PRINCIPAIS CAUSAS DE TRANSFERÊNCIAS MATERNAS INTRAPARTO DOS CENTROS DE PARTO NORMAL PARA O CENTRO CIRÚRGICO OU MATERNIDADES DE REFERÊNCIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12682197


Josephine Muelas1
Orácio Carvalho Ribeiro Júnior2
Enzo Kaique da Silva Lopes3
Mara Mikaelly Santos da Silva3
Semírames Cartonilho de Souza Ramos4
Maria Suely de Sousa Pereira5
Andreza Mendes dos Santos6
Sara Alves Monteiro 7


Resumo

Objetivo: Identificar as principais causas de transferências maternas intraparto dos Centros de Parto Normal para Centro Cirúrgico ou Maternidades de Referência através de uma revisão integrativa de literatura. Métodos: Foram utilizados artigos buscados na base de dados e biblioteca eletrônica Scientific Electronic Library Online – (SciELO) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online – (Medline) nos anos de 2006 a 2017, numa amostra final de 12 artigos. Resultados: Os artigos eram originários do Brasil (06), Estados Unidos (02), Inglaterra (02), Nova Zelândia (1) e Dinamarca (1), e mesmo tratando-se de estudos realizados em períodos e em países diferentes, os autores convergiram na seguinte análise: as principais causas de transferências maternas intraparto são nuliparidade, multiparidade com história de cesariana prévia, trabalho de parto prolongado, batimento cardio-fetal não tranquilizador, parada de progressão, incompatibilidade céfalo-pélvica, líquido amniótico meconial, feto acima de 4kg e parturiente com idade acima de 35 anos. Conclusão: Os autores apresentaram resultados convergentes, mas, estudos adicionais se fazem necessários, relatando dados mais atuais, explorando melhor o vasto campo científico dos centros de parto normal e fornecendo um panorama mais assertivo capaz de aproximar a prática da enfermagem obstétrica nos centros de parto normal da produção científica.

Descritores: Centros de Parto Normal, Transferência de Pacientes, Cesárea, Distócia, Estudos Transversais

ABSTRACT

Objective: To identify the main causes of intrapartum maternal transfers from the Normal Delivery Centers to the Surgical Center or Reference Maternities through an integrative literature review. Methods: We searched for articles in the Scientific Electronic Library Online – (SciELO) and Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline) databases from 2006 to 2017, in a final sample of 12 articles. Results: The articles originated in Brazil (06), the United States (02), England (02), New Zealand (1) and Denmark (1), and even in the case of studies conducted in different periods and countries, authors have converged in the following analysis: the main causes of intrapartum maternal transfers are nulliparity, multiparity with previous cesarean history, prolonged labor, non-reassuring cardio-fetal heartbeat, progression arrest, cephalopelvic incompatibility, meconial amniotic fluid, fetus above of 4kg and parturient with age over 35 years. Conclusion: The authors presented convergent results, but additional studies are necessary, reporting more current data, better exploring the vast scientific field of Normal Delivery Centers and providing a more assertive panorama capable of approaching the practice of obstetric nursing in normal delivery centers of scientific production.

Keywords: Normal Birth Centers, Transfer of Patients, Cesarean Section, Dystocia, Cross-Sectional Studie.

Introdução

O ciclo gravídico puerperal era, até meados do século 20, um acontecimento de natureza íntima e privativa, considerado fenômeno natural, cultural e sendo celebrado como um evento marcante da vida. Ao longo dos anos, entretanto, houve mudanças que tornaram essa cultura um acontecimento médico-hospitalar (Brasil, 2001).

Para Bonadio et al. (2010), esta tendência se evidenciava pelas cesarianas sem indicação precisa, o isolamento da mulher de seus familiares, a falta de privacidade no momento do parto, as intervenções para acelerar o trabalho de parto, além da episiotomia de rotina. Em contrapartida, a OMS iniciou um processo que objetivava diminuir a morbimortalidade materna e neonatal, emitindo diretrizes a serem cumpridas, e indicadores a serem alcançados.

