ADVERSIDADES DA OBESIDADE: RECIDIVA DE COMORBIDADES APÓS EMAGRECIMENTO E CONTROLE DO PACIENTE 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202408161410


Francisco Xavier Martins Bessa1


RESUMO

A obesidade é um fenômeno complexo, resultado de uma interação complexa entre fatores genéticos, comportamentais, sociais, econômicos e ambientais. Com taxas de prevalência em constante ascensão, a obesidade representa uma ameaça à saúde individual à medida que também impõe um fardo substancial aos sistemas de saúde e à economia, devido ao aumento dos custos médicos e da produtividade reduzida. Objetivou-se, assim, averiguar os desafios da obesidade e da recidiva de comorbidades após o emagrecimento. Metodologicamente, aplicou-se uma revisão bibliográfica exploratória e comparativa embasada a partir de uma pesquisa qualitativa. Concluiu-se que os obstáculos da obesidade vão além da simples perda de peso, abrangendo a recidiva de comorbidades após o emagrecimento e o controle contínuo do paciente. A pesquisa destacou a complexidade desses desafios e ressaltou a necessidade de abordagens multidisciplinares para enfrentá-los de forma eficaz. Desde a prevenção da recidiva de comorbidades até a promoção de estilos de vida saudáveis, a integração de profissionais de diferentes áreas da saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos e educadores físicos, apresenta-se como uma estratégia fundamental. Essa abordagem colaborativa visa estabelecer cuidados personalizados e integrados, visando tanto perda de peso quanto a melhoria da saúde geral e qualidade de vida dos pacientes obesos.

Palavras-chave: Obesidade. Recidiva. Comorbidades. Emagrecimento. Intervenções.

Abstract

Obesity is a complex phenomenon, the result of a complex interaction between genetic, behavioral, social, economic and environmental factors. With ever-rising prevalence rates, obesity poses a threat to individual health as it also imposes a substantial burden on healthcare systems and the economy through increased medical costs and reduced productivity. The objective, therefore, was to investigate the challenges of obesity and the recurrence of comorbidities after weight loss. Methodologically, an exploratory and comparative bibliographic review based on qualitative research was applied. It was concluded that the obstacles to obesity go beyond simple weight loss, encompassing the recurrence of comorbidities after weight loss and continuous patient control. The research highlighted the complexity of these challenges and highlighted the need for multidisciplinary approaches to address them effectively. From preventing the recurrence of comorbidities to promoting healthy lifestyles, the integration of professionals from different areas of health, such as doctors, nutritionists, psychologists and physical educators, is a fundamental strategy. This collaborative approach aims to establish personalized and integrated care, aimed at both weight loss and improving the general health and quality of life of obese patients.

Keywords: Obesity. Recurrence. Comorbidities. Weight Loss. Interventions.

1 INTRODUÇÃO

A obesidade emerge como um dos problemas de saúde mais prementes e complexos em escala global, desafiando sistemas de saúde e comunidades em todo o mundo. A importância do tratamento da obesidade é indubitável, não apenas para mitigar o risco de complicações graves à saúde, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e câncer, mas também para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos afetados.

Contudo, enfrentar a obesidade não é uma tarefa simplória. Embora haja uma ampla gama de intervenções disponíveis, desde mudanças no estilo de vida até procedimentos médicos e cirúrgicos, a manutenção bem-sucedida da perda de peso representa um dos maiores desafios nesse processo (Machado; Alves, 2019).

A complexidade da obesidade reside em suas causas multifatoriais e na natureza crônica e recidivante da condição. Muitos indivíduos experimentam dificuldades em manter a perda de peso a longo prazo, mesmo após o sucesso inicial do tratamento. Isso se deve a uma série de fatores, tais como a adaptação metabólica, mudanças hormonais, influências ambientais e comportamentais, bem como questões psicossociais subjacentes (Santos, 2021).

As adversidades da manutenção do peso são agravados pela prevalência de uma cultura alimentar obesogênica, caracterizada pela disponibilidade onipresente de alimentos altamente processados, porções superdimensionadas e marketing agressivo de produtos alimentícios não saudáveis. Nesse ínterim, as barreiras individuais, como falta de suporte social, estresse emocional, transtornos alimentares e questões de autoimagem, tendem a complicar ainda mais os esforços para manter um peso saudável (Almeida et al., 2020). 

Diante desse cenário complexo, abordagens integradas e multidisciplinares se tornam essenciais no tratamento da obesidade e na promoção da manutenção bem-sucedida do peso., requerendo uma abordagem abrangedora que não apenas se concentre na perda de peso inicial, mas também forneça suporte contínuo ao longo do tempo, abordando questões físicas, psicológicas e sociais.

A escolha desta temática, portanto, é justificada pela sua relevância progressiva na área da nutrição e na sociedade contemporânea como um todo. A obesidade é uma condição de saúde pública global, com taxas de prevalência em constante aumento em todo o mundo. No contexto da nutrição e, de modo complementar da nutrologia, que se dedica ao estudo e tratamento das doenças relacionadas à alimentação e nutrição, a obesidade representa um dos principais problemas clínicos enfrentados pelos profissionais de saúde.

A temática é especialmente relevante no período contemporâneo devido à epidemia global de obesidade, que está associada a uma série de complicações à saúde, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, dislipidemia e determinados tipos de câncer. Analogamente, a obesidade tem um impacto robusto na qualidade de vida dos indivíduos afetados, podendo levar a restrições físicas, problemas psicossociais e redução da expectativa de vida.

O objetivo geral desta pesquisa consiste em averiguar os desafios da obesidade e da recidiva de comorbidades após o emagrecimento. Em relação aos objetivos específicos, estimou-se investigar a literatura científica contemporânea acerca dos fatores de risco para a recidiva de comorbidades em pacientes que perderam peso, descrever os mecanismos fisiopatológicos que corroboram para a recidiva de comorbidades após o emagrecimento e evidenciar a eficácia e segurança de diferentes intervenções multidisciplinares na prevenção da recidiva de comorbidades em pacientes com obesidade.

