REVISÃO INTEGRATIVA – A IMPORTÂNCIA DA ESPOROTRICOSE: UMA DOENÇA NEGLIGENCIADA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202406160835


Amanda Valéria Correia Vale1; Amanda Karoline Vieira de Alencar1; Glenda dos Santos Correa1; Aline Dias Leite1; Natália Silva Almeida1; Orientador: Prof. Me. Ademilton Costa Alves2


RESUMO

INTRODUÇÃO: A esporotricose é uma micose subcutânea subaguda causada por um fungo chamado Sporothrix schenckii. Ele é um microrganismo patogênico complexo que está presente no ecossistema, em associação com restos vegetais e em regiões de clima temperado e tropical úmido. É um ser saprófita ambiental e cosmopolita que existe na forma micelial em temperaturas ambientes de 25-30°C e, como levedura, se desenvolve em temperatura corpórea de 37 graus. Tem como principal agente transmissor o gato, causando surtos zoonóticos em alguns estados e se tornando uma importante doença tropical negligenciada.

OBJETIVOS: Este trabalho tem como objetivo relatar a importância da esporotricose e alertar sobre a negligência dada a essa micose.

MÉTODOS: Trata-se de uma revisão da literatura, do tipo revisão integrativa. O levantamento dos artigos científicos foi realizado na base de dados Scielo, PubMed, LILACS e Google Acadêmico, utilizando, para à busca, os seguintes descritores e suas combinações na língua inglesa e portuguesa, respectivamente, “sporothicosis; human sporotrichosis; and “sporotrichosis in feline”; esporotricose; esporotricose humana; esporotricose em felino. A coleta de dados foi elaborada por meio de consulta a periódicos e posterior leitura minuciosa dos títulos, resumos e trabalhos completos, sendo realizada no período de 10 de janeiro a 04 de junho de 2024, dentro da faixa temporal de 2019 a 2024.

RESULTADOS: Com este estudo foi possível observar 768 artigos das quatro bases de dados utilizadas (Scielo, PubMed, LILACS e Google Acadêmico), dos quais 63 foram incluídos de acordo com critérios de inclusão, e após leitura de títulos e resumos, apenas 39 foram selecionados para avaliação de elegibilidade, desses foram excluídos 24 e incluídos apenas 10 artigos como objeto de estudo nesta pesquisa (Scielo: 01; PubMed: 03; LILACS: 01 e Google Acadêmico: 05).

CONCLUSÃO: Portanto, a esporotricose, é considerada um problema de saúde pública no Brasil, principalmente, pela ausência de programas e ações específicas de controle, a nível nacional, dessa doença negligenciada.

Palavras-chave: Sporotrix spp. Micose. Anfixinose.

ABSTRACT

INTRODUCTION:  Sporotrichosis is a subacute subcutaneous mycosis caused by a fungus called Sporothrix schenckii. It is a complex pathogenic microorganism that is present in the ecosystem, in association with plant remains and in regions with a temperate and humid tropical climate. It is an environmental and cosmopolitan saprophyte that exists in mycelial form at ambient temperatures of 25-30°C and, like yeast, develops at a body temperature of 37 degrees. Its main transmitting agent is the cat, causing zoonotic outbreaks in some states and becoming an important neglected tropical disease.

PURPUROSE: This work aims to report the importance of sporotrichosis and warn about the neglect given to this mycosis.

METHODS: This is a literature review, an integrative review. The survey of scientific articles was carried out in the Scielo, PubMed, LILACS and Google Scholar databases, using the following descriptors and their combinations in English and Portuguese, respectively, “sporothicosis; human sporotrichosis; and “sporotrichosis in feline”; sporotrichosis; human sporotrichosis; feline sporotrichosis. Data collection was carried out through consultation of periodicals and subsequent thorough reading of titles, abstracts and complete works, being carried out from January 10th to June 4th, 2024, within the time range from 2019 to 2024.

RESULTS: With this study, it was possible to observe 768 articles from the four databases used (Scielo, PubMed, LILACS and Google Scholar), of which 63 were included according to the inclusion criteria, and after reading titles and abstracts, only 39 were selected for eligibility assessment, of which 24 were excluded and only 10 articles were included as objects of study in this research (Scielo: 01; PubMed: 03; LILACS: 01 and Google Scholar: 05).

CONCLUSION: Therefore, sporotrichosis is considered a public health problem in Brazil, mainly due to the lack of specific programs and actions to control this neglected disease at a national level.

KEYWORDS: Sporotrix spp. Ringworm. Amphixinosis.

