SAÚDE MENTAL DE ESTUDANTES NEGROS: UM ESCOPO GLOBAL DA LITERATURA.

HEALTH OF BLACK STUDENTS: A GLOBAL LITERATURE REVIEW.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202408041751


Breitner Luiz Tavares¹;
Caio da Silva Barbosa².


Resumo: O presente trabalho se propôs a realiza um levantamento na literatura internacional nos seguintes países: Brasil; Estados Unidos da América; África do Sul e Reino Unido, sobre o processo de saúde mental de estudantes do ensino superior, com foco nos discentes negros. A metodologia empregada foi a revisão sistemática da literatura, utilizando operadores “booleanos” específicos em três plataformas de busca: SciELO; BVS e BDTD. Obtivemos um total de 705 artigos potencialmente relevantes, dos quais foram utilizados 17 artigos. Destaca-se, ainda, que o ato de compreender e pesquisar a temática proposta neste trabalho implica em medidas de desalienação da população negra no âmbito social e traz novas perspectivas sobre a saúde desta população.

Palavras-chave: saúde mental; estudantes negros; escopo global; ensino superior.

Abstract: This work aimed to conduct a survey of international literature in the following countries: Brazil, USA, South Africa, and the United Kingdom, focusing on the mental health of higher education students, particularly black students. The methodology employed was a systematic literature review, utilizing specific “Boolean” operators in three search platforms: SciELO, BVS, and BDTD. A total of 705 potentially relevant articles were obtained, of which 17 were used. It is also noteworthy that understanding and researching the theme proposed in this work imply measures to de-alienate the black population in the social sphere and introduce new perspectives on the health of this population.

Keywords: mental health; black students; global scope; university education.

INTRODUÇÃO

A educação superior é de suma importância, não apenas para a pessoa que usufrui desse direito, mas também para o desenvolvimento social. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), afirma que toda pessoa tem esse direito, é que deve ser usufruído com compreensão, tolerância e a amizade entre todos os grupos raciais.  No entanto, a história dos grupos racializados que foram escravizados de forma exploratória e a colonização das Américas, ainda trazem, nos dias de hoje, consequências e barreiras sociais que afetam a forma como a vida acadêmica será experimentada. Nesse contexto, para as pessoas negras, a experiência universitária será sobretudo vivenciada sob a perspectiva do racismo estrutural.

Segundo Damasceno (2018), o  racismo, de um modo geral, pode ser definido como a crença na superioridade de algumas raças sobre outras, e devido a ele, temos como consequências desigualdades, agressões e opressões de um grupo de pessoas sobre outros, e tais ocorrências, supostamente, são justificadas. Nesse contexto, é preciso destacar o conceito de racismo estrutural, que de acordo com Almeida (2021) é o elemento organizador da economia e política da sociedade, que  configura como manifestação normal de uma sociedade e não um fenômeno patológico que expressa anormalidade.

Ademais, as experiências de racismo estrutural  são acompanhadas pela interseccionalidade, que, segundo Pocahy (2014), vai além da soma das dominações (gênero, classe, idade, deficiência e sexualidade), sendo uma teoria transdisciplinar que busca elucidar a complexidade da identidade.

Assim, um dos objetivos deste estudo é identificar como tem sido apresentado o perfil de saúde mental de discentes universitários negros por meio de diversas publicações acadêmicas nos mais diversos territórios do mundo. A importância de investigar tal fenômeno está em entender a forma como o racismo se manifesta de diversas formas: individuais e coletivas, dependendo da localidade onde esse estudante está matriculado, da área de estudo escolhida, da atuação dos docentes e da coordenação do curso, e de diversos outros fatores intra e inter universitários.

Ao mesmo tempo, esses estudantes vivenciam realidades distintas e estão separados por linhas geográficas ou oceanos. É visível como algumas angústias causadas pelo racismo são compartilhadas, atravessando fronteiras.

