IMPLEMENTATION OF A VASCULAR ACCESS TEAM IN PALLIATIVE ONCOLOGICAL CARE: EXPERIENCE REPORT
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10247281909
Fernanda Barcellos Santiago [1]
Ana Lucia Abrahão [2]
Resumo
Este relato de experiência visa descrever a implementação de um time de acesso vascular em um hospital de referência para cuidados paliativos do Sistema Único de Saúde localizada na cidade do Rio de Janeiro, com intuito de proporcionar melhor qualidade de vida através de alternativas para infusão medicação a fim de controlar os sintomas que muitas vezes tornam-se de difícil manejo. Busca também, fazer uma reflexão à luz da bioética , sobre a importância da biotecnologia como condutor da melhoria do conforto na realidade dos cuidados paliativos. O time de acesso vascular foi instituído em um Instituto de referência em cuidados paliativos no Rio de Janeiro e a experiência iniciou em janeiro de 2024. O fortalecimento e formação do time de acesso vascular ocorreu por meio de Grupo de trabalho fomentado pela educação continuada, viabilizando formação de condutas, alinhamento de ideias e robustez ao grupo que iniciou com dois enfermeiros e após somente seis meses conta com mais dois enfermeiros e cinco técnicos de enfermagem que produziram: procedimento operacional padrão, manuais e folders explicativos. Espera-se para o futuro, um time de terapia vascular fortalecido e sendo referência em terapia vascular atuando juntamente a educação continuada e agregando novas tecnologias e trabalhando continuamente pautado nas boas praticas infusionais , minimizando os riscos e infecções e principalmente desenvolvendo a autonomia do paciente e melhorando a qualidade de vida .
Palavras-chave: acesso vascular, cuidados paliativos, equipe de enfermagem, educação continuada.
1 INTRODUÇÃO
A infusão endovenosa de fluidos ou medicamentos, é o procedimento mais realizado na realidade hospitalar e pode ser desde um procedimento diagnóstico simples até em pacientes de alta complexidade. ( Souza, et al 2018)
Na realidade dos cuidados paliativos, quando em fase avançada, a evolução da doença é acompanhada de sinais e sintomas de difícil controle, tais como, dor, náuseas, vômitos, anorexia, fadiga, depressão, ansiedade, constipação, entre outros, como a filosofia dos cuidados paliativos visa a melhor qualidade de vida deste individuo, dando suporte tanto para as alterações físicas, emocionais e espirituais , é dever da equipe multiprofissional traçar a melhor maneira de aliviar sintomas, sendo assim os times de acessos vasculares, formados por enfermeiros e com conhecimento especializado em terapia vascular, tornam-se referência para a seleção adequada da via de administração indicando inclusive a instalação de cateter venoso central de inserção periférica ( Trovo, et al 2023)
O time de acesso vascular deve ter como princípios : reduzir as complicações infecciosas e mecânicas de dispositivos intravasculares, reduzir custos hospitalares associados às complicações e consumo de materiais, proporcionar atualização e educação permanente dos profissionais para a prática baseada em evidências, contribuir na elaboração de protocolos ou guidelines relacionados prática infusional, e atender as necessidades do paciente e da instituição quanto à eficácia, segurança e assistência de alta qualidade, otimizando a terapêutica e prestação de um cuidado seguro.( Silva et al 2021)
Acredita-se que para o estabelecimento de uma boa prática em terapia infusional é necessário estabelecer uma organização do trabalho com elaboração de rotinas, de procedimentos, diretrizes práticas ou protocolos que detalhem as ações e tomadas de decisão assim como trabalhar em conjunto com a educação continuada a fim de minimizar os riscos aos pacientes e promover as boas práticas na assistência de enfermagem.( Silva et al 2021)
Partindo dessa reflexão e das dificuldades enfrentadas em nossa realidade como profissionais de saúde paliativistas , o presente estudo tem como objetivo descrever a implementação de um time de acesso vascular em um hospital de referência para cuidados paliativos do Sistema Único de Saúde localizada na cidade do Rio de Janeiro, assim como fazer uma reflexão à luz da bioética , sobre a importância da biotecnologia como condutor da melhoria do conforto na realidade dos cuidados paliativos
2 METODOLOGIA
O método de estudo consiste em um relato de experiência sobre o processo de implementação do time de acesso vascular e sua autonomia e protagonismo no cuidado em um hospital de referência em cuidados paliativos oncológico à luz da bioética.
