RELAÇÃO DA SARCOPENIA NO DECLÍNIO COGNITIVO EM PESSOAS IDOSAS

RELATIONSHIP BETWEEN SARCOPENIA AND COGNITIVE DECLINE IN THE ELDERLY

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12194132


Guadalupe Monteiro Paula; Isabela Glória Esteves Ribeiro; Lorena Tavares Ferreira Condé; Orientadora: Profª Dra. Ana Maria Barbosa Damasceno.


RESUMO:

Introdução: O Brasil enfrenta um rápido envelhecimento populacional, com 14% da população atualmente classificada como idosa. Projeções indicam que em 2050 esse número chegará a 30%. A senescência, processo natural de envelhecimento, traz consigo desafios como a sarcopenia e o declínio cognitivo. Estudos sugerem uma possível conexão entre sarcopenia e declínio cognitivo, destacando o papel das miocinas na comunicação entre músculo e cérebro. Objetivo: Analisar qual a relação da sarcopenia no declínio cognitivo em pessoas idosas. Método: Foi conduzido levantamento bibliográfico nas bases de dados eletrônicas indexadas nas plataformas: Biblioteca Virtual em Saúde e Public Medline, sendo encontrados 228 artigos publicados entre 2019 e 2023, em língua portuguesa e inglesa. Foram selecionados para a amostra, 7 artigos conforme a avaliação da qualidade metodológica através da escala nível de evidência de Oxford. Resultados: Os estudos demonstraram que a sarcopenia está positivamente associada ao comprometimento cognitivo, com diversos indicadores que se mostraram relevantes nessa relação, como: a diminuição da massa muscular, da velocidade de marcha e da força de preensão manual. Considerações finais: Portanto, a sarcopenia se relaciona como um fator de risco para possíveis danos às funções cognitivas e agravo dos comprometimentos já instalados. A prevenção ou tratamento da sarcopenia é crucial para prevenir o declínio cognitivo. No entanto, é necessário ressaltar a significância de mais estudos para compreender os mecanismos biológicos subjacentes e confirmar a conexão entre sarcopenia e declínio cognitivo.

Palavras-chaves: Idoso; Sarcopenia; Disfunção cognitiva.

ABSTRACT:

Introduction: Brazil faces a fast population ageing, with 14% of its population currently classified as elderly. Projections indicate that by 2050, this number will reach 30%. Senescence, the natural aging process, brings with itself challenges such as sarcopenia and cognitive decline. Studies suggest a possible connection between sarcopenia and cognitive decline, highlighting the role of myokines in the communication between muscle and brain. Objective: To analyze which is the relationship between sarcopenia and cognitive decline in elderly people. Method: A literature review was conducted using electronic databases indexed in the following platforms: Virtual Health Library and PubMed, resulting in 228 articles published between 2019 and 2023, in Portuguese and English. Seven articles were selected for the sample, based on the evaluation of methodological quality using the Oxford Levels of Evidence scale. Results: The studies demonstrated that sarcopenia is positively associated with cognitive behavior, with several indicators that had shown relevant in this relationship, such as muscle mass decreasing, gait speed, and grip strength. Conclusion: Therefore, sarcopenia relates as a risk factor for potential damage to cognitive functions and exacerbation of existing impairments. Prevention or treatment of sarcopenia is crucial to prevent cognitive decline. However, it is necessary to emphasize the significance of further studies to understand the underlying biological mechanisms and confirm the connection between sarcopenia and cognitive decline.

Keywords: Aged; Sarcopenia; Cognitive Dysfunction.

1 INTRODUÇÃO

Conforme o Ministério da Saúde, a legislação brasileira classifica como idoso a pessoa que possui 60 anos ou mais.1 Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referente ao ano de 2020, o número de pessoas idosas no Brasil era o equivalente a 14% da população, estimando que em 2050 chegará a 30% e apontando o crescimento de aproximadamente um milhão de idosos por ano.2 O aumento exponencial desta população, causado pela transição demográfica, redução da mortalidade e consequente aumento da expectativa de vida, vem intensificando a necessidade de aprimorar os conhecimentos e conceitos quanto à melhora da saúde.3

O processo de envelhecimento humano é considerado natural, gradual e contínuo, em que o organismo sofre diferentes mudanças ao longo da vida. Esse evento é conhecido como senescência.3 Essas mudanças ocorrem em diferentes dimensões: física, biológica, psicológica, social e econômica, que geralmente causam prejuízo na qualidade e plenitude da vida, comprometendo e fragilizando a saúde de pessoas idosas, resultando em doenças como a sarcopenia e aceleramento do declínio cognitivo.4

