na escuta, serem capazes de compreender o que está se passando com o paciente, acolhê-lo e construir um vínculo humanístico na ação do cuidar com dignidade. Todavia, para Flores (2019), isso apenas será possível com uma educação continuada de qualidade que possibilite a estruturação da linha de cuidado desses pacientes.

Na questão que abordou sobre a dor nos pacientes com câncer, e se o profissional oferece a devida importância a esse sintoma frequente, 75% deles responderam ‘’Completamente’’ para a pergunta. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a dor acomete 60 a 80% dos pacientes com câncer, sendo 25 a 30% na ocasião do diagnóstico e 70 a 90% quando a doença já está avançada. A Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que a dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a lesões reais ou potenciais. O autor Correia (2022), considera a dor como uma síndrome resultante da interpretação do aspecto físico químico do estímulo nocivo e da sua interação com as características individuais como o humor, o significado simbólico atribuído ao fenômeno sensitivo e os aspectos culturais e afetivos dos indivíduos. Já segundo De Souza (2020) a percepção dolorosa é extremamente individual e altamente influenciada por fatores externos.

O autor Rangel (2012) ressalta que ignorar a dor referida pelo paciente é o mesmo que ignorar seu sofrimento, limitando sua qualidade de vida. O alívio da dor crônica no paciente oncológico é possível pela combinação medicamentosa de analgésicos opiáceos e não opiáceos. Segundo Moura (2022), é implementado também para o controle álgico, intervenções não farmacológicas como apoio emocional, métodos físicos, educativos e cognitivo-comportamentais. Além disso, o adequado preparo de toda a equipe é estratégia fundamental para o controle da dor e sintomas prevalentes em pacientes oncológicos, principalmente aqueles com a doença avançada. Qualquer ação deve fazer parte de um processo decisório bem definido e discutido na equipe. As decisões são precedidas pela avaliação da dor, e preferencialmente pela escolha de intervenções múltiplas para a garantia de maior êxito.

Outro ponto relevante a ser destacado, se refere aos pacientes que estão em fase de doença avançada e se o profissional considera importante compreender a finitude da vida sem deixar de prestar a assistência adequada nesse momento. Para esse questionamento, 7 (87,50%) participantes responderam ‘’Completamente’’. Para o autor Kovács (2010), os profissionais de saúde que trabalham com atenção ao câncer no contexto de fase avançada da doença, convivem constantemente com situações de dor, perda, morte e luto, que suscitam diversos sentimentos. Por isso, são exigidas habilidades e competências não só técnicas, mas também interpessoais, como empatia, acolhimento e diálogo, além do autoconhecimento.

Segundo Pacheco (2019), é fundamental que os profissionais que trabalham nesse tipo de assistência busquem um limite adequado para que o ônus decorrente dos cuidados oferecidos aos doentes não se torne excessivo, ou seja, eles devem aprender a administrar o convívio diário com o sofrimento de pacientes e familiares, a fim de evitar seu próprio sofrimento físico e psíquico. Nesse cenário, figura como pilar central na constituição da identidade dos profissionais, a busca por um equilíbrio pessoal diante das circunstâncias que se apresentam. Esse equilíbrio implica tanto em conseguir ter a sensibilidade e a capacidade de estar em sintonia com o sofrimento do outro, quanto em construir defesas e limites para isso.

Acerca da adequada interação inter e multiprofissional, foram encontradas respostas variadas: metade (50%) respondeu ‘’médio’’, 3 (37,5%) escolheram a opção ‘’Muito’’ e 1 (12,5%) participante respondeu ‘’Muito pouco’’. De acordo com o estudo de Nardino (2021) ambos os termos “trabalho multiprofissional” e “trabalho interdisciplinar” correspondem à formação de uma equipe com múltiplos profissionais, mas se diferenciam em seus modos de atuação. O primeiro contempla avaliação e intervenção independentes, em que os profissionais envolvidos não necessariamente estabelecem trocas entre si, já o segundo refere-se ao cuidado integrado, que pressupõe diálogo e planos de ação convergentes.

