IMPLANTES DE SILICONE E A SÍNDROME ASIA: UMA REVISÃO DE LITERATURA SOBRE PATOGÊNESE, DIAGNÓSTICO E MANEJO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202408131234


Ana Beatriz Oliveira Castro; Aline Boechat de Oliveira; Aline Gabrielle de Oliveira Mendes; Angélica Adriene Thomaz de Souza Prado; Larissa de Oliveira Velloso Costa; ⁠Pedro Henrique Rivas de Morais; Weskley Souza dos Santos


RESUMO

A Síndrome Autoimune/Inflamatória Induzida por Adjuvantes (ASIA) associada a implantes de silicone tem gerado crescente interesse e debate na comunidade médica. Esta revisão de literatura busca explorar a relação entre implantes de silicone e a Síndrome ASIA, abordando prevalência, patogênese, diagnóstico e manejo. O estudo incluiu artigos publicados entre 2019 e 2024, selecionados nas bases de dados PubMed, Scopus, Web of Science e SciELO. Foram analisados artigos que discutem a patogênese, diagnóstico e tratamento da síndrome em associação com implantes de silicone. Os resultados indicam uma variabilidade nos critérios diagnósticos e desafios no reconhecimento da síndrome devido à ausência de biomarcadores específicos. A literatura revela que o explante dos implantes pode resultar em melhorias nos sintomas, mas sua eficácia varia entre os pacientes. Além disso, terapias medicamentosas podem ser consideradas em casos selecionados. A discussão evidencia divergências entre os autores sobre a abordagem ideal para o manejo da síndrome. A conclusão destaca a necessidade de mais pesquisas para desenvolver biomarcadores diagnósticos e para avaliar a eficácia das intervenções terapêuticas. A educação dos pacientes e a colaboração multidisciplinar são essenciais para melhorar os resultados clínicos.

Palavras-chave: Síndrome ASIA. Implantes de silicone. Doença autoimune.

1 INTRODUÇÃO 

A Síndrome ASIA, proposta por Shoenfeld e Agmon-Levin, refere-se a um grupo de condições autoimunes que compartilham uma etiologia comum: a exposição a adjuvantes, substâncias que potencializam a resposta imunológica. Os implantes mamários de silicone, comumente usados em procedimentos estéticos e reconstrutivos, têm sido implicados como potenciais adjuvantes que podem desencadear essa síndrome. Estudos recentes destacam a crescente preocupação com a “doença do silicone,” onde pacientes com implantes mamários apresentam sintomas compatíveis com a Síndrome ASIA, como fadiga crônica, artralgia, mialgia e sintomas neurológicos inespecíficos (SILVA et al., 2023; SOARES; DE FARIA, 2021).

A literatura tem documentado um número crescente de casos em que pacientes submetidos a implantes de silicone desenvolvem sintomas da Síndrome ASIA. Matias et al. (2021) realizaram uma revisão abrangente da literatura, identificando a correlação entre os implantes e a ativação de respostas autoimunes, ressaltando a necessidade de um diagnóstico cuidadoso e criterioso (MATIAS et al., 2021). Esses achados são apoiados por Silva et al. (2023), que destacam a importância de critérios diagnósticos bem definidos para diferenciar a Síndrome ASIA de outras condições autoimunes (SILVA et al., 2023).

O mecanismo exato pelo qual os implantes de silicone podem induzir a Síndrome ÁSIA não é totalmente compreendido, mas acredita-se que os adjuvantes presentes no silicone possam atuar como gatilhos imunológicos. Villar et al. (2023) discutem como esses adjuvantes podem estimular uma resposta inflamatória crônica, levando ao desenvolvimento de sintomas autoimunes em indivíduos predispostos (VILLAR et al., 2023). A resposta inflamatória induzida por silicone é complexa e pode envolver a ativação de várias vias imunológicas, destacando a necessidade de mais pesquisas nesta área (DAMIANI; SOUSA; OLIVEIRA, 2022).

O tratamento da Síndrome ASIA em pacientes com implantes de silicone frequentemente envolve a remoção dos implantes, o que tem mostrado melhorias significativas nos sintomas em muitos casos. Miranda (2020) relata que o explante de próteses pode levar a uma melhora notável na qualidade de vida dos pacientes, indicando a importância de considerar essa abordagem terapêutica em casos selecionados (MIRANDA, 2020). No entanto, a decisão de remover implantes deve ser cuidadosamente considerada, pesando os benefícios potenciais contra os riscos e impactos psicossociais associados (MIRANDA, 2020; CAMPOS et al., 2022).

