AVANÇOS E PERSPECTIVAS NA DETECÇÃO E RASTREAMENTO DO CÂNCER DO COLO DO ÚTERO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12639889


Katelaine Maria Mantuam


RESUMO

O câncer cervical ocorre na parte inferior do útero, chamada colo do útero. Por isso, esse tipo de cancro é mais conhecido como câncer do colo do útero (CCU), tendo como fator de risco mais importante a infecção pelo papilomavírus humano (HPV). Nos estágios iniciais, a cirurgia é uma opção para a maioria dos pacientes com câncer cervical, sendo que pessoas com tumores avançados recebem uma combinação de radiação e quimioterapia. Com tais questões em mente, o presente estudo tem como objetivo geral analisar os novos e mais relevantes fatores prognósticos no câncer do colo do útero; e como objetivos específicos: descrever o câncer do colo de útero e suas particularidades; mencionar a importância da detecção precoce do câncer do colo do útero, devido a evolução das técnicas de descoberta do HPV e biomarcadores; e examinar os avanços e perspectivas futuras para o rastreamento e diagnóstico da doença. Para alcançar tais objetivos, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, elaborada com publicações de 2024, a fim de verificar o interesse de investimento de pesquisa na área, bem como a evolução dos teste para detecção e rastreamento desse cancro, uma vez que, na maioria das vezes, o tratamento tardio envolve a remoção cirúrgica do útero e, às vezes, das trompas de falópio e dos ovários.

Palavras chave: Neoplasias do Colo do Útero. Detecção Precoce de Câncer Cervical. Rastreamento. Papilomavírus Humano (HPV).

Introdução

O cancro do colo do útero, segundo Pereira et. al. (2024), é o quarto cancro mais comum nas mulheres a nível mundial, com cerca de 660.000 novos casos e aproximadamente 350.000 mortes por ano. As taxas mais elevadas de incidência e mortalidade por esse tipo de câncer são registradas em países de baixo e médio rendimento, refletindo as grandes desigualdades causadas pela falta de acesso à vacinação nacional contra o Papilomavírus Humano (HPV), cuja infecção persistente causa o câncer cervical; aos serviços de rastreio e tratamento; e aos determinantes sociais e econômicos.

Como os estudos de Melo (2024) apontam que as mulheres que vivem com HPV têm seis vezes mais probabilidade de desenvolver cancro do colo do útero em comparação com mulheres sem HPV; e a vacinação profilática contra o HPV, bem como o rastreio e tratamento de lesões pré-cancerígenas são estratégias eficazes para prevenir o cancro do colo do útero, o presente estudo tem como objetivo geral analisar os novos e mais relevantes fatores prognósticos no câncer do colo do útero.

Por sua vez, os objetivos específicos estabelecidos foram: descrever o câncer do colo de útero e suas particularidades; mencionar a importância da detecção precoce do câncer do colo do útero, devido a evolução das técnicas de descoberta do HPV e biomarcadores; e examinar os avanços e perspectivas futuras para o rastreamento e diagnóstico da doença.

Para alcançar tais objetivos, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, elaborada com publicações de 2024, a fim de verificar o interesse de investimento de pesquisa na área, bem como a evolução dos teste para detecção e rastreamento desse cancro, sendo esse tema relevante pelo fato de o câncer cervical poder ser curado se for diagnosticado precocemente e tratado imediatamente.

O câncer do colo de útero e suas particularidades

Conforme Oliveira, Souza e Randow (2024), a palavra câncer é o termo genérico para neoplasias malignas ou tumores que surgem de grupos celulares alterados. Essa mudança é a etapa crucial de uma célula normal para uma célula tumoral maligna, que se multiplica sem impedimentos até que muitos milhões de células finalmente formem um tumor ou o chamado cancro (crescimento celular anormal). Se a doença progredir, as células tumorais podem migrar para tecidos e órgãos vizinhos e formar tumores secundários (metástases).

