COMPLICAÇÕES FUNCIONAIS E PSICOLÓGICAS DO PORTADOR DE FERIDAS CRÔNICAS

FUNCTIONAL AND PSYCHOLOGICAL COMPLICATIONS OF CHRONIC WOUND PATIENTS

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10957635


Lucas Zampar Imbriani1
Isabel Rocha Guerreiro2
Aliny de Lima Santos3


Resumo

Estima-se que as lesões causadas por feridas crônicas afetem não apenas o funcionamento físico, mas também o bem-estar psicológico dos indivíduos acometidos. No entanto, esses aspectos têm sido pouco abordados na área médica e na atenção primária, muitas vezes negligenciando essas complicações. Nesse contexto, este projeto teve como objetivo estimar os efeitos psicológicos, de autoestima e nas atividades de vida diária causadas pelas lesões em pacientes portadores de feridas crônicas. Para atingir esse objetivo, foi realizada uma pesquisa quantitativa exploratória por meio de um levantamento de dados cuja população-alvo foi composta por pacientes acompanhados no Ambulatório de Feridas Crônicas de uma policlínica em Maringá, Paraná. Durante o período de setembro a dezembro de 2023, os pacientes foram abordados no ambulatório e convidados a participar da pesquisa. Os dados foram coletados por meio de questionários que abordam informações sociodemográficas, dados clínicos, qualidade de vida, funcionalidade, ansiedade, depressão e autoestima. A análise dos dados foi feita utilizando estatística descritiva e inferencial, além da comparação dos resultados com a literatura atualizada. Espera-se que os resultados deste estudo contribuam para a compreensão dos danos psicológicos e funcionais decorrentes das feridas crônicas em diferentes faixas etárias, destacando a importância de uma abordagem integral no cuidado desses pacientes. Este projeto foi submetido à avaliação ética e aprovado antes de sua execução.

Palavras-chave: Feridas crônicas; Funcionalidade; Autoestima.

1  INTRODUÇÃO

As feridas crônicas afetam 1% da população mundial. Estas pessoas, acometidas por tal flagelo, sofrem, não só com as características da lesão, no que tange ao seu aspecto olfativo e visual desagradável, presença de dor e desconforto; mas também com as consequências desse ferimento, como o isolamento social, comprometimento da autoimagem, limitações nas atividades do cotidiano e na deambulação do paciente (MARTINS, et. al, 2021; OLIVEIRA, et al, 2019).

Lidar com feridas crônicas é um grande desafio, tanto para os pacientes quanto para os profissionais de saúde. Além das alterações físicas, elas podem também afetar de forma prejudicial a saúde mental dos indivíduos acometidos. Um dos aspectos mais importantes da saúde mental que é afetado é a queda de autoestima que, na maioria das vezes, é relacionado com a aparência e os impactos na qualidade de vida que estas lesões podem proporcionar. Uma vez que as feridas possuam a capacidade de alterar a imagem corporal do paciente e as possíveis limitações funcionais associadas à condição, a autoestima dos enfermos pode ser prejudicada (RIBEIRO, et. Al, 2019).

Para além disso, a depressão e a distimia também são comuns em pacientes com feridas crônicas, podendo levar a problemas emocionais, sociais e financeiros. A dor e o desconforto causados pela ferida podem levar a um estado de tristeza e desesperança, aumentando o risco de depressão (OLIVEIRA, et. al, 2019).

Ainda, existe a relação entre sintomas depressivos associados a um maior grau de incapacidade e a uma menor qualidade de vida causados pelas lesões. Entretanto, a depressão não deve ser considerada como algo natural na história da doença, uma vez que ela não acomete todos os enfermos lesionados. Vale lembrar também, que o tratamento adequado da depressão pode melhorar a qualidade de vida, recuperação e adesão desses ao tratamento das feridas (TRALESK, et. al, 2022).

Desse modo, pode-se inferir que essas condições interferem na Qualidade de Vida (QV) do enfermo de maneira negativa (MARTINS, et. al, 2021; OLIVEIRA, et al, 2019). A presença de feridas crônicas pode limitar a capacidade dos pacientes de realizar atividades cotidianas básicas, como alimentação, higiene pessoal e locomoção, impactando desfavoravelmente na sua QV (OLIVEIRA, eta al, 2019).