A discussão sobre a Síndrome ASIA continua a evoluir, com pesquisas contínuas necessárias para entender completamente os mecanismos subjacentes e otimizar as abordagens de diagnóstico e tratamento. A conscientização sobre essa síndrome é essencial, não apenas para os profissionais de saúde, mas também para os pacientes que consideram a colocação de implantes mamários (DE MIRANDA, 2020).

2 MECANISMOS IMUNOLÓGICOS E PATOGÊNESE DA SÍNDROME ASIA

A Síndrome Autoimune/Inflamatória Induzida por Adjuvantes (Síndrome ASIA) é um conceito introduzido por Shoenfeld e Agmon-Levin para descrever uma série de condições autoimunes e inflamatórias que compartilham uma etiologia comum: a exposição a adjuvantes. Os adjuvantes são substâncias que, embora não sejam antigênicas por si só, amplificam a resposta imunológica a um antígeno associado. No contexto dos implantes de silicone, os adjuvantes presentes no material podem desencadear respostas imunológicas complexas que levam ao desenvolvimento da Síndrome ASIA em indivíduos predispostos (SILVA et al., 2023; VILLAR et al., 2023).

Os implantes mamários de silicone contêm uma combinação de gel de silicone e uma cápsula exterior que pode atuar como adjuvante. Estudos sugerem que, quando o silicone é introduzido no corpo, ele pode interagir com o sistema imunológico de várias maneiras. O silicone não é inerentemente antigênico, mas pode provocar uma resposta imune ao atuar como um irritante físico ou químico, ou ao absorver e apresentar outras proteínas ao sistema imunológico, potencializando a resposta imunológica (SÁVIA NUNES SANTOS et al., 2022).

A presença de silicone no corpo pode levar à ativação de células imunes, como macrófagos e células T. Os macrófagos podem fagocitar partículas de silicone, gerando uma resposta inflamatória crônica. Esta resposta é mediada por citocinas pró-inflamatórias, como o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), interleucina-1 (IL-1) e interleucina-6 (IL-6), que desempenham um papel crucial na perpetuação da inflamação e no recrutamento de outras células imunológicas para o local (MATIAS et al., 2021).

As células T, em particular as células T helper 1 (Th1) e Th17, são ativadas na presença de silicone, contribuindo para a produção de mais citocinas inflamatórias. A ativação de células T e a produção de autoanticorpos são características de muitas doenças autoimunes e podem estar presentes em pacientes com a Síndrome ASIA associada a implantes de silicone (SOARES; DE FARIA, 2021).

A resposta imunológica ao silicone pode também incluir reações de hipersensibilidade. Essas reações podem variar de leves a graves e estão associadas a sintomas clínicos que incluem fadiga crônica, dores articulares e musculares, e disfunções neurológicas. Villar et al. (2023) destacam que a complexidade dessas respostas imunológicas pode explicar a diversidade de sintomas observados em pacientes com a Síndrome ASIA. Além disso, os sintomas podem surgir anos após a implantação, o que torna o diagnóstico desafiador (VILLAR et al., 2023).

A quebra da tolerância imunológica é um mecanismo central na patogênese das doenças autoimunes. No caso da Síndrome ASIA, a presença de silicone pode levar à apresentação de autoantígenos, resultando na produção de autoanticorpos e na ativação de células T autorreativas. Este processo pode ser exacerbado em indivíduos geneticamente predispostos, onde a presença de certos alelos do Complexo Principal de Histocompatibilidade (MHC) pode aumentar a susceptibilidade ao desenvolvimento de autoimunidade (CAMPOS et al., 2022).

Outra via patogênica proposta envolve o estresse oxidativo e o consequente dano tecidual. A presença de implantes de silicone pode induzir a produção de espécies reativas de oxigênio (EROs), que causam danos às células e tecidos circundantes. Este dano oxidativo pode exacerbar a inflamação local e contribuir para o desenvolvimento de sintomas sistêmicos observados na Síndrome ASIA (DAMIANI; SOUSA; OLIVEIRA, 2022).