Neste cenário, foi definido que o percentual de cesarianas recomendado pela OMS (1985) deveria se manter entre 10% e 15%, enquanto no Brasil, o movimento de profissionais da saúde e usuárias do serviço público pela transformação na assistência ao parto foi ativamente difundido e incisivo, apresentando críticas ao modelo obstétrico hospitalar centrado na doença, pois apesar dos avanços tecnológicos e assistenciais não houve impacto perceptível nos indicadores de saúde, visto que a quantidade de cesarianas aumentava, e as  taxas de mortalidade materna e perinatal se mantinham elevadas (Riesco et al., 2009; Schneck et al., 2012).

 Para se adequar aos parâmetros estabelecidos pela OMS, reduzir as taxas de cesariana e os índices de mortalidade materna e infantil, modificar as práticas obstétricas e melhorar a assistência ao parto e nascimento no Sistema Único de Saúde (SUS), o Ministério da Saúde institucionalizou o parto normal realizado pela enfermeira obstétrica e a criação dos Centros de Parto Normal (CPN), através da Portaria nº. 985/GM de 05 de agosto de 1999 (Brasil, 1999, Riesco et al. 2009).

De acordo com sua Portaria regulamentadora, os Centros de Parto Normal são unidades de saúde autônomas ou anexas ao hospital de referência, que assistem de forma humanizada e eficaz os partos normais sem distócia, e são classificados conforme sua localização em intra-hospitalar, peri-hospitalar ou extra-hospitalar. O Público-alvo do CPN são gestantes e parturientes categorizadas como “baixo-risco obstétrico” e devem funcionar em parceria com o nível de referência secundário para resolução de emergências (Aguiar, 2012).

Para o Ministério da Saúde (2012), ao não demandar alta densidade tecnológica em saúde e em ambientes cuja morbidade e mortalidade materna e neonatal não sejam maiores que as da população geral, uma gestação pode ser considerada de baixo risco, ainda que seja preconizado que a avaliação de risco deva ser renovada a cada consulta de pré-natal, pois o processo dinâmico e a complexidade das alterações funcionais e anatômicas que ocorrem no ciclo gestacional exigem avaliações periódicas e contínuas.

Mesmo que os critérios de admissão e internação dos CPNs visem prever e evitar complicações e promover partos sem interferência, dados de 2018 relatam que a taxa de transferências maternas foi de 11,8%, sendo 9,8% intra-parto e 1,8% pós-parto (Lopes et al. 2018), de forma que, faz-se necessário conhecer o que a produção científica discute sobre esta problemática, originando assim, a questão norteadora do presente estudo: Quais as principais causas de transferências maternas intra-parto para o centro cirúrgico ou maternidades de referência?

O objetivo é identificar estas causas através de uma revisão integrativa de literatura.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo de revisão integrativa da literatura, com abordagem quali-quantitativa, e finalidade descritiva. A revisão integrativa é uma ampla abordagem metodológica, pois diferentemente da revisão sistemática, que se trata de uma síntese rigorosa de todas as pesquisas relacionadas com uma questão específica (Galvão et al., 2004), permite a inclusão de estudos experimentais e não experimentais, dados de literatura teórica e empírica, além de oferecer uma gama diversificada de objetivos, como definição de conceitos, revisão de hipóteses, achados, bem como responder perguntas-problema (Whittemore, 2005).

A amostra mais flexível e as diversas abordagens que podem ser obtidas, devem ser capazes de proporcionar um panorama assertivo e acessível de conceitos complexos, teorias ou problemas de saúde relevantes para a enfermagem (Whittemore, 2005). Para a elaboração deste estudo, foi utilizada a sequência de etapas recomendadas pelo Joanna Briggs Institute Reviewers, que consiste em: formulação da questão norteadora, especificação dos métodos de seleção dos estudos, processo de avaliação de dados e apresentação da revisão do conhecimento produzido e publicado (BRIGGS, 2011).

