FRENECTOMIA LABIAL SUPERIOR PELA TÉCNICA DE ARCHER MODIFICADA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10247291133


Sérgio Alexandre Lima Tavares1
Wilson Déda Gonçalves Júnior1
Igor Rafael Barbosa Do Amaral2
Tatiane Cristina Vieira Souto1
Luiz Ricardo Costa Ribeiro Júnior3
Laila Eduarda De Jesus Gois4
Luana Barbosa Oliveira4
Gabriel Saboya De Aguiar Cachina5
Gisele Silva Calumby1
Luana Mirely Pereira Dos Anjos1
Alysson Luís Santos Zuzarte1
Milena Lima Da Silva6
Ana Cláudia Da Silva7


RESUMO

O artigo a seguir é composto por uma revisão de literatura e apresentação de um relato de caso clínico de um paciente do gênero masculino, de 28 anos, melanoderma, sem alterações sistêmicas ou histórico familiar, que compareceu a CliAGES após tratamento odontológico interrompido. Restou evidenciado após exame clínico intraoral, a presença de freio labial superior hipertrófico ou labial papilar penetrante, bem como presença de diastema, onde foi relatado histórico de uso de aparelho ortodôntico para o fechamento deste, todavia, sem sucesso. Dado o supracitado caso clínico, o presente trabalho tem como objetivo descrever e relatar os procedimentos cirúrgicos que levaram a exitosa remoção de freio labial papilar penetrante ou labial superior hipertrófico. Registre-se que, quando fora dos padrões de normalidade, influencia diretamente na saúde periodontal, funcional, bem como na estética e, consequentemente, na autoestima e qualidade de vida do paciente. Através da Técnica de Archer Modificada, a frenectomia labial superior foi realizada com êxito e o paciente pôde ser encaminhado para o tratamento ortodôntico definido, a fim de um sorriso harmônico e melhora da autoestima.

Palavraschave: Frenectomia. Freio Labial. Técnica de Archer Modificada. Diastema. Ortodontia.

1. Introdução

O presente relato refere-se à experiência obtida dentro da CliAGES no atendimento clínico sob supervisão do Prof. Msc Wilson Déda Gonçalves Júnior realizado no período entre 01 de março de 2021 até 24 de junho de 2021. As atividades realizadas na clínica odontológica envolvem a rotina do profissional odontólogo: a realização de consultas, anamnese, exames físicos e discussões sobre possíveis diagnósticos, além de planejamento de casos e tratamentos odontológicos. O freio labial revela-se como uma dobra da mucosa inserida, estendendo-se até a mucosa de revestimento. Sua origem embriológica se deve as células centrais do remanescente da lâmina vestibular em região mediana, constituindo-se de epitélio, tecido conjuntivo e, em alguns casos, poderá conter fibras musculares. Em recém- nascidos, o freio labial tende a se estender a partir da parte interna do lábio com fim na papila palatina.

2. Desenvolvimento

Entre os períodos 01 de março de 2021 até 24 de junho de 2021, foram atendidos casos clínicos odontológicos na CliAGES, com a finalidade de realização de atendimento odontológico através de consultas, com anamnese, elaboração de plano de tratamento e tratamento odontológico através de profilaxias, raspagens, restaurações, tratamentos endodônticos, cirúrgicos e reabilitadores.

A casuística acompanhada foi ampla, os casos clínicos odontológicos contemplavam essencialmente uma etapa inicial de periodontia para adequação do meio bucal para, em seguida, continuidade do tratamento através das diferentes especialidades odontológicas.Entre os casos clínicos odontológicos, foram pacientes para raspagens, restaurações em resina composta, exodontias, tratamento de canal e cirurgias orais menores, como a frenectomia labial. Sendo esta última a escolhida para relato de caso.

2.1 Relato Do Caso E Procedimento Cirúrgico

Paciente do gênero masculino, 28 anos, melanoderma, compareceu a CliAGES apresentando como queixa principal “dentes que foram feitos tratamento de canal e estão se quebrando”. A anamnese inicial evidenciou a boa saúde geral do paciente, sem alterações sistêmicas ou histórico familiar, além disso não possuía histórico de reações alérgicas a medicamentos ou anestésicos e seus respectivos vasoconstritores.