A proposta abarca a vivência da enfermeira responsável pelo time de acesso vascular, que durante a atuação na internação hospitalar, questionou a possibilidade da inserção do PICC na realidade dos cuidados paliativos visto a ansiedade que gerava tanto na equipe quanto no paciente e cuidadores quando a hipodermóclise não mostrava-se eficaz e ocorria a falência da rede venosa periférica, questionou-se também sobre a retirada do dispositivo PICC quando o paciente era transferido para unidade de cuidados paliativos.
O período da experiência iniciou em janeiro de 2024, com o novo projeto da educação continuada ( grupos de trabalho – GT ) no referido hospital, onde houve organização do grupo e os avanços alcançados até o momento, porém o pensar em alternativas para proporcionar maior conforto aos pacientes com dificuldade de acesso vascular teve inicio em 2019, com a enfermeira líder do time de terapia vascular.
A equipe responsável atualmente é composta por 2 enfermeiros capacitados e habilitados , 2 enfermeiros capacitados e em treinamento para habilitação e ainda com 5 técnicos de enfermagem, todos atuantes na internação hospitalar.
Em posse dessas informações, o relato apresenta a construção textual compreendendo o processo de ensino-aprendizagem constituído no decorrer da implementação do time de acesso vascular.
O desenvolvimento da introdução do cateter de PICC na unidade de cuidados paliativos foi originário do questionamento sobre a prática da introdução do PICC não ocorrer na unidade de cuidados paliativos visto a ansiedade que gera tanto na equipe quanto nos pacientes e familiares quando ocorre a impossibilidade da hipodermóclise ou a rede venosa periférica está esgotada assim como a ocorrência da retirada do PICC quando paciente era deliberado e encaminhado aos cuidados paliativos .
A enfermeira responsável pelo time de acesso vascular, buscou o conhecimento e através de colegas enfermeiros nas demais unidades curativas do Instituto, onde já existe instituída uma comissão de terapia vascular geral, aprimorou a técnica, angariando conhecimento e materiais para a unidade de cuidados paliativos e assim, após a devida habilitação, foi iniciado a introdução do PICC na unidade de cuidados paliativos com apoio e incentivo da divisão de enfermagem e da direção da unidade.
A participação de um membro da unidade de cuidados paliativos na comissão de terapia vascular geral, foi um grande ganho para a unidade, pois foram discutidos propostas para a realidade e especificidade da unidade e elaborado documentos balizadores do cuidado.
Após inicio das punções com PICC na unidade de cuidados paliativos, ocorreu inúmeras obstruções onde foi percebido que haveria necessidade de um alinhamento de condutas com a educação continuada .
Através da educação continuada foi formado um grupo de trabalho ( GT ) onde a incorporação de novos membros para a construção coletiva do “saber em terapia vascular” fosse realizada. Os técnicos de enfermagem integraram o grupo pois são os que lidam diretamente com os cateteres, administram medicações e são a categoria profissional que mais está em contato com o paciente internado.
A criação de um grupo de trabalho organizado fez a produção de implantação de PICC adulto triplicar, além de melhorar a comunicação entre equipe solicitante e equipe insertadora mediante consultorias registradas em pareceres . Na contemporaneidade, o PICC distingue-se como uma escolha segura em terapia infusional. Integrar o “Time do PICC” é um trabalho desafiador que exige disciplina, comprometimento e qualificação do profissional enfermeiro.
Juntamente as ações de organização do time de terapia vascular foi solicitado materiais e insumos a fim de angariar dispositivos e tecnologias relacionados a terapia infusional tais como cateteres, aparelho de ultrassom, curativos, anguladores com apoio da chefia de enfermagem.