Quando se trata de um câncer cervical, Ywahashi, Corrêa e Silva (2024) explicam que um tumor se forma na saída inferior do útero. Lá, o útero se estreita em um canal. Isso termina com o colo do útero externo e conecta o corpo do útero à vagina. E como o termo técnico para esta parte do útero é colo do útero, esse cancro acaba sendo denominado por esse termo. E vale aqui mencionar que os tumores malignos que surgem do tecido de cobertura são chamados de carcinomas. É por isso que os especialistas também chamam o câncer cervical de carcinoma cervical.

Magalhães et. al. (2024) relata que o câncer cervical ou câncer do colo do útero (CCU) não deve ser confundido com o câncer uterino, uma vez que este tipo de câncer afeta o revestimento da parte superior do útero, o corpo uterino, sendo que os médicos também o denominam de câncer endometrial. Assim, entende-se que o CCU e o câncer uterino são tipos diferentes de câncer: não apenas a causa e a progressão diferem, mas a terapia também é diferente para os pacientes.

O colo do útero é coberto por uma membrana mucosa. Se as células desta membrana mucosa mudarem, podem ocorrer lesões pré-cancerosas. Em muitas mulheres, essas alterações nos tecidos resolvem-se por si mesmas. No entanto, se as células se tornarem malignas e se multiplicarem incontrolavelmente, desenvolve-se um tumor. Esse tumor pode crescer em camadas mais profundas de tecido e se espalhar pelo corpo do útero, vagina ou tecido conjuntivo circundante. Em estágios avançados, a parede pélvica e órgãos adjacentes podem ser afetados. Com isso, as deslocalizações do CCU – as chamadas metástases – formam-se principalmente nos pulmões, ossos ou fígado (BARRETO et. al., 2024).

Os cientistas descobriram que o câncer cervical é quase sempre causado por certos tipos de vírus chamados vírus do papiloma humano (HPV). Esses vírus são transmitidos através de relações sexuais sendo eu Lopes et. al. (2024) afirma que as infecções por HPV, que são pequenos vírus de DNA de fita dupla, sem envelope, que pertencem à família Papillomaviridae, são muito comuns e geralmente passam despercebidas. Cerca de 50 a 80 em cada 100 mulheres são infectadas pelo HPV pelo menos uma vez, geralmente após o primeiro contato sexual; sendo que os homens também podem ser infectados pelo HPV e transmitir o vírus.

Em 90 de cada 100 casos, o sistema de defesa do próprio corpo da mulher combate os vírus com sucesso; mas, nos outros casos, elas sobrevivem. O resultado: uma infecção persistente permanece. Com isso, Lopes et. al. (2024) completa que podem ocorrer alterações celulares no revestimento do colo do útero, que podem piorar com o tempo e evoluir para câncer cervical. Em média, esse processo leva de sete a dez anos.

Se inicialmente apenas as células da superfície do colo do útero degenerarem, esta é descrita por Barreto et. al. (2024) como uma condição pré-cancerosa (carcinoma in situ). Somente quando as células mais profundas se degeneram é que isso é chamado de câncer cervical, sendo os tipos de CCU mais comuns:

– Colo do útero com mucosa: área de transição entre a mucosa cervical e a mucosa vaginal. O câncer cervical geralmente ocorre na área de transição entre a membrana mucosa da vagina e o canal cervical.

– Carcinoma de células escamosas: O tecido de cobertura é tecnicamente chamado de epitélio escamoso. É por isso que os médicos chamam os tumores que surgem desse tecido de carcinoma de células escamosas. Eles afetam 7 a 8 em cada 10 pacientes com CCU.

– Adenocarcinoma: Os tumores do tecido glandular são chamados de adenocarcinomas. Isso afeta cerca de 2 em cada 10 pacientes.

– Outros tipos de tumor: Os médicos raramente encontram outro tipo de tumor, por exemplo, uma mistura de células escamosas e adenocarcinoma ou um tumor neuroendócrino.

