REPARO DE RUPTURA DO TENDÃO DISTAL DO BÍCEPS BRAQUIAL EM ATLETA DE BASQUETE PROFISSIONAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202408151620


Filyppo Ferreira Porto Decaria; Gustavo Garcia Agra Naufal; Felipe Lapido Aguiar; Rodrigo De Almeida Moretti Pinna; Vinicius Soares Pereira; Marcel Fruschein Annichino; Camila Gomes.


RESUMO

Um atleta profissional de basquete o qual apresentou uma ruptura do tendão distal do bíceps braquial esquerdo após evento traumático ocorrido em treino foi submetido à reparação cirúrgica utilizando a técnica de reconstrução do tendão com fixação por bíceps-button e técnica de tendão-deslizamento. O paciente do sexo masculino apresentava como queixa inicial uma dor súbita na face anterior dos braços. Foi submetido ao exame clínico, estudo radiográfico e de ressonância magnética da região, confirmando a hipótese diagnóstica de ruptura do tendão distal do bíceps braquial. O seguimento pós-operatório do paciente foi realizado e o mesmo apresentou recuperação completa dos movimentos do membro superior esquerdo e suas articulações envolvidas, possibilitando o retorno à prática esportiva de alto rendimento em 10 semanas. 

Palavras-chave: ruptura; bíceps; tendão; fixação; técnica

SUMMARY

A professional basketball athlete who suffered a rupture of the distal tendon of the left biceps brachii after a traumatic event during training underwent surgical repair using the tendon reconstruction technique with biceps-button fixation and tendon-gliding technique. The male patient’s initial complaint was sudden pain in the anterior aspect of his arms. He underwent clinical examination, radiographic and magnetic resonance imaging of the region, confirming the diagnostic hypothesis of rupture of the distal biceps brachii tendon. Postoperative follow-up of the patient was carried out and he presented complete recovery of the movements of the left upper limb and its involved joints, allowing him to return to high-performance sports in 10 weeks.

Keywords: rupture; biceps; tendon; fixation; technique

INTRODUÇÃO

A ruptura do tendão distal de bíceps braquial era um tipo de lesão considerada parcialmente rara pela literatura, mas que vêm se tornando mais comum nos dias de hoje. É encontrada mais comumente sobre o membro dominante de homens de meia idade, entre 40 – 60 anos, e tem grande correlação com o uso de esteroides, os quais também vêm sendo utilizados com maior negligência. Algumas técnicas de reconstrução têm sido descritas na literatura e discute-se qual é considerada a mais eficaz, com variações na via de acesso, no tipo de enxerto, na área doadora do enxerto e no tipo de fixação à tuberosidade radial.

Pouco se encontra sobre casos de ruptura de tendão distal de bíceps em atletas jovens. Os autores relatam o caso de um atleta de basquete com 25 anos o qual sofreu uma ruptura do tendão distal do bíceps braquial esquerdo e retornou aos treinos após 10 semanas da cirurgia, seguindo 3 anos após o evento cirúrgico sem queixas e sem perdas funcionais.

DESCRIÇÃO DO CASO

Paciente JPMD, sexo masculino, 25 anos de idade, branco, jogador profissional de basquete, sofreu um trauma excêntrico no membro superior esquerdo durante movimento de enterrada em treino. O jogador relata que, ao segurar o aro metálico da cesta, sentiu dor súbita na face anterior dos braços e diminuição de força do cotovelo esquerdo. Compareceu para avaliação imediata.

No exame físico, apresentou dor local, amplitude de movimento completo, pronosupinação preservada, equimose em face medial do cotovelo esquerdo (Figura 1), edema discreto e estruturas neurovasculares preservadas. 

Foi realizado o Hook Test (teste do gancho ou do cabide) em ambos os membros superiores, sendo que do lado direito foi confirmada a presença do tendão do músculo e do lado esquerdo a ruptura do mesmo (Figura 2). Posteriormente foi realizado o Teste de Yergason que também constatou dor no sulco bicipital esquerdo. 

Aos exames complementares, foi realizada imediata radiografia simples AP + perfil do cotovelo, sem alterações; no dia seguinte da lesão, foi realizada RNM com impressão diagnóstica de sinais de rotura completa justa insercional do tendão distal do bíceps braquial, com retração do coto tendíneo, distando cerca de 5.3cm da tuberosidade bicipital.

O paciente evoluiu de forma satisfatória no seu pós-operatório. Com 10 semanas, foi liberado para treinos de arremesso. Com 12 semanas, iniciou fortalecimento muscular na academia. E após 16 semanas, teve o seu retorno em partidas oficiais, pontuando no confronto.

Figura 1 – Ao exame físico, nota-se equimose em face anterior do cotovelo.

Figura 2 – Realização do hook-test para confirmação da lesão de ruptura do tendão do bíceps braquial.

