CÂNCER DE MAMA EM HOMENS: UM DESAFIO A SER EXPLORADO

BREAST CANCER IN MEN: A CHALLENGE TO BE EXPLORED

CÁNCER DE MAMA EN HOMBRES: UN DESAFÍO POR EXPLORAR

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11518270


Giovanna Alves Claudio¹*; Isabela de Angelis Monaco Cardoso¹; Laura Borela1; Orientadores: Prof. Dr. Duglas Wekerlin Filho1; Prof. Dr. Lúcio Fábio Caldas Ferraz1.


RESUMO

Objetivo: Descrever informações sobre o câncer de mama em homens, envolvendo tanto seu aspecto físico quanto genético. Métodos: Revisão bibliográfica de artigos científicos encontrados nas principais plataformas de pesquisa, como UpToDate, PubMed, Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. Revisão Bibliográfica: As principais diferenças genéticas encontradas entre os sexos foram: o aumento de mutações do gene BRCA1 e 2 no homem, principalmente o 2, a superexpressão do gene FOXM1 e a exposição do homem ao estrógeno durante toda a vida. Além disso, foi discutido o principal local de acometimento do câncer de mama em homens, sendo do tipo ductal invasivo. Também foram avaliadas a influência da síndrome de Klinefelter e as doenças endêmicas que estimulam o hiperestrogenismo secundário e sua relação com o desenvolvimento do carcinoma. Por fim, o prognóstico e os tratamentos dependem do estágio do câncer, ser metastático ou não, tipo do câncer, níveis de estrogênio, idade do paciente e estado geral. Conclusão: De acordo com os resultados obtidos, conclui-se que as diferenças genéticas, fisiológicas e os fatores de risco entre os sexos interferem na progressão da doença, sendo assim necessária a ampliação de conhecimentos mais efetivos sobre o assunto a fim de disseminar a ciência patológica do câncer de mama masculino.

Palavra Chave: Câncer de mama, Saúde do homem. Quimioterapia

ABSTRACT

Objective: To describe information about breast cancer in men, involving both its physical and genetic aspects. Methods: Bibliographic review of scientific articles found on the main research platforms, such as UpToDate, PubMed, Oncology Brazilian Society. Bibliographical Review: The main genetic differences found between the sexes were: the increase in mutations in the BRCA1 and 2 genes in men, especially 2, the overexpression of the FOXM1 gene and the exposure of men to estrogen throughout their lives. Furthermore, the main site of involvement of breast cancer in men was discussed, being the invasive ductal type. The influence of Klinefelter syndrome and endemic diseases that stimulate secondary hyperestrogenism and their relationship with the development of carcinoma were also evaluated. Finally, the prognosis and treatments depend on the stage of the cancer, whether it is metastatic or not, the type of cancer, estrogen levels, the patient’s age and general condition. Conclusion: According to the results obtained, it is concluded that genetic, physiological differences and risk factors between the sexes interfere with the progression of the disease, making it necessary to expand more effective knowledge on the subject in order to disseminate science pathology of male breast cancer.

Key words: Breast cancer, Men’s health, Chemotherapy

RESUMEN

Objetivo: Describir información sobre el cáncer de mama en hombres, involucrando tanto su aspecto físico como genético. Métodos: Revisión bibliográfica de artículos científicos encontrados en las principales plataformas de investigación, como UpToDate, PubMed, Sociedad Brasileña de Oncología. Revisión bibliográfica: Las principales diferencias genéticas encontradas entre sexos fueron: el aumento de mutaciones en los genes BRCA1 y 2 en los hombres, especialmente el 2, la sobreexpresión del gen FOXM1 y la exposición de los hombres a los estrógenos a lo largo de su vida. Además, se discutió el principal sitio de afectación del cáncer de mama en hombres, siendo el tipo ductal invasivo. También se evaluó la influencia del síndrome de Klinefelter y enfermedades endémicas que estimulan el hiperestrogenismo secundario y su relación con el desarrollo de carcinoma. Finalmente, el pronóstico y los tratamientos dependen del estadio del cáncer, si es metastásico o no, el tipo de cáncer, los niveles de estrógeno, la edad de la paciente y el estado general. Conclusión: De acuerdo a los resultados obtenidos se concluye que las diferencias genéticas, fisiológicas y factores de riesgo entre sexos interfieren en la progresión de la enfermedad, siendo necesario ampliar conocimientos más efectivos sobre el tema con el fin de difundir la ciencia de la patología de la mama masculina. cáncer.