Portanto, a questão norteadora que orientou este estudo foi: Quais as principais causas das transferências maternas intraparto dos Centros de Parto Normal para o centro cirúrgico ou maternidades de referência? Para responder a esta pergunta, foram realizadas pesquisas nas bases de dados Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), na Biblioteca Virtual Scientific Electronic Library Online (SciELO), nos meses de novembro e dezembro de 2018.

Os descritores utilizados foram retirados da plataforma de Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e são: Centros de Assistência à Gravidez e ao Parto, Complicações do Trabalho de Parto, Transferência de Pacientes, Estudos Transversais, Cesárea e Distócia, bem como seus termos equivalentes na língua inglesa (retirados da plataforma Medical Subject Headings (MeSH). (Tabela 1). A seguir, estes descritores foram combinados em grupos de dois ou três termos, acrescidos do operador booleano AND e do filtro de pesquisa “Texto completo disponível / With full text”.

Tabela 1: Relação de Descritores utilizados.          

DESCRITOR DECSMESH INGLÊS  ESPANHOLNº do registro
Centros de Assistência à gravidez e ao partoBirthing CentersCentros de Assistencia al embarazo y al parto30235
Complicações do trabalho de partoObstetric Labor ComplicationsComplicaciones del trabajo de parto7922
Transferência de PacientesPatient TransferTraslado de Pacientes28845
Estudos TransversaisCross-Sectional StudiesEstudios Transversales28596
CesáreaCesarean SectionCesárea2625
DistóciaDystociaDistocia4483

Foram definidos os seguintes critérios de inclusão: textos completos, publicados entre os anos de 2006 e 2017, nos idiomas português, inglês e espanhol, além de estudos que atendessem ao objetivo da revisão. E como critérios de exclusão: estudos de caso, relatos de experiência, revisões com o mesmo escopo temático, trabalhos finais de graduação ou pós-graduação.

Após o processo de seleção da amostra final da revisão, foi elaborado um painel sinóptico para coletar as seguintes informações dos estudos: título, ano, base, revista, objetivo, autores e metodologia. Estas informações permitiram traçar um panorama geral do estado da arte acerca da temática analisada.

Por tratar-se de um estudo bibliográfico, não foi necessário submetê-lo a um Comitê de Ética, entretanto, as diretrizes de Direitos Autorais e utilização de propriedade intelectual de terceiros foram rigorosamente respeitadas ao longo da execução desta pesquisa, respeitando assim, os princípios e diretrizes da Resolução 510 do Conselho Nacional de Saúde.

RESULTADOS

A pesquisa inicial somente com os descritores, realizada nas bases de dados recuperou 483 artigos, chamados de amostra potencial, que a seguir foram submetidos aos critérios de inclusão e exclusão pré-definidos, estabelecendo por fim doze artigos selecionados como amostra final, sendo oito provenientes da Medline e quatro provenientes da SCIELO.  O processo para triagem e seleção dos artigos que compuseram a amostra final foi detalhado na figura 1.

Figura 1– Fluxograma de seleção dos artigos para a composição da revisão integrativa.

Analisando a amostra de artigos encontrados de acordo com a base de dados, nota-se a prevalência da MEDLINE e de artigos publicados em revistas estrangeiras, mesmo que alguns estudos tenham sido conduzidos no Brasil. Para a abordagem metodológica, pode-se dizer que a maioria dos trabalhos utilizados para esta revisão se deu na forma de estudos transversais quali-quantitativos, sendo capazes de, em seus resultados, aproximar a vivência prática da enfermagem obstétrica do meio acadêmico e da produção científica.

Em relação ao ano de publicação, o estudo mais antigo, data de 2009, enquanto o mais recente é de 2016, sendo que o período com maior quantidade de produções triadas é do ano 2011: 04 artigos que equivalem a 33% da amostra total apenas neste referido ano, seguido do ano de 2012, com 03 artigos, ou 25% da amostra, ou seja, apenas nestes dois anos foi gerado 58% (07 artigos) da amostra final.

