LETRAS DE MÚSICA E PRÁTICAS DE ENSINO EM GEOGRAFIA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10247022131


Gabriel Silva Leite1


RESUMO

As aspirações do presente artigo é o início de uma reflexão sobre a linguagem do texto musical, como uma forma alternativa de contribuição às práticas de ensino em Geografia. Propõe-se o uso deste, como recurso didático a modo de auxiliar na relação ensino-aprendizagem, colaborando para o entendimento categorias de análise, escalas e conceitos presentes na Geografia escolar. Como parte dos materiais que compõe esse artigo temos produções acadêmicas de domínio público, letras de músicas brasileira, a Base Nacional Comum Curricular – BNCC, o software Wordsmith Tools. No que tange ao método, consiste na análise dos termos que fazem parte da geografia e podem ser encontrados nas letras de música. Entendemos que A Geografia só existe por meio da linguagem, e é por meio da linguagem que nascem as práticas de ensino. A leitura desse de letras de música, um tipo de texto de circulação social, incentiva o desenvolvimento do pensamento crítico e a melhor compreensão de informações presentes no cotidiano do aluno. Nesta pesquisa nos propomos por meio da linguística de córpus a identificar nas letras das músicas, elementos que caracterizam o espaço geográfico, destacando elementos do seu dia-a-dia, sua cultura, formas de trabalho, ou seja, músicas que valorizem/contemplem conteúdos que fazem relação com os conceitos geográficos             e as séries que estes conceitos e conteúdos serão ministrados na Educação Básica.

Palavras-chaves: Letras de músicas; linguagem; Ensino de Geografia.

1 INTRODUÇÃO

A Organização das Nações Unidas, em conjunto com seus países membros almejam uma organização social por meio dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), um apelo global à ação para, por exemplo, acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade. Ao todo, são 17 objetivos dentro dos quais as nações se comprometem em promover um desenvolvimento social que respeite os direitos humanos e o meio natural.

Esses objetivos têm relação direta com a Geografia, uma vez que se trata de uma ciência holística cujo objeto de estudo é a interação entre o homem e a natureza – o próprio espaço geográfico. Nesse sentido, a Geografia, enquanto uma ciência cosmopolita pode ser explorada para o entendimento dos ODSs.

Os ODSs são uma agenda global estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em setembro de 2015. Essa agenda é composta por 17 objetivos e 169 metas a serem alcançados até 2030, sendo assim, cada objetivo possui sua importância com a intenção de erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir a prosperidade para todos.

Figura 1 – Os ODSs

Fonte: UNESCO, 2015.

Frente ao exposto, a musicalidade surge como uma alternativa, uma vez que a música pode ser empregada como um recurso pedagógico capaz de envolver o aluno. Nesse trabalho, interessam especialmente os seguintes ODSs: 1, 2, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, que podem tratar de forma direta ou indireta a presença da Geografia nas letras de músicas.

Nossa pesquisa possui como tema o ensino de Geografia na Educação Básica a partir de letras músicas brasileiras e sua delimitação consiste na prática das categorias de análise em uma perspectiva local, regional e global. Entendemos que a escala geográfica não se restringe aos acontecimentos globais, outras escalas são vivenciadas pelos alunos.

O ensino de Geografia deve buscar fomentar a produção de indivíduos críticos. O que é fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e democrática. Quando as pessoas são capazes de analisar e questionar de forma crítica a realidade ao seu redor, elas se tornam mais conscientes de seus direitos e deveres como pessoas e cidadãos, além de estarem mais aptas a modificar a sociedade.

Ter indivíduos críticos é essencial para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e democrática, em que os direitos e deveres dos cidadãos são respeitados e os problemas sociais são enfrentados de forma efetiva alcançando então os ODS’s.

O presente trabalho é importante pois pretende fazer uma maior aproximação entre o conteúdo lexical presente nas letras de músicas e a Geografia. Promover a compreensão do espaço geográfico por meio da linguagem envolve uma análise crítica dos fenômenos e das diferentes categorias utilizadas para descrever e interpretar o espaço geográfico. As categorias de análise na geografia são os conceitos, as ideias e as teorias que permitem entender e explicar os processos que ocorrem no espaço.

Um ensino em Geografia que parta de uma visão crítica implica questionar a validade e a objetividade das categorias utilizadas, bem como as implicações políticas e ideológicas que cada categoria possa ter. A linguagem é um instrumento fundamental para a construção e a comunicação do conhecimento geográfico, pois permite dar nome e significado aos elementos que compõem o espaço, como lugares, territórios, paisagens e regiões.

            Trabalhos anteriores trataram do uso da música na sala de aula da disciplina de Geografia (CORREIA, 2009; MUNIZ, 2012; PEREIRA, 2012; SILVA 2015; SOARES, 2017). No âmbito da Pedagogia, também há um estudo significativo (MENEZES, TOSHIMITSU, MARCONDES, 2007).        

Observamos que nos estudos anteriores a música foi levada para sala de aula como metodologia, mas não fica clara a articulação dos conteúdos geográficos, letras de música e ensino.

Cada categoria de análise da Geografia possui definições e conceitos, a exemplo: a paisagem se define como o domínio do visível, aquilo que é percebido através dos órgãos sensoriais, passiveis de mutações que podem ser provocadas pela ação antrópica e pelo ritmo da natureza; o lugar se define como o domínio da afetividade, é a própria sensação de pertencimento ao espaço, observando sempre os hábitos e costumes dos indivíduos – da cultura em si.

A região, por sua vez, é um agrupamento dos espaços de acordo com critérios estabelecidos previamente, podendo ser elementos físicos-naturais e antrópicos; o território é o espaço que possui delimitações, e dentro dessas delimitações se manifestam as relações de poder. Por fim, o espaço geográfico, o próprio objeto de estudo da ciência geográfica, se dá por meio da interação homem-natureza.

A ideia é trazer novas formas de transmitir os conceitos geográficos utilizando letras de música, sobretudo aquelas letras que fazem parte da vivência do alunado. A música é um texto de circulação social, uma prática de linguagem presente no cotidiano dos alunos, linguagem que contém vários conceitos geográficos, mas que muitas das vezes passam despercebidos.

A visão se volta em buscar valorizar as letras de músicas de diferentes estilos da música brasileira como estratégias de ensino e até mesmo para a confecção de material didático-pedagógico de custo financeiro quase inexistente, haja visto que, hoje a música e sua letra “escrita” pode ser encontrada facilmente na internet de forma gratuita ou através das plataformas de streaming.

O objetivo geral dessa pesquisa em questão se volta na utilização de letras de músicas como ferramenta auxiliadora para as aulas de Geografia. Assim, partindo da musicalidade, os objetivos específicos são traçados. Inicialmente, com a identificação de palavras-chave voltadas para a Geografia contidas em escritos acadêmicos como dissertações e teses acadêmicas, a identificação de palavras-chave nas letras de música, contribuindo para o desenvolvimento da percepção crítica dos alunos sobre as questões relacionadas à área.

Nossos dois problemas de pesquisa são os seguintes: 1) quais conteúdos geográficos podemos identificar na letra da música nos diferentes estilos? 2) Quais letras de músicas podem ser incorporadas ao ensino de Geografia?

Inicialmente, partimos da premissa que muitos conteúdos ligados à Geografia podem ser encontrados na musicalidade, sobretudo nas letras de música. A música, enquanto uma manifestação artística, retrata a vida e cotidiano das pessoas e das comunidades, narrando suas interações com o espaço geográfico. Sendo assim, logo percebemos que alguns conteúdos podem ser encontrados facilmente nas letras de músicas de diferentes estilos.

Os conteúdos geográficos presentes nas letras de música, que aqui chamaremos de palavras-chaves, podem variar de acordo com o estilo musical em questão. Desta forma, é possível encontrar temas relacionados à Geografia em diferentes gêneros musicais.

 A exemplo disso, música do estilo MPB (Música Popular Brasileira), é possível identificar referências a elementos da cultura brasileira bem como seus aspectos históricos, a diversidade cultural, as diferentes regiões do país, as paisagens naturais e as questões sociais e econômicas. 

Em músicas de rock e funk, pode-se encontrar referências do estilo de vida urbano, ao ambiente dos grandes centros urbanos e conjuntura da sociedade. Já nas letras músicas no estilo reggae, é comum encontrar referências aos continentes africano e americano, aos problemas sociais, políticos e ambientais de países do sul global, bem como a questões relacionadas à justiça e à igualdade social.