Para tanto, a seguinte questão problema norteia esta pesquisa: Quais são os principais desafios enfrentados pelos pacientes que perderam peso em relação à recidiva de comorbidades e como intervenções multidisciplinares podem auxiliar na prevenção e manejo dessas condições a longo prazo?

Trata-se, assim, de uma revisão de literatura com caráter exploratório e comparativo, fundamentada em uma pesquisa qualitativa. Como complemento, foram utilizados documentos focados em obras publicadas nos últimos cinco anos.

Foram excluídos dados oriundos de artigos que não apresentavam correlação com o tema, que não estavam disponíveis ao público, que ultrapassavam o limite temporal estabelecido, que não atendiam aos critérios de idioma (português ou inglês) ou que se apresentavam como obras incompletas. Explorou-se os seguintes termos nesta pesquisa: Os termos de busca utilizados incluíram “obesidade”, “recidiva”, “comorbidades”, “emagrecimento” e “intervenções”.

2 COMORBIDADES ASSOCIADAS À OBESIDADE: CONCEPÇÕES ELEMENTARES

A definição da obesidade é, majoritariamente, baseada em critérios de diagnóstico que consideram medidas antropométricas, como o Índice de Massa Corporal (IMC), a circunferência da cintura e a relação cintura quadril, entre outros. O IMC, que é calculado dividindo o peso pela altura ao quadrado, é um dos métodos mais comuns utilizados para classificar a obesidade, com valores iguais ou superiores a 30 kg/m² indicando obesidade. De modo complementar, medidas da circunferência da cintura e a relação cintura quadril são utilizadas para avaliar a distribuição de gordura corporal e o risco de complicações metabólicas associadas (Santos, 2021).

Sendo assim, a obesidade pode ser categorizada em diferentes graus, incluindo obesidade leve (IMC entre 30 e 34,9 kg/m²), obesidade moderada (IMC entre 35 e 39,9 kg/m²) e obesidade grave (IMC igual ou superior a 40 kg/m²). Essa classificação é de grande valia para determinar o risco de complicações à saúde e guiar as intervenções terapêuticas adequadas para cada indivíduo (Gonçalves; Kohlsdorf; Perez-Nebra, 2020).

No que concerne a epidemiologia da obesidade, essa é uma preocupação global que afeta todas as regiões do mundo. A prevalência da obesidade tem aumentado de maneira robusta nas últimas décadas, tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento. Tendências temporais na prevalência da obesidade revelam uma trajetória alarmante de crescimento, com um aumento constante no número de indivíduos afetados em todo o mundo. Essa tendência é preocupante considerando as disparidades socioeconômicas e étnicas na prevalência da obesidade (Cardozo, 2024).

Conforme elencado por Rodrigues (2022), grupos socioeconômicos mais desfavorecidos e minorias étnicas possuem uma maior prevalência de obesidade, bem como um risco aumentado de complicações relacionadas, destacando a necessidade de abordagens de saúde pública mais equitativas e inclusivas.

Os fatores de risco associados à obesidade são diversos, englobando uma interação dinâmica entre fatores genéticos, comportamentais e ambientais. Os fatores genéticos são representativos na predisposição à obesidade, com estudos indicando uma forte influência dos genes na regulação do peso corporal e no metabolismo. Variações genéticas podem afetar a maneira como o corpo processa e armazena energia, influenciando o risco de desenvolver obesidade em resposta a determinados estímulos ambientais, como padrões alimentares e níveis de atividade física (Santos, 2021).

Assim como os fatores genéticos, os aspectos comportamentais também são basilares na etiologia da obesidade. Hábitos alimentares pouco saudáveis, caracterizados pelo consumo excessivo de alimentos ricos em calorias, gorduras e açúcares, juntamente com níveis insuficientes de atividade física, são fatores de risco bem estabelecidos para o desenvolvimento da obesidade. Concomitantemente, os padrões de sono inadequados e altos níveis de estresse também foram associados ao aumento do risco de obesidade, destacando a complexidade das interações entre diferentes aspectos do estilo de vida moderno (Machado; Alves, 2019).

Os fatores ambientais também exercem uma influência na prevalência da obesidade. A ampla disponibilidade de alimentos ultraprocessados, ricos em calorias e pobres em nutrientes, aliada à obesogenicidade do ambiente construído, que por vezes favorece o sedentarismo e o acesso limitado a alimentos saudáveis, favorece o aumento da incidência de obesidade em muitas populações. Além disso, a influência da publicidade de alimentos, especialmente dirigida a crianças e adolescentes, pode promover escolhas alimentares pouco saudáveis e contribuir para o desenvolvimento da obesidade desde a infância (Cardozo, 2024).

O status socioeconômico de um indivíduo pode influenciar diretamente sua capacidade de adotar estilos de vida saudáveis, com desigualdades socioeconômicas frequentemente associadas a taxas mais altas de obesidade e menor acesso a serviços de saúde e programas de prevenção. Aliás, os fatores culturais, tais como tradições alimentares e normas sociais em torno do peso e da imagem corporal, podem moldar as percepções e comportamentos em relação à alimentação e ao peso, influenciando indiretamente a prevalência da obesidade em diferentes grupos populacionais (Gonçalves; Kohlsdorf; Perez-Nebra, 2020).

Em paralelo, a obesidade na infância e adolescência é uma preocupação de saúde pública, com taxas de prevalência em constante aumento em muitas partes do mundo. As consequências de longo prazo da obesidade na infância para a saúde na idade adulta são motivo de preocupação, pois a obesidade durante os primeiros anos de vida pode aumentar o risco de uma série de condições crônicas, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer, na vida adulta. Ademais, a obesidade na infância correlaciona-se a uma variedade de complicações imediatas, incluindo distúrbios metabólicos, hipertensão arterial, dislipidemia e problemas ortopédicos, que podem ter impactos na qualidade de vida e no funcionamento físico e emocional das crianças afetadas (Santos, 2021).

