VIVÊNCIAS DO ENFERMEIRO GESTOR FACE À PANDEMIA COVID-19, NA REDE PÚBLICA DE SAÚDE DE CAMPO NOVO DO PARECIS, MATO GROSSO, BRASIL, EM 2020

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12073347


Perin, Gizelle


RESUMO

A Pandemia de Covid-19 surgiu no final de 2019 como um enorme desafio para os sistemas de saúde, devido ao elevado número de pessoas infectadas com complicações graves e de óbitos em decorrência dessa enfermidade, exigindo grande demanda de recursos humanos e materiais dentro das unidades de saúde. Dentre todos os profissionais de saúde que atuam diretamente no combate à pandemia, as equipes de enfermagem representam os protagonistas do enfrentamento da pandemia por covid 19. Este estudo tem como objetivo descrever as vivências do enfermeiro gestor da Rede Pública de Saúde Municipal de Campo Novo do Parecis-MT, em 2020 na Pandemia Covid-19. Pesquisa qualitativa, exploratória, do tipo pesquisa-ação, desenvolvida no município de Campo Novo do Parecis/MT. Participaram do estudo 17 enfermeiros da rede pública de saúde municipal que atuam em algum segmento de gestão durante a pandemia COVID-19. Para a coleta de dados foi utilizada uma entrevista semi-estruturada. A análise de dados seguiu os passos da análise de conteúdo. Todos os entrevistados citaram mudanças na dinâmica de trabalho, não valorização da profissão pela sociedade e dificuldades. Dentre essas dificuldades incluem-se o aumento das responsabilidades, a adaptação a uma nova rotina de trabalho, a conscientização da população e dos profissionais da saúde em relação aos riscos e aos cuidados a serem tomados, a busca de novas estratégias e planos para se adaptarem a essa nova realidade e o surgimento de sentimentos como o medo e a ansiedade entre os membros da equipe. A gestão de enfermagem é fundamental para que seja prestada uma boa assistência de saúde não só em uma pandemia mas em todos os cenários de atenção à saúde. O resultado de uma gestão em enfermagem com liderança eficaz, em todos os momentos vividos, traz benefícios a todos os envolvidos, quer seja a equipe sob sua gerência ou o paciente, a família e a comunidade. É mais difícil alcançar resultados satisfatórios diante do desconhecido, do não explicado e não compreendido. 

Palavras chave: Gestão, Liderança, Pandemia, Covid-19.

ABSTRACT

The Covid-19 Pandemic emerged at the end of 2019 as a huge challenge for health systems, due to the high number of people infected with serious complications and deaths from this disease, requiring great demand for human and material resources within of the health units. Among all health professionals who work directly in the fight against the pandemic, the nursing teams represent the protagonists of the fight against the pandemic by covid 19. This study aims to describe the experiences of the nurse manager of the Public Health Network of Campo Novo do Parecis-MT, in 2020 in the Covid-19 Pandemic. Qualitative, exploratory research, action research type, developed in the city of Campo Novo do Parecis/MT. The study included 17 nurses from the municipal public health network who work in some management segment during the COVID-19 pandemic. For data collection a semi-structured interview was used. Data analysis followed the steps of content analysis. All respondents mentioned changes in work dynamics, lack of appreciation of the profession by society and difficulties. These difficulties include increased responsibilities, adaptation to a new work routine, awareness of the population and health professionals regarding the risks and care to be taken, the search for new strategies and plans to adapt to this new reality and the emergence of feelings such as fear and anxiety among team members. Nursing management is essential for providing good health care not only in a pandemic but in all health care scenarios. The result of nursing management with effective leadership, at all times experienced, brings benefits to everyone involved, whether it is the team under its management or the patient, family and community. It is more difficult to achieve satisfactory results in the face of the unknown, the unexplained and ununderstood.

