REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11062801
Bruna Carmen Estevam2
Iácara Santos Barbosa Oliveira3
Nariman de Felicio Bortucan Lenza4
Mariana Gondim Mariutti-Zeferino5
Tobias Divino dos Santos6
Natássia Carmo Lopes Queiroz Ferreira7
Resumo
Objetivo: conhecer a percepção do enfermeiro sobre a realização do teste rápido para detecção do Vírus da Imunodeficiência Humana, na Atenção Primária à Saúde de um município mineiro. Método: pesquisa de campo, descritiva, abordagem qualitativa. Foram selecionados, por amostra aleatória, seis enfermeiros para participar da pesquisa. A coleta de dados foi realizada por meio de uma entrevista semiestruturada, entre os meses de fevereiro a abril de 2018, em dois encontros, com duração de 15 minutos, em média, em que as falas foram gravadas mediante autorização. Em seguida, as entrevistas foram transcritas e submetidas à análise, utilizando a avaliação de conteúdo. Resultados: trata-se de seis participantes, todos do sexo feminino, com idades entre 28 e 42 anos e na análise dos resultados manifestaram-se os seguintes eixos temáticos: a) experiência do enfermeiro na realização do Teste Rápido; b) descentralização do Teste Rápido para a Estratégia de Saúde da Família; e c) o enfermeiro como profissional fundamental na Atenção Primária à Saúde. Considerações finais: É fundamental a capacitação periódica teórico-prática tanto na testagem quanto no aconselhamento, e também o acompanhamento contínuo dos profissionais na realização do teste. Além de uma disseminação da realização dos Testes Rápido para todas as unidades do município.
Palavras-chave: Sorodiagnóstico de HIV; Atenção primária à saúde; Enfermeiro.
Introdução
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA), mundialmente conhecida como Acquired Immunodeficiency Syndrome (AIDS) é causada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), geralmente transmitido por meio de relação sexual sem uso de preservativo e pela troca de fluidos corporais(1).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), desde o início da epidemia pelo vírus HIV, estima-se que o número de novos casos na América Latina tenha aumentado 21% desde 2010, com aproximadamente 120 mil novas pessoas infectadas em 2019. Em 2019, aproximadamente 1,3 milhão de pessoas vivendo com HIV estavam recebendo tratamento antirretroviral na América Latina, representando 60% da cobertura entre todas as pessoas vivendo com HIV(2).
Conhecer o quanto antes a sorologia positiva para o HIV e diagnosticar de forma rápida a patologia, aumenta muito a expectativa de vida de uma pessoa que vive com o vírus. Quem se testa com regularidade, busca tratamento no tempo certo e segue as recomendações da equipe de saúde ganha muito em qualidade de vida(1).
O HIV continua sendo um grande problema de saúde pública mundial, com uma carga de mais de 33 milhões de mortes até o momento. No entanto, com o aumento do acesso2 à prevenção, diagnóstico, tratamento e cuidados eficazes, inclusive para infecções oportunistas, a infecção pelo HIV tornou-se uma condição de saúde crônica gerenciável, permitindo que as pessoas que vivem com o vírus tenham uma vida longa e saudável(2).
Dessa maneira, o Ministério da Saúde oferece à população os Testes Rápidos (TR) para detecção precoce do HIV. Os TR são um meio diagnóstico para a doença, realizados para a detecção de anticorpos anti-HIV em uma pequena quantidade de sangue do paciente. São testes de triagem que produzem resultados em, no máximo, 30 minutos. Os profissionais de saúde, para realizarem o teste, necessitam estar devidamente capacitados(1).
Destaca-se o enfermeiro como membro importante na realização dos TR, atuando como atorprincipal nas ações de planejamento, organização e operacionalização na ESF. Deve-se a realização do TR ser feita por um profissional devidamente capacitado, assim, de acordo com o parecer de conselheiro nº 259/2016, o enfermeiro tem competência técnica e legal para a realização do TR(3). A ESF é um local em que o usuário tem acesso facilitado para o diagnóstico precoce do HIV, pois conta com a presença deste profissional para a assistência proposta.