Após exame clínico intraoral, fora notada o diastema e presença exacerbada de faixa espessa de tecido na região superior com base larga em forma de leque, inserida em papila. Ao realizar o movimento de tração no lábio do paciente, o mesmo produziu isquemia na região (Figura 1). Quando questionado, o paciente relatou que já havia realizado tratamento ortodôntico prévio, contudo, sem sucesso, direcionando o diagnóstico à freio labial hipertrófico ou labial papilar penetrante.

Figura 1. Freio labial hipertrófico ou papilar penetrante em região interincisiva.

Os principais indícios do freio labial hipertrófico ou papilar penetrante apresentados e percebidos foram a presença do diastema, acúmulo de biofilme, limitação dos movimentos do lábio, evidenciando assim a insatisfação do paciente.

Dado o diagnóstico, iniciou-se o planejamento para a frenectomia labial superior através da Técnica de Archer modificada, também conhecida como pinçamento simples ou único. Planejada a cirurgia, realizou-se a antissepsia extraoral com clorexidina a 2%, fazendo uso de uma pinça Allis e de gaze estéril, posteriormente intraoral com digluconato de clorexidina 0,12%, via de bochecho durante 01 minuto.

Posteriormente a anestesia tópica, a anestesia escolhida foi a infiltrativa, sendo aplicada em fundo de sulco, além da região de rebordo em conjunto com a inserção mais baixa do freio e área palatina. Como o paciente não possui nenhum histórico de alergia ou sensibilidade, optou-se pelo anestésico padrão ouro em odontologia, lidocaína a 2% com epinefrina 1:100.000 (Figura 2), com um total de 02 tubetes de uso.

Figura 2. Anestesia infiltrativa com Lidocaína a 2% associada à Epinefrina 1:100.000.

Com a pinça hemostática posicionada no freio, buscou-se a região mais próxima ao fundo do vestíbulo, com sua correta preensão, afastadores de Minnesota e lâmina de bisturi número 15 (Figura 3), foram efetuadas duas incisões com aspiração constante através de um sugador descartável. A primeira incisão sucedeu do fundo de sulco a papila inter-incisiva, sequencialmente do fundo de sulco a porção apical formando então um “V” (Figuras 4, 5 e 6).

Figura 3. Realização do pinçamento do freio labial superior e início da incisão do freio.

Figura 4. Incisão do freio labial superior.

Figura 5. Freio labial superior após incisão.

Figura 6. Freio labial e glândula salivar expostos após remoção.

Com o objetivo de realizar a divulsão tecidual após a remoção das fibras aderidas em área interdental e glândulas salivares menores em região de sutura, optou-se pela tesoura Metzembaun curva devido a sua ponta não-cortante, tornando- se um instrumento menos traumático (Figura 7), irrigando a região com soro fisiológico através de uma seringa de 20 ml.

Figura 7. Divulsão tecidual, rompendo as fibras remanescentes para posterior sutura.

Após a compressão com gaze estéril, promovendo a hemostasia (Figura 8), fez-se uso de um fio de seda 3-0 devido a sua menor rigidez em comparação com o nylon e possível desconforto do paciente em seu pós-operatório, além de uma sutura com pontos simples (Figuras 9 e 10).

Figura 8. Após divulsão, tecido adequado para receber sutura.

Figura 9. Sutura iniciada, cooptando os bordos.

Figura 10. Sutura finalizada.

Ao final do procedimento cirúrgico, o paciente recebeu orientações verbais e por escrito acerca do seu pós-operatório. Em seu receituário havia dipirona sódica de 500 mg, onde o mesmo ingeriria de 06 em 06 horas, durante 03 dias ou em caso de dor.

A remoção da sutura foi realizada após 15 dias (Figura 11), ficando evidente a boa cicatrização e satisfação do paciente, que fora encaminhado para o ortodontista para continuação e finalização adequada do tratamento ortodôntico.

Figura 11. Aspecto evidenciado após 15 dias e retirada de sutura.

2.2 Revisão Bibliográfica

A frenectomia consiste na remoção completa do freio, sendo indicada por diversos fatores individuais ou em conjunto, como de ordem ortodôntica, funcional e periodontal. Tal técnica cirúrgica pode ser empregada pelas mais variadas técnicas convencionais e a técnica a laser, possuindo como principais diferenças, além da sua execução, seu pós-operatório, período e qualidade em cicatrização (LEAL, 2010). As técnicas convencionais possuem um alto índice de previsibilidade, porém, devido à sua área de trabalho, normalmente sua cicatrização ocorre por primeira e segunda intenção em sua região inferior, provocando um maior desconforto (SOUZA et l., 2015; SILVA et al., 2018). A técnica a laser em alta intensidade permite um menor tempo cirúrgico, por conseguinte, diminui também o trauma e edema, mas seu alto custo torna-o um empecilho para a grande maioria dos cirurgiões dentistas (LEAL, 2010).