1 INTRODUÇÃO

A esporotricose é uma micose de origem fúngica subaguda causada por um fungo do gênero Sporothrix ssp. Ele é um microrganismo patogênico complexo que está presente no ecossistema, em combinação com sobras vegetais e em regiões de clima temperado e tropical úmido (Nunes e Escosteguy, 2005). É um ser saprófita ambiental e cosmopolita que existe na forma micelial em temperaturas ambientes de 25-30°C e, como levedura, se desenvolve em temperatura corpórea de 37°C (Camargo, Ferreira e Vasconcellos et al., 2010).

As espécies apresentam aspectos como o zoomorfismo, e estão abundantemente dispersas sobre a biossistema ocupando a vegetação, árvores, animais, e outros indivíduos contaminados, propiciando a sua contaminação. Independentemente de viverem de maneira saprófita, podem se transformar em patogênicos para diversos gêneros de espécie, existindo relatos em cavalos, bois, vacas, porcos, ratos, primatas, répteis, cães, gatos e humanos (Hogan e Hospenthal, 2010).

Nos Estados Unidos em 1898 por Benjamin Schenck, foi resgistrado o primeiro caso de esporotricose,  e a partir de então foram identificados casos isolados e contágios em vários países (Barros et al., 2010). No principal surto desse país, envolvendo 84 pacientes, 20% foram hospitalizados. A letalidade hospitalar foi de 3% e a incidência de hospitalizações de 0,35 por milhão de habitantes/ano, no período 2000 a 2013. Vários surtos também foram descritos em todo o mundo, observando-se amplo espectro clínico, sendo o maior deles registrado na África do Sul, com acometimento de mais de 3 mil trabalhadores de minas de ouro e 5 com formas graves (Lopes, Schubach e Costa, 2006).

Lutz e Splendore em 1907 apontaram os primeiros fatos de esporotricose acometendo humanos e roedores. Em 1998 ocorreu uma hiperendemia de esporotricose no Rio de Janeiro, de transmissão zoonótica pelo gato, associada a Sporothrix brasiliensis, espécie mais virulenta do gênero, o que denotou um avanço dessa hiperendemia, principalmente, em indivíduos vulneráveis, o que incrementou os registros de morbimortalidade por essa patologia oportunista (Barros et al., 2010).

A “Doença do Jardineiro” é de notificação compulsória no estado do Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba e municípios de Guarulhos (São Paulo), Camaçari (Bahia) e Conselheiro Lafaiete (Minas Gerais). No nordeste brasileiro, apesar da escassez de investigações, há relatos pontuais e separados da doença nos estados do RN, PA, AL e PB (Silva et al., 2018).

E ainda com relatos e séries de casos concentrados nas regiões Sul e Sudeste do país, embora não se conheça o impacto da morbimortalidade, a nível nacional, dessa doença fúngica e sua distribuição conforme os registros de hospitalizações e possíveis óbitos, fundamentados em dados do Sistema Único de Saúde – SUS (Falcão et al., 2019).

 Atualmente, os gatos exibem um papel importantíssimo como transmissores dessa micose em seres humanos, o que acarreta um sério problema para a saúde pública do Brasil. Foram comprovados em 2009, por volta de 2.200 casos clínicos em humanos, em sua maior parte obtidos por arranhões ou mordidas desses felinos contagiados (Schechtman et al., 2022). Nos últimos anos, verificou-se um avanço na quantidade de animais e humanos contaminados, o que vem transformando o perfil da enfermidade, no passado, prevalentemente rural, para de ocorrência urbana, tornando-se endêmica, como foi o caso do Rio de Janeiro (Félix et al., 2022).

A contaminação se dar pelo contato com a terra a partir do abito que os gatos de escavar e encobrir as suas necessidades fisiológicas com terra, por toque com vegetais secos ou em decomposição, em localidades de afiação ungueal de felinos errantes ou por mordida ou arranhão pelo animal infectado. circunstancialmente, existem relatos de transmissão por vias alternativas como a aérea ou digestiva, levando à doença sistêmica (Pássaro, 2022).

 A esporotricose manifesta-se de tres maneiras: forma cutânea localizada; cutânea linfática; e cutânea disseminada. Em casos mais severos notam-se exibições sistêmicas da doença, com o envolvimento de diversos órgãos como pulmões, linfonodos, fígado, baço e rim (Freitas et al., 2012).

Realiza-se o diagnóstico através de exames presuntivos associados aos complementares como a citologia, exame de cultura micológica, histopatologia, provas sorológicas, testes intradérmicos, inoculação em animais e na reação em cadeia da polimerase (PCR),(Larsson, 2011). No entanto, o exame de cultura,é o método definitivo para o diagnóstico da esporotricose (Thrall e Meuten, 2004). Esses métodos são mais usados em pesquisas científicas por exigirem centros de diagnósticos mais estruturados (Chethan, Kumar et al., 2013).