No sertanejo, retrata o espaço rural, bem as diversas interações e construções com o mesmo, descrevendo os conflitos em relação a posse de terra, ao avanço do agronegócio e ao modo de vida no campo.

Em resumo, a identificação desses conteúdos geográficos nas letras de música variam de acordo com o estilo musical, mas certamente possuem o potencial de enriquecer as discussões em sala de aula, permitindo a abordagem de diferentes temas e perspectivas relacionadas à ciência geográfica.

Defendemos uma proposta metodológica de utilização das músicas nas aulas de Geografia que considere a cultura musical dos alunos, bem como as capacidades cognitivas de professores e alunos em relação ao conhecimento geográfico a partir da análise de letras de músicas em diferentes tempos e espaços.

A música é uma ferramenta poderosa da expressão cultural que pode ser usada para promover a aprendizagem em várias áreas do conhecimento, incluindo a Geografia. Neste estudo, exploramos as aproximações entre a música e o ensino de Geografia, buscando entender como a utilização de canções pode contribuir para a compreensão de conceitos geográficos pelos alunos por meio das práticas de linguagem.  Nesse sentido, o presente artigo utiliza os seguintes materiais para dar início às nossas reflexões.

Para compor os materiais deste artigo, utilizou-se a linguística de córpus e o software WordSmith Tools para identificar as palavras-chaves e, por meio delas, detectar os conceitos geográficos presentes nas letras de música. Dessa forma, buscamos utilizar a letra de música como texto de circulação social e prática de ensino de Geografia para os níveis Fundamental e Médio.

Para a seleção das canções, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e em plataformas digitais, buscando por músicas que tivessem uma letra que contemple ao entendimento das categorias de análise da Geografia, e aos objetos de conhecimento e conceito geográfico, como por exemplo: migrações, urbanização, conflitos territoriais, globalização, entre outros.

Não podemos afirmar que chegamos ao fim deste estudo, da análise de letras de música como recurso didático nas aulas de Geografia para o Ensino Fundamental e Ensino Médio. Concordamos que chegamos a conhecer e consequentemente repassar o conhecimento geográfico adquirido com esta vivência no momento da análise de textos de circulação social como a música.

Por meio da Linguística de Córpus, a presente pesquisa traz uma proposta de identificar os conceitos geográficos nas letras de músicas e correlacioná-los com as categorias de análise da Geografia: a paisagem, o lugar, o território, a região e o espaço geográfico.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A fundamentação teórica dessa pesquisa se baseia em três princípios. Nas letras de música, na Geografia e na Linguística de Corpus. A música é uma forma de expressão artística presente em diversas culturas, podendo ser adotada como uma ferramenta poderosa para o ensino-aprendizagem. A Geografia enquanto ciência estuda a superfície terrestre, seus processos naturais e sociais, bem como a relação entre os seres humanos e o ambiente, e a distribuição e a organização dos fenômenos geográficos. A Linguística de corpus é um ramo da linguística que faz o uso de procedimentos quantitativos e estatísticos para analisar dados linguísticos e identificar padrões no uso de palavras e na configuração da linguagem, podendo ser aplicada em vários campos, como na análise do discurso e nas práticas da linguagem.

2.1 A música no ensino

A música faz-se presente em várias situações, expressando diferentes sentimentos e emoções, permitindo o entendimento da realidade e do passado – da educação em si. O ensino de Geografia na educação é base fundamental para formação crítica do cidadão, dando-lhe a capacidade de compreensão de si e do meio ao qual pertence. Observando esse conjunto de circunstâncias, lança-se uma proposta de integração das práticas de ensino com letras de músicas brasileiras, a fim de potencializar as aprendizagens acerca de Geografia.

Nas letras de música encontramos noções e conceitos básicos de Geografia. A música em si é uma das artes que mais influência na subjetividade, nos desejos e nos comportamentos humanos que se manifestam no espaço geográfico. Desta forma, a utilização de letras de música se mostra como uma ferramenta com a capacidade de envolver professor e alunos no processo de aprendizagem e abstração do conhecimento.

Há quem diz que o ensino de Geografia é algo raso. Zuba (2006) salienta que o professor ensina sempre o mesmo conteúdo e do mesmo modo, provocando um mal-estar nos alunos, que reagem insatisfeitos com tal disciplina. Durantes muitos anos e até hoje as aprendizagens em Geografia são assombradas pelo fantasma da decoreba. Um problema sério que acaba sendo agravado pelas próprias estruturas dos sistemas de ensino e pela carência de materiais didáticos dinâmicos quem chamem atenção do alunado.

 Não é que falte material didático, ele existe e tem suas potencialidades no ensino da Geografia, nosso papel aqui não é criticar tais materiais, o que queremos é pensar numa proposta mais contemporânea que contemple as habilidades cobradas pela BNCC, mas que tenha uma linguagem mais próxima daquilo nossos alunos se sentem à vontade ouvindo, tornando o processo de ensino-aprendizagem mais prazeroso. 

Correia (2009) destaca que a música nas aulas de geografia, tem preocupação inicial com ensino de educação formal básica. Surge devido a constatação de dificuldades didático-pedagógicas, advindas da transposição dos conhecimentos da geografia acadêmica, para a geografia escolar quando de sua aplicação.

 Acredita-se que este problema passa pela ressignificação dos conteúdos geográficos, que em ambiente pedagógico deve ser teorizado e representado, para que de forma agradável e interessante ocorra a ligação entre os ensinamentos geográficos e a vida cotidiana do educando, com seus semelhantes em determinado lugar.

Muniz (2012) propõe utilizar a música como recurso didático que pode ser utilizado pelo professor de geografia em sala de aula em suas práticas pedagógicas. Considerando a necessidade de o conteúdo ensinado ser problematizado, contextualizado e vinculado à experiência dos alunos, valorizando seus conhecimentos prévios. O uso da música como ferramenta de ensino e aprendizagem é um exemplo válido. 

Ao utilizar as letras das músicas, a prática pedagógica possibilita analisar e refletir sobre os conteúdos vistos em aula por meio da dinâmica de nossa sociedade. A autora advoga e conclui  que a mediação do professor, desde o planejamento até a realização de atividades práticas utilizando a música como recurso para problematizar conteúdos geográficos, tem facilitado a abordagem de diferentes conteúdos geográficos.

No que tange a relação da escala geográfica, durante as apresentações, os alunos não se limitam à escala global, fazem a ligação com a escala nacional e local. Isso aproxima assunto da realidade do aluno. Ficou claro o desafio dos participantes em utilizar não só o recurso musical, mas também no planejamento da atividade e na construção do discurso relacionando os conhecimentos adquiridos durante o processo de ensino aprendizagem.

Pereira (2012) atesta que a utilização de mídias em sala de aula vem se configurando em uma alternativa didático-pedagógica. As práticas de ensino passam a utilizar uma multimodalidade em que consiste em diferentes modos de comunicação, como texto, imagem, som e vídeo, para promover a aprendizagem e a compreensão dos alunos.

Quando o professor passar a incorporar a multimodalidade em suas práticas de ensino, buscam oferecer múltiplos caminhos de acesso ao conhecimento e informações, isso permite que o alunado explorem e expressem suas ideias de maneiras variadas. Essa ação envolve os alunos de forma mais ativa, promovendo a participação, a criatividade e a colaboração.

Dentre as várias possibilidades da multimodalidade, podemos citar ferramentas midiáticas. A utilização da música em sala de aula é uma proposta válida, haja vista a variedade de gêneros musicais, a facilidade de acesso às letras, bem como o fato de que dificilmente se encontrará alguém que não goste de música. Favorecendo, com isso, uma aproximação maior do aluno com os conteúdos trabalhados, principalmente se a música escolhida apresentar elementos comuns ao cotidiano destes.

Silva (2015) apresenta discussões acerca do uso da música como ferramenta metodologia nas aulas de Geografia, partindo do pressuposto de que a música por ter conteúdo dinâmico, é de grande valor e ajuda na compreensão da Geografia. A música como recurso didático nos permite desenvolver através das suas letras e com  o auxílio de outras temáticas pedagógicas, a interação do que se ensina em sala de aula, com o  externo. O texto musical é visto como uma alternativa para fugir  dos  métodos  tradicionais de como se ensina a geografia na maioria das escolas brasileiras.

