DESAFIOS NAS PRÁTICAS DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA EM UMA MATERNIDADE DE REFERÊNCIA DA PARAÍBA 

CHALLENGES IN THE PRACTICES OF OBSTETRIC NURSING PROFESSIONALS IN A REFERENCE MATERNITY IN PARAÍBA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10951665


Mabelly Pessoa de Lima Oliveira1; Edja Bezerra Fidelis2; Aline de Alcântara Correia3; Rosângela Guimarães de Oliveira4; Letícia Bruna de Souza Araújo5; Aline Santos da Silva6; Selda Gomes de Sousa7; Patrícia de Vasconcelos Medran Moreira8; Luanna Toscano de Theorga Bodziak9; Andreia Correia Nóbrega de Sá10


RESUMO

O presente estudo aborda os desafios do enfermeiro que atua nas salas de parto de uma maternidade de João Pessoa-PB. A pesquisa tem como objetivo principal analisar os desafios nas práticas do profissional de Enfermagem Obstétrica, conforme as políticas públicas de atenção à saúde da mulher e gestante. Configurou-se em uma pesquisa de campo com abordagem quantitativa e qualitativa, sendo delineada a partir de um estudo descritivo. Foi realizado um levantamento de dados através de uma entrevista semiestruturada, onde se utilizou um instrumento para coleta de dados com questões voltadas à temática estudada, e um gravador de voz para melhor documentar as falas das participantes. A amostra foi composta por oito enfermeiras obstetras que trabalham nas salas de parto. Todas do sexo feminino, e com pós-graduação em obstetrícia, possuindo idade entre 36 a 52 anos (87,5%), a maioria casada (64%), possuindo de 11 a 26 anos de formação (87,5%). Em relação aos dados qualitativos, as respostas foram organizadas em cinco categorias, de acordo com a metodologia de Bardin. Como desfecho, observou-se que mesmo em meio aos desafios em sua prática cotidiana, é evidente a importância da inserção da enfermagem obstétrica dentro dos serviços voltados à saúde da mulher. Os profissionais da Enfermagem Obstétrica conseguiram identificar cenários positivos, especialmente em relação ao binômio, mãe-bebê. Nesse sentido, toda discussão possibilita a abertura de caminhos, para construção de diálogos, e posterior enfrentamento à superação dessa realidade. 

Palavras-chave: Enfermagem Obstétrica; Gestação; Trabalho de Parto. 

ABSTRACT

Thisstudyaddressesthechallengesfacedby nurses working in thedeliveryroomsof a maternity hospital in João Pessoa-PB. The mainobjectiveofthestudywastoanalyzethechallengesfacedbyobstetric nurses in theirpractices, in accordancewithpublic policies onwomen’sandpregnantwomen’shealthcare. It was a fieldstudywith a quantitativeandqualitative approach, basedon a descriptivestudy. Data wascollectedthrough a semi-structured interview, using a data collectioninstrumentwithquestionsonthesubjectunderstudy, and a voice recorder tobetterdocumenttheparticipants’ statements. The sampleconsistedofeightobstetric nurses working in deliveryrooms. Theywereallfemale, with a postgraduatedegree in obstetrics, agedbetween 36 and 52 (87.5%), mostofthemmarried (64%), withbetween 11 and 26 yearsof training (87.5%). Withregardtothequalitative data, theanswerswereorganizedintofivecategories, accordingtoBardin’smethodology. As a result, itwas observed thateven in the midst of challenges in theirdaily practice, the importance of obstetric nursingwithin women’s health services isevident. Obstetric nursing professionals were a bletoidentify positive scenarios, especially in relationtothemother-baby binomial. In thissense, everydiscussion opens up new avenues for dialogandcan help to improve thequalityoflife. 

Keywords: ObstetricNursing; Pregnancy; Labor. 