Cumpre destacar as sete diferentes técnicas cirúrgicas, as quais variam conforme o procedimento a ser adotado na frenectomia. A Técnica de Archer, mais conhecida como dupla pinçagem, faz uso de duas pinças hemostáticas que apreendem o freio, sendo posicionadas na região mais próxima do rebordo alveolar e na região da mucosa labial, ocasionando o toque entre ambas as pinças. A incisão circunda a parte externa da pinça e, logo após a remoção das inserções musculares, suturam-se os bordos incisados. Já a Técnica de Archer Modificada, também denominada de pinçamento simples, vez que utiliza apenas uma pinça hemostática posicionada na bissetriz do freio, facilitando a mobilidade e incisão ao redor, sendo que logo após a remoção das inserções musculares, suturam-se as bordas incisadas (SILVA et al., 2018).

Trata-se a Técnica de Chelotti de uma técnica de reposicionamento, porquanto remove-se a porção que se sobressai, e como não há pinçamento, eventualmente não deixa marcas. A tensão criada pelo tracionamento do freio permite que o cirurgião dentista faça a incisão na região rente ao rebordo seguindo até o limite entre a gengiva inserida e mucosa alveolar, removendo com a lâmina o fragmento em formato triangular e, logo após a desinserção das fibras musculares, sutura-se a região de mucosa labial, permitindo que haja uma região cruenta para posterior epitelização (BRUDER et al., 2015).

Destaque-se, ainda, a Técnica de Wassmund, cuja incisão em formato de cunha contorna o freio labial, perfurando ao redor da ferida com instrumento rotatório para realizar a sutura. Pela Técnica de Mead, após uma incisão em toda a extensão do freio, remove-se com o auxílio de uma tesoura para sutura.

A Técnica de Howe é indicada em freios com inserção mínima em relação à borda gengival livre. A incisão se dá com traçado retilíneo, em linha média vestibular, onde secciona- se em duas porções iguais, mantendo assim intacta a continuidade tecidual. Logo após, fazem- se incisões secundárias, menores nas porções finais da incisão anteriormente realizada, paralelas, mas em sentidos contrários. Por fim, após uma rotação tecidual, os ângulos formados pelas incisões secundárias e a incisão principal ocupam uma nova posição.

Tem-se, ainda, a Técnica a Laser, onde o laser escolhido fará o papel da lâmina com uma maior versatilidade, pois o mesmo corta, vaporiza, coagula e esteriliza todos os pequenos vasos, promovendo uma hemostasia quase que instantânea, ajudando na melhor visualização do campo operatório, menor tempo cirúrgico, com poucas dores, edemas e sem suturas (DÍAZ, et al., 2014).

3. Conclusão

Diante de todos os efeitos e impactos proeminentes de freios labiais patológicos apresentados, em especial no caso clínico exposto, é notório o quão efetiva se faz a frenectomia para correção dos mesmos, ao passo que possibilita um ambiente propício para uma manutenção da saúde gengival, um quadro de melhora em fonética e estética, além do possível fechamento de diastema associado ao trabalho ortodôntico. Somando inúmeros benefícios que acarretam em uma maior qualidade de vida e autoestima melhorada, um paciente e ser humano satisfeito, haja visto o aspecto biopsicossocial da saúde do indivíduo.

REFERÊNCIAS

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1: Departamento De Odontologia, Universidade Federal de Sergipe(UFS), Aracaju-SE, Brasil.

2: Departamento De Odontologia, Centro Universitário AGES, Paripiranga-BA, Brasil.

3: Departamento De Odontologia, Centro Universitário Maurício de Nassau(UniNassau), Aracaju-SE, Brasil.

4: Departamento De Odontologia, Universidade Federal de Sergipe(UFS), Lagarto-SE, Brasil.

5: Departamento de Odontologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte(UFRN), Natal-RN, Brasil.

6: Faculdade de Odontologia, Universidade de Pernambuco(UPE), Arcoverde-PE, Brasil.

7: Departamento De Odontologia, Centro Universitário Maurício de Nassau(UniNassau), Recife-PE, Brasil.ÃO