A disciplina de Geografia permite que o professor enverede­se  por diversas áreas abordo de temas históricos e atuais. Ao analisar a utilização de músicas como recurso didático, Soares (2017) atesta que a análise das relações entre música e ensino é fundamental por duas razões básicas: porque as músicas têm importância significativa na cultura cotidiana dos alunos, e porque o professor pode encontrar na música um aliado, um recurso didático dos mais importantes, que cria empatia com os alunos.

Dessa forma, os estudantes foram convidados a identificar quais conhecimentos da Geografia contidos nas letras de músicas, despertando a curiosidade o interesse em participar. A interpelação do conteúdo se dá de forma simultânea a análise, a problematização da letra de música, analisando os aspectos históricos, culturais, econômicos, políticos, sociais e ambientais.

Menezes, Toshimitsu e Marcondes (2007, p. 9) salientam que:

o que se propõe não é o abandono da Literatura ou do estudo dos textos clássicos, mas apenas a construção de uma ponte entre aluno e professor, é uma proposta de novos caminhos a serem seguida entre professor e aluno, dando ao estudante instrumentos para a realização da leitura como necessidade e prazer da vida.

As letras de músicas não têm recebido a atenção devida nas aulas de Geografia, embora apresentadas como uma estratégia eficaz para apresentar conceitos geográficos que podem ser analisados a partir do espaço de vivência e do cotidiano do aluno.                Dessa forma, é possível utilizar as letras de músicas como um recurso pedagógico que permite abordar de forma mais dinâmica e lúdica temas como as transformações do espaço geográfico, a relação entre sociedade e natureza e a diversidade cultural. Se trata de estratégia e conduta para que conceitos da Geografia escolar que possam ser analisados a partir do espaço de vivência e do cotidiano do aluno.

A música enquanto um componente das Artes alimenta-se das emoções e dos sentimentos dos homens, estes, podem ser convertidos em ações que alteram e modificam o espaço pelo que vive os homens, ou seja, o espaço geográfico, produto da interação homem-natureza. A Geografia surge aí para discutir e problematizar os fatos.

Sendo a música é um texto de circulação social que permite a intertextualidade com a vivência do aluno, auxiliando na compreensão e fixação dos conteúdos. No entanto, não se trata apenas em inserir a música nas aulas apenas com a intenção de diversificar as práticas docentes.

Sua utilização deve ser pensada e planejada previamente, onde o professor assume o papel de propor determinadas letras de músicas, identificar os conceitos e conteúdos presentes na música é algo que os alunos devem buscar a identificar no decorrer das aprendizagens, afinal, faz-se necessário que o estudante se coloque no papel de protagonista na produção das aprendizagens e do conhecimento.

Vale ressaltar que durante as aulas o professor não pode se abster dos conceitos e habilidades, seu papel é fundamental, sobretudo em nortear os estudantes nas suas reflexões sobre os conceitos, orientar os estudantes na compreensão crítica de conceitos científicos, desta forma, tornando as aulas mais dinâmicas e menos tediosas, visando uma construção coletiva do conhecimento.

Alexsandra Muniz (2012, p. 82) descobriu que:

alunos foram instigados a identificar quais conteúdos de Geografia estavam contidos nesta ferramenta, despertando a curiosidade e o interesse em participar. A abordagem do conteúdo junto à problematização da letra da música foi feita analisando os aspectos históricos, econômicos, sociais e ambientais e fazendo a relação com o conceito de espaço.

Dessa forma, é possível trazer esses conteúdos contidos nas letras de música para a realidade dos alunos. Compreendendo esse contexto descrito acima, achamos válido o que foi defendido por Godoy (2009, p. 43), onde:

a música aqui nos serve como um espelho da sociedade e de suas relações com o meio. Com suas letras, suas construções sonoras, seus instrumentos, a música nos falam muito além da simples distração e diversão a música pode ensinar, pode levar os alunos a vivenciar algo de mais fascinante. Porém dentro dos valores mais conhecidos que a música representa é a sua identidade cultural.

A identidade cultural faz referência ao conjunto de características que uma pessoa ou grupo de pessoas compartilha como resultado de sua afiliação a uma cultura específica. A geografia é uma ciência que canaliza forças na busca da compreensão desse aspecto, pois ela entende que a cultura é resultado de um longo processo de interação da comunidade com o meio natural. 

É por meio da análise das relações do homem com o espaço geográfico que nasce quase todos os conceitos que fazem parte da geografia escolar. A compreensão desses conteúdos são cobrados pelos documentos que norteiam as estruturas da educação brasileira. Nossa ideia aqui é apresentar e defender que a musicalidade por meio de suas diversas manifestações tem potencial metodológico aplicado as práticas de ensino da geografia enquanto componente curricular.

Para Romanelli (2009, s/p), a música é: “uma linguagem a todos os seres humanos e assume diversos papéis na sociedade, como função de prazer estético, expressão musical, diversão, socialização e comunicação”. Pensando assim, identificamos que a música da escola não fica restrita a uma linguagem, ela passa a ser vista como uma estratégia metodológica alinhada ao ensino, ou seja, é uma ferramenta capaz que auxiliar nos processos de ensino-aprendizagem.

Sua utilização deve ser feita de forma séria e previamente planejada, as letras de música não podem ser inseridas na aula apenas como uma forma de dinamizar o tempo do professor. O docente precisa levá-la no seu planejamento, e precisa explorar suas potencialidades. De acordo com Ramos (2010) a música não está na escola apenas como uma atividade recreativa, mas sim, na construção de conhecimento do espaço geográfico, como também, na revitalização ética e cultural da sociedade.

2.2 Geografia

A Geografia enquanto ciência estuda a superfície terrestre, seus processos naturais e sociais, a relação entre os seres humanos e o ambiente, bem como a distribuição e a organização dos fenômenos, ou seja, volta-se para a compreensão do espaço geográfico. Se trata de uma ciência holística e cosmopolita, se relacionando com outras diferentes áreas do conhecimento, tais como: a análise de dados geoespaciais, a cartografia, a geomorfologia, a climatologia, a ecologia, a geologia, a biologia, a economia, a política, a história e muitas outras áreas.

Assim, nesse sentido, Milton Santos, advoga que:

A Geografia é a ciência que tem por objeto o estudo da superfície terrestre e da distribuição espacial de fenômenos significativos na paisagem. A tarefa da Geografia é desvendar a complexidade do mundo contemporâneo, compreender os processos espaciais, destacar as diferenças culturais e sociais e, sobretudo, vislumbrar possibilidades de intervenção positiva na realidade. (SANTOS, 1988, p. 47).

A ciência geográfica se dedica na compreensão das dinâmicas sociais e ambientais que ocorrem no mundo atual, buscando analisar os problemas como a desigualdade social, a degradação ambiental, as mudanças climáticas, a urbanização, entre outros. Além do mais, a compreensão do espaço geográfico é fundamental para o planejamento territorial, o uso dos recursos naturais e a gestão ambiental.

De modo geral, a Geografia enquanto ciência é um importante ramo do conhecimento que estuda o espaço terrestre, permitindo uma compreensão mais ampla das relações entre a sociedade e o ambiente.

2.3 Linguística de Córpus

A Linguística de Corpus é um ramo da linguística que se dedica no estudo e na análise das linguagens naturais. Utilizando de grandes corpora de texto (conjuntos de textos escritos ou falados) ela toma como a análise sistemática desses corpora para identificar padrões de uso linguístico e extrair informações e frequências de termos e palavras específicos. 

A Linguística de Corpus faz o uso de métodos quantitativos e estatísticos para analisar os dados linguísticos e identificar as frequências de uso das palavras e estruturas linguísticas, bem como as relações entre elas. Suas estratégias podem ser usadas em diversas áreas, a análise de discurso, nas práticas de linguagem e outros.

Desta forma, compreendemos que a Linguística de Corpus se trata de uma abordagem empírica da linguagem, que se fundamenta em dados reais de uso da língua para descrever e explicar a linguagem humana. E uma área do conhecimento que vem ganhando destaque se tornando uma importante ferramenta de pesquisa, visando a criação de recursos linguísticos para aplicações em diferentes contextos sociais e políticos, desenvolvendo ferramentas tecnológicas, como sistemas de reconhecimento de fala, chatbots e tradutores automáticos.