A interação entre fatores genéticos e ambientais também é crucial para o desenvolvimento da Síndrome ASIA. Estudos sugerem que a predisposição genética, aliada à exposição a adjuvantes, como o silicone, pode desencadear uma resposta autoimune em indivíduos suscetíveis. Essa interação complexa ressalta a necessidade de considerar o histórico genético do paciente ao avaliar o risco de desenvolver a síndrome (SILVA et al., 2023).

A compreensão dos mecanismos imunológicos subjacentes à Síndrome ASIA é essencial para o desenvolvimento de estratégias diagnósticas eficazes. Os clínicos devem considerar a história de exposição a adjuvantes, incluindo implantes de silicone, ao avaliar pacientes com sintomas inexplicáveis de autoimunidade. A detecção precoce e a remoção dos implantes, quando indicado, podem melhorar significativamente os resultados clínicos (MIRANDA, 2020).

3 DIAGNÓSTICO E DESAFIOS CLÍNICOS DA SÍNDROME ASIA

A complexidade dos sintomas, aliada à falta de critérios diagnósticos universalmente aceitos, torna a identificação e o manejo dessa condição uma tarefa árdua. A associação entre implantes de silicone e a Síndrome ASIA adiciona uma camada adicional de complexidade, visto que os sintomas podem ser inespecíficos e se manifestar anos após a implantação (MATIAS et al., 2021; DAMIANI; SOUSA; OLIVEIRA, 2022).

Os sintomas da Síndrome ASIA são variados e podem incluir fadiga crônica, mialgia, artralgia, febre baixa, distúrbios cognitivos, e manifestações cutâneas. Essas manifestações clínicas são frequentemente confundidas com outras condições autoimunes, como lúpus eritematoso sistêmico e esclerose múltipla, o que complica ainda mais o diagnóstico (SÁVIA NUNES SANTOS et al., 2022). Além disso, a heterogeneidade dos sintomas pode levar a diagnósticos errôneos ou atrasados, impactando negativamente a qualidade de vida dos pacientes (VILLAR et al., 2023).

Shoenfeld e Agmon-Levin propuseram critérios diagnósticos para a Síndrome ASIA, que incluem: exposição a um adjuvante, desenvolvimento de sintomas clínicos compatíveis, a presença de marcadores autoimunes e a exclusão de outras doenças autoimunes. No entanto, esses critérios ainda não foram universalmente aceitos, e há uma necessidade de mais estudos para validar e refinar esses critérios (SOARES; DE FARIA, 2021).

O diagnóstico da Síndrome ASIA, especialmente em pacientes com implantes de silicone, requer uma abordagem abrangente que inclua a história clínica detalhada, a avaliação de sintomas clínicos e laboratoriais, e a exclusão de outras condições autoimunes. O uso de exames de imagem, como ultrassonografia e ressonância magnética, pode ajudar a identificar inflamação local ou sistêmica associada aos implantes (MIRANDA, 2020).

O diagnóstico da Síndrome ASIA enfrenta vários desafios clínicos. Primeiro, a variabilidade na apresentação dos sintomas e a sobreposição com outras doenças autoimunes tornam a diferenciação um processo complicado (CAMPOS et al., 2022). Segundo, a falta de biomarcadores específicos limita a capacidade de confirmar o diagnóstico laboratorialmente. Embora alguns pacientes apresentem autoanticorpos específicos, como anticorpos antinucleares (ANA) e anticorpos anti-Ro/SSA, esses não são exclusivos para a Síndrome ASIA e podem estar presentes em outras doenças autoimunes (SILVA et al., 2023).

Outro desafio significativo é o tempo de latência entre a exposição ao adjuvante (como um implante de silicone) e o desenvolvimento dos sintomas. Esse intervalo pode variar de meses a anos, dificultando a identificação da causa subjacente dos sintomas. Além disso, a consciência limitada entre os profissionais de saúde sobre a Síndrome ASIA contribui para diagnósticos errôneos ou atrasados, especialmente em pacientes que não associam imediatamente seus sintomas à presença de implantes de silicone (MATIAS et al., 2021).

Uma abordagem multidisciplinar é essencial para o diagnóstico e manejo eficaz da Síndrome ASIA. Reumatologistas, imunologistas, cirurgiões plásticos e outros profissionais de saúde devem colaborar para avaliar a condição do paciente de forma abrangente. Esta abordagem colaborativa pode ajudar a garantir que todos os aspectos da saúde do paciente sejam considerados, desde a avaliação clínica até o manejo dos sintomas (DAMIANI; SOUSA; OLIVEIRA, 2022).

