NATURAL AND SYNTHETIC ESSENTIAL OILS: BENEFITS IN FRAGRANCE INDUSTRY
ACEITES ESENCIALES NATURALES Y SINTÉTICOS: BENEFICIOS EN LA INDUSTRIA DE LAS FRAGANCIAS
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10247231252
Augusto Cezar Mendonça1
Paulo Henrique Fosaluza Bezerra2
Renato Oliveira de Carvalho3
Prof. Dr. Paulo Renato de Souza4
RESUMO
A utilização das frutas tropicais na criação de fragrâncias trata-se de um exercício sensorial à medida que se evidencia como um reflexo da identidade cultural do Brasil. A escolha desse tema justifica-se pela necessidade crescente de ampliar pesquisas na área da Química Industrial, especialmente diante do contínuo avanço no campo da perfumaria, impulsionado pelas constantes inovações na obtenção e aplicação dos óleos essenciais, tanto de origem natural quanto sintética. Sendo assim, o objetivo geral desta comunicação é avaliar a relevância econômica e social dos óleos essenciais e naturais para a indústria nacional de fragrâncias. Metodologicamente, realizou-se uma revisão bibliográfica documental e descritiva em harmonia com uma pesquisa qualitativa e observacional. Sob essa ótica, averiguou-se que a relação entre a perfumaria e a flora brasileira está intimamente ligada à sustentabilidade. A demanda progressiva por ingredientes de frutas tropicais demonstra a notoriedade das práticas de sourcing sustentável e do comércio justo, resultando positivamente na preservação da biodiversidade.
Palavras-chave: Percepção; Aroma; Olfato; Fragrâncias; Óleos Essenciais Naturais e sintéticos.
ABSTRACT
The use of tropical fruits in the creation of fragrances is a sensorial exercise as it is evident as a reflection of Brazil’s cultural identity. The choice of this theme is justified by the growing need to expand research in the area of Industrial Chemistry, especially given the continuous advancement in the field of perfumery, driven by constant innovations in the obtaining and application of essential oils, both of natural and synthetic origin. Therefore, the general objective of this communication is to evaluate the economic and social relevance of essential and natural oils for the national fragrance industry. Methodologically, a documentary and descriptive bibliographic review was carried out in harmony with qualitative and observational research. From this perspective, it was found that the relationship between perfumery and Brazilian flora is closely linked to sustainability. The progressive demand for tropical fruit ingredients demonstrates the notoriety of sustainable sourcing and fair trade practices, resulting positively in the preservation of biodiversity.
Keywords: Perception; Aroma; Smell; Fragrances; Natural and Synthetic Essential Oils.
Resumen
El uso de frutas tropicales en la creación de fragancias es un ejercicio sensorial ya que se evidencia como reflejo de la identidad cultural de Brasil. La elección de este tema se justifica por la creciente necesidad de ampliar la investigación en el área de la Química Industrial, especialmente teniendo en cuenta el continuo avance en el campo de la perfumería, impulsado por las constantes innovaciones en la obtención y aplicación de aceites esenciales, tanto naturales como naturales. y origen sintético. Por tanto, el objetivo general de esta comunicación es evaluar la relevancia económica y social de los aceites esenciales y naturales para la industria nacional de fragancias. Metodológicamente se realizó una revisión bibliográfica documental y descriptiva en armonía con una investigación cualitativa y observacional. Desde esta perspectiva, se constató que la relación entre la perfumería y la flora brasileña está estrechamente vinculada a la sostenibilidad. La demanda progresiva de ingredientes de frutas tropicales demuestra la notoriedad del abastecimiento sostenible y las prácticas de comercio justo, lo que resulta positivamente en la preservación de la biodiversidad.
Palabras clave :Percepción; Aroma; Olor; Fragancias; Aceites Esenciales naturales y sintéticos.
