AGULHAMENTO SECO COMO TRATAMENTO DE DOR MIOFASCIAL EM UMA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA DO MUNICÍPIO DE ANÁPOLIS – GOIÁS DURANTE A RESIDÊNCIA DE MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

DRY NEEDLING AS A TREATMENT FOR MYOFASCIAL PAIN IN A FAMILY HEALTH UNIT IN THE MUNICIPALITY OF ANÁPOLIS – GOIÁS DURING THE FAMILY AND COMMUNITY MEDICINE RESIDENCY: AN EXPERIENCE REPORT

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.12729719


Carolyna Vieira de Andrade Santos,
Orientadora: Lindsay Patrícia Maia Freire


RESUMO

INTRODUÇÃO: A dor miofascial, caracterizada por pontos gatilho dolorosos, é uma causa comum de dor crônica e limitação funcional. OBJETIVO: descrever a experiência de um residente de Medicina de Família na aplicação do agulhamento seco na atenção primária à saúde. MÉTODOS: Trata-se de um relato de experiência da aplicação do agulhamento seco durante a residência médica de Medicina de Família e Comunidade. Foram selecionados pacientes com dor miofascial confirmada e sem contraindicações para a técnica. RESULTADOS: O agulhamento seco proporcionou alívio da dor e melhorou a funcionalidade dos pacientes após poucas sessões. O residente pode aprofundar seus conhecimentos a respeito da técnica e da anatomia humana, bem como adquirir a habilidade de aplicação da técnica. DISCUSSÃO: destacam-se as vantagens da técnica, como baixo custo e simplicidade, além dos desafios, como a necessidade de treinamento adequado e aceitação pelos pacientes. CONCLUSÃO: o agulhamento seco é uma técnica eficaz para manejo da dor miofascial na APS, mas requer investimento em capacitação profissional e educação do paciente para maximizar seus benefícios.

Palavras-chave: dor miofascial; pontos gatilho; agulhamento seco; atenção primária à saúde;

ABSTRACT

INTRODUCTION: Myofascial pain, characterized by painful trigger points, is a common cause of chronic pain and functional limitation. OBJECTIVE: To describe the experience of a Family Medicine resident in applying dry needling in primary health care. METHODS: This is an experience report on the application of dry needling during the Family and Community Medicine residency. Patients with confirmed myofascial pain and without contraindications for the technique were selected. RESULTS: Dry needling provided pain relief and improved patient functionality after a few sessions. The resident was able to deepen their knowledge of the technique and human anatomy, as well as acquire the skill of applying the technique. DISCUSSION: The advantages of the technique, such as low cost and simplicity, as well as the challenges, such as the need for adequate training and patient acceptance, are highlighted. CONCLUSION: Dry needling is an effective technique for managing myofascial pain in primary health care, but it requires investment in professional training and patient education to maximize its benefits.

Keywords: myofascial pain; trigger points;,dry needling, primary health care.

1 INTRODUÇÃO

A dor miofascial é uma condição dolorosa originada nos músculos e nas fáscias, frequentemente caracterizada pela presença de pontos gatilho (PG) miofasciais, que são nódulos palpáveis dolorosos. Esta condição é uma causa comum de dor crônica e pode levar a limitações significativas nas atividades diárias e na qualidade de vida dos pacientes uma vez que estes  PG podem causar dor referida, fraqueza muscular e limitações de movimento, impactando significativamente a qualidade de vida dos pacientes (SIMONS; TRAVELL; SIMONS, 1999).

O diagnóstico clínico de dor miofascial baseia-se em uma avaliação detalhada, incluindo história clínica e exame físico. A história clínica deve investigar a localização, duração e características da dor, bem como fatores desencadeantes e aliviadores. O exame físico deve focar na palpação dos músculos afetados para identificar PG’s ativos, que são áreas de maior sensibilidade e tensão muscular (DOMMERHOLT; FERNÁNDEZ-DE-LAS-PEÑAS, 2013).

Os critérios diagnósticos para a dor miofascial incluem a presença de PG’S ativos, dor referida ao pressionar o PG, um nódulo palpável no músculo afetado e resposta de espasmo local ao estímulo do PG. Adicionalmente, é importante excluir outras condições que possam mimetizar a dor miofascial, como neuropatias, artrites e outras síndromes dolorosas crônicas (FERNÁNDEZ-DE-LAS-PEÑAS et al., 2010).

O agulhamento seco é uma técnica terapêutica utilizada para desativar PG miofasciais. Consiste na inserção de agulhas finas diretamente nos PG’s, sem a injeção de qualquer substância. Esta técnica tem demonstrado eficácia no alívio da dor, melhora da função muscular e redução da sensibilidade dos PG’s (DOMMERHOLT; FERNÁNDEZ-DE-LAS-PEÑAS, 2013).