Nesse sentido, destaca-se a seguinte questão de pesquisa: o enfermeiro tem conhecimento, habilidade e atitude para realizar o teste rápido para detecção do HIV na Estratégia de Saúde da Família? Portanto, múltiplos são os desafios que podem acometer os profissionais às práticas de saúde, essas precisam ser bem elaboradas e compreendidas em suas multiplicidades e significados.
Objetivou-se conhecer a percepção do enfermeiro sobre a realização do teste rápido para detecção do HIV, na Atenção Primária à Saúde de um município mineiro; conhecer a experiência vivenciada pelos enfermeiros na realização do Teste Rápido para detecção do HIV e a percepção do enfermeiro diante do resultado do Teste Rápido.
Método
Trata-se de um estudo de campo, descritivo e exploratório, com abordagem qualitativa, seguindo referencial COREQ. Realizado em um município no interior de Minas Gerais. O município possui uma rede de atenção composta por 18 Estratégias de Saúde da Família (ESF), local onde foi realizada a presente pesquisa.
Dentre as 18 ESF, apenas 12 realizam o teste rápido, pois apenas os enfermeiros destas unidades receberam capacitação para o TR para HIV no município no período da coleta de dados.
Participaram do estudo seis enfermeiros, que foram selecionados por amostragem aleatória, por meio de um sorteio entre os 12 enfermeiros que já realizavam o teste rápido e identificados por letras do alfabeto. Foram incluídos no estudo aqueles que receberam capacitação para realizar o teste rápido do HIV nas ESF e que já realizavam tal prática na atenção primária.
A coleta foi realizada por meio de uma entrevista semiestruturada, entre os meses de fevereiro a abril de 2018, em dois encontros com cada sujeito. Cada entrevista teve duração, em média, de 15 minutos. As falas foram gravadas mediante autorização. Em seguida, as entrevistas foram transcritas e ou submetidas à análise do tipo temática, utilizado à avaliação de conteúdo.
O estudo foi desenvolvido após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, segundo o parecer 2.444.712, seguindo as orientações da resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde que regulamenta pesquisas envolvendo seres humanos.
Resultados e discussão
Trata-se de seis participantes, no qual todos do sexo feminino, graduadas em Enfermagem, sendo que cinco delas possuem especialização nos mais variados vínculos laborais. Especialização em serviço de atenção domiciliar, saúde do trabalhador, saúde pública e urgência e emergência.
Ambas atuam nas ESF do município estudado e receberam treinamento sobre a realização do TR em questão, sendo colaboradoras nesse ambiente há no mínimo dois anos e no máximo 13 anos, com idades entre 28 e 42 anos.
Em um estudo descritivo, com abordagem qualitativa, que objetivou analisar a percepção dos profissionais de saúde e das pessoas que procuram o CTA acerca do aconselhamento no contexto do teste rápido para HIV, corroborou com a atual pesquisa, uma vez que a caracterização dos profissionais se deu com todas as profissionais participantes do sexo feminino, cujas idades variavam de 27 a 50 anos(4).
A partir da interpretação do conteúdo das entrevistas, apenas dois relatos apresentaram contato com resultado positivo para HIV. Contudo, a experiência de realizar o teste rápido, independentemente do resultado, gerou sentimentos e vivências significativas para a pesquisa. Assim, manifestaram-se os seguintes eixos temáticos: Experiência do Enfermeiro na realização do Teste Rápido; Descentralização do Teste Rápido para a Estratégia de Saúde da Família; O enfermeiro atuante na ESF.
Experiência do enfermeiro na realização do Teste Rápido
As enfermeiras, quando indagadas quanto a experiência vivenciada na testagem, relataram tanto sobre os sentimentos experimentados frente ao paciente quanto o comportamento do usuário durante o procedimento.
