MORTALIDADE POR CÂNCER DE COLO UTERINO NAS REGIÕES BRASILEIRAS DE 2013 A 2022

MORTALITY FROM CERVICAL CANCER IN BRAZILIAN REGIONS FROM 2013 TO 2022

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12725577


Mayara Gomes dos Santos1
Milena Vieira da Silva2
Ariane Lourdes de Jesus Correia2
Amanda Gabriele Silva Gois2
Adriana de Sant’Ana Gasquez3


Resumo

O objetivo deste estudo foi analisar os coeficientes de mortalidade por câncer de colo do útero nas regiões brasileiras no período de 2013 a 2022. Foi realizado um estudo transversal, descritivo e retrospectivo utilizando dados do DATASUS sobre óbitos por câncer de colo do útero (CID-10: C53) entre 2013 e 2022. A análise envolveu a avaliação temporal e variações regionais da mortalidade. Foram registrados um total de 62.175 óbitos por câncer de colo do útero no Brasil no período estudado, com maiores taxas de mortalidade nas regiões Norte e Nordeste. Observou-se aumento dos óbitos em todas as regiões nos últimos anos. A principal faixa etária acometida foi de 50 a 59 anos. Conclui-se que o câncer de colo do útero continua sendo um problema de saúde pública no Brasil, com aumento da mortalidade e disparidades regionais significativas. É crucial fortalecer os programas de prevenção e rastreamento, promover e garantir o acesso e a acessibilidade para todos os serviços de saúde da mulher.

Palavras-chave: Epidemiologia. Estudos de Séries Temporais. Neoplasias do Colo do Útero. Prevenção Oncológica. Saúde da Mulher.

1. INTRODUÇÃO

O câncer de colo do útero, também conhecido como câncer cervical, é causado pela proliferação descontrolada das células do epitélio que reveste o colo do útero, podendo comprometer a estrutura do tecido cervical e, em estágios avançados, se disseminar para órgãos próximos ou distantes do útero. Essa condição pode causar sintomas como sangramento vaginal anormal e dor pélvica. No entanto, em estágios iniciais, o câncer de colo do útero pode ser assintomático, enfatizando a importância do rastreamento regular através do exame de colpocitológico (AMORIM et al., 2023). Este tipo de câncer é principalmente causado pela presença prolongada do vírus do papiloma humano (HPV), podendo ser amplamente prevenido e tratado com sucesso quando detectado precocemente (LOPES & RIBEIRO, 2019).

Estatísticas revelam que é a quarta neoplasia maligna mais comum entre mulheres em todo o mundo, com aproximadamente 570.000 novos casos diagnosticados anualmente e cerca de 311.000 mortes atribuídas a essa doença. Esses números destacam a urgência de abordagens eficazes de prevenção e controle para reduzir o impacto devastador do câncer cervical na sociedade (FREITAS et al., 2023). A taxa de mortalidade por câncer de colo do útero no Brasil, em 2021, ajustada pela população mundial, foi de 4,51 óbitos a cada 100 mil mulheres, de acordo com os dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) (INCA, 2019a).

No Brasil, excluindo os tumores de pele não melanoma, o câncer de colo uterino é o terceiro tipo mais comum entre as mulheres. Para o período de 2023 a 2025, estimou-se que haverá aproximadamente 17.010 novos casos a cada ano, resultando em uma taxa bruta de incidência de 15,38 casos por 100 mil mulheres, de acordo com a população mundial. Em termos regionais há uma variação na posição em que esta causa de câncer ocupa (INCA, 2019a).

As diretrizes recomendam um rastreamento para mulheres de 25 a 64 anos e sugere-se realizar o exame de Papanicolau a cada três anos, desde que os resultados anteriores tenham sido normais. Uma abordagem individualizada visa otimizar a eficácia do rastreamento, adaptando-o às necessidades específicas de cada indivíduo e garantindo uma detecção precoce eficaz do câncer de colo do útero (INCA, 2016).