A técnica de agulhamento seco baseia-se em princípios ocidentais da medicina e da fisioterapia, diferindo da acupuntura tradicional, que se fundamenta nos conceitos da medicina tradicional chinesa. Estudos têm demonstrado a eficácia do agulhamento seco no tratamento de várias condições dolorosas, como síndrome miofascial, dores de cabeça tensionais, dores lombares e disfunções da articulação temporomandibular (Dunning et al., 2014; Cummings & White, 2001). A resposta esperada do organismo inclui a redução da dor, melhora da amplitude de movimento e restauração da função muscular. Em alguns casos, pode ocorrer uma leve dor ou desconforto no local da inserção, que geralmente desaparece em algumas horas. Para evitar complicações, é essencial que o profissional que realiza a técnica possua treinamento adequado e siga protocolos rigorosos de assepsia (MA, 2004).

Em contextos de atenção primária à saúde (APS), como nas Unidades de Saúde da Família (USF), o agulhamento seco se mostra uma abordagem valiosa e de baixo custo para o manejo da dor miofascial. A integração desta técnica no arsenal terapêutico dos profissionais de saúde pode contribuir para um atendimento mais holístico e eficaz, especialmente em áreas com recursos limitados (SILVA; BARBOSA, 2019). Em contextos de residência em Medicina de Família e Comunidade, a introdução de técnicas inovadoras e baseadas em evidências é crucial para a formação de profissionais capacitados e para a melhoria da qualidade do atendimento. Neste texto será apresentado um relato de experiência sobre a implementação do agulhamento seco para o tratamento da dor miofascial em uma USF no município de Anápolis, Goiás, durante a residência médica em Medicina de Família e Comunidade.

2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAIS

Descrever as perspectivas do residente de Medicina Geral de Família e Comunidade decorrentes da utilização do agulhamento seco na atenção primária à saúde.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Compreender os benefícios relacionados à aplicação do agulhamento seco na Atenção Primária à Saúde.

Identificar os desafios relacionados à aplicação do agulhamento seco na Atenção Primária à Saúde.

3 MÉTODO(S)

Este relato de experiência foi realizado em uma Unidade de Saúde da Família (USF) do município de Anápolis – Goiás, durante o período de residência em Medicina de Família e Comunidade. O agulhamento seco foi utilizado como tratamento complementar para pacientes com diagnóstico clínico de dor miofascial.

3.1. MÉTODO DE SELEÇÃO DA POPULAÇÃO

Os pacientes foram selecionados com base nos seguintes critérios:

– Inclusão: Pacientes com diagnóstico clínico de dor miofascial confirmado por exame físico – presença de PG miofasciais palpáveis com reprodução do quadro álgico, e consentimento para participar do procedimento.

– Exclusão: Não foram considerados aptos ao procedimento aqueles pacientes que não consentiram com o mesmo, bem como os pacientes com contraindicações relativas ou absolutas para o agulhamento seco, sendo adotados nestes casos outras terapias conforme as características clínicas destes pacientes. As contraindicações absolutas são:

  • alergia ao material das agulhas, como o níquel (DOMMERHOLT, J. et al 2013);
  • infecções no local de inserção das agulhas ou infecções sistêmicas (SIMONS; TRAVELL; SIMONS, 1999);
  • coagulopatias como hemofilia, ou aqueles que estão em uso de anticoagulantes, devido risco aumentado de sangramento e hematomas (SIMONS, D. G. et al. 2007);
  • gravidez, especialmente durante o primeiro trimestre, devido à falta de pesquisas conclusivas sobre a segurança deste procedimento em mulheres grávidas (YELLAND, J. et al. 2013);
  • fobia severa de agulhas, devido aos potenciais impactos psicológicos e físicos adversos que a ansiedade severa pode causar (THOMPSON, B., 2015).

As contraindicações relativas ao agulhamento seco são:

  • áreas com cicatrizes recentes ou tecido cicatricial excessivo pois podem não responder bem ao tratamento ou causar desconforto adicional (CAGNIE, B. et al. 2015);
  • pacientes imunossuprimidos, devido maior risco de infecção (FERNÁNDEZ-DE-LAS-PEÑAS, C. et al. 2010);
  • epilepsia pelo risco aumentado de desencadear convulsões (KALICHMAN, L; VULFSONS, S. 2010);
  • Diabetes especialmente em pacientes com controle glicêmico inadequado, onde há maior risco de infecção e cicatrização lenta (MA, Y; MA, M. 2010);
3.2. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

Antes de iniciar o tratamento, todos os pacientes receberam informações detalhadas sobre o procedimento, seus benefícios, potenciais riscos e efeitos adversos possíveis. Um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) – ANEXO 1 – foi elaborado e apresentado aos pacientes, que tiveram a oportunidade de esclarecer dúvidas antes de assinar o documento. Somente após a assinatura do TCLE, o tratamento com agulhamento seco foi iniciado.