METODOLOGIA

Por meio da revisão sistemática, que tem segundo Sampaio (2007), tem a característica de utilização de dados da literatura sobre determinado tema, para obter um entendimento aprofundado sobre o mesmo. E torna-se necessário tanto na prática clínica quanto na prática de ensino em áreas de saúde, por transmitir o conhecimento baseado em mais de uma evidência científica publicada.

Assim, para identificar o perfil de saúde mental de estudantes universitários negros de forma abrangente e internacional, foi realizada uma pesquisa em três bases de dados: SciELO (Scientific Electronic Library Online); BVS (Biblioteca Virtual em Saúde) e BDTD (Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações), no período de novembro de 2021 a fevereiro de 2022. Foram utilizados os seguintes operadores booleanos: (Race OR black OR Negro OR estudante negro OR discente negro) AND (mental health) AND (higher education OR graduation OR graduação OR ensino superior OR education OR educação). Ressalta-se que a mesma estrutura de operação foi utilizada em todas as três bases de dados já citadas.

A soma dos artigos encontrados foi de 705, sendo utilizados seguindo os critérios de inclusão: textos que abordassem a cultura universitária englobando a saúde mental dos discentes; textos completos que foram publicados nos últimos cinco anos. Como critério de exclusão estava: estudos que não fizessem um recorte racial em seu resumo, resultado ou na coleta de dados sociodemográficos e estudos repetidos. Chegou-se assim a 17 artigos, sendo 1 da SciELO, 15 da BVS e 1 da BDTD. Desses dezessete, 9 foram escritos com base na vivência de estudantes de graduação norte-americanos; 4 de brasileiros; 2 de estudantes do Reino Unido e 2 de estudantes sul-africanos. Os artigos estão apresentados em forma de tabela no anexo I com o nome do autor, título, revista publicada e ano.

Os dezessete estudos úteis, ao final da aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, foram lidos em sua totalidade e comentados no tópico de resultados e discussão.

RESULTADOS

A maioria dos estudos, que utilizam dados primários ou secundários, e que abordam o tema da saúde mental de discentes universitários, não representam a totalidade do país investigado, mas sim uma avaliação local da universidade ou grupo controle em que os testes foram aplicados. Considerando isso, os artigos e dissertação foram divididos de acordo com o país em que foram produzidos, pois a população do grupo focal do estudo interfere nos resultados obtidos devido à manifestação de sua cultura.

BRASIL

Ferreira, Rafaela et al. (2021), trazem, através de seu artigo, o resultado de uma pesquisa quantitativa de corte transversal com instrumento de questionário feito em 121 alunos do curso de enfermagem da Universidade Pública de São Paulo (USP), sendo que a porcentagem de alunos que se autodeclaram negros foi de 23,15%. Em sua investigação, foi encontrado que estudantes pretos e pardos tendem a ter maior satisfação com o apoio social recebido, apesar de terem um menor número de apoiadores sociais no contexto universitário.

O artigo de Cardoso, Josiane Viana et al (2019), por meio de um estudo descritivo, epidemiológico e transversal, recorreu à aplicação de questionários que foram elaborados pelos autores do artigo. O estudo teve como objetivo identificar a ocorrência de estresse e as vulnerabilidades sociodemográficas e acadêmicas em estudantes universitários. Seus resultados demonstram que todos os 391 participantes da pesquisa tiveram estresse devido ao ambiente acadêmico. No entanto, mulheres negras, dependendo do curso escolhido, são mais propensas a apresentar aumento do estresse.

No artigo de Paloma Albuquerque e de Lúcia Williams (2017), uma retrospectiva de dados levantados por meio de questionários e relatos na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFMT) tem como objetivo investigar as piores experiências envolvendo professores de acordo com a perspectiva dos estudantes, analisando o impacto de tais experiências sobre o bem-estar dos mesmos. Com uma amostra final de 156 discentes, o resultado mais relevante demonstra que piadas sobre raça são comuns no ambiente acadêmico, mas incomodam mais quando vêm de professores.