Desta forma, a QV pode ser significativamente afetada devido às diversas limitações impostas pela condição. Além disso, os tratamentos para feridas crônicas podem ser, por vezes, invasivos, dolorosos e prolongados, aumentando ainda mais o impacto na qualidade de vida dos pacientes. Para tanto, é importante, que os profissionais de saúde considerem a qualidade de vida dos pacientes no tratamento de feridas crônicas e busquem estratégias para melhorá-la a fim de proporcionar maior bem-estar aos acometidos (OLIVEIRA, et al, 2019).

Ademais, as lesões causadas por feridas crônicas são um assunto pouco abordado na área médica. Menos comum ainda são os efeitos psicológicos, como os possíveis quadros de depressão, distimia, aspectos relacionados à diminuição de auto estima e perda funcional. Embora o manejo de feridas não faça parte de diversas áreas de especialidade médica, a compreensão dos desfechos que tal problemática traz para os pacientes de modo geral em suas vidas, deve permear o cuidado prestado pelo profissional, independentemente de sua área de atuação.

Frente a esse contexto, cabe a pergunta: quais os efeitos psicológicos, de autoestima e nas atividades de vida diária causados pelas lesões em pacientes portadores de feridas crônicas? Destarte, a negligência e o pouco conhecimento do profissional, atrelada a esse tema, pode causar episódios em que feridas importantes, subestimadas, cursem com piora do quadro, levando o paciente a disfuncionalidade físicas e mentais.

Desta forma, a justificativa deste trabalho se dá pela importância de se estimar os danos psicológicos e funcionais consequentes às feridas crônicas em todas as faixas etárias, a fim de dar a devida atenção ao quadro descrito. Assim, tem-se como objetivo analisar os efeitos psicológicos, de autoestima e nas atividades de vida diária causados pelas lesões em pacientes portadores de feridas crônicas, acompanhados em ambulatório de feridas em um município do noroeste do Paraná.

2  METODOLOGIA

O trabalho refere-se a uma pesquisa quantitativa, exploratória e transversal, tendo como população alvo pacientes acompanhados no Ambulatório de Feridas Crônicas, situado na Policlínica Zona Sul, em Maringá, Paraná.

O ambulatório de feridas do município foi aberto no ano de 2011, e desde então vem atendendo pacientes com feridas crônicas das mais diversas etiologias e níveis de agravo. Atualmente atende cerca de 100 pacientes, aproximadamente, que na maioria das vezes vêm encaminhados pela Atenção Primária do município. São admitidos aqueles que apresentam feridas crônicas graves, que necessitam de cuidados por meio de coberturas e correlatos especializados. A assistência oferecida é composta pela avaliação das feridas, assim como a prescrição da melhor conduta e a cobertura do plano terapêutico individualizado para cada tipo de lesão. Os atendimentos são agendados conforme o caso do paciente, o tipo de ferida e a cobertura utilizada, sendo que alguns têm retorno indicado para 30 dias depois.

Foram incluídos na pesquisa todos os pacientes com feridas crônicas em atendimento no ambulatório no período de setembro a dezembro de 2023 independente do sexo, faixa etária ou etiologia da ferida. O grupo alvo foi abordado no referido ambulatório e questionado se desejaria fazer parte da pesquisa. Durante este período, os pesquisadores permaneceram no local no período da manhã, em dias pactuados com a gestão do serviço, de modo a não atrapalhar a dinâmica do mesmo, mas também abordar o maior número de pacientes que compareceram para realização de curativo.

A coleta de dados ocorreu no serviço, naquele mesmo dia, de modo a otimizar a participação do paciente. Foi solicitado um espaço reservado para a entrevista individual, após seu atendimento, de modo que a coleta não o atrapalhe de nenhuma maneira, tendo durado cerca de 30 minutos com cada paciente.