A ausência de programas de rastreamento organizado e prevenção eficaz são identificadas como um dos principais fatores que contribuem para a alta taxa de mortalidade por câncer de colo do útero no Brasil. Embora o exame de Papanicolau e a vacinação contra o HPV estejam disponíveis, muitas mulheres enfrentam dificuldades para acessá-los devido a diversos obstáculos. Entre esses desafios estão a falta de infraestrutura adequada nos serviços de saúde, dificuldades econômicas relacionadas aos custos associados ao exame e à vacinação, bem como uma lacuna significativa na conscientização sobre a importância da prevenção do câncer de colo do útero. Esses fatores combinados resultam em um acesso desigual aos serviços de saúde preventiva, especialmente para mulheres em comunidades marginalizadas ou de baixa renda, aumentando assim o risco de desenvolvimento da doença e contribuindo para a persistência das altas taxas de mortalidade (CALUMBY et al., 2020).

Diante desse cenário, chegamos à seguinte questão norteadora: Qual é o cenário de mortalidade por câncer do colo de útero no Brasil e como estes coeficientes têm sofrido variações nas diferentes regiões brasileiras? Visando conhecer da mortalidade por câncer de colo do útero no país, o presente estudo tem como objetivo analisar os coeficientes da mortalidade por câncer de colo do útero no Brasil e regiões no período de 2013 a 2022.

2. METODOLOGIA 

Trata-se de um estudo transversal e descritivo, com abordagem documental e retrospectiva, através de dados secundários coletados no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), com foco na análise de série temporal dos casos de mortalidade por câncer de colo do útero no período de 2013 a 2022 das regiões brasileiras. A busca eletrônica da literatura foi realizada com pesquisas atualizadas nas bases de dados disponíveis na área, com os seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DECS): epidemiologia, estudos de séries temporais, neoplasias do colo do útero, prevenção oncológica e saúde da mulher.

Os dados foram obtidos diretamente do DATASUS, selecionando registros referentes aos óbitos causados por câncer de colo do útero, com base nos registros do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), utilizando a categoria CID-10: C53 – neoplasia maligna do colo do útero. A pesquisa pelo CID-10 revelou dados referentes à mortalidade que foram disponibilizados na plataforma e para realização da pesquisa foram selecionados os dados com base em critérios de inclusão e exclusão, sendo os mesmos citados a seguir.

Foram critérios de inclusão os dados secundários da mortalidade referentes ao período de janeiro de 2013 a dezembro de 2022; dados do perfil demográfico, englobando faixa etária e acometimento por região do óbito por este tipo de câncer. Foram critérios de exclusão os dados disponibilizados que não contemplavam o objetivo do estudo.

Os dados de mortalidade e populações foram agregados em intervalos de 10 em 10 anos a partir da faixa etária dos 10 aos 19 anos (10-19, 20-29, 30-39, 40-49, 50-59, 60-69, 70-79 e 80 anos ou mais) segundo Brasil e regiões brasileiras de ocorrência. Ao longo da última década, de 2013 a 2022, foi realizada uma análise dos coeficientes de mortalidade por causa, e o número de óbitos por causa específica, expresso por 100 mil habitantes em determinado local e período.  

Os dados obtidos na pesquisa foram selecionados obedecendo aos critérios citados no estudo e foram esquematizados em tabela e figuras de forma a permitir comparação dos coeficientes de mortalidade de forma anual por região brasileira e percentual das faixas etárias e região, por meio do programa Excel da Microsoft® (versão 2021). Após a esquematização em tabelas, tornou-se possível a análise quantitativa e descritiva dos dados, definindo a comparação do perfil epidemiológico da população brasileira quando se aborda os óbitos por neoplasia maligna do colo do útero.

Por se tratar de uma análise de informações secundárias, publicamente acessíveis na internet, não foi necessário submeter este estudo à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa, em conformidade com as diretrizes na Resolução nº 510/2016.