No geral, Pereira et. al. (2024) realçam que as diferenças regionais e a incidência de CCU estão relacionadas com desigualdades no acesso aos serviços de vacinação, rastreio e tratamento, fatores de risco, incluindo a prevalência do HPV, e determinantes sociais e econômicos, como sexo, preconceitos de gênero e pobreza. As mulheres que vivem com HPV têm 6 vezes mais probabilidade de desenvolver cancro do colo do útero em comparação com a população em geral, e estima-se que 5% de todos os casos de cancro do colo do útero sejam atribuíveis ao HPV. O CCU afeta desproporcionalmente as mulheres mais jovens e, como resultado, 20% das crianças perdem a mãe devido a esse cancro.

O papilomavírus humano (HPV) é uma infecção sexualmente transmissível comum que pode afetar a pele, a área genital e a garganta. Quase todas as pessoas sexualmente ativas serão infectadas em algum momento da vida, geralmente sem sintomas. Na maioria dos casos, o sistema imunológico elimina o HPV do corpo. A infecção persistente por HPV de alto risco pode causar o desenvolvimento de células anormais, que se transformam em câncer (LOPES, 2024).

Como a infecção persistente por HPV do colo do útero (a parte inferior do útero ou útero, que se abre para a vagina – também chamada de canal do parto), se não for tratada, causa 95% dos cancros do colo do útero, é importante citar que os fatores de risco para a progressão do cancro incluem o grau de oncogenicidade do tipo HPV, o estado imunitário, a presença de outras infecções sexualmente transmissíveis, o número de nascimentos, a idade jovem da primeira gravidez, o uso de contraceptivos hormonais e o tabagismo. Por isso, Magalhães et. al. (2024) revela que aumentar a sensibilização do público e o acesso à informação e aos serviços são fundamentais para a prevenção e o controle ao longo da vida, afinal, em qualquer idade, com ou sem sintomas, a detecção precoce seguida de tratamento imediato e de qualidade pode curar o câncer do colo do útero.

A importância da detecção precoce do câncer do colo do útero e as técnicas de descoberta do HPV e biomarcadores

Aproximadamente 4.600 mulheres são diagnosticadas com CCU todos os anos. Antes de os serviços de detecção precoce estarem disponíveis, este era um dos cancros mais comum entre as mulheres. De acordo com Pereira et. al. (2024), o tratamento do câncer cervical geralmente envolve a remoção cirúrgica do útero e, às vezes, das trompas de falópio e dos ovários. Este procedimento é particularmente drástico se a mulher ainda deseja ter filhos, já que a gravidez não é mais possível após a remoção cirúrgica completa.

Se os hormônios ovarianos forem perdidos (somente após a remoção dos ovários), a mulher também entrará na menopausa precoce se tiver sangramento menstrual antes do procedimento. O resultado são sintomas típicos da menopausa, como ondas de calor, sudorese, palpitações ou palpitações cardíacas, perda de densidade óssea (osteoporose) e membranas mucosas secas e vulneráveis. Também podem ocorrer distúrbios do sono, humor depressivo e problemas de concentração.

Na concepção de Ywahashi, Corrêa e Silva (2024), o tratamento também pode causar comprometimento da função da bexiga (incontinência urinária), encurtamento e/ou estreitamento da vagina e cicatrizes e aderências no interior do abdômen. O resultado pode ser dor no estômago e nas costas, bem como durante a relação sexual. Portanto, as consequências do CCU representam um grande fardo físico e mental para muitas mulheres. A perda de órgãos e as alterações na sexualidade podem ter um impacto significativo na autocompreensão, na autoimagem e na autoestima, especialmente nas mulheres mais jovens.

Do ponto de vista puramente físico, Oliveira, Souza e Randow (2024) esclarecem que a remoção do útero não restringe as sensações sexuais da mulher. Mesmo que a vagina tenha de ser ligeiramente encurtada, as áreas importantes para o prazer sexual (clitóris, lábios e área de entrada vaginal) permanecem tão funcionais como antes. A capacidade de ter orgasmo é preservada. Mulheres que sofreram menstruações intensas e/ou dolorosas não apresentam mais esses sintomas após uma histerectomia.