3 MATERIAL E MÉTODO

Para compor os materiais dessa pesquisa tivemos contato com diferentes produções acadêmicas da área da Geografia. Além disso, foram coletadas letras de música de artistas brasileiros de diferentes gêneros musicais, com o objetivo de analisar a ocorrência de conteúdos que podem ser abordados pela Geografia escolar. Recorremos à BNCC para dimensionar quais habilidades e conteúdos são cobrados em cada etapa de ensino.

O método consiste na análise dos materiais, foram utilizadas técnicas de linguística de corpus, a fim de identificar padrões e regularidades na produção textual e nas letras de música. Realizando uma análise quantitativa e qualitativa dos dados coletados, utilizando-se softwares específicos para a análise do corpus.

De início, foi feita análises descritivas dos dados, como frequência de palavras-chave e termos da Geografia presentes nas letras de música e nas produções acadêmicas. Por fim, foi realizada uma análise interpretativa dos dados, onde foi possível relacionar as palavras-chaves encontradas nas produções acadêmicas e nas letras de música com as práticas de ensino em Geografia. É importante ressaltar que todas as produções acadêmicas e letras de música são de domínio o público e são referenciadas ao longo da pesquisa.

3.1 Material utilizado

Para realização dessa pesquisa utilizamos de três materiais principais. Incialmente a foi feita a análise de dissertações e teses voltadas para a Geografia, visto que são trabalhos acadêmicos elaborados com o objetivo de aprofundar o conhecimento, são importantes fontes de informação para a Educação Básica e sociedade em geral. Em seguida analisamos as letras de música, um recurso abundante e de fácil acesso e que no geral, são textos familiares aos alunos. Por fim, na intenção de analisar as letras de música e as produções acadêmicas, utilizamos do software Wordsmith Tools, o qual permitiu a extração de informações importantes sobre o uso da linguagem, como frequência de palavras-chave relacionadas a Geografia.

3.1.1 Dissertações e teses

Dissertações e teses são trabalhos acadêmicos escritos que geralmente são exigidos como requisito para obtenção de um título de mestrado ou doutorado, respectivamente. Esses textos são elaborados com o objetivo de aprofundar o conhecimento em uma área específica do conhecimento, através da realização de uma pesquisa original e relevante, que contribua para o avanço da área estudada.

Esses recursos, os quais foram utilizados e consultados para essa pesquisa são de domínio ´público. Achamos ser válidos a sua análise, pois os conhecimentos elaborados nesses trabalhos acadêmicos poderão fazer parte dos currículos da Educação Básica. O conhecimento é dinâmico, isso faz como os sistemas de ensino estejam atentos a essas mudanças.  Essas pesquisas adotam uma metodologia rigorosas, que buscam garantir a validade e a confiabilidade do conhecimento. Por isso, consideramos de extrema importância a análise desses materiais, pois se tratam de uma fonte valiosa de informação para o ensino na educação básica e para a sociedade em geral.

3.1.2. Letras de músicas

As letras de música se tratam de textos de circulação social, possuindo grande potencial enquanto ferramenta de ensino para o Ensino Fundamental e Médio, pois se tratam de texto os quais os alunos possuem uma certa familiaridade e contato. As letras de música se configuram uma parte muito importante da composição desse trabalho. Se trata de um recurso amplo e abundante, facilmente encontrado nas plataformas digitais. Para essa pesquisa, as letras de músicas são importantes, pois através da sua análise e identificação dos conceitos e palavras-chave, poderemos pensar metodologias e materiais didáticos a serem utilizados nas aulas de Geografia.

Na intenção de compor o corpus desse trabalho, foram coletadas 69.621 letras de música de 43 estilos, 1.191 artistas, onde posteriormente foi feita a análise das mesmas em busca de conceitos aplicados a Geografia, mostrando quais letras e estilos músicas possuem potencial didático-pedagógico.

As letras de músicas foram coletadas em parceria com a mestranda Cássia Betariz de Morais Silva. do Programa de Pós-Graduação em Língua, Literatura e Interculturalidade – POSLLI da Universidade Estadual de Goiás – Campus Cora Coralina que em sua pesquisa analisa a prosódia semântica do item lexical em letras de músicas nacionais.

Achamos válido esse cruzamento de dados das letras de música com as produções acadêmicas por ambos serem textos de circulação social e com potencialidades enriquecedoras paras as práticas de ensino de Geografia.

3.1.3 Wordsmith Tools

Wordsmith Tools é um software utilizado na análise de linguagem, especialmente na área de linguística de corpus. É uma ferramenta que permite a análise de grandes conjuntos de dados textuais, possibilitando a extração de informações importantes sobre o uso da linguagem, como frequência de palavras, colocações, padrões gramaticais e semânticos. Entre os recursos principais dessa ferramenta, destacam-se a capacidade de fazer buscas por palavras, a análise de frequência de termos e de colocações, a identificação de padrões gramaticais, permitindo a visualização de dados através de gráficos e tabelas.

O Wordsmith Tools é importante para essa pesquisa, pois permitirá a análise sistemática de grandes volumes de dados textuais, facilitando a identificação de palavras-chave da Geografia nas produções acadêmicas e nas letras de música.

3.1.4 BNCC

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento que estabelece os objetivos de aprendizagem para a Educação Básica em todo o território nacional. A BNCC estabelece inúmeras competências e habilidades que os estudantes devem desenvolver em cada área de conhecimento ao longo de sua formação escolar. Esse documento é importante e destaca uma série de orientações sobre as habilidades que devem ser desenvolvidas, os conteúdos que devem ser trabalhados e as estratégias que podem ser adotadas para o ensino na educação básica.

A BNCC foi importante para esta pesquisa, pois ela fornece uma base sólida e atualizada de informações sobre o que deve ser ensinado em cada etapa do ensino, inclusive na disciplina de Geografia. Ainda mais, a BNCC permite a identificação de competências e habilidades que devem ser desenvolvidas pelos estudantes.

O desenvolvimento dessas habilidades e competências são fundamentais para a construção de um ensino mais significativo e em sintonia com as demandadas sociedade atual. Partindo da BNCC, podemos escolher e examinar cuidadosamente os conteúdos a serem abordados em cada fase do processo de ensino, assim como as abordagens metodológicas que podem ser utilizadas para assegurar que a aprendizagem seja mais eficaz e sejam significativas para os estudantes.

A educação brasileira tem passado nos últimos anos por profundas transformações, e, tem colocado o aluno como protagonista da construção do próprio conhecimento (BRASIL, 2018). O aluno não é mais visto como um receptáculo vazio à espera de que a escola o preencha com o conhecimento necessário a ponto de se tornar um cidadão crítico e responsável. Nesse sentido, vemos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2018, p. 359) que estudar Geografia é uma oportunidade para compreender o mundo em que se vive, na medida em que esse componente curricular aborda as ações humanas construídas nas distintas sociedades existentes nas diversas regiões do planeta.

3.2 Procedimentos metodológicos

A fim de ter acesso a essas produções científicas, utilizamos do portal digital Domínio Público, uma biblioteca digital mantida pelo governo brasileiro, através do Ministério da Educação, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), cujo objetivo se volta na disponibilização gratuita e facilitada produções científicas que já estão em domínio público, ou seja, que não estão mais protegidas por direitos autorais e podem ser utilizadas e reproduzidas.

Para ter acesso a somente a produções correlacionadas ao nosso objeto de estudo, aplicamos dois filtros disponíveis na plataforma. O primeiro filtro onde foi possível selecionar a área de conhecimento, no caso em questão a Geografia foi escolhida.

Em seguida, podemos selecionar o nível acadêmico dessas produções científicas. Como resultado, coletamos 1095 dissertações de mestrado e 248 teses de doutorado, de várias Instituições de Ensino Superior – IES, espalhadas por todos os rincões brasileiros. Todas as produções acadêmicas citadas anteriormente fazem parte do corpus e são válidas para o cruzamento e análise faz informações.

 Após download de todas as letras de música disponíveis no corpus, convertemos as letras em formato de texto e compilamos as palavras em uma planilha que calculou o número de vezes que cada palavra aparecia no corpus.  Feito isso, pudemos computar a quantidade de vezes que cada palavra aparecida nas letras nos diferentes estilos música.