Keywords: Nursing; Management; Leadership; Pandemic; Covid-19

 INTRODUÇÃO

A gestão e a liderança são pré-requisitos do enfermeiro, em virtude das características inerentes à profissão e descritas na Lei 7.498/1986, de 25 de junho, que dispõe sobre a regulamentação do exercício da Enfermagem no Brasil. Além de que, na atual conjuntura mercadológica ocupacional, o saber gerenciar com eficiência faz diferença no dia-a-dia do exercício profissional, principalmente, ante a Pandemia Covid-19. Qual foi o papel do enfermeiro gestor frente à Pandemia? Sendo o papel da equipe de Enfermagem fundamental e essencial para a assistência de saúde na Pandemia, este trabalho pergunta de que forma a gestão de enfermagem, em serviços da atenção básica, atuou frente a todas as adversidades que surgiram no combate à Pandemia? 

O trabalho da equipe de enfermagem segue algumas exigências: o profissional tem que estar preparado todo o tempo para lidar com a dor e com a morte; ter habilidades, em sua rotina de trabalho, para lidar com dificuldades e condições adversas e a baixa remuneração e pouco reconhecimento. Tratam-se de situações que geram estresse durante o trabalho, chegando ao desenvolvimento do esgotamento emocional e até mesmo a síndrome de Burnout. Essas condições justificam a realização de estudos e pesquisas que busquem entender a realidade emocional da equipe de enfermagem e descobrir formas de melhorar as condições físicas, financeiras e emocionais dos mesmos dentro e fora do seu ambiente de trabalho. Assim, com o advento desta nova pandemia na sociedade contemporânea, coube aos enfermeiros gestores na “linha de frente¨, inseridos nos mais diversos campos de atuação, tanto público como privado, a responsabilidade de colaborar na criação de planos de enfrentamento, preparação e resposta às demandas oriundas da doença pelo 9 novo coronavírus. Posteriormente ao planejamento, sucedeu-se a etapa da implementação, tendo em conta a exigência de uma resposta coordenada e efetiva do setor da saúde, sobretudo na rede pública. 

Entende-se, que após 102 anos da última pandemia desta magnitude – a Gripe Espanhola – o conhecimento científico de enfermagem, acerca das vivências dos enfermeiros, em situações de pandemia, ficou obsoleto. À vista disso, tem-se como pressuposto que é cogente possuir o saber atualizado sobre essa temática, a fim de conhecer e entender melhor as dinâmicas da realidade vivenciada por estes profissionais de saúde e o impacto na atuação profissional, e, consequentemente, poder intervir com sabedoria e eficiência nessa realidade. Espera-se elucidar os questionamentos levantados por meio desta pesquisa e, a partir das reflexões realizadas. Conjectura-se que o estudo é inovador e impactante no campo do conhecimento de administração em enfermagem, por ocupar-se de uma temática contemporânea e com pesquisas restritas nessa esfera – Enfermeiro Gestor correlacionado com pandemia Covid-19.

A pandemia do Covid-19, testou a capacidade do sistema de saúde em encarar e suportar as novas situações e dificuldades proporcionadas por esse vírus. Essas dificuldades envolvem fatores sociais e econômicos, que geram muitas dúvidas e questionamentos sobre quais protocolos e condutas seguir. No epicentro dessa catástrofe estão os enfermeiros, que representam a maioria dos profissionais da linha de frente, atuando em uma diversidade de setores. A atual situação repleta de desafios tem demonstrado para toda a população a grande importância dos profissionais de enfermagem em todas as suas linhas de atuação (Alves e Ferreira, 2020).

A descrição e o entendimento da vivência da Enfermagem nesse período são primordiais para que o mundo consiga perceber a sua importância como gestora em serviços de saúde, para que ela passe a ser reconhecida como uma categoria vital para o sistema de saúde brasileiro. O ato de cuidar é de extrema relevância para a recuperação do paciente, assim, o cuidado deve ser analisado por uma nova perspetiva, que responda às seguintes perguntas: Quem cuida de quem cuida? Quem cuidará de quem cuidava e adoeceu? (Souza e Souza, 2020).