A dissertação de mestrado de Daniela Costa (2017) tratou de um estudo observacional e transversal com abordagem quantitativa de dados, na UFMT, com os graduandos dos cursos da área da saúde, analisando a qualidade de vida dos mesmos. Foi encontrado que houve uma redução na qualidade de vida em segurança física, recursos financeiros, disponibilidade e qualidade dos cuidados em saúde e sociais, participação e oportunidade de lazer nas pessoas não brancas (pardas, pretas e amarelas) em comparação com as pessoas brancas.

De modo geral, os quatro estudos demonstram que os alunos negros não usufruem de apoio social integral em comparação com os alunos brancos. Esse fato torna os discentes negros alvos de discriminação direta e/ou indireta no ambiente acadêmico, resultando em aumento de estresse e redução nos níveis de saúde mental.

ÁFRICA DO SUL

O artigo de Van der Walt, S et al (2019), sendo um estudo transversal com questionários, teve 473 estudantes, com 70% mulheres e 35,6% autodeclarados negros. Buscava determinar taxas de transtornos depressivos e de ansiedade entre estudantes da faculdade de medicina “Faculty of Health Sciences”, na Cidade do Cabo. E achou que 1 a cada 4 estudantes teve o diagnóstico de depressão e ansiedade e utilizava medicação psicotrópica. Tendo como marcador de risco o fator raça negra e sexo feminino.

O artigo de Bantjes, Jason et al (2019), por meio de questionário online, tem como objetivo investigar a prevalência e os correlatos sociodemográficos de Transtornos Mentais Comuns (TMCs) – depressão, ansiedade e bipolaridade – em estudantes da “Stellenbosch University” ao longo da vida e nos últimos 12 meses. Contou com uma amostra de 1.402 discentes, dos quais 41,4% eram negros e 55,2% eram mulheres. E o resultado, mais uma vez, indicou raça negra e sexo feminino como marcadores de risco.

Os dois artigos demonstram que a interseccionalidade faz com que grupos historicamente oprimidos, como as mulheres negras, ainda sofram as consequências dessa opressão. Eles enfrentam estressores no ambiente acadêmico para o desenvolvimento de problemas em sua saúde mental, como falta de auxílio econômico e péssimo ou inexistente serviço de acolhimento para demandas mentais.

REINO UNIDO

O artigo de Gunnell, David et al (2019), por meio de análise estatística de dados secundários do registro de ligações telefônicas da “Office for National Statistics” e dos dados da “Higher Education Statistics Agency”, investigou as tendências na incidência e as características dos suicídios em discentes universitários na Inglaterra e no País de Gales nos anos 2000 a 2017. A taxa de suicídio foi menor em universitários em comparação com a mesma faixa etária (18 a 30 anos) fora da universidade. E, como marcador de risco, foram identificados homens brancos em primeiro lugar, seguidos dos asiáticos e negros, e os alunos da graduação foram mais propensos do que os alunos da pós-graduação.

O artigo de Myers, Carrie-Anne; e Cowie, Helen (2019), por meio de revisão na literatura, demonstra como o “cyberbullying” traz efeitos negativos na saúde mental ao longo da vida, não excluindo a vivência universitária daqueles que tiveram a primeira experiência de ataque no ambiente acadêmico ou daqueles que entraram após serem alvo de difamação online. O espalhar de rumores desagradáveis via “internet” baseados em ofensas sobre a raça de alguém é protegido pelo sentimento de anonimato que a internet oferece.

Levando em consideração a vivência no Reino Unido, os dois artigos demonstram o quanto a universidade desempenha um papel importante na melhoria da saúde mental, ao proporcionar uma expectativa de melhores empregos e salários após a formatura. Sendo assim, a universidade também tem o poder de promover uma cultura de respeito racial presente dentro e fora das universidades; tanto no mundo virtual quanto no físico.

ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

O artigo de Jane Cooley Fruehwirth et al (2021), por meio de uma pesquisa qualitativa, estimou o efeito da pandemia na saúde mental de estudantes da Universidade da Carolina do Norte-Chapel Hill. Contou com a resposta de 491 estudantes e revelou um aumento preocupante nos sintomas de depressão que a pandemia gerou no grupo racial dos negros, que já apresentavam um risco maior.

O artigo de George J DuPaul et al (2021), por meio de um questionário e análise longitudinal, avalia as dificuldades de saúde mental, com foco no transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), e como isso compromete a conclusão do curso. Com uma amostra de 456 discentes, percebeu-se que estudantes negros com TDAH (12,5% da amostra) tendem a diminuir a persistência em seus estudos no segundo ano de faculdade, tendo dificuldades para concluir seus cursos e obter um diploma em comparação aos estudantes brancos.

No artigo de Karen Rothman et al (2021), por meio de questionário, examina as consequências imediatas e de longo prazo da agressão sexual em mulheres universitárias que não tinham histórico anterior dessa agressão. As discentes negras sofreram mais estigmas sociais devido ao contexto universitário de racismo institucionalizado, o que leva a menos apoio social para pessoas negras.

No artigo de McDermott, Ryon C et al (2020), por meio de dados secundários, analisa os efeitos na esperança e as associações entre experiências de discriminação e percepções de estresse. Contou com uma amostra de 203 estudantes, todos negros e do primeiro ano da faculdade. Os alunos que tinham altos níveis de esperança de alcançar sucesso em seus objetivos foram os que mais sofreram discriminação e estresse, o que deveria, teoricamente, diminuir os níveis de estresse e não aumentá-los.

No artigo de Wilson, Oliver W A et al (2019), por meio da aplicação de questionário online, e com o objetivo de examinar as diferenças na atividade física aeróbica de estudantes universitários e nas atividades de fortalecimento muscular com base em gênero, raça e orientação sexual, contou com uma amostra de 606 discentes, dos quais apenas 3,8% eram negros. O resultado demonstrou que mais alunos brancos receberam mais assistência e recomendações adequadas sobre a importância da atividade aeróbica em comparação a outros grupos.

O artigo de Assari, Shervin e de Moghani Lankarani, Maryam (2018), por meio de dados secundários coletados da “Healthy Mind Study (HMS)”, teve como objetivo investigar a associação entre histórico de exposição à violência e relacioná-los com a saúde mental dos estudantes. Foi constatado que pessoas negras, com baixo status socioeconômico, correm maior risco de ter problemas em sua saúde mental, devido a ser o grupo que mais tende a ser exposto aos diversos tipos de violência.

O artigo de Assari, Shervin (2018), por meio de dados do grupo de pesquisa já mencionado HMS, com uma amostra de 41.898 discentes, sendo que 69,22% eram mulheres e 8% eram negros, teve por objetivo verificar o efeito da escolaridade dos pais sobre o bem-estar mental de estudantes universitários. Seu resultado é que existe um maior efeito na saúde mental dos alunos brancos quando comparada aos seus pares negros.

O artigo de Payne-Sturges, Devon C et al (2018), por meio de levantamento transversal dentro do “Maryland Institute of Applied Environmental Health”, teve como objetivo estimar a prevalência de insegurança alimentar entre os estudantes. Contou com uma amostra de 237 discentes, sendo 20% negros, os quais são os mais propensos a terem riscos de insegurança alimentar.

No artigo de Barry, Adam E et al (2017), por meio de dados secundários da “American College Health Association (ACHA)”, teve uma amostra de 416 discentes negros (323 de instituições de ensino de maioria branca e 93 em instituições de maioria não branca). Teve por objetivo investigar o consumo de bebidas alcoólicas e as condições de saúde mental entre homens negros nessas duas modalidades de instituições. Seus resultados mostraram que os alunos que estavam em universidades de maioria branca beberam mais álcool em comparação aos que não estavam, e se declaravam mais satisfeitos em termos de bem-estar mental.

