A INFLUÊNCIA DA COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA EM CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11538177


Marina Andrade Rodrigues1 ;
Shoraya Elisabete Morales2;
Valdenia Cristina dos Santos Borges3;
Prof. Hytalo Mangela de Sousa Faria4


Resumo

O Transtorno do Espectro Autista (TEA), segundo o DSM-V (2014) — Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, é caracterizado por uma condição do neurodesenvolvimento com prejuízos persistentes na comunicação, interação social, com comportamento e interesse repetitivos e restritivos em contextos diversos. A presença dessa condição acarreta no isolamento, comportamentos desafiadores e prejudiciais. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção dos Estados Unidos (CDC), uma a cada 36 crianças possuem o transtorno. Ampliar as possibilidades comunicativas das crianças com TEA pode contribuir para seu maior desenvolvimento e melhor qualidade de vida. A proposta deste trabalho é realizar uma revisão de literatura com objetivo de investigar como a implementação da CAA impacta positivamente no desenvolvimento da comunicação e habilidades socioemocionais em crianças com o TEA. Para atingir esse objetivo, foram analisadas produções nacionais e internacionais acerca do TEA e da Comunicação aumentativa e alternativa em bases de dados de artigos, teses, dissertações e livros, utilizando os seguintes descritores Comunicação aumentativa alternativa, Psicologia, criança, autismo. 

Palavras-chave: comunicação aumentativa alternativa. psicologia. crianças. autismo. 

Abstract

Autism Spectrum Disorder (ASD), according to the DSM-V (2014) — Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, is characterized by a neurodevelopmental condition with persistent impairments in communication, social interaction, with repetitive and restrictive behavior and interest in diverse contexts. The presence of this condition leads to isolation, defiant and harmful behavior. According to the US Centers for Disease Control and Prevention (CDC), one in every 36 children has the disorder. Expanding the communicative possibilities of children with ASD can contribute to their greater development and better quality of life. The purpose of this paper is to carry out a literature review with the aim of investigating how the implementation of CAA has a positive impact on the development of communication and socio-emotional skills in children with ASD. To achieve this goal, national and international productions about ASD and augmentative and alternative communication were analyzed in databases of articles, theses, dissertations, books, using the following descriptors Alternative augmentative communication, Psychology, child, autism. 

Keywords: alternative augmentative communication. psychology. children. autism. 

1 INTRODUÇÃO 

A complexidade inerente ao espectro do autismo tem sido objeto de intensa pesquisa no ramo da psicologia, buscando não apenas compreender as nuances dessa condição, mas também desenvolver estratégias eficazes para viabilizar um crescimento integral das crianças afetadas. Dentro desse contexto, um aspecto crucial que tem ganhado destaque é a comunicação, considerada uma habilidade fundamental para o pleno engajamento social e emocional. Este estudo se preconiza para examinar de forma abrangente como a implementação da Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) emerge como uma intervenção promissora, capaz de impactar significativamente o aperfeiçoamento da comunicação e as habilidades socioemocionais em crianças no espectro autista. 

O autismo, caracterizado por padrões atípicos de interação social, comunicação e comportamento, apresenta uma ampla variabilidade em suas manifestações. Diante dessa heterogeneidade, estratégias personalizadas e adaptativas se tornam essenciais para atender às faltas peculiares de cada criança. A CAA, compreendida como um conjunto de ferramentas e estratégias que visam facilitar ou promover a comunicação verbal, surge como uma abordagem inovadora, oferecendo modalidades diversificadas, como símbolos gráficos, dispositivos eletrônicos e sistemas baseados em gestos. 

Ao abordar o papel da CAA no contexto da ampliação da comunicação em crianças autistas, é imperativo considerar não apenas a eficácia objetiva dessas ferramentas, mas também compreender os mecanismos psicológicos subjacentes. A interconexão entre comunicação e habilidades socioemocionais é evidente, visto que a habilidade de expressar pensamentos e sentimentos de maneira funcional desempenha um papel central na formação e manutenção de relacionamentos interpessoais. 

A literatura científica até o momento tem oferecido insights valiosos sobre os benefícios potenciais da CAA, destacando melhorias tanto na comunicação expressiva quanto receptiva em crianças autistas. Contudo, é crucial ir além das análises superficiais e explorar como essas melhorias na comunicação podem repercutir nas esferas sociais e emocionais desses indivíduos. Nesse sentido, este estudo preconiza a preencher lacunas significativas na compreensão atual, utilizando uma abordagem multidimensional para investigar os impactos da CAA não apenas na comunicação isolada, mas também nas habilidades sociais e emocionais que desempenham um papel vital no bem-estar dessas crianças. 

Ao conduzir uma revisão crítica da literatura, examinaremos estudos empíricos, teorias psicológicas relevantes e relatos de práticas clínicas, com a finalidade de traçar um panorama abrangente e informado sobre como a implementação da CAA pode estimular positivamente o aperfeiçoamento da comunicação e as habilidades socioemocionais em crianças autistas. Este estudo, portanto, visa contribuir de maneira substancial para a formulação de intervenções mais eficazes e centradas no indivíduo, promovendo uma compreensão mais profunda e holística do impacto da CAA nesse contexto específico. 