3.3. EXECUÇÃO DO PROCEDIMENTO

Os procedimentos foram realizados por um médico residente em Medicina de Família e Comunidade, acompanhado por um preceptor, garantindo supervisão e orientação durante todo o processo.

Inicialmente o paciente foi examinado a fim de estabelecer o diagnóstico clínico de dor miofascial e determinado o local do PG, além da exclusão de contra-indicações relativas ou absolutas (SHAH, J. P. et al. 2012).

Posteriormente, foi levado ao espaço higienizado e propício para a realização do procedimento, onde o paciente foi colocado em decúbito condizente com a região que deveria passar pelo procedimento, podendo ser decúbito ventral quando de tratando de trapézio, paravertebrais, infraespinhais, músculos da panturrilha e outros músculos da região posterior do corpo; lateral quando se tratando de glúteo médio ou mínimo e quadrado lombar; ou dorsal, quando se tratando de músculos da face e região cervical anterior (WEINER, D. K. et al., 2005).

Antes do início do procedimento, o paciente foi comunicado a respeito os possíveis efeitos colaterais, como dor temporária, hematomas, e outros sintomas leves. (GREEN, J., 2012).

O profissional a realizar o procedimento higieniza suas mãos com água, sabão e posteriormente alcool 70%. O uso de luvas é dispensável para o procedimento (WEINER, D. K. et al., 2005).

Foram utilizadas agulhas estéreis, embaladas individualmente e com 1 mandril por agulha. Os principais tamanhos utilizados foram: 0,20x15mm, 0,25x40mm e 0,30x75mm, sendo a escolha do tamanho realizada conforme a região a ser submetida ao procedimento, bem como características anatômicas do próprio paciente e técnica de agulhamento a ser escolhida, se superficial ou profunda. As agulhas e mandris foram descartados em lixo apropriado para perfurocortantes após a realização do procedimento.

A técnica de agulhamento seco, ou dry needling, é realizada através da inserção de agulhas finas em PG’s miofasciais e pode ser realizada de forma superficial ou profunda, dependendo da localização e profundidade do PG.

Na técnica superficial, as agulhas são inseridas apenas alguns milímetros na pele e na fáscia muscular. Este método é frequentemente utilizado quando os PG estão localizados em áreas mais superficiais ou em pacientes que são sensíveis à dor. A inserção superficial pode ajudar a diminuir a dor local e a estimular a resposta do sistema nervoso periférico sem causar desconforto significativo (BALDRY, 2005).

Na técnica profunda, as agulhas são inseridas diretamente no músculo afetado até alcançar o PG. A profundidade da inserção pode variar de acordo com a localização do PG e a espessura do músculo. A inserção profunda é frequentemente utilizada quando os PG’s estão localizados em músculos mais profundos ou quando é necessário alcançar uma resposta terapêutica mais intensa. Durante a inserção da agulha, é comum observar uma resposta de contração local, seguida por uma fase de relaxamento muscular. Esta resposta, conhecida como “resposta de espasmo local”, é importante, pois indica que a agulha atingiu o PG e está provocando uma reação terapêutica (TRAVELL & SIMONS, 1999).

A estimulação mecânica causada pela agulha no músculo pode levar à redução da dor, aumento da circulação sanguínea local e diminuição da tensão muscular. A inserção da agulha provoca uma microlesão controlada no tecido muscular, que estimula uma resposta de cura natural do corpo, incluindo a liberação de substâncias anti-inflamatórias e de crescimento celular. Além disso, a inserção da agulha pode desencadear a liberação de endorfinas e outras substâncias químicas naturais no corpo, que ajudam a reduzir a dor e promover a cura (DOMMERHOLT, 2011).