1. Introdução
O termo perfume origina-se do vocábulo latino perfumare, com o significado de encher de fumaça. Desde os tempos mais remotos, os perfumes relacionavam-se com rituais e cerimônias religiosas, por exemplo, povos orientais usavam madeiras e resinas aromáticas como oferenda aos seus deuses. Os egípcios preparavam uma mistura de madeiras (Estoraque, Ônique e Gálbano) trituradas e aglutinadas com mirra e azeite de oliva, que era queimada nos templos, durante as cerimônias ritualísticas.
Nos primeiros anos da Era Cristã, alguns povos tentaram substituir o valor pecuniário do sal, que era utilizado como moeda corrente da época, pelas especiarias aromáticas. Os gregos e romanos mostraram-se tão aficionados por perfumes que lhes atribuíam valor superior ao da seda pura e, até, ao do ouro (MONTERO, 2013), mostrando assim sua relevância mercadológica em tempos passados.
No anfiteatro romano, durante os espetáculos, costumava-se manter o ar ambiente constantemente purificado, fazendo-se correr, das fontes de mármore, as águas perfumadas com óleos essenciais puros, constituindo dessa forma uma demonstração de poder e riqueza do grande Império. A nobreza romana disputava a peso de ouro os melhores artesãos perfumistas, para desfrutar com exclusividade das mais raras fragrâncias que eles elaboravam.
Foi na Índia e Arábia que surgiram os primeiros perfumistas medievais. O médico árabe, Abu Ali al-Hysayn Ibn Sina (980-1037), também conhecido como Avicena, descobriu por acaso os princípios básicos da destilação a vapor, enquanto pesquisava poções medicinais com flores e madeiras aromáticas. Essa descoberta propiciou, mais tarde, não apenas a obtenção rápida de muitos óleos essenciais, mas, sobretudo, a fabricação do álcool, conhecido no século XVIII como espírito de vinho, utilizado até hoje na preparação de perfumes (BAYAN, 2019). Estes óleos essenciais são definidos como misturas complexas de compostos voláteis extraídos de plantas (BIAZZO; ALMEIDA, 2018), caracterizados por suas propriedades aromáticas (BRASIL, 2019), e são utilizados em diversas aplicações, incluindo aromaterapia, medicina e cosméticos (JIMENEZ; MENDES, 2020).
Os óleos essenciais e especiarias, empregados nos perfumes europeus, eram oriundos do oriente. Somente após as Cruzadas, a milenar arte de elaboração dos perfumes transferiu-se do seu berço oriental para Inglaterra, França e posteriormente Alemanha. Estes países aperfeiçoaram-na, desenvolveram novas técnicas de cultivo e de colheita destas plantas aromáticas, criaram processos de extração de óleos essenciais e conseguiram novas composições aromáticas. No continente americano, o uso de perfumes chegou com os colonizadores europeus. Todos os produtos comercializados no Novo Mundo procediam da Europa. A produção de perfumes no Brasil teve início durante o período colonial, por volta do século XVI. Com a chegada dos colonizadores portugueses, foram introduzidas plantas exóticas e matérias-primas aromáticas no país, que eram utilizadas tanto para fins medicinais quanto para a produção de perfumes e fragrâncias (SANTOS et al., 2022).
Ao longo dos séculos, o Brasil passou a desenvolver sua própria indústria de perfumes, aproveitando a rica diversidade de ingredientes naturais disponíveis no país, como óleos essenciais extraídos de plantas amazônicas, frutas tropicais e flores exóticas. Esses recursos naturais contribuíram para a criação de fragrâncias únicas e distintas, que conquistaram reconhecimento tanto no mercado interno quanto no internacional. No período contemporâneo, o Brasil é considerado um dos principais produtores de perfumes do mundo, com várias empresas nacionais e marcas renomadas que exploram a biodiversidade e a cultura brasileira em suas criações. A produção de perfumes no país continua evoluindo, incorporando técnicas inovadoras e sustentáveis, além de valorizar ingredientes locais e a expertise dos perfumistas brasileiros (BAYAN, 2019). Sendo assim, a escolha dessa temática se justifica em razão da demanda crescente por maiores investigações direcionadas para a área da Química Industrial em conjunto com o progresso do segmento da perfumaria decorrente dos avanços na obtenção e na aplicabilidade tanto dos óleos essenciais naturais quanto sintéticos.
