IMPORTÂNCIA DA ASSISTÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA NA DISTROFIA MUSCULAR DE BECKER: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11509801


Eduarda Layane de Azevedo Silva; Maria Júlia de Melo Costa Andrade; Orientadora: Maria Eduarda Pontes dos Santos; Coorientadora: Joyce Pereira Silva.


RESUMO

INTRODUÇÃO: A Distrofia Muscular de Becker é uma patologia caracterizada pela neurodegeneração, perda de massa muscular e fraqueza, comprometendo o quadro funcional. A incidência é de 1 caso a cada 30.000 nascidos do sexo masculino. Os primeiros sinais e/ou sintomas dão início aos 11 anos de idade e sua expectativa de vida é em média até os 42 anos. OBJETIVO: Elucidar a importância da assistência fisioterapêutica e estratégias utilizadas nas condutas, visando o retardo da evolução clínica, prevenção de complicações secundárias, melhor qualidade de vida para o paciente portador de DMB.  METODOLOGIA: Este trabalho refere-se de um relato de experiência sobre a atuação de estagiárias do curso de Fisioterapia na Clínica Escolar no Centro Universitário do Vale do Ipojuca (UNIFAVIP | WYDEN). RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados mostram que os atendimentos propostos neste relato de experiência permitiram elucidar a atenção fisioterapêutica e os objetivos da fisioterapia no tratamento de DMB para que os pacientes possam desfrutar de uma melhor qualidade de vida e melhor prognóstico. Porém, o estudo possui limitações quanto aos dados, já que a experiência foi baseada em apenas um cenário, apesar disso, o estudo pode oferecer direcionamento em estratégias de tratamento de maneira individualizada e adaptada a realidade de cada paciente. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Portanto, o tratamento fisioterapêutico desempenha um papel fundamental no cuidado do paciente com DMB, levando em considerações suas necessidades individuais. Diante os estudos, foi analisado que a patologia possui relevância no tratamento do paciente nos atendimentos fisioterapêuticos, e as condutas utilizadas são eficazes.

Palavras-chave: Distrofias Musculares. Distrofia Muscular de Becker. Miopatias. Fisioterapia. Tratamento.

INTRODUÇÃO

As distrofias musculares são caracterizadas por fraqueza e atrofia muscular de origem genética, que ocorrem pela ausência ou formação inadequada de proteínas essenciais para o funcionamento da fisiologia da célula muscular, cujas características principais são perda de massa muscular e enfraquecimento progressivo da musculatura esquelética, prejudicando os movimentos. Existem mais de 30 tipos de distrofias musculares e, dentre elas, umas das mais comuns é a Distrofia Muscular de Becker (DMB) (Brasil, 2009).

A DMB, tem seus primeiros sinais e/ou sintomas com início aos 11 anos de idade e sua expectativa de vida é em média até os 42 anos, quando comparada a Distrofia Muscular de Duchenne e, segundo pesquisas, a incidência é de 1 caso a cada 30.000 nascidos do sexo masculino. O sexo masculino é acometido exclusivamente com distúrbios neuromusculares genéticos de herança autossômica recessiva ligada ao cromossomo X, ou seja, todos que recebem o gene com as mutações desenvolverão a doença por possuírem somente um cromossomo X. Todavia, o sexo feminino é normalmente assintomático e mesmo que seja portador do gene afetado, não desenvolverão a distrofia por possuir dois cromossomos X e, o gene normal em um cromossomo X compensa o defeito genético no outro cromossomo, tornando-o inativado (Prado; Miranda; Graf, 2019).

A fraqueza ou atrofia muscular, ocorre de uma mutação genética que impede a produção da proteína distrofina, na qual possui os miócitos em quantidades normais com estrutura anormal ou na insuficiência deles, um dos exemplos de mutações seria o distúrbio neuromuscular miotônicos ligados ao braço curto do cromossomo X. A proteína distrofina é essencial para manter as células musculares intactas, sua ausência ou deficiência pode causar lesões que rompem as fibras musculares. O diagnóstico é confirmado pela ausência ou não da distrofina anormal, usando imuno-histologia ou analise de proteína do tecido muscular (Caromano 1999; Souza e Melo 2000; Lianza 2001; Santos et al. 2000; Emery 1998).