Na distribuição dos artigos por continente, a América é responsável por 66,7% (08) dos estudos utilizados, seguida da Europa, com 24,7% (ou 03 artigos) e por último a Oceania, com 8,6% da amostra (01 artigos). No que tange o país de publicação, 06 artigos foram originários do Brasil, compreendendo 50% da amostra, 02 dos Estados Unidos, 02 da Inglaterra (16,66% da amostra cada), 01 da Dinamarca e 01 da Nova Zelândia (8,33%).

Para proporcionar uma melhor análise e compreensão da literatura utilizada, foi elaborado um painel sinótico que pode ser visualizado no Quadro 1.

Quadro 1: Caracterização dos estudos a partir dos seguintes tópicos: Base, Revista, Título, Autor (es), Objetivo, Metodologia, Ano e Local    Base/BibliotecaRevistaTituloAutor (es)ObjetivoMetodologia 
Tipo de estudoAbordagemAno / Local
    1      SCIELO  Revista da Escola de Enfermagem da USP  Remoções maternas da Casa do Parto de Sapopemba para hospital de referência.  Bonadio IC, Schnek CA, Pires LG, Osava RH, Silva FMB, Oliveira SMJV, Riesco MLG.Caracterizar as remoções maternas da Casa do Parto de Sapopemba, em São Paulo, para hospitais de referência, entre setembro de 1998 e julho de 2008.    Transversal      Quantitativa  2011 Brasil
      2      MEDLINE      MidwiferyFactors associated  with maternal intrapartum transfers from a freestanding birth centre in São Paulo, Brazil: a case control study  Silva FM, Oliveira SM, Bick D, Osava RH, Scheneck CA.      To identify factors associated with maternal intrapartum transfer from a freestanding birth centre to hospital.      Transversal      Quantitativa    2012 Brasil
    3    MEDLINE  Journal of Midwifery & Woman’s Health    Maternal Outcomes in Birth Centers: An Integrative Review of the Literature    Alliman J, Philippi JC..The purpose of this integrative literature review is to assess the research on maternal outcomes from birth center care.  Revisão Integrativa de Literatura      Descritiva  2016 EUA
    4     MEDLINE  BMC Pregnancy and Childbirth  Women’s experience of transfer from midwifery unit to hospital obstetric unit during labour: a qualitative interview study  Rowe RE, Kurinczuk JJ, Locock L, Fitzpatrick R.To explore and describe the experiences, information and support needs of women transferred during labour or immediately after the birth from midwifery units in England.    Descritivo        Qualitativa  2012 Inglaterra
5SCIELORevista Saúde PúblicaCaracterização das cesarianas em Centro de Parto Normal.Osava RH, Silva FMB, Tuests EF, Oliveira SMJV, Amaral MCE.Estimar a prevalência de cesarianas em um centro de parto normal intra-hospitalar e identificar fatores associados.TransversalQuali-Quantitativa2011 Brasil
    6    SCIELO  Revista da Escola de Enfermagem da USP  Centros de Parto no Brasil: revisão da produção científica.Riesco MLG, Oliveira SMJV, Bonadio IC, Schnek CA, Silva FMB, Diniz CSG, Lobo SF, Saito E.Identificar a produção científica brasileira relacionada ao processo assistencial e aos resultados maternos e perinatais em Centro de Parto Normal (CPN).  Revisão de Literatura  Narrativa  2009 Brasil
      7      SCIELO      Biblioteca Digital USP  Práticas obstétricas e a questão das cesarianas intraparto na rede pública de saúde de São Paulo.        Aguiar CA.Identificar e comparar as indicações de cesarianas intraparto em mulheres de baixo risco em dois modelos de assistência (Centro de Parto Normal e Centro Obstétrico) e caracteriza os locais de estudo quanto à equipe de saúde, às práticas protocolares e à estrutura física para assistência à mulher e ao bebê.      Transversal    Quali-Quantitativo    2011 Brasil
      8      MEDLINE      MidwiferyTransfer from primary maternity unit to tertiary hospital in New Zealand ‐ timing, frequency, reasons, urgency and outcomes: Part of the Evaluating Maternity Units study.      Grigg CP, Tracy SK, Tracy M, Schmied V, Monk A.To examine the transfers from primary maternity units to a tertiary hospital in New Zealand by describing the frequency, timing, reasons and outcames of those who had antenatal or pre-admisision birthplace plan changes, and transfers in labour or postnatally.      Transversal    Quali-Quantitativo    2015 Nova Zelândia
    9    MEDLINE    Journal of Clinical Nursing  A risk model to predict probability of maternal intrapartum transfers from a free-standing birth centre: PROTRIP tool.  Silva FMB, Oliveira SMJV, Osava RH, Auil F, Bick D, Latorre MR.To generate a clinical model to assess the risk of intrapartum transfer in women who were admitted to a free-standing midwifery-led birth centre, using associated factors previously identified in a case–control study.    Descritivo    Quantitativo    2013 Brasil
  10  MEDLINE  Journal of Midwife & Woman’s Health  Transfers Among Women Intending A Birth Center Delivery in the San Diego Birth Center Study  Nguyen UDT, Rothman KJ, Demissie S, Jackson DJ, Lang JM, Ecker JF.To examine demographic, sociobehavioral, and medical predictors of hospital transfer in a group of women who intended to deliver at a freestanding birth center.  Longitudinal  Quali-Quantitativo  2009 Estados Unidos
    11    MEDLINE  Obstetrics & Gynaecology  Transfers of women planning birth in midwifery units: data from the Birthplace prospective cohort study    Rowe RE, Fitzpatrick R, Hollowell J, Kurinczuk JJ.To examine the percentage of women transferred, reasons for transfer and factors associated with the transfer of women planning birth in midwifery units (MUs).    Transversal    Quantitativo  2012 Inglaterra  
12  MEDLINE  BMJ Journals  Freestanding midwifery unit versus obstetric unit: a matched cohort study of outcomes in low-risk women  Overgaard C, Moller AM, Fenger-Gron M, Knudsen LB, Sandall J.To compare perinatal and maternal morbidity and birth interventions in low-risk women giving birth in two freestanding midwifery units (FMUs) and two obstetric units (OUs).  Transversal  Qualitativo2011 Dinamar-ca