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 

2.1 Transtorno do espectro do autismo 

Atualmente, o transtorno do espectro autista é estabelecido como uma condição do neurodesenvolvimento, caracterizado por comprometimentos precoces no desenvolvimento sociocomunicativo e pela presença de comportamentos repetitivos e estereotipados. 

O autismo é caracterizado como uma síndrome comportamental que afeta o desenvolvimento motor e psiconeurológico do indivíduo, danificando a sua cognição, linguagem e relacionamento social. O fato de sua etiologia ser desconhecida, dificulta a precisão do diagnóstico precoce com interferência direta no tratamento (Pinto et al., 2016, apud Julião, 2020). 

A palavra autismo deriva do Grego “autós”, que significa voltar-se para si mesmo. O termo foi empregado pela primeira vez, no ano 1911, pelo psiquiatra suísso Eugen Bleuler, que utilizou o termo “autismo” para descrever um sintoma da esquizofrenia: retirada do indivíduo para um mundo interno (Barbosa, 2014). Mas é somente em 1943 que ele ganha popularidade através dos estudos do psiquiatra austríaco, Leo Kanner. Kanner utilizava uma estratégia particular de trabalho que o diferenciava dos demais profissionais da área. A realização do diagnóstico por meio da aplicação de anamnese, da investigação profunda do histórico de vida do paciente, além de uma observação detalhada de seus registros, com vista ao tratamento, lhes conferiram muita visibilidade na época (Donvan; Zucker, 2017, apud Julião, 2020).

As pesquisas de Kanner instigaram outros pesquisadores a empenhar esforços na descoberta da razão da síndrome. As atuais pesquisas sobre o transtorno encontram-se no ramo da neurociência e da genética, investigando explicações fisiológicas e/ou genéticas que causam o transtorno (Julião, 2020). 

Balestro e Fernandes (2019), afirmam que mesmo após anos de pesquisas e progressos relevantes tanto no diagnóstico quanto na intervenção, não se tem explicações efetivas para as causas do autismo, apenas hipóteses. Por outro lado, (Oliveira, 2021; Santos, 2020, apud Araújo, et al., 2022) afirmam que em grande parte a causa do autismo é genética mas que fatores como idade materna e paterna acima de 40 anos, malformação do sistema nervoso central, prematuridade, infecções congênitas, histórico gestacional, dentre outros, também podem contribuir para o TEA. 

Enquanto (Fezer, 2017, apud Araújo et al., 2022) contrapõe (Oliveira, 2021; Santos 2020) a respeito da correlação entre prematuridade e o desenvolvimento do transtorno de espectro autista; demonstrando que os estudos são inconclusivos. 

Outro fator que tem tornado o autismo um assunto de grande relevância e muitos estudos é a busca por razões que explique a ampliação do número de diagnósticos. Pesquisas epidemiológicos, dos Estados Unidos indicam, por meio do CDC ‒ Centers for Disease Control and Prevention de 2023, que uma a cada 36 crianças apresentam TEA, 27,6 1000 crianças de oito anos. A atual pesquisa é cerca de 22% mais elevada que a avaliação de 2018, 1,88 crianças, e refere-se a 14 estados norte-americanos (CDC, 2023). 

O motivo do aumento na prevalência não foi estabelecido mas pode ser explicado, sob o ponto de vista do Centro de Controle de Doença, pela ampliação de diagnósticos efetuados de forma precoce no momento presente. Enquanto a Sociedade Brasileira de Pediatria (2019) complementa que o aumento na prevalência é resultado tanto da ampliação dos critérios diagnósticos quanto do desenvolvimento de instrumentos de rastreamento e diagnóstico mais eficazes, os quais permitem uma identificação mais precisa e abrangente do transtorno. 

Um destaque importante é que muito embora a identificação e o acesso à intervenção no autismo alcance com menor frequência certos grupos minoritários que outros, o autismo acomete indivíduos de diversas etnias ou raças e em todos os grupos socioeconômicos (Sociedade Brasileira de Pediatria, 2019).

Dados do Centro de Controle de Doenças (2023) dos Estados Unidos, em 2020, revelaram que a prevalência do Transtorno do Espectro Autista entre crianças asiáticas, negras e hispânicas disparou em pelo menos 30% em comparação com dados de 2018. Além disso, a prevalência entre crianças brancas aumentou em 14,6% no mesmo período. Pela primeira vez, a porcentagem de crianças asiáticas ou das ilhas do Pacífico (3,3%), hispânicas (3,2%) e negras (2,9%) de 8 anos identificadas com autismo ultrapassou a de crianças brancas da mesma faixa etária (2,4%). Essa inversão das diferenças raciais e étnicas, em comparação com relatórios anteriores, pode indicar melhorias na triagem, conscientização e acesso a serviços, para grupos historicamente desassistidos, nos Estados Unidos. 

O diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) é baseado em três principais fatores diagnósticos: interação social, comunicação e comportamentos repetitivos e restritivos de interesses, os quais contemplam diferentes aspectos do comportamento e do desenvolvimento. Esses fatores são fundamentais para identificar e compreender a condição. 

