IMPACTO DAS PROVAS NA SAÚDE MENTAL DOS ESTUDANTES DA EDUCAÇÃO BÁSICA: UMA ANÁLISE DAS RELAÇÕES ENTRE SOBRECARGA ACADÊMICA, ANSIEDADE E BEM-ESTAR

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202408171143


Felipe Ricardo Marcondes do Bomfim;
Rafael Felipe Sousa Antunes;
Aline Fuzaro Lopes Mezadri


Resumo

Este estudo investiga a influência das provas e da sobrecarga acadêmica na saúde mental dos estudantes da educação básica em uma escola do Espírito Santo. A pesquisa foi conduzida com 260 alunos, utilizando questionários para medir níveis de estresse, ansiedade, satisfação com o sono, qualidade da dieta e percepção da rotina diária. Os resultados indicam que a sobrecarga com tarefas escolares e a pressão para alcançar boas notas estão associadas a um aumento significativo nos níveis de ansiedade e uma redução na satisfação com aspectos do bem-estar, como o sono e a rotina diária. Este artigo discute as implicações desses achados à luz das teorias contemporâneas sobre estresse e desenvolvimento humano, e sugere intervenções educacionais para promover um ambiente escolar mais saudável.

Palavras-chave: Ansiedade; Provas; Adolescência; Educação Básica; 

Abstract 

This study investigates the influence of exams and academic overload on the mental health of students in basic education at a school in Espírito Santo. The research was conducted with 260 students, using questionnaires to measure levels of stress, anxiety, sleep satisfaction, diet quality, and perception of daily routine. The results indicate that overload with school tasks and the pressure to achieve good grades are associated with a significant increase in anxiety levels and a reduction in satisfaction with aspects of well-being, such as sleep and daily routine. This paper discusses the implications of these findings in light of contemporary theories on stress and human development and suggests educational interventions to promote a healthier school environment. 

Keywords: Anxiety; Exams; Adolescence; Basic Education;

Introdução

A saúde mental dos estudantes tornou-se uma questão de crescente importância no contexto educacional global. Os adolescentes têm sido confrontados, na sociedade atual, com inúmeros componentes estressores da vida diária, além das mudanças emocionais, cognitivas e fisiológicas características do seu estágio do desenvolvimento (Bluth & Blanton, 2014). Situações de avaliação acadêmica, geralmente por provas, têm emergido como uma variável dominante no estímulo eliciador da ansiedade na área educacional. Muitas decisões importantes acabam relacionadas ao desempenho em provas escolares, acadêmicas e seletivas no campo da escola, faculdade e trabalho, por exemplo (Rana & Mahmood, 2010). Estudos têm mostrado que o estresse crônico, como o experimentado em ambientes escolares exigentes, pode ter impactos profundos na saúde física e mental dos estudantes, prejudicando seu desempenho acadêmico e seu bem-estar geral (Sapolsky, 2004; Shankar & Park, 2016). Este artigo busca explorar como as provas e a sobrecarga de tarefas influenciam a saúde mental dos alunos do ensino médio, utilizando dados empíricos para fornecer uma análise crítica e sugestões de intervenção.

Objetivo

O objetivo deste estudo é analisar o impacto das provas e da sobrecarga de tarefas escolares na saúde mental dos estudantes do ensino médio, com foco em variáveis como estresse, ansiedade, qualidade do sono e satisfação com a rotina diária. Este trabalho também visa fornecer recomendações práticas para educadores e gestores escolares sobre como mitigar os efeitos negativos do estresse acadêmico.

Metodologia

Participantes: A amostra foi composta por 260 estudantes da educação básica, entre o 6º ano do ensino fundamental e a 3ª série do ensino médio de uma escola brasileira, com idades variando entre 11 e 18. A média de idade foi de 14 anos.

Instrumento de Coleta de Dados:

Foi utilizado um questionário abrangente, que incluía perguntas sobre estresse, ansiedade, qualidade do sono, satisfação com a dieta e percepção da rotina diária. As respostas foram medidas em uma escala Likert de 0 a 10, onde 0 representava “muito pouco” e 10 representava “muito”.

Procedimento: 

A coleta de dados foi realizada durante o período escolar, em momentos que não coincidiam com os períodos de prova, para evitar vieses relacionados ao estresse imediato das avaliações. O anonimato dos participantes foi garantido.

Análise de Dados: 

Os dados foram analisados utilizando estatísticas descritivas e inferenciais. A análise de correlação de Pearson foi empregada para identificar relações entre as variáveis. Correlações significativas foram consideradas aquelas com p < 0.05.

Resultados

Os resultados revelam uma correlação positiva significativa entre a sobrecarga de tarefas escolares e o nível de ansiedade (r = 0.510, p < 0.05). Alunos que relataram sentir-se mais sobrecarregados com as tarefas também mostraram níveis elevados de ansiedade em relação às notas e ao desempenho acadêmico. Além disso, houve uma correlação negativa entre a satisfação com a quantidade de sono e o nível de ansiedade (r = -0.167, p < 0.05), indicando que alunos menos satisfeitos com seu sono tendem a ter níveis mais altos de ansiedade.