INTRODUÇÃO

O contexto histórico revela que o parto era um evento familiar, íntimo, predominantemente feminino, no qual a assistência ao parto e pós-parto era realizada por mulheres parteiras e também por familiares, baseadas no conhecimento empírico e naquele passado entre gerações (Zirr Et al. 2019). No decorrer do tempo, o saber tradicional das parteiras foi substituído pelo modelo biomédico e hospitalocêntrico, no qual o parto se distanciou de evento natural e fisiológico, e passou a necessitar da hospitalização, da atuação do profissional médico, intervenções, medicalização e procedimentos cirúrgicos para acontecer (Souza et al. 2022). 

O Brasil, atualmente, está entre os países com o maior número de cesáreas no mundo. De acordo com a OMS, em cada 10 partos 1,5 é recomendado a cesárea, porém no Brasil acontece em 8,5 nascimentos com este procedimento. Nesse sentido, o elevado número de cesáreas está relacionado ao modelo de saúde intervencionista, considerando que o parto deve ser medicalizado e instrumentalizado, resultando no aumento nas taxas de morbimortalidade do binômio e na sobrecarga financeira dos serviços públicos (Carregal Et al. 2020). 

Para tal problemática, houve a necessidade de reformulação das políticas públicas, com a finalidade de resgatar a fisiologia do trabalho de parto, proporcionando às mulheres um nascimento seguro, livre de procedimentos e medicamentos desnecessários (Oliveira et al. 2021). Uma das estratégias para a redução do número de cesarianas, e consequente diminuição das taxas de mortalidade materna é a inserção da Enfermagem Obstétrica (EO) no cenário de parturição (Souza et al. 2022). 

A atuação da EO vem sendo defendida e incentivada pela OMS, como diretriz da estratégia da Rede cegonha, para ampliar e qualificar a assistência prestada nos partos e nascimentos no SUS. Este considera, pelo seu caráter formativo menos intervencionista, que os enfermeiros obstetras são os profissionais mais adequados no acompanhamento de gestações e partos de risco habitual, bem como, no reconhecimento e correção dos desvios da normalidade, realizando de forma apropriada o encaminhamento daquelas que demandem uma assistência especializada (Almeida et al. 2020). 

Somado a isso, a EO tem se destacado pelas suas habilidades e competências, realizadas com a devida segurança técnica, tendo como diferencial o cuidado baseado na preservação da autonomia da mulher em todo o processo do trabalho de parto. Sua atuação é centrada em práticas humanizadoras, proporcionando às mulheres uma experiência de parto autônoma, digna, favorecendo o seu empoderamento, tornando-a protagonista no seu processo de parir (Santos; Paço, 2020). 

Mediante a tudo que foi exposto até aqui, é indiscutível a importância da atuação do enfermeiro obstétrico na assistência às mulheres em todo ciclo gravídico-puerperal. Porém, a literatura aponta que a inserção da EO na realidade brasileira ainda é um desafio a ser superado nas instituições de cuidado em saúde na área da obstetrícia (Nascimento; 2020). 

Um dos pontos considerados como mais frágeis nesse processo, é a presença do enfermeiro obstetra no espaço ocupado anteriormente de forma hegemônica pelo profissional médico. De acordo com o estudo de Magalhães e Taffner (2020), essa é uma das questões que dificulta de forma significativa a incorporação efetiva do enfermeiro na prática obstétrica. 

Magalhães e Taffner (2020) trazem ainda a discussão que essa resistência provém da dificuldade em reconhecer a autonomia presente na atuação do enfermeiro obstetra no cenário do parto fisiológico. Como também no jogo de poder, no qual, existe uma imaginada hierarquia entre o cuidado médico e o da enfermagem. Este encontra motivação no próprio desconhecimento desse profissional em relação à legislação que regulamenta a EO, resultando em muitos conflitos, onde os médicos consideram os enfermeiros obstetras coadjuvantes na assistência, não enxergando o direito de atuação nos cenários que se configuram de baixo risco obstétrico, limitando dessa forma a atuação plena do exercício profissional. 