A análise comportamental do desenvolvimento infantil envolve observar se a criança está adquirindo as competências esperadas para sua faixa etária. Essa análise inclui a observação de áreas como linguagem, habilidades motoras, sociais e cognitivas. Por exemplo, a capacidade de falar frases completas, andar com segurança, interagir com pares e resolver problemas simples são marcos esperados em diferentes idades. Tal avaliação, conforme defende (whitman, 2015), deve ser realizada por profissionais capacitados para identificar as fases do desenvolvimento, típico e atípico. 

De modo geral o TEA é diagnosticado somente após os cinco anos de idade. A criança nesse estágio já encara sérios obstáculos de relacionamentos sociais, linguagem e comportamentos, como insistência em seguir rotinas rígidas que podem não ter uma função prática. A existência do transtorno varia de acordo com a peculiaridade de cada indivíduo e o ambiente. As características diagnósticas estão presentes no desenvolvimento, mas os estímulos, apoio e suporte recebidos podem mascarar os sintomas. O transtorno pode apresentar-se de formas variadas conforme a seriedade da condição, a etapa do desenvolvimento e a idade cronológica, daí a aplicação do termo espectro (Bourzac, 2012, apud Monteiro et al., 2017). 

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o autismo é caracterizado por uma condição do neurodesenvolvimento que envolve prejuízos persistentes na comunicação, na interação social e na manifestação de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades em diversos contextos. Esses prejuízos se apresentam de maneiras ou intensidades distintas em cada indivíduo, ainda que compartilhem características comuns do transtorno. Essa particularidade faz com que os diagnósticos sejam classificados de acordo com os níveis de suportes necessários para um melhor funcionamento. Desse modo, indivíduos com autistas podem receber diagnósticos com classificação em nível 1, nível 2 e nível 3 de suporte (APA, 2014). 

2.2 Habilidades Socioemocionais 

Os aspectos socioemocionais estão relacionados às habilidades de começar e manter relacionamentos; manifestar empatia; saber resolver problemas; compreender, identificar e gerenciar suas próprias emoções, bem como saber lidar com as emoções do outro. Um aspecto que se encontra prejudicado em indivíduos que possuem o transtorno do espectro do autismo. 

Almeida et al. (2021) apontam que na esfera da comunicação social são observados, no indivíduo com autismo, desafios na troca de emoções e interações sociais, dificuldade em iniciar ou manter conversas, expressão limitada de emoções e interesses, dificuldades em compreender e usar gestos, e problemas no desenvolvimento e manutenção de relacionamentos. 

Compreende-se que a falta de habilidades para se comunicar tem um impacto significativo na qualidade de vida, no ingresso escolar e no desenvolvimento global do indivíduo. Essa dificuldade também pode levar à frustração, contribuindo para o aparecimento de comportamentos desafiadores e prejudiciais (Youssef, 2019). 

De acordo com o DSM-V, o indivíduo com Transtorno do Espectro Autista (TEA) pode apresentar interesses específicos, diferentes dos típicos para sua faixa etária, o que pode limitar sua interação social. O indivíduo, pode ser inexpressivo ou exibir expressões faciais inadequadas ao contexto, ter dificuldade na compreensão de limites pessoais, costuma evitar o contato físico, além de experimentar crises de ansiedade e dificuldades em reconhecer e entender seus sentimentos e dos demais à sua volta (APA, 2014). 

Infere-se que um sintoma compartilhado entre as crianças com TEA, é a interação social que sempre se apresentará comprometida. A ausência de desenvoltura social os deixam isolados de outras pessoas. (Monteiro et al., 2017).

Segundo o DSM-V, o indivíduo com autismo manifesta certas limitações em se comunicar, tanto por intermédio da linguagem verbal, quanto a não verbal. Essa particularidade contribui para o isolamento social da pessoa autista. Caso a linguagem não seja adequadamente estimulada para promover seu desenvolvimento, isso pode reforçar o distanciamento social, dificultando ainda mais a socialização desses indivíduos. As áreas da sintomatologia do TEA permitem que crianças possuam diferentes habilidades linguísticas. Algumas se comunicam bem, outras têm comunicação limitada, e há aquelas que não conseguem se comunicar de forma alguma, o que é mais desafiador (APA, 2014). 

A criança com autismo pode falar sem a verdadeira finalidade de se comunicar. Alguns desenvolvem habilidades expressivas mas a capacidade de compreensão está prejudicada. 

Presume-se a importância de reconhecer e entender as características, os desafios emocionais, cognitivos e comportamentais associados ao TEA, pois essas dificuldades afetam diretamente o funcionamento adaptativo e o grau de impacto que o indivíduo enfrentará em diferentes áreas de sua vida ‒ individual, familiar, social, acadêmico e profissional (Almeida, et al., 2021). Desse modo, intervenções clínicas e educacionais que tenham como foco o ensino de habilidades de comunicação são de extrema importância para possibilitar que a criança ganhe autonomia e se envolva efetivamente em seu meio social (Oliveira; Jesus, 2016). 

2.3 Comunicação Aumentativa Alternativa 

A Comunicação Aumentativa Alternativa (CAA) tem sido cada vez mais reconhecida como uma ferramenta eficaz para melhorar e valorizar a capacidade de se comunicar em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). 

O termo (CAA) refere-se a estratégias e métodos que são usados para suplementar ou substituir a fala ou a escrita tradicional para pessoas com dificuldades na comunicação verbal e não verbal. 