Para tanto, este estudo tem como objetivo geral avaliar a relevância econômica dos óleos essenciais e naturais para a indústria nacional de fragrâncias. Em relação aos objetivos específicos, espera-se caracterizar conceitualmente os perfumes, descrever as diferenças entre os óleos essenciais naturais e sintéticos e evidenciar os pontos benéficos do uso de frutas tropicais do Brasil na perfumaria.
A questão-problema norteadora para esta averiguação advém da seguinte indagação: Como a utilização de óleos essenciais naturais e sintéticos, especialmente aqueles derivados de frutas tropicais do Brasil, pode impactar a produção e a qualidade das fragrâncias na indústria nacional de perfumaria?
Metodologicamente, aplicou-se uma revisão bibliográfica documental e descritiva com ênfase em uma pesquisa de natureza qualitativa e observacional partindo da seleção de artigos nacionais e estrangeiros dos últimos 10 anos (2013-2023) obtidos em bases de dados do Scielo e Google Acadêmico.
2. Revisão de Literatura
2.1 Importação de óleos essenciais para economia no Brasil
Devido à alta produção nacional de frutos exóticos de caráter tropical, como frutos cítricos, o Brasil se torna uma referência em participação internacional de importação de óleo essencial de frutos cítricos, sendo exportado quantidades próximas a 55 mil toneladas/ano de frutos (dado de 2018), é estimado que 80% de toda a exportação desses frutos seja destinados a área de essências. Com a participação dos principais países responsáveis por exportações, chegamos ao patamar demonstrado na Figura 1, onde é apresentada a quantidade em toneladas de óleos essenciais comercializados mundialmente (BIZZO; REZENDE, 2022).
Figura 1. quantidade de óleo essencial importado no mundo em tonelada. Dados de 2018.
Fonte: BIZZO; REZENDE, 2022
A perspectiva de mercado é de crescimento mundial de 10% ao ano. Em 2021, o mercado internacional de óleos essenciais chegou ao patamar de US$ 10,3 bilhões e deve alcançar US$ 16 bilhões até 2026, com base nos dados de 2018 (MARKETSANDMARKETS, 2021).
O Brasil participa na somatória total de óleos essenciais importados no mundo com 55 mil toneladas por ano. Tendo produzido no total 154 mil toneladas de laranja em território nacional. (BIZZO; REZENDE, 2022).
2.2 Ciclo de extrativismo e sintetização no geral
Segundo Homma, o ciclo de extrativismo apresenta quatro estágios bem definidos, sendo eles o inicial, onde se tem a extração em crescimento, quando se encontra uma fonte de material de interesse, com consequente aumento da demanda. No segundo estágio ocorre um aumento de oferta próximo ao seu limite máximo, com conferência de limite de estoque e o aumento no preço de extração. O terceiro estágio apresenta o declínio da extração e o crescimento da domesticação, desde que haja estudo de viabilidade para tal fim, e no quarto estágio, têm-se a descoberta da sintetização. (HOMMA 2000)
Por vezes, há espécies de plantas que não passam por todas as etapas deste ciclo, como no caso do pau-rosa, anos depois de sua descoberta foi desenvolvido a síntese de seu óleo essencial, sem haver o declínio da sua extração. O óleo de pau-rosa começou a ser extraído no Pará em 1925, em 1927 a sua produção chegou a 200 toneladas/ano. A preocupação com exploração predatória indiscriminada começou em 1933, decretos para limite de extração foram estabelecidos e ignorados brutalmente, chegando na década de 60 ao seu auge, com a quantidade de 500 toneladas de produto extraído por ano na exportação, valor que começou a ser reduzido pós a implementação da produção de seu óleo sintético, o linalol, que representa 70% a 80% de sua composição. Em 1992, entrou para lista de espécies ameaçadas em extinção. E até 2005, sua extração ficou em 121 toneladas/ano (Barbosa Sampaio; Pereira Filho, 2021). De acordo com dados obtidos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (BRASIL, 2024), podemos observar na Figura 3 a demanda anual dos óleos essenciais mais valorizados.”