 Por proporcionar perda progressiva de massa muscular e fraqueza, há comprometimento do quadro funcional devido a degeneração da musculatura esquelética. Estas alterações resultam em uma fraqueza crescente na cintura pélvica e escapular, dos músculos do pescoço, membros superiores e membros inferiores. Além de haver também cansaço excessivo, perda de equilíbrio e coordenação, resultando em quedas constantes sem motivo aparente. Geralmente, por ocorrer rápida manifestação nos membros inferiores, essa distrofia faz com que o indivíduo perca a capacidade de andar após os 25 anos (Frezza; Silva; Fagundes, 2005).

O diagnóstico da distrofia muscular de Becker pode trazer desafios tanto para o paciente como para os familiares e cuidadores. O prognóstico da DMB é individualizado, pois, alguns pacientes podem manter a capacidade de andar até a idade adulta, enquanto outros irão precisar de dispositivos auxiliares da marcha (Abdim,2024). É imprescindível ressaltar que devido a própria característica da patologia, as evoluções são poucas e não há tratamento. No que se refere aos tratamentos, que visam melhorar a qualidade de vida e auxiliar os sintomas, a fisioterapia possui um papel importante para ajudar no retardo da evolução da doença, além do uso de medicamentos e, em alguns casos, medidas de suporte (Salari1, 2022).

A assistência da Fisioterapia tem o papel de extrema importância no tratamento da DMB, onde os atendimentos são adaptados de acordo com a particularidade de cada paciente com o objetivo de retardar a evolução clínica e prevenir complicações, promovendo melhoria de qualidade de vida, a partir do aumento da sua independência, e a funcionalidade desse paciente na atividade de vida diária (AVDs) (Okama et al., 2010).

É proposto um tratamento fisioterapêutico que visa capacitar o indivíduo a adquirir domínio sobre seus movimentos possíveis, equilíbrio e coordenação geral, retardar a fraqueza da musculatura da cintura pélvica e escapular, corrigir o alinhamento postural, prevenir o encurtamento muscular precoce e o controle da respiração pelo uso correto do diafragma, com isso, para atingir tais metas, é necessário realizar alongamento de grupos musculares encurtados, exercícios ativos e livres, exercícios de fortalecimento de membros inferiores e membros superiores, descarga de peso no trabalho de marcha, utilizar a gravidade e peso corporal como resistência, exercícios respiratórios e dentre as estratégias, diminuir a intensidade do exercício e proporcionar mais tempo de descanso (Lue et al. 2009).

Segundo Halum, 2004, a intervenção fisioterapêutica no quadro motor tem objetivos de evitar contraturas musculares e atrofias por desuso que leva a incapacidade funcional e diminuir a dor. Como também, Cohen, 2001 enfatiza também que a fisioterapia contribui para a aquisição do equilíbrio e coordenação geral, além de retardar a fraqueza muscular e corrigir o alinhamento postural, e de acordo com Amanajás, 1999, diz que exercícios resistidos podem aumentar a força muscular com pacientes com Distrofia Muscular.

Dessa forma, o presente estudo pretende elucidar a importância da assistência fisioterapêutica e estratégias utilizadas nas condutas, visando o retardo da evolução clínica, prevenção de complicações secundárias, melhor qualidade de vida e funcionalidade para o paciente portador de DMB. Além de destacar as recompensas associadas ao trabalho com o paciente e oferecer reflexões sobre as práticas. Espera-se que o trabalho possa oferecer contribuições para que os profissionais abordem de maneira individualizada os pacientes, visando retardar a evolução clínica e prevenir complicações secundárias dessa condição. 

METODOLOGIA

O presente estudo trata-se de um relato de experiência que narra o trabalho desenvolvido durante o estágio curricular supervisionado em fisioterapia sobre a atuação de estagiárias do curso de fisioterapia na Clínica Escolar no Centro Universitário do Vale do Ipojuca (UNIFAVIP

| WYDEN), com um paciente adolescente de 16 anos de idade, do sexo Masculino em tratamento de Distrofia Muscular de Becker. A experiência ocorreu entre as datas 29 de setembro e 06 de outubro de 2023; 08, 15 e 22 de março de 2024, sendo um atendimento semanal, ocorrendo uma vez por semana nas sextas-feiras devido à indisponibilidade do paciente por residir em outra cidade e como também haver incompatibilidade com seus horários de estudo escolar.