3. RESULTADOS

No período analisado, entre 2013 e 2022, foram registrados um total de 62.175 óbitos por câncer do colo do útero no Brasil, considerando óbitos a partir dos 10 anos de idade. Observou-se um crescimento do número absoluto de mortes em todas as regiões brasileiras ao longo do período analisado. Em 2013, houve registros de 5.430 óbitos, e comparado a 2022 aumentou para 6.983 óbitos (Tabela 1). 

Tabela 1 – Óbitos por câncer de colo uterino nas regiões brasileiras (2013 a 2022)

Região/Ano2013201420152016201720182019202020212022Total
Norte7167387677888718678998758599278307
Nordeste168217561757180020471993208120492111222819504
Sudeste185717951919189520882126211622172158227020441
Sul76573580489993199797295799010289078
Centro-Oeste4104244804654485435285294885304845
Brasil543054485727584763856526659666276606698362175

Fonte: (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016)

Observamos, portanto, que no Brasil a taxa de mortalidade por câncer do colo de útero nestes dez anos, teve discretas oscilações, e com crescimento nos últimos anos. O coeficiente de mortalidade específica para o Brasil na faixa etária e no período estudado passou de 6,20 para 100 mil mulheres em 2013 para 7,31 para 100 mil mulheres em 2022 (Figura 1). 

Figura 1 – Coeficiente de mortalidade por câncer de colo uterino segundo regiões brasileiras no período de 2013 a 2022

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do DATASUS (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016)

Em relação às regiões brasileiras no período considerado, todas apresentaram um crescimento nos coeficientes de mortalidade por câncer do colo uterino, principalmente de 2021 para 2022, evidenciando um crescimento. As regiões que se destacaram com as maiores taxas foram as regiões Norte e Nordeste.

A região Norte exibiu os maiores valores em todos os anos considerados, e apresentou taxa de 10,55 óbitos a cada 100 mil mulheres em 2013, com aumento em 2022 para 11,66 óbitos a cada 100 mil mulheres. Enquanto a região Nordeste, ocupou a segunda maior taxa variando de 7,03 em 2013, para 8,61 em 2022. A região Sudeste, embora em taxas crescentes de óbitos, obteve a menor variação no período estudado (taxa 4,93, 2013; taxa 5,59, 2022) (Figura 1).

Ao analisar os grupos etários de 10-19 anos a 80 anos ou mais subdivididos a cada 10 anos, através da Figura 2 foi possível evidenciar as variações dos percentuais de óbitos nas diferentes faixas de idade por região brasileira. 

Figura 2 – Número e percentual de óbitos por câncer de colo uterino segundo faixa etária nas regiões brasileiras (2013 a 2022)

Região10-1920-2930-3940-4950-5960-6970-79≥ 80
Norte523312101881182414781049626
Nordeste15476237938494258365828492019
Sudeste10641258339014388414428431931
Sul227113071764197516801273806
Centro-Oeste012668210271032880705393
Total – Brasil321747816112422134771184087195775

Fonte: (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016)

O perfil demográfico das mulheres em óbito por câncer de colo de útero revelou que a faixa etária de 50 a 59 anos registrou a maior frequência de mortalidade na maioria das regiões, exceto a região norte que a faixa etária mais acometida foi a de 40-49 anos. No entanto, um destaque para as regiões Nordeste e Sudeste à ocorrência de maior número dos óbitos por câncer do colo uterino na faixa etária de 10 a 19 anos. Ressaltou significativamente os maiores percentuais de óbitos nas cinco regiões, as faixas etárias de 50-59; 40-49 e 60-69 anos de idade.

