EVALI: DIAGNÓSTICO E MANEJO TERAPÊUTICO DE UMA PATOLOGIA EM ASCENSÃO

EVALI: DIAGNOSIS AND THERAPEUTIC MANAGEMENT OF AN RISING PATHOLOGY

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11841624


Fernanda Lima; Adriano de Lucena Jambo Cantarelli; Pedro Cantarelli Primo de Carvalho; Renata Fernandes Fialho Cantarelli; Maria da Conceição de Albuquerque Cordeiro Serra; Millena de Castro Vila Nova Dias; Yasmin de Freitas Melo Oliveira; Maria Isadora Almeida Santos; Luciano de Lucena Jambo Cantarelli; Rafael Amorim Jambo Cantarelli


Resumo

Introdução: EVALI, que significa “Lesão Pulmonar Associada ao Uso de Produtos de Cigarro Eletrônico ou Vaping”, é uma condição médica identificada pela primeira vez nos Estados Unidos em 2019. Esta doença está diretamente relacionada ao uso de dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs). Nos últimos anos, esses dispositivos se tornaram extremamente populares, especialmente entre adolescentes e jovens adultos, devido à ampla gama de sabores e aromas que oferecem. Objetivo: O objetivo deste trabalho é descrever a importância do diagnóstico e da conduta terapêutica da EVALI. Método: Trata-se de uma revisão integrativa de literatura em que a questão de pesquisa é: qual a importância do diagnóstico e da conduta terapêutica da EVALI? Os descritores utilizados foram: “diagnóstico”, “doenças respiratórias” e “terapêutica”. As buscas foram realizadas na plataforma BVS, onde foram encontrados 12 artigos nessa busca. Dentre os critérios de inclusão, foram selecionados artigos em português, inglês e espanhol, de 2019 a 2024. Resultados: O diagnóstico de EVALI baseia-se principalmente em critérios clínicos específicos. Para que a doença seja confirmada, o paciente deve ter usado um DEF nos 90 dias que antecederam o aparecimento dos sintomas. Além disso, exames de imagem, como radiografias de tórax, precisam revelar a presença de infiltrados pulmonares bilaterais. O processo de diagnóstico também exige a exclusão de outras causas potenciais, como infecções, tornando-o um diagnóstico de exclusão. O tratamento de EVALI varia conforme a condição clínica do paciente e pode incluir tanto abordagens não invasivas quanto procedimentos mais invasivos. Conclusão: O tratamento de EVALI envolve principalmente a suspensão imediata do uso de dispositivos eletrônicos de fumar. Além disso, medidas de suporte médico são essenciais, incluindo oxigenoterapia para melhorar a função respiratória. Em casos graves, pode ser necessária a ventilação mecânica, que pode ser administrada de forma invasiva ou não invasiva.

Palavras-chave: Diagnóstico. Doenças respiratórias. Terapêutica.

1 INTRODUÇÃO

Em 2019, uma nova patologia surgiu no cenário da saúde pública, a EVALI ((E-cigarette or Vaping product use-Associated Lung Injury), sigla para Lesão Pulmonar Associada ao Uso de Cigarro Eletrônico ou Vapes. Essa condição, rapidamente associada ao uso de cigarros eletrônicos e vapes, que vinham ganhando popularidade como alternativas mais saudáveis ao cigarro tradicional, gerou apreensão e alerta entre as autoridades de saúde.

Os indivíduos acometidos pela EVALI apresentam uma gama de sintomas que podem variar em gravidade. Entre as principais sintomatologias, estão, tosse persistente e seca, dificuldade para respirar, sensação de aperto no peito, fadiga extrema, aumento da temperatura corporal, náuseas frequentes com ou sem vômitos, e diarreia líquida. Esses sinais demandam atenção imediata, pois podem indicar a presença da doença. Os profissionais de saúde têm enfatizado a importância de educar o público sobre esses sintomas e de procurar assistência médica ao menor sinal de problemas respiratórios após o uso de cigarros eletrônicos.