Para a pesquisa, foram abordados ao menos 40 pacientes dos quais houveram 15 recusas, totalizando 25 pessoas com feridas crônicas. A coleta de dados ocorreu em quatro partes: 1. Questionário sobre as informações sociodemográficas e clínicas: sexo, idade, escolaridade, profissão, se recebe algum auxílio, com quem vive, renda familiar, estado civil, comorbidades, hábitos de vida, medicações, dados sobre a (s) ferida (s) e a frequência de troca de curativos.

2.   Avaliação de qualidade de vida utilizando Questionário de Qualidade de Vida (QV) para pessoas com feridas (FLQA-Wk), no qual foram abordados temas como: sintomas físicos, vida diária, vida social, bem estar psicológico, tratamento e satisfação. Cada tópico possui um número específico de itens, e a resposta pode variar de 1 (melhor QV) a 5 (pior QV) – exceto no tópico satisfação -, sendo necessário calcular a média aritmética de cada tópico e, após isso, a média dos 5 tópicos foi contabilizado como o escore final. Para todos os tópicos foi necessário levar em consideração que quanto maior o valor do escore, pior é a qualidade de vida (SANTOS, et. al, 2018).

Ainda no FLQA-Wk, há três escalas que vão de 0 (muito ruim) a 10 (muito bom) e quantificam o estado de saúde e QV geral, e em relação à ferida na última semana. A média destes 3 questionamentos foi a pontuação do resultado, que auxiliou na comparação deste valor com o valor total do instrumento (SANTOS, et. al, 2018).

3.  Avaliação psicológica, utilizando a Escala de Ansiedade e Depressão (HAD), composta por 14 itens divididos em 7 para ansiedade e 7 para depressão, sendo cada um composto por pontuações que vão de 0 a 3. Estas subescalas podem pontuar no máximo 21 pontos, sendo que quanto maior forem os valores maior é o nível de ansiedade e depressão. Havendo de 0 a 7 pontos é improvável que haja as doenças, de 8 a 11 pontos é possível e de 12 a 21 pontos é provável (HANAUER, 2022).

4.   Avaliação de autoestima, por meio da Escala de Autoestima de Rosenberg (EAR) que possui 10 itens relacionados a autoestima geral do paciente, 5 deles têm uma visão positiva e os outros 5 uma visão autodepreciativa, sendo que cada um dos itens pode ser respondido entre: concordo completamente (1 ponto), concordo (2 pontos), discordo (3 pontos), discordo completamente (4 pontos). A pontuação é diretamente proporcional à autoestima do idoso, salvo os itens 3, 5, 8, 9 e 10 que precisam ser invertidos no cálculo da soma de pontos (HANAUER, 2022).

Os dados coletados foram duplamente digitados em planilhas da Microsoft Excel, analisados segundo estatística descritiva, utilizando medidas padrão, como média, mediana, distribuição e frequência simples. Para as escalas FLQA-Wk, HAD e EAR, os valores foram calculados e apresentados por meio de média, desvio padrão (D.P.), mediana, valores máximos e mínimos pontuados entre todos os participantes e intervalo de confiança de 95%. Após análise, os resultados foram discutidos à luz de literatura pertinente e atualizada.

Cabe salientar que o projeto foi aprovado pela na Secretaria de Saúde do Município e pelo Comitê de Ética em Pesquisa CEP – Unicesumar (CAAE: 74662523.3.0000.5539). Por fim, o indivíduo assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) em duas vias, ficando uma com o colaborador da pesquisa e a outra com os pesquisadores.

3  RESULTADOS

Quanto ao perfil socioeconômico dos 25 pacientes que participaram do estudo, verificou-se predominância para o sexo masculino com 14 participantes (56%), a média de idade foi de 64,9 anos (D.P.=15,95), e 18 (72%) referem ter como escolaridade o ensino fundamental. A maioria é composta de pessoas que exercem alguma atividade laboral (14 56%), seguida de aposentados (9 – 36%). A renda familiar ou individual desta população variou, entre R$1000,00 a R$3000,00 em 64% (18) dos casos. Ainda, nessa amostra, 22 (88%) pessoas alegam morar com a família e 14 (56%) serem casados (as), seguido por aqueles que eram viúvos (5 – 20%) (Tabela 1).