Esses nove artigos podem ser explicados por meio das diferentes abordagens culturais de enfrentamento dos problemas de saúde mental adotadas pelas universidades pesquisadas. Eles demonstram como as necessidades específicas exigem esforços personalizados para enfrentar os problemas que afetam a saúde mental.

DISCUSSÕES

Após a leitura dos dezessete trabalhos acadêmicos, é possível notar que a população negra presente nas universidades ao redor do mundo não está manifestando seu potencial completo em saúde mental. Alguns dos estudos aqui apresentados explicam esse fato por meio da comparação direta entre a saúde mental dos discentes negros e brancos, como no artigo de Jane (2021), no artigo de Van der Walt (2019), no artigo de Assari (2018), e no artigo de Barry (2017). Fica nítido que ainda falta muito acolhimento e apoio para atender às demandas específicas de saúde mental dessa população.

Além disso, por meio do comportamento social, pode-se observar como está a saúde mental dos discentes negros, considerando suas práticas de segurança alimentar, descrita por Payne (2018), práticas de exercícios físicos, descrita por Wilson (2019), intimidade emocional após agressão, relatada por Karen (2021), e domínio de meio ambiente, relatada por Costa (2017). É visível que existe uma tentativa de exclusão de alunos negros por fatores que limitam a construção de uma boa saúde mental.

O ensino superior desempenha um papel importante na construção de elevados níveis de saúde e bem-estar mental, como relataram estudos como o de Gunnell, que observa como o suicídio no Reino Unido é menor em estudantes universitários em comparação com pessoas da mesma idade que não estudam. No entanto, o cotidiano das universidades e as adversidades não planejadas, como uma pandemia, como exposto por Fruehwirth (2021), apontam como o aluno negro muitas vezes, são os que mais sofre no ambiente de ensino, devido à manifestação do racismo estrutural. O percurso universitário, que não é uma jornada simples, torna-se ainda mais difícil para as pessoas negras.

O que, segundo Oliveira, N., & do Nascimento, W. (2019), pode ser explicado quando o poder dos grupos dominantes se configura como um imperialismo moral, difundindo ideias e condutas para grupos considerados dominados, ideias que parecem boas a estes grupos, mas não são. Isso faz com que o ambiente acadêmico se torne um espaço de coação e imposição do domínio ideológico branco, no qual o sujeito negro não se enxerga como participante desse espaço.

Conforme ressaltado por Costa, E. S., & Silva, B. (2023), a ideologia também pode ser uma forma de pensar que se manifesta tanto no dogmatismo (estereotipado) quanto de forma abstrata (metafórica). Logo, ideologias expressas de forma racista no cotidiano das universidades fazem com que a exclusão de grupos racializados e o estresse relacionado à própria realidade de ser sujeito negro sejam considerados normais no ambiente acadêmico, não sendo vistos como desvios da normatividade, mas como uma tentativa de expulsão dessas pessoas do espaço universitário.

É essa normalidade forçada de esconder agressões racistas que inferioriza o segmento humano. Como exposto por dos Santos Correia, S., & Marques, R. . S. N. (2023) no passado, essa inferiorização da humanidade foi usada para justificar o processo de escravidão. E no presente é utilizada para não atender às demandas da população de estudantes negros.

CONCLUSÃO

O estudo deste tema é fundamental para a melhoria dos debates sobre políticas públicas de saúde mental da população negra e para propostas que visam reduzir a evasão universitária motivada por desafios de saúde mental. No entanto, percebe-se certa resistência da academia em investigar e produzir dados sobre os diversos problemas que os estudantes universitários enfrentam em sua jornada acadêmica, especialmente as complicações de saúde mental envolvendo estudantes negros. Sendo essa relutância visível em um baixo número de estudos sobre a experiência vivenciada no Brasil.