Em casos mais graves, a EVALI pode levar à insuficiência respiratória, pneumotórax e, em situações extremas, até mesmo ao falecimento do mesmo. Portanto, é crucial reconhecer os sintomas precocemente e procurar ajuda nos centros hospitalares de referência da região. Os serviços de emergência e os hospitais têm implementado protocolos específicos para o diagnóstico e tratamento da EVALI, visando garantir uma resposta eficaz a essa emergência de saúde pública.

Este trabalho tem como objetivo elucidar o diagnóstico e o manejo terapêutico da EVALI, outrossim, o uso frequente de cigarros eletrônicos ou vapes, especialmente aqueles que contém tetrahidrocanabinol (THC), um componente psicoativo ou acetato de vitamina E, é o principal fator de risco para o desenvolvimento da EVALI. Além disso, ser jovem, especialmente adolescente ou adulto jovem, também aumenta as chances de contrair a doença. Portanto, a conscientização sobre os perigos associados ao uso desses dispositivos é essencial para prevenir casos de EVALI.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

A EVALI (lesão pulmonar associada ao uso de produtos de cigarro eletrônico ou vaping) emergiu como uma preocupação significativa de saúde pública nos últimos anos. Este fenômeno, inicialmente identificado em 2019, apresentou uma rápida disseminação e levantou questões sobre a segurança do vaping. Estudos indicam que EVALI é uma condição grave que envolve sintomas respiratórios, gastrointestinais e sistêmicos, frequentemente associados ao uso de produtos de vaping contendo THC e acetato de vitamina E, um aditivo comum nesses líquidos (Layden et al., 2020).

O mecanismo exato pelo qual os produtos de vaping causam EVALI ainda está sob investigação, mas a hipótese predominante sugere que o acetato de vitamina E, um óleo usado como espessante em líquidos contendo THC, desempenha um papel central. Este composto pode atuar como um agente irritante quando inalado, causando uma resposta inflamatória significativa nos pulmões (Blount et al., 2020). Estudos em modelos animais e humanos têm demonstrado que a inalação de vapores contendo acetato de vitamina E pode levar à deposição de lipídios nos alvéolos pulmonares, resultando em lesões inflamatórias graves (Madison et al., 2020).

A diversidade dos produtos de vaping e a ausência de regulamentação uniforme tornam difícil a identificação de todos os componentes potencialmente nocivos. Além do acetato de vitamina E, outros componentes químicos presentes nos líquidos de vaping, como metais pesados, formaldeído e diacetil, também têm sido associados a efeitos adversos à saúde pulmonar (Gaiha et al., 2020). Estes compostos podem causar danos através de múltiplos mecanismos, incluindo estresse oxidativo, inflamação e toxicidade direta às células pulmonares.

O perfil demográfico dos pacientes com EVALI revela que a maioria são jovens adultos, predominantemente do sexo masculino, com uma história significativa de uso de produtos de vaping contendo THC (Krishnasamy et al., 2020). Este padrão destaca a necessidade de campanhas de educação e prevenção direcionadas a populações jovens, bem como uma regulamentação mais rígida sobre a comercialização e o conteúdo dos produtos de vaping.

A resposta clínica à EVALI envolve uma combinação de intervenções, incluindo a cessação imediata do uso de produtos de vaping, tratamento com corticosteróides para reduzir a inflamação pulmonar e suporte respiratório em casos graves (Chatham-Stephens et al., 2020). A identificação precoce e a gestão adequada são cruciais para prevenir complicações graves e mortalidade.

As implicações de EVALI vão além dos impactos imediatos à saúde. A epidemia de EVALI também levantou questões sobre a percepção pública e a regulamentação dos produtos de vaping. A crescente popularidade do vaping como uma alternativa ao tabaco tradicional, especialmente entre os jovens, exige uma reavaliação das políticas de saúde pública e estratégias regulatórias para proteger a saúde dos consumidores (Rastogi et al., 2020).