Análise das palavras extraídas das letras de música ordenadas na tabela, foi possível selecionar os termos que estão presentes nos conteúdos de geografia e nas letras de música, dando a potencialidade de compreensão de quais letras e estilos de música podem ser usados em sala de aula.

Utilizando o conjunto de palavras-chave e selecionado anteriormente, será possível a análise das letras de música em busca de conceitos aplicados a Geografia, bem como os estilos de música que trazem e narram determinados conteúdos trabalhados por esse componente curricular.

 O que nos dará abertura para criar uma lista de conceitos relevantes que possam ser explorados no contexto didático-pedagógico, uma espécie de sequência didática que poderia ser utilizada pelos professores de Geografia em suas práticas de ensino,

O software WordSmith Tools foi utilizado para realizar a análise de corpus e identificar as palavras-chave. Para isso, foram utilizados os seguintes procedimentos em relação ao corpus, onde as letras de música foram coletadas da plataforma digital Vagalume e foram compiladas em arquivo TXT e preparado para a análise no WordSmith Tools.

O software permitiu a análise de frequência dos termos, o que permitiu identificar as palavras mais comuns no corpus de letras de música. As palavras foram ordenadas por frequência e as mais comuns foram consideradas como as palavras-chave.

Após a análise da frequência, foi possível fazer a análise de Concordância. A análise de concordância foi realizada para verificar como as palavras-chave foram utilizadas nas letras de música. Foram examinados os contextos em que as palavras-chave apareceram e como elas foram combinadas com outras palavras e contextos.

Os resultados da análise de frequência mostraram que as palavras-chave mais comuns nas letras de música, aos quais podem ser encontradas nos apêndices desse artigo. A análise de concordância mostrou como essas palavras foram utilizadas nas letras de música, mostrando diferentes contextos e combinações.

‘Para identificar os conceitos geográficos presentes em produções acadêmicas, dissertações e teses definimos um recorte temporal para fazer a coleta de textos científicos e produções acadêmicas disponíveis no Portal Domínio Público.

Consideramos ser de importância analisar esses conceitos, pois fazem parte ou farão parte da Geografia escolar, visto que se trata de uma disciplina orgânica. Foram coletadas 1095 dissertações e 248 teses. Vale ressaltar que esse quantitativo de produções acadêmicas compõem o corpus desse trabalho. Em seguida utilizamos do programa CONVERTIO para converter os textos de PDF para TXT, o qual seria possível após conversão, identificar e filtrar conceitos geográficos específicos, aos quais estão disponibilizados no apêndice.

Para fazer a leitura do mundo em que vivemos, com base nas aprendizagens em Geografia, os alunos precisam ser estimulados a pensar espacialmente, desenvolvendo o raciocínio geográfico.”. Entendemos que um ensino de Geografia que não leva em consideração a vivência do aluno, que não o considere como um ser ativo, está fadado ao fracasso.

A respeito à metodologia de ensino de geografia, a BNCC destaca a importância de um ensino que proporcione ao aluno o desenvolvimento de habilidades e competências relacionadas à leitura e interpretação do espaço geográfico, bem como à compreensão das dinâmicas socioambientais.

A BNCC sugere que a metodologia de ensino de geografia seja pautada em práticas que permitam aos alunos a observação, análise e reflexão sobre as relações entre os diferentes elementos que compõem o espaço geográfico. Isso pode ser feito, por exemplo, por meio da leitura, estudos de casos, pesquisas de campo, análise de mapas e imagens, debates em grupo, entre outras estratégias que incentivem a participação ativa dos alunos no processo de aprendizagem.

Partindo dessa premissa, a análise das habilidades e competências cobradas na BNCC se fazem importantes para essa pesquisa, pois após a sua promulgação não tem mais como pensar estratégias de ensino que não considere o aluno e suas habilidades. Então afim de propor qualquer metodologia, o professor deve estar atento as realidades do seu alunado.

Precisamos então, ao pensar em letras de música como práticas de ensino levar em consideração os documentos que norteiam a Educação Básica e os currículos das respectivas redes de ensino. 

4 RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS

Existem diferentes potencialidades no uso de letras de música em aulas de Geografia. A utilização da música tem como objetivo a ressignificação dos conteúdos geográficos, estabelecendo uma conexão entre o aprendizado e a vida cotidiana do aluno.

 A música é vista como um recurso metodológico que aproxima o aluno dos conteúdos trabalhados, principalmente quando a letra da música apresenta elementos comuns ao cotidiano dos estudantes. O uso da música permite uma análise das relações entre a música e o ensino, criando empatia com os alunos e despertando curiosidade e interesse em participar.

Além disso, o uso da música permite a problematização e análise dos aspectos históricos, culturais, econômicos, políticos, sociais e ambientais. Os autores citados anteriormente, na fundamentação teórica desse artigo, concordam que a música não substitui a literatura ou o estudo dos textos clássicos, mas serve como uma ponte para conectar professor e aluno.

O corpus que continha 126.296 palavras extraídas das letras de música de diversos estilos, um total de 69.620 músicas, enumerados na tabela abaixo:

Tabela 1 – Tipologia das Letras de Música do Córpus.

 EstiloArtistas (N)Músicas (N)Types[3]Tokens[4]
1Axé515.49022.3381.555.418
2Black Music5084517.127283.503
3Bossa Nova243.63823.390458.255
4Clássico671312.376121.424
5Country303.19716.666489.046
6Dance54225.07991.740
7Disco2124271.178
8Eletrônica15652.05011.406
9Emocore135684.97499.901
10Forró491.22310.141183.639
11Funk292345.11539.344
12Funk Carioca5081610.195164.220
13Gospel Religioso512.53816.124387.192
14Hardcore153325.92451.726
15Have Metal23576.03650.760
16Hip hop461.41229.300673.022
17Infantil504.77629.616732.708
18Jazz122684.05129.037
19Jovem Guarda182.51915.313358.857
20MPB474.47430.232613.621
21Músicas gaúchas32095.20337.149
22Pagode503.99417.803619.419
23Pop393.72621.337588.62
24Pop Funk83534.49465.530
25Pop Rock452.62919.728385.804
26Psicodélia2461.1194.250
27Rap492.38635.4101.072.536
28RB332856.53273.527
29Reggae471.86416.766353.594
30Reggaeton7681.8959.641
31Regional423.97631.770744.454
32Rock422.93421.244492.234
33Rock Alternativo249339.811153.345
34Rockabilly014134316
35Samba474.29521.751543.633
36Samba enredo361.85513.908276.764
37Sertanejo521.1319.913162.275
38Soul172795.22542.222
39Surf Music103933.88473.271
40Tecno Pop3751.67617.883
41Trap3442713.516151.727
42Velha Guarda233.64416.348366.741
43Word Music122154.19934.111
  Total: 3.468Total: 69.620  

Fonte:  Silva (2023)

Após o processo em que Wordsmith Tools converteu as letras de música do corpos em palavras-chave pudemos analisar quais eram mais recorrentes, bem como a sua presença para a Geografia.

 Vale ressaltar que esses termos não são exclusivos da geografia, a quantidade de vezes que os termos aparecem no corpus foi analisada de forma polissêmica. Selecionamos 55 termos com relação na Geografia e listamos na tabela abaixo 10 termos com grande número de vezes que aparecem no corpus, selecionando também os estilos que cada termo aparece mais. Achamos válida essa análise na intenção de descobrir, mesmo que para escritos futuros, quais estilos de músicas mais contempla conteúdos das Geografia e que possuem potencial de serem utilizados nas práticas de ensino desse componente curricular.

Tabela 1 – Dados do córpus

TermoAxéBossa-novaCountryForróFunkRapSertanejo
lugar8753314724781062644398
mundo8283164234340765218683698
meio42815671851215429105911265
água78174254961871784
pessoas5676985029511332106
estado3853102775
verão2927111314111126
sertão13199492281
humano2916128082
espaço21429142549117257

Fonte: Org.: Leite (2023)

Em relação aos diversos estilos de música podemos identificar vários conceitos geográficos em suas letras, a exemplo, temos o sertanejo, sobretudo o sertanejo raíz, que faz referência ao modo de vida no campo, bem como as transformações socioespaciais do espaço agrário, comtemplando conteúdos como: Interação sociedade-natureza: os impactos ambientais, o uso e a conservação do solo, da água e da cobertura vegetal; as mudanças climáticas; Sociedade industrial e o ambiente; o atual período técnico científico informacional na agricultura e na indústria: inovações tecnológicas, fluxos de capital e de informações;  população e industrialização e urbanização brasileira, modo de vida hábitos culturais no campo, a agricultura transformações recentes.