Apesar de algumas participantes relatarem segurança na realização TR, em contrapartida, o sentimento de insegurança e medo foi demonstrado por meio de algumas falas:
[…] pedi apoio do profissional médico pra tá me apoiando. (Enf. C)
[…] dar resultado negativo é bem melhor que dá o resultado positivo, só tive uma experiência […] a gente sempre fica com medo né, de dá alguma coisa. (Enf. B)
Nota-se que essa insegurança pode estar ligada a fase de adaptação dos profissionais com a prática da testagem, já que ela ocorria há pouco tempo na ESF, o que proporciona que os enfermeiros, algumas vezes, procure outro profissional da equipe, para revelar ao usuário o resultado, ainda que já tenha tido esta experiência anteriormente.
A segurança foi o sentimento que emergiu principalmente naquelas que haviam realizado o teste. Afirmaram que, apesar do comportamento do paciente ser de desespero e medo, elas mostram-se seguras no apoio a eles. A inexperiência com resultado do TR positivo não interferiu na demonstração de conhecimento e tranquilidade por parte da enfermeira, e consequentemente na segurança do profissional na possibilidade de vivenciar qualquer tipo de resultado.
[…] quando o resultado dá positivo o paciente fica meio que desesperado […]mais assim a gente mantendo uma postura profissional, termina que tudo acontece corretamente. (Enf. C)
[…]se der positivo tem que acolher o paciente naquele momento […] hoje em dia o HIV não é mais uma sequência de morte […] a gente tem que mostrar esse lado com naturalidade para o paciente. (Enf. F)
O estudo de Araújo e colaboradores, buscou-se conhecer a percepção de nove enfermeiros executores de teste rápido em UBS em Recife/ PE. Os profissionais relataram dificuldades para lidar com aspectos relativos à revelação do diagnóstico, em especial, aos sentimentos do usuário diante de um resultado positivo(5). Tal fato corrobora com o estudo realizado pela pesquisadora. Essas dificuldades refletem na atividade de execução do teste gerando sentimento de angústia tanto na divulgação do resultado, quanto no aconselhamento dos pacientes antes e após a realização da testagem.
A comunicação do diagnóstico é um dos principais temas de debate dentro do campo do TR, visto que tanto indicar testagem positivo ou negativo tem necessidade de sensibilidade do profissional da enfermagem. É notório que indicar testagem reagente é um ato que tende a assustar o paciente, visto ser um resultado que afetará na vida do sujeito. Entretanto, dar diagnóstico negativo também é fator que merece artimanha eficiente, visto que o desafio está diretamente relacionado a criar estratégias de sensibilização para a prevenção, visando à manutenção da soronegatividade para o HIV(6).
Muitos profissionais da saúde possuem dificuldade para lidar com subjetividade da metodologia saúde/doença, assim como o simples fato de assumir uma prática reflexiva junto ao paciente. Dessa maneira, em alguns casos, o enfermeiro prefere transferir a responsabilidade de informar o diagnóstico de HIV para outro profissional, por exemplo, o psicólogo ou médico(3).
Nesse contexto, constata-se que para o incentivo de uma atividade segura e profissional, os profissionais da enfermagem carecem de ter mais instrução ??? a fim de desenvolver habilidade e confiança na execução de suas atitudes dentro a ESF, especialmente no que soa ao TR. Pois, ao fato que o enfermeiro adquire confiança e se comporta com segurança, ele passa a atuar, dentro de suas limitações, na melhor forma de utilizar o conhecimento da investigação na prática(7).
Assim, o fortalecimento do conhecimento e habilidades dos enfermeiros é definitivo para o progresso da profissão e, consequentemente, obtendo benefícios em saúde para a população, como por exemplo, ao dar, de modo sereno, seguro e com confiabilidade o resultado positivo do TR para um indivíduo, fazendo com que esse cliente observe melhor as informações do aconselhamento(7).
A experiência vivenciada pelo enfermeiro também se deparou com o comportamento do paciente com relação a realização do teste, tanto no que se diz respeito à espera do resultado do teste quanto ao próprio resultado.