Mas, antes de entender as particularidades da Comunicação Aumentativa Alternativa (CAA) é fundamental compreender que ela constitui um termo mais extensivo e não menos importante, a Tecnologia Assistiva.

Conforme Carvalho et al. (2016), apud Julião (2020) enfatizam, o termo tecnologia assistiva é empregado para explicar algo “que assiste, ajuda e auxilia” fazendo alusão a aparelhos, técnicas e serviços constituídos para compensar as limitações de indivíduos com deficiência. Em 1988 a legislação americana cria o termo Assistive Technology e, através desse, estabelece a garantia de direitos para cidadãos com deficiência (Sartoretto; Bersch, 2020). No Brasil, a portaria n° 142, de 16 de novembro de 2006, cria o Comitê de Ajudas Técnicas e define a tecnologia assistiva da seguinte forma: 

Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social (CAT, 2007). 

Ainda, as Tecnologias Assistivas (TA) são divididas em diferentes categorias ou modalidades, e essa classificação pode variar dependendo dos autores ou instituições envolvidas com ela. Também, essa divisão auxilia a pesquisa, desenvolvimento de recursos, especialização profissional e organização de serviços na área, voltando-se para cada modalidade específica (Santos; Silva, 2013). 

De acordo com Galvão Filho e Miranda (2011), atualmente, a TA apresenta-se como uma área de pesquisa, desenvolvimento e prática de recursos que abrem novos caminhos para a autonomia e inclusão social das pessoas com necessidades especiais. Bittencourt e Fumes (2016) corroboram que, as Tecnologias Assistivas abrem caminhos para o acesso à educação e ao mercado de trabalho. Isso porque ela permite adaptações conforme as necessidades individuais, visando melhorar a funcionalidade e promover o bem-estar desses indivíduos. 

Calheiros, Mendes e Lourenço (2018) certificam que o cenário brasileiro tem campo vasto para explorar as TA pode ser vista como uma área com potencial, com uma favorável influência social, demonstrando também sua relevância para as instituições governamentais uma vez que investem o suficiente no desenvolvimento dessa tecnologia. Pode-se perceber, dessa forma, que são muito apreciáveis os benefícios da Tecnologia Assistiva para a sociedade visto que facilita o crescimento funcional de indivíduos com deficiência, o aprimoramento de sua autonomia e a inclusão no mercado de trabalho. 

Conforme Santos et al. (2018) uma maneira de aplicar a TA pode ser apresentada em alunos com paralisia cerebral (PC) que possuem suas ocupações limitadas por motivo da própria patologia ou mesmo por obstáculos ambientais, o que limita a realização de atividades no ambiente escolar. Desse modo, um aluno com PC pode executar tarefas fazendo uso da tecnologia assistiva para aumentar suas habilidades na escrita, leitura e atividades lúdicas, cooperando tanto no processo de aprendizagem quanto no relacionamento social. 

As Tecnologias assistivas também auxiliam no protagonismo de crianças autistas. De acordo (Santos, 2020, p. 5 apud Silva, 2024), “o protagonismo é entendido como a potência de ação dos sujeitos, ou seja, a capacidade de se expressarem, tomarem decisões e influenciarem nas decisões que lhes afetam”. 

Tendo em conta os pontos discutidos a respeito dos conceitos e características das Tecnologias Assistivas, infere-se que esta tem peso relevante na inclusão de pessoas com deficiência. Ao fornecer ferramentas e dispositivos que facilitam a realização de atividades cotidianas, a TA empodera esses indivíduos, permitindo-lhes participar plenamente na sociedade. Essa tecnologia não só melhora a qualidade de vida, mas também abre portas para oportunidades educacionais e profissionais, contribuindo para uma sociedade mais inclusiva e acessível para todos. 

Em virtude desse estudo está voltado especificamente para o prejuízo na comunicação de crianças autistas. É de interesse aprofundar apenas na categoria de Tecnologia Assistiva que se destina a ampliar as capacidades de comunicação, que é a Comunicação Aumentativa Alternativa. 

Comunicar-se é fundamental e imprescindível para o indivíduo, permitindo a oportunidade de se relacionar no seu meio social de maneira mais saudável e compreensível. Segundo Rüdiger (2010), a capacidade de socializar com seus semelhantes caracteriza um meio de sobrevivência e realização das demandas essenciais do indivíduo. Desse modo, é visível a relevância da comunicação no aperfeiçoamento da humanidade, sendo que o estabelecimento de elos com as demais pessoas, cria um espaço conveniente ao fortalecimento de conjuntos sociais. 

Isto posto, a importância da CAA é evidente em virtude de que comunicar demonstra-se de grande relevância para qualquer pessoa, pois possibilita o relacionar-se com o mundo que o envolve e, tendo um grande resultado, o envolver-se efetivamente enquanto ser social. Porém, embora seja uma característica especificamente humana, nem todos podem utilizar desta habilidade em sua totalidade. Por esta razão, é possível minorar os impactos a nível de desenvolvimento cognitivo, emocional e social em indivíduos com o transtorno do Autismo, através da Comunicação Aumentativa e Alternativa (Pereira, 2016). 