Pesquisas em andamento buscam entender melhor os mecanismos subjacentes e os fatores de risco associados a EVALI. Investigações contínuas são essenciais para desenvolver diretrizes de segurança e intervenções eficazes (King et al., 2020). Além disso, há um reconhecimento crescente da necessidade de fortalecer a vigilância e a notificação de casos para aprimorar a resposta a futuras crises de saúde pública associadas a novos produtos de consumo. Ademais, o diagnóstico precoce e a intervenção terapêutica de eficiência, são de suma importância para ajudar o paciente em um quadro de EVALI.

3 METODOLOGIA

Por meio de revisão da literatura, este trabalho foi realizado a partir de artigos publicados em tradicionais periódicos nacionais e internacionais, priorizando o cerne da temática proposta, no qual enfatizou-se aspectos qualitativos positivos e negativos da EVALI. Os artigos selecionados foram listados em suas publicações mais recentes a respeito do tema, entre os anos de 2019 e 2024, utilizando os seguintes descritores “diagnóstico”, “doenças respiratórias” e “terapêutica”:

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

As pesquisas indicaram que em 2019 surgiu a EVALI. Desde então, a comunidade científica tem se dedicado a desvendar os mistérios dessa doença complexa, aprimorando os métodos de diagnóstico e tratamento.

Nesse mesmo viés, o diagnóstico da EVALI se inicia com um histórico detalhado do uso de cigarros eletrônicos e vapes, incluindo tipo de dispositivo, frequência, tempo de uso, produtos utilizados (líquidos, THC, nicotina) e outros detalhes relevantes. Ademais, os sintomas pulmonares como tosse, falta de ar, dor no peito, fadiga, febre, náusea, vômito e diarreia são cuidadosamente avaliados em um centro hospitalar. Durante o exame físico, busca por sinais de desconforto respiratório, taquicardia, sibilo e hipoxemia.

Outrossim, exames complementares podem ser solicitados no intuito de investigar mais sobre a patologia. A radiografia de tórax e tomografia computadorizada de tórax de alta resolução (TC de tórax) revelam opacidades pulmonares, consolidados ou pneumotórax, enquanto testes de função pulmonar avaliam a capacidade pulmonar e detectam restrições ou obstruções. A análise de líquido broncoalveolar (LBA), coletada por broncoscopia, busca por inflamação e danos alveolares. Exames laboratoriais como hemograma, painel metabólico básico, marcadores inflamatórios (D-dímero, PCR) e testes para descartar outras infecções pulmonares completam o quadro.

Além disso, estudos recentes investigam biomarcadores promissores no sangue e no LBA que podem auxiliar no diagnóstico precoce e na avaliação da gravidade da EVALI. Surfactante B associado à proteína C (SFTPC), Club cell protein 16 (CC16) e voláteis orgânicos expelidos (VOCs) são alguns exemplos que podem revolucionar o diagnóstico da doença.

Nessa perspectiva, é crucial diferenciar a EVALI de outras doenças pulmonares com sintomas semelhantes, como pneumonia, DPOC, asma e embolia pulmonar, através de uma análise criteriosa do histórico médico, exames físicos e complementares.

Desse modo, o manejo terapêutico da EVALI visa aliviar os sintomas, prevenir complicações e promover a recuperação pulmonar. Suporte respiratório com oxigênio suplementar e, em casos graves, ventilação mecânica, é crucial. Corticosteróides como a prednisona, administrados por via oral, reduzem a inflamação pulmonar e aceleram a recuperação. Cuidados de suporte como hidratação intravenosa, controle da dor, antieméticos e suporte nutricional completam o tratamento.

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que, a EVALI é uma doença pulmonar que surgiu em 2019 e está associada ao uso frequente de cigarros eletrónicos ou vapes. Desse modo, se trata de uma patologia relativamente nova no âmbito da saúde, principalmente em jovens e adultos do sexo masculino. Essa condição traz diversas repercussões respiratórias e extra respiratórias e dessa forma é de importância para os departamentos governamentais o investimento de campanhas de intervenções focando no risco da doença, mas também investimentos para medidas de diagnósticos precoces e tratamento efetivo para os pacientes, além de medidas de suporte multidisciplinar para a reabilitação desse paciente no cenário da saúde e psicossocial.

REFERÊNCIAS

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