Figura 2. Extração de óleos essenciais valorizados.
Fonte: Elaborados pelos autores; dados do Ministério do Desenvolvimento
3. Óleos Essenciais Naturais e Sintéticos na Indústria de Fragrâncias
Os óleos essenciais, componentes voláteis e aromáticos extraídos de plantas, têm sido objetos de considerável interesse nas indústrias de perfumaria, cosméticos e terapias naturais. A distinção fundamental reside na origem dos óleos essenciais, podendo ser classificados em naturais e sintéticos. Os óleos essenciais naturais são obtidos a partir de matérias-primas vegetais, como folhas, flores, cascas, raízes e sementes, por meio de processos de extração que incluem destilação a vapor, prensagem a frio, enfleurage e extração com solventes. Sua composição é notavelmente complexa, consistindo em uma variedade de compostos químicos que conferem os aromas característicos às plantas (BIZZO; REZENDE, 2022).
A diversidade química inerente aos óleos essenciais naturais é responsável pela ampla gama de aromas, e essa complexidade pode variar em grande escala entre espécies vegetais. As propriedades sensoriais, bem como os potenciais benefícios terapêuticos, estão intrinsicamente relacionados à riqueza química desses óleos (MORAES JÚNIOR et al., 2021).
Por outro lado, os óleos essenciais sintéticos são obtidos por meio de processos de síntese química em laboratórios. Esses processos permitem a recriação de componentes aromáticos presentes nos óleos essenciais naturais, proporcionando uma ampla variedade de aromas que podem ser usados na formulação de fragrâncias. A síntese de óleos essenciais sintéticos envolve a manipulação de moléculas individuais para imitar as estruturas presentes na natureza. Essa abordagem proporciona maior controle sobre a composição aromática, permitindo a obtenção de aromas específicos de forma consistente (ANDRADE, 2021).
Embora os óleos essenciais sintéticos possam replicar muitos aspectos dos aromas naturais, há uma distinção evidente na complexidade química entre os dois tipos. Os óleos essenciais naturais frequentemente exibem perfis aromáticos mais ricos e nuances sensoriais que podem ser desafiadores de replicar com precisão em laboratório. No entanto, os óleos essenciais sintéticos oferecem vantagens, como a capacidade de obter aromas raros ou sazonais durante todo o ano, bem como a redução do impacto ambiental associado à coleta excessiva de plantas para extração (SANTOS et al., 2022).
A obtenção de óleos essenciais naturais trata-se de um processo intrínseco à exploração das propriedades aromáticas e terapêuticas de vegetais. Diversos métodos de extração têm sido empregados para capturar os componentes voláteis das plantas e transformá-los em óleos essenciais, cada um exibindo suas particularidades em termos de princípios físicos e químicos envolvidos (MEIRA, 2019).
A destilação a vapor é um dos métodos de extração mais tradicionais e amplamente utilizados. Baseia-se na vaporização dos óleos essenciais presentes nas partes aéreas das plantas, seguida da condensação dos vapores em um sistema de resfriamento. Este método é particularmente adequado para óleos essenciais que são sensíveis ao calor, preservando a integridade dos compostos voláteis. A relação entre temperatura, pressão e tempo de destilação é crucial para garantir a obtenção eficiente dos óleos essenciais, e diferentes espécies vegetais requerem ajustes específicos (SANTOS et al., 2022).
Outra forma de obtenção destes óleos é por meio de prensagem a frio, também denominada como expressão a frio, é empregada principalmente para a extração de óleos essenciais cítricos, presentes nas cascas de frutas como laranjas, limões e bergamotas. Nesse método, a pressão é aplicada às cascas para liberar os óleos essenciais, que são posteriormente coletados. A baixa temperatura empregada nesse processo minimiza a degradação dos compostos voláteis sensíveis ao calor, resultando em óleos essenciais com fragrâncias frescas e autênticas (SANTOS, 2023).