Autores como Manzini; Pelosi; Martinez (2023), trás suas contribuições a respeito desse tema definindo que a comunicação aumentativa alternativa é uma disciplina que transcende as fronteiras do conhecimento, reunindo especialistas de diversas áreas, como educação, saúde, linguística, engenharia e tecnologia da informação. Nessa ampla rede, encontram-se terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, educadores especiais, pedagogos, psicólogos, engenheiros, técnicos em próteses, enfermeiros, e muitos outros. 

Na literatura especializada, a Comunicação Aumentativa Alternativa refere-se a um agrupamento de instrumentos e técnicas, representando um campo de estudo e prática clínica direcionado para contribuir com a comunicação, seja por meio da fala convencional ou da escrita, e usa métodos que acrescentam ou substituem esses modos de comunicação. 

Isto posto, a comunicação é “aumentativa” quando a fala do indivíduo é limitada, tornando necessário a aplicação de recursos adicionais para expandi-la e promover a comunicação efetiva. Por outro lado, é considerada “alternativa” quando as pessoas não possuem habilidades verbais e requerem meios alternativos de comunicação para se expressarem (Manzini; Pelos; Martinez, 2023). 

De acordo com a (American Speech Language Hearing Association, 1989, apud Marzini; Pelosi; Martinez, 2023), a CAA destina-se a compensar as limitações e deficiências enfrentadas por indivíduos com sérios distúrbios na compreensão e na comunicação, seja de forma temporária ou permanente. 

As habilidades linguísticas em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) apresentam uma grande diversidade, que vai desde a ausência de fala ou produção limitada de palavras até a obtenção de habilidades verbais mais avançadas. Contudo, mesmo aqueles que desenvolvem habilidades verbais mais robustas podem enfrentar déficits persistentes na utilização funcional da linguagem para comunicação (Montenegro et al., 2024). 

A Comunicação Aumentativa e Alternativa é um campo que reconhece e valoriza as formas de expressão existentes em indivíduos com dificuldades de comunicação, proporcionando recursos e estratégias para desenvolver novos canais de comunicação. (Santos; Silva, 2013).

Para tanto, engloba diversos componentes interligados que colaboram para o aprimoramento da comunicação, sendo eles : Símbolos – que são representações de objetos, indivíduos, atividades, conexões e ideias utilizadas para expressar o pensamento. Estes podem ser visuais, auditivos, gráficos, gestuais, expressões faciais, movimentos corporais e táteis; Recursos – são objetos ou equipamentos utilizados para transmitir as mensagens, podem ser pastas, livros, fichários, aventais, computadores, e estão divididos em recursos de alta e baixa tecnologia; Estratégias – é o modo como os recursos são utilizados durante a interação face a face. Estas resultam da demanda, necessidade e habilidade individuais de cada sujeito; Técnicas de seleção – referem-se à maneira que a pessoa seleciona os símbolos no seu recurso alternativo de comunicação. Pode-se citar como técnica de seleção direta: o apontar, a seleção pelo olhar, a técnica de varredura e a codificação (Marzini; Pelosi; Martinez, 2023, cap. I). 

Naturalmente esse aspecto de interligação de diversos elementos confere à CAA a característica de ser altamente personalizada e ajustada às necessidades individuais de cada pessoa. Além disso, seus recursos são divididos em grupos de baixa e alta tecnologia, tornando-os acessíveis a todas as classes econômicas. Isso significa que independente do nível socioeconômico, indivíduos podem encontrar soluções de comunicação que atendam às suas necessidades, garantindo inclusão e igualdade de acesso à comunicação para todos. 

Os termos alta e baixa tecnologia referem-se aos diferentes recursos/ ferramentas ou veículo de comunicação que serão utilizados pelo indivíduo no momento da conversação. Classificam-se ipads, tablets, smartphones, computadores e vocalizadores como recursos de alta tecnologia por serem dispositivos eletrônicos e diferenciarem-se dos recursos de baixa tecnologia como livros, aventais e cartões impressos que são recursos simples e baixo custo, pela funcionalidade e complexidade. 

2.4 Como a implementação da Comunicação Aumentativa Alternativa influencia positivamente o desenvolvimento da comunicação e habilidades socioemocionais de crianças com autismo? 

Guedes (2022), reconhece que o desconhecimento sobre as características do autismo bem como das práticas integrativas que visam auxiliar indivíduos com essa condição impedem que intervenções significativas possam ocorrer e que estes venham alcançar um maior nível de desenvolvimento. 

Portanto, torna-se de fundamental importância conhecer as funcionalidades e impactos da CAA, e lançar mão delas a fim de conectar as potencialidades de indivíduos com autismo às possibilidades dessa ferramenta. Em concordância, (Arwert; Sizoo, 2020, apud Casagrande et al., 2024, p. 5) esclarecem que:

Com uma intervenção precoce no tratamento de indivíduos com TEA, ampliam-se as possibilidades desta criança se tornar um adulto com bom repertório de habilidades sociais e melhor qualidade de vida. Em suma, o adulto com TEA que passa a maior parte da sua vida sem diagnóstico, tem dificuldades para identificar, compreender e lidar com situações nas quais não possui repertórios, por vezes atribuindo a si mesmo a responsabilidade por tais problemas e dificuldades, o que pode gerar insegurança, incerteza e baixa autoestima acerca das próprias habilidades e capacidades. 