Quanto ao cenário de experiência, a Clínica Escola dispõe mais de cinco salas para atendimento fisioterapêutico, distribuídas entre elas as seguintes áreas de atuação pediatria, neuropediatria, neurofuncional, desportiva, cardiorrespiratória e saúde da mulher. A unidade conta com a atuação de estagiários em fisioterapia e orientadores educacionais em fisioterapia, todos voltados especificamente para o atendimento e reabilitação de pacientes, em conjunto com todos os materiais e infraestrutura que o local dispõe para os procedimentos.

Como procedimento padrão, ao receber o paciente foi realizado a avaliação em conjunto do preenchimento da ficha de anamnese. Foi realizada inicialmente a entrevista buscando coletar dados e informações, bem como entender sobre a história da doença atual, doenças prévias e medicamentos de uso diário. Além da queixa principal, que envolve os sinais e sintomas que o dificultam a execução das suas atividades de vida diária (AVD’S) e o levou a buscar atendimento fisioterapêutico. 

Após a coleta de dados, foi realizado o exame físico do paciente, no qual foram coletados os seguintes dados: Pressão Arterial Periférica, Saturação Periférica de Oxigênio (SpO2). Em seguida, foram realizadas a inspeção, palpação, avaliações de tônus muscular, transferências posturais, teste de força muscular, equilíbrio e análise cinética da marcha. 

Em seguida a avaliação foi elaborado um plano de tratamento fisioterapêutico especificamente de acordo com os achados clínicos e necessidade do paciente com objetivo de retardar a progressão/degeneração da patologia e promover qualidade de vida, possibilitar inserção nas atividades diárias. Disto isto, quanto aos preceitos éticos da pesquisa, trata-se de um relato sobre desenvolvimento de uma experiência, na qual foi respeitado o sigilo do paciente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A importância da assistência fisioterapêutica na Distrofia Muscular de Becker ocorre em todos os níveis de atenção, seja no processo de avaliação minuciosa do paciente até nos cuidados em todas as fases da progressão da patologia. Os atendimentos são adaptados de acordo com a particularidade de cada paciente e com o objetivo proposto onde, segundo Okama et al., 2010, visam retardar a evolução clínica e prevenir complicações, promovendo melhoria na qualidade de vida a partir do aumento da sua independência e na funcionalidade desse paciente na atividade de vida diária (AVDs).

Durante a estágio, foi possível desenvolver uma experiência de como ocorre os atendimentos atuando de forma preventiva, adaptativa ou paliativa no tratamento aos pacientes que sofreram sequelas consequentes de transtornos do Sistema Nervoso, sendo motores ou cognitivos, nos quais dificulta a realização de movimentos e do aprendizado. Dentre os diversos casos de pacientes da área de Fisioterapia Neurofuncional realizando atendimento fisioterapêutico na Clínica Escola de Fisioterapia da UNIFAVIP WYDEN, a vivência de atendimentos com o paciente supracitado foi destacada. 

O mesmo chegou ao Núcleo Integrado de Saúde (NIS) buscando atendimento fisioterapêutico. Durante a avaliação fisioterapêutica que a sua queixa principal era cefaleia, fraqueza de membros inferiores, fadiga ao realizar os exercícios, câimbra no músculo tríceps Sural, sensação de formigamento nos membros inferiores, como também relatou que não consegue jogar bola e, que esses sintomas iniciaram aos 15 anos. Ele fazia o uso de medicação para controlar os sintomas relatados, como Prebictal, para tratar a dor neuropática, e Musculare, para tratamento de espasmos musculares (contrações involuntárias).

Os achados fisioterapêuticos indicaram na inspeção que o paciente apresentava marcha escarvante, postura viciosa ao sentar (postura sentada relaxada (slump), com retroversão pélvica e redução da curvatura lombar) na palpação foi avaliado pseudohipertrofia no tríceps sural, onde ao tato, notou-se que há maior quantidade de tecido adiposo e conjuntivo, havendo assim, encurtamento de fibras musculares. Na avaliação do tônus muscular, apresentou hipotonia. Foi observado também que o paciente não conseguia realizar as transferências posturais (ajoelhado – semi-ajoelhado e semi – ajoelhado – em pé).

Foi realizado teste de força muscular manual e identificado fraqueza de Membros Inferiores (MMII) nos músculos quadríceps, glúteo mínimo, médio e máximo, isquiotibiais e tríceps sural, assim como fraqueza na cintura pélvica com grau três, que de acordo com a Escala de Avaliação da Força (MRC-Medical Research Council), realiza movimento contra a gravidade equilíbrio dinâmico porém sem resistência adicional. Foi realizado o teste de marcha em linha reta onde apresentou desequilíbrio na volta e o membro inferior esquerdo ficou mais anteriorizado. 