Com o avanço da idade ocorre naturalmente uma redução gradual e progressiva da massa, força e função muscular denominada sarcopenia, influenciando negativamente na qualidade de vida e autonomia do indivíduo.5 Estima-se que a prevalência de idosos com sarcopenia no Brasil é de 17% do total dessa população e o esperado é que em 2030 cerca de 5,2 milhões de idosos apresentariam esta doença.6

A sarcopenia é causada por múltiplos fatores que envolvem tanto aspectos do estilo de vida como o sedentarismo e nutrição inadequada. Igualmente, destaca-se, alterações hormonais, aumento da proteólise, redução da síntese de proteína, perda de neurônios motores, prejuízos na integridade neuromuscular e aumento do percentual de gordura,6 resultando em fragilidade, quedas e comprometimentos físicos e cognitivos.4

Assim como a sarcopenia, o declínio cognitivo é uma consequência da senescência, que pode culminar em disfunções relacionadas a autonomia, a independência e a capacidade de tomar decisões. Trata-se de um processo de perda das habilidades mentais e motoras causado principalmente pelo envelhecimento do cérebro devido a fatores como: a redução do fluxo sanguíneo, inflamações, depósitos de proteína, estresse oxidativo, disfunção mitocondrial e outros. O rebaixamento das funções cognitivas é considerado parte de um processo normal em indivíduos saudáveis e agravado quando associado a outras patologias, sendo um dos motivos de maior procura médica por pessoas idosas.7

Estudos têm demonstrado uma possível associação da sarcopenia e o declínio cognitivo, apontando que ambas condições são ligadas a mecanismos fisiopatológicos complexos e sugerindo a possibilidade dos efeitos causados pela sarcopenia interferirem ou estimularem a progressão do declínio cognitivo.8 Salienta-se que alguns estudos sugerem que pequenas proteínas chamadas miocinas têm um papel importante ao ajudar a comunicação entre músculo e cérebro, sendo essa comunicação essencial para o bom funcionamento das funções cognitivas.9

A expressão das miocinas dos músculos esqueléticos pode ser alterada pela sarcopenia, devido à redução da massa muscular que causa queda de seus níveis, desequilibrando e reduzindo a efetividade de seus efeitos. A teoria se debruça na ideia de que o desequilíbrio da liberação de miocinas pode acelerar alterações do sistema nervoso central, causando prejuízos à comunicação entre músculo e cérebro e influenciando o declínio cognitivo.8, 9

Nesta perspectiva, coloca-se em evidência os desafios relacionados à manutenção da função cerebral de pessoas idosas e a necessidade de compreender melhor se as consequências causadas pela sarcopenia podem levar ao aceleramento do declínio cognitivo.

Portanto, essa investigação se mostra de vital importância para a saúde das pessoas idosas e de grande relevância para o campo de atuação dos profissionais das áreas da saúde, em especial, a fisioterapia. Destaca-se a importância da fisioterapia que atua com propriedade na geriatria e desempenha um significativo trabalho na busca por manter ou recuperar a independência nas atividades de vida diária e prevenção de doenças como a sarcopenia e o processo de declínio cognitivo.

Diante desse contexto, o presente estudo teve por objetivo analisar qual a relação da sarcopenia no declínio cognitivo em pessoas idosas.

2 METODOLOGIA

2.1 Tipo de estudo

O estudo trata-se de uma revisão integrativa realizada a partir da pergunta norteadora: “Qual a relação da sarcopenia no declínio cognitivo em pessoas idosas?”, elaborada utilizando a estratégia de PICo10, para elaboração de pergunta de pesquisa e busca de evidências.

2.2 Plataforma de dados e estratégia de busca

O levantamento bibliográfico foi realizado no período que compreendeu os meses de março a maio de 2024, utilizando as bases de dados eletrônicas indexadas nas plataformas: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Public Medline (PubMed). A busca foi conduzida através dos seguintes descritores de ciências da saúde (DeCS) e MeSH, respectivamente: idoso (Aged), sarcopenia (Sarcopenia), disfunção cognitiva (Cognitive Dysfunction), aplicados de maneira combinada através do operador booleano ‘AND’.

