Dr. Márcio Luna (RJ)
Fisioterapeuta há 40 anos;
Ex-aluno do Prof. F. J. Spaeth, Introdutor da Acupuntura no Brasil;
Especialista em Acupuntura e Terapias Orientais (China;ABA);
Fundador do Instituto Brasileiro de Medicina Tradicional Chinesa (IBMTC);
Especialista em Neurociências em Longevidade (UFRJ-IPUB);
Mestre em Ciência da Motricidade Humana (UCB-RJ);
Ex-Membro da Câmara Técnica de Acupuntura e Práticas Integrativas e Complementares do CREFITO-2;
INTRODUÇÃO
Canabidiol (CBD) é uma substância natural derivada da planta do gênero Cannabis Sp., isolada na década de 40, mas não elucidada até a década de 60, com grande potencial terapeutico. É o mais prevalente canabinóide das plantas do tipo Cannabis e não tem efeito psicotrópico.
A ANVISA, no Brasil, após décadas de solicitações administrativas, de doentes, para liberar o uso do CBD, decidiu em novembro de 2019 pela permissão da fabricação do canabidiol sintético, sob a forma de comprimidos orais. Na prática essa permissão não atende ao melhor uso do CBD, que seria na forma de óleo, via sublingual, via percutânea ou via vaporização (incluindo spray nasal).
À parte a essas questões de ordem comercial, legal e política, o CBD já vem sendo usado por nós em alguns casos de neuropatia e dor crônica mal controlada pelos métodos convencionais, e mais recentemente em uma portadora de Covid-19.
O CBD tem sido muito usado nos EUA para epilepsia refratária em crianças, em especial, portadoras da Síndrome de Dravet e da Síndrome de Lennox-Gastaut.
No Brasil o uso de derivados da Cannabis era proibido até 2015, quando foi autorizado seu uso terapêutico. O primeiro salvo conduto concedido pela justiça brasileira para o auto cultivo da planta Cannabis para fins medicinais, foi obtido em 2016. O Conselho Federal de Medicina, em dezembro de 2014, autorizou a prescrição compassiva do CBD, e em 2015 a ANVISA autorizou a primeira importação para uso terapêutico pessoal. Em 2017 a ANVISA registrou o primeiro medicamento à base de CBD e THC (Tetrahidrocanabinol) (Mevatyl®), que junto com o CBN (Cannabinol) são os 3 principais fitocanabinóides ativos da planta, entre outros 50 compostos ativos, canabinóides e não canabinóides. Porém, esse medicamento chegou no mercado com um preço muito elevado, estimulando assim que a situação de auto cultivo e importação pessoal do CBD ficasse inalterada.
O primeiro estudo científico no Brasil que demonstrou a eficácia do CBD, foi no controle de epilepsias, sendo publicado em 1980 pelo grupo do Prof. Elisaldo Carlini (UNIFESP), juntamente com o pioneiro no isolamento do THC, o Prof. Raphael Mechoulam (Hebrew University – Jerusalém).
As propriedades terapêuticas da planta do gênero Cannabis foram descritas pela primeira vez pelos chineses, no livro Shennong Ben Cao Jing da Farmacopéia chinesa do período Han, compilado entre 206 – 220 d.C., e atribuído a sua autoria ao lendário imperador Shen Nong (ou “o imperador vermelho”).
A planta Cannabis é dividida em várias subespécies: Sativa, Indica, Ruderalis, Spontanea e Kafiristanica. Os efeitos farmacológicos são atribuídos à interação dos fitocanabinóides com os receptores endocanabinóides presentes em todo nosso organismo, principalmente distribuídos no Sistema Nervoso Central (SNC), conhecido como CB₁, e no Sistema Nervoso Periférico e no Sistema Imunológico, conhecido como CB₂, formando assim o Sistema Endocanabinóide (SEC), descoberto na década de 80.
Contextualização
O CBD tem efeito analgésico, anti-inflamatório, hipoglicemiante, anti-emético, antiprocinético intestinal, ansiolítico, antipsicótico, anticonvulsivante, anti-espasmódico, hipnótico, imunossupressor/imunomodulador, neuroprotetor, antipsoriático, antibacteriano, vasodilatador, pró-osteogênese, antiproliferativo, anti-isquêmico.
Não há estudos clínicos sobre os efeitos dos canabinóides diretamente sobre doenças virais, porém o CBD apresenta várias características que o tornam um potencial agente para estudos de atividade antiviral. A ação anti-inflamatória e pró-apoptótica do CBD, em mamíferos, e a característica hiperinflamatória pulmonar do portador do Covid-19, nos levou a usá-lo com esse objetivo em um paciente portador sintomático dessa doença em maio de 2020, no auge da pandemia pelo novo Coronavírus, no Rio de Janeiro.
Alguns estudos pré clínicos apontam um possível papel antiviral para o CBD, pois demonstram a inibição da replicação do HCV (vírus da hepatite C) em até 84,6%, o que é comparável ao efeito do interferon alfa a 10 UI/ml. Em outro estudo com células cultivadas, o CBD reduziu a proliferação de células infectadas pelo herpes vírus associado ao Sarcoma de Kaposi.
Considerações finais
Por essa breve descrição do atual estado da ciência canabinóide, e em especial do CBD, podemos concluir que o CBD se descortina como um importante agente fisioterapêutico novo no arsenal terapêutico do fisioterapeuta integrativo e complementar, com inúmeras aplicações clínicas de grande impacto em todas as especialidades da fisioterapia em geral.
Contato do autor:
marciodeluna@gmail.com
Referências
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