Contudo, para algumas mulheres, não ter mais útero é principalmente um problema psicológico. Elas não se sentem mais como uma “mulher completa” porque, inconscientemente ou conscientemente, equiparam ser mulher a ser fértil. Talvez tais sentimentos sejam uma oportunidade para questionar a imagem unilateral de ser mulher. Além disso, a remoção ou radiação dos ovários como parte do tratamento do câncer irá colocar a mulher na pós-menopausa se ela ainda estiver menstruando antes do procedimento.

Em linguagem técnica, Melo (2024) descreve que a pós-menopausa é a fase da vida após a última menstruação da vida da mulher. Essa fase geralmente começa aos 52 anos. A alteração hormonal ocorre naturalmente ao longo de vários anos, permitindo que o corpo se adapte gradualmente às novas condições. Entretanto, em casos de cirurgia, a falta de hormônios ovarianos é particularmente perceptível através de ondas de calor e secura vaginal. Distúrbios do sono, tendência a suar, alterações de humor e ganho de peso também começam a ser sentidos. E o resultado da deficiência de estrogênio costuma ser o aumento da descalcificação óssea e da calcificação das artérias coronárias. Assim, algumas mulheres têm pouco interesse pela sexualidade nesse período, principalmente devido ao estresse físico e psicológico.

A radiação na região pélvica frequentemente afeta a mucosa vaginal. Na área de radiação, a pele fica vermelha como uma queimadura solar. Isso significa que a vagina pode ficar muito sensível ao toque por algumas semanas após a radiação. Como a pele também se machuca mais facilmente, pode ocorrer um leve sangramento durante ou após a relação sexual. Quando a irritação da mucosa vaginal induzida pela radiação diminui, começa a formação de cicatrizes. Com o tempo, a vagina pode tornar-se tão estreita que a relação sexual não é mais possível (BARRETO et. al., 2024).

Lopes (2024) informa que algumas mulheres que passam pelo tratamento cirúrgico ou radioterápico também apresentam problemas para urinar. Um problema é que pequenas quantidades de urina saem incontrolavelmente porque os músculos da bexiga podem ser afetados pelo tratamento, principalmente pela radioterapia. E o medo de urinar involuntariamente pode ser muito estressante. Problemas com o esvaziamento da bexiga geralmente não ocorrem porque a estrutura de suporte uterina só é removida muito raramente e apenas em estágios muito avançados, onde os nervos da bexiga podem ser lesionados. Lesões nos nervos responsáveis ​​pelo funcionamento da bexiga também podem levar à retenção urinária e à formação de urina residual, o que o torna mais suscetível a infecções do trato urinário e às vezes pode ser doloroso.

Com tantas consequências negativas relacionadas ao tratamento do CCU quando este não está em sua fase inicial, percebe-se que é de suma importância buscar formas de se prevenir e de se rastrear/detectar a doença o mais cedo possível. Ser vacinado aos 9-14 anos de idade, na visão de Magalhães et. al. (2024) é uma forma altamente eficaz de prevenir a infecção pelo HPV, o cancro do colo do útero e outros cancros relacionados com o HPV.  Em 2023, foram detectadas 6 vacinas contra o HPV disponíveis globalmente e todas protegem contra os tipos 16 e 18 de HPV de alto risco, que causam a maioria dos CCU, demonstrando ser seguras e eficazes.

Como prioridade, Pereira et. al. (2024) alega que as vacinas contra o HPV devem ser administradas a todas as mulheres com idades compreendidas entre os 9 e os 14 anos, antes de se tornarem sexualmente ativas. A vacina pode ser administrada em 1 ou 2 doses. Pessoas com sistema imunológico reduzido devem receber idealmente 2 ou 3 doses. Alguns países também optaram por vacinar os rapazes para reduzir ainda mais a prevalência do HPV na comunidade e para prevenir cancros nos homens causados ​​pelo HPV.

Outras formas importantes de prevenir a infecção pelo HPV, descritas nos estudos de Ywahashi, Corrêa e Silva (2024) incluem: não fumar ou parar de fumar, usar preservativos em todas as relações sexuais, fazer a circuncisão masculina voluntária, realizar a triagem cervical periodicamente e assegurar o tratamento de pré-cânceres. O rastreio a partir dos 30 anos (25 anos em mulheres que vivem com HPV) pode detectar doenças do colo do útero que, quando tratadas, também previnem o cancro do colo do útero.