Segundo Do Couto (2019), a comunicação efetiva entre a equipe ocorre, quando os profissionais realizam um “feedback” relatando as necessidades do paciente e definindo as condutas. É de fundamental importância para o paciente que a equipe esteja bastante familiarizada com o seu problema, podendo assim ajudá-lo e contribuir para melhorar sua sintomatologia. Além disso, de acordo com o estudo de Monteiro (2020), os resultados de um trabalho em Equipe Multiprofissional dependem diretamente da integração das ações dos profissionais.

E por último, a pergunta sobre a assistência prestada aos pacientes e cuidadores pela equipe do NRAD e se essa assistência tem impacto positivo no tratamento dos pacientes, 4 (50%) participantes escolheram a alternativa ‘’Muito’’, 3 (37,5%) optaram por ‘’Completamente’’. Corroborando com a pesquisa de Mazzi (2018), esse tipo de assistência é considerada um fator facilitador, pois tem como foco as necessidades de saúde dos pacientes, com o objetivo de humanizar a atenção, ampliar a autonomia dos indivíduos e buscar a desinstitucionalização. O cuidado domiciliar oferece mais conforto e qualidade de vida e um melhor convívio social. O paciente encontra-se dentro de um ambiente conhecido, mantendo sua intimidade, pode realizar tarefas da rotina diária, manter alguns hábitos, atividades de lazer e a alimentação são mais variados com horários não tão rígidos, além de fortalecer a autonomia do paciente e sua integridade como pessoa.

Nesse sentido, segundo o estudo de Feuerwerker (2008), pacientes e cuidadores que recebem visitas frequentes da equipe multidisciplinar, sentem-se mais acolhidos e confiantes em manter o paciente em domicílio. Da mesma forma que o vínculo entre equipe multiprofissional e cuidador causa maior segurança nos familiares e pacientes, ocasionando um melhor acompanhamento neste cuidado. A efetividade da comunicação se sustenta na empatia que se estabelece entre a equipe e cuidador. É importante esta interação, visto que o cuidador conhece bem as necessidades do paciente, pois ambos têm convívio diário.

CONCLUSÕES

No processo de construção da pesquisa, pôde-se constatar que compreender a visão da equipe multiprofissional em atendimento domiciliar na assistência oncológica, contribuiu para descrever como a equipe executa algumas de suas ações com os pacientes, seus familiares e seus cuidadores, assim como ocorre suas interações profissionais. Além disso, também cabe reforçar a importância da equipe multiprofissional na composição do NRAD.

O ambiente domiciliar é um dos cenários em que pode ocorrer o atendimento a pacientes oncológicos. O domicílio é um local que pode proporcionar inúmeras vantagens, como o conforto, a proteção, a proximidade dos familiares e a assistência oferecida pela equipe multiprofissional, facilita o enfrentamento do paciente e do cuidador no decorrer do tratamento da doença.

Vale destacar também a importância de proporcionar um ambiente de conforto e controle dos sintomas, principalmente nos aspectos físicos, como a dor oncológica, que é uma das causas de sofrimento para o paciente com câncer. O processo de trabalho no qual os cuidados oncológicos em domicílio se inserem, deve assistir o paciente desde o início do tratamento até o estágio de fase final de vida, e isto requer um maior conhecimento da atuação dos profissionais na área e a busca constante pelo aprendizado no contexto da educação continuada, incluído cursos específicos na área de atenção ao câncer, para conseguir suprir os cuidados e responsabilidades que devem ser diferenciados e de acordo com as necessidades do paciente.

Por fim, aponta-se que este estudo apresenta limitações pelo fato de a coleta de dados ter abrangido somente uma equipe e ter sido realizada em uma única instituição, o que não permitiu que um número maior de profissionais que atuam em outros núcleos de atenção domiciliar das demais regiões, pudessem ter sido entrevistados. Como possibilidade de novas pesquisas nesse campo, sugere-se a elaboração de investigações que incluam as perspectivas de pacientes e familiares que recebem assistência oncológica no contexto domiciliar acerca dessa abordagem de cuidado.

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