Modelos familiares de alimentação e comportamentos alimentares podem imprescindíveis na determinação dos hábitos alimentares das crianças, enquanto a disponibilidade de alimentos ultraprocessados, juntamente com a falta de oportunidades para atividade física, pode beneficiar o aumento da ingestão calórica e o desenvolvimento da obesidade (Arruda, 2019).

Neste prisma, a relação entre obesidade e saúde mental é complexa e bidirecional. Mecanismos biológicos, como alterações nos níveis de neurotransmissores e inflamação sistêmica, e fatores psicossociais, como estigma social, insatisfação com a imagem corporal e experiências de bullying, podem contribuir para essa associação (Gonçalves; Kohlsdorf; Perez-Nebra, 2020).

Diante dessa interação entre obesidade e saúde mental, abordagens integradas são demandadas para o tratamento adequado de pacientes com obesidade e transtornos mentais. Isso inclui intervenções que visam tanto à redução do peso corporal quanto à melhoria do funcionamento psicológico e emocional, através de estratégias multidisciplinares que envolvem profissionais de saúde mental, nutricionistas, educadores físicos e outros especialistas. A integração do cuidado físico e mental é devido para abordar as necessidades dos pacientes e promover resultados de saúde ótimos em longo prazo (Silva et al., 2024). 

A correlação entre obesidade e doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) é uma preocupação elencada pela saúde pública no período moderno, dada a prevalência crescente da obesidade e seu papel como fator de risco primário para várias condições crônicas. As DCNT, que incluem diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão, dislipidemia e certos tipos de câncer, são responsáveis por uma proporção substancial da carga global de doenças e representam um desafio significativo para os sistemas de saúde em todo o mundo (Almeida et al., 2020). 

A obesidade interliga-se ao desenvolvimento e progressão dessas doenças, sendo considerada um importante contribuinte para sua patogênese. Em exemplificação, a obesidade está fortemente associada à resistência à insulina e à intolerância à glicose, dois marcadores-chave do diabetes tipo 2. Por consequência, o excesso de tecido adiposo pode levar a dislipidemia, hipertensão arterial e inflamação crônica, todos fatores de risco importantes para doenças cardiovasculares (Arruda, 2019).

O impacto da obesidade na morbidade, mortalidade e custos de saúde associados às DCNT é significativo. Indivíduos obesos têm um risco aumentado de desenvolver complicações relacionadas às DCNT, abrangendo ataques cardíacos, acidentes vasculares cerebrais, insuficiência renal e certos tipos de câncer. Deste modo, valida-se que a obesidade está associada a taxas mais altas de hospitalização, uso de serviços de saúde e custos médicos, sobrecarregando os sistemas de saúde e contribuindo para a crescente carga econômica das DCNT (Cardozo, 2024).

Estratégias de prevenção e controle das DCNT enfatizam a importância do manejo da obesidade como parte integrante de intervenções abrangentes de saúde pública. Isso inclui promoção de estilos de vida saudáveis, com ênfase em alimentação equilibrada e atividade física regular, desde a infância até a idade adulta (Almeida et al., 2020). 

Ainda mais, os programas de prevenção e tratamento da obesidade que visam modificar fatores de risco, melhorar a adesão ao tratamento e promover mudanças comportamentais sustentáveis podem desempenhar um papel crucial na redução do impacto das DCNT na população (Aquino; Aquino; Felipe, 2023).

Disfunções nesse sistema, como resistência à insulina, leptina e grelina, estão intimamente ligadas à obesidade e podem contribuir para o desenvolvimento e manutenção dessa condição. Mecanismos fisiopatológicos complexos, que envolvem interações entre hormônios, neurotransmissores e tecido adiposo, estão sendo cada vez mais compreendidos e podem fornecer alvos terapêuticos potenciais para o tratamento da obesidade e suas complicações associadas (Machado; Alves, 2019).

As mudanças no estilo de vida, incluindo dieta saudável e aumento da atividade física, são frequentemente consideradas a pedra angular do tratamento da obesidade, visando a redução do peso corporal e a melhoria da saúde metabólica. Intervenções dietéticas, como a restrição calórica e o monitoramento da ingestão de nutrientes, podem ser combinadas com programas estruturados de exercícios físicos para promover a perda de peso sustentável (Santos, 2021).

Para além das mudanças no estilo de vida, os medicamentos antiobesidade são uma opção terapêutica adicional para pacientes com obesidade, especialmente aqueles com índice de massa corporal elevado ou com comorbidades associadas. Esses medicamentos podem agir por meio de diferentes mecanismos, como supressão do apetite, redução da absorção de nutrientes ou aumento do gasto energético, e devem ser prescritos com cautela, levando em consideração a eficácia, segurança e perfil de efeitos colaterais de cada agente (Gonçalves; Kohlsdorf; Perez-Nebra, 2020).

Para pacientes com obesidade grave ou comorbidades significativas, a cirurgia bariátrica pode ser uma opção eficaz de tratamento para alcançar a perda de peso sustentada e melhorar as condições de saúde relacionadas à obesidade. Tais procedimentos cirúrgicos, que partem da banda gástrica ajustável, bypass gástrico e da gastrectomia em manga, alteram a anatomia do trato gastrointestinal para limitar a ingestão de alimentos e/ou absorção de nutrientes, resultando em perda de peso significativa e melhoria das comorbidades associadas (Machado; Alves, 2019).

É importante considerar os aspectos psicossociais dessa condição, que podem ter um impacto profundo na qualidade de vida e no bem-estar emocional dos indivíduos afetados. O estigma e a discriminação relacionados à obesidade podem contribuir para o desenvolvimento de problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade e baixa autoestima, exacerbando ainda mais os desafios enfrentados pelos pacientes (Silva et al., 2024).

