ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR DE EMERGÊNCIA: REVISÃO INTEGRATIVA

NURSES’ PERFORMANCE IN PRE-HOSPITAL EMERGENCY CARE: INTEGRATIVE REVIEW

DESEMPEÑO DE ENFERMERAS EN LA ATENCIÓN DE EMERGENCIA PREHOSPITALARIA: REVISIÓN INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11531273


Arnaldo Sabino de Carvalho1;
Ana Letícia Carnevalli Motta2


RESUMO

O atendimento Pré- Hospitalar Móvel (APHM) é o serviço responsável pela prestação da assistência fora do ambiente hospitalar, em situações de urgência e emergência nas quais por meio da agilidade no atendimento precoce é possível amenizar e evitar danos severos ao paciente.  Alguns agravos podem acontecer devido a quadros de natureza climática, traumática ou psiquiátrica, que criam possibilidades de ocasionar sequelas ou mesmo morte. Sendo assim, o APHM atua prestando atendimento e transporte adequado ao serviço de saúde que está devidamente integrado e hierarquizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil (Brasil, 2006). O objetivo principal deste estudo foi identificar as competências do enfermeiro e os desafios diários encontrados no atendimento pré-hospitalar de emergência. Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo revisão integrativa pela busca de dados nas plataformas digitais como a Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e a Base de Dados da Enfermagem (BDENF), a partir de dados como títulos, autores, instituições, países, resumos, palavras-chave, referências, contagens de citações, fatores de impacto e outros. Foram incluídos artigos científicos respeitando-se critérios de inclusão e exclusão definidos. Os trabalhos apontaram para as principais competências do enfermeiro na APHM com foco na importância das ações do enfermeiro tanto na assistência como na liderança da equipe. Conclui se que há uma necessidade de melhorias nos serviços de atendimento pré-hospitalar de emergência por meio da formação continuada para a qualificação dos enfermeiros atuantes e implementação de ferramentas e métodos para melhorar a atuação dos profissionais da saúde.

PALAVRAS-CHAVE: enfermeiro, assistência de enfermagem, atendimento emergencial pré-hospitalar.

ABSTRACT

Mobile Pre-Hospital Care (APHM) is the service responsible for providing assistance outside the hospital environment, in urgent and emergency situations in which, through agility in early care, it is possible to alleviate and avoid severe harm to the patient.  Some injuries may occur due to conditions of a climatic, traumatic or psychiatric nature, which create the possibility of causing sequelae or even death. Therefore, the APHM operates by providing adequate care and transportation to the health service that is duly integrated and hierarchical by the Brazilian Unified Health System (SUS) (Brazil, 2006). The main objective of this study was to identify nurses’ competencies and the daily challenges encountered in pre-hospital emergency care. This is a qualitative research of the integrative review type by searching for data on digital platforms such as the Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS), the Virtual Health Library (VHL) and the Nursing Database ( BDENF), based on data such as titles, authors, institutions, countries, abstracts, keywords, references, citation counts, impact factors and others. Scientific articles were included respecting defined inclusion and exclusion criteria. The works pointed to the main competencies of nurses in APHM with a focus on the importance of nurses’ actions both in providing care and in leading the team. It is concluded that there is a need for improvements in pre-hospital emergency care services through continued training for the qualification of working nurses and the implementation of tools and methods to improve the performance of health professionals.

KEYWORDS: nurse, nursing care, pre-hospital emergency care.

RESUMEN:

La Atención Móvil Prehospitalaria (APHM) es el servicio encargado de brindar asistencia fuera del ámbito hospitalario, en situaciones de urgencia y emergencia en las que, a través de la agilidad en la atención temprana, es posible aliviar y evitar daños graves al paciente.  Algunas lesiones pueden ocurrir por condiciones de carácter climático, traumático o psiquiátrico, que crean la posibilidad de causar secuelas o incluso la muerte. Por lo tanto, la APHM opera brindando atención y transporte adecuados al servicio de salud debidamente integrado y jerarquizado por el Sistema Único de Salud (SUS) de Brasil (Brasil, 2006). El principal objetivo de este estudio fue identificar las competencias del enfermero y los desafíos diarios encontrados en la atención de emergencia prehospitalaria. Se trata de una investigación cualitativa del tipo revisión integrativa mediante la búsqueda de datos en plataformas digitales como la Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la Salud (LILACS), la Biblioteca Virtual en Salud (BVS) y la Base de Datos de Enfermería (BDENF), a partir de datos como títulos, autores, instituciones, países, resúmenes, palabras clave, referencias, recuentos de citas, factores de impacto y otros. Se incluyeron artículos científicos respetando criterios de inclusión y exclusión definidos. Los trabajos apuntaron las principales competencias del enfermero en APHM con foco en la importancia de las acciones del enfermero tanto en la prestación del cuidado como en la conducción del equipo. Se concluye que existe la necesidad de mejoras en los servicios de atención de emergencia prehospitalaria a través de la capacitación continua para la calificación del personal de enfermería en activo y la implementación de herramientas y métodos para mejorar el desempeño de los profesionales de la salud.

PALABRAS CLAVE: enfermera, cuidados de enfermería, atención de emergencia prehospitalaria.

1. Introdução

A assistência oferecida fora do ambiente hospitalar, para atendimentos de emergência, é definida pelo Ministério da Saúde como Atendimento Pré-Hospitalar Móvel (APHM) e procura chegar precocemente à vítima quando houver agravo à saúde. Estes agravos podem acontecer devido a quadros de natureza climática, traumática ou psiquiátrica, que criam possibilidades de ocasionar sequelas ou mesmo morte. Sendo assim, o APHM atua prestando atendimento e transporte adequado ao serviço de saúde que está devidamente integrado e hierarquizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil (Brasil, 2006).

Desta maneira, os serviços vinculados à urgência e emergência fazem parte de um conjunto de estruturas com influência de fatores, considerando o aumento da violência e dos acidentes de trânsito, por exemplo. Tais fatores contribuíram para que novas políticas públicas e portarias fossem criadas com a finalidade de organizar os fluxos de atendimento à saúde, garantindo uma assistência adequada e de qualidade, a cada cidadão que realmente necessite de um atendimento imediato, mas também especializado (Tavares et al., 2017).

Sabe-se que em 2003 foi criada a Política Nacional de Atenção à Urgências (PNAU) com o objetivo de garantir atendimento de urgência clínicas, de traumas, psiquiátricas e obstétricas, para assim estabelecer um vínculo público com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), que atua com profissionais médicos e da enfermagem, utilizando veículos padronizados e equipamentos específicos, além de equipe qualificada. Neste sentido, o papel do enfermeiro cabe à responsabilidade pelo atendimento em situações de reanimação e estabilização dos pacientes que utilizam o serviço, seja no local ou durante o transporte (Brasil, 2011).

Em 2011 foi instituída a Rede de Atenção às Urgências (RUE) com o intuito de ampliar, qualificar e integrar o acesso aos usuários de maneira ágil, em situações de emergências, possibilitando uma rede de atenção onde o SAMU torna-se um componente assistencial móvel de grande valor à população. Portanto, o SAMU atende na modalidade de Suporte Básico de Vida (SBV) onde participa do serviço, um condutor, um enfermeiro e um médico. Como também, a modalidade Suporte Avançado de Vida (SAV) com participantes como um condutor, um enfermeiro e um médico, no entanto, neste cenário, a atuação assistencial do enfermeiro está prevista apenas para as unidades SAV (Brasil, 2003).

Contudo, de acordo com a Lei do Exercício Profissional de número 7498 de 1986, o profissional da enfermagem possui competências e habilidades para o cuidado direto a pacientes graves e com risco de vida. Assim como os cuidados de maior complexidade, que exijam conhecimentos técnicos científicos para a tomada de decisão. Neste contexto, é pertinente a investigação sobre a atuação do enfermeiro no atendimento pré-hospitalar de emergência (Tavares et al., 2017).