E como já descrito por Bento (2005), as instituições muitas vezes refletem o privilégio branco, uma vez que a maioria das posições de poder é ocupada por pessoas brancas, invisibilizando as necessidades dos grupos menos privilegiados. É crucial ter um olhar mais ativo sobre essa temática. Este trabalho demonstra como esse campo está sendo abordado e que há muito espaço para novas pesquisas e perspectivas sobre o assunto.

O que segundo, Fanon (2008), a conscientização das realidades econômicas e sociais enfrentadas pelos indivíduos negros em seu processo de desalienação é de extrema importância para combater o racismo. Entender e pesquisar a temática proposta neste trabalho implica em medidas de desalienação da população negra no âmbito social, reconhecendo algumas das possíveis dificuldades que os membros desse grupo enfrentam no ambiente acadêmico. Reconhecer os sofrimentos vivenciados pelos alunos negros possibilita o acolhimento deles.

REFERÊNCIAS

FRUEHWIRTH, Jane Cooley, et al. “The Covid-19 Pandemic and Mental Health of First-Year College Students: Examining the Effect of Covid-19 Stressors Using Longitudinal Data.” PLOS ONE, vol. 16, no. 3, 5 Mar. 2021, p. e0247999. Disponível em: journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone. 0247999,10.1371/journal.pone.0247999. Acesso em 9 Feb. 2022.

DUPAUL, George J., et al. “Academic Trajectories of College Students with and without ADHD: Predictors of Four-Year Outcomes.” Journal of Clinical Child & Adolescent Psychology, vol. 50, no. 6, 2 Feb. 2021, pp. 828–843, Disponível em: pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33529049/,10.1080/15374416.2020.1867 990. Acesso em 9 Feb. 2022.

ROTHMAN K, GEORGIA Salivar E, RODDY MK, HATCH SG, Doss BD. “Sexual Assault Among Women in College: Immediate and Long-Term Associations With Mental Health, Psychosocial Functioning, and Romantic Relationships”. J Interpers Violence. 2021 Oct;36(19-20):9600-9622. Disponível no doi: 10.1177/0886260519870158. Epub 2019 Aug 17. PMID: 31423886. Acesso em 10 Feb. 2022.

MCDERMOTT, R. C., BERRY, A. T., BORGOGNA, N. C., CHENG, H.-L., WONG, Y. J., Browning, B., & CARR, N. (2020). “Revisiting the paradox of hope: The role of discrimination among first-year Black college students”. Journal of Counseling Psychology, 67(5), 637–644. Disponível no Doi: https://doi.org /10.1037/cou0000422. Acesso em Feb. 2022.

GUNNELL, David, et al. “The Incidence of Suicide in University Students in England and Wales 2000/2001–2016/2017: Record Linkage Study.” Journal of Affective Disorders, vol. 261, Jan. 2020, pp. 113–120. Disponível em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0165032719307943?via%3Dihub, 10.1016/j.jad.2019.09.079. Acesso em Feb. 2022.

VAN DER WALT, S, et al. “The Burden of Depression and Anxiety among Medical Students in South Africa: A Cross-Sectional Survey at the University of Cape Town.” South African Medical Journal, vol. 110, no. 1, 12 Dec. 2019, p. 69, disponível em: www.samj.org.za/index.php/samj/article/view/12817,10.7 196/samj.2019.v110i1.1411. Acesso em Feb. 2022.

WILSON, Oliver W.A., et al. “Differences in College Students’ Aerobic Physical Activity and Muscle-Strengthening Activities Based on Gender, Race, and Sexual Orientation.” Preventive Medicine Reports, vol. 16, Dec. 2019, p. 100984, disponível em: www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2211 33551930155X?via%3Dihub,10.10 16/j.pmedr.2019.100984. Acesso em 9 Feb. 2022.