Intervenções psicossociais, bem como terapia cognitivo-comportamental, apoio emocional e grupos de suporte, tendem a ser primários na promoção do bem-estar psicológico e na melhoria da adaptação psicossocial de indivíduos com obesidade. Essas abordagens integradas, que consideram tanto os aspectos físicos quanto os psicossociais da obesidade, são essenciais para garantir um tratamento abrangente e holístico dessa condição complexa (Gonçalves; Kohlsdorf; Perez-Nebra, 2020).

A diabetes tipo 2 é uma das complicações mais graves concernentes à obesidade, e sua prevalência tem aumentado dramaticamente em paralelo ao crescimento da obesidade em todo o mundo. A relação entre obesidade e diabetes tipo 2 é bem estabelecida, com estudos epidemiológicos demonstrando uma associação direta entre o excesso de peso e o aumento do risco de desenvolver diabetes tipo 2 (Almeida et al., 2020). 

A fisiopatologia subjacente à diabetes tipo 2 envolve principalmente a resistência à insulina e disfunção das células beta pancreáticas. A resistência à insulina, caracterizada pela incapacidade das células do corpo de responder adequadamente à insulina, leva a níveis elevados de glicose no sangue, o que por sua vez estimula a produção excessiva de insulina pelo pâncreas. Com o tempo, as células beta pancreáticas podem ficar sobrecarregadas e começar a falhar, resultando em deficiência relativa de insulina e hiperglicemia crônica (Machado; Alves, 2019).

O tecido adiposo em excesso, especialmente o adiposo visceral, produz substâncias pró inflamatórias e adipocinas que interferem na regulação da glicose e da insulina, contribuindo para a resistência à insulina e a disfunção das células beta. Para além disso, a obesidade está associada a fatores de risco adicionais para complicações da diabetes tipo 2, como hipertensão arterial, dislipidemia e doença cardiovascular, tornando o controle do peso uma parte essencial do manejo dessa condição (Silva et al., 2024).

Vários mecanismos fisiopatológicos estão envolvidos nessa relação, bem como a ativação do sistema nervoso simpático, retenção de sódio, disfunção endotelial e aumento da atividade do sistema renina-angiotensina-aldosterona. O tecido adiposo em excesso produz substâncias bioativas, como adipocinas e citocinas pró-inflamatórias, que robustecem a disfunção vascular e a resistência à insulina, promovendo assim o desenvolvimento e a progressão da hipertensão arterial (Arruda, 2019).

A perda de peso modesta, mesmo da ordem de 5 a 10% do peso corporal inicial, pode levar a reduções significativas na pressão arterial, melhorando assim o perfil cardiovascular e reduzindo o risco de complicações cardiovasculares. Além das intervenções relacionadas ao estilo de vida, como dieta saudável e aumento da atividade física, o tratamento farmacológico da obesidade e de suas comorbidades, quando indicado, pode ser necessário para alcançar e manter o controle adequado da pressão arterial (Gonçalves; Kohlsdorf; Perez-Nebra, 2020).

A obesidade também se mostra de forma relacionada a alterações lipídicas adversas, isto é, com o aumento dos triglicerídeos, redução do HDL colesterol e aumento do LDL colesterol, que são fatores de risco importantes para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. O tecido adiposo em excesso produz citocinas pró-inflamatórias e hormônios adipocíticos que interferem no metabolismo lipídico, promovendo a síntese hepática de triglicerídeos e reduzindo a captação de LDL colesterol pelos tecidos periféricos. Essas alterações lipídicas, juntamente com outros fatores de risco cardiovascular associados à obesidade, como hipertensão arterial, resistência à insulina e inflamação crônica, aumentam significativamente o risco de doença arterial coronariana, acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca (Almeida et al., 2020). 

Estratégias de intervenção para reduzir o risco cardiovascular em pacientes obesos devem partir de abordagens que visam a perda de peso em harmonia com o controle adequado dos fatores de risco cardiovascular associados, tais como modificações no estilo de vida, como dieta saudável e aumento da atividade física, tratamento farmacológico para controlar a pressão arterial, o colesterol e a glicose no sangue, e intervenções cirúrgicas, como a cirurgia bariátrica, em casos selecionados. Uma abordagem integrada e multidisciplinar é atrativa para abordar efetivamente os diversos fatores de risco associados à obesidade e reduzir o impacto das doenças cardiovasculares nessa população de alto risco (Gonçalves; Kohlsdorf; Perez-Nebra, 2020).

Não obstante, a apneia do sono é uma condição caracterizada por episódios repetidos de obstrução das vias aéreas durante o sono, levando a interrupções na respiração e a distúrbios na qualidade do sono. A prevalência da apneia do sono é substancialmente maior em pacientes obesos em comparação com a população em geral, e a obesidade é considerada um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento dessa condição (Almeida et al., 2020). 

Os mecanismos fisiopatológicos da apneia do sono relacionados à obesidade envolvem principalmente a deposição de tecido adiposo ao redor das vias aéreas superiores, o que pode levar à obstrução parcial ou completa dessas vias durante o sono. Além disso, a obesidade está associada a alterações na regulação respiratória, incluindo diminuição da sensibilidade dos quimiorreceptores centrais e periféricos, o que pode contribuir para a ocorrência de apneia do sono (Almeida et al., 2020). 

A perda de peso é recomendada como parte do tratamento da apneia do sono em pacientes obesos, uma vez que a redução do peso corporal pode levar a uma diminuição da gordura ao redor das vias aéreas superiores e uma melhoria na gravidade dos sintomas. De modo análogo, existem tratamentos específicos da obesidade que podem ser eficazes no manejo da apneia do sono, incluindo intervenções dietéticas, aumento da atividade física e, em casos selecionados, cirurgia bariátrica. O tratamento da apneia do sono em pacientes obesos geralmente requer uma abordagem pluridisciplinar, bem como de médicos do sono, pneumologistas, nutricionistas e outros profissionais de saúde (Bastos, 2021).