Uma vez diagnosticada a Síndrome ASIA, o manejo deve ser individualizado e pode incluir a remoção dos implantes de silicone, tratamento sintomático e imunossupressão, quando indicado. Estudos indicam que a remoção dos implantes pode levar a melhorias significativas nos sintomas em muitos pacientes, embora nem todos experimentem uma resolução completa dos sintomas (MIRANDA, 2020).

É crucial educar os pacientes sobre os potenciais riscos associados aos implantes de silicone e a importância do acompanhamento médico regular. Além disso, os pacientes devem ser informados sobre os sinais e sintomas que podem indicar o desenvolvimento da Síndrome ASIA, permitindo a detecção precoce e a intervenção oportuna (SOARES; DE FARIA, 2021).

4 IMPACTO DOS IMPLANTES DE SILICONE E OPÇÕES TERAPÊUTICAS NA SÍNDROME ASIA

Os implantes de silicone são compostos por uma cápsula externa de elastômero de silicone e um gel de silicone interno. Embora o silicone seja amplamente considerado biologicamente inerte, há evidências de que ele pode atuar como um adjuvante, desencadeando uma resposta inflamatória crônica em indivíduos geneticamente predispostos (SÁVIA NUNES SANTOS et al., 2022). Esta resposta pode manifestar-se como fadiga crônica, mialgia, artralgia e outros sintomas inespecíficos, que são característicos da Síndrome ASIA (MATIAS et al., 2021).

O impacto dos implantes de silicone vai além dos sintomas físicos, afetando também o bem-estar psicológico dos pacientes. Muitas mulheres que optaram por implantes em busca de melhoria estética enfrentam o dilema de sintomas persistentes que são difíceis de diagnosticar e tratar, o que pode levar a estresse psicológico e ansiedade (CAMPOS et al., 2022). O impacto cumulativo desses fatores ressalta a importância de uma abordagem cuidadosa e informada na decisão de implantar ou remover próteses de silicone.

Os mecanismos exatos pelos quais os implantes de silicone induzem sintomas da Síndrome ASIA ainda são objeto de pesquisa. Uma hipótese é que o silicone, ao entrar no organismo, desencadeia uma resposta imune mediada por macrófagos e células T, levando à produção de citocinas pró-inflamatórias como TNF-α, IL-1 e IL-6 (SILVA et al., 2023). Essas citocinas contribuem para a inflamação sistêmica e podem perpetuar uma resposta autoimune em indivíduos predispostos.

Além disso, a formação de granulomas, que são coleções de macrófagos ativados, pode ocorrer ao redor dos implantes de silicone, exacerbando a resposta inflamatória (VILLAR et al., 2023). Estudos sugerem que esses granulomas podem ser a fonte de sintomas persistentes em pacientes com implantes de silicone, destacando a necessidade de monitoramento cuidadoso desses indivíduos.

O manejo da Síndrome ASIA em pacientes com implantes de silicone requer uma abordagem personalizada, levando em consideração a gravidade dos sintomas e a vontade do paciente. Uma das opções terapêuticas mais discutidas é o explante dos implantes de silicone. Estudos têm demonstrado que a remoção dos implantes pode resultar em melhorias significativas nos sintomas para muitos pacientes, embora a recuperação completa não seja garantida para todos (MIRANDA, 2020).

O explante envolve a remoção dos implantes e, em alguns casos, do tecido cicatricial circundante. Este procedimento pode ser complexo, especialmente se houver complicações associadas, como contratura capsular ou migração do gel de silicone. Miranda (2020) destaca que, para muitos pacientes, o explante resulta em uma melhoria na qualidade de vida, com redução dos sintomas sistêmicos. No entanto, a decisão de proceder com o explante deve ser baseada em uma avaliação cuidadosa dos riscos e benefícios potenciais, considerando os desejos e preocupações do paciente.

Além do explante, a gestão dos sintomas da Síndrome ASIA pode incluir o uso de terapias medicamentosas para controlar a inflamação e a dor. Medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) são frequentemente usados para aliviar sintomas leves, enquanto corticosteroides podem ser indicados em casos mais graves para reduzir a inflamação sistêmica (SOARES; DE FARIA, 2021).