Por esse motivo, pode-se notar a partir das seguintes falas, reflexos de insegurança, ansiedade e angústia dos pacientes, além da postura profissional diante da espera do diagnóstico.
[…]já tive um positivo […]o paciente se sente muito ansioso […] (Enf. C)
[…] como só peguei negativos eles se sentem parece que tirou uma tonelada das costas dele […] mas só de ver que não deu nada aqui eles respiram. (Enf. A)
Tal espera pode gerar sentimento de insegurança no paciente. Em um estudo que buscou conhecer a percepção de jovens com AIDS diagnosticada na adolescência, sobre o aconselhamento recebido na ocasião do teste, identificaram em alguns dos participantes da pesquisa atitudes de desespero e desejo de morte manifestada que podem ter sido influenciadas pela falta de aconselhamento satisfatório(8).
Tal estudo demonstra que o profissional realmente pode enfrentar essa situação e ter diversos tipos de comportamento dos usuários presente no momento da testagem e aconselhamento, assim mostra-se necessário, o profissional estar apto para auxiliar o paciente no enfrentamento do possível diagnóstico da doença(8).
Sob o ponto de vista do comportamento do paciente diante do resultado do teste, eles podem ser dos mais variados possíveis. Há décadas atrás, era comum, que muitos soropositivos estivessem sujeitos a tentativas de suicídio, baixa tolerância à frustração acompanhada de comportamentos impulsivos. Atualmente, esse perfil tem mudado, visto a possibilidade de ter uma vida praticamente normal como o vírus no organismo, mas, ainda assim, os pacientes se mostram inseguros e temerosos quando descobrem o diagnóstico positivo, por isso nota-se a precisão de um correto aconselhamento oferecido pelos profissionais da enfermagem(9).
Descentralização do teste rápido para a Estratégia de Saúde da Família
Um dos temas mais relevantes apontados pela pesquisa foi sobre a importância de o TR estar descentralizado para a as ESF do município. Fato este recente, em que anteriormente era realizado por um serviço especializado.
Consoante as entrevistas feitas, tal questão pode ser confirmada, visto que todas as entrevistadas se posicionaram favoráveis às descentralizações do teste, além de garantir o diagnóstico de forma rápida e muitas vezes precoce. Como pode-se notar nos seguintes relatos:
[…] a procura é grande […]depois do teste ter vindo parar nas unidades. Porque eles ir na infectologia, né, parece que já fica taxado de alguma coisa […] (Enf. D)
[…] com o teste rápido a gente consegue entrar imediatamente com o tratamento, né… acho correto [(o enfermeiro realizar o procedimento] é muito bom porque igual tinha falado, para o diagnóstico precoce. (Enf. A)
[…] aqui foi um ganho para a população, então acho legal, assim a enfermeira da unidade fazer. (Enf. B)
Apesar do entusiasmo pelos sujeitos da pesquisa em realizarem o TR na APS, tal realidade tem sido vista com olhar diferente por outros pesquisadores. Em um estudo qualitativo realizado em nove UBS em Recife, os resultados deste estudo mostraram as dificuldades para a realização de testes rápidos para detecção de HIV nas unidades. Ainda assim, afirmaram que a disseminação do teste rápido para detecção do HIV na rede de atenção básica pode contribuir para o controle da infecção(10). O diagnóstico rápido realizado ainda na ESF é, por efeito, ostentar como vantagem a circunstância de apresentarem resultado em no máximo 30 minutos, fora que podem ser compreendidos a olho nu e não demandam de equipamentos específicos para a sua execução(3).
A realização dos TR, pela ESF, exalta a necessidade de o profissional estar capacitado para tal ação. Os sujeitos da pesquisa demonstraram em suas falas que receberam treinamento para realização da testagem adequadamente e que isso foi fundamental para aplicação destes testes.