A equipe de enfermagem, incluindo auxiliares, técnicos e enfermeiros representa a maior parcela de recursos humanos nos diversos níveis de atenção à saúde sendo os profissionais que atuam de forma direta na assistência e na atenção ao paciente. Assim, é necessário que se reflita sobre a adoção de estratégias de segurança e proteção desses profissionais quando atuam junto a pacientes suspeitos ou infectados pelo coronavírus. Não existe tratamento preventivo comprovado até o momento e o risco de óbito preocupa a todos. Dessa forma, os profissionais de saúde, que estão na linha de frente, tornam-se emocionalmente abalados devido ao medo de serem infectados, o que pode influenciar no cuidado ao paciente (Campos, Costa e Branco, 2020).

A resolutividade deste problema é uma importante contribuição à profissão, posto que se conjectura que esclarecerá o impacto da pandemia na vivência dos enfermeiros gestores no enfrentamento a pandemia Covid-19, irá favorecer a aquisição de competências pelo enfermeiro na esfera gerencial, será significativo o aporte teórico e propiciará a atualização dos conhecimentos científicos nesse campo de atuação, com o fortalecimento da administração e da gestão em saúde e em enfermagem. 

O gerenciamento pelo enfermeiro das alterações emocionais, principalmente do estresse, é de fundamental importância frente a situações durante a pandemia que exigem decisões rápidas e complexas. Recomenda-se então que se desenvolva uma boa via de comunicação e de liderança ativa que deve atender a todos os profissionais de saúde e tenha capacidade de detectar qualquer situação para que ocorra a intervenção na saúde desses trabalhadores. Certamente tem sido um grande desafio para o gestor de enfermagem presenciar profissionais que atuavam na linha de frente do combate a pandemia psicologicamente abalados por verem seus parentes e amigos próximos sendo infectados pelo vírus e desenvolvendo a forma grave da doença, e, mesmo assim, continuar desempenhando suas atividades (Pinheiro, Pitombeira e Loyola, 2020)

A pesquisa poderá servir de subsídio aos estudantes de enfermagem que pretendem seguir por essa alçada de ação profissional, aos enfermeiros e às escolas de enfermagem, além de contribuir para futuros ensaios sobre o desempenho profissional durante uma pandemia. Acredita-se, também, que este estudo irá contribuir consideravelmente no campo das ciências, com importante contribuição teórica, e dará subsídios para provocar reflexão crítica e debate acadêmico.

À vista disso, o presente estudo tem como objetivo compreender as vivências do enfermeiro gestor da Rede Pública de Saúde Municipal de Campo Novo do Parecis-MT, no contexto de Pandemia Covid-19”, buscando conhecer as funções e competências dos enfermeiros gestores da Rede Pública de Saúde de Campo Novo do Parecis-MT que atuaram desde o início da Pandemia na gestão de diferentes equipes de enfermagem; e, também, identificar as preocupações e dificuldades sentidas pelo enfermeiro gestor frente a esta situação epidemiológica.

METODOLOGIA

Neste estudo foram analisados a partir de entrevistas se aconteceram mudanças na rotina de trabalho dos gestores de enfermagem durante a Pandemia. Aqueles que relatarem que houve mudanças citaram e descreveram se foram de alguma forma prejudiciais ao seu desempenho profissional e se o influenciaram emocionalmente.

Os participantes voluntários da pesquisa são 17 enfermeiros da Rede Pública de Saúde, que atuam em algum segmento de gestão, em Campo Novo do Parecis, Estado do Mato Grosso, Brasil, durante a pandemia Covid-19.

Os critérios para inclusão na pesquisa foram: ser Bacharelado em Enfermagem, ter atuado junto à Secretaria Municipal de Saúde de Campo Novo do Parecis, por meio de concurso público ou processo seletivo ou cargo de confiança em 2020 e, ter exercido alguma atividade de Gestão em Saúde, a exemplo: coordenar equipe de saúde de uma Unidade de Saúde, coordenar algum departamento ou algum outro tipo de gestão, no ano de 2020, durante a pandemia Covid-19.

Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas a partir de um roteiro proposto. Contudo, as entrevistas não aconteceram por videoconferência e não foram gravadas como planejadas previamente, devido a recusa dos participantes. Dessa forma, as mesmas foram escritas “a punho” pelos sujeitos do estudo. As perguntas foram entregues na forma impressa aos profissionais que puderam responder a todas. A opção pela entrevista semi-estruturada se deu para permitir que todos os entrevistados respondessem às mesmas perguntas sem a possibilidade de muitas variações nas respostas apresentadas. Foram realizadas análises qualitativas a partir das respostas expressadas pelos profissionais entrevistados.

Os resultados obtidos com as entrevistas, foram analisados através do método da análise de conteúdo de Bardin. Através desse método, deve ser iniciada uma pré-análise. Nessa etapa realiza-se a leitura de todo o material para se escolher quais documentos serão analisados. Em seguida, constituir o corpus com base em características como a exaustividade, a representatividade, a homogeneidade e a pertinência. A partir daí, formular hipóteses e objetivos. A etapa seguinte refere-se à exploração do material selecionado através da codificação e da categorização (critérios semânticos, sintáticos, léxico ou expressivo). Além disso, também deve ser feita a enumeração por presença ou ausência, frequência, ordem, direção entre outros. Na última etapa é realizado o tratamento dos resultados obtidos e a sua interpretação por meio da inferência. Na fase de interpretação, as obras foram lidas e analisadas sendo que os eixos temáticos resultantes (categorias) da análise textual foram organizados no item Discussão onde foram confrontados com os resultados das entrevistas.

RESULTADOS

Foram entrevistados 17 Enfermeiros, sendo que um deles não pode responder às questões porque foi afastado de suas funções assim que se iniciou a pandemia, devido à gestação e atualmente encontra-se em licença maternidade. Dessa forma, 16 Enfermeiros participaram da pesquisa. Dentre os enfermeiros entrevistados, três (3) tinham idade entre 20 e 30 anos; nove (9) tinham idade entre 30 e 40 anos; quatro (4) tinham idade entre 40 e 50 anos e apenas um (1) tinha acima de 50 anos de idade.

Em relação à experiência de trabalho como Enfermeiro gestor da Rede Pública durante a pandemia, todos os entrevistados citaram que passaram por muitas dificuldades. Essas adversidades se apresentaram na forma de verdadeiros desafios já que estavam vivenciando uma situação que jamais tinham passado antes. Ao se deparar com uma realidade emergencial em tempo algum vivida anteriormente, a pessoa pode reagir de diferentes formas e isso irá influenciar diretamente nas respostas obtidas a partir das suas ações.

Dentre as dificuldades citadas pelos entrevistados tem-se o aumento das responsabilidades, a adaptação a uma nova rotina de trabalho, a conscientização da população e dos profissionais da saúde em relação aos riscos e aos cuidados a serem tomados, a busca de novas estratégias e planos para se adaptar a essa nova realidade. Além disso, a maioria deles citou também o surgimento de sentimentos que certamente 79 prejudicam o desempenho dos profissionais da saúde. Sentimentos como o medo e a ansiedade se tornaram frequentes entre a equipe, mas, ao mesmo tempo, segundo os relatos, a união da equipe teria sido fundamental para os processos de aprendizagem e de superação.

Os entrevistados também foram perguntados se com o surgimento da pandemia ocorreram mudanças nas suas funções e competências como enfermeiro gestor. Oito dos profissionais responderam que sim. Para alguns foram agregadas mais funções a partir da criação dos Comitês de Enfrentamento e de Educação Continuada. Para outros houve acúmulo de função devido à redução no número de profissionais e ao aumento no número de pacientes. Aqueles que não passaram por mudanças nas suas funções também relataram sobrecarga de trabalho. As duas últimas perguntas do questionário se referiam a valorização dos profissionais de Enfermagem. 

A primeira pergunta abordou como o gestor de enfermagem via a valorização da profissão pela sociedade antes e durante a pandemia do Covid-19. Houve um empate entre as respostas. Metade dos entrevistados respondeu que percebeu valorização do profissional pela sociedade e a outra metade não observou essa valorização.