Por essa razão, Lopes et. al. (2024) menciona que as mulheres devem ser rastreadas para o CCU a cada 5-10 anos, a partir dos 30 anos; e as que vivem com HPV a cada 3 anos, a partir dos 25 anos, tendo em vista que os pré-cancros raramente causam sintomas, razão pela qual o rastreio regular do cancro do colo do útero é importante, mesmo que a mulher tenha sido vacinada contra o HPV.  A autocoleta de uma amostra para teste de HPV, que pode ser a escolha preferida das mulheres, demonstrou ser tão confiável quanto as amostras coletadas por profissionais de saúde.

Após um teste de HPV positivo (ou outro método de triagem), um profissional de saúde pode procurar alterações no colo do útero (como pré-cânceres) que podem evoluir para câncer cervical se não forem tratadas. O tratamento de pré-cânceres é um procedimento simples e previne o câncer cervical. O tratamento pode ser oferecido na mesma consulta (abordagem ver e tratar) ou após um segundo teste (abordagem ver, fazer triagem e tratar), o que é especialmente recomendado para mulheres que vivem com HPV (OLIVEIRA, SOUZA e RANDOW, 2024).

Os tratamentos de pré-cânceres são rápidos e geralmente indolores, com complicações pouco frequentes. As etapas do tratamento incluem colposcopia ou inspeção visual do colo do útero para localizar e avaliar a lesão seguida por: ablação térmica, que envolve o uso de uma sonda aquecida para queimar células; crioterapia, que envolve o uso de uma sonda fria para congelar as células; LEETZ (excisão em alça grande da zona de transformação), que envolve a remoção de tecidos anormais com uma alça aquecida eletricamente; e/ou uma biópsia em cone, que envolve o uso de uma faca para remover uma fatia de tecido em forma de cone.

Com base em tudo isso, Lopes (2024) denota que nas últimas duas décadas, melhorias substanciais na compreensão da história natural da carcinogênese cervical associada ao HPV, bem como avanços nas tecnologias moleculares, levaram à disponibilidade de novos testes de triagem que fornecem alternativas ou métodos adjuvantes à citologia. Destacam-se entre estes os ensaios de rastreio baseados em HPV-DNA, já amplamente utilizados como métodos adjuvantes para rastreio primário e para triagem de citologia duvidosa.

Assim, Melo (2024) enuncia que os métodos de detecção de HPV mais atuais disponíveis comercialmente são PCR de amplificação de DNA de alvo específico do tipo e DNA de amplificação de sinal ISH, que são aprovados para amostras cervicais. A PCR do DNA do HPV é uma técnica de amplificação alvo que amplifica eficazmente pequenas quantidades de sequências de DNA numa amostra biológica contendo diversos tipos de células, utilizando iniciadores que podem ser específicos para um único tipo de HPV ou sequência alvo partilhada por vários tipos.

Por sua vez, o DNA de amplificação de sinal ISH é uma técnica de amplificação de sinal que utiliza sondas de DNA marcadas (que podem ser específicas para um tipo de HPV ou vários tipos de HPV ou misturadas em uma única reação para cobrir uma variedade de tipos de HPV) que se ligam a uma sequência alvo específica de DNA- formando híbridos visualizados por microscopia. O desempenho do DNA PCR e do DNA ISH é comparável, mas uma comparação direta sugere que o DNA ISH pode ser mais prático como ferramenta de diagnóstico devido à sua capacidade de diferenciar de forma confiável a infecção relevante pelo HPV do vírus passageiro ou contaminante (MELO, 2024).

Vale aqui mencionar que a citologia foi introduzida no início da década de 1950 como método de triagem primário como parte dos exames preventivos anuais, embora nunca tenha sido sujeita a avaliação de eficácia em ensaios randomizados; e tornou-se um componente bem estabelecido dos cuidados preventivos padrão na maioria dos ambientes industrializados. E embora a sensibilidade clínica de um único exame de Papanicolau seja bastante modesta (60-70%), Lopes (2024) cita que o sucesso do rastreamento baseado em citologia é alcançado por testes de Papanicolau repetidos com frequência, causando custos substanciais para o sistema de saúde.