Palabras clave: Cáncer de mama, Salud masculina, Quimioterapia.

INTRODUÇÃO

O câncer é uma doença milenar que foi descrita desde os egípcios que faziam menções aos tumores malignos. Mas foi a escola de medicina de Hipócrates, na Grécia, que primeiramente definiu a doença como um tumor duro que crescia exponencialmente. Desta época até o século XVI, os conhecimentos da medicina consideravam que a doença era um desequilíbrio dos fluídos corpóreos. No século XVIII, houve grande avanço nas pesquisas devido ao trabalho do anatomista, Giovanni Battista Morgagni, e do médico, Marie François Xavier Bichat. Em 1860 a doença ganhou um novo patamar com advento da cirurgia. No final do século XIX, com o aumento dos conhecimentos de técnicas cirúrgicas e o crescente interesse dos médicos pela oncologia, começaram a surgir os primeiros casos de sucesso com os procedimentos, sendo um deles a mastectomia (1890). No século XX com o crescimento do interesse científico de diversas áreas pelo câncer propiciou a fundação de inúmeros centros especializados, como o INCA (Instituto Nacional do Câncer) no Brasil, em 1948. O período entre o término da Primeira Guerra e o início da Segunda Guerra foi marcado pelo surgimento de uma das práticas mais importantes de tratamento para o câncer: a quimioterapia, sendo esta criada a partir da utilização das próprias armas químicas, como o Gás Mostarda. A quimioterapia ainda é utilizada atualmente como principal escolha de tratamento para diversos tipos de neoplasias malignas.

Segundo Amaral, Muniz e Cardoso (2017, p. 1784), atualmente o câncer é definido como uma doença crônico-degenerativa que leva ao crescimento desordenado de células. Sendo um dos tipos mais incidentes o câncer de mama.

Entretanto o acometimento em homens, possui menor incidência, representando menos de 1% de todos os cânceres de mama do mundo. A problemática que o artigo traz baseia-se nas diferenças genéticas, histológicas e moleculares entre homens e mulheres, que interferem no prognóstico, sendo pior em homens, e ao diagnóstico tardio, em razão da falta de informação, interesse, e medo por parte dos pacientes acometidos.

Considerando o câncer de mama em homens uma doença rara (ANGEL, PRADA, RÍOS, 2014) é necessário maior investimento em pesquisas e estudos, abrangendo morfologia, citologia, genética, anatomia, fatores de risco, receptores hormonais, diferenças de prognóstico e tratamento, visto que há disparidade nesses fatores entre os sexos. Além do mais, tendo em vista o déficit informacional sobre os sinais e sintomas manifestados no câncer de mama em homens são necessários para facilitar o diagnóstico e ampliar a prevenção da doença sendo, portanto, imprescindível a difusão do conhecimento sobre o assunto para maior sobrevida dos pacientes acometidos por tal doença.

Com base nesses dados, o objetivo do trabalho é ilustrar informações acerca dos aspectos gerais da doença a fim de melhorar a informação, explanando as diferenças histológicas e moleculares entre o câncer de mama em homens e mulheres, a influência genética e diferença entre os sexos, e esclarecer fatores de rico influenciadores.

MÉTODOS

A pesquisa classifica-se como qualitativa, do tipo longitudinal, sendo o tempo decorrido para levantamento de dados de 4 meses. A análise baseou-se na população masculina mundial, porém variável entre os artigos levantados como revisão de bibliografia, sendo os critérios de inclusão os homens acometidos pelo câncer de mama e de exclusão os homens sem a doença.  O instrumento de coleta de dado do artigo foi uma revisão bibliográfica pela base de dados SCIELO, PUBMED, UpToDate, Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.

DISCUSSÃO E RESULTADOS

Compilando os resultados obtidos nos artigos estudados, destacam-se como fatores de risco: as diferenças genéticas, histológicas e moleculares entre os sexos, a idade, exposição ao estrógeno, raça negra, obesidade, condições mamárias benignas, antecedentes familiares, síndrome de Klinefelter.