DISCUSSÃO 

O paciente foi posicionado na mesa cirúrgica em posição supina, sob anestesia geral (não foi utilizado torniquete pela possibilidade de tração do tendão/músculo para a sua reinserção). Realizou-se uma incisão transversa oblíqua na face anterior do cotovelo, a aproximadamente 3cm da fossa cubital. Identificou-se o nervo cutâneo antebraquial, o qual foi retraído lateralmente, identificando-se também a porção distal do tendão do bíceps. Em seguida, regularizou-se o tecido comprometido e inseriu a linha para sutura no tendão acometida. Com um perfurador foi feito um túnel ósseo na tuberosidade radial, onde foi reinserido o coto tendíneo. Passou-se a linha e um nó é feito para finalizar a sutura. Não foi utilizado parafuso por receito de fratura da porção cortical do osso.

A epidemiologia da lesão de ruptura distal do bíceps braquial, de acordo com a Universidade de Wisconsin, possui maior prevalência na faixa etária de 35 a 54 anos (1,3). O mecanismo de ação da lesão, tipicamente, envolve uma força excêntrica aplicada no cotovelo flexionado (3,1). Os pacientes normalmente se lesionam ao levantar peso durante o trabalho ou na prática de atividade física. Há relatos de casos de atletas de alto rendimento, na faixa dos 30 anos, que sofreram esse tipo de lesão (3). Verifica-se, também, que o tabagismo e o uso de esteróides anabolizantes influenciam de forma significativa na ocorrência dessa lesão, e de forma oposta, o diabetes mellitus não foi evidenciado como um fator de risco (1,3). Em relação a incidência dessa lesão em mulheres, ressalta-se que a ocorrência não é frequente, pelo fato de possuírem menor força aplicada na área do tendão pelo bíceps durante o movimento (3). 

O quadro clínico típico consiste em um estalo doloroso no momento da lesão, edema, e equimose na região antecubital; assimetria no contorno do bíceps; ausência de tendão palpável; e fraqueza/dor primária na supinação. Todavia, apresentações atípicas, lesões crônicas ou parciais podem causar dúvidas no diagnóstico(2). Entre os diagnósticos diferenciais, deve-se incluir ruptura do tendão do músculo braquial, tendinite do bíceps, subluxação do tendão do bíceps e lesões do manguito rotador (6).

No exame físico, como principais manobras de diagnósticos tem-se as seguintes manobras: Hook Test, PFP e o teste BCI. Quando os resultados desses testes estão em concordância, evidencia-se 100% de especificidade e sensibilidade (2). Porém, foi citado no estudo um trabalho realizado com 45 pessoas, em que somente o Hook Test, isoladamente, foi 100% específico e sensível para o diagnóstico de ruptura completa de tendão distal de bíceps braquial. (1).

Como exame de imagem para detectar ruptura de tendão de bíceps, pode ser solicitado ressonância magnética. O exame é realizado com o ombro abduzido, cotovelo flexionado, e antebraço supinado para obter uma imagem longitudinal do tendão do bíceps braquial da junção musculotendinosa até a sua inserção. Como achados de imagem, verifica-se uma rigidez localizada na fossa cubital e dor intensificada ao realizar flexão resistida do cotovelo e supinação do antebraço.

CONCLUSÃO

No geral, a reconstrução da ruptura do tendão distal do bíceps braquial possui baixo índice de complicações (menos de 8%, dependendo da técnica), e algumas são reunidas na seguinte sequência: nova ruptura do tendão distal; infecção em sítios profundos; sinostose radioulnar proximal. Porém, em atletas jovens esse número se eleva consideravelmente, associado a perda funcional na vida pessoal do paciente envolvido. No caso operado com a técnica descrita, o jogador de basquete se viu livre de complicações pós-cirúrgicas, tendo a amplitude do ombro preservada e a hiperextensão braquial indolor, e teve seu retorno aos treinos com a equipe em 10 semanas do ato cirúrgico, sendo possível a manutenção de suas atividades no esporte de alto rendimento. O mesmo segue em atividade até os dias de hoje, cerca de aproximadamente 3 anos do evento. 

REFERÊNCIAS

  1. Kelly MP, Perkinson SG, Ablove RH, Tueting JL. Distal biceps tendon ruptures: an epidemiological analysis using a large population database. Am J Sports Med. 2015 Aug;43(8):2012-7.
  2. Devereaux MW, ElMaraghy AW. Improving the rapid and reliable diagnosis of complete distal biceps tendon rupture: a nuanced approach to the clinical examination. Am J Sports Med. 2013 Sep;41(9):1998-2004.
  3. Rantanen J, Orava S. Rupture of the distal biceps tendon. A report of 19 patients treated with anatomic reinsertion, and a meta-analysis of 147 cases found in the literature. Am J Sports Med. 1999 Mar-Apr;27(2):128-32.
  4. Pagonis T, Givissis P, Ditsios K, Pagonis A, Petsatodis G, Christodoulou A. The effect of steroid-abuse on anatomic reinsertion of ruptured distal biceps brachii tendon. Injury. 2011 Nov;42(11):1307-12.
  5. Reichert P, Królikowska A, Kentel M, Witkowski J, Gnus J, Satora W, Czamara A. A comparative clinical and functional assessment of cortical button versus suture anchor in distal biceps brachii tendon repair. J Orthop Sci. 2019 Jan;24(1):103-8.