OZONIOTERAPIA: UMA ABORDAGEM PROMISSORA NO ALÍVIO DA DOR CRÔNICA LOMBAR E CIÁTICA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10998179


Vitoria Leticia de Sousa1
Coorientador: Antonio Beira de Andrade Junior1,2
Orientadora: Aline Vieira do Nascimento Priesnitz1,3


Resumo: A lombalgia é uma condição comum que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, sendo a principal causa de incapacidade e demandando várias formas de tratamento. Cerca de 60% dos casos de lombalgia apresentam dor irradiada para o membro inferior, conhecida como Lombociatalgia, o que aumenta a procura por serviços de saúde. Diversos fatores contribuem para o surgimento e a cronificação da dor lombar, como aspectos psicossociais, obesidade, sedentarismo e condições emocionais.

Entre as abordagens terapêuticas, a ozonioterapia vem ganhando destaque, especialmente no tratamento de hérnias de disco lombar. Essa técnica envolve a aplicação de ozônio diretamente na região afetada, seja por acesso transforaminal ou interlaminar ao espaço epidural. O ozônio atua reduzindo a inflamação, corrigindo a isquemia, induzindo a liberação de endorfinas e exercendo efeitos analgésicos e anti-inflamatórios.

Estudos demonstram que a ozonioterapia é uma alternativa eficaz e menos invasiva em comparação com outros procedimentos, como a quimionucleólise enzimática. Além disso, não tem sido associada a reações adversas significativas. A injeção percutânea de ozônio tem se mostrado uma opção viável para reduzir o tamanho do disco herniado, aliviar a compressão nervosa, melhorar a microcirculação local e proporcionar alívio da dor em pacientes com hérnia de disco lombar.

Palavras-chave: Lombalgia, Dor, Ozônio.

Abstract: Low back pain is a common condition that affects millions of people around the world, being the main cause of disability and requiring various forms of treatment. Around 60% of low back pain cases present pain radiating to the lower limb, known as low back pain, which increases the demand for health services. Several factors contribute to the emergence and chronicity of low back pain, such as psychosocial aspects, obesity, physical inactivity and emotional conditions.

Among therapeutic approaches, ozone therapy has been gaining prominence, especially in the treatment of lumbar disc herniations. This technique involves the application of ozone directly to the affected region, either through transforaminal or interlaminar access to the epidural space. Ozone works by reducing inflammation, correcting ischemia, inducing the release of endorphins and exerting analgesic and anti-inflammatory effects.

Studies demonstrate that ozone therapy is an effective and less invasive alternative compared to other procedures, such as enzymatic chemonucleolysis. Furthermore, it has not been associated with significant adverse reactions. Percutaneous ozone injection has been shown to be a viable option for reducing the size of the herniated disc, relieving nerve compression, improving local microcirculation, and providing pain relief in patients with lumbar disc herniation.

Keywords: Low back pain, pain, ozone

INTRODUÇÃO

A lombalgia, um problema de saúde que afeta a região lombar e é prevalente em adultos globalmente, tem despertado crescente preocupação devido ao seu impacto na qualidade de vida e na capacidade funcional das pessoas. Com números alarmantes de casos relatados em 2020 e projeções ainda mais significativas para o futuro, a busca por tratamentos eficazes e acessíveis torna-se uma prioridade na área da saúde. Essa condição, que muitas vezes é subestimada e não recebe a devida atenção, apresenta desafios significativos não apenas para os indivíduos afetados, mas também para os sistemas de saúde em todo o mundo. Nesse contexto, é essencial explorar diferentes abordagens terapêuticas, incluindo a ozonioterapia, como uma alternativa promissora no manejo da dor lombar e das hérnias de disco, oferecendo uma perspectiva mais otimista para a melhoria da qualidade de vida desses pacientes.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para atingir o objetivo desse estudo foram selecionados artigos publicados entre os anos de 2010 a 2022, utilizadas bases de dados Scielo, pubmed e google acadêmico, por meio de palavras chaves como: Fisioterapia, ozonioterapia, dor lombar.

Além disso, também foram realizadas pesquisas em artigos e sites da organização mundial da saúde, ministério da saúde e protocolos utilizados.

RESULTADOS

A lombalgia é uma afecção comum em todo o mundo, principalmente na população adulta [1] Em 2020, a dor lombar (lombalgia) afetou 619 milhões de pessoas em todo o mundo e estima-se que o número de casos aumentará para 843 milhões de casos até 2050, impulsionado em grande parte pela expansão e envelhecimento populacional (OMS).