Após a realização do procedimento, os pacientes foram orientados acerca de alguns cuidados como:  hidratação adequada para ajudar na eliminar toxinas liberadas durante a sessão e promover a recuperação muscular (BALDRY, 2005); evitar atividades físicas extenuantes nas primeiras 24-48 horas após o agulhamento seco devido ao risco de aumentar a dor e o desconforto, sendo recomendado realizar apenas atividades leves, como caminhada (MA, 2004); utilizar compressas quentes na área tratada para ajudar a aliviar o desconforto e a reduzir a rigidez muscular, uma vez que o calor promove a circulação sanguínea e acelera o processo de cura (DOMMERHOLT, 2011; GREEN, J. 2012); realizar monitoramento de sintomas uma vez que é normal sentir algum desconforto ou dor leve após o tratamento, no entanto, se a dor for intensa ou persistente, ou se houver sinais de infecção, como vermelhidão, inchaço ou febre, é importante retornar à unidade de saúde imediatamente (CUMMINGS & WHITE, 2001); realizar alongamento e mobilização das áreas tratadas para ajudar a manter a flexibilidade e a prevenir a rigidez (TRAVELL & SIMONS, 1999); evitar o uso excessivo de analgésicos ou anti-inflamatórios, a menos que seja prescrito por um profissional de saúde, pois esses medicamentos podem mascarar os sintomas e dificultar a avaliação da eficácia do tratamento (DUNNING ET AL., 2014); garantir um período adequado de descanso e sono após o tratamento. O descanso é fundamental para a recuperação muscular e a redução da dor (BALDRY, 2005); manter uma comunicação aberta com o profissional que realizou o tratamento. Informar sobre qualquer desconforto persistente ou dúvidas em relação aos cuidados pós-tratamento (MA, 2004).

4 RESULTADOS

A dor crônica se mostrava uma queixa comum entre os pacientes da unidade, resultando em limitações significativas na realização de atividades diárias e uma dependência frequente de analgésicos, que frequentemente causavam efeitos colaterais indesejados. Foi observado que as terapias convencionais, como medicamentos e exercícios, não estavam proporcionando o alívio esperado para alguns pacientes, quando então a técnica de agulhamento seco, foi considerada uma alternativa viável e acessível (TRAVELL; SIMONS, 1999).

Durante o período de residência em Medicina de Família e Comunidade (2022-2024), o agulhamento seco foi apresentado aos residentes como uma opção terapêutica para o manejo da dor miofascial. Sob a supervisão do preceptor, foi iniciada a aplicação desta técnica em pacientes selecionados na USF de Anápolis, como abordagem terapêutica complementar. A aplicação desta técnica se mostrou condizente com a revisão da literatura, que demonstra a eficácia da mesma na redução da dor e melhora funcional do paciente (DOMMERHOLT et al., 2013; FERNÁNDEZ-DE-LAS-PEÑAS et al., 2010; GUNN et al., 2020).

No período de realização das sessões semanais, que duravam aproximadamente 30 minutos, as agulhas eram inseridas diretamente nos PG’s identificados, com manipulações leves para induzir respostas de contração local. Cada sessão era seguida de monitoramento rigoroso para avaliar a resposta ao tratamento e documentar quaisquer efeitos colaterais. Esse acompanhamento permitiu ajustes no tratamento conforme necessário, garantindo uma abordagem personalizada e eficaz.

Foi possível observar a melhora do quadro álgico após 2 a 3 sessões do procedimento em casos de dor aguda e 3 a 5 sessões do procedimento em casos de dor crônica, cada sessão com intervalo de aproximadamente 7 dias, o que corrobora com os dados observados em literatura quanto ao seguimentos destes pacientes (UNVERZAGT C, BERGLUND K, THOMAS J.J 2015).

Um caso particularmente memorável foi o de uma paciente de 45 anos com dor crônica no trapézio, que não havia obtido alívio significativo com outras terapias. Após a primeira sessão de agulhamento seco, a paciente relatou uma redução notável na dor e uma melhoria na amplitude de movimento. Este resultado não só aumentou a confiança da paciente na técnica, mas também reforça a eficácia da técnica quando devidamente aplicada, resultando em maior uso e recomendação da mesma dentro do contexto da APS.

Ao longo dos meses, foi observado uma tendência consistente de alívio da dor entre os pacientes tratados, o que reforçou a importância do agulhamento seco como uma técnica valiosa e complementar no manejo da dor miofascial na atenção primária. As melhorias na capacidade funcional foram evidentes, com pacientes relatando a retomada de atividades diárias que antes eram impossíveis devido à dor. (KALICHMAN; VULFSONS, 2010).

A técnica de agulhamento seco exigiu um conhecimento aprofundado da anatomia muscular e dos PG’s, além de habilidades práticas específicas. O sucesso do tratamento destacou a importância de uma abordagem holística e personalizada, onde a continuidade do cuidado e a proximidade com a comunidade desempenham um papel crucial no sucesso terapêutico. A integração do agulhamento seco na atenção primária não só proporcionou alívio significativo da dor para os pacientes, mas também aumentou a satisfação geral com os serviços de saúde, demonstrando ser uma adição valiosa ao arsenal terapêutico da USF (BERGMAN; DAHLBORG-LYCKHAGE, 2022).