Em casos de sintomas persistentes, pode ser necessário o uso de agentes imunossupressores ou imunomoduladores para controlar a resposta autoimune. No entanto, essas terapias devem ser cuidadosamente monitoradas devido ao risco de efeitos colaterais e à necessidade de ajustar o tratamento de acordo com a resposta do paciente (DAMIANI; SOUSA; OLIVEIRA, 2022).

5 METODOLOGIA 

A presente pesquisa consiste em uma revisão de literatura que tem como objetivo explorar a relação entre implantes de silicone e a Síndrome Autoimune/Inflamatória Induzida por Adjuvantes (ASIA), com foco na prevalência, patogênese, diagnóstico e manejo da condição. Para isso, foi realizada uma busca abrangente em bases de dados eletrônicas reconhecidas, incluindo PubMed, Scopus, Web of Science e SciELO, abrangendo publicações entre 2019 e 2024. As palavras-chave utilizadas nas buscas foram “Síndrome ASIA”, “implantes de silicone”, “doença do silicone”, “resposta imunológica”, “explante” e “biomateriais”.

Foram incluídos no estudo artigos que discutem a patogênese, diagnóstico ou tratamento da Síndrome ASIA em associação com implantes de silicone. Também foram considerados artigos que apresentassem revisões sistemáticas, meta-análises, estudos de caso ou séries de casos relevantes ao tema, desde que estivessem publicados em inglês, português ou espanhol. Por outro lado, foram excluídos artigos que não abordassem diretamente a relação entre implantes de silicone e a Síndrome ASIA, além de revisões não sistemáticas, estudos com metodologias inadequadas, artigos de opinião, editoriais e cartas ao editor.

Após a coleta dos artigos, os resumos foram revisados para determinar sua relevância ao tema proposto. Os artigos selecionados foram lidos na íntegra, e os dados extraídos incluíram informações sobre a população do estudo, métodos de diagnóstico utilizados, sintomas relatados, intervenções terapêuticas e resultados observados. Os dados coletados foram organizados em tabelas para facilitar a comparação entre estudos, destacando semelhanças e divergências nas abordagens e resultados. As informações foram então analisadas qualitativamente para identificar padrões e tendências na literatura, bem como lacunas que requerem mais investigação.

Os resultados foram sintetizados para fornecer uma visão abrangente das atuais compreensões e controvérsias relacionadas à Síndrome ASIA em pacientes com implantes de silicone. A síntese incluiu uma discussão crítica das evidências, destacando as principais contribuições dos estudos revisados e sugerindo direções para futuras pesquisas.

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A prevalência da Síndrome ASIA em pacientes com implantes de silicone é uma área de considerável variação nos dados. Miranda (2020) relata que, embora haja um número crescente de casos relatados, a prevalência exata permanece incerta devido a diferenças nos critérios diagnósticos e na notificação dos casos. Segundo Silva et al. (2023), a falta de consenso sobre os critérios diagnósticos pode levar a uma subestimação da condição, sugerindo que muitos casos podem não ser reconhecidos clinicamente. Em contrapartida, Matias et al. (2021) apontam que o aumento da conscientização entre profissionais de saúde e pacientes tem melhorado o reconhecimento da síndrome, embora isso ainda dependa fortemente de fatores geográficos e culturais.

Além disso, Campos et al. (2022) destacam que a percepção pública dos riscos associados aos implantes de silicone tem influenciado a busca por diagnóstico e tratamento, com mais pacientes relatando sintomas que podem estar associados à ASIA. Este fenômeno, por sua vez, levanta preocupações sobre o impacto da mídia e de relatos anedóticos na percepção de risco e pode levar a um aumento no diagnóstico diferencial. Villar et al. (2023) reforçam que é crucial distinguir entre sintomas genuínos da síndrome e reações psicossomáticas induzidas por ansiedade sobre implantes de silicone.

A compreensão dos mecanismos imunológicos subjacentes à Síndrome ASIA permanece incompleta, com autores propondo diferentes teorias sobre a interação entre o silicone e o sistema imunológico. Sávia Nunes Santos et al. (2022) sugerem que a resposta inflamatória é mediada pela ativação de macrófagos e células T, levando à produção de citocinas pró-inflamatórias. Este modelo é apoiado por Villar et al. (2023), que destacam a formação de granulomas como um marcador importante da resposta inflamatória ao silicone.