Outrossim, o enfleurage é um método mais complexo e tradicional, amplamente utilizado no passado para a extração de óleos essenciais de flores extremamente delicadas. Nesse processo, as pétalas da flor são espalhadas sobre uma substância gordurosa, como óleo vegetal ou gordura animal, que absorve gradualmente os aromas. O processo é repetido várias vezes até que a gordura esteja saturada com o aroma da flor. Posteriormente, o óleo essencial é obtido por meio da extração com solventes, processo que permite a separação dos compostos aromáticos da gordura (SANTOS, 2023).
Demais métodos menos comuns incluem a enfleurage a chaud, a extração com dióxido de carbono supercrítico e a maceração. A enfleurage a chaud envolve o aquecimento das substâncias gordurosas impregnadas com aromas florais para facilitar a extração. A extração com dióxido de carbono supercrítico envolve a utilização de CO2 em estado supercrítico como solvente para extrair os óleos essenciais. A maceração, por sua vez, envolve a imersão das matérias-primas vegetais em óleo vegetal, permitindo que os compostos aromáticos sejam liberados ao longo do tempo (MONTERO, 2013).
Neste ínterim, a distinção entre óleos essenciais naturais e sintéticos transcende suas origens, englobando uma série de atributos que influenciam suas aplicações na indústria de fragrâncias e os aspectos ambientais associados à sua produção. Cada categoria apresenta vantagens e desvantagens que demandam considerações críticas ao selecionar componentes aromáticos para formulações (MORAES JÚNIOR et al., 2021).
Os óleos essenciais naturais oferecem um espectro olfativo autêntico e complexo, caracterizado por uma ampla variedade de compostos aromáticos que conferem profundidade e nuances às fragrâncias. A autenticidade dos óleos naturais ressoa com os consumidores que buscam produtos genuínos e relacionados à natureza. Além disso, esses óleos frequentemente exibem propriedades terapêuticas associadas aos seus compostos naturais (MONTERO, 2013).
Todavia, a natureza complexa dos óleos essenciais naturais pode também ser uma desvantagem. Variações na composição química devido a fatores como sazonalidade, origem geográfica e método de extração podem resultar em inconsistências na qualidade do aroma final. Além disso, a obtenção de óleos naturais muitas vezes requer uma quantidade significativa de matéria-prima vegetal, o que pode ter impactos ambientais e econômicos, especialmente quando não são adotadas práticas de colheita sustentável (MORAES JÚNIOR et al., 2021).
Já os óleos essenciais sintéticos oferecem um grau notável de controle sobre a composição aromática, permitindo a reprodução precisa de aromas específicos. Isso se traduz em uma maior consistência na qualidade das fragrâncias ao longo do tempo, eliminando variações sazonais e geográficas. Contudo, as desvantagens dos óleos essenciais sintéticos não devem ser subestimadas. A complexidade dos perfis aromáticos naturais muitas vezes não pode ser completamente replicada em laboratório, levando a fragrâncias que, embora se assemelhem, podem carecer da profundidade e autenticidade presentes nos óleos naturais. Além disso, os processos de síntese química podem envolver substâncias tóxicas e impactar negativamente o meio ambiente (MONTERO, 2013).
3.1 Benefícios da Utilização de Frutas Tropicais do Brasil na Perfumaria
No panorama da indústria de fragrâncias, as tendências contemporâneas refletem uma convergência de fatores que abrangem tanto a apreciação pela autenticidade aromática quanto a crescente consciência ambiental dos consumidores. A utilização de óleos essenciais naturais e sintéticos tornam-se de grande valia na formulação de fragrâncias exclusivas que atendem a essas demandas em evolução (GOMES, 2019).