Cesar e Mota (2015, p. 265) complementam dizendo ser “necessário compreender a diversidade dos sistemas da CAA, o contexto de quem a utilizará e os parceiros conversacionais, além de considerar as habilidades psíquicas, cognitivas, neuromotoras, sensoriais e linguísticas de cada pessoa. Os aspectos socioeconômicos e culturais devem ser igualmente considerados.” 

Na concepção de (Manzini; Pelosi; Martinez, 2023, cap. I) a implementação da Comunicação Aumentativa Alternativa no Brasil teve início em 1978, com a Associação Educacional Quero-Quero de Reabilitação Motora e Educação Especializada, no estado de São Paulo, a qual aplicava a CAA em pessoas com deficiência neuromotora, comprometimento sensório-motor, deficiência intelectual e autismo. Contudo, os primórdios iniciais de sua prática remonta à década de 1950, nos Estados Unidos, Canadá e Europa. 

A adoção de pranchas ilustradas para pessoas com dificuldades de articulação da fala, o uso de sistemas baseados em gestos e sinais, a introdução de dispositivos de acionamento e o desenvolvimento de tecnologias para controle ambiental, favoreceram o avanço e a disseminação da Comunicação Aumentativa Alternativa, tanto no âmbito nacional quanto internacional (Manzini; Pelosi; Martinez, 2023, cap. I). 

No Brasil, o programa PECS-Adaptado (Sistema de Comunicação por troca de Figuras) originalmente baseado no Picture Exchange Communication System (PECS) dos EUA, é utilizado como Comunicação Aumentativa e Alternativa para estimular o desenvolvimento da comunicação e interação social em indivíduos com TEA (Pereira, et al., 2019). 

Em consonância com Oliveira e Jesus (2016, p. 24) o Sistema de comunicação por troca de figuras (PECS), é um método de intervenção em CAA baseado em princípios da análise do comportamento aplicada no qual a criança aprende a requisitar objetos ou atividades de interesse por meio da troca de figuras pelos itens desejados.

O PECS é formado por cinco fases, onde inicia-se com a troca do cartão com imagens pelo item desejado. Em uma segunda fase é feita a generalização e troca de cartões com diferentes parceiros e ambientes. A fase seguinte é dividida em A e B, estimulando-se, na etapa A, a discriminação dos cartões e, na etapa B, a diminuição deles. Posteriormente promove-se a construção de frases básicas, abrangendo desejos e expressões emocionais, e finaliza-se com a elaboração mais complexa das sentenças, diversificando o vocabulário e os conceitos (Pereira, et al., 2019). 

Atualmente, o PECS é um dos programas de comunicação mais amplamente adotados em todo o mundo para crianças autistas que não falam. Esse sistema utiliza imagens selecionadas conforme o vocabulário individual de cada criança e não se limita apenas à substituição da fala por uma imagem, mas também estimula a expressão de necessidades e desejos (Santos, et al., 2021). 

Esse sistema consiste em representações visuais que se assemelham exatamente aos objetos aos quais se referem (Manzini; Pelosi; Martinez, 2023, cap. I), e oferece oportunidades de aprender as bases fundamentais da comunicação como também capacita crianças com TEA que não falam ou têm habilidades verbais limitadas a se envolverem na interação social e na dinâmica da comunicação (Santos, et al., 2021). 

Antigamente havia o receio de que aprender uma forma alternativa de comunicação poderia desestimular a busca pelo desenvolvimento da fala. No entanto, atualmente compreende-se que o oposto é verdadeiro: o uso da CAA pode, na verdade, estimular e facilitar o desenvolvimento da fala, tornando os indivíduos mais competentes na comunicação verbal (Santos; Silva, 2013). 

Contudo, de acordo com Montenegro et al. (2024) tanto o PECS quanto a maioria dos métodos de Comunicação Aumentativa Alternativa são desenvolvidos em país e culturas diferentes da brasileira, o que pode tornar sua aplicação inviável no contexto nacional. Desse modo, é importante que métodos novos sejam criados e conhecidos para atender as individualidades e demandas do público nacional, como é o caso do método de desenvolvimento das habilidades comunicativas no autistas – DHACA. 

O DHACA é um método de CAA que se baseia na “teoria da aquisição da linguagem baseada no uso”. É um tipo brasileiro, desenvolvido especificamente para autistas. O método exige que a criança apresente atenção concentrada mínima, habilidade motora fina, habilidades para tarefas que requerem a integração da visão com a ação manual, ausência de deficiência intelectual e visual (Montenegro et al., 2024). 

Criado pela Professora Doutora da UFPE, Ana Cristina Albuquerque Montenegro, o DHACA, é um sistema de Comunicação Aumentativa Alternativa robusto, ou seja, que possibilita o desenvolvimento de várias funções comunicativas; e tem como proposta principal o desenvolvimento da comunicação funcional. 

3 MATERIAIS E MÉTODOS 

A atual pesquisa é instrumentalizada por uma revisão bibliográfica de dois temas e suas relações, os quais são Autismo e a CAA. De acordo com (Boccato, 2006 apud Pizzani et al., 2012) , a pesquisa bibliográfica busca o levantamento e análise crítica dos documentos publicados sobre o tema a ser pesquisado com objetivo de atualizar, desenvolver o conhecimento e contribuir com a realização da pesquisa. 