A estratégia de pesquisa ainda contou com a adição dos seguintes filtros: BVS: A) Texto completo; B) Idioma: Português e Inglês; C) Intervalo e ano de publicação: 2019 a 2023; PubMed: A) Texto completo; B) Idioma: Português e Inglês; C) Intervalo e ano de publicação:

2019 a 2023.

2.3 Seleção e admissão dos artigos para amostra

Potenciais estudos identificados pelas estratégias de buscas, demonstrados no QUADRO 1, foram avaliados e selecionados por três examinadores diferentes, de forma independente e cegada. O processo de análise dos estudos foi dividido em três etapas: inicialmente conduzida leitura dos títulos e resumos, além de ser verificada a disponibilidade dos textos de livre acesso. A segunda etapa consistiu no acesso, leitura e avaliação dos manuscritos completos dos estudos identificados na primeira etapa. Na terceira e última etapa, os artigos selecionados passaram pela análise de qualidade metodológica proposta pela escala de Nível de Evidência de Oxford.11

Quadro 1. Estratégia de busca

Fonte: Dados da pesquisa, elaborado pelos autores (2024).

Para o processo de seleção dos artigos foram utilizados os critérios de elegibilidade do QUADRO 2.

Quadro 2. Critérios de elegibilidade

Fonte: Dados da pesquisa elaborado pelos autores (2024).

2.4 Avaliação de qualidade metodológica

Foi utilizada a escala de Nível de Evidência de Oxford, para avaliar a qualidade metodológica dos artigos selecionados na segunda etapa. Essa escala classifica os estudos em grau de recomendação e em níveis de evidência quanto ao tipo de estudo (Anexo 1). São eles: graus A, que compreende os níveis 1a- revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados, 1bensaio clínico controlado randomizado e 1c- resultados terapêuticos. Grau B que compreende os níveis de evidência 2a- revisão sistemática de estudos de coorte, 2b- estudo de coorte, 2cobservação de resultados terapêuticos, 3a- revisão sistemática de estudos caso- controle e 3bestudo caso- controle. Grau C que compreende o nível de evidência, 4- relatos de casos e grau D que compreende o nível de evidência, 5- opiniões de especialistas desprovida de avaliação crítica.11

3 RESULTADOS

A estratégia de busca de dados através dos descritores e filtros gerou um número de 228 artigos para análise e seleção. Em seguida foi conduzida leitura de títulos e resumos destes estudos, sendo selecionados 51 artigos para leitura dos estudos completos. Seguindo os critérios de elegibilidade (inclusão e exclusão), foram selecionados para compor a presente revisão integrativa 7 estudos. As etapas de pesquisa foram conduzidas usando os critérios da representação PRISMA (Principais Itens para Relatar Revisões sistemáticas e Meta-análises)12 como demonstrado no FLUXOGRAMA 1.

Fluxograma 1. – Fluxograma PRISMA referente ao processo de busca e seleção dos artigos

Fonte: Elaborado pelos autores (2024), adaptado de: https://www.prisma-statement.org/prisma-2020-flow-diagram

Os níveis de evidência de cada artigo junto da síntese de informações básicas estão disponibilizados na TABELA 1. As características metodológicas dos sete estudos selecionados para a presente revisão foram organizadas em ficha clínica própria, apresentadas na TABELA 2.

Tabela 1. Qualidade metodológica segundo escala de Nível de Evidência de Oxford

Fonte: Dados da pesquisa, elaborado pelos autores.

Tabela 2. Resumo dos artigos

4 DISCUSSÃO

Vários estudos abordaram a relação entre sarcopenia e declínio cognitivo, buscando compreender a conexão entre essas condições e sua relevância na saúde e qualidade de vida dos idosos. Analisou- se uma amostra de sete artigos, sendo dois de nível de evidência 2A e cinco de nível de evidência 2B conforme a escala de Nível de Evidência de Oxford.10 Alguns fatores foram limitantes durante a investigação, a falta de estudos nível de evidência 1, como ensaios clínicos randomizado e a pouca informação sobre os mecanismos biológicos que explicam a relação entre as condições. Contudo, após análise descritiva e comparativa dos resultados, o estudo revelou que existe relação entre a sarcopenia e o declínio cognitivo em idosos.