Dessarte, perfumistas estão cada vez mais interessados em ingredientes menos explorados, como extratos de plantas nativas de regiões específicas ou componentes aromáticos raros, tendo em vista o potencial de desenvolvimento de novas fragrâncias, proporcionando aos consumidores experiências sensoriais inéditas (ASSIS et al., 2015).
Com o avanço tecnológico, existe a possibilidade em que consumidores participem do processo de criação de fragrâncias, permitindo-lhes escolher componentes e notas aromáticas preferenciais. Essa abordagem de Co criação oferta exclusividade e aumenta o envolvimento do consumidor com a marca. A predileção do consumidor por produtos naturais e sustentáveis molda consideravelmente as decisões das empresas na indústria de fragrâncias. A crescente conscientização sobre o impacto ambiental e a saúde pessoal tem impulsionado a demanda por fragrâncias formuladas com óleos essenciais naturais. A busca por ingredientes provenientes de fontes sustentáveis, aliada a práticas de extração responsáveis, tem se tornado uma norma basilar na criação de fragrâncias em sintonia com essas preocupações (ANDRADE, 2021).
Gradualmente, os óleos essenciais sintéticos também têm se adaptado às tendências sustentáveis. A pesquisa e o desenvolvimento de métodos de síntese mais eco-friendly, bem como a utilização de compostos aromáticos que minimizam a emissão de produtos químicos nocivos, são abordagens que buscam reduzir o impacto ambiental da produção de óleos essenciais sintéticos (BIZZO; REZENDE, 2022).
Não obstante, a riqueza da flora brasileira é uma expressão marcante da biodiversidade do país, enraizada na vastidão geográfica e nas variadas condições climáticas. O Brasil, abrigando um dos biomas mais extensos e diversos do mundo, a Floresta Amazônica, bem como outros biomas como o Cerrado, Mata Atlântica e Caatinga, apresenta um cenário propício para o florescimento de uma gama extraordinariamente ampla de espécies vegetais, muitas delas portadoras de frutos tropicais exóticos e aromáticos (GOMES, 2019).
O território brasileiro é notável pela abundância de frutas tropicais, cuja diversidade transcende o mero aspecto gastronômico, permeando a cultura, a economia e a ecologia do país. A vastidão geográfica do Brasil, que se estende desde o equador até as latitudes subtropicais, abrange uma ampla gama de condições climáticas que abrigam ecossistemas diversos. Isso contribui para a variedade de frutas que podem ser cultivadas, incluindo aquelas adaptadas a climas quentes e úmidos da Amazônia, bem como frutas resistentes à seca encontradas no Sertão nordestino (MONTERO, 2013).
Dentre a panóplia de frutas tropicais, merecem destaque aquelas de natureza exótica e aromática, cujas características sensoriais transcendem o mero paladar, contribuindo também para a criação de fragrâncias e produtos de beleza. O camu-camu (Myrciaria dubia), por exemplo, é um pequeno fruto da Amazônia reconhecido por sua notável concentração de vitamina C e propriedades antioxidantes, além de possuir um aroma característico que evoca a frescura da selva tropical. Da mesma forma, o cupuaçu (Theobroma grandiflorum), nativo da região amazônica, é apreciado tanto pelo sabor exótico quanto pelo aroma sofisticado que lembra uma combinação de cacau e frutas cítricas (FOREZI et al., 2021).
A presença do açaí (Euterpe oleracea) na região amazônica, conhecido por sua tonalidade escura e sabor único, também se alinha com essa tendência de frutas exóticas e aromáticas. Seu aroma terroso e frutado tem sido explorado na perfumaria, proporcionando uma dimensão intrigante às composições. Não obstante, as frutas tropicais brasileiras representam uma rica fonte de inspiração para a indústria de perfumaria e para a química industrial devido às suas características aromáticas distintas e diversificadas. Cada fruta tropical presente na flora brasileira carrega consigo um perfil aromático intrínseco que resulta da interação complexa entre seus componentes químicos voláteis. A cacofonia olfativa dos frutos da região amazônica, em exemplificação, é reminiscente da exuberância da floresta tropical (SANTOS et al., 2022).