Entretanto, Soares e De Faria (2021) questionam se a resposta inflamatória é uma reação direta ao silicone ou uma consequência de outros fatores, como infecções subjacentes ou predisposições genéticas. Eles argumentam que mais pesquisas são necessárias para identificar biomarcadores específicos que possam ajudar a distinguir a Síndrome ASIA de outras condições autoimunes. Em contraste, Damiani, Sousa e Oliveira (2022) destacam a importância dos fatores ambientais, incluindo a exposição a outros adjuvantes, na modulação da resposta imunológica, sugerindo que o silicone pode não ser o único gatilho em muitos casos.

Os critérios diagnósticos para a Síndrome ASIA continuam a evoluir, mas permanecem controversos. Miranda (2020) enfatiza a importância de uma abordagem holística, que considere tanto os sintomas clínicos quanto a história de exposição a adjuvantes. Ele argumenta que a exclusão de outras condições autoimunes é essencial para evitar diagnósticos errôneos. Em contrapartida, Silva et al. (2023) apontam que a falta de testes laboratoriais específicos dificulta a confirmação do diagnóstico, levando muitos clínicos a dependerem de critérios subjetivos.

A divergência nas práticas diagnósticas é evidente quando se considera o uso de exames de imagem. Matias et al. (2021) relatam que ultrassonografias e ressonâncias magnéticas podem ser úteis para identificar inflamações ou granulomas associados aos implantes, mas também observam que esses achados não são exclusivos da Síndrome ASIA e podem estar presentes em pacientes assintomáticos. Essa variabilidade na interpretação dos resultados de imagem sublinha a necessidade de critérios diagnósticos padronizados e mais estudos para avaliar a eficácia dos métodos de imagem na detecção da síndrome.

O explante dos implantes de silicone é uma opção terapêutica central no manejo da Síndrome ASIA, mas sua eficácia varia entre os pacientes. Miranda (2020) relata que muitos pacientes experimentam uma melhoria significativa nos sintomas após o explante, mas também observa que a recuperação completa não é garantida. Silva et al. (2023) concordam, enfatizando que o sucesso do explante pode depender de fatores como a duração dos sintomas e a presença de complicações associadas.

Em contraste, Soares e De Faria (2021) argumentam que, em alguns casos, o explante pode não ser necessário, especialmente quando os sintomas são leves ou atribuíveis a outras condições. Eles sugerem que intervenções médicas, como o uso de anti-inflamatórios ou imunomoduladores, podem ser eficazes em casos selecionados, evitando a necessidade de cirurgia. No entanto, Damiani, Sousa e Oliveira (2022) advertem que o tratamento medicamentoso deve ser cuidadosamente monitorado devido ao potencial para efeitos colaterais.

Outro aspecto crítico do manejo é a educação do paciente. Campos et al. (2022) ressaltam a importância de informar os pacientes sobre os potenciais riscos e benefícios do explante, bem como as expectativas realistas para a recuperação. Eles enfatizam que uma comunicação clara e baseada em evidências pode ajudar a reduzir a ansiedade dos pacientes e promover uma tomada de decisão informada.

A pesquisa futura sobre a Síndrome ASIA deve focar em várias áreas críticas para avançar no entendimento e manejo da condição. Uma prioridade é o desenvolvimento de biomarcadores específicos que possam facilitar o diagnóstico e monitoramento da síndrome. A falta de testes laboratoriais confiáveis é uma das principais barreiras para o diagnóstico precoce e eficaz (VILLAR et al., 2023).

Além disso, há uma necessidade de estudos longitudinais que examinem a progressão dos sintomas e a resposta ao tratamento ao longo do tempo. Esses estudos podem fornecer insights valiosos sobre a eficácia do explante e outras intervenções terapêuticas, ajudando a identificar subgrupos de pacientes que podem se beneficiar de abordagens específicas (SILVA et al., 2023).

A pesquisa sobre a interação entre fatores genéticos e ambientais também é crítica para entender a variabilidade na apresentação e resposta ao tratamento da Síndrome ASIA. Estudos que investiguem a influência de diferentes adjuvantes e predisposições genéticas podem ajudar a esclarecer os mecanismos subjacentes da síndrome e a desenvolver estratégias de prevenção mais eficazes (DAMIANI; SOUSA; OLIVEIRA, 2022).