Cipolli, et al.18 investigaram a associação entre o comprometimento cognitivo e a sarcopenia em idosos por meio de uma revisão sistemática e meta- análise que analisou 10 artigos, a maioria se tratam de estudos transversais. Os resultados sugeriram a existência de uma significativa associação entre a sarcopenia e o comprometimento cognitivo e a meta- análise de efeitos aleatórios evidenciou um odds ratio (OR), ou seja, uma possibilidade de 2,5 vezes maior para comprometimento cognitivo em idosos sarcopênicos.18

Assim como Cipolli, et al.18 o estudo de Yang, et al.17 mostrou uma correlação positiva entre as condições examinadas. Estes pesquisadores realizaram uma revisão sistemática e metanálise onde investigaram a prevalência de comprometimento cognitivo leve (CCL) em indivíduos com sarcopenia e a prevalência de sarcopenia em indivíduos com CCL. A partir de uma amostra de 13 artigos, em sua maioria transversais, evidenciou que a prevalência associada de sarcopenia foi de 20,5%, que correspondeu à prevalência de 9,1% de CCL.17

Cabe destacar que a pesquisa supracitada mostrou a correlação entre a sarcopenia e declínio cognitivo sendo maior calculada através dos critérios do método da versão japonesa do questionário simples de 5 itens (SARC-F-J). Tais evidências indicam que as diferentes ferramentas de diagnóstico utilizadas nos estudos analisados, podem apresentar diferentes estimativas tanto da prevalência quanto da correlação entre o CCL e a sarcopenia.17

Estudos de Baek, et al.16 identificaram que há associação da sarcopenia e seus indicadores com o declínio cognitivo, a partir de um estudo de coorte ao longo de 3 anos, demonstraram que o Índice Muscular Cumulativo (CMI) foi o indicador de sarcopenia mais relevante na associação com o declínio cognitivo em relação aos outros indicadores utilizados. Além disso, mostraram que os preditores da sarcopenia que apresentaram significativa correlação com o declínio cognitivo foram: a redução de velocidade da marcha e a força da preensão manual.16

Outros autores também evidenciam a prevalência de métodos de avaliação da sarcopenia, a fim de estabelecer a melhor forma de diagnosticar a sarcopenia e o declínio cognitivo. Em uma revisão sistemática e meta- análise, a Análise de Impedância Bioelétrica foi citada com maior ênfase ao se tratar de medir massa muscular.20 E um estudo transversal, mostrou que a utilização do teste de Avaliação Cognitiva Montreal ou Montreal Cognitive Assessement (MoCA) teve maior eficácia para diferenciar as condições normais de comprometimento cognitivo leve e a doença de Alzheimer de comprometimento cognitivo leve.21 Tais ferramentas utilizadas para avaliação e diagnóstico da sarcopenia e declínio cognitivo, devem ser consideradas como critério na diferenciação dos resultados apresentados pelos diferentes investigações.

A relevância na lentidão da marcha, também foi significativa na pesquisa de Salinas-Rodríguez, et al.14, que estimaram a associação entre a sarcopenia e o comprometimento cognitivo leve utilizando como amostra os dados do Estudo sobre Envelhecimento Global e Saúde de Adultos (SAGE). Os resultados demonstraram que a lentidão da marcha foi significativamente associada a resultados baixos nos testes de fluência verbal semântica. Além disso, apresentou uma taxa anual de aumento do declínio cognitivo de 0,8% em idosos sem sarcopenia e de 1,5% em idosos com sarcopenia, mostrando uma associação longitudinal entre as duas condições.14

Cabe salientar que outros autores, ressaltam a relevância da velocidade da marcha como Hoogendijk, et al.22 Tais pesquisadores analisaram três estudos longitudinais e sugerem que a lentidão da marcha pode ser um indicador para o declínio cognitivo e está associado com a transição de comprometimento cognitivo leve para grave.22 Chou, et al.23 realizaram estudo transversal e indicaram que a lentidão da velocidade de marcha pode prever o declínio cognitivo a longo prazo usando o Teste de Substituição de Símbolos de Dígitos.23 E na pesquisa de Kim, et al.24 mostraram que a sarcopenia está relacionada ao comprometimento cognitivo principalmente por meio de seu preditor de velocidade lenta da marcha, sugerindo que a função executiva e velocidade de processamento são as mais associadas à sarcopenia.24