DISCUSSÃO

De modo geral, apesar dos estudos se passarem em países diferentes e em anos diferentes, tanto de publicação, como da data de coleta da amostra, pôde-se notar bastante convergência dos autores em elencar as principais causas das transferências intraparto.

O estudo de Uyen et al. (2009),  realizado com uma população de 1.808 mulheres de baixa renda da cidade de San Diego (Califórnia, Estados Unidos), de 1994 a 1996, afirmou que, nestas condições, 34,6% destas pacientes foram transferidas antes do parto e 19,6% foram transferidas durante o parto,  sendo que destas,  96,9% das transferências ocorreram por razões médicas,  como rotura prematura de membrana,  na qual os autores não  especificaram se se tratava de amniotomia ou ruptura espontânea,  progresso laboral deficiente, batimento cardio-fetal não tranquilizador  e presença de mecônio no líquido amniótico.  Em relação a fatores maternos associados, o estudo afirma ainda que nulíparas e multíparas com histórico prévio de parto cirúrgico apresentaram mais chance de transferência do que multíparas sem histórico de parto cirúrgico.

Neste mesmo ano, o estudo de Riesco et al. (2009), que se tratava de uma revisão integrativa que objetivava revisar a produção científica sobre Centro de Parto Normal no Brasil, e reuniu dados de 5.407 mulheres no período de 1998 a 2008, relatou que as transferências maternas para o hospital oscilaram de 5,8% a 11,4% levantando como aspectos relevantes na composição do processo de remoção, os protocolos assistenciais, o sistema de referência, as condições de transporte e a capacitação do enfermeiro obstétrico para avaliar as condições maternas e neonatais. Este último fator é de grande importância ao considerarmos as demandas do enfermeiro no contexto de um CPN, pois denota a importância da capacidade avaliativa do profissional, para ser capaz de evitar maiores agravos relacionados às remoções.