O objetivo do trabalho foi identificar as competências do enfermeiro e os desafios diários encontrados no atendimento pré-hospitalar de emergência. Além do mais, foram averiguadas as estratégias para a visibilidade desse profissional, tendo em vista suas habilidades na realização das atividades assistenciais nos cuidados pré-hospitalares de emergência.

2. Referencial Teórico

Os atendimentos de emergência são definidos como situações que apresentam risco iminente à vida ou à saúde do paciente e que necessitam de atendimento médico-hospitalar imediato. Entretanto, destaca-se que existem diferentes tipos de atendimento de emergências, classificados como urgências clínicas gerais, que são de origem crônica ou lesões agudas que comprometem a funcionalidade do indivíduo; a urgência obstétrica, decorrente de complicações devido gestação pré e pós-parto; emergência psiquiátrica ou mental, que trata de quadros neuropsíquicos graves, que representam risco à vida ou agravamento das condições do paciente. Além disso, existem as emergências relacionadas à traumas, que ocorrem em virtude de acidentes de trânsito, agressões, quedas, ferimentos por armas, entre outros (Silva, 2018).

De acordo com uma pesquisa realizada pela DATASUS, os dados epistemológicos do Brasil demonstram grande incidência de internações hospitalares devido às ocorrências de emergência por traumas advindos de causas externas. No período entre janeiro de 2018 e agosto de 2022, por exemplo, ocorreram aproximadamente 5 milhões de internações hospitalares nesse contexto. Foi relatado pela pesquisa que, quase 14% das internações são decorrentes de acidentes de transporte, um pouco mais de 50% são lesões acidentais e aproximadamente 4% de agressões (Brasil, 2022).

Segundo Silva (2018), historicamente as ambulâncias apenas transportavam pacientes para atendimento hospitalar. No entanto, atualmente são inseridas ações interdisciplinares entre os motoristas, médicos e enfermeiros com o objetivo de validar os atendimentos pré-hospitalares. O serviço médico de emergência passou a ser popularizado para os procedimentos, como diagnóstico e tratamento, fossem possíveis no local do acontecimento do acidente ou trauma. A implementação de tal metodologia foi essencial para a diminuição dos riscos, complicações e sequelas aos quais as vítimas estavam expostas.

Ao aumentar as chances de sobrevivência dos pacientes, nota-se a importância do atendimento precoce e rápido, com transporte adequado para os serviços emergenciais. Contudo, Karlberg (2019) destaca que nos últimos anos, a procura pelos serviços assistenciais de emergência pré-hospitalar aumentou significativamente, devido ao aumento de acidentes de trânsito, mas também às maiores denúncias de violência e imprudência humana. Dessa maneira, percebe-se que é de grande relevância a avaliação da qualidade dessa prestação pública de serviço de saúde, com a finalidade de melhorá-la.

As avaliações das situações de emergência devem ser corretas e especializadas, pois o ambiente pré-hospitalar pode ocasionar sofrimento ou morte dos pacientes. Sendo assim, a equipe multidisciplinar deve estar preparada para as ocorrências. Para estas situações, o Ministério da Saúde define o conceito de emergência como toda condição que implique risco iminente de morte e precisa de tratamento imediato (Brasil, 2014).

Neste sentido, percebe-se que para a atuação do enfermeiro no atendimento pré-hospitalar, existem diferentes protocolos e situação advindas de naturezas distintas, o que exige dos profissionais um diagnóstico preciso das condições atualizadas do paciente, para que haja um encaminhamento adequado direcionado aos serviços hospitalares (Silva et al., 2020).

Silva et al. (2020) ressalta que a utilização de protocolos clínicos específicos são fundamentais para a realização do diagnóstico de forma precisa, o que garante a segurança e integridade do paciente. Os protocolos também devem ser direcionados pela conduta mais adequada para cada caso, evitando desperdício de tempo e de recursos durante o atendimento pré-hospitalar. Assim, é essencial que mais investimento na implementação de políticas nacionais de atenção primária em emergência sejam realizadas para o sucesso dos resultados positivos, já que muitos profissionais ainda encontram-se despreparados para certas situações e desafios encontrados nesse tipo de atendimento.