A lombalgia é a principal causa de incapacidade em todo o mundo e a condição para a qual o maior número de pessoas pode beneficiar de reabilitação. O maior número de casos de lombalgia ocorre na faixa etária de 50 a 55 anos. A lombalgia é mais prevalente em mulheres. A lombalgia inespecífica é a apresentação mais comum da lombalgia (cerca de 90% dos casos). [2] Sendo que em 60% dos casos pode haver dor irradiada para o membro inferior, e esse quadro é chamado de lombociatalgia, que pode ser de origem radicular (exemplo: compressão por hérnia de disco) ou referida (exemplo: dor miofascial) [3] dando grande demanda aos serviços de saúde. Entretanto, esses valores podem estar subestimados uma vez que menos de 60% das pessoas que apresentam dor lombar procuram por tratamento [3] sua relevância é tamanha que foram desenvolvidas várias formas de mensurar o quanto a dor lombar afeta a qualidade de vida das pessoas. Entre essas estão a Roland morris, Backill Questionnaire e Oswestry Disability Index. [4].

As dores lombares podem ser primárias ou secundárias, com ou sem envolvimento neurológico. Por outro lado, afecções localizadas neste segmento, em estruturas adjacentes ou mesmo à distância, de natureza a mais diversa, como congênitas, neoplásicas, inflamatórias, infecciosas, metabólicas, traumáticas, degenerativas e funcionais, podem provocar dor lombar.

Inúmeras circunstâncias contribuem para o desencadeamento e cronificação das síndromes dolorosas lombares (algumas sem uma nítida comprovação de relação causal) tais como: psicossociais, insatisfação laboral, obesidade, hábito de fumar, grau de escolaridade, realização de trabalhos pesados, sedentarismo, síndromes depressivas, litígios trabalhistas, fatores genéticos e antropológicos, hábitos posturais, alterações climáticas, modificações de pressão atmosférica e temperatura. [5]

Condições emocionais podem levar à dor lombar ou agravar as queixas resultantes de outras causas orgânicas preexistentes. A lombalgia tem diversas formas de tratamento, pode ser desde o mais conservador com exercícios até mesmo os mais invasivos, como a necessidade de procedimento cirúrgico. As medidas mais comuns são as farmacológicas, com o uso de paracetamol, dipirona, opioide, anti-inflamatórios não esteroidais, antidepressivos, relaxantes musculares e corticoides[6] [7]

Outras formas terapêuticas foram desenvolvidas, como é o caso do uso injetável de ozônio e esteroide na região lombar seja por acesso transforaminal ou por acesso interlaminar ao espaco epidural. [8] Dessa mesma forma, a mistura oxigênio-ozônio tem sido usada como um método opcional ou complementar para o alívio da dor lombar[9]

Segundo Bocci et al[9]., a ozonioterapia tem se tornado um procedimento gratificante, especialmente quando comparado à cirurgia. O seu benefício se dá desde a inibição da inflamação, correção de isquemia e estase venosa, até a indução reflexa da liberação de endorfinas, promove um mecanismo analgésico antinociceptivo. [9].