Ao se explorar as notas olfativas das frutas tropicais, torna-se evidente que cada uma carrega um perfil aromático único que pode ser equiparado às categorias de notas olfativas da perfumaria tradicional. O aroma do caju, por exemplo, com sua combinação de doçura e acidez, pode ser associado a notas frutadas e cítricas. A pitanga, com seu matiz adocicado e levemente amargo, alinha-se com as notas frutadas e florais, agregando complexidade à fragrância (FOREZI et al., 2021).
A diversidade de frutas tropicais proporciona uma paleta variada de notas olfativas que pode ser utilizada para criar composições intrigantes. A comparação dessas notas com ingredientes já estabelecidos na perfumaria, como flores, especiarias e madeiras, abre possibilidades para a criação de fragrâncias únicas e multifacetadas. As frutas tropicais, por vezes associadas à sensação de frescor e vitalidade, podem ser utilizadas como notas de topo em fragrâncias diurnas e energéticas (MONTERO, 2013).
A utilização de frutas tropicais brasileiras como elementos-chave na criação de fragrâncias inovadoras torna-se um reflexo da intersecção entre a rica biodiversidade da região e a expressão artística da perfumaria. O potencial criativo reside na capacidade de capturar as características aromáticas únicas dessas frutas e traduzi-las em composições olfativas que evocam uma conexão sensorial direta com o ambiente tropical brasileiro (SANTOS et al., 2022).
A sustentabilidade na perfumaria, especialmente no que tange a frutas tropicais, é acompanhada de desafios. A procura de ativos sustentáveis de ingredientes é uma preocupação central, pois a demanda por frutas pode potencialmente levar à exploração insustentável dos recursos naturais. A busca por práticas de colheita responsável e certificações de comércio justo é essencial para mitigar esses impactos negativos. Iniciativas de preservação da biodiversidade, como a criação de jardins botânicos dedicados a espécies tropicais, podem contribuir para a conservação das plantas e a educação sobre a importância da flora nativa. Ademais, o incentivo ao comércio justo com comunidades locais promove uma distribuição equitativa dos benefícios econômicos da perfumaria baseada em frutas tropicais (SANTOS, 2023).
As frutas tropicais do Brasil oferecem uma rica diversidade de óleos essenciais que são amplamente valorizados na perfumaria devido às suas propriedades únicas e aromas exóticos. Esses óleos naturais são frequentemente preferidos aos sintéticos por diversas razões.
Os óleos naturais extraídos de frutas tropicais como a manga, maracujá e açaí apresentam compostos bioativos que não são encontrados nos óleos sintéticos, resultando em fragrâncias mais complexas e autênticas. Além disso, esses óleos possuem benefícios terapêuticos adicionais, como propriedades antioxidantes e hidratantes, que enriquecem os produtos de perfumaria.
A comparação entre óleos sintéticos e naturais revela que, enquanto os primeiros podem ser produzidos em larga escala e de forma mais barata, os óleos naturais oferecem uma profundidade aromática e benefícios adicionais à saúde que são altamente valorizados pelos consumidores.
Tabela 1. comparativo de óleos essenciais naturais e sintéticos
CARACTERISTICAS | ÓLEO ESSENCIAL SINTÉTICO | ÓLEO ESSENCIAL NATURAL |
ORIGEM | Compostos químicos criado em laboratório | Extraídos de plantas por métodos como destilação ou prensagem a frio |
COMPOSIÇÃO | Isolados específicos ou misturas de moléculas aromáticas | Complexas misturas de compostos naturais, incluído terpenos, ésteres e cetona |
CUSTO | Geralmente mais barato | Mais caro, variando de acordo com a planta e método de extração e qualidade |
DISPONIBILIDADE | Ampla variedade de Aromas | Variedade limitada por disponibilidade de plantas e épocas do ano |
CONSISTÊNCIA | Aromas e propriedades consistentes | Aromas e propriedades podem variar com a safra, clima e solo |
TERAPIA E BEM-ESTAR | Propriedades terapêuticas limitadas ou ausentes | Propriedades terapêuticas comprovadas por diversas condições |
SUSTENTABILIDADE | Menor impacto ambiental | Impacto ambiental variável dependendo da planta, método de extração e práticas de agricultura |
SEGURANÇA | Riscos de reações alérgicas e irritação | Geralmente seguro quando usado corretamente, más algumas precações são necessárias |
Fonte: (BRASIL, 2024).