Foi organizado também a emissão de parecer técnico para as equipes assistencias, os técnicos de enfermagem atuam como facilitadores neste processo , auxiliam no dia a dia , observando os possíveis paciente e sinalizando via grupo de whatsapp para debate de toda a equipe sobre o perfil do paciente que mais se beneficiariam da utilização do cateter .
Com a missão, o grupo de terapia vascular busca ser uma equipe de referência para o Instituto e desenvolver uma assistência pautada na prevenção, monitoramento e melhoria dos indicadores relacionada a infecções e flebites assim como minimizar sofrimento melhorando qualidade de vida dos pacientes.
Foram elaborados POPs ( protocolo operacional padrão ) de: punção venosa periférica, de PICC e hipodermóclise e foi elaborado um manual de manipulação do PICC com a finalidade de ser utilizados nos demais processos de cuidados da unidade de cuidados paliativos, como serviço de ambulatório e internação domiciliar . Todas essas ações visam padronizar os procedimentos relacionado a terapia infusional dentro do Instituto conforme as evidências cientificas mais atuais.
Definiram-se como atividades principais : a avaliação dos critérios para instalação do dispositivo de PICC, a inserção, as orientações para o paciente e família, a capacitação da equipe de enfermagem, a manutenção do PICC durante a internação.
Todo processo deste trabalho em grupo proporcionou o fortalecimento da proposta da inserção do PICC como alternativa de acesso vascular em cuidados paliativos e proporcionou um empoderammento do grupo evidenciando o protagonismo da enfermagem em cuidados paliativos visando sempre a melhoria do conforto do paciente .
Muito foi discutido sobre a introdução do PICC em cuidados paliativo visto a inquietação de um procedimento invasivo nesta realidade assim como o contra ponto com a hipodermóclise.
A via subcutânea é bastante indicada pois a hipoderme é dotado de capilares sanguíneos, o tecido subcutâneo torna-se uma via favorável à administração de fluidos e/ou medicamentos, uma vez que esses serão absorvidos e transportados à macrocirculação, porem apresenta desvantagens quando paciente: apresenta distúrbios de coagulação, edema e anasarca assim como em situações de emergência, como falência circulatória, desequilíbrio hidroeletrolítico severo e desidratação severa.( Castro, 2021 )
Quando paciente encontra se com necessidade de internação hospitalar apresenta geralmente sintomas de difícil manejo logo precisando de uma avaliação criteriosa sobre qual a melhor via de acesso poderia beneficiar e conduzir para o melhor desfecho possível: conforto. A terapia subcutânea possui indicações específicas porém quando um paciente apresenta sintomas graves como risco aumentado para sangramentos maciços, dor intensa, dispneia importante, deve se pensar em uma via de acesso com mais rápida resposta. ( Moreira, et al 2020 )
Fonte: Ferrari, Limberger. 2021
Muito importante trazer todo tipo de tecnologia disponível para poder debater e ofertar ao paciente que encontra se em cuidados paliativos, permitir que o próprio paciente escolha o que deve ser feito com relação ao seu tratamento e que não haja nenhum tipo de manipulação ou influência que reduza a sua liberdade de decisão. Tavares, Pires e Simões (2011)
O oferecimento de opções de terapêutica vascular além da hipodermóclise ou do acesso venoso periférico em cuidados paliativos e em situação de agravamento de sintomas, tem relação estreita com os princípios da bioética: a beneficência, a não maleficência, a autonomia e a justiça, pois as demandas que permeiam esses cuidados , exigem do profissional uma atenção refinada, sensível e humanizada. (KOERICH, MACHADO, COSTA , 2005)
Os cuidados paliativos não devem negar a biotecnologia, pois eles oferecem uma modalidade de tratamento altamente intervencionista, que utiliza, quando necessário, avançadas propostas para a efetividade do controle de sintomas, que constituem uma resposta ativa aos problemas decorrentes da doença prolongada, incurável e progressiva e a alusão ao princípio da beneficência, que o dever de fazer o bem, de ajudar os outros a ganhar ou a ter o seu benefício, valoriza atingir e manter um nível ótimo de dor, com acesso a toda a medicação necessária, sem sofrimento ou ansiedade . ( WITTMANN, GOLDIM, 2012)