As diferenças genéticas devem-se à expressão do gene BRCA 1 e 2, que é uma seqüência gênica situada no braço longo do cromossomo 17 na posição 17q21, sendo um grande complexo da proteína conhecido como do complexo da fiscalização do genoma de BRCA1-associated (BASC). Esses genes são de herança autossômica dominante, e mutações nele propiciam o aparecimento da doença, sendo que alterações no BRCA2 são mais incidentes e estão presentes em 4 a 40% da carcinogênese mamaria masculina (MENDONÇA, NOGUEIRA, PASQUALETTE, PORTELLA, 2014), e tendem a acometer pacientes mais jovens e terem prognósticos desvantajosos. Além disso, a superexpressão de um ativador transcripcional denominado FOXM1, determinante do ciclo celular, também é importante para diagnóstico e prognóstico dessa neoplasia. Um estudo comprova que em 37% dos pacientes com câncer analisados apresentaram essa superexpressão. Quanto ao prognóstico, sabe-se que a manutenção e regulação dos níveis de FOXM1 ajuda no controle da replicação celular e é usado, inclusive, como forma terapêutica (ABDELJAOUED et al.,2017).

Como diferenças moleculares, a principal entre homens e mulheres é a exposição ao estrogênio, visto que em mulheres a menopausa cessa produção de estrógeno e os homens continuam a converter testosterona em estrógeno por maior tempo de vida. Doenças que alteram a secreção e produção do hormônio também estão associadas como fatores de risco, como dano hepático e hiperestrogenismo secundário, o que ocorre principalmente em países da África devido a doenças endêmicas (MENDONÇA, NOGUEIRA, PASQUALETTE, PORTELLA, 2014).

Histologicamente os homens diference-se por terem o carcinoma ductal invasivo, devido à ausência de lobos terminais na mama masculina, com linfonodo axilar positivo, em estágio 2 (HUMPHRIES et al., 2017), pois a detecção geralmente é tardia por falta de conhecimento e autoexame. Na figura 1 temos essa representação histologica.

Figura 1: Histologia de Carcinoma ductal invasivo

Fonte: https://anatpat.unicamp.br/nptmeta3tuorig.html

Os sinais e sintomas não são conhecidos ou são negligenciados, sendo eles espessamento do tecido glandular mamário na região retroareolar, retração na pele, presença de nódulo sólido, secreção papilar sanguinolenta e posteriormente úlcera, como demonstrado na Figura 2.

Figura 2: Apresentação de sinais possíveis do câncer de mama

(Fonte: https://www.tuasaude.com/12-sintomas-do-cancer-de-mama/ e legenda editada pelas autoras)

Além disso, outros fatores de risco são a idade, a partir de 50 anos, aumentando progressivamente (SOUSA, MARTINS, FREITAS, 2016); sendo a incidência de apenas 1% da população mundial do gênero, alterações genéticas, raça negra, obesidade, doença testicular prévia, condições mamárias benignas, distúrbios hormonais (testosterona), antecedentes familiares, insuficiência hepática, qualidade de vida, síndrome de Klinefelter.

Segundo Haas, Costa, Souza (2009, p. 477, apud WEISS et al., 2005),

Os homens com síndrome de Klinefelter tendem a ter níveis aumentados de gonadotrofinas, mas os baixos níveis de androsterona e níveis normais a ligeiramente baixos de estrógenos, resultam em uma alta taxa de estrógeno / andrógeno. A média de idade dos pacientes com câncer de mama com síndrome de Klinefelter é de 58 anos de idade, que é um pouco menor do que a idade média de aparecimento do câncer, na ausência da síndrome. Estima-se que 3% a 4% dos casos de câncer de mama fora relatados ter síndrome de Klinefelter. Quando comparada com a frequência do transtorno na população geral, parece que o câncer de mama pode ser pelo menos 20 vezes mais comum em homens com a síndrome, em comparação com homens sem esta condição.

Esses fatores influenciam na evolução da doença tanto quanto no prognóstico e tratamento, sendo estes dependentes do estágio do câncer, ele ser metastático ou não, o tipo do câncer, níveis de estrogênio, idade do paciente e estado geral. Como tratamento é indicado à cirurgia (mastectomia radical); a radioterapia adjuvante, devido ao aumento da freqüência de envolvimento dos linfonodos, pele e aréola do mamilo; hormonioterapia, que deve ser com um inibidor da produção de gonadotropinas, sendo que em homens mais velhos, o uso de inibidores da aromatase está associado a uma diminuição de 50% nos valores de estradiol e ao aumento dos níveis de testosterona devido ao bloqueio do feedback negativo do eixo hipotálamo-hipófise, portanto, é necessário suprimir a função testicular farmacológica ou cirúrgica para otimizar o efeito terapêutico; e a quimioterapia, que nos homens tem benefícios mais difíceis de serem provados porque a maioria dos tumores são receptores hormonais positivos e ocorrem em homens mais velhos com comorbidades múltiplas.