Ribeiro (2020) destaca que na literatura existem outros desafios enfrentados por enfermeiros obstetras nas salas de parto, dentre eles estão: a desvalorização da prática profissional; as condições de trabalho insatisfatórias; a falta de reconhecimento profissional; a necessidade de qualificação permanente; e a ausência de concursos públicos nessa área específica. 

À luz dos achados na literatura, e por meio da observação e vivência dentro do centro obstétrico de uma maternidade pública de referência, foi possível visualizar o enfrentamento de alguns desafios durante a atuação da EO nas salas de parto. A partir dessa realidade, justificou-se o interesse em realizar essa pesquisa, e a partir dela, discutir sobre os potenciais desafios encontrados, estes, analisados mediante a percepção das enfermeiras obstetras que atuam nesse serviço.  

Visando aprofundar a compreensão da situação estudada, o presente trabalho teve como objetivo principal: Analisar os desafios nas práticas do profissional de Enfermagem Obstétrica conforme as políticas públicas de atenção à saúde da mulher e gestante. Como objetivos específicos: identificar as dificuldades encontradas nas práticas pelos Enfermeiros Obstetras, e descrever o papel sociodemográfico dos participantes. O estudo norteou-se pela seguinte questão: Quais são os fatores que interferem ou dificultam a assistência da enfermagem obstétrica nas salas de parto de uma maternidade pública de referência? 

Desse modo, o estudo contribuiu na área da pesquisa, pois, por meio dele, buscou-se subsidiar melhor compreensão dos desafios existentes. Mediante os resultados encontrados, procurou-se obter meios para o enfrentamento dos aspectos dificultadores na atuação da EO, bem como, publicações nesse âmbito, oferecendo subsídios crítico-reflexivos aos profissionais para colaboração na mudança da realidade observada. 

CONTEXTO HISTÓRICO

Para compreender os desafios na prática da EO, é preciso voltar à gênese, na sua construção histórica. Nos primórdios, o processo de nascimento era um evento tradicional, familiar e feminino. Por muito tempo, partejar era uma atribuição exclusiva de mulheres, que partiram no âmbito domiciliar, sendo assistidas por outras mulheres da família com mais experiência e/ou por parteiras, em sua maioria sem possuir nenhum conhecimento científico. Os saberes eram oriundos de suas próprias experiências individuais, ou do conhecimento passado de geração em geração (Sena et al. 2018). 

A assistência ao parto era realizada de forma empírica, intuitiva, prática, muitas vezes envolvendo a fé e a religiosidade para assegurar um parto tranquilo (Oliveira; Penna, 2018). Além da assistência direta ao parto, os cuidados imediatos ao recém-nascido e puérperas eram realizados por mulheres. O processo no nascimento era considerado natural, um evento feminino, tendo a mulher como o centro e protagonista de todo esse processo (Sena etal. 2018).  

Entretanto, entre os séculos XIV e XVIII, foi realizado um movimento da classe médica, contra a assistência sem respaldo científico realizado pelas parteiras, ocasionando o declínio da sua atuação. Com isso, o trabalho das parteiras foi transferido ao médico, dando origem ao processo de medicalização, instrumentalização e institucionalização do parto (Carregal Et al. 2020). 

Diante desse cenário, é percebido que a inserção do médico no ciclo gravídico puerperal, em conjunto com os avanços tecnológicos e procedimentos intervencionistas, contribuem diretamente para a transformação do processo do parto em evento patológico e hospitalocêntrico (Oliveira et al. 2021). Esse excesso de procedimentos invasivos, consequentemente, elevou os riscos e aumentou o índice de mortalidade materna. 

No Brasil, o elevado índice de cesarianas, despertou a necessidade de rever esse modelo de saúde, sendo preciso para isso, criar políticas públicas para reconsiderar o modo de realizar assistência, visando à redução de danos, o resgate ao natural e a diminuição de procedimentos desnecessários (Souza et al. 2022). 