A citologia, também conhecido como teste de Papanicolaou, é o método tradicional para rastrear mulheres, sendo muito eficaz na detecção de lesões cervicais através da microscopia. Além da citologia convencional, existe também um método alternativo, conhecido como citologia em base líquida (LBC). Essa técnica requer um processamento mecânico para criar lâminas de amostras líquidas (PEREIRA, 2024, p.41).

Vale aqui mencionar que, na coleta de citologia líquida, há a possibilidade de realizar testes de biomarcadores de câncer já aproveitado a amostra trazendo benefícios no rastreamento e agilidade no diagnóstico. Contudo, os estudos analisados dão ênfase ao Papanicolau, por ser o programada de rastreio mais utilizado. Assim, apesar dele ter reduzido significativamente a incidência do cancro do colo do útero, Magalhães et. al. (2024) ressalta que o rastreio baseado na citologia tem várias limitações. Testes de Papanicolau equívocos ou levemente anormais exigem retestes dispendiosos ou investigação diagnóstica por colposcopia e biópsia. Além disso, em países com poucos recursos, tem sido difícil estabelecer e manter programas baseados em citologia.

Para Pereira et. al. (2024), apesar da carga social significativa dos cancros associados ao papilomavírus humano (HPV), as intervenções de rastreio clínico para cancros não cervicais associados ao HPV não estão disponíveis. E é nesse sentido que os biomarcadores sanguíneos podem ajudar a colmatar esta lacuna no tratamento. Os anticorpos E6 do HPV-16 e o ​​DNA circulante do HPV-16 são os biomarcadores sanguíneos mais robustos e mais promissores para cânceres associados ao HPV até o momento. Análises de validade comparativa são garantidas. Variações na prevalência de DNA de HPV de alto risco específico do tipo de tumor, de acordo com o local anatômico e a região mundial, destacam a necessidade de biomarcadores direcionados a mais tipos de HPV de alto risco. Investigações adicionais do perfil de expressão de microRNA baseado no sangue parecem indicadas.

Avanços e perspectivas futuras para o rastreamento e diagnóstico do CCU

Como já mencionados, o CCU pode ser curado se diagnosticado e tratado numa fase inicial da doença. Reconhecer os sintomas e procurar aconselhamento médico para resolver quaisquer preocupações é um passo crítico. Por isso, Yawahashi, Corrêa e Silva (2024) manifestam que as mulheres devem consultar um profissional de saúde se notarem: sangramento incomum entre períodos, após a menopausa ou após relação sexual; corrimento vaginal aumentado ou com mau cheiro; sintomas como dor persistente nas costas, pernas ou pélvis; perda de peso, fadiga e perda de apetite; desconforto vaginal; e/ou inchaço nas pernas.

Avaliações clínicas e testes para confirmar um diagnóstico são importantes e geralmente serão seguidos de encaminhamento para tratamentos, que costumam ser simples, caso a doença esteja em sua fase inicial. E à medida que os países de baixo e médio rendimento intensificam o rastreio do colo do útero, Barreto et. al. (2024) destaca que serão detectados mais casos de CCU, especialmente em populações anteriormente não rastreadas. Portanto, as estratégias de encaminhamento e gestão do cancro precisam de ser implementadas e expandidas juntamente com os serviços de prevenção.

Lopes et. al. (2024) aponta que a citologia Papanicolau ainda é o principal teste de triagem, isoladamente ou em conjunto com o teste de HPV. Entretanto, em alguns países europeus, foi recomendada uma mudança para o rastreio primário do HPV seguido de triagem citológica. Isso porque novos biomarcadores podem ter uso potencial na triagem primária, como testes de triagem para triagem citológica primária e como testes de triagem para triagem primária de HPV. E, para que qualquer biomarcador seja útil, o resultado do teste deve influenciar o manejo clínico. Assim, as opções de manejo incluem encaminhamento direto para tratamento, encaminhamento para colposcopia para confirmar histologicamente o pré-câncer, maior vigilância por meio de triagem mais intensiva ou liberação para triagem de rotina.