BANTJES, Jason, et al. “Prevalence and Sociodemographic Correlates of Common Mental Disorders among First-Year University Students in Post-Apartheid South Africa: Implications for a Public Mental Health Approach to Student Wellness.” BMC Public Health, vol. 19, no. 1, 10 July 2019, disponível em: bmcpublichealth.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12889-019-7218-y,10.1186/s1288 9-019-7218-y. Acesso em 9 Feb. 2022.

MYERS, Carrie-Anne, and HELEN Cowie. “Cyberbullying across the Lifespan of Education: Issues and Interventions from School to University.” International Journal of Environmental Research and Public Health, vol. 16, no. 7, 4 Apr. 2019, p. 1217, disponível em: www.mdpi.com/1660-4601/16/7/1217,10.3390/ijerph16071217. Acesso em Feb. 2022.

JOSIANE Viana Cardoso, et al. “Estresse Em Estudantes Universitários: Uma Abordagem Epidemiológica.” Revista de Enfermagem UFPE on Line, vol. 13, no. 0, 2019, disponível em: periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/24154 7/33154. Acesso em 9 Feb. 2022.

ASSARI, Shervin. “Parental Educational Attainment and Mental Well-Being of College Students: Diminished Returns of Blacks.” Brain Sciences, vol. 8, no. 11, 29 Oct. 2018, p. 193, disponível em: www.mdpi.com/2076-3425/8/11/193,10.3390/brainsci8 110193. Acesso em 9 Feb. 2022.

ASSARI, Shervin, and MARYAM, Moghani Lankarani. “Violence Exposure and Mental Health of College Students in the United States.” Behavioral Sciences, vol. 8, no. 6, 24 May 2018, p. 53,disponível em: www.mdpi.com/2076-328X/8/6/53,10.3390/bs806005 3. Acesso em 9 Feb. 2022.

PAYNE-STURGES, Devon C., et al. “Student Hunger on Campus: Food Insecurity among College Students and Implications for Academic Institutions.” American Journal of Health Promotion, vol. 32, no. 2, 12 July 2017, pp. 349–354, disponível em:  journals.sagepub.com/doi/10.1177/0890117117719620,10 .1177/0890117117719620. Acesso em 9 Feb. 2022.

ALBUQUERQUE, Paloma, and WILLIAMS, Lúcia Cavalcanti de Albuquerque. “Recordações de Estudantes de Suas Piores Experiências Envolvendo Professores.” Psicologia Argumento, vol. 35, no. 89, 12 Aug. 2019, disponível em: periodicos.pucpr.br/psicologiaargumento/article/view/25568,10.7213/p sicol.argum.35. 89ªo05. Acesso em 9 Feb. 2022.

BARRY, Adam E., et al. “Alcohol Use and Mental Health Conditions among Black College Males: Do Those Attending Postsecondary Minority Institutions Fare Better than Those at Primarily White Institutions?” American Journal of Men’s Health, vol. 11, no. 4, 2 Nov. 2016, pp. 962–968, disponível em: journals.sagepub.com/doi/10.1177/1557988316674840,10.1177/1557988316674840. Acesso em Feb. 2022.

COSTA, Daniela Galdino. “Qualidade de Vida E Atitudes Alimentares de Graduandos Da Área de Saúde de Uma Universidade Pública Em Uberaba-MG.” Uftm.edu.br, 2017, disponível em: bdtd.uftm.edu.br/handle/tede/414,http://bdtd.uftm.edu.br/handle/ted e/414. Acesso em Feb. 2022.

FERREIRA, Rafaela Teodoro, et al. “Role of Sociodemographic Factors and Self-Efficacy in the Perception of Social Support of Nursing Students.” Revista Da Escola de Enfermagem Da USP, vol. 55, 2021, disponível em: www.scielo.br/j/reeusp/a/4 PWysrmLBhk36tbhkCFV6YB/?lang=en,10.1590/1980-220xreeusp-2021-0209. Acesso em Feb. 2022.