O trecho da canção abaixo, a qual compõe o corpus, é um exemplo da potencialidade que as letras de música possuem na hora de trabalhar alguns conceitos da Geografia escolar.

“De que me adianta viver na cidade, se a felicidade não me acompanhar? Adeus, paulistinha do meu coração, lá pro meu sertão, eu quero voltar. Ver a madrugada, quando a passarada, fazendo alvorada, começa a cantar. Com satisfação, arreio o burrão, cortando estradão, saio a galopar e vou escutando o gado berrando, sabiá cantando no jequitibá”.

(Saudades da minha Terra. Composição: Goiá e Belmonte)

A partir da leitura e análise da letra dessa música, e até mesmo a possibilidade de ouvir essa canção durante a aula tem potencialidades ao se trabalhar determinados conteúdos. As lembranças apresentadas pelo eu lírico do trecho acima, bem como a sua identificação com o sertão, são elementos que fazem com que o local citado possa ser classificado como: um lugar de identificação cultural.

Outro exemple de letra de música que pode ser usada nas práticas de ensino é a canção “Meu Reino Encantado”. Uma música interpretada pelo cantor sertanejo Daniel. Essa música foi lançada no ano 2000 e seu texto evoca um sentimento nostálgico e de saudade.

Meu Reino Encantado (Daniel – part. José Camillo)

Composição: Valdemar Reis / Vicente Pereira Machado

A análise da letra dessa música também poderia ser usada pelo professor para trabalhar temáticas referentes ao processo de urbanização brasileira em seus diferentes contextos, as relações campo-cidade, bem como o êxodo rural. Haja visto que,  a letra da música retrata a história de um homem que relembra com carinho o seu passado e a infância vivida na “roça”. O eu-lírico descreve esse lugar é descrito como um refúgio de sonhos e fantasias, onde tudo era mais simples e feliz. O eu-lírico na música expressa sua vontade de voltar para esse lugar e revive as lembranças da infância, dos amigos e dos momentos felizes que ali experimentou, no entanto, tal possibilidade não seria possível devido ao êxodo rural e estrutura fundiária do espaço agrário brasileiro.

A saber que a música é uma manifestação cultural que narra aspectos da identificação do sujeito com o espaço e em relação ao modo de vida. Notamos de antemão que o estilo da música sertaneja, sobretudo o sertanejo caipira, contempla conteúdos relacionados as tradições rurais, as relações humanas e as dinâmicas sociais, econômicas e políticas do espaço rural. Listamos abaixo alguns conteúdos que têm potencialidades na música sertaneja.

  1. Paisagem natural: Algumas letras de música sertaneja trazem para reflexão as belezas naturais do campo, e seus elementos naturais como rios, montanhas, árvores e animais. Esses elementos são necessários para compreender as paisagens e suas respectivas transformações.
  2. Agricultura e Pecuária: As letras de música sertaneja frequentemente mencionam a vida no campo, as atividades econômicas que se desenvolvem no espaço agrário. A compreensão dessas atividades se faz necessário a fim compreender as realidades macroeconômicas do Brasil.
  3. Regionalismo: Algumas músicas sertanejas retratam as tradições, costumes e hábitos de uma região específica, o que pode nos auxiliar na identificação e compreensão da diversidade cultural do país e as peculiaridades de cada lugar.
  4. Migrações: Algumas letras de músicas sertanejas trazem para o debate assuntos ligados a saudade da terra natal, a busca por novas oportunidades em outras regiões ou a chegada de imigrantes em uma cidade grande, do próprio êxodo rural. Histórias que possuem relações com as dinâmicas populacionais das migrações internas e da ocupação do território.
  5. Problemas Sociais: A música a sertaneja retrata questões sociais como a desigualdade, a pobreza, a violência e a falta de acesso a recursos básicos, e expropriação de terras, bem como outros conflitos presentes no espaço agrário.

Outro exemplo de letra de música com potencialidade para as práticas de ensino é O funk e rap, apesar de não serem estilos musicais propriamente brasileiros, tem se popularizado bastante a partir da década de 1990 até os dias atuais. Esse estilo musical descreve os hábitos e o dia a dia de uma população urbana (suburbana), bem como suas lutas em um espaço urbano doente cujo patógeno é marcado pela segregação socioespacial. Conceitos geográficos como migrações pendular, desigualdade social e luta de classe ganham vida nas vozes de artistas desses estilos musicais.

Citamos a seguir exemplos desse tipo de músicas com potencialidades para a prática de ensino. São quatro letras classificadas como rap e quatro classificadas como funk. Esses estilos possuem uma abordagem mais contemporânea, no entanto, ressaltamos que o professor deve analisar com cautela essas letras, haja vista que a linguagem que aparece nas letras muitas das vezes não são apropriadas para sala de aula, sobretudo se as práticas docentes estiverem inseridas em um contexto mais tradicionalista.

Rap:

  1. “Favela Vive” – MV Bill: Essa música traz para o debate a realidade das favelas, das comunidades periféricas dos grandes cetros urbanos, abordando as questões sociais relacionadas à desigualdade urbana.
  2. “Malandragem dá um Tempo” – Racionais MC’s: Seus versos expõem a violência urbana, exclusão social e a realidade das periferias.
  3. “A Rua é Noiz” – Emicida: Sua letra relata a importância das ruas como espaços de resistência e expressão cultural, sobretudo de uma população marginalizada[5].
  4. “O Homem na Estrada” – RZO: Expõe as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores migrantes que se deslocam em busca de oportunidades.

Funk:

  1. “Rap da Felicidade” – Cidinho e Doca: A música cita a alegria e os aspectos da cultura das comunidades do Rio de Janeiro.
  2. “Parado no Bailão” – MC L da Vinte e MC Gury: Mostra as dinâmicas dos bailes funk e a ocupação dos espaços urbanos.
  3. “Baile de Favela” – MC João: Relata a cultura dos bailes funk e sua importância cultural na periferia.
  4. “Vai Malandra” – Anitta, MC Zaac e Maejor ft. Tropkillaz e DJ Yuri Martins: Mostra a estética das favelas e a valorização da cultura popular.

Na bossa-nova e na MPB percebemos vários comportamentos do povo brasileiro, observamos desde assuntos relacionados a cultura do brasileiro da segunda metade do século XX, até assuntos relacionados às pautas de conservação e preservação do meio ambiente. A seguir, listamos seis composições que possuem temas relacionados a questões sociais do Brasil, dentre outros assuntos. que abordam diferentes temáticas.

  1. “Construção” – Chico Buarque: Onde a letra relata as condições de trabalho dos operários em uma construção civil. Temas como como urbanização, desigualdade social e exploração da mão de obra nos centros urbanos podem ser analisados nessa composição.
  2. “Cálice” – Chico Buarque e Gilberto Gil: Essa música tece críticas metafóricas a respeito dos contextos de opressão e repressão ocorridos durante o período da ditadura militar no Brasil.
  3. “O Bêbado e a Equilibrista” – Elis Regina: A música expões os anseios de esperança e liberdade, fazendo relações com a luta pela democracia no Brasil. A música também menciona a geografia em seus versos ao descrever as paisagens e lugares como o Pão de Açúcar e a cidade de Mariana.
  4. “Paisagem da Janela” – Lô Borges: A música descreve com alto nível de detalhes as paisagens do estado de Minas Gerais, expondo as relações entre o ambiente natural e a vida cotidiana das pessoas que se fazem presentes nesse espaço.
  5. “O Cio da Terra” – Milton Nascimento: Essa canção expõe relação dos seres humano com a natureza, enfatizando  a importância de preservar e valorizar o meio natural.
  6. “Sobradinho” – Sá e Guarabyra: Aborda os contextos da construção da barragem de Sobradinho, no Rio São Francisco, e suas consequências ambientais e sociais, sobretudos para os povos ribeirinhos.