Apenas uma minoria dos participantes alegaram ser tabagistas (9 – 36%), 28% (4) serem estilistas. A maioria da população abordada refere não praticar qualquer atividade física (4 – 96%), 19 (76%) dos entrevistados exercem as atividades de vida diária sozinhos (as) (Tabela 1).

Por fim, entre os pacientes abordados, a maioria possui diagnóstico de alguma doença crônica, sendo as mais frequentes a hipertensão arterial sistêmica (15 – 60%), seguida de diabetes (14 – 56%). O tempo de diagnóstico dos portadores de comorbidades crônicas era maior que 24 meses em 21 dos entrevistados (84%) (Tabela 1).

A tabela 2 mostra as características das feridas dos abordados. A etiologia mais frequente das feridas foi do tipo traumática em 11 (44%) dos casos, seguido por úlcera venosa (5 – 20%) e úlcera arterial (4 – 16%). O intervalo de tempo mais comum de acometimento foi de 1 a 36 meses em 76%(16) dos casos.

A localização mais frequente de acometimento são os membros inferiores (16 – 64%), seguido por pés (5 – 20%) e região sacro-ilíaca (3 – 12%). O número de lesões variou de uma (15 – 60%), duas (5 – 20%), ou mais que duas (5 – 20%). A maior parte dos entrevistados possuía lesão recidivantes (14 – 56%), entretanto houveram aqueles que não possuíam feridas pregressas (9 – 36%).

O tamanho médio das lesões foram, em largura, de 4,42 cm (D.P=4,04) e, em comprimento, de 4,92 cm (D.P.=4,44). Com relação às bordas, 16 (64%) dos participantes apresentam feridas com bordas regulares, 18 (72%) lesões exsudativas, além de 16 (64%) com odor característico e 15 (60%) possuem dor de frequência intermitente. A periodicidade com que há a troca de curativos é de um a três vezes por dia em 18 (72%) dos entrevistados.

A tabela 3 mostra os dados clínicos das feridas crônicas dos participantes da pesquisa. A tabela apresenta de maneira descritiva os scores totais e de cada subdomínio da escala FLQA-Wk, além de os scores totais das escalas HAD e EAR.

A escala FLQA-Wk foi dividida em domínios e escalas. O score total dos domínios apresentaram de média 2,81 (D.P.=0,56) já, os subdomínios, demonstraram valores de: Sintomas físicos: 2,67 (D.P.=0,70); Vida diária: 3,50 (D.P.=0,93); Vida social: 3,20 (D.P.=1,14); Bem-estar psicológico: 2,29 (D.P.=0,93); Tratamento: 2,82 (D.P=0,72); e Satisfação: 2,35 (D.P.=0,57). As escalas de satisfação demonstraram, no total, de média 6,93 (D.P.=1,29) e a subescala de saúde geral 6,96 (D.P.=1,43), em relação a ferida 6,68 (D.P.=2,44) e de qualidade de vida geral 7,16 (D.P.=1,35).

A escala HAD, dividida entre ansiedade e depressão demonstrou 6,68 (D.P.=3,89) de pontuação para ansiedade e 5,96 (D.P.=3,49) para depressão. Utilizando a metodologia de pontuação da escala, pode-se inferir que, para a divisão “ansiedade”, 16 (64%) pessoas pontuaram para improvável, 6 (24%) para possível e 3 (12%) para provável. Já, para a divisão “depressão”, 16 (64%) pontuaram para improvável, 8 (32%) para possível e 1 (4%) para provável.

Por fim, a escala EAR pontuou 22,88 (D.P.=4,46) de média para a autoestima dos pacientes, o que demonstra uma autoestima saudável na população entrevistada.