4. DISCUSSÃO

O câncer de colo do útero, um dos tipos de câncer mais prevalentes em mulheres, globalmente, exige uma compreensão profunda dos fatores que influenciam a mortalidade em pacientes brasileiras. Este estudo investigou no Brasil a associação entre idade, região geográfica e mortalidade por câncer do colo uterino em um período de 10 anos (2013-2022), revelando características demográficas preditivas nesse grupo. Constatamos um total de 62.175 óbitos em 10 anos por um tipo de câncer considerado prevenível. Um aumento de 5.430 óbitos por esta causa em 2013 para 6.983 óbitos em 2022. Respectivamente nos anos citados, houve aumento da taxa de mortalidade de 6,20 óbitos para 7,31 por 100 mil mulheres no Brasil, sinalizando um aumento preocupante na prevalência de mortes por câncer de colo do útero. Considerando que Gavinski & DiNardo (2022) afirma que o carcinoma invasivo do colo uterino é precedido por Neoplasia Intraepitelial Cervical (NIC) escamosa ou carcinoma in situ e Barcelos et al. (2017) reforça que estas lesões precursoras são geralmente assintomáticas e detectadas pelo rastreamento por exame colpocitopatológico. 

Pode-se considerar que uma série de fatores combinados evidenciam a necessidade urgente de aprimorar as estratégias de saúde pública voltadas para a detecção precoce e o tratamento eficaz do câncer de colo uterino, incluindo a ampliação da cobertura dos programas de rastreamento, melhorias na infraestrutura de saúde e campanhas de conscientização sobre a importância da prevenção e do tratamento precoce (BARCELOS et al., 2017). O principal método para a detecção precoce do câncer do colo do útero é o rastreamento, pois possibilita identificar lesões precursoras que podem ser detectadas e tratadas adequadamente, impedindo sua progressão para o câncer. O método atual de rastreamento do câncer do colo do útero no Brasil é o exame colpocitopatológico, que deve ser oferecido às mulheres na faixa etária de 25 a 64 anos, que já tiveram atividade sexual. A priorização dessa faixa etária como a população-alvo do rastreamento justifica-se por ser a de maior ocorrência das lesões de alto grau (INCA, 2016).

 Diversos fatores contribuem para esse cenário, apresentado por este estudo no Brasil, no qual observamos que o número de óbitos não teve um grande declínio ao longo do tempo e revela que na última década os investimentos na prevenção secundária foram insuficientes. Segundo Lopes & Ribeiro (2019) o objetivo da prevenção secundária é detectar e tratar lesões de alto grau, NIC2 ou NIC3, e evitar a progressão para o Carcinoma Invasor.

É fato, agregar alguns fatores condicionantes ao aumento dos índices de mortalidade por câncer de colo uterino apresentados neste estudo, como o envelhecimento da população, deficiências nos programas de rastreamento e prevenção, bem como desigualdades no acesso a tratamentos adequados, haja visto neste estudo que no Brasil as maiores taxas de mortalidade estão concentradas nas regiões Norte, com coeficientes que variaram de 10,5 a 11,6 óbitos por 100 mil mulheres, seguida da região Nordeste ao longo do período estudado (GAVINSKI & DINARDO, 2022). O envelhecimento populacional pode aumentar a vulnerabilidade às doenças crônicas, incluindo o câncer cervical, enquanto falhas nos programas de rastreamento, como a baixa cobertura e a falta de continuidade nos exames, podem resultar em diagnósticos tardios. As desigualdades no acesso ao tratamento adequado, frequentemente observadas em regiões com menor infraestrutura de saúde, agravam ainda mais a situação (VARGAS et al., 2020). 

Estas desigualdades sociais das regiões brasileiras passam pela desinformação acerca da história natural e transmissão da doença que tem como principal fator de risco e causa básica a infecção sexualmente transmissível pelo papilomavírus humano (HPV). Existem mais de 150 tipos diferentes de HPV e os tipos oncogênicos mais comuns identificados no câncer do colo do útero incluem HPV16 (53%), HPV18 (15%), HPV45 (9%), HPV31 (6%) e HPV33 (3%) e a forma de prevenção primária é o uso do preservativo. O câncer do colo do útero desenvolve-se na parte inferior do útero, chamada colo, que fica no fundo da vagina (INCA, 2021).