No entanto, segundo Ramoo, et al.13, a diminuição da velocidade da marcha não foi significativamente associada ao comprometimento cognitivo. Diferentemente dos outros pesquisadores, os resultados mostraram que a redução da força de preensão manual e o baixo índice de massa muscular esquelética apendicular foram mais significativamente associados ao desenvolvimento do comprometimento cognitivo. Em suas pesquisas, eles examinaram a conexão entre sarcopenia e comprometimento cognitivo por meio de uma pesquisa longitudinal e constataram que idosos com sarcopenia têm um maior risco de desenvolver comprometimento cognitivo em comparação com aqueles que não possuem sarcopenia. 13

Maniscalco, et al.15 não utilizaram a velocidade da marcha como indicador da sarcopenia. Exploraram se a sarcopenia poderia aumentar o risco de problemas cognitivos utilizando um modelo de predição de massa muscular. Por meio de uma pesquisa no período de 10 anos, mostraram que a sarcopenia está associada ao mau estado cognitivo em idosos, além disso, os resultados apontam que a presença de sarcopenia teve associação significativa com os baixos resultados dos testes de fluência verbal e recordação imediata e tardia de palavras.15 Cabe salientar que outros autores confirmam a associação entre sarcopenia e o teste de fluência verbal através de estudos transversais, apontando que a baixa massa muscular estava associada ao pior desempenho no teste de fluência verbal.25,26

Hu, et al.19 examinaram a associação entre a sarcopenia e o comprometimento cognitivo leve (CCL) através de um estudo de coorte prospectivo com análise transversal e longitudinal dos dados coletados. Sugeriram correlação entre as condições e que a sarcopenia é um fator de influência associado ao CCL. Em ambas análises encontraram associação entre a sarcopenia e as condições cognitivas. Na análise transversal mostraram que a sarcopenia estava associada aos escores de função cognitiva mais baixos e as dimensões orientação, memória, computação e desenho. Por outro lado, a análise longitudinal evidenciou que os indivíduos com sarcopenia têm 1,43 vezes mais chances de desenvolver CCL, mas que os mecanismos exatos que envolvem estas condições permanecem sem explicação.19

Outras pesquisas relatam a falta de explicações sobre os mecanismos biológicos para relação entre a sarcopenia e a disfunção cognitiva em idosos.14, 18, 19 Em estudos narrativos foi abordado diversas hipóteses para a causa dessa relação destacando que a sarcopenia desequilibra a liberação de proteínas chamadas miocinas causando prejuízos a comunicação entre músculo e cérebro,8, 9 e que a sarcopenia causa disfunção nos vasos acarretando prejuízo cognitivo.8 Por serem hipóteses, não confirmam com exatidão, a causa que relaciona as condições de sarcopenia e declínio cognitivo. Assim, como já expresso por outros pesquisadores, há necessidade de mais investigações para essa descoberta.

Todos os estudos da amostra apontam a existência de relação entre a sarcopenia e o declínio cognitivo. Mas na verificação das investigações de Kan, et al.27 e Zhu, et al.28 mostraram que os resultados não tiveram associações significantes entre essas condições. Os autores reconhecem limitações como: as ferramentas utilizadas para avaliar as funções cognitivas e o próprio desenho transversal dos estudos que poderia distorcer ou reduzir a associação examinada.27, 28

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo demonstrou que a sarcopenia está positivamente associada ao comprometimento cognitivo, principalmente com os indicadores de sarcopenia, que se mostraram relevantes nessa relação como diminuição de massa muscular, da velocidade de marcha e da força de preensão manual embora, os mecanismos biológicos que elucidam a relação entre as condições, não são bem descritas e ainda se apresentam como hipóteses.

Conforme a análise, a sarcopenia é um fator de risco para acelerar o declínio cognitivo, assim como um fator de agravo dos comprometimentos já instalados. A prevenção ou o tratamento da sarcopenia são fundamentais para prevenir possíveis danos às funções cognitivas e reduzir riscos indesejados, como os processos demenciais.

Durante a pesquisa, verificou-se menor número de artigos brasileiros que atendiam aos tipos de estudos selecionados na escala de nível de evidência escolhida, o que sugere a necessidade de mais estudos que envolvam a população brasileira e suas dimensões.

Em suma, essa investigação traz resultados extremamente importantes para os profissionais da saúde, em especial à área da fisioterapia. Dado o seu envolvimento direto com a saúde de adultos e idosos, os profissionais fisioterapeutas têm a capacidade de promover um envelhecimento saudável e com qualidade de vida, especialmente no que se refere à perda de força, massa muscular e que estão associados ao processo cognitivo. Desta forma poderão agir de forma eficaz para lidar com essas condições.

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