A experiência sublinha a eficácia e a relevância do agulhamento seco como uma terapia complementar na atenção primária, especialmente em contextos com recursos limitados, e destaca a importância de investir na formação contínua dos profissionais de saúde para garantir a excelência no cuidado oferecido à comunidade. O período de aprendizado prático, combinado com a orientação do preceptor, foi fundamental para o desenvolvimento do médico de família, que foi capacitado a oferecer tratamentos eficazes e inovadores aos pacientes.

5 DISCUSSÃO
5.1 VANTAGENS DO AGULHAMENTO SECO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

O agulhamento seco oferece várias vantagens no contexto da atenção primária à saúde. Primeiramente, é uma técnica de baixo custo, tornando-se uma opção acessível para o sistema público de saúde. Sua aplicação é relativamente simples, permitindo que profissionais de saúde, após treinamento adequado, possam incorporá-la em suas práticas clínicas (SIMONS; TRAVELL; SIMONS, 1999). Além disso, o agulhamento seco proporciona alívio rápido da dor e melhora a funcionalidade muscular, o que pode resultar em uma menor necessidade de medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios, reduzindo assim os riscos de efeitos colaterais e a dependência medicamentosa (KIETRYS, D. M.; PALOMBARO, K. M.; AZZARETTO, E. 2013).

Em unidades de saúde da família, onde a continuidade do cuidado e a proximidade com a comunidade são aspectos fundamentais (BERGMAN, E.; DAHLBORG-LYCKHAGE, E. 2022), o agulhamento seco pode ser integrado como uma terapia complementar que fortalece a abordagem holística do paciente (HILL, P. 2019). Estudos indicam que a continuidade do cuidado, caracterizada por relações contínuas e de confiança entre pacientes e profissionais de saúde, está associada a melhores resultados de saúde e maior satisfação dos pacientes com os serviços recebidos (GUNN, C. et al. 2020).

Pacientes que experienciam alívio da dor através do agulhamento seco podem apresentar uma melhor adesão ao tratamento, além de uma percepção positiva do cuidado recebido, o que contribui para a confiança e satisfação com o serviço de saúde (DOMMERHOLT, J. et al. 2013).

5.2 DESAFIOS DO AGULHAMENTO SECO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

Apesar das vantagens, a implementação do agulhamento seco na atenção primária enfrenta alguns desafios significativos. A falta de treinamento adequado e a escassez de profissionais capacitados podem limitar sua aplicação. É essencial que programas de formação e residência médica incluam treinamentos práticos sobre essa técnica para que mais profissionais estejam aptos a utilizá-la (CAGNIE et al., 2013).

Outro desafio é a aceitação por parte dos pacientes. Muitos pacientes têm medo de agulhas ou desconhecem os benefícios do agulhamento seco, o que pode resultar em resistência ao tratamento. A educação do paciente e a comunicação clara sobre o procedimento são essenciais para superar esses obstáculos. Além disso, a necessidade de múltiplas sessões para alguns pacientes pode exigir um compromisso significativo tanto dos pacientes quanto dos profissionais de saúde, o que pode ser um fator limitante em termos de tempo e recursos disponíveis (MACDONALD, G. 2011).

6 CONCLUSÕES

O agulhamento seco mostrou-se uma técnica eficaz e viável para o tratamento da dor miofascial em uma Unidade de Saúde da Família em Anápolis, Goiás. A experiência descrita neste artigo destaca a importância da capacitação dos profissionais de saúde e da educação dos pacientes para maximizar os benefícios dessa abordagem terapêutica. A introdução do agulhamento seco na prática clínica da atenção primária pode proporcionar alívio significativo da dor miofascial, melhorar a qualidade de vida dos pacientes e reduzir a dependência de medicamentos.

Entretanto, a implementação bem-sucedida dessa técnica exige investimento em treinamento e educação contínua para os profissionais de saúde, bem como estratégias eficazes de comunicação e engajamento dos pacientes. Futuras pesquisas são necessárias para explorar mais profundamente os mecanismos de ação e as melhores práticas para a implementação do agulhamento seco na atenção primária à saúde. Além disso, estudos com maior número de participantes e períodos de acompanhamento mais longos são recomendados para validar os achados e expandir o conhecimento sobre a eficácia e segurança do agulhamento seco.

REFERÊNCIAS

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