O prognóstico inclui o tamanho da lesão e a presença ou ausência de envolvimento ganglionar e no homem demonstra ser pior do que nas mulheres no mesmo estágio, devido ao diagnóstico tardio e os tumores masculinos de mama demonstrarem maior grau histológico e marcadores de proliferação aumentados em comparação com tumores mamários em mulheres, assim como altos níveis de ciclinas A e B e aumento da contagem mitótica que foram associados com um aumento de 2 a 3 vezes no risco de morte por câncer de mama ((ANGEL, PRADA, RÍOS, 2014).

Tendo como base uma abordagem geral do câncer em homens e o  retorno dos mesmos ao ficarem cientes de seu risco da doença, constatou-se que eles seguem diferentes posicionamentos, variando entre buscar informações, aceitar testes genéticos e procedimentos de triagem da população ou evitar todos estes procedimentos, justificando essa evasão por motivos como proteger a família, obter conhecimento por si mesmos, além de acesso limitado a informações de risco claras, medo do desenvolvimento do câncer, barreiras a triagem (RAUSCHER, DEAN, 2017). Essas razões justificam o diagnóstico tardio e pior prognóstico do câncer de mama nos homens.

CONCLUSÃO ou CONSIDERAÇÕES FINAIS

O artigo ratifica que as diferenças genéticas, histológicas e moleculares dentre os sexos são fatores de diferenciação na evolução da doença, sendo os genes BRCA1, BRCA2, FOXM1, os mais mutados e expressos em homens, diferente do sexo feminino, além da falta de informação sobre a patologia, por esta ser rara, e pelo fato da reação negativa dos homens frente ao diagnóstico, por estes ainda terem uma posição patriarcal em suas famílias, o que leva a negligência do cuidado a si mesmo, propiciando evolução da doença e reconhecimento tardio da mesma. Portanto, é imprescindível melhor investimento no campo de pesquisa no que diz respeito às mutações genéticas, a fim de ampliar as melhores oportunidades de diagnóstico. Além disso, deve-se difundir melhor as informações acerca do câncer de mama em homens, para que a população fique ciente dos sinais e sintomas decorrentes deste e consigam buscar auxilio ainda em fase inicial, evitando assim o avanço da doença e diminuindo a mortalidade.

REFERÊNCIAS

  1. AMARAL, D. et al. CANCER DE MAMA MASCULINO: O CONTEXTO DO SOBREVIVENTE. Revista de enfermagem – UFPE online, V,1, 1n. 5, p. 1989-1790, 2017.
  2. PRADA, N.; ANGEL, J; RIOS, D. Cancer de mama em hombres. Es una entidade diferente de câncer de mama em a mujer? Revision de la literatura. Ver Colomb. Cancer, v. 18, n.2, p.78-82, 2014.
  3. NOGUEIRA, S.P. et al. Cancer de mama em homens. Revista Brasileira de Mastologia v. 24, n.4, p. 109-114, 2014.
  4. ABDELJAOUED, S. et al. Overexpression of FOXM1 is a potencial prognostic marker in male breast cancer. Oncology research and treatment. V 40, n. 4, p. 167-172, 2017.
  5. HUMPHRIES, M.P. et al. Characterisation of male breast cancer: a descriptive biomarker study from a large patient series. Scientific Reports. V.7, n. 45293, 2017.
  6. HAAS P., COSTA AB, SOUZA AP. Epidemiologia do câncer de mama em homens. Ver Inst Adolfo Lutz. 2009; 68 (3): 476-81
  7. SOUSA, Abner Filho de; MARTINS, Rafaela Pinto; FREITAS, Rosali Soares de. O conhecimento de homens sobre a existência e prevenção do câncer de mama masculino. Pindamonhangaba-SP: FUNVIC Fundação Universitária Vida Cristã, 2016.
  8. Schmitz Rambo, A. P., Gonçalves, L. F., Pattat, F. S. A., Paiva, K. M., Gonzáles, A. I., & Haas, P. (2020). Qualidade de vida de homens com câncer de mama: revisão sistemática / Quality of life of men with breast cancer: systematic review. Brazilian Journal of Development6(9), 71609–71626. https://doi.org/10.34117/bjdv6n9-562
  9. Rodrigues I., Neves N., Pinto D, et al. Assistência multiprofissional na prevenção de neoplasias mamárias no sexo masculino. Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.4, p.18288-18305 jul./aug. 2021

¹Universidade São Francisco, Bragança Paulista, SP.
*E-mail: gialves5@hotmail.com