3 EFEITOS DO EMAGRECIMENTO NA REDUÇÃO DE COMORBIDADES: RECIDIVA DE COMORBIDADES APÓS EMAGRECIMENTO

A perda de peso tem sido consistentemente correlata a uma redução atrativa no risco de desenvolvimento e progressão de uma variedade de comorbidades relacionadas à obesidade. Este processo se mostra como capaz de promover a melhoria da composição corporal, enquanto desencadeia uma amplitude de mudanças fisiológicas benéficas que contribuem para a prevenção e controle de doenças crônicas. Por exemplo, a perda de peso está relacionada à melhoria da sensibilidade à insulina, um fator chave na prevenção da diabetes tipo 2. Deste modo, a redução do tecido adiposo tem sido associada à diminuição da inflamação sistêmica, que desempenha um papel crucial no desenvolvimento de doenças cardiovasculares e outras condições inflamatórias (Almeida et al., 2020). 

No contexto preocupante da diabetes tipo 2, a perda de peso representa uma intervenção fundamental para melhorar o controle glicêmico e prevenir complicações crônicas associadas à doença. A redução da gordura corporal está diretamente relacionada à melhoria da sensibilidade à insulina, o que pode auxiliar a reduzir a necessidade de medicação hipoglicemiante e minimizar o risco de complicações micro e macrovasculares. Aliás, a perda de peso pode ter efeitos benéficos na redução da pressão arterial e do colesterol, fatores de risco adicionais para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares em pacientes com diabetes tipo 2 (Nery; Câmera; Silveira, 2020).

A redução da massa adiposa, por sua parte é demandada para diminuição da rigidez arterial, melhoria da função endotelial e redução da atividade do sistema nervoso simpático, todos os quais contribuem para a redução da pressão arterial e do risco cardiovascular. logo, as estratégias de perda de peso são recomendadas como parte do manejo da hipertensão arterial, especialmente em pacientes com excesso de peso (Almeida et al., 2020). 

Já a dislipidemia, evidenciada por níveis elevados de colesterol total, LDL colesterol e triglicerídeos, é uma complicação comum da obesidade e um fator de risco importante para doenças cardiovasculares. A perda de peso tem demonstrado consistentemente reduzir os níveis desses lipídios circulantes, em especial quando combinada com mudanças no estilo de vida, como dieta balanceada e aumento da atividade física. Essa redução nos níveis de lipídios tende a levar a uma diminuição do acúmulo de placas de ateroma nas artérias, reduzindo assim o risco de eventos cardiovasculares adversos, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (Nery; Câmera; Silveira, 2020).

De modo amplo, a perda de peso, além de reduzir o risco de comorbidades, também pode levar a melhorias na qualidade de vida relacionada à saúde. Para Rabuske e Cordenuzz (2023), a perda de peso é complementada por um aperfeiçoamento em vários domínios da qualidade de vida, incluindo mobilidade, dor, função social, saúde mental e bem-estar geral. A redução da carga corporal e a melhoria da condição física resultantes da perda de peso podem levar a uma maior facilidade de movimento, menor desconforto físico e uma maior capacidade de participação em atividades sociais e recreativas.

Além disso, a perda de peso também pode ter um impacto positivo na saúde mental e emocional dos indivíduos obesos, promovendo uma maior autoestima, autoconfiança e satisfação com a imagem corporal. Essas otimizações na qualidade de vida são devidas para os pacientes obesos, que frequentemente enfrentam estigma social, discriminação e dificuldades psicossociais devido ao seu peso. Isto é, além dos benefícios físicos, a perda de peso pode proporcionar uma melhoria substancial na qualidade de vida global e no bem-estar psicossocial dos indivíduos afetados pela obesidade (Almeida et al., 2020). 

Embora a perda de peso inicial seja alcançada com êxito por meio de intervenções dietéticas, exercícios físicos e, em alguns casos, medicamentos antiobesidade ou cirurgia bariátrica, a manutenção desses resultados a longo prazo representa um desafio significativo. Nesta lógica, é central implementar estratégias assertivas para promover a manutenção do peso a longo prazo e prevenir a recidiva da obesidade e das comorbidades associadas. Isso pode incluir intervenções comportamentais, como terapia cognitivo-comportamental, suporte psicossocial, programas de gerenciamento de peso a longo prazo e monitoramento contínuo da dieta e atividade física (Almeida et al., 2020). 

Após o processo de emagrecimento, uma completude de mudanças metabólicas ocorre no organismo, algumas das quais podem aumentar o risco de recidiva de comorbidades. Para exemplifica, as alterações no metabolismo energético, como uma redução no gasto energético em repouso e uma tendência ao aumento da eficiência energética, podem dificultar a manutenção da perda de peso a longo prazo. Ademais, a resistência à insulina, comum em pacientes obesos, pode persistir mesmo após o emagrecimento, contribuindo para o retorno da diabetes tipo 2 e outras complicações metabólicas. Da mesma forma, a dislipidemia pós-perda de peso, caracterizada por níveis elevados de triglicerídeos e redução do colesterol HDL, pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares mesmo em pacientes que conseguiram emagrecer (Almeida et al., 2020). 

Padrões alimentares não saudáveis, como o consumo excessivo de alimentos calóricos e pobres em nutrientes, podem levar ao reganho de peso e ao retorno das comorbidades associadas. Igualmente, a falta de atividade física regular pode comprometer a manutenção da perda de peso, contribuindo para o retorno da obesidade e complicações metabólicas. Nesta conjuntura, o consumo excessivo de álcool e o tabagismo, comportamentos muitas vezes associados ao ganho de peso, podem aumentar o risco de recidiva de comorbidades, especialmente doenças cardiovasculares e respiratórias (Gonçalves; Kohlsdorf; Perez-Nebra, 2020).