O padrão-ouro para o diagnóstico é o isolamento do fungo por meio de cultura seguida da identificação do Sporothrix spp por parâmetros morfológicos. A obtenção de material para cultura pode ocorrer por meio de colheita da secreção com swab estéril ou aspiração, ou ainda por meio de biópsia tecidual. O cultivo e isolamento do fungo exigem uma estrutura laboratorial de biossegurança nível 2 e o crescimento do fungo é lento, com tempo médio de 30 dias para o diagnóstico (Fichman et al., 2021).

Os exames citológicos e histopatológicos são muito úteis como ferramentas de diagnóstico preliminar. A histopatologia requer biópsia, enquanto a citologia requer imprint das lesões ulceradas, ou mesmo, aspiração por agulha fina dos nódulos. Ambas as técnicas apresentam baixo custo e rapidez no resultado, permitindo a instauração mais precoce do tratamento. Contudo, para estes dois métodos, um resultado negativo não descarta a doença. A imunohistoquímica (IHQ) e a reação em cadeia da polimerase (PCR) são outras opções para o diagnóstico. Testes imunoenzimáticos (ELISA indireto para proteína de 60kDa) foram disponibilizados recentemente para o diagnóstico preliminar da esporotricose felina (Silva, Machado e Junior, 2023).

 A prevenção e o controle da esporotricose devem ser conduzidas em um contexto de Saúde Única. Deve ser realizada uma abordagem educativa à população, com prudência para não estimular o abandono e o extermínio de gatos devido à doença. O enfrentamento dessa enfermidade envolve o conhecimento da epidemiologia da esporotricose, identificação da etiologia, o diagnóstico e tratamento, a educação em saúde, a castração de gatos, a guarda responsável e a destinação adequada dos cadáveres (Dumont et al., 2024).

A presente pesquisa objetivou relatar a importância da esporotricose e alertar sobre a negligência dada a essa micose.

2 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo no formato integrativo de revisão bibliográfica da literatura cujo tema é A IMPORTÂNCIA DA ESPOROTRICOSE: UMA DOENÇA NEGLIGENCIADA; baseado na coleta de dados realizada por meio de consulta a periódicos e posterior leitura minuciosa dos títulos, resumos e trabalhos completos. Para o levantamento dos artigos na literatura, realizou-se uma busca nas bases de dados Scielo, PubMed, LILACS e Google Acadêmico. Foram utilizados, para busca dos artigos, os seguintes descritores e suas combinações na língua inglesa e portuguesa, respectivamente, “sporotrichosis; sporothichosis human; and sporotrichosis in feline”; “esporotricose; “esporotricose humana”; e “esporotricose em felinos”, com a realização do levantamento bibliográfico no período de 01 de março de 2024 a 05 de junho de 2024. Para a pré-seleção dos artigos foram realizadas leituras prévias através dos títulos e resumos, sendo escolhidos os que abordassem ao tema da pesquisa. Foram considerados apenas artigos que enfatizaram a importância e a condição de negligência da esporotricose.

Os critérios de inclusão definidos para a seleção dos artigos foram: artigos publicados em inglês e português; artigos na íntegra e gratuitos de ensaios clínicos que retratassem a temática referente à esta revisão integrativa e artigos publicados no referido banco de dados na faixa temporal de 2019 a 2024. Como critérios de exclusão, descartou-se os que não retratassem ao propósito deste estudo, ou que não apresentavam o texto completo na íntegra, ou que estivessem redigidos em outras línguas que não as acima citadas.

3 RESULTADOS

Com este estudo foi possível observar 768 artigos das quatro bases de dados utilizadas (Scielo, PubMed, LILACS e Google Acadêmico), dos quais 63 foram incluídos de acordo com critérios de inclusão, e após leitura de títulos e resumos, apenas 39 foram selecionados para avaliação de elegibilidade, desses foram excluídos 24 e incluídos apenas 10 artigos como objeto de estudo nesta pesquisa (Scielo: 01; PubMed: 03; LILACS: 01 e Google Acadêmico: 05), selecionados pelos critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidos como é demostrado no Fluxograma 1.

Fluxograma 1. Fluxograma da coleta de dados

Fonte: (Autores, 2024).

No Quadro 1 é possível observar a procedência, título do trabalho, autores, periódicos, e as considerações relevantes dos 10 artigos científicos inclusos nesta revisão integrativa.