Ainda, a pesquisa bibliográfica é, por excelência, uma fonte interminável de informações, pois auxilia na atividade intelectual e contribui para o conhecimento cultural em todas as formas do saber. Portanto entende-se que a pesquisa bibliográfica em termos genéricos é um conjunto de conhecimento reunidos em obras de toda natureza, tendo como finalidade conduzir o leitor a pesquisa de determinado assunto, proporcionando insights. 

Sendo assim, foram realizados levantamentos bibliográficos tradicionais, de análise de livros e manuais disponibilizados na biblioteca da instituição de ensino. Além de pesquisas em artigos científicos e publicações periódicas científicas contidas nas bases de dados BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), PEPSIC (Periódicos Eletrônicos em Psicologia), PubMed, SciELO (Scientic Eletronic Library Online – Fapesp), Google Acadêmico e CAPES. 

O processo de escolha dos artigos se deu pelos respectivos critérios: artigos publicados entre o período de 2011 a 2024 de modo a assegurar que as informações refletissem os avanços e tendências mais recentes na área de estudo. Foram selecionados materiais publicados em português, espanhol e inglês, e utilizado a combinação de palavras chaves como: Comunicação Alternativa e Aumentativa, Psicologia, Criança e Autismo. Foram excluídos artigos publicados em períodos anteriores a 2011 e aqueles que não contemplassem as palavras chaves propostas.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Para proporcionar uma melhor visualização dos resultados, os artigos analisados foram organizados na Tabela 1. Esta tabela apresenta de forma clara os achados de cada estudo, sendo organizados no formato: título, ano de publicação, autores, revistas e objetivo geral. 

TÍTULO ANO DA PUBLICAÇÃOAUTORES REVISTA OBJETIVO GERAL
O impacto da implementação do Picture Exchange Communication System – PECS na compreensão de instruções em crianças com Transtorno do Espectro do Autismo Uso de sistema robusto de comunicação alternativa no transtorno do espectro do autismo: relato de caso2021 2022 Santos et al. Montenegro et al.CoDAS Rev. CEFAC.Analisar o impacto da implementação do Picture Exchange Communication System – PECS na compreensão de instruções de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) Investigar o impacto do uso de um sistema robusto de Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) na comunicação de uma criança com Transtorno do Espectro do Autismo.

Tabela – 1 

Santos et al. (2021) concentraram seus estudos na investigação dos impactos da implementação do Picture Exchange Communication System (PECS) na compreensão de instruções por crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). A pesquisa envolveu uma amostra de 20 crianças com autismo não verbal, sendo 15 meninos e 5 meninas, com idades entre 6 e 12 anos.

A composição socioeconômica da amostra revelou que 70% dos indivíduos pertenciam à classe C/D (média-baixa), enquanto os outros 30% pertenciam à classe A/B (alta). Essa distribuição sugere uma representatividade abrangente, abarcando diferentes realidades socioeconômicas. Considerar essa variedade de contextos familiares é fundamental para generalizar os resultados para diferentes grupos sociais, demonstrando a força e a aplicabilidade dos achados do estudo. 

Os dados coletados evidenciaram que a implementação do PECS teve um impacto positivo na compreensão de instruções tanto visuais quanto orais pelas crianças. Esse resultado indica que o sistema não apenas fornece uma ferramenta de comunicação alternativa ou aumentativa, mas também promove uma melhoria significativa na assimilação das informações contextuais. Isso evidencia a importância do PECS não apenas como um meio de expressão para crianças com autismo, mas também como um facilitador do entendimento de comandos e instruções verbais e não verbais. 

Além disso, a pesquisa destacou que a eficácia do PECS se estende a crianças de variadas classes socioeconômicas, sugerindo que o sistema pode ser efetivamente implementado em diferentes contextos familiares. Essa inclusividade é crucial para o desenvolvimento de intervenções que sejam amplamente aplicáveis e benéficas para a população com TEA, independentemente de suas condições socioeconômicas. 

Em resumo, os resultados do estudo de Santos et al. (2021) corroboram a efetividade do PECS em melhorar a compreensão de instruções em crianças com autismo não verbal, evidenciando seu potencial como uma ferramenta de comunicação que atende a diversas necessidades e contextos socioeconômicos. Esses achados são consistentes com a literatura existente, que sugere que a Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA) pode ter amplos benefícios para crianças com TEA, promovendo tanto a expressão quanto a compreensão das informações contextuais. 

No segundo estudo, Montenegro et al. (2022), investigaram o impacto do uso de um sistema robusto de comunicação aumentativa alternativa em uma criança autista, sendo utilizado, para a implementação, o método de desenvolvimento de habilidades comunicativas no autismo – DHACA, em uma criança de 3 anos e 11 meses.

A aplicação do método teve como objetivo desenvolver quatro habilidades específicas: a construção de frases com “eu quero” é mais uma terceira palavra; a construção de frases com “eu quero” é mais uma quarta palavra; a construção de frases com quatro ou mais palavras e o desenvolvimento de narrativas” (Montenegro et al., 2022). 