Utilizando-se da análise de um corpus composto por letras de música brasileira, é possível observar a riqueza linguística e cultural do país. Ao mapear as palavras mais frequentes e as temáticas abordadas nas canções, podemos notar a importância dada às diferentes caracterizações e conceitos referentes a Geografia escolar.

Dadas às recente e aceleradas mudanças sociais, políticas e econômicas impostas pela globalização, faz-se necessário uma conscientização crítica por parte do professor de Geografia, que, por sua vez, promove o pensamento crítico em seus alunos.

A música pode ser uma alternativa que a aproxima o aluno a suas aprendizagem. assuntos como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) podem ser abordados através da musicalidade, haja visto que, muitas composições musicais fazem abordagens  a esses objetivos.   Há muitas maneiras que a temática dos ODS são expostos na música.

Algumas músicas têm a potencialidade de promover a conscientização das pessoas sobre as questões sociais, políticas e ambientais, que são tópicos alinhados aos ODS. Essas canções  podem promover conscientização e engajamento, visto que, expõem mensagens sobre luta contra a pobreza, a desigualdade de gênero, combate à pobreza, proteção do meio ambiente, entre outros temas.

Algumas letras de músicas tendem a inspirar as pessoas em relação ao um futuro melhor e preservar o planeta. Essas músicas abordam os ODS de forma indireta, no entanto pode motivar os ouvintes transmitindo esperança e otimismo.

A música é uma forma de arte, sabemos que a manifestação artística, muita das vezes, é um instrumento de denúncia e crítica social. As letras de músicas denunciam as desigualdades, injustiças e problemas socioambientais. Algumas canções tratam da diversidade étnica, social, política e cultual, trazendo para os holofotes assuntos ligados a inclusão e a igualdade. Essas músicas podem ser úteis a fim buscar reflexões sobre à diversidade, igualdade e respeito pelos direitos humanos, que também são pautas dessa agenda global.

Ressaltamos que  a presença dos ODS na música pode sofrer variações que podem ser simbólica e não abordagem mais direta e explícita. A análise, a reflexão e a problematização das letras e a conexão com os ODS podem dependem do contexto e objetivos quanto sua utilização em sala de aula. As mensagens explícitas e implícitas na música variam de acordo com as percepções individuais dos ouvintes.

Ao mesmo tempo, a educação geográfica contribui para a formação do conceito de identidade, expresso de diferentes formas: na compreensão perceptiva da paisagem, que ganha significado à medida que, ao observá-la, nota-se a vivência dos indivíduos e da coletividade; nas relações com os lugares vividos; nos costumes que resgatam a nossa memória social; na identidade cultural; e na consciência de que somos sujeitos da história, distintos uns dos outros e, por isso, convictos das nossas diferenças.

A partir da compreensão da Geografia por meio da linguagem, é possível identificar os discursos e as narrativas que sustentam determinadas práticas e ideologias, e como elas são utilizadas para justificar ações e políticas que afetam o espaço geográfico. Isso permite uma reflexão crítica sobre a realidade.

A música brasileira possui grande diversidade de estilos, exprimem diferentes sentimentos e descrevem os modos de vida do povo brasileiro em vários contextos sociais, políticos, econômicos e culturais. 

 Alguns objetos de conhecimento da geografia como aspectos e dinâmicas sociais, culturais, políticas, econômicas e ambientais, dentre outros que são cobrados pela BNCC podem ser trabalhados a partir da análise e interpretação de letras de músicas, haja visto que a música é um texto de circulação social, uma prática de linguagem que se aproxima da realidade dos alunos.

Desde as praias do Nordeste até as montanhas do Sul, desde os sertões da região central do Brasil até os grandes centros urbanos, diferentes contextos e práticas relativos à diversidade de paisagens e culturas é retratada nas letras das músicas.

É necessário e é importante ressaltar que a diversidade de temas, assuntos e conceitos geográficos também pode gerar desigualdades e conflitos regionais, que muitas vezes observados nas letras das canções. É necessário um olhar crítico por parte do professor regente sobre essas representações, a fim de compreender melhor as dinâmicas sociais, políticas e geográficas.

A análise de letras de música brasileira a partir de uma perspectiva linguística e geográfica pode nos proporcionar uma compreensão mais profunda da cultura e da sociedade brasileira, bem como um incentivo para refletir sobre as questões de desigualdade políticas, econômicas, socioambientais e diversidade presentes em nosso país.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ensino em ciências humanas deve considerar seu alunado como orgânico, parte de um conjunto maior, capaz de moldá-lo segundo os códigos socialmente impostos. Logo, a Geografia escolar, deverá utilizar da análise espacial que tenha o ponto de partida o local, o regional, e por fim, o global (BRASIL, 2018). Ouvir a voz do aluno a fim de entender as suas reflexões faz-se necessário, até mesmo como um instrumento de avaliação que promova a compreensão dos conteúdos – uma reflexão crítica pelo professor.

O documento não descarta o quesito reflexão, advogando que o ensino de Geografia deve permitir aos alunos a reflexão crítica sobre a realidade em que vivem, considerando as múltiplas dimensões do espaço geográfico (social, econômica, cultural, política e ambiental). Para isso, é importante que os alunos sejam estimulados a questionar as informações e os discursos que circulam sobre o espaço geográfico, identificando suas contradições e possibilidades de transformação.

Por fim, a criticidade dever ser considerada, pois através dela que o ensino de Geografia deve contribuir para a formação de cidadãos críticos e participativos, capazes de compreender a realidade em que vivem e atuar de forma consciente e transformadora. Nesse sentido, enfatiza a importância de se trabalhar com temas contemporâneos e relevantes, como a globalização, as desigualdades socioespaciais e as questões ambientais, e de se estimular a participação ativa dos alunos em projetos e ações voltados para a transformação da realidade.

Indivíduos críticos são capazes de pensar por si mesmos e não aceitam as coisas como elas são sem questionamentos. Eles são mais propensos a se envolver em debates e discussões construtivas, buscando soluções para os problemas que afetam a sociedade. Eles também tendem a ser mais conscientes de questões sociais, econômicas e políticas, e a se engajar em ações que visem a mudança social positiva.

Além disso, indivíduos críticos têm uma maior capacidade de análise e interpretação de informações, o que é crucial em uma sociedade cada vez mais complexa e conectada. Eles são capazes de identificar informações confiáveis e tomar decisões com base em fatos e evidências, em vez de opiniões e preconceitos.

Realizar um trabalho pedagógico que envolva assuntos metodológicos sobre determinada disciplina escolar é algo complexo e delicado. Essa temática se torna complexa pois, pelo menos no caso da Geografia escolar, temos muitos conceitos cobrados pela parte documental que estrutura os planos de ensino da disciplina, tais como: Base Nacional Comum Curricular – BNCC, e pouco tempo para diversificar as metodologias utilizadas, uma vez que, a Geografia enquanto disciplina escolar possui carga horária reduzida, 3 horas/aula para o Ensino Fundamental e 2 horas/aula para o Ensino Médio.

É fundamental que os conteúdos ministrados possam ser problematizados, contextualizados e relacionados à vivência dos alunos. Precisa-se observar seus conhecimentos particulares, pois se partirmos do pressuposto de que a melhor forma de motivação está presente no cotidiano de nossos alunos, a utilização da música como metodologia de ensino e aprendizagem é um exemplo satisfatório.

O professor de Geografia deve estar atento. A Geografia Escolar lhe é dada a fama de um componente curricular chato, enfadonho e caracterizado pela decoreba. Defendemos uma prática de ensino que seja estimulante ao aluno em relação as suas aprendizagens, sobretudos aquelas aprendizagens às quais o aluno deve ser protagonista em seu processo.

Sendo assim, há necessidade de adoção de novas práticas de ensino. Utilizamos das letras de músicas, um texto de circulação social, para a análise e interpretações de conceitos geográficos. Cremos que a música se trata de uma linguagem presente no cotidiano dos alunos e de suas relações, mas que muitas das vezes não são levadas em consideração pelas metodologias de ensino do dia a dia escolar.

Ao compreender as potencialidades das letras de músicas alinhadas às práticas de ensino, poderemos propor uma sequência didática e criar materiais pedagógicos que utilizem das letras de músicas para compreensão de conceitos científicos.