As opções de manejo devem ser escolhidas com base no risco de pré-câncer e câncer de um indivíduo, indicado pelos resultados dos testes de triagem e outros indicadores de risco, como a idade. Além disso, Melo (2024) notifica que, ao avaliar as opções de rastreio, é importante considerar os danos físicos e financeiros associados a testes e procedimentos desnecessários. Resultados de testes falso-positivos podem causar ansiedade, levar ao tratamento excessivo das mulheres, aumentar os riscos de complicações obstétricas e, assim, aumentar os custos posteriores de um programa de rastreio.

Considerando isso, Pereira et. al. (2024) enfatiza que a introdução da citologia em base líquida diminuiu a proporção de lâminas inadequadas e permitiu testes reflexos para outros marcadores moleculares. No entanto, as taxas de falsos negativos associadas à citologia continuam a ser substanciais, principalmente porque a detecção citológica ainda depende da identificação visual e da interpretação subjetiva das alterações morfológicas induzidas pelo HPV carcinogênico.

Como o objetivo dos programas de rastreio do CCU é prevenir o cancro e não tratar a neoplasia intraepitelial cervical, Oliveira, Souza e Randow (2024) alegam que, atualmente, um limiar de tratamento de lesões neoplasia intraepitelial cervical é amplamente utilizado, apesar do fato de que uma grande porcentagem de lesões regridem espontaneamente. Desse modo, uma área importante da pesquisa de biomarcadores do CCU concentra-se na identificação de marcadores para lesões cervicais que provavelmente progridem para câncer, sendo que os limiares de risco e os recursos disponíveis podem variar substancialmente entre populações e podem levar a diferentes recomendações de rastreio com base nas soluções de compromisso ótimas entre benefícios e danos.

Assim, a estratégia global da OMS define eliminação como a redução do número de novos casos anualmente para 4 ou menos por 100 000 mulheres e estabelece três metas a serem alcançadas até 2030 para colocar todos os países no caminho da eliminação nas próximas décadas: 90% das meninas vacinadas com a vacina contra o HPV até os 15 anos; 70% das mulheres examinadas com um teste de alta qualidade aos 35 e 45 anos; e 90% das mulheres com doença cervical recebendo tratamento (YWAHASHI, CORRÊA e SILVA, 2024).

A modelização estima que um total cumulativo de 74 milhões de novos casos de CCU possa ser evitado e que 62 milhões de mortes possam ser impedidas até 2120 se for atingido este objetivo de eliminação. E como a prevenção do pré-câncer e do câncer associados ao HPV também é um elemento-chave da estratégia global do setor de saúde da OMS sobre HIV, hepatite e infecções sexualmente transmissíveis 2022-2030 e a resolução WHA74 (que visa fortalecer a capacidade da OMS de responder a emergências sanitárias), Lopes (2024) delineia que a Assembleia Mundial da Saúde inclui ações sobre saúde bucal, sendo necessárias investigações adicionais para tomar decisões de manejo.

Enfim, Oliveira, Souza e Randow (2024) aludem que a prevenção do CCU está numa fase de transição, especialmente dos programas de rastreio baseados em citologia para a prevenção baseada no HPV. Com a prevenção primária utilizando vacinas e a prevenção secundária utilizando um teste de DNA do HPV altamente sensível com valor preditivo negativo a longo prazo, o alargamento dos intervalos de rastreio será crucial para que estes programas funcionem. Contudo, novos biomarcadores serão importantes para decidir quem entre as mulheres HPV-positivas precisa ser encaminhada para avaliação ou tratamento adicional, devendo-se considerar que a confiança na citologia, com interpretação subjetiva e variabilidade substancial entre observadores, juntamente com potencial para erros de amostragem/coleta permanece um desafio que se espera superar em breve.