Na sequência, ficou demonstrado no estudo atual, a tendência crescente das taxas de mortalidade de todas as regiões brasileiras de 2021 para 2022, mas ressaltamos que as maiores taxas de mortalidade por câncer do colo uterino observadas por região brasileira, foram Norte e Nordeste ao longo de todo período estudado. Destacamos que, de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde, de 2019, as maiores porcentagens de mulheres que nunca realizaram o exame estão no Nordeste (8,6%), no Norte (8,5%) e no Centro-Oeste (7%). Já o Sudeste e o Sul tiveram as menores taxas, ambos com 4,5%. Juntando as regiões, em todo o Brasil, cerca de 71% daquelas que nunca fizeram o Papanicolau estão na camada mais pobre, com renda per capita de até um salário-mínimo (INCA, 2021).

Através deste estudo, observamos que o Brasil e suas regiões tiveram os óbitos predominantemente em mulheres nas faixas etárias de 10 a 19 até 80 anos ou mais, mas as faixas de idade mais representativas foram 50 a 59; 40 a 49; e 60 a 69 anos, totalizando 37.739 óbitos, o que representa 60,6% do total dos óbitos. O maior percentual foi registrado na faixa etária de 50-59 anos (21,68%), destacando a necessidade de intensificar os esforços de rastreamento através do exame citopatológico. Evidencia-se que as Lesões de Alto Grau, Neoplasia Intraepitelial Cervical (NIC) Graus II e III são mais frequentes em mulheres em torno de 35 e 40 anos e o carcinoma invasor é extremamente raro em mulheres com 25 anos (ou menos), imunocompetentes, e por isto, recomenda-se o início do rastreamento a partir dos 21 ou 25 anos de idade (FREITAS et al., 2023). No Brasil, O exame citopatológico cérvico-vaginal/microflora – rastreamento é realizado a cada três anos após dois exames negativos anuais consecutivos na população-alvo, mulheres de 25 a 64 anos e ainda, na avaliação de casos após investigação colposcópica, no acompanhamento pós-conclusão diagnóstica e no seguimento pós-tratamento da lesão precursora (INCA, 2019b). 

À luz da evidência científica, cerca de 30% a 70% das mulheres com NIC3 ou carcinoma in situ não tratadas podem progredir para carcinoma invasor em um período de 20 anos, portanto em tempo de realização do exame colpocitológico para detecção precoce das lesões precursoras. Observamos neste estudo que mesmo em menores taxas, há prevalência de óbitos na faixa etária de 10-19 anos (32 óbitos, 0,05% do total). Isto reflete o início precoce da atividade sexual, desprotegida, e a provável infecção pelo papilomavírus humano (HPV) de alto risco oncogênico, principal fator de risco para o carcinoma de colo uterino (BHATLA et al., 2019; GAVINSKI & DINARDO, 2022). Daí a importância do investimento da vacinação contra o HPV e uso do preservativo como medidas preventivas em idades mais jovens. Este dado sublinha a importância de manter e expandir essas medidas preventivas ao longo da vida jovem e adulta para reduzir a mortalidade em faixas etárias mais avançadas (CALUMBY et al., 2020). A vacina e o exame são complementares, considerando-se que há inúmeros tipos de HPV e a vacina [quadrivalente] só cobre quatro deles [6, 11, 16 e 18]. Juntos, HPV16 e HPV18 são responsáveis por 70% dos casos globais de câncer do colo do útero, ao passo que HPV6 e HPV11 causam aproximadamente 90% das verrugas genitais. Em 2022, as coberturas vacinais para HPV, entre a população feminina, foram de 75,91% para a primeira dose e 57,44% para a segunda, de acordo com o Ministério da Saúde. A meta do PNI (Programa Nacional de Imunizações) é de 80%. No médio a longo prazo, uma estratégia abrangente de imunização contra o HPV poderá ajudar a redução do número de casos de Câncer do colo Uterino, mas só será percebida nos próximos anos porque as células infectadas levam, em média, entre 15 e 20 anos para formar um tumor. A vacinação contra o HPV também pode contribuir para diminuir as desigualdades entre as regiões do país (INCA, 2021).