Após um período de 10 meses de intervenção, com o uso de um sistema robusto de comunicação aumentativa alternativa, observou-se um avanço nas habilidades comunicativas e comportamentais. Os dados revelam que as habilidades comunicativas receptivas tiveram o maior crescimento, aumentando em 62,5%. Já as habilidades expressivas tiveram aumento de 36,84% enquanto as comportamentais tiveram aumento de 55,53%, de modo que as habilidades comunicativas adquiridas incluem compreender e executar ordens simples, obedecer ao “não”, usar quatro ou mais palavras em frases, fazer perguntas, solicitar objetos que estão fora do campo de visão, solicitar algo novo que está no campo de visão e chamar a atenção do parceiro de comunicação. E nas habilidades comportamentais notou-se “a aquisição do brincar funcional, da atenção compartilhada e aumento na frequência do contato visual.” (Montenegro et al., 2022, p. 7). 

A CAA é uma abordagem que utiliza métodos de comunicação não convencionais para auxiliar ou substituir a fala em crianças com TEA. Estudos como o de Montenegro et al. (2022) confirmam as contribuições positivas do uso de sistemas de CAA de alta tecnologia no desenvolvimento das habilidades comunicacionais em crianças com TEA. 

5 CONCLUSÃO 

O transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurológica que afeta a comunicação e o comportamento social de uma criança. Muitas crianças com TEA têm dificuldades significativas na comunicação verbal e não verbal, o que pode limitar sua habilidade de interagir efetivamente com os outros. 

A Comunicação Aumentativa Alternativa (CAA) é uma abordagem que utiliza meios de comunicação não convencionais, como símbolos gráficos, linguagens de sinais, sistemas de computador, entre outros, para auxiliar ou substituir a fala. A CAA tem se mostrado eficaz no avanço da comunicação e no bem-estar das crianças com TEA.

Este trabalho é justificado pela primordialidade de explorar e entender melhor como a CAA pode ser aplicada para melhorar a comunicação e o relacionamento social em pessoas com transtorno de espectro autista. 

Espera-se que os resultados deste estudo possam contribuir para a literatura existente sobre CAA e TEA e fornecer insights valiosos para profissionais da área, educadores e familiares de crianças com TEA. Além disso, os resultados podem informar políticas públicas e práticas clínicas, promovendo melhores resultados para crianças com TEA. 

A pesquisa analisou a eficácia da Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA) em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), utilizando dois estudos principais. O primeiro, conduzido por Santos et al. (2021), investigou o impacto do Picture Exchange Communication System (PECS) na compreensão de instruções por crianças com autismo não verbal. Os resultados mostraram uma melhoria significativa na capacidade das crianças de entender comandos, evidenciando o potencial do PECS como ferramenta de comunicação e facilitador da compreensão de informações contextuais. A eficácia do PECS foi observada em diferentes contextos socioeconômicos, destacando sua aplicabilidade ampla e inclusiva. 

O segundo estudo, de Montenegro et al. (2022), avaliou o impacto de um sistema robusto de CAA em uma criança autista, utilizando o método de Desenvolvimento de Habilidades Comunicativas no Autismo (DHACA). Após 10 meses de intervenção, observou-se um avanço significativo nas habilidades comunicativas e comportamentais da criança, com aumentos notáveis nas habilidades comunicativas receptivas (62,5%) e expressivas (36,84%), além de melhorias nas habilidades comportamentais (55,53%). Esses achados confirmam que sistemas de CAA de alta tecnologia podem contribuir substancialmente para o desenvolvimento das habilidades comunicacionais em crianças com TEA. 

Em resumo, os estudos analisados corroboram a eficácia dos sistemas de CAA, como o PECS e métodos robustos como o DHACA, no aprimoramento das habilidades de comunicação e comportamento em crianças com TEA. As pesquisas demonstram que esses sistemas não só facilitam a expressão e a compreensão das informações contextuais, mas também são inclusivos e aplicáveis em diferentes realidades socioeconômicas. Assim, a implementação de CAA representa ser uma intervenção valiosa e eficaz para melhorar a qualidade de vida e o desenvolvimento integral de crianças com autismo. 

Sugere-se que mais pesquisas sejam realizadas ampliando o número de amostras pesquisadas; e que acompanhem os efeitos da Comunicação aumentativa alternativa a longo prazo na vida dos sujeitos. Outra necessidade é a adequação de métodos de avaliação que considerem as múltiplas dimensões do desenvolvimento emocional, incluindo indicadores de bem- estar e auto estima. 

Considera-se que o objetivo do trabalho foi parcialmente alcançado uma vez que foram demonstrados apenas alguns estudos, não esgotando toda a literatura a respeito do tema. 

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1Marina Rodrigues de Andrade. Graduanda em Psicologia. E-mail: marynna.andrade@hotmail.com;
2Shoraya Morales Elizabete. Graduanda em Psicologia. E-mail: shoraya.morales@gmail.com;
3Valdenia Cristina dos Santos Borges. Graduanda em Psicologia. E-mail:val.santos.borges@gmail.com;
4Hytalo Mangela de Sousa Faria. Professor Orientador. E-mail: trabalhospsi.uninassau@gmail.com