[…] minha experiência com a realização é legal, tipo a gente passou por um treinamento em 2015. (Enf. E)
[…] me sinto preparada …fizemos um treinamento prático… (Enf. D)
[…] tem todo um protocolo né, a gente orienta o paciente antes até de colher […] a gente orienta que pode ter um erro, […] vai, pega, e aí orienta como pega a doença. (Enf. A)
Tais falas demonstram um sentimento diferente de um estudo que analisou a implementação do TR anti-HIV na ESF. Todos os profissionais entrevistados relataram ter recebido capacitação, porém não relataram sentir-se preparados para a testagem, e afirmaram que a capacitação não foi suficiente(11).
Em um estudo quantitativo, em que se investigou a prática autorreferida como solicitação de testagem sorológica e avaliação de vulnerabilidades pelos profissionais da atenção primária à saúde sobre aconselhamento em ISTs e HIV/aids, indicou que, na APS investigada, tais práticas estavam abaixo do padrão ideal recomendado pelo Ministério da Saúde. Constatou-se também baixa proporção de médicos e enfermeiros qualificados em Saúde da Família, o que também pode contribuir para práticas autorreferidas inadequadas no aconselhamento. Afirmando, então, ser fundamental capacitar e sensibilizar os enfermeiros para solicitação do teste anti-HIV(12).
A capacitação, ela se mostra como um componente de extrema importância quando se trata do tema de TR de HIV, pois, essa qualificação tem por objetivo a promoção e a melhoria da qualidade da assistência de enfermagem, através do aprimoramento profissional. Ademais, buscando contribuir para o desenvolvimento de competências essenciais para a assistência de enfermagem, pautada na segurança, humanização e qualidade(3).
Ao abordar o tema, também se verificou, por meio das falas das enfermeiras, estarem cientes do protocolo a ser realizado diante do paciente, ou seja, o passo a passo da testagem, qual fluxo direcionar o paciente, quais exames solicitar, ou seja, notou-se que realmente o treinamento recebido foi extremamente necessário.
Tal afirmação é percebida na seguinte fala:
[…] tem todo um protocolo né, a gente orienta o paciente antes até de colher […] a gente orienta que pode ter um erro, […] vai, pega, e aí orienta como pega a doença. (Enf. A).
Nota-se pelas falas que a consulta de enfermagem, ofertada durante a realização do TR, não é somente utilizada para realização do teste em si, mas também como um serviço de aconselhamento e testagem em conjunto, que são os chamados CTA. Assim, relacionadas à prevenção do agravo e atuações promotoras à saúde, visando à qualidade de vida dos portadores do HIV.
A prática do aconselhamento é realizada pelo profissional disponível para atendimento, sendo esse profissional: enfermeiro, assistente social, farmacêutico, técnicos de laboratório ou de enfermagem, auxiliares administrativos e/ou estagiários que costumam participar para formação acadêmica/profissional, que consiste em uma atividade complexa e de suma importância para o processo de detecção do diagnóstico para sorologias do HIV, sífilis e hepatites virais(14). Tal ferramenta vem se destacando como um instrumento de grande importância na rede pública de saúde, particularmente, no que tange aos serviços de saúde básica e de atenção secundária e com os programas de IST e AIDS(3).
A enfermagem realiza ações que buscam satisfazer às necessidades referentes à saúde da população, visando à promoção da saúde e à qualidade de vida (13). O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) aprovou que cabe ao enfermeiro a atribuição de realizar TR de HIV, sífilis e outros agravos no âmbito da ESF. A resolução qual ??? Tem o intuito de ampliar o acesso ao diagnóstico das doenças citadas, da mesma maneira de cumprir com as orientações indicadas pela esfera de saúde do governo Federal, a fim de programar estratégias de acesso ao diagnóstico de determinadas patologias(3).
Quando se fala na atribuição, percebe em algumas falas das participantes, sobre a função acolhedora do enfermeiro diante do usuário; além de também demonstrar que o usuário cadastrado na ESF é considerado um paciente que deve ser cuidado e acompanhado pela unidade devido ao vínculo.