O estudo de Overgaard et al. (2011), conduzido com 839 parturientes de baixo risco, que objetivava caracterizar os resultados destes partos de baixo risco, afirmou que as principais causas de transferências intraparto foram: parada de progressão (44,4%), presença de mecônio no líquido amniótico (11,3%), batimento cardio-fetal anormal, período de bolsa rota maior que 24h (5,6%) e desejo da parturiente por analgesia (4,8%). De todas estas transferências, 36,7% se deu com mulheres nulíparas.

Já o estudo de Osava et al. (2011), cujo objetivo era estimar a prevalência de cesarianas em um Centro de Parto Normal intra-hospitalar, através da análise de prontuários de 2441 partos ocorridos março e abril de 2005, concluiu que, desta amostra, mulheres com cesariana em gestação anterior, admitidas com até 4cm de dilatação, idade gestacional maior que 40 semanas, líquido amniótico meconial e feto maior de 4kg apresentaram maior risco para cesariana, subsequente da transferência do CPN.

No artigo de Rowe et al. (2012), foi realizado um estudo de coorte na Inglaterra nos anos de 2008 a 2010, com aproximadamente 30 mil parturientes, sendo a taxa de transferências intraparto ou nas vinte e quatro horas após o parto de 20% e as principais causas de transferência encontradas foram a parada de progressão no primeiro estágio, presença de mecônio no líquido amniótico, sofrimento fetal e desejo por analgesia.

Grigg et al. (2015), relacionou resultados bastante semelhantes aos de Rowe, apesar do recorte temporal diferente, sendo a taxa de transferências intra-parto num Centro de Parto Normal da Nova Zelândia no ano de 2015 foi de 12,6%, destas, 96,3% eram nulíparas e 77,8% foram transferidas devido progressão lenta de trabalho de parto, Grigg também diferenciou causas emergenciais como bradicardia fetal, líquido amniótico meconial e hipertensão materna durante o trabalho de parto de causas não emergenciais relacionadas à parturiente que se são o estresse materno e o desejo por analgesia.

O estudo de Alliman et al. (2016) trata-se de uma revisão integrativa de literatura realizada nos Estados Unidos, com objetivo de relacionar os desfechos dos partos ocorridos em Centro de Parto Normal, e é também o recorte temporal mais atual desta amostra, para o qual a taxa de transferências intraparto varia de 11,6% a 37,4%, e as causas mais comuns de transferências, apontadas por este estudo são parada de progressão, rotura prematura de membranas e batimento cardiofetal não tranquilizador. Além disso, os autores ainda estabelecem que nulíparas tiveram probabilidade cinco vezes maior (27,3%) de serem transferidas do que mulheres multíparas (4,9%). Sendo bastante semelhante aos dados de quase uma década atrás, debatidos anteriormente por Uyen et al. e Riesco et al. em 2009.

Através da constatação das principais causas de transferência, é possível afirmar que uma anamnese minuciosa direcionada ao histórico obstétrico da parturiente é capaz de prever possíveis complicações e evitar as transferências maternas. Neste âmbito, o estudo de Silva et al. (2013), apresenta uma importante ferramenta disponível online, denominada PROTRIP, na qual o profissional do Centro de Parto Normal insere as características da paciente para obter a probabilidade de transferência durante o período intraparto.

De acordo com Riesco (2009), na interpretação dos resultados apresentados, sejam convergentes ou divergentes, deve-se considerar sua validade restrita e a limitação do delineamento utilizado, uma vez que, para apresentar melhores resultados, seria necessário utilizar apenas estudos prospectivos longitudinais e com variáveis padronizadas nos diferentes estudos.