Em seguida à avaliação detalhada do paciente, foi elaborado um plano terapêutico individualizado de acordo com as necessidades do paciente. Os atendimentos eram realizados uma vez por semana, no turno da manhã, com duração de uma hora, ocorrendo uma vez por semana nas sextas-feiras devido a disponibilidade do paciente. O planejamento foi de acordo com a particularidade do paciente, seus achados na avaliação fisioterapêutica, como também, de acordo com sua condição de saúde geral. O plano terapêutico foi baseado nos atendimentos e na orientação do cuidado domiciliar.

De acordo com o caso e o prognóstico da patologia, foram pensados em objetivos fisioterapêuticos que aliviassem os sintomas e oferecessem melhor qualidade de vida para o paciente. Desta forma, os objetivos visam retardar a progressão/degeneração da patologia, capacitar o paciente a adquirir domínio sobre seus movimentos, equilíbrio e psicomotricidade, promover mobilidade articular, promover fortalecimento muscular, prevenir encurtamento muscular precoce, promover treinamento de fases da marcha, promover qualidade de vida, possibilitar inserção nas Atividades de Vida Diárias (AVD’s) e prevenir a incapacidade funcional.

Para atingir essas metas, pelo fato do paciente ser adolescente, buscando efetividade e constância nas sessões, foi proposto a utilização da música proporcionando abordagem lúdica para que o período do tratamento não se tornasse entediante. Sendo assim, durante os atendimentos que se procederam, foram utilizadas técnicas de alongamento e mobilizações articulares; fortalecimento para ativação dos grupos musculares afetadas; circuitos de marcha para estimular a psicomotricidade e simular a funcionalidade do andar; exercícios para trocas posturais; treinamento das fases de marcha, retardando assim o agravamento da deformidade. 

Inicialmente, para o encurtamento muscular presente devido à pseudohipertrofia, foram realizados alongamentos ativos no músculo tríceps sural com paciente posicionado em bipedestação, tendo o espaldar como suporte para realização do exercício. Além disso, foi exercido mobilização de cintura pélvica associado à dissociação pélvica de forma passiva, com paciente em decúbito dorsal, para estimulo da mobilidade articular e das transferências posturais, visando promover melhor domínio do movimento em AVD’s.

Foram propostos a realização de exercícios ativo-assistidos incentivados através do treino de marcha com passos laterais para estimular a descarga de peso e equilíbrio, com chapéu chinês como obstáculo, ativando a consciência corporal relacionada ao equilíbrio e simulando obstáculos em suas AVD’s. Exercícios de “sobe e desce” no step de forma unipodal, ativamente e com espaldar para apoio na execução do exercício, estimulando a descarga de peso e simulando por exemplo, o subir e descer escadas, calçadas. 

Além disso, foram submetidos exercícios ativo-assistidos, com o paciente em posicionamento de bipedestação, realizando o movimento de flexão de quadril unilateral (até 90º), com caneleira de 1kg no membro em ativação, como resistência, assim como, com mesma finalidade, foi feito exercício ativo de flexão de quadril com a utilização do objeto chapéu chinês como obstáculos, ambas atividades com estratégia de estimular a fase de balanço no treino de marcha e retardar a perda de consciência corporal consequentes da patologia. 

Posteriormente, foi proposto também, a utilização da técnica de Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP) no treino de marcha, na fase de descarga de peso, incentivando os receptores neurais, com paciente posicionado em bipedestação em frente ao terapeuta, onde o mesmo realiza resistência manual leve e que, segundo Silva; Mourão; Mota, 2020, aumenta por consequência a habilidade do paciente em mover-se e estabilizar-se para retardar a progressão que leva a complicações futuras de marcha.

Ademias, visando também atingir a meta de promover o fortalecimento muscular dos membros inferiores (MMII), foi realizado exercício de extensão de joelho, de forma ativoresistido, ativando o músculo do quadríceps femoral na Chair (aparelho utilizado no Pilates), com resistência leve, sob o mesmo ponto de vista, foi executado exercício para a ativação da musculatura do tríceps sural com auxílio do espaldar, do mesmo modo que, exercício de elevação pélvica unilateral com peso (caneleira) de 500g no membro elevado em isometria. 