Portanto, os desafios encontrados nos postos de trabalhos por enfermeiros pré-hospitalares, de acordo com Costa (2021) são falta de formação continuada, capacitação e treinamento proporcionados pelo próprio APHM, e comunicação ruim entre as equipes. Sendo assim, é possível notar a necessidade dos profissionais possuírem conhecimento sobre diferentes tipos de patologias que serão enfrentadas nas unidades básicas de saúde e como lidar com cada uma delas, para um serviço de emergência eficaz.

Ao se tratar da legislação, é possível citar as normas do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), fundamental para os profissionais da enfermagem e suas capacitações. É exigida a capacitação dos enfermeiros para realização de procedimentos nos ambientes intra e pré-hospitalares, como punção arterial, intubação com dispositivos glóticos e desfibrilação. As resoluções e portarias também estabelecem normativas, regulamentando a atuação da enfermagem nos serviços de urgência e emergência como a Portaria 2048 de 2002, e a legislação do COFEN como a 641 de 2020; a 648 de 2020; 655 de 2020; 688 de 2022; 703 de 2022 e 704 de 2022.

As legislações propõem a criação de um sistema unificado para emergências no país, a utilização de dispositivos extra glóticos (DEG) em procedimentos com necessidade de acesso às vias aéreas em ambientes pré-hospitalares, a capacitação e atuação o enfermeiro na realização da punção óssea. Além de normatizar a atuação dos profissionais da enfermagem no atendimento pré-hospitalar móvel terrestre e aquaviário, a administração de medicamentos para a equipe SBV, a execução realizada pelo enfermeiro na punção arterial ou instalação de cateter. Ademais, a legislação também infere a atuação dos profissionais da enfermagem na utilização dos equipamentos de desfibrilação.

3. Metodologia

Este foi um estudo exploratório e de abordagem qualitativa. Para esta pesquisa, foram selecionados estudos publicados em bases de dados nacionais e internacionais, sendo realizada uma revisão integrativa de literatura, utilizando- se de técnicas de exclusão e inclusão.

Foi realizada uma busca de dados nas plataformas digitais como a Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e a Base de Dados da Enfermagem (BDENF), a partir de dados como títulos, autores, instituições, países, resumos, palavras-chave, referências, contagens de citações, fatores de impacto e outros. Foram aplicados os descritores (i) assistência pré-hospitalar; (ii) enfermagem; (iii) emergência. Foram incluídos artigos científicos diretamente relacionados, considerando conceitos-chaves como (i) atuação do enfermeiro e (ii) atendimento emergencial pré-hospitalar.

Como critérios de seleção foram considerados somente artigos e livros, de revisão e livros introdutórios, com acesso liberado e os publicados nas últimas três décadas, que estivessem na categoria de Enfermagem, no período de 2017 a 2024. O levantamento de base bibliográfica pode ser observado na Figura 1. 

Figura 1. Processo de identificação e seleção dos artigos.

Fonte: Arquivo pessoal.

4. Resultados e Discussões

A partir dos 5 trabalhos analisados, foi possível comparar habilidades e competências do enfermeiro quanto ao atendimento pré-hospitalar móvel, desafios para a atuação do enfermeiro também neste ambiente, e as estratégias para maior visibilidade do papel do enfermeiro. Os trabalhos e suas sínteses podem ser observados no Quadro 1.

Quadro 1. Síntese e categorização da produção científica incluída na Revisão integrativa.