Para esta amostra de artigos, pode-se então classificar as causas de transferências maternas em causas relacionadas ao histórico obstétrico materno, como nuliparidade, multiparidade com cesariana anterior, idade acima de 35 anos, causas relacionadas à dinâmica feto-uterina como parada de progressão, incompatibilidade céfalo-pélvica, feto acima de 4kg e trabalho de parto prolongado; e causas relacionadas ao bem estar fetal, como batimento cardíaco fetal não tranquilizador e presença de mecônio no líquido amniótico.

conclusão

O presente estudo foi capaz de responder à pergunta de pesquisa satisfatoriamente. Após análise detalhada da literatura, foi possível constatar que de acordo com a produção científica utilizada, as principais causas da transferência intra-parto são: a nuliparidade, histórico prévio de cesariana, trabalho de parto prolongado que ocasiona sofrimento fetal (batimento fetal não tranquilizador), parada de progressão, incompatibilidade céfalo-pélvica, presença de mecônio no líquido amniótico, feto macrossômico (> que 4kg) e parturiente com idade acima de 35 anos.

Não houveram conflitos de interesse para a realização deste estudo, mas as dificuldades encontradas no decorrer do trabalho foram a escassez artigos publicados sobre centro de parto normal e principalmente artigos que tratassem especificamente das transferências maternas intraparto uma vez que apesar do recorte temporal de mais de uma década, apenas 12 trabalhos foram selecionados, sendo que alguns autores e grupos de pesquisa se repetem dentro da amostra, denotando que é um tema ainda pouco explorado cientificamente e carente de pesquisas básicas e primárias que forneçam um panorama mais acurado dos diversos Centros de Parto Normal existentes.

Além disso, a falta de produção científica recente também foi um ofensor, pois se torna difícil avaliar se houve ou não mudanças significativas na dinâmica de transferências dos centros de parto normal, sendo a inexistência de um registro científico mais atual da assistência de enfermagem obstétrica prestada nos CPNS e suas nuances e especificidades, outra lacuna exposta por esta revisão integrativa.

Outros estudos complementares podem ser feitos visando a melhor compreensão dos fatores associados relacionados às causas de transferências maternas intraparto, alternativas para melhorar a previsibilidade e o acompanhamento de tais fatores e pesquisas sobre métodos assertivos que sejam capazes de prevenir que estas transferências intra-parto aconteçam, proporcionando indicadores e resultados ainda melhores para os Centros de Parto Normal.

REFERÊNCIAS

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1 Enfermeira. Especialista em Enfermagem Obstétrica pelo Centro Universitário do Norte (UNINORTE). Servidora da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas- SES-AM

2 Enfermeiro Obstetra. Mestre em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz/Instituto Leônidas e Maria Deane (FIOCRUZ/ILMD). Doutorando em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo- EE/USP, vinculado ao Programa Interunidades de Doutoramento em Enfermagem da EEUSP/EERP/USP. Professor do Curso de Bacharelado em Enfermagem da Faculdade Martha Falcão, Manaus. Professor do Curso de Residência em Enfermagem Obstétrica da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Pesquisador da Escola de Saúde Pública da Secretaria Municipal de Saúde de Manaus-ESAP/SEMSA. RT da Coordenação Estadual de Saúde da Mulher do Amazonas- SES-AM. Presidente do Comitê Estadual de Prevenção do Óbito Materno Fetal e Infantil do Amazonas- CEPOMINF/SES-AM. ORCID: 0000-0003-3212-9936. Autor correspondente. E-mail: enforacio@gmail.com Telefone: (93)99132-3134.

3 Acadêmicos do Curso de Bacharelado em Enfermagem do Universidade do Estado do Pará (UEPA). Campus de Altamira.

4 Enfermeira. Doutora em Ginecologia, Obstetrícia e Mastologia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Professora Associada do Curso de Bacharelado em Enfermagem da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

5 Enfermeira. Doutora em Ginecologia, Obstetrícia e Mastologia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Professora Associada do Curso de Bacharelado em Enfermagem e Coordenadora do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

6 Enfermeira Obstetra. Mestra em Imunologia. Servidora Pública da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas-SES-AM.

7 Enfermeira. Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem- PPGE NF UEPA UFAM. Especialista em Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva Adulto pela UNINORTE. Atualmente trabalha como Enfermeira na empresa Petrobrás e no HPS 28 de Agosto pela SES- AM.