Desse modo, é imprescindível ressaltar que, em todos os exercícios propostos, foi respeitado o tempo de descanso entre as séries e que a quantidade de repetições foi realizada à limiar do paciente, da mesma maneira que foi utilizado cargas leves a moderadas, que segundo Amanajás (2001) e Campos e Santana (2018), indagam sobre a importância de não exigir além do limite da condição física do paciente, para se evitar fadiga durante as condutas e, como consequência, que a cinesioterapia evolua de acordo com a necessidade do paciente.

O manejo com o paciente tornou-se um pouco mais complexo devido a frequência limitada pelo atendimento ser apenas uma vez na semana, deste modo, seria indicado para um tratamento completo ser em média três vezes na semana. A convivência com o mesmo foi de forma leve e dinâmica, por se tratar de um paciente adolescente e com nível de escolaridade, sendo contactuante com a faixa etária das estagiárias, no que possibilitou realizar atendimentos lúdicos e consequentemente beneficiando em uma boa adesão no tratamento.

Considerando as peculiaridades desse caso, o paciente apresentou os sinais e sintomas da patologia de forma acentuada, na qual, foi observado que desde o início dos atendimentos, o mesmo mostrou dificuldades ao realizar os exercícios propostos devido às limitações de sua capacidade ao movimentar-se. Desta forma, as características da degeneração tornam o indivíduo dependente da progressão da doença, com isso, foi priorizada a manutenção e retardo, decisão esta que se mostrou efetiva para a melhora do quadro apresentado.

No trabalho de contratilidade muscular, Amanajás (1999), diz que exercícios resistidos e ativos-livres é indispensável para melhora da força muscular e aceleram o processo degenerativo, evitando a inatividade funcional e atrofia muscular, mantendo assim a resistência muscular, por impor o músculo à contração concêntrica e excêntrica relacionados à carga e número de repetições, sendo assim, contribuindo para o tratamento fisioterapêutico, foi realizado exercícios com movimento ativo livre em grau 3 (contra a ação da gravidade) e exercícios ativos resistidos com cargas pequenas utilizadas à limiar do paciente. 

Frezza et al. (2005) traz em seu estudo que o paciente acometido pela Distrofia Muscular de Becker manifesta alterações musculares por adquirir pseudohipertrofia que causa a perda de massa muscular e enfraquecimento das fibras musculares, sendo necessário que as condutas fisioterapêuticas tenham objetivos de prevenir encurtamentos musculares e desacelerar a perda da função motora. Desse modo, sugerem que se realize alongamento muscular e fortalecimento de tríceps sural, por haver um cenário favorável a essa conduta, uma vez que o paciente supracitado apresenta demasiado comprometimento, a qual é necessária para a movimentação biomecânica em AVD`s.

Amanajás (1999) cita também que alongamentos nos músculos-tendíneos é uma das principais estratégias para prevenir o encurtamento muscular e retardar a perda da capacidade funcional, no qual é indicado em todas as fases da patologia. Sendo assim, foi incluído no tratamento do paciente, devido ao cenário característico por comprometimento nas fibras musculares do tríceps sural e objetivando reduzir a probabilidade de desenvolver lesões musculares, diminuindo a tensão muscular e contrações involuntárias, sendo as principais queixas do paciente devido à pseudohipertrofia.

Campos e Santana (2018) apontam que a utilização da cinesioterapia é uma conduta que deve ser utilizada no tratamento de pacientes com a Distrofia Muscular de Becker (DMB), na qual as atividades terapêuticas e exercícios visam na melhora e/ou manutenção, uma vez que auxilia nas atividades de vida diária e em seu desempenho funcional, visto que essas alterações afetam nas funções básicas para a independência funcional do indivíduo, embora não promova evolução no ganho de força muscular, amplitude de movimento, dentre outros de caráter motor, por ser uma patologia degenerativa e não-curável.  

Ademais, é indicado que seja essencial que as condutas de tratamento sejam realizadas com cautela, com descansos entre as repetições ou realizações à limiar do paciente até que aponte cansaço, para que se evite a fadiga muscular, e possíveis agravos ao paciente. Tais afirmações condizem com o estudo do artigo de Gianola et al. (2020) e Amanajás (2001), o qual afirma que exercícios musculares são importantes para pacientes distróficos, no entanto, podem apresentar benefícios sutis, como capacitar o paciente a adquirir domínio sobre seus movimentos realizáveis.