GORDIA, Alex Pinheiro, et al. “Variáveis Sociodemográficas Como Determinantes Do Domínio Meio Ambiente Da Qualidade de Vida de Adolescentes.” Ciência & Saúde Coletiva, vol. 14, no. 6, Dec. 2009, pp. 2261–2268, disponível em: scielosp.org/article/csc/2009.v14n6/22612268/#:~:text=O%20dom%C3%A Dnio%20meio%20ambiente%20do,oportunidades%20de%20recrea%C3%A7%C3%A3o%2Flazer%20e,10.1590/s1413-81232009000600035. Acesso em Mar. 2022.

DAMASCENO, Marizete Gouveia, and VALESKA M. Loyola Zanello. “Saúde Mental E Racismo Contra Negros: Produção Bibliográfica Brasileira Dos Últimos Quinze Anos.” Psicologia: Ciência E Profissão, vol. 38, no. 3, Sept. 2018, pp. 450–464, disponível em: www.scielo.br/j/pcp/a/gPSLSxDcHDhDc cZgpk3GNVG/?lang=pt,10.1590/198237030003262017.  Acesso em 24 Sept. 2021.

ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo Estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro; Editora Jandaira, 2021. ISBN: 978-85-98349-74-9.

SAMPAIO, R. F.; MANCINI, M. C. Estudos de Revisão Sistemática: um guia para síntese criteriosa da evidência científica. V. 11, n. 1. São Carlos-SP: Revista Brasileira de Fisioterapia, p. 84, 2007.

‌FANON, F. Pele negra, máscaras brancas. Tradução: Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008.

‌BENTO, Maria Aparecida Silva. Branquitude e poder: a questão das cotas para negros.. In: SIMPOSIO INTERNACIONAL DO ADOLESCENTE, 1., 2005, São Paulo. Proceedings online. Disponível em: <http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=MSC0000000082005000100005&lng=en&nrm=abn>.  Acesso em  31 May. 2022.

Oliveira, N., & do Nascimento, W. (2019). Modernidade, Colonialidade e Imperialismo Moral: manutenção de status quo na relação entre países centrais e periféricos. Revista Brasileira De Bioética, 14, 1–13. https://doi.org/10.26512/rbb.v14i0.25572   Acesso em 1 out de 2023.

dos Santos Correia, S., & Marques, R. . S. N. (2023). TERRITÓRIO, SAÚDE MENTAL E CANDOMBLÉ: FIGURAÇÕES E ENREDOS . Revista Da Associação Brasileira De Pesquisadores/as Negros/As (ABPN), 16(Edição Especial). Recuperado de https://abpnrevista.org.br/site/article/view/1570.  Acesso em 1 out de 2023.

POCAHY, Fernando. Interseccionalidade e educação: cartografias de uma prática-conceito feminista. TEXTURA-Revista de Educação e Letras, v. 13, n. 23, 2011. Disponível em: <http://www.periodicos.ulbra.br/index.php/txra/article/viewFile/984/766>. Acesso em 1 out de 2023.

Costa, E. S., & Silva, B. (2023). RACISMO E BRANQUITUDE NO DIVÃ DA CLÍNICA RACIALIZADA. Revista Da Associação Brasileira De Pesquisadores/as Negros/As (ABPN), 16(Edição Especial). Recuperado de https://abpnrevista.org.br/site/article/view/1679 Acesso em 1 out de 2023.


¹Universidade de Brasília, Faculdade de Ceilândia, Departamento de Saúde coletiva, Distrito Federal, DF Brasil
Possui graduação em licenciatura em ciências sociais, bacharelado, mestrado e doutorado em sociologia pela Universidade de Brasília. breitner@unb.br e ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7478-3955
²Universidade de Brasília, Faculdade de Ceilândia, Departamento de Enfermagem, Distrito Federal, DF Brasil
Graduando de enfermagem. caio.barbosa022@gmail.com e ORCID: https://orcid.org/0009-0003-9733-1227