O estresse crônico, por sua vez, também tende a desencadear respostas fisiológicas que aumentam o apetite e promovem o armazenamento de gordura, tornando mais difícil manter a perda de peso. Concomitantemente, a depressão, ansiedade e transtornos alimentares podem afetar negativamente a adesão ao tratamento e o controle das comorbidades, interferindo na motivação, autoestima e habilidades de enfrentamento dos pacientes. A falta de suporte social e familiar também se mostra como uma barreira na manutenção de mudanças comportamentais saudáveis, tornando os indivíduos mais vulneráveis à recidiva das comorbidades (Almeida et al., 2020). 

4 ABORDAGEM DA NUTRIÇÃO NA PREVENÇÃO DA RECIDIVA

Os hábitos alimentares saudáveis são padrões consistentes de escolhas alimentares que promovem a saúde e o bem-estar, fornecendo ao organismo os nutrientes necessários para suas funções fisiológicas e metabólicas (Cintra, 2021).

Estes hábitos são caracterizados pela ingestão equilibrada de alimentos provenientes de diferentes grupos alimentares, priorizando alimentos naturais e minimamente processados, ricos em nutrientes essenciais, como vitaminas, minerais, fibras alimentares e antioxidantes. Inclusive, os hábitos alimentares saudáveis incluem a moderação no consumo de alimentos processados, ricos em gorduras saturadas, açúcares adicionados e sódio, e a promoção de um padrão alimentar diversificado e variado (Rabuske; Cordenuzzi, 2023).

No prisma da prevenção da obesidade, os macronutrientes desempenham papéis específicos na dieta e no controle do peso corporal. Os carboidratos são uma fonte importante de energia para o organismo e se mostram como centrais na regulação do metabolismo energético. No entanto, é importante fazer escolhas adequadas de carboidratos, priorizando fontes de carboidratos complexos, como grãos integrais, legumes, frutas e verduras, em detrimento de alimentos refinados e processados, que são ricos em açúcares simples e têm baixo teor de fibras (Costa et al., 2020).

As proteínas desempenham várias funções essenciais no organismo, incluindo a construção e reparação de tecidos, a síntese de enzimas e hormônios, e o suporte ao sistema imunológico. Além disso, as proteínas têm um efeito termogênico mais alto do que os carboidratos e as gorduras, o que pode contribuir para a regulação do peso corporal (Rabuske; Cordenuzzi, 2023).

Optar por fontes de proteínas magras, como carnes magras, aves, peixes, ovos, laticínios com baixo teor de gordura e leguminosas, pode promover a saciedade e ajudar na manutenção da massa muscular durante o processo de perda de peso. Já as gorduras são uma fonte concentrada de energia e desempenham várias funções importantes no organismo, incluindo a absorção de vitaminas lipossolúveis, a regulação hormonal e a integridade das membranas celulares (Costa et al., 2020).

Contudo, nem todas as gorduras são criadas iguais, e é importante fazer escolhas saudáveis de gorduras, priorizando gorduras insaturadas, como ácidos graxos ômega-3 e ômega-6 encontrados em peixes, nozes, sementes e óleos vegetais, em detrimento de gorduras saturadas e trans, encontradas em alimentos de origem animal e produtos processados (Cintra, 2021).

Priorizar fontes de carboidratos complexos, proteínas magras e gorduras saudáveis pode ajudar a reduzir o risco de obesidade e suas complicações associadas, proporcionando uma base sólida para uma alimentação nutritiva e equilibrada (Almeida et al., 2020).

Diferentes padrões alimentares têm sido associados a diferentes níveis de risco de obesidade e de DCNTs. Por exemplo, o padrão alimentar mediterrâneo, caracterizado pelo consumo elevado de frutas, verduras, legumes, cereais integrais, peixes, frutos secos e azeite de oliva, tem sido associado a um menor risco de obesidade, doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2 (Rabuske; Cordenuzzi, 2023).

Da mesma forma, a dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension), que enfatiza o consumo de frutas, verduras, laticínios com baixo teor de gordura, grãos integrais, aves, peixes, nozes e sementes, tem demonstrado benefícios na redução da pressão arterial e do risco de obesidade (Costa et al., 2020).

Assim como os padrões alimentares específicos, uma dieta rica em fibras também tem sido associada a um menor risco de obesidade e de DCNTs. As fibras alimentares, encontradas em alimentos como frutas, verduras, legumes, cereais integrais, sementes e nozes, têm propriedades saciantes e ajudam a controlar a ingestão alimentar, promovendo a sensação de plenitude e retardando o esvaziamento gástrico. Além disso, as fibras alimentares têm um papel importante na regulação do metabolismo da glicose e do colesterol, ajudando a prevenir o desenvolvimento de resistência à insulina, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares (Rodrigues, 2022).

A gastroplastia endoscópica é um procedimento minimamente invasivo utilizado no tratamento da obesidade, que visa reduzir a capacidade do estômago e, consequentemente, o consumo de alimentos. Durante o procedimento, técnicas como sutura endoscópica e plicatura gástrica são aplicadas para criar dobras no estômago, reduzindo seu volume efetivo. A sutura endoscópica envolve o uso de suturas para criar pregas no estômago, enquanto a plicatura gástrica consiste na aplicação de grampos para reduzir o tamanho do órgão (Nery; Câmera; Silveira, 2020).

O balão intragástrico é outro dispositivo endoscópico utilizado no tratamento da obesidade. Existem diferentes tipos de balão intragástrico disponíveis, incluindo aqueles preenchidos com solução salina e aqueles com sistema de aspiração de ar. Esses balões são inseridos no estômago por via endoscópica e inflados para ocupar espaço, reduzindo a capacidade do estômago e promovendo a sensação de saciedade. Estudos clínicos e observacionais têm investigado a eficácia e segurança do balão intragástrico, mostrando resultados promissores no auxílio à perda de peso em pacientes obesos (Bastos, 2021).