4  DISCUSSÃO

Esta pesquisa evidenciou dados sociodemográficos similares aos encontrados em outros estudos nacionais relacionados aos pacientes portadores de feridas crônicas. No que diz respeito a maior prevalência de feridas crônicas, o sexo masculino tem maior frequência, assim como idade superior a 60 anos. A predominância do sexo masculino pode ser justificada pela demora na busca de serviço de saúde e ao menor hábito de medidas preventivas contra acidentes, quando comparado às mulheres. Quanto à idade, os idosos são mais acometidos, uma vez que, com o aumento da expectativa de vida, há, consequentemente, aumento de prevalência de doenças crônicas como diabetes (DM) e hipertensão arterial sistêmica (HAS) nessa população, além da redução das capacidades de regeneração da pele típica dessa idade. (HANAUER, 2022; SANTOS, et. al, 2018; TRALESK, et. al, 2022;).

No que concerne à escolaridade, a população abordada possui, em maioria, ensino fundamental completo ou incompleto. Tal fato se mostra relevante no que diz respeito à dificuldade no entendimento e assimilação do tratamento proposto pelo profissional de saúde, tornando o processo cicatricial mais demorado e com maior risco de infecção e incapacitação. (HANAUER, 2022; SANTOS, et. al, 2018; TRALESK, et. al, 2022;).

Sobre a situação profissional e de renda, os dados obtidos na pesquisa divergem da maior parte da literatura. Enquanto nos estudos a população mais acometida são de aposentados com baixa renda, os pacientes abordados nesta pesquisa demonstraram que estão, em sua maioria, exercendo alguma atividade laboral, além de possuírem uma renda mensal que varia de R$1000,00 a R$3000,00. Tal fato destoa da ideia de que a maioria da população abordada possa sofrer com as consequências negativas que a baixa renda e ausência de ocupação possam ocasionar como a dependência familiar, isolamento social, baixa auto estima e problemas econômicos. (HANAUER, 2022; MARTINS, et. al, 2021; RIBEIRO, et. Al, 2019; TRALESK, et. al, 2022;).

A respeito do estado civil e com quem o paciente vive, a pesquisa elucidou que a maioria dos entrevistados são casados e moram junto com suas famílias. Tal fato se mostra relevante uma vez que a presença de um(a) companheiro(a) pode significar uma maior efetividade na realização do tratamento proposto, além de oferecer conforto e continuidade no esquema terapêutico. Pelo contrário, a ausência de um companheiro pode significar complicações nos eixos psíquicos, sociais e físicos do paciente (NASCIMENTO, 2020; TRALESK, et. al, 2022).

Com relação ao tabagismo, assim como em um estudo realizado em Ponta Grossa, a maioria dos participantes negaram a prática. Tal fato se mostra relevante uma vez que o hábito de fumar, além de ser considerado um fator de risco, pode acarretar grandes danos ao paciente portador de feridas crônicas, uma vez que, prejudica a vascularização causando vasoconstrição e diminuindo o aporte de oxigênio e nutrientes para os tecidos, dificultando a cicatrização. (TRALESK, et. al, 2022).

A capacidade de realização das atividades de vida diária denotam ao paciente um importante fator positivo encontrado neste estudo. Diferente de outras pesquisas realizadas no Brasil, os participantes desta entrevista, em sua maioria, relataram praticar boa parte das atividades de vida diária sozinhos. Desta forma, os ônus ocasionados pela dependência alheia na vida diária se tornam menores uma vez que podem ocasionar isolamento social e dificuldade de manter uma vida social, sensação de dependência e redução na qualidade de vida.(NUNES, et. al, 2018; SANTOS, et. al, 2018; TRALESK, et. al, 2022).

Quanto às comorbidades presentes nos pacientes, a DM e HAS por mais de 24 meses foram as mais prevalentes, tanto nesta pesquisa quanto em outras realizadas no território nacional. As doenças de base têm importância no decorrer do quadro de feridas crônicas uma vez que interferem negativamente no processo cicatricial além de propiciar o surgimento das lesões. (SANTOS, et. al, 2018; TRALESK, et. al, 2022).

No que tange ao tipo de ferida mais predominante, se dá a traumática; as quais possuem dor intensa, limitações e causam um desconforto crônico ao paciente, visto que a maioria possui a ferida por até 3 anos, entrando em consonância com os demais estudos. Grande parte das feridas se dão nos membros inferiores, o que vai ao encontro do que já foi evidenciado em estudos como HANAUER, 2020, NASCIMENTO, 2020 e MARTINS, 2021.