Outro achado relevante foi a correlação negativa entre a sobrecarga de tarefas escolares e a satisfação com a rotina diária (r = -0.188, p < 0.05). Esses dados sugerem que a sobrecarga acadêmica não apenas aumenta a ansiedade, mas também deteriora a qualidade de vida dos estudantes em outras áreas, como a organização da rotina diária e o equilíbrio entre estudo e descanso.

Discussão

Os dados sugerem que a sobrecarga acadêmica, exemplificada pela pressão para ter bom desempenho em provas e tarefas, exerce um impacto negativo significativo na saúde mental dos estudantes. Este fenômeno pode ser explicado pelas teorias de estresse de Selye (1976) e Lazarus e Folkman (1984), que destacam como a percepção de demandas excessivas pode desencadear respostas de estresse e comprometer o bem-estar. Além disso, Sapolsky (2004) argumenta que o estresse crônico, como o vivido em ambientes escolares competitivos, pode levar a consequências duradouras na saúde mental e física, como distúrbios do sono e aumento da vulnerabilidade a doenças psicossomáticas.

A correlação negativa entre satisfação com o sono e ansiedade confirma a importância do sono na regulação emocional, como discutido por Goleman (1995) em seu trabalho sobre inteligência emocional. O sono insuficiente ou de má qualidade pode exacerbar os níveis de ansiedade, criando um ciclo vicioso de estresse e insatisfação.

Bronfenbrenner (1979) sugere que o ambiente escolar, como parte do sistema ecológico que influencia o desenvolvimento dos alunos, deve ser ajustado para promover o bem-estar. Políticas escolares que reduzem a sobrecarga e introduzem práticas pedagógicas que valorizam o bem-estar emocional, como a diversificação dos métodos de avaliação e a promoção de técnicas de coping, podem ser eficazes para mitigar esses efeitos negativos.

Este estudo também ecoa as preocupações de autores como Tough (2012) e Bonanno (2004), que defendem a importância de promover a resiliência nos estudantes. Programas que ensinam habilidades de coping e promovem a resiliência emocional podem ajudar os alunos a lidar melhor com as pressões acadêmicas e reduzir o impacto do estresse na saúde mental.

Conclusão

Os achados deste estudo reforçam a necessidade de reavaliar as práticas educacionais em escolas brasileiras, particularmente no que diz respeito à gestão da sobrecarga acadêmica e ao impacto das provas na saúde mental dos estudantes. As correlações identificadas entre sobrecarga, ansiedade e bem-estar sugerem que intervenções direcionadas são essenciais para criar um ambiente escolar que apoie tanto o desempenho acadêmico quanto o desenvolvimento emocional dos alunos.

Futuras pesquisas devem explorar intervenções específicas, como programas de educação socioemocional e políticas de redução de carga de trabalho, para avaliar sua eficácia na promoção do bem-estar estudantil. Além disso, é crucial considerar o papel das dinâmicas familiares e sociais no manejo do estresse escolar, conforme sugerido pelas teorias ecológicas de Bronfenbrenner (1979).

Referências

– Bluth, K. & Blanton, P. W. (2014). Mindfulness and Self-Compassion: Exploring Pathways to Adolescent Emotional Well-Being. J Child Fam Stud., 23(7), 1298-1309

– Bonanno, G. A. (2004). Loss, Trauma, and Human Resilience: Have We Underestimated the Human Capacity to Thrive after Extremely Aversive Events? American Psychologist, 59(1), 20-28.

– Bronfenbrenner, U. (1979). The Ecology of Human Development: Experiments by Nature and Design. Harvard University Press.

– Coiro, M. J., Bettis, A. H., & Compas, B. E. (2017). College students coping with interpersonal stress: Examining a control-based model of coping. Journal of American College Health, 65, 177–186.

– Goleman, D. (1995). Emotional Intelligence: Why It Can Matter More Than IQ. Bantam Books.

– Lazarus, R. S., & Folkman, S. (1984). Stress, Appraisal, and Coping. Springer.

– Tough, P. (2012). How Children Succeed: Grit, Curiosity, and the Hidden Power of Character. Houghton Mifflin Harcourt.

– Rana, R., & Mahmood, N. (2010). The relationship between test anxiety and academic achievement.BulletinofEducation and Research, 32(2), 63-74.

– Sapolsky, R. M. (2004). Why Zebras Don’t Get Ulcers: The Acclaimed Guide to Stress, Stress-Related Diseases, and Coping. W. H. Freeman.

– Selye, H. (1976). The Stress of Life. McGraw-Hill.

– Shankar, N. L., & Park, C. L. (2016). Effects of stress on students’ physical and mental health and academic success. International Journal of School & Educational Psychology, 4(1), 5-9.