A endoscopia bariátrica engloba uma variedade de técnicas endoscópicas utilizadas para o tratamento da obesidade. Entre essas técnicas, destacam-se a gastroplastia com sutura endoscópica (ESG), o bypass gástrico endoscópico (ESGB) e o duodenal switch endoscópico (EDS). Esses procedimentos visam modificar a anatomia do trato gastrointestinal para promover a perda de peso. A eficácia e segurança da endoscopia bariátrica têm sido suportadas por evidências científicas, tornando-a uma alternativa menos invasiva à cirurgia bariátrica tradicional (Barbosa et al., 2022).

Assim,os dispositivos endoscópicos de restrição gástrica são projetados para limitar a ingestão de alimentos ao restringir o volume do estômago ou retardar o esvaziamento gástrico. Exemplos desses dispositivos incluem a manga gástrica endoscópica e o duodenal-jejunal bypass liner. Esses dispositivos são implantados por meio de procedimentos endoscópicos e podem ajudar os pacientes a alcançarem a perda de peso significativa, oferecendo uma abordagem menos invasiva em comparação com as cirurgias bariátricas tradicionais (Nery; Câmera; Silveira, 2020).

Apesar dos avanços na cirurgia bariátrica, algumas complicações podem surgir após o procedimento. Nesse ínterim, as opções endoscópicas desempenham um papel crucial no tratamento dessas complicações. Entre essas complicações, incluem-se estenoses, úlceras e vazamentos gastrointestinais, que podem impactar negativamente a saúde e a qualidade de vida dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica. A terapia endoscópica estabelece abordagens menos invasivas e mais seguras para o tratamento dessas complicações, permitindo uma intervenção eficaz e rápida para minimizar os danos e promover a recuperação dos pacientes (Bastos, 2021).

Uma das principais responsabilidades do nutricionista é realizar uma avaliação nutricional abrangente antes e após o processo de emagrecimento. Isso inclui a análise detalhada da ingestão alimentar, composição corporal, deficiências nutricionais e status metabólico do paciente. Essa avaliação permite identificar necessidades nutricionais específicas, bem como possíveis fatores de risco para a recidiva de comorbidades, orientando o desenvolvimento de planos alimentares individualizados (Barbosa et al., 2022).

Outrossim, o nutricionista é responsável por prescrever estratégias nutricionais adequadas para a manutenção do peso após o emagrecimento. Isso envolve fornecer orientações sobre padrões alimentares saudáveis, controle de porções, equilíbrio de macronutrientes e seleção de alimentos nutritivos. Estratégias baseadas em princípios de alimentação consciente, moderação e equilíbrio nutricional são essenciais para garantir o sucesso a longo prazo na prevenção da recidiva de comorbidades (Kortchmar, 2019).

Através de uma abordagem individualizada e centrada no paciente, o nutricionista desempenha um papel fundamental na educação nutricional e no apoio contínuo aos pacientes durante todo o processo de emagrecimento e manutenção do peso. Sua expertise contribui para melhorar os resultados clínicos e a qualidade de vida dos pacientes obesos, ajudando-os a alcançar e sustentar uma saúde ótima a longo prazo (Bastos, 2021).

A elaboração de planos alimentares personalizados é uma das principais ferramentas utilizadas pelo nutricionista no manejo da obesidade e na prevenção da recidiva de comorbidades. Esses planos são desenvolvidos com base nas necessidades individuais de cada paciente, levando em consideração suas preferências alimentares, restrições dietéticas e objetivos de saúde específicos. Ao personalizar a dieta de acordo com as características de cada pessoa, o nutricionista visa não apenas promover a perda de peso, mas também garantir a sustentabilidade dos hábitos alimentares saudáveis a longo prazo (Nery; Câmera; Silveira, 2020).

Para promover a adesão dos pacientes aos planos alimentares, é essencial fornecer educação nutricional abrangente e contínua. O nutricionista possui um papel primário na explicação dos princípios de uma alimentação saudável, esclarecendo dúvidas sobre escolhas alimentares e oferecendo orientações práticas para incorporar mudanças na dieta. Além disso, o suporte emocional é crucial para ajudar os pacientes a lidar com desafios e dificuldades durante o processo de mudança de hábitos alimentares (Bastos, 2021).

Neste panorama, o nutricionista pode recomendar a inclusão de suplementos específicos na dieta para garantir a ingestão adequada de nutrientes essenciais, como proteínas, fibras, ácidos graxos ômega-3, vitaminas e minerais. Esses nutrientes podem ajudar a promover a saciedade, regular o metabolismo e manter a saúde geral do paciente (Barbosa et al., 2022).

O monitoramento nutricional contínuo é exigido para avaliar o progresso do paciente e fazer ajustes na abordagem nutricional conforme necessário. O nutricionista acompanha de perto o paciente ao longo do tempo, identificando desafios, analisando o impacto das mudanças na dieta e fornecendo suporte personalizado. Estratégias educacionais eficazes são empregadas para capacitar os pacientes a fazer escolhas alimentares conscientes, desenvolver habilidades culinárias e lidar com gatilhos emocionais para comer, visando à manutenção dos resultados a longo prazo (Kortchmar, 2019).

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

À luz dos achados desta pesquisa, elencou-se que a abordagem multidisciplinar no tratamento da obesidade advém como um pilar para oferecer cuidados abrangentes e integrados aos pacientes. Ao envolver profissionais de diferentes áreas da saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e assistentes sociais, essa abordagem visa fornecer uma assistência personalizada que considere não apenas os aspectos físicos, mas também os emocionais, sociais e comportamentais da condição.

A colaboração entre membros da equipe multidisciplinar traz uma série de benefícios tangíveis para o cuidado com a obesidade. A troca de conhecimentos e experiências permite uma compreensão mais completa do paciente e de suas necessidades individuais. Isso possibilita a elaboração de planos de tratamento personalizados, adaptados às características específicas de cada indivíduo, levando em conta não apenas a perda de peso, mas também a prevenção da recidiva de comorbidades associadas.