Estudo realizado por Park et al. (2023), ao verificarem a eficácia do uso do PICC ( cateter venoso central de inserção periférica) em comparação ao acesso periférico logo na admissão do paciente em cuidados paliativos, demonstrou que a utilização do PICC apresentou uma melhor qualidade de vida . Contudo é necessário estabelecer ferramentas para indicação do PICC e a fim de amenizar sintomas, como náuseas, vômitos, depressão e outros sofrimentos. O que se deve buscar é a defesa do princípio da beneficência, em que o bem do paciente prevaleça, e que, dessa forma, possibilite-se uma melhora na qualidade de vida dessas pessoas
Aspectos Éticos:
Por se tratar de um relato de experiência profissional, não foi necessário a apreciação pelo Comitê De Ética em Pesquisa
CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
A comissão de terapia infusional busca continuamente o conhecimento e aperfeiçoamente , a experiência nesses primeiros seis meses vem proporcionando um design esperado para o futuro, espera se que nos próximos anos o grupo cresça e fortaleça como referência em terapia vascular atuando juntamente a educação continuada e agregando novas tecnologias e trabalhando continuamente as boas praticas infusionais .
Toda mudanças e inovação na implementação dos cuidados paliativos voltados ao paciente com sintomas difíceis que levam a internação, devem ter maior efetividade e que garanta, através dos benefícios advindos da biotecnologia, a preservação da dignidade humana e uma melhor qualidade de vida, estando esta sempre atrelada aos princípios da bioética..
REFERÊNCIAS
MM Trovo Finitude e cuidados paliativos no envelhecimento. 2024 – books.google.com
MOREIRA, M. R.; DE SOUZA, A. C.; VILLAR, J.; PESSALACIA, J. D. R.; VIANA, A. L.; BOLELA, F. Caracterização de pacientes sob cuidados paliativos submetidos à punção venosa periférica e à hipodermóclise. Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro, [S. l.], v. 10, 2020. DOI: 10.19175/recom.v10i0.4032
CASTRO, M. C. F. et al. Total pain and comfort theory: implications in the care to patients in oncology Palliative care. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 42, p. e20200311, 2011.
SOUZA, C et al. Cuidados de enfermagem com cateter venoso central de inserção periférica na administração de inotrópicos: relato de experiência. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 58, p 23, 2018
SILVA, J., et al. Experiência do cliente com cateter venoso central de inserção periférica. Revista Interdisciplinar de Saúde e Educação 2 (2). 2021
TAVARES, A. , PIRES, C. I., SIMÕES, J. A. Autonomia do idoso: Perspectiva ética, médica e legal. Revista Portuguesa de Bioética, v. 15, p. 329-52, 2011.
FERRARI, L., LIMBERGER, J. Medicamentos na prática clinica de pacientes oncológicos em cuidados paliativos. Disciplinarum Scientia Saúde 22 (1), 315-332, 2021
KOERICH, MS., MACHADO, RR., COSTA, E. Ética e bioética: para dar inicio à reflexão. Texto e Contexto enfermagem, 2005.
WITTMANN, R. , GOLDIM, J. R. Bioética e cuidados paliativos: tomada de decisão e qualidade de vida. Acta paulista de enfermagem 25, 334-339, 2012
PARK, E. et al. Safety, efficacy and patient satisfaction with initial peripherally inserted central catheters compared with usual intravenous access in terminal ill câncer patients. Cancer Research and treatment: oficial jornal of Korean câncer association 53(3), 881, 2021.
[1] Discente do Programa de doutorado acadêmico em ciências do cuidado da Universidade Federal Fluminense ( PACCS ), e-mail: nanda_barcellos@yahoo.com.br
[2] Coordenadora do Programa de Pós graduação Latu sensu de Ciências do cuidados ( PACCS ) . Doutorada em enfermagem. Professora titular da Universidade Federal Fluminense. e-mail: anaabrahao@gmail.com