7 CONCLUSÃO 

A Síndrome Autoimune/Inflamatória Induzida por Adjuvantes (ASIA) relacionada aos implantes de silicone é um campo emergente de estudo que desafia tanto os clínicos quanto os pesquisadores a entenderem melhor a interação complexa entre biomateriais e o sistema imunológico humano. Este artigo revisou a literatura atual, confrontando perspectivas divergentes sobre a prevalência, patogênese, diagnóstico e manejo da síndrome.

Os implantes de silicone, amplamente utilizados por razões estéticas e reconstrutivas, têm sido associados a respostas imunológicas que podem desencadear sintomas sistêmicos característicos da Síndrome ASIA em indivíduos suscetíveis. Embora a literatura indique um aumento no reconhecimento da síndrome, a variabilidade nos critérios diagnósticos e a falta de biomarcadores específicos continuam a ser obstáculos significativos para o diagnóstico precoce e preciso.

O confronto de ideias entre autores destaca a diversidade de opiniões sobre a eficácia do explante dos implantes de silicone como intervenção terapêutica. Enquanto alguns estudos relatam melhorias significativas nos sintomas pós-explante, outros sugerem que a remoção dos implantes pode não ser necessária em todos os casos, e que terapias medicamentosas podem ser suficientes para o manejo dos sintomas em alguns pacientes.

Além disso, a importância de uma abordagem multidisciplinar no diagnóstico e manejo da Síndrome ASIA é evidente, envolvendo profissionais de diversas áreas da saúde para proporcionar um cuidado centrado no paciente. A educação dos pacientes sobre os potenciais riscos associados aos implantes de silicone e a importância do acompanhamento médico regular são componentes cruciais para a gestão eficaz da condição.

Para o futuro, a pesquisa deve se concentrar no desenvolvimento de biomarcadores específicos para a Síndrome ASIA, o que pode facilitar o diagnóstico e monitoramento da condição. Estudos longitudinais são necessários para avaliar a progressão dos sintomas e a eficácia das diferentes estratégias de tratamento, incluindo o impacto do explante ao longo do tempo.

Em conclusão, a Síndrome ASIA representa um desafio complexo e multifacetado que exige maior investigação para aprimorar o diagnóstico, tratamento e prevenção. A colaboração contínua entre pesquisadores e clínicos, juntamente com a educação dos pacientes, é fundamental para avançar na compreensão e manejo dessa condição e melhorar os resultados clínicos para aqueles afetados.

REFERÊNCIAS

CAMPOS, Ludmilla de Lourdes Porfírio, et al. A relação dos implantes mamários e o surgimento de doenças autoimunes e outras patologias: revisão de literatura. Revista Ciência e Estudos Acadêmicos de Medicina, v. 16, n. 2, p. 55-63, 2022.

DAMIANI, Elizabethe; SOUSA, Laila Caroline Silva; OLIVEIRA, Lilia Beatriz. Fatores envolvidos no desenvolvimento da Síndrome ASIA em mulheres com implantes mamários de silicone. Anais do COMED, v. 6, p. 80-87, 2022.

MATIAS, Igor Silva, et al. Implante mamário de silicone e Síndrome ASIA: uma revisão de literatura. Brazilian Journal of Development, v. 7, n. 7, p. 67035-67048, 2021.

MIRANDA, Ricardo Eustachio de. O explante em bloco de prótese mamária de silicone na qualidade de vida e evolução dos sintomas da síndrome ASIA. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, v. 35, n. 4, p. 427-431, 2020.

SÁVIA NUNES SANTOS, Suian, et al. Fatores de risco para desenvolvimento da doença do silicone (ASIA) em mulheres. Revista de Trabalhos Acadêmicos–Universo Belo Horizonte, v. 1, n. 5, 2022.

SILVA, Bianca Sousa, et al. Síndrome autoimune/inflamatória induzida por adjuvantes em pacientes submetidos a implante de silicone – revisão sistemática, 2023.

SOARES, Gabriela Santos; DE FARIA, Thaís Guimarães. Relação da síndrome autoimune induzida por adjuvantes (ASIA) com o implante mamário. Revista Multidisciplinar em Saúde, v. 2, n. 2, p. 08-08, 2021.

VILLAR, Isabela De Souza, et al. A síndrome de ASIA e o explante de próteses de silicone mamário. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, v. 5, n. 5, p. 2640-2652, 2023.