Tal modo pode ser legitimado por meio dos seguintes relatos de algumas das entrevistadas:
[…] eu acho muito importante, como esse papel mesmo, nós da enfermagem temos esse papel de acolhimento, nós trabalhamos com isso no dia a dia né, pra mim é muito importante. (Enf. E)
[…] o teste rápido é mais um trabalho meu, da enfermagem. Eu não vejo dificuldade em atender ele aqui na atenção básica. Ou esse paciente tem que ser escondido lá na infectologia? (Ele) não é o nosso paciente? (Enf. F)
Em um estudo cujo objetivo foi identificar potencialidades e fragilidades da equipe de enfermagem no manejo de pacientes no teste rápido anti-HIV, realizado com a equipe de enfermagem que atua na execução do teste rápido anti-HIV., demonstrou a importância deste profissional no atendimento a este paciente. Acrescenta-se como potencialidade observada nos aconselhamentos individuais e a entrega de resultados de forma sigilosa. Uma vez que o aconselhamento individual favorece a segurança do cliente quanto ao sigilo de seus resultados, permite a troca de informações, além de proporcionar conforto quando este falar sobre seus antecedentes(15).
O enfermeiro, por meio de seu encargo, liga-se diretamente aos indivíduos que procuram a unidade de saúde para fazer o TR, e que esse profissional, reconhece a importância de seu papel como instrumento de prevenção, auxílio e colaboração à população. A autonomia deve ser incentivada no que se refere ao TR de HIV/AIDS, pois o enfermeiro encontra-se habilitado para executar tal demanda, bem como em relação a sua direta proximidade com a população, especialmente no que toca as ESF.
Conclusão
Conclui-se, que a percepção do enfermeiro na atenção primária à saúde é um aspecto de considerável interesse para ampliar o debate no que se refere ao teste rápido de HIV/AIDS nas Unidades Básicas de Saúde. Vê-se que o profissional da enfermagem se encontra em contato direto com a população, e, sendo assim, apto para realizar tal atividade, mediante capacitação.
Nota-se também que a descentralização do teste rápido é um fator de muita importância para a saúde. Por meio do exame encontra-se a realidade da sociedade local, isto é, ser feito nas ESF, faz com que a demanda de acesso a ele seja maior, dado que espaços físicos próprios relacionados ao exame, por exemplo, a infectologia caracteriza-se pela comunidade ainda muito preconceito e rejeição.
É fundamental a capacitação periódica teórico-prática tanto na testagem quanto no aconselhamento, e também o acompanhamento contínuo dos profissionais na realização do teste. Além de uma disseminação da realização dos TR para todas as unidades do município.
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1 Artigo submetido a Revista FT.
2 Especialista em saúde pública pela UNOPAR e especialista em circulação extracorpórea pelo IPESSP. Enfermeira Perfusionista na Santa Casa de Misericórdia de São Sebastião do Paraíso – MG
3 Mestre em Saúde Pública na Universidade do Estado de São Paulo (USP – EERP). Professora do departamento de enfermagem da Universidade do Estado de Minas Gerais e Faculdade Atenas. E-mail: iacara.oliveira@yahoo.com.br
4 Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade do Estado de São Paulo (USP – EERP). Professora na Faculdade Atenas. E-mail: nariman.atenas@gmail.com
5 Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade do Estado de São Paulo (USP – EERP). Professora do departamento de enfermagem da Libertas Faculdades integradas. E-mail: marianazaferino@libertas.edu.br
6 Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade do Estado de São Paulo (USP-EERP). Professor do departamento de enfermagem da Libertas Faculdade Integradas e Enfermeiro Coordenador do Serviço de Urgência e Emergência da Santa Casa de Misericórdia de São Sebastião do Paraíso – MG. E-mail: tobiasd.santos@gmail.com
7 Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade do Estado de São Paulo (USP – EERP). Professora do departamento de enfermagem da Universidade do Estado de Minas Gerais. E-mail: natassiaferreira10@gmail.com