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior indicam que a demanda por óleos essenciais naturais está em crescimento, refletindo uma preferência do mercado por produtos mais sustentáveis e autenticamente aromáticos (BRASIL, 2024).
Ademais, é por meio do olfato que é identificada a presença de qualquer substância perfumada. O nariz humano é revestido internamente por uma membrana, sob a qual, na parte superior de cada narina, encontram-se os receptores olfativos. Ao entrar em contato com alguma substância perfumada, essas papilas enviam impulsos nervosos que são decodificados e registrados no sistema límbico cerebral. Armazenadas no cérebro com capacidade para registrar mais de 100 milhões de estímulos diferentes as impressões captadas pelo olfato, constituindo a memória olfativa (FOREZI et al., 2021).
Figura 3. Ilustração do funcionamento dos receptores olfativos.
Fonte: TODA MATERIA , DIANA, Juliana.
Todavia a intensidade desses estímulos, depende em grande parte do grau de volatilidade da substância perfumada, pois o meio de propagação do aroma é o ar atmosférico. Outro fator relevante na percepção é a capacidade olfativa, a qual se apresenta em graus diferentes de uma pessoa para outra. Algumas são dotadas de extraordinária sensibilidade olfativa; outras, menos sensíveis, percebem apenas algumas notas perfumadas mais pesadas e sugestivas (MONTERO, 2013).
4. Considerações Finais
À vista das informações levantadas no decorrer deste trabalho, pontuou-se como evidente a riqueza da flora brasileira e sua contribuição em larga escala para a indústria de fragrâncias. O estudo sobre óleos essenciais naturais e sintéticos permite uma compreensão de suas implicações na criação de fragrâncias autênticas e inovadoras. A exploração das características aromáticas únicas das frutas tropicais brasileiras revela uma paleta olfativa diversificada, com cada fruta ofertando notas distintas que apresentam potencial de utilização na perfumaria.
Averiguou-se, ainda, que a utilização das frutas tropicais na criação de fragrâncias trata-se de um exercício sensorial à medida que se evidencia como um reflexo da identidade cultural do Brasil. Por conseguinte, a relação entre a perfumaria e a flora brasileira é diretamente ligada à sustentabilidade. A crescente demanda por ingredientes de frutas tropicais destaca a importância de práticas de procura de ativos sustentáveis e comércio justo, garantindo assim que a biodiversidade seja preservada.
Para estudos futuros, sugere-se uma análise na práxis direcionada para a obtenção de óleos essenciais naturais e sintéticos reforçando os processos químicos, respeitando a identidade cultural e reforçando seu compromisso com a sustentabilidade, em conjunto com a inovação criativa demandada neste setor e englobando as técnicas hodiernas de extração.
Assim, garantindo a proteção contra a extinção de espécies de plantas. Reforçando a possibilidade de troca dos ativos naturais por ativos sintéticos, buscando resultados semelhantes no produto final sem interferir grosseiramente na flora brasileira.
Referências
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1 Estudante de Bacharel em Química Industrial. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – IFSP Câmpus Suzano. augusto.cezar@aluno.ifsp.edu.br
2 Estudante de Bacharel em Química Industrial. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – IFSP Câmpus Suzano. paulo.fosaluzab@gmail.com
3 Estudante de Bacharel em Química Industrial. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – IFSP Câmpus Suzano. oliveira.carvalho@aluno.ifsp.edu.br
4 Doutor em Engenharia Química. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – IFSP Câmpus Suzano. prsouza@ifsp.edu.br