Também foi questionado se o entrevistado espera que essa valorização do profissional de Enfermagem atribuída pela sociedade durante a pandemia do Covid-19 permaneça elevada com o final da pandemia. Apenas cinco (5) profissionais entendem que essa valorização vá permanecer.

DISCUSSÃO

Os participantes deste estudo, em sua maioria, descreveram que o medo era e é um sentimento constante na sua rotina de trabalho junto ao enfrentamento da pandemia. Alguns relataram também crises de ansiedade, às vezes acompanhada do medo. Ansiedade causada pela insegurança em lidar com o novo e o desconhecido, pelos riscos de infecção, algumas vezes pela distância da família e também pelo cansaço. Observa-se junto aos profissionais entrevistados que a força para dar continuidade ao enfrentamento veio a partir da união da equipe. Essa união fortaleceu os profissionais de saúde gerando em muitos os sentimentos de aprendizado e de superação.

De acordo com Bitencourt et al. (2020), uma estratégia que se mostrou eficaz, adotada pelos gestores de uma Unidade Hospitalar, foi a disponibilidade constante e ativa destes para o acolhimento dos profissionais da saúde. A unidade estava sempre disponível a escutar as solicitações dos profissionais de saúde e responder com prontidão às suas necessidades. 

A ausência de um tratamento específico para a Covid-19 e as incertezas sobre a patogênese do novo vírus podem impactar negativamente na saúde mental dos profissionais de saúde. Portanto, gestores e líderes de equipes devem reconhecer, desde o início, que o gerenciamento de riscos de uma unidade ou organização com elevados 84 níveis de pressão psicológica exigem envolvimento e ação em todos os níveis gerenciais. esse sentido, negociar prioridades, treinamentos abrangentes e estratégias em uma organização estressada requer ação coordenada entre a alta gestão, as chefias e a equipe de linha de frente (Chen, Zheng, Wu, Zhang e Lin, 2020). 

O medo e apreensão entre os enfermeiros da referida instituição é constante e se refere principalmente ao risco de expor-se ao vírus e a preocupação de contágio de suas famílias. Tem-se ainda que saber lidar com a possibilidade de um colapso no sistema de saúde nacional, tendo em vista a continuidade de outras doenças afora a Covid-19, além das preocupações econômicas e trabalhistas relacionadas às recomendações de distanciamento social. 

Aliado a isso, tem-se a insegurança vivenciada pelas constantes mudanças de fluxos de atendimento e protocolos institucionais, o que dificulta a rotina de trabalho. Trava-se uma batalha contra um agente invisível que ameaça a todos e nos mantém refém. Essa situação extrema trazida pelo novo Coronavírus causa pressão psicológica, o que acaba ocasionando ou agravando problemas mentais para os profissionais que estão na linha de frente. 

A OMS, recentemente, publicou um guia para orientar cuidados a saúde mental de diversos grupos, incluindo profissionais de saúde. Para os trabalhadores da saúde, o estresse e a pressão de lidar com o seu trabalho, acrescido do risco de adoecer, provocam severos problemas de saúde mental, aumentando o turnover e a Síndrome de Burnout (Rodrigues e Silva, 2020). 

No contexto da gestão em enfermagem, o enfermeiro gestor desempenha um papel fundamental na prevenção da transmissão do SARS-CoV-2, quer entre pacientes, quer entre profissionais. Por outro lado, mais do que nunca, na atual pandemia, o enfermeiro gestor, ao assegurar a gestão dos recursos humanos disponíveis, otimizando a sua eficiência, eficácia e produtividade, torna-se imprescindível para uma melhor assistência aos pacientes e uma maior satisfação dos profissionais (Ventura-Silva, et al., 2020). 

O gestor de Enfermagem necessita sempre buscar novas ideias e se inventar. Trata-se de uma nova realidade em que a segurança é prioridade no processo de atenção à saúde não só para os profissionais da saúde como para a população. A situação vivenciada leva a uma reflexão referente a importância da percepção da liderança de enfermagem não só nos aspectos técnicos para garantir um melhor atendimento aos pacientes com suspeita ou confirmados para Covid-19, mas também mostra a importância de se ter um olhar sobre como estão as condições físicas e emocionais dos profissionais que estão prestando a assistência direta (Araújo, et al., 2020).