Há um número grande de recidivas de feridas anteriores, assim como em Nascimento et al. (2020); o que destaca a importância do manejo eficaz e a prevenção de recorrência destes ferimentos. Em relação às características da ferida, o que pode-se enfatizar é a presença de exsudato, odor e dor intermitente na maioria dos participantes, o que gera um desconforto muito grande à pessoa, fazendo com que ela interaja menos com as demais pessoas do seu ciclo de amizades e familiares, deixando, muitas vezes, de sair para locais onde eram rotineiros. (HANAUER, 2020; NASCIMENTO, 2020; MARTINS, 2021).

Levando em consideração a Escala FLQA-Wk, pode-se inferir que no geral os participantes do estudo possuem uma boa QV, porém, alguns itens fogem à maioria. Alguns pacientes (14) relataram insônia, (12) dificuldades em subir escadas e (12) ajuda de terceiros para o tratamento, mostrando o quanto as feridas crônicas interferem no dia a dia e na qualidade de vida – individualmente – dessas pessoas. Já a escala HAD e EAR, fugindo aos dados da maioria dos trabalhos, evidenciou que a minoria possui tais comorbidades. Tal fato pode ser explicado pelas fragilidades deste estudo, como por exemplo: uma amostra pequena, um tempo de cronicidade abaixo de 3 anos em sua maioria. Ou apenas um melhor enfrentamento da situação por parte dos participantes estudados neste trabalho (HANAUER, 2020; NASCIMENTO, 2020; MARTINS, 2021; TRALESK, et al. 2022).

5  CONCLUSÃO

O estudo demonstrou que a prevalência de feridas crônicas acontece, principalmente, no sexo masculino, com idade média de 64,88 anos, casados e que moram com a família e possuem renda que varia de R$1000,00 a R$3000,00. Ainda, condições crônicas como HAS e DM acomete, majoritariamente, a população abordada. O padrão ferida traumática de duração entre 1 a 36 meses foi o mais observado.

A escala FLQA-Wk demonstrou que o grupo pesquisado possui, de forma geral, uma boa QV, salvo os itens relacionados aos tópicos de vida diária e vida social que apresentaram uma QV intermediária. Na escala HAD, a maioria dos pacientes pontuaram para improvável o diagnóstico de ansiedade e depressão, sendo contabilizados como provável a descrição em apenas 3(12%) e 1(4%). Por fim, a escala EAR não evidenciou níveis de auto estima prejudicados na maioria dos entrevistados.

Desta forma, cabe a formulação de novos estudos na área com o foco em entender o porquê desta população, diferentemente das abordadas em outros estudos pelo Brasil, possuírem índices que demonstrem boas capacidades funcionais e psicológicas a fim de criar uma estratégia viável e reprodutível nas demais comunidades.

Vale lembrar que as limitações encontradas neste estudo envolveram o reduzido número de participantes na pesquisa e a subjetividade relativa a dor e estado emocional e seus diferentes desdobramentos em cada indivíduo. Contudo, uma vez que o serviço utilizado na pesquisa tem captação de não apenas a cidade de Maringá, mas também de toda a região convizinha, permite a representatividade dessa área geográfica.

REFERÊNCIAS

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TRALESK, Hevelyn Mayara et al. Fatores sociodemográficos relacionados à qualidade de vida de portadores de lesões em ambulatório de Hospital Universitário. Research, Society and Development, 2022. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/35780/29925. Acesso em: 13 mar. 2023.


1 Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Unicesumar Campus Maringá e-mail: lucas.zampar.i@gmail.com.
2 Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Unicesumar Campus Maringá e-mail: isabelrochaguerreiro@gmail.com.
3 Docente do Curso Superior de Medicina do Instituto Unicesumar Campus Maringá. Doutora e Mestre pelo Programa de Pós Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá-PR – UEM. e-mail: aliny.santos@docentes.unicesumar.edu.br