Quadro 1: Artigos utilizados nesta revisão integrativa.

4 REVISÃO INTEGRATIVA

De acordo com Siqueira (2024) a esporotricose é uma doença irradiada mundialmente, sendo manifestada em vários países do continente americano, europeu e asiático. Contudo, a América latina tem sido destaque, com surtos endêmicos dessa zoonose. No Brasil, a capital metropolitana do Rio de Janeiro tornou-se um alvo endêmico dessa doença, disseminada por gatos, anunciando-a como de notificação compulsória, nesse estado, desde 2013. Na faixa temporal de 1998 a 2016 foram notificados o relevante número de 4.669 casos de esporotricose humana.

Poester et al., (2024) mencionam em seu estudo que esporotricose é uma infecção micótica, causado pelo complexo sporothrix abrangendo seis espécies diferentes (Sporothrix mexicana, S.albicans, S. pallida, S. brasiliensis, S. globosa e S. schenckii). É importante destacar que S. Brasiliensis foi identificado em 40% dos casos avaliados através de métodos moleculares, com relatos da infecção cutânea disseminada nos pacientes portadores dessa zoonose e a ressalva do evidente papel da espécie, como um agente potencial de surtos. Nesse trabalho, ainda é cogitado que o Brasil é o epicentro de esporotricose no mundo e conclui que a espécie S. brasiliensis é a mais virulenta. Informes que evidentemente necessitam de estudos mais robustos e aprofundados.

Registros da prevalência da esporotricose no Brasil já haviam sido destacados por Rabello et al., (2021), onde na região sul e Sudeste brasileira, em especial, no Rio Grande do Sul foi considerada alarmante. Estado ranqueado em segundo lugar nos números de casos do Brasil e considerado em nível epidêmico, diferentemente, das regiões norte e nordeste onde não houve muitos casos relatados, embora, tais registros, fatalmente, devem estar relacionados a subnotificação dessa patologia. Ressaltaram ainda, nesse estudo, que a insuficiência de dados se torna relevante para a contribuição dessa negligência, considerando assim essa zoonose como mais uma de muitas que acometem o país.

Porém, Siqueira (2024) evidenciou em sua publicação que o estado de Pernambuco, no período de 2014 a 2016 registrou acentuadas manifestações da esporotricose, o que qualificou essa doença como uma degradação de magnitude nacional, classificando-a como Doença de Notificação Obrigatória (DNC), conforme a legislação pernambucana contida na Portaria SES/PE nº 390 de 14/09/2016. Outro dado importante foi registrado no estado da Bahia em 2018, onde foram notificados 56 casos em humanos, segundo o boletim epidemiológico da capital Salvador.

Tóffoli e colaboradores (2022) demonstraram um aumento significativo da esporotricose na região do nordeste, onde o estado da Paraíba também emitiu um boletim epidemiológico alertando a população sobre essa zoonose e a registrando como uma doença de notificação compulsória no ano de 2018. Situação essa ressaltada pelo antagonismo da doença ser considerada, inicialmente, de baixa frequência no Nordeste, embora já apontando mais de 700 casos de hospitalizações correlacionadas a essa patologia.

Em sua pesquisa Falcão et al., (2019) relataram os registros de hospitalizações e óbitos relacionados a esporotricose, com dados alarmantes procedentes do Sistema Único de Saúde – SUS, no período de 1992 a 2015, com 782 hospitalizações e 65 óbitos, na totalidade dos estados brasileiros. Revelaram ainda que 6% das hospitalizações e 40% dos óbitos apresentaram coinfecção com o vírus HIV. Cenário mais bem evidenciado e atualizado nos estudos de Almazán et al., (2023), que ressaltam a maior situação de vulnerabilidade desse indivíduo imunodeprimido, que se torna um alvo fácil dessa zoonose oportunista.

A esporotricose associada com o HIV pode causar uma séria reação inflamatória e a manifestação e/ou agravamento da esporotricose pré-existente por recuperação imunológica, estará correlacionada à contagem de células T CD4 + e a carga viral. A resposta imune desregulada à esporotricose pode ser gerada após a introdução do tratamento antirretroviral, bem como a baixa adesão a esses medicamentos. A incidência aumentada dos casos de esporotricose e a fácil correlação com portadores do HIV, reforçam a necessidade da investigação dupla da existência dessas duas enfermidades e da avaliação de seus prognósticos, conforme ressaltam Almazán et al., (2023).