A Enfermagem brasileira, em plena crise sanitária advinda da pandemia de Covid-19, tem demonstrado seu compromisso com a vida dos indivíduos e famílias, grupos e comunidades que cuida em articulação com as equipes de saúde. As universidades têm um papel decisivo na garantia da qualidade do cuidado por meio da formação profissional. A prática da enfermagem na Atenção Primária à Saúde (APS) no Brasil depende de políticas de fortalecimento da saúde como direito e da regulamentação profissional (Oliveira, 2020). 

A Enfermagem hoje representa cerca da metade da força de trabalho em saúde. Além disso, os enfermeiros são reconhecidos como os principais responsáveis pela coordenação das equipes, nos diferentes níveis de Atenção à Saúde. O Enfermeiro é o elemento mais importante da APS. A orientação ao paciente com os cuidados básicos é essencial para a manutenção da saúde e a prevenção de doenças. Em relação a pandemia do Covid-19 pela qual estamos passando, a orientação para a prevenção da infecção pelo vírus é fundamental para a queda no número de óbitos. 

Esse papel da Enfermagem é fundamental. Ainda assim, a Enfermagem não é valorizada como deveria nem pela sociedade e nem pelo poder público. A problemática existente da desvalorização do trabalho de enfermagem ainda faz, entretanto, durante a pandemia, percebe-se que perpassa por questões da própria saúde 86 do trabalhador e reflete na segurança do paciente, uma vez que as condições de trabalho atual trazem o adoecimento dos profissionais, o funcionamento inadequado dos serviços assistenciais e a dificuldade na proteção dos pacientes. Assim, valorizar o trabalho da enfermagem reflete diretamente na qualidade dos serviços de saúde prestados (Oliveira, 2020). 

A auto valorização por parte da enfermagem é importante. A profissão não deve perder de vista atributos que lhe são específicos, como a presença no momento, a escuta, a empatia e o cuidado. Valores que não podem ser minimizados e nem esquecidos, pois, ainda que outras profissões e o uso de tecnologias também proporcionem a saúde e o cuidado, enfermeiros poderão ser a voz de necessidades humanas mais profundas (Silva et al, 2020).

CONCLUSÃO 

Este trabalho mostrou de forma clara que a gestão de enfermagem é fundamental para que seja prestada uma boa assistência de saúde não só em uma pandemia, mas em qualquer outra situação dentro de uma unidade de saúde. Ademais, é evidente que o resultado de uma gestão em enfermagem com liderança eficaz, em todos os momentos vividos, traz benefícios vindouros a todos os envolvidos, quer seja a equipe sob sua gerência ou o paciente, a família e a comunidade. É mais difícil alcançar resultados satisfatórios diante do desconhecido, do não explicado e não compreendido. Diante do contexto apresentado, é possível afirma-se que as hipóteses versadas foram confirmadas, uma vez que houve aumento de atribuições, sobrecarregando a força de trabalho do enfermeiro gerencial e da enfermagem como um todo. Além de que, sentimentos de incertezas, intranquilidade e medo estiveram em evidência. A enfermagem gerencial, também, foi uma das categorias profissionais que mais teve transformações em sua rotina de trabalho e confirmou a extrema importância de possuir o saber atualizado, a enfermagem teve visibilidade, prestígio e relevância junto a sociedade fim de conhecer e entender melhor as dinâmicas da realidade vivenciada e, consequentemente, poder intervir com sabedoria e eficiência nessa realidade fenomenológica. Este estudo nos mostra que, no enfrentamento da pandemia Covid-19, as equipes de gestão em enfermagem representam uma força de trabalho e de planejamento, que é fundamental para organização dos serviços de saúde, visto sua ampla visão gerencial, educadora e de assistência direta à população. Logo, almejamos que esta pesquisa sirva de embasamento científico aos profissionais enfermeiros e às escolas de enfermagem para compreender a experiência e a ciência de atuar como enfermeiro gerencial durante uma pandemia.

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