Entretanto, das regiões analisadas, a região Norte se destacou pelas maiores taxas de mortalidade por câncer de colo do útero e alguns estudos apontam que as maiores taxas de mortalidade por câncer de colo do útero são observadas em mulheres pardas ou negras e solteiras que vivem nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. Essa disparidade regional está associada a múltiplos fatores, incluindo o menor desenvolvimento socioeconômico dessas regiões, que resulta em desigualdades no acesso à saúde, dificuldades na implementação de ações preventivas e desafios no tratamento adequado da doença (DANTAS et al., 2020; SPOHR et al., 2023). Por outro lado, a região Sudeste registrou as menores taxas de mortalidade por câncer de colo do útero, apesar de um aumento das taxas de 4,93 para 5,59 óbitos por 100 mil mulheres. É importante ressaltar que, embora com as menores taxas, a região Sudeste apresentou o maior número absoluto de óbitos devido à sua densidade populacional. De acordo com estudo realizado na Região Sudeste no período de 2009 a 2019, o perfil das vítimas na região Sudeste era predominantemente de mulheres brancas, solteiras, com ensino fundamental incompleto e idade entre 50 e 59 anos (LUIZAGA et al., 2023). A maior disponibilidade de serviços de saúde e acesso a medidas diagnósticas e terapêuticas na região Sudeste podem ter contribuído para a menor taxa de mortalidade. Diante da preocupante realidade da mortalidade por câncer de colo do útero no Brasil, é essencial implementar ações estratégicas e abrangentes que priorizem a prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento eficaz. 

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O câncer de colo do útero continua a ser uma preocupação significativa da saúde pública no Brasil, com aumento preocupante na mortalidade entre 2013 e 2022. Destaque para a tendência de crescimento das taxas de mortalidade de 2021 para 2022 em todas as regiões brasileiras. As diferenças regionais observadas, com maiores taxas nas regiões Norte e Nordeste, destacam a necessidade de abordar as desigualdades no acesso à saúde e fortalecer os programas de prevenção e rastreamento em todo o país.

O perfil demográfico das vítimas, predominantemente mulheres entre 40 e 69 anos, ressalta a importância de intensificar os esforços de rastreamento e prevenção justamente na faixa etária preconizada para prevenção através da detecção precoce e tratamento das lesões pré-invasivas. Mesmo que baixa prevalência de óbitos em jovens nos preocupa e nos faz repensar a necessidade de expandir estratégias para prevenção primária (uso de preservativos) e vacinação contra o HPV.

É crucial identificar as barreiras individuais e relacionadas ao serviço para a realização do exame colpocitológico, e cabe implementar uma abordagem multidisciplinar que inclua o fortalecimento dos programas de rastreamento. A ampliação da cobertura de vacina contra o HPV, campanhas de educação e garantia do acesso e acessibilidade a serviços de saúde de qualidade em todas as regiões do Brasil. O monitoramento contínuo dos programas de saúde permitirá identificar lacunas e implementar melhorias na promoção da saúde da mulher brasileira, contribuindo para a redução da mortalidade por câncer de colo do útero.

REFERÊNCIAS

AMORIM, Camila Rodrigues De et al. “Março lilás”: ação de conscientização sobre prevenção do câncer de colo de útero em ambulatório universitário. Revista Interdisciplinar de Saúde e Educação Ribeirão Preto, v. 4, n. 3, p. 234-239, 2023. 

BARCELOS, Mara Rejane Barroso et al. Qualidade do rastreamento do câncer de colo uterino no Brasil: avaliação externa do PMAQ. Revista de Saúde Pública, v. 51, n. 67, p. 1-13, 2017. 