Nessa perspectiva, foram surgindo as primeiras políticas e programas voltados para a saúde materna e infantil, iniciado nas primeiras décadas do século XX (Machado et al. 2020). Em destaque houve a criação, em 1984, do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), o qual inclui ações preventivas, de tratamento e recuperação durante a assistência pré-natal, parto e puerpério, bem como no climatério, trazendo uma nova concepção no cuidado à saúde da mulher (Souza et al. 2022). 

A EO entra como agente estratégico de mudança, na busca de romper com o atual modelo de parturição, estando sua atuação em consonância com as diretrizes da OMS e apoiadas por ações governamentais, como a Rede Cegonha, ambos incentivando a inserção da EO dentro dos serviços de saúde, buscando um equilíbrio entre as intervenções que são realmente necessárias, e a humanização no parto (Maciel; Dornfeld, 2019). 

ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E SUAS PARTICULARIDADES

Atualmente, o contexto da atenção obstétrica no Brasil está sendo orientada pelo paradigma humanístico, com isso, a implementação de tecnologias leves alternativas às utilizadas no modelo vigente são incentivadas. Por meio do respaldo político e com base em evidências científicas, os enfermeiros obstetras passaram a assumir um importante papel no acompanhamento e realização de partos mediante formação prática e teórica através do conhecimento científico (Oliveira et al. 2019). 

A atuação da EO é regulamentada pela Lei 7.498/1986 (BRASIL, 1986), pelo Decreto n 94.406/1987 (BRASIL, 1987), e também por meio da resolução específica do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) n.516/2016 (COFEN, 2016). Que determina e normatiza a atuação da EO na atenção à saúde e assistência às gestantes, parturientes, puérperas e recém nascidos, nos serviços de obstetrícia, nos centros de parto normal, nas casas de parto e em outros locais onde ocorra tal assistência (Ribeiro, 2020). 

A EO, busca a melhoria do sistema, e promoção da saúde do binômio através dos seus cuidados, não desprezando as singularidades de cada indivíduo. Sua assistência é centrada na preservação da autonomia da mulher no processo de parto, valorizando o nascimento seguro e livre de intervenções cirúrgicas e medicamentosas desnecessárias, dessa forma, resgata o papel da mulher como protagonista do seu processo de parir, incentivando sua voz e poder de escolha, contribuindo com o seu empoderamento (Carregal Et al. 2020). 

Em contrapartida, mesmo considerando a importância da incorporação dos enfermeiros obstetras nas salas de parto, e da existência de regulamentação desta atividade, ainda existem muitas barreiras a serem vencidas, para que a EO alcance de fato a sua potencialidade e consiga atuar e cumprir de forma plena o seu exercício profissional (Jesus et al. 2021). 

A revisão de literatura realizada por Magalhães e Taffner (2020), exibe em 90% dos artigos utilizados em sua amostra, uma resistência do profissional médico frente à atuação do enfermeiro obstetra. Para essa resistência os estudos atribuem: disputa de poder, espaço e posse da clientela; imposição de uma hierarquia inexistente; abuso verbal; desconhecimento e discordância sobre as competências dos enfermeiros obstétricos.  

Outros desafios expostos por diversos autores em seus estudos foram: déficit de infraestrutura; recursos e falta de espaço próprio dentro dos serviços (Costa et al. 2021); falta de protocolos para definir os processos de trabalho, até mesmo para definir o encaminhamento correto das parturientes (Maciel; Dornfeld, 2019); dimensionamento inadequado, com sobrecarga de trabalho e atribuições, muitas vezes limitando a prática profissional as demandas administrativas e burocráticas (Ribeiro, 2020). 