Frezza et al. (2005) e Campos e Santana (2018) elucidam em seus estudos a importância da realização das condutas forma lúdica de acordo com a individualidade do paciente, onde parte desses indivíduos iniciam o tratamento fisioterapêutico na adolescência. Dessa forma, os autores sugerem que as terapias sejam adaptadas às necessidades do mesmo e, assim, tenham uma maior adesão ao tratamento. Portanto, foi utilizado a música para realizar um tratamento de forma mais leve e prazerosa para se ter constância e sucesso no tratamento.

Segundo Kisner e Colby (1992) e Cohen (2001), a cinesioterapia é indispensável nos objetivos fisioterapêuticos, que na Distrofia Muscular de Becker, visam à manutenção e/ou melhora da força muscular, retardar a fraqueza da musculatura, e desenvolver, quando possível, a força contrátil dos músculos. Como também, evitar à fadiga, coordenação e equilíbrio, corrigir alinhamento postural, sendo utilizada na reabilitação de desordens neuromusculares, capacitando o indivíduo a adquirir domínio sobre seus movimentos, contribuindo para o planejamento terapêutico do paciente supracitado.

As medidas que foram tomadas no treino de marcha, foi utilizado estratégias de conduta buscando retardar a perda da marcha, incapacidade funcional e futuras alterações no ciclo da marcha, evitando a independência funcional e consequentemente melhorando a qualidade de vida do paciente, que segundo Araújo et al. (2014), a abordagem fisioterapêutica no monitoramento da progressão da doença no tratamento da marcha possui meta em melhorar o equilíbrio e a coordenação geral, retardar a fraqueza muscular, corrigir o alinhamento postural e assim prolongar ao máximo a deambulação em pacientes distróficos. 

O plano de tratamento para o paciente teve como embasamento teórico os artigos utilizados, devido às suas abordagens fisioterapêuticas para portadores da Distrofia Muscular de Becker, apresentando assim, possibilidades terapêuticas da revisão de literatura. As técnicas utilizadas variaram de acordo com o cenário clinico e objetivos propostos, tendo como meta principal, promover manutenção da independência funcional e com isso, as estagiarias direcionaram as condutas e o cenário terapêutico de forma mais adequada de acordo com as características do paciente.

Como resultado, devido ao limitado tempo de atendimento e acompanhamento com o paciente, não se obteve resultados significativos de evolução. É imprescindível ressaltar que, a própria característica da patologia Distrofia Muscular de Becker permite que as evoluções sejam menores e com este prognóstico, os objetivos visaram manutenção e retardo na progressão da degeneração, prevenir complicações, promover melhoria de qualidade de vida e na funcionalidade desse paciente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se, portanto, que a partir da experiência, foi possível elucidar que o tratamento fisioterapêutico desempenha um papel fundamental no cuidado do paciente portador da Distrofia Muscular de Becker (DMB), levando em considerações suas necessidades individuais. Assim como, diante a análise dos estudos, foi observado que há diversas condutas que podem ser utilizadas. Em pacientes com DMB, a fisioterapia pode retardar a evolução da distrofia e promover melhor qualidade de vida em suas atividades de vidas diárias. Portanto, é essencial a participação do fisioterapeuta em todo o processo, que envolve o atendimento e também orientações no cuidado domiciliar.

Diante das barreiras encontradas durante a experiência, tais como a disponibilidade do paciente, observou-se que é essencial manter a constância e frequência nos atendimentos de no mínimo três vezes semanais para uma maior adesão ao tratamento. Além disso, deve-se buscar criar protocolos de atendimento baseado em evidências cientificas, bem como ofertar um plano de tratamento para estimular de forma leve e lúdica para se ter constância e alcançar as metas traçadas para esse paciente.

Por se tratar de um relato de experiência, entende-se que o estudo possui limitações quanto aos dados, já que a experiência é baseada em apenas um cenário, no entanto, nota-se pelos estudos encontrados que há escassez de informações atuais no tratamento da Distrofia Muscular de Becker (DMB). Todavia, embora existam tais limitações, a experiência pode contribuir para melhora dos cuidados oferecidos aos pacientes com DMB, além de oferecer o direcionamento em estratégias de tratamento para que possa abordar de maneira individualizada e adaptadas a realidade de cada paciente.

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