Outra abordagem amplamente utilizada por muitos ozonoterapeuta foi proposta por Verga, um ozonoterapeuta particular que notou alívio da dor após infiltrar pontos-gatilho em mialgias com oxigênio-ozônio. Tal técnica injeta o gás nos pontos dolorosos localizáveis ​​no músculo paravertebral (lócus dolendi) correspondentes ao metâmero da hérnia de disco. [10] A hérnia de disco sendo umas das causas da dor lombar é caracterizada como uma condição que afeta a coluna vertebral, na qual uma ruptura no anel fibroso de um disco intervertebral permite que a porção central fique saliente. [11] O tratamento da hérnia de disco lombar com a ozonioterapia O3 é aplicado com uma agulha que é colocada na hérnia entre a margem interna da articulação facetaria e a raiz nervosa lateral. Este tem sido considerado um tratamento minimamente invasivo para tratamento de raízes nervosas, uma vez que o O3 é minimamente invasivo e a agulha é fina. O mecanismo de ação é o seguinte: o núcleo pulposo é oxidado pelo proteoglicano que o faz desnaturar e reduzir de volume. A circulação sanguínea local terá reduzido quando a pressão osmótica for reduzida. A dose de O3 administrada é essencial e não deve ultrapassar a capacidade da glutationa e das enzimas antioxidantes para evitar o acúmulo de peróxido de hidrogênio e ânion superóxido, que podem possivelmente degradar as membranas celulares. [12] O3 em meio com pH = 8 ou superior causará a formação de radicais livres (são átomos ou moléculas que contém um número ímpar de elétrons na sua última camada eletrônica e, devido a este não emparelhamento, são muito instáveis e têm alto poder reativo.) Já em meio com pH = 7,5 ou inferior a formação de peróxidos ocorre devido ao mecanismo de ozonólise. Na terapia com oxigênio-O3, é administrado em uma concentração não tóxica de 1 a 40 µg de O3 por mililitro de oxigênio. Foi descoberto em estudos que consistiram em amostras de disco humano ressecadas in vitro, bem como in vivo em coelhos, que a concentração ideal a ser administrada é de 27 µg. O3 tem um efeito direto no núcleo pulposo do disco, especificamente nos proteoglicanos nesta concentração, o que resulta na subsequente degradação celular da matriz e na liberação de moléculas de água. [13] A matriz é substituída por tecidos fibrosos e formação de novas células sanguíneas em aproximadamente 5 semanas. Uma redução no volume do disco é o resultado de todos esses eventos. Em um estudo conduzido por Andreula e outros, 22 cinco espécimes de disco histológico foram removidos durante microdiscectomia cirúrgica que receberam injeções intradiscal de O3 a 27 µg/mL.

Uma das principais causas terapêuticas do O3 médico é uma redução no tamanho do disco que pode reduzir a compressão da raiz nervosa. Além disso, o encolhimento do disco pode melhorar a microcirculação local e aumentar o suprimento de oxigênio, reduzindo a estase venosa causada pela compressão do disco nos vasos. A terapia com O3 também teve efeitos analgésicos e anti-inflamatórios no tratamento da hérnia de disco. [14]

A ação está ligada à inibição da liberação de bradicinina ou à liberação de compostos halogênicos, bem como à inibição da síntese de prostaglandinas pró-inflamatórias. Citosinas pró-inflamatórias, como a interleucina, podem ser neutralizadas pelo aumento da liberação de antagonistas. Os resultados deste estudo foram satisfatórios em comparação com outros tratamentos percutâneos para hérnia de disco, como a quimionucleólise enzimática. [15] Os dois procedimentos são semelhantes, porém a oxigenoterapia é menos invasiva devido à natureza estreita da agulha e menos traumática. [16] Além disso, não houve reações anafiláticas ou alérgicas. [16] a injeção percutânea de O3 com a margem interna da faceta via póstero-lateral foi um método eficaz. [17]

CONCLUSÃO

Concluindo, a ozonioterapia se destaca como uma contribuição significativa ao conjunto de terapias disponíveis para tratar a lombalgia e a lombociatalgia. Ao mantermos um compromisso constante com a pesquisa e uma abordagem clínica fundamentada em evidências, antevemos que a ozonioterapia assumirá um papel cada vez mais crucial no tratamento eficaz dessas condições dolorosas, resultando em melhorias substanciais na qualidade de vida dos pacientes afetados.

REFERENCIAS

1-Hoy D, Bain C, Williams G, March L, Brooks P, Blyth F, Woolf A, Vos T, Buchbinder R. A systematic review of the global prevalence of low back pain. Arthritis Rheum. 2012 Jun;64(6):2028-37. doi: 10.1002/art.34347. Epub 2012 Jan 9. PMID: 22231424.

2- Colaboradores do GBD 2021 para dor lombar. Carga global, regional e nacional da dor lombar, 1990-2020, seus fatores de risco atribuíveis e projeções para 2050: uma análise sistemática do Global Burden of Disease Study 2021. Lancet Rheumatol 2023: 5: e316-29.

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7- Brazil A, Ximenes A, Radu A, Fernades A, Appel C, Maçaneiro C, et al.. Diagnóstico e tratamento das lombalgias e lombociatalgias. Rev Bras Reumatol [Internet]. 2004Nov;44(6):419–25. Available from: https://www.scielo.br/j/rbr/a/33bmVkrT4rXNw6TRTBKDtPm/.

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1Centro Universitário Campos de Andrade, Curitiba, Brasil
2Centro Universitário Augusto Motta, Rio de Janeiro, Brasil
3Instituto Italiano de Rosário, Argentina
E-mail: fisio2001vitoria@gmail.com