BHATLA, Neerja et al. Revised FIGO staging for carcinoma of the cervix uteri. International Journal of Gynecology & Obstetrics, v. 145, n. 1, p. 129-135, 2019. 

CALUMBY, Rodrigo José Nunes et al. Papiloma Vírus Humano (HPV) e neoplasia cervical: importância da vacinação. Brazilian Journal of Health Review, v. 3, n. 2, p. 1610-1628, 2020.

DANTAS, Diego Bessa et al. Mortality from cervical cancer in Brazil: an ecological epidemiologic study of a 22-year analysis. ecancer, v. 14, n. 1064, p. 1-12, 2020.

FREITAS, Igor Aser Sousa et al. Perfil epidemiológico de câncer de colo uterino no Brasil e em suas regiões no período de 2018 e 2022. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, v. 5, n. 4, p. 1710-1719, 2023.

GAVINSKI, Katherine; DINARDO, Deborah. Cervical Cancer Screening. Medical Clinics, v. 107, n. 2, p. 259-269, 2022. 

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER – INCA. Diretrizes brasileiras para o rastreamento do câncer do colo do útero. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde, 2016. Disponível em: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/media/document/diretrizesparaorastreamentodocancerdocolodoutero_2016_corrigido.pdf. Acesso em: 15 de março de 2024.

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER – INCA Estimativa 2020: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde, 2019a. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/gestor-e-profissional-de-saude/controle-do-cancer-do-colo-do-utero/dados-e-numeros/incidencia. Acesso em: 18 de junho de 2024.

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER – INCA. Detecção Precoce do Câncer. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde, 2021. Disponível em: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/media/document/deteccao-precoce-do-cancer.pdf. Acesso em: 18 de junho de 2024.

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER – INCA. Parâmetros técnicos para o rastreamento do câncer do colo do útero. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde, 2019b. Disponível em: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2019/04/988200/parametros-tecnicos-colo-do-utero_2019.pdf. Acesso em: 18 de junho de 2024.

LOPES, Viviane Aparecida Siqueira; RIBEIRO, José Mendes. Fatores limitadores e facilitadores para o controle do câncer de colo de útero: uma revisão de literatura. Ciência & Saúde Coletiva, v. 24, n. 5, p. 3431-3442, 2019. 

LUIZAGA, Carolina Terra de Moraes et al. Mudanças recentes nas tendências da mortalidade por câncer de colo do útero no Sudeste do Brasil. Revista de Saúde Pública, v. 57, n. 25, p. 1-14, 2023. 

MINISTÉRIO DA SAÚDE (BR). Informações de saúde (TABNET). Brasília: Ministério da Saúde, 2016. Disponível em: http://datasus.saude.gov.br/informacoes-de-saude/tabnet. Acesso em: 20 de março de 2024.

SPOHR, Aparecida Suzely Rodrigues et al. Mortalidade por câncer de colo de útero nas regiões brasileiras: um panorama dos anos 2009 à 2019. Research, Society and Development, v. 12, n. 7, e16712742602, 2023.

VARGAS, Adriana Cunha et al. Trends in Cervical Cancer Mortality in Brazilian Women who are Screened and Not Screened. Asian Pacific Journal of Cancer Prevention, v. 21, n. 1, p. 55-62, 2020. 


1Acadêmica do Curso de Bacharelado em Enfermagem do Centro Universitário Ingá (UNINGÁ) Campus Maringá-PR. Autor correspondente. E-mail: mayaranh@hotmail.com.
2Acadêmicas do Curso de Bacharelado em Enfermagem do Centro Universitário Ingá (UNINGÁ) Campus Maringá-PR.
3Enfermeira. Professora Associada do Curso de Bacharelado em Enfermagem do Centro Universitário Ingá (UNINGÁ) Campus Maringá-PR.