TítuloAutorPeriódicoMétodoResultados
1O cotidiano dos enfermeiros que atuam no serviço de atendimento móvel de urgênciaTavares et al. (2017)RECOM: Revista de Enfermagem do Centro Oeste MineiroPesquisa com abordagem qualitativa e exploratóriaCenas traumáticas causam impacto nos enfermeiros ocasionando um desequilíbrio emocional, sendo necessário trabalhar o desenvolvimento das questões psicológicas para melhorar a qualidade de vida, e o reconhecimento é capaz de gerar motivação, sendo estes propulsores para a superação dos desafios em prol de salvar vidas.
2Enfermagem em Práticas Avançadas no Atendimento Pré-hospitalarMalvestio et al. (2019)Revista Oficial do Conselho Federal de Enfermagem – Enfermagem em FocoRevisão NarrativaFrente ao cenário desafiador das urgências no Brasil, a incorporação de Enfermeiros treinados e habilitados no APH, têm potencial para qualificar o modelo e levar segurança assistencial às áreas que ainda precisam ser cobertas, bem como, às áreas que vivenciam a indisponibilidade de médicos e/ou a exclusiva presença de SBV, garantindo acesso oportuno.
3Competências doenfermeiro ememergência e oproduto do cuidarem enfermagem:revisão integrativaNicolau et al. (2019)Revista Online de Pesquisa Cuidado FundamentalEstudo descritivo quantitativo e transversal observacionalA realização da SAE no SAMU ainda precisa ser mais discutida e exercitada, pelo próprio Núcleo de Educação Permanente do SAMU, e mais ainda pelas entidades reguladoras da profissão.
4A liderança exemplar na perspectiva de enfermeiros do atendimento pré-hospitalar: estudo descritivoGrivol et al. (2020)Brazilian Online Journal of NursingEstudo descritivoVerificou-se que a liderança é essencial na garantia da efetividade do trabalho de enfermagem no APH, interferindo diretamente nas articulações entre os membros da equipe e, assim, refletindo na assistência, na satisfação dos profissionais envolvidos e no cuidado prestado ao paciente.
5A ansiedade de pacientes em pré-operatório de cirurgia cardíaca e o papel do enfermeiroMoreira et al. (2022)Revista Online de Pesquisa e Cuidado FundamentalRevisão narrativaO estabelecimento de vínculo entre os profissionais do serviço diminui consideravelmente os problemas enfrentados na prática profissional diária. Entre os fatores que contribuem para um clima ideal de trabalho em equipe na emergência, estão a liderança, comunicação, monitorização, consciência da situação e comportamento de apoio. Quanto às más condições das estradas, ressaltou-se a importância de os líderes da assistência executarem análises de viabilidade na correção sistemática dos déficits no atual sistema.

Fonte: Arquivo pessoal (2024)

Sobre a atuação do enfermeiro, Moreira et al. (2022) enfatizaram que para o atendimento pré-hospitalar exige que o profissional esteja preparado para trabalhar com situações não esperadas, sendo necessário o desenvolvimento do olhar crítico, com a finalidade de possuir a capacidade de optar por ações que beneficiam o paciente mantendo-o em segurança, assim como toda a equipe. Assim, como concordam Grivol et al. (2020) que apresenta o papel crucial de enfermeiros líderes nesse tipo de assistência, pois a incapacidade pode interferir na qualidade do atendimento, assim como nas tomadas de decisão. Desta forma, destaca-se que o sucesso do atendimento pré-hospitalar está relacionado à influência dos profissionais sobre a equipe multidisciplinar.

Grivol et al. (2020) ainda avaliaram as percepções dos enfermeiros sobre o comportamento de liderança exemplar no atendimento pré-hospitalar. Sendo assim, o papel de liderança mostrou que tal prática deve ser recorrente nos enfermeiros que atuam no SAMU, além de ser uma das competências fundamentais para a atuação na APHM.

Ainda sobre as competências e habilidades do profissional da enfermagem na assistência pré-hospitalar de emergência, Tavares et al. (2017) destacam as habilidades técnicas essenciais, como a capacidade de revisão de protocolos e promoção de atividades relacionadas a administração e gerenciamento de equipes, considerando também boa relação interpessoal, gerenciamento de conflitos, gerenciamento de recursos materiais e equipamentos, previsão de necessidades, definição de prioridades de cuidados, entre outras atividades.