Uma importante condição observada por Lima et al., (2019) foi em relação ao processo de transmissão dessa zoonose, pelo gato ao homem, sendo considerado o principal fator de elevação dos casos existentes, registrando somente no Rio de Janeiro cerca de 1.848 casos, oriundos da infecção por esse felino. A maioria, pelos animais domésticos e a minoria dos casos, por gatos de rua. Nessa pesquisa é ainda ressaltada à presença do profissional veterinário e da sua necessária aptidão em saber como proceder diante de um episódio de felino infectado.

Tóffoli et al., (2022) mencionaram que atividades educativas identificadas para prevenção da enfermidade ainda são consideradas insuficientes, no contexto da transmissão da esporotricose pelos gatos. Nesse estudo, foi evidenciado um levantamento com 100 tutores de cães e gatos em um hospital veterinário universitário, com um inexpressível percentual de somente 9% dos tutores já terem conhecimento prévio dessa zoonose, e apenas 7% entendiam que o gato era um transmissor e 6% citaram a arranhadura como forma de transmissão. Chegando a somente 3% desses tutores estarem cientes do processo de prevenção, citando apenas o tratamento do animal doente como forma preventiva da esporotricose.  

(Silva et al., 2019) apontaram que os gatos machos não castrados, que vivem na rua, são os maiores transmissores, pois propiciam brigas com outros felinos e que posteriormente, causam mordeduras e arranhaduras favoráveis para a inoculação em outros gatos e porventura nos seres humanos. Os primeiros casos de esporotricose humana eram pontuais e não eram configurados como de notificação, o que explica, de certa forma, o aumento gradativo desde então dessa zoonose. A quantidade de números de gatos que vivem nas ruas, não castrados, não vacinados, em situação de decadência e consequente suscetibilidade a sua infecção e a posterior humana.  

Por sua vez, (Candeia e Sousa, 2021) discursam sobre os lugares com mais frequência de acometimentos da doença, apontam a alta densidade populacional, situações de precariedade sanitária, inadequada coleta de lixo, esgotamento de esgoto e saneamento básico, fatores relevantes para esse cenário, assim como características determinantes de baixa condição socioeconômica, baixo poder aquisitivo, alfabetização inexpressiva, pessoas com trabalhos rurais, em contato diretamente com o solo, falta de limpeza em localidades com vegetação, somam influências para que a facilidade de contaminação dos felinos e a possível transmissão aos seres humanos, registrando severos viés à saúde pública.

Ainda relatam, em sua pesquisa, sobre o contexto da saúde pública que o processo de prevenção dessa enfermidade depende de medidas de precauções a serem realizadas pelos tutores/responsáveis pelo animal infectado, devendo existir um criterioso manejo de manipulação desses felinos, em virtude da potencial transmissibilidade existente nessa zoonose em questão. Destacou-se ainda, que os padrões de biossegurança para os profissionais da área são imprescindíveis, assim como a esterilidade do animal, a consenso com o responsável, e a responsável tutoria, são fatores que determinam uma vital diferença no controle da esporotricose ((Candeia e Sousa, 2021).  

Segundo (Silva et al., 2020) a denominada, antigamente, “Doença do Jardineiro” é considerada uma doença negligenciada por falta de informações específicas dessa micose, falta de ações e medidas para controle dessa zoonose, falta de medicamentos padronizados para o tratamento direcionado e acima de tudo a escassa compreensão da população sobre essa temática. Todavia é revelado um discreto avanço em relação a esse cenário. No tocante aos estados brasileiros, a adesão gradativa ao título de doença de notificação compulsória, embora ainda não tão abrangente, já promovem ações profiláticas, educativas e os indispensáveis boletins epidemiológicos, que podem trazer a sensibilidade necessária das autoridades competentes, a correta visão e atuação no que diz respeito ao controle efetivo da esporotricose, zoonose ainda muito negligenciada.

5 CONCLUSÃO

Portanto, a micose esporotricose, zoonose promovida principalmente pelos felinos, embora de ocorrência mundial, é considerada um problema de saúde pública no Brasil, principalmente, por ser negligenciada e pela ausência de programas e ações específicas, na maioria do território nacional, para fins de controle eficaz dessa enfermidade. Nas últimas décadas, os casos notificados apresentaram-se bem mais expressivos, principalmente, nas regiões sudeste e nordeste, ocasionados por complexos fatores estimulantes. Todavia, a divulgação correta e necessária sobre a esporotricose poderá trazer a sensibilidade necessária das autoridades competentes e da população, à correta visão e atuação no que diz respeito ao controle efetivo dessa patologia ainda muito negligenciada.

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1 Acadêmico do Curso de Farmácia, Universidade CEUMA.

2 Docente do Curso de Farmácia, Universidade CEUMA.