No que diz respeito à prevenção da recidiva de comorbidades após o emagrecimento, as estratégias multidisciplinares são de suma importância. O monitoramento clínico regular, o suporte psicológico, a educação em saúde, o acompanhamento nutricional e os programas de atividade física são elementos essenciais dessa abordagem contínua e holística. Essas intervenções não apenas auxiliam na manutenção da perda de peso, mas também na promoção de um estilo de vida saudável a longo prazo (Nery; Câmera; Silveira, 2020).

O avanço tecnológico tem trazido novas perspectivas para o tratamento da obesidade. Aplicativos móveis, dispositivos vestíveis, telemedicina e inteligência artificial estão sendo cada vez mais integrados à prática clínica, oferecendo novas formas de monitoramento, engajamento do paciente e suporte ao tratamento. Essas tecnologias têm o potencial de melhorar o acesso aos cuidados de saúde, aumentar a adesão ao tratamento e facilitar a comunicação entre pacientes e profissionais de saúde.

Além disso, os avanços em terapias farmacológicas, cirurgia metabólica, terapias genéticas e metabólicas, e intervenções comportamentais e psicológicas estão moldando o futuro do tratamento da obesidade. Novos medicamentos, técnicas cirúrgicas, abordagens genéticas e terapias psicológicas estão sendo desenvolvidos com o objetivo de proporcionar opções mais eficazes, personalizadas e direcionadas para os pacientes obesos. Esses avanços representam uma esperança renovada para aqueles que lutam contra a obesidade, oferecendo uma gama mais ampla e diversificada de opções terapêuticas para enfrentar essa condição complexa e multifacetada.

A educação em saúde e a promoção do estilo de vida saudável também são devidas tanto na prevenção quanto no tratamento da obesidade. Medidas como campanhas de conscientização, programas comunitários e intervenções escolares têm sido amplamente empregadas para disseminar informações sobre hábitos alimentares saudáveis, importância da atividade física e riscos associados à obesidade (Barbosa et al., 2022). Essas iniciativas visam capacitar indivíduos e comunidades a fazerem escolhas mais saudáveis em seu cotidiano, visando à prevenção e ao controle do excesso de peso.

Contudo, a implementação efetiva destas estratégias enfrenta desafios significativos. Entre eles, destacam-se a falta de recursos, a barreira cultural e o acesso limitado a serviços de saúde. Por vezes, comunidades carentes ou áreas rurais têm acesso restrito a informações e recursos que promovam um estilo de vida saudável, exacerbando as disparidades em saúde relacionadas à obesidade. Além disso, as diferenças culturais e sociais podem influenciar a receptividade e adesão às intervenções de saúde (Gonçalves; Kohlsdorf; Perez-Nebra, 2020).

As políticas públicas e intervenções de saúde pública são os sustentáculos na prevenção da obesidade e na promoção de hábitos de vida saudáveis em nível populacional. Articulações como legislação sobre rotulagem de alimentos, restrições à publicidade de alimentos não saudáveis e incentivos para a prática de atividade física têm o potencial de criar ambientes mais propícios à adoção de comportamentos saudáveis. O engajamento de governos, organizações não governamentais e comunidades é essencial para implementar e sustentar essas políticas e intervenções, visando reduzir as desigualdades em saúde e promover a saúde de toda a população (Silva et al., 2024).

Apesar dos desafios enfrentados, há diversas oportunidades para aprimorar e fortalecer as intervenções multidisciplinares no manejo da obesidade. A integração de profissionais de diferentes áreas da saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos e educadores físicos, em equipes multidisciplinares pode proporcionar uma abordagem mais abrangente e eficaz no tratamento da obesidade e suas comorbidades. Aliás, a criação de parcerias entre instituições de saúde, governos locais, organizações comunitárias e setor privado pode potencializar os recursos disponíveis e promover iniciativas colaborativas para enfrentar o desafio crescente da obesidade.

6 CONCLUSÃO

No decorrer desta pesquisa, explorou-se minuciosamente diversas particularidades da obesidade, suas complicações e os desafios enfrentados no seu manejo e prevenção da recidiva de comorbidades. Desde a análise dos mecanismos fisiopatológicos até as estratégias terapêuticas e preventivas, buscou-se compreender os aspectos complexos dessa condição de saúde globalmente prevalente.

Ademais, examinou-se os múltiplos fatores associados à obesidade, suas consequências para a saúde física e mental, e os tratamentos disponíveis, desde opções terapêuticas convencionais até procedimentos endoscópicos e intervenções nutricionais. Elencou-se, ainda, as inter-relações entre a obesidade e as comorbidades, assim como as estratégias para prevenir a recidiva dessas condições após o emagrecimento.

É fidedigno frisar que os objetivos estabelecidos para este estudo foram alcançados com êxito, conforme conjecturado. Obtive-se uma compreensão abrangente das complexidades da obesidade e das abordagens terapêuticas e preventivas disponíveis. Além disso, identificamos desafios significativos, mas também oportunidades promissoras para o avanço no tratamento e na prevenção da obesidade e suas comorbidades associadas.

Para estudos futuros, sugere-se uma investigação aprofundada de certos aspectos, como a avaliação de estratégias de prevenção da recidiva de comorbidades em diferentes grupos populacionais e contextos clínicos, a avaliação da eficácia de intervenções multidisciplinares integradas e a exploração de novas tecnologias e abordagens terapêuticas. Ainda mais, é atrativo realizar estudos de longo prazo para acompanhar na prática a evolução dos pacientes após o tratamento e identificar fatores de risco singulares para a recidiva.

Por fim, ao continuar a explorar e abordar esse desafio robusto de saúde pública, pode-se corroborar para  com uma melhora expressiva quanto a qualidade de vida de milhões de pessoas em todo o mundo.

REFERÊNCIAS

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1Formação acadêmica mais alta com a área: Mestrado em Nutrição
Instituição de formação: Uniasselvi
Endereço: Ananindeua, Pará, Brasil
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