De acordo com Esser (2016), a realidade enfrentada pela EO é o de não reconhecimento profissional, e resistência dos demais membros da equipe multiprofissional, refletindo em invisibilidade e diminuição da autonomia e do seu espaço de atuação, expondo as fragilidades existentes no cotidiano dos enfermeiros obstetras. Em relação à falta de autonomia, Magalhães e Taffner (2020), atribuem também às deficiências na formação e capacitação, relacionadas à escassez de educação permanente em saúde, que não ocorre de forma rotineira dentro dos serviços. 

Por fim, toda essa discussão mostrou que a inserção da EO dentro dos serviços de saúde está sendo um processo lento, difícil, cercado de desafios e interferências. Nesse sentido, é importante estimular a criação de ferramentas que possam contribuir para a superação dessas dificuldades. Em meio a todos essa problemática está clara a importância dos enfermeiros obstetras dentro das instituições de saúde, na contribuição da redução da morbimortalidade materna e perinatal, além de proporcionar as parturientes uma experiência de parto fisiológico, livre de procedimentos desnecessários, ouvindo a sua voz, com respeito às particularidades, resguardando sua autonomia e protagonismo. 

METODOLOGIA 

Metodologicamente o estudo foi exploratório e descritivo, sendo uma pesquisa de campo com abordagem quantitativa e qualitativa. O estudo exploratório se caracteriza pela capacidade de proporcionar uma maior aproximação do pesquisador com a área de estudo no qual está interessado.  Essa familiaridade se mostra necessária para que o problema do estudo seja formulado de maneira clara e objetiva. Já a pesquisa descritiva, tem por finalidade descrever os atributos do objeto a ser estudado, que podem ser características de determinados grupos populacionais como: distribuições por sexo, escolaridade, faixa etária, entre outros, ou averiguar algum fenômeno (Gil, 2022). 

Ainda de acordo com Gil (2022), o estudo de campo é considerado um modelo clássico de investigação, nesse tipo de estudo, a pesquisa é feita diretamente por meio do pesquisador, na sua inserção no ambiente, população ou fenômeno a ser investigado. A coleta dos dados pode ser feita por meio da observação direta de atividades, análise de documentos, fotografias, gravação de voz, entre outros. Em relação à pesquisa qualitativa, seus resultados são apresentados por meio de descrições verbais, possui um enfoque interpretativo, ou seja, de entender aspectos mais subjetivos, como comportamentos, ideias, pontos de vista, entre outros. Mediante esse tipo de pesquisa, os fenômenos devem ser interpretados de acordo com a perspectiva da população que o vivencia. 

O estudo teve como cenário a Maternidade Frei Damião, no bairro do Centro do Município de João Pessoa-PB, durante a primeira semana de março de 2024.Quanto aos critérios de inclusão, foram considerados enfermeiras obstetras que atuam nas salas de parto na Maternidade Frei Damião, no bairro do Centro, Município de João Pessoa-PB, e que possuem formação acadêmica em enfermagem obstétrica. Quanto aos critérios de exclusão, não fizeram parte do estudo os enfermeiros sem a especialidade de obstetrícia, e os que se encontravam de férias, licença médica, atestado no período da coleta, ou que, mesmo presente, não quiseram participar da pesquisa. 

Dentre os 12 profissionais atuantes nas salas de parto da maternidade, apenas oito atenderam aos critérios de inclusão deste estudo. É importante ressaltar que 04 enfermeiros foram excluídos da amostra, destes, 02 não possuíam especialidade em obstetrícia, 01 se encontrava de férias e 01 de atestado médico.Assim, participaram da pesquisa oito Enfermeiras, atuantes nas salas de parto na Maternidade Frei Damião, no bairro do Centro, Município de João Pessoa-PB, sendo esta amostra, escolhidos por conveniência, e que foram entrevistados na primeira semana de março de 2024.  