Nesse contexto, Melo (2024) dispõe que grandes estudos estão atualmente em andamento para vários candidatos a biomarcadores de triagem. Com isso, pode-se esperar que os primeiros programas de rastreio baseados em testes primários de HPV e novos biomarcadores como testes secundários sejam implementados dentro de alguns anos, sendo essencial reservar o tratamento para as mulheres que correm o risco de desenvolver cancro, em vez de tratar qualquer lesão de alto grau; e levando em conta que biomarcadores prospectivos podem desempenhar um papel importante nessas decisões terapêuticas. Além disso, vale ressaltar que a implementação de novas estratégias de prevenção será diferente em cada ambiente de saúde; dentro de alguns anos, por isso, espera-se ver uma grande variedade de programas de prevenção do CCU em paralelo.

Enfim, entendendo que o rastreio citológico é especialmente desafiado nas populações vacinadas contra o HPV, uma vez que a redução da prevalência de neoplasias intraepiteliais cervicais será muito maior do que a redução de anomalias de baixo grau, diminuindo ainda mais a relação sinal-ruído dos testes citológicos, conclui-se que os esforços mais promissores para conter o aumento dos custos de saúde dependem do prolongamento dos intervalos de rastreio através de melhorias no valor preditivo negativo do teste de rastreio, que é uma fraqueza do rastreio citológico de baixa sensibilidade.

Conclusão

Por meio desse estudo, viu-se que o câncer do colo do útero, também chamado de cancro cervical é fácil de tratar, especialmente em seus estágios iniciais. No geral, o curso da doença e as chances de recuperação dos pacientes dependem principalmente dos seguintes fatores: o estágio do tumor, ou seja, até que ponto e em qual tecido o tumor se espalhou; o tamanho do tumor; se as células cancerosas se espalharam para os gânglios linfáticos da pelve e da artéria principal; e se os médicos conseguirão remover completamente todo o tecido canceroso, caso seja realizada uma cirurgia.

Como a detecção rápida e o rastreio primário do HPV demonstrou ser essencial e deve substituir o rastreio baseado em citologia por ser viável e, provavelmente rentável porque permite a extensão segura dos intervalos de rastreio após um teste de HPV negativo, foi verificado, também, que biomarcadores específicos de doenças ou novos ensaios de metilação podem servir como marcadores secundários após um teste de DNA de HPV positivo para identificar mulheres com pré-cânceres prevalentes que necessitam de colposcopia ou tratamento imediato.

Entretanto, é importante ressaltar que, nestes casos, estes marcadores não estão suficientemente validados para introdução em programas de rastreio baseados em HPV, mesmo a identificação de biomarcadores prognósticos que podem prever a progressão para cancros invasivos sendo uma área importante, mas desafiante, da investigação de biomarcadores. Existe, ainda, uma heterogeneidade substancial nos estudos de descoberta e validação de biomarcadores; fazendo com que, para alguns ensaios comerciais, a heterogeneidade no desenho do estudo e na determinação da doença limite a comparabilidade dos resultados e a geração de meta-análises de alta qualidade.

Porém, os resultados promissores obtidos com um teste de HPV robusto em ambientes com poucos recursos são muito animadores. E assim, à semelhança dos países industrializados, versões de baixo custo de biomarcadores específicos de doenças poderiam ser utilizadas para identificar mulheres que necessitam de tratamento imediato. Tanto em locais com muitos como com poucos recursos, a incorporação de dados de biomarcadores com uma abordagem de rastreio baseada no risco ajudará a identificar combinações de ensaios que alcancem uma estratificação de risco ideal.

E vale aqui mencionar deve ser considerada a oportunidade do aproveitamento da citologia líquida para o rastreamento, uma vez que, nessa mesma amostra, já é possível realizar o teste para os biomarcadores e a citologia, afinal, realizar duas coletas em momentos diferentes ou amostras separadas gera custo e técnica do profissional. Portanto, a coleta da citologia líquida deveria ser realizada de modo mais abrangente que a de Papanicolau, tendo em vista que a primeira possibilita a análise da citologia e dos biomarcadores, encurtando o tempo para diagnóstico do câncer.

REFERÊNCIAS

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