A produção de um acervo com conceitos geográficos presentes nas letras das músicas brasileiras é uma proposta interessante para aprimorar a aprendizagem de Geografia. Isso permitirá ao professor a utilização de diferentes linguagens para abordar conteúdos geográficos, o que pode tornar o aprendizado mais atrativo e significativo para os estudantes.

            Para colocar em prática essa proposta, uma sequência didática pode ser elaborada por meio da exploração dos conceitos geográficos relacionados a diferentes temas, como clima, relevo, recursos naturais, população, entre outros.

A partir dos conceitos apresentados, e seleção de músicas brasileiras que tenham letras que abordem esses conceitos. Letras de músicas que tenham uma linguagem mais próxima do estudante tem maiores potencial. Analisar com criticidade as letras das músicas os estudantes deverão analisar as letras das músicas selecionadas, identificando os conceitos geográficos presentes nelas.

Após a análise e identificação dos conceitos, a realização de um debate ou roda de conversa sobre os conceitos identificados, discutindo sua importância e sua relação com a realidade. Tais discussões podem ir além, buscando refletir sobre as possíveis intenções do artista ao incluir esses conceitos na letra da música.

Essa sequência didática pode ser adaptada de acordo com as características da turma e dos conteúdos abordados. A proposta é estimular a criatividade dos estudantes e a relação entre a Geografia e a cultura brasileira.

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) elaborados pela ONU, como parte de sua agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável, com a intenção de proteger o planeta e garantir prosperidade para todos. Buscamos enfatizar os objetivos de números 1, 2, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14 e 15; por entendermos que ambos possuem uma relação direta com o objeto de estudo da ciência geográfica, bem como conceitos geográficos cobrados pela BNCC e DC-GO a serem trabalhados com o Ensino Fundamental II e Ensino Médio. Vale ressaltar que não desconsideramos a viabilidade e importância dos ODSs que não foram citados anteriormente.

A utilização da Linguística de Corpus e do software WordSmith Tools para identificar palavras-chave em letras de música foi uma abordagem eficaz e permitiu a análise de um grande corpus de forma rápida e precisa. Essa abordagem pode ser utilizada em diferentes contextos para analisar diferentes tipos de dados linguísticos.

A construção desse trabalho apresenta uma abordagem sistêmica para identificar palavras-chave em letras de música brasileiras utilizando a Linguística de Corpus e o software WordSmith Tools. A análise de corpus foi realizada em uma coletânea (corpus) de letras de músicas brasileiras de estilos variados e as palavras-chave foram identificadas por meio da análise de frequência e concordância.  Os resultados mostraram que essa abordagem pode ser eficaz para identificar as palavras-chave presentes nas letras de música, e consequentemente, identificar conceitos geográficos.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018.

CORREIA, Marcos Antônio. Representação e ensino a música nas aulas de geografia: Emoção e razão nas representações geográficas. 2009.

DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. Autores Associados, 2021.

DOMÍNIO PÚBLICO. Home page. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/. Acesso em: 17 abr. 2023

FÉLIX, Geisa Ferreira Ribeiro; SANTANA, Hélio Renato Góes; OLIVEIRA JUNIOR, Wilson. A música como recurso didático na construção do conhecimento. Cairu em Revista, v. 3, n. 4, p. 17-28, 2014.

GODOY, Moema Lavínia Puga de. A música, o ensino e a geografia. Uberlândia, Universidade Federal de Uberlândia, Curso de Graduação em Geografia, v. 44, 2009.

MENEZES, Gilda; TOSHIMITSU, Thaís; MARCONDES, Beatriz. Como usar outras linguagens na sala de aula. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2007.

MUNIZ, Alexsandra. A música nas aulas de Geografia. Revista de Ensino de Geografia, Uberlândia, v. 3, n. 4, p. 80-94, 2012.

PEREIRA, Suellen Silva. A música no ensino de geografia: abordagem lúdica do semiárido nordestino–uma proposta didático-pedagógica. Geografia Ensino & Pesquisa, p. 137-148, 2012.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA. (2015). Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Disponível em:  https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/ Acesso em:

ROMANELLI, Guilherme. Como  a música conversa com  as  outras áreas  do conhecimento.  Revista Aprendizagem, Pinhais, n.14, p.24­25, 2009. 

SANTOS, Milton. Por uma geografia nova: da crítica da geografia a uma geografia crítica. Edusp, 2022.

SILVA, Renágila Soares da et al. A importância da música nas aulas de geografia: práticas e métodos diferenciados no uso da música como metodologia de ensino nas aulas de geografia. 2015.

VAGALUME. Home page. Disponível em: https://www.vagalume.com.br/. Acesso em: 17 abr. 2023.

ZUBA, Janete Aparecida Gomes. O ensino da geografia na atualidade: Desafios e perspectivas. Revista Cerrados, v. 4, n. 01, p. 109-118, 2006.

APÊNDICES

Tabela 1 – Palavras-chaves da Geografia encontradas nas produções acadêmicas.

 TERMOFREQUÊNCIA
1ESPAÇO115039
2ÁREA112315
3PRODUÇÃO100397
4DESENVOLVIMENTO91334
5ÁREAS81727
6REGIÃO77558
7PROCESSO89121
8MUNICÍPIO67381
9SOCIAL76512
10POPULAÇÃO60442
11AMBIENTAL59768
12ÁGUA54005
13TRABALHO98755
14TERRITÓRIO52467
15CIDADE107450
16URBABA50318
17LOCAL52656
18ESTADO87912
19POLÍTICA43601
20RURAL42566
21TURISMO37653
22RECURSOS47800
23SOLO41680
24BRASIL75911
25AGRICULTURA32139
26PLANEJAMENTO27657
27ESPACIAL27205
28MERCADO30238
29ECONOMICA25043
30PAISAGEM30040
31REGIONAL25490
32COMUNIDADE25676
33SOCIEDADE51420
34RESÍDUOS21495
35CULTURA26963
36RENDA26363
37ÁGUA19823
38MAPA23366
39CONSUMO20985
40AGRÍCOLA19155
41INDUSTRIAL21063
42TRANSPORTE21530
43VEGETAÇÃO17233
44BAIRRO23057
45COMÉRCIO16402
46PARQUE20036
47ELEMEMTOS24889
48REDE25792
49ZONA20026
50ESCALA18734
51URBANIZAÇÃO13468
52TÉCNICA13128
53IMPACTOS13027
54IDENTIDADE13673
55HÍDRICOS12359
56TERRITÓRIOS11824
57LIXO11542
58CIRCULAÇÃO9875
59CAPITALISMO9402
60RELEVO12387
61ASSENTAMENTOS825
62HABITANTES12368
63POPULACIONAL7738

Fonte: Org.: Leite (2023)


[3] Para a linguística, o termo “types” faz referência aos diferentes elementos ou unidades discretas que compõem o vocabulário de um idioma. Em outras palavras, types são as palavras únicas e distintas encontradas em um determinado texto, corpus ou conjunto de dados. Cada type representa um item lexical único, não dependendo de quantas vezes ele ocorra.

[4] Para a linguística, um token é uma unidade individual de texto, que pode ser uma palavra, um caractere, um número ou qualquer outra unidade de significado. Os tokens são unidades discretas resultantes da tokenização, processo em que um texto é dividido em partes menores para análise ou processamento.

[5] O termo “população marginalizada” foi empregado para fazer referência a uma parcela da sociedade que vive em condições econômicas menos favorecidas. Vale ressaltar que esse termo não foi empregado como sinônimo de criminalidade.


1 Aluno regular do Programa de Pós-graduação Lato Sensu em Linguagens e Práticas de Ensino da Universidade Estadual de Goiás/Câmpus Sul – Sede: Morrinhos. E-mail: gabrielleitepnn@hotmail.com.

Trabalho final apresentado como exigência do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em Linguagens e Práticas de Ensino da Universidade Estadual de Goiás/Câmpus Sul – Sede: Morrinhos, sob a orientação do Prof. D.r Eduardo Batista da Silva (UEG/Câmpus Sul – Sede: Morrinhos). A banca examinadora ocorreu no dia 15.05.2023, das 10 h às 12 h, sendo composta pelo referido orientador e pelos seguintes arguidores: Profª. D.ra Talita Serpa (Unesp/Câmpus de São José do Rio Preto) e Profª. D.ra Marília Silva Vieira (UEG/Câmpus Cora Coralina).