Malvestio et al. (2019) afirmam que a incorporação de enfermeiros treinados e habilitados no atendimento pré-hospitalar de emergência possui potencial para qualificar a metodologia da área da saúde levando segurança aos processos. No entanto, no que diz respeito aos entraves, existe uma demanda grande de serviço e necessidade de atuação, com carga horária exaustiva, salários baixos, situação de estresse, eventos inesperados, comunicação ruim entre os membros da equipe multidisciplinar, entre outros.

Neste sentido, Tavares et al. (2017) e Moreira et al. (2022) afirmam que cenas traumáticas acabam causando impactos na saúde mental dos enfermeiros que atuam no atendimento pré-hospitalar, o que pode desencadear um desequilíbrio emocional, desmotivação para o trabalho e piora da qualidade de vida do profissional. Além disso, os autores também relacionam as fragilidades do enfermeiro na execução de múltiplas tarefas durante os plantões, pois envolve liderança, gerenciamento de conflitos e recursos, além da exposição constante a fatores estressantes e doenças como depressão.

Moreira et al. (2022) ainda ressaltam que a saúde dos profissionais da enfermagem nesses casos pode influenciar na sua participação durante os momentos de assistência e emergência. No entanto, o enfermeiro deve ser capacitado para lidar obrigatoriamente com o Suporte Avançado de Vida, sendo um atendimento de baixa, média ou alta complexidade, conforme consta na legislação vigente, ao que se trata do profissional atuante em situações e desafios dos cuidados pré-hospitalares de emergência.

Contudo, Nicolau et al. (2019) apresentam algumas estratégias no que diz respeito à visibilidade do profissional da enfermagem no APHM. Além da formação continuada, capacitação e treinamento, para qualificar o atendimento é possível a criação de ferramentas que gerem mais reconhecimento da atuação do enfermeiro. Como a implementação da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) no contexto pré-hospitalar, capaz de gerar resultados positivos para o próprio Núcleo de Educação Permanente do SAMU.

No entanto, Moreira et al. (2022) descreve que uma das estratégias de mais visibilidade para a enfermagem que atua na APHM, é a autonomia do enfermeiro ligada à Enfermagem em Práticas Avançadas (EPA). Embora este tipo de trabalho ainda não tenha sido implementado no Brasil, é um método de grande potencial de formação continuada que reconhece e valoriza o papel do enfermeiro. Os autores ainda afirmam que os impactos positivos do EPA em países que há implementação promovem cuidados mais seguros e eficazes à população, melhorando o acesso ao serviço de assistência e a qualidade do atendimento em diferentes graus de cuidado.

5. Considerações finais 

Conclui se que há uma necessidade de melhorias nos serviços de atendimento pré-hospitalar de emergência, assim como um aumento dos conhecimentos através da formação continuada dos profissionais, que priorizem a formação e qualificação dos enfermeiros atuantes.

A implementação de ferramentas e métodos também são fundamentais para melhorar a atuação dos profissionais da saúde, assim como o reconhecimento sobre o trabalho prestado, o que pode resultar na motivação e superação dos desafios encontrados no dia a dia, e riscos vivenciados com o objetivo de salvar vidas. Uma boa qualificação é essencial para a segurança das ações e dos processos de intervenção, demonstrando que a liderança e a saúde mental devem ser prioridade na formação do enfermeiro como um todo.

As legislações vigentes prometem proteger e realizar um encaminhamento sobre as ações e atuação no trabalho pré-hospitalar emergencial. Também, as ações devem incluir o gerenciamento de equipes, de recursos materiais e de conflito, nas relações interpessoais e afetivas para além do ambiente estressante de trabalho.

Referências

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1Graduando em Enfermagem, Centro Universitário do Sul de Minas – UNIS-MG, Rua Dr, Aureliano Alzamora, 01, Bairro Vila Marilena, Três Pontas-MG/Brasil. arnaldo.carvalho@alunos.unis.edu.br;
2Enfermeira e Doutoranda pela USP. Docente Centro Universitário do Sul de Minas – UNIS-MG. Avenida Alzira Barra Gazzola, 650, Bairro Aeroporto, Varginha – MG/Brasil. ana.motta@unis.professor.edu.br