Para levantamento dos dados, foi aplicada uma entrevista, semiestruturada, com questões voltadas à temática estudada, composto por duas partes, a primeira relacionada à caracterização da amostra e a segunda voltada aos aspectos inerentes ao estudo. Foi usado pelos pesquisadores o registro escrito e também o emprego de um gravador de voz durante a entrevista para melhor documentar as falas dos participantes. Para a manutenção do sigilo dos integrantes deste estudo, para identificação das falas, foi utilizado o nome de pedras preciosas. 

O estudo seguiu os preceitos éticos, tendo sido submetido à Plataforma Brasil, e avaliado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba (CEP-SES-PB), sob a CAAE de nº 77632024.7.0000.5186. 

Salienta-se que, segundo a resolução 466/12, toda pesquisa que envolve seres humanos oferece riscos, mesmo que seja mínima ou não previsível. Caso ocorra a exposição do participante, além da interrupção da atividade, o pesquisador responsável estará acompanhando todo processo de recuperação presente e futuro dirigido ao pesquisado e, na ocasião de qualquer dano materializado, será ressarcido e indenizado nos limites do prejuízo evidenciado (Brasil, 2012). 

Todas as informações obtidas em relação a esse estudo permanecerão em absoluto sigilo, garantindo proteção de sua privacidade e respeitando valores morais, culturais, religiosos, sociais e éticos. Os resultados dessa pesquisa poderão ser apresentados em congressos ou publicações científicas, porém, a identidade, imagens ou informações, não serão divulgadas nestas ocasiões que permita a identificação. 

Conforme a resolução 466/2012, se o participante se sentisse prejudicado (a) com a pesquisa, seria garantido o ressarcimento por qualquer tipo de danos, físicos e/ ou morais, as despesas serão cobertas conforme determina a resolução. 

Toda pesquisa oferece risco, mesmo que seja mínimo ou não previsível, conforme os itens IV e V da resolução 466/2012 CNS. Se tivesse havido constrangimento dos participantes, que é o risco previsível de entrevistas, ou o uso ilícito dos dados, além da interrupção da atividade, o pesquisador responsável seria acompanhando em todo processo de recuperação e, na ocasião de qualquer dano materializado, seria ressarcido e indenizado nos limites do prejuízo evidenciado. E se o participante se sentisse constrangido, desconfortável ou mesmo não estabelecesse uma boa relação com o pesquisador durante a pesquisa, ela seria interrompida ou até mesmo se ele não quisesse mais participar ficaria à vontade para não participar do estudo, no entanto, tal fato não ocorreu (Brasil, 2012). 

O tratamento e análise dos dados qualitativos foram feitos por meio da técnica de análise de conteúdo e categorização das falas, investigadas e discutidas por literatura apropriada. A análise de conteúdo é uma técnica de investigação que tem por finalidade a descrição objetiva, sistemática, e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação (Bardin, 2011). 

A análise de conteúdo tenta compreender os participantes, procura conhecer aquilo que está por trás das palavras sobre as quais se debruçam. Pode utilizar uma ou várias operações de modo a enriquecer os resultados ou aumentar sua validade, aspirando assim a uma interpretação final fundamentada (Bardin, 2011). 

RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Tendo sido a amostra composta por oito enfermeiras obstétricas,que trabalham nas salas de parto da Maternidade Frei Damião em João Pessoa/PB, presentes no período da coleta, a tabela 01 descreve a caracterização das participantes desta pesquisa. 

Tabela 1. Caracterização das enfermeiras:idade, sexo, estado civil, anos de formação acadêmico e tempo de profissão. João Pessoa, Paraíba, Brasil, 2024 (N=8). 

Fonte: Dados da pesquisa (2024)

Foi identificado, na tabela 1, que a idade predominante na amostra foi de 36 a 52 anos (87,5%), que a maioria era casada (64%), e todas do sexo feminino (100%). Observou-se também, que referente ao ano de formação predominou o período de 11 a 26 anos (87,5%), e em relação ao título acadêmico (100%) eram pós-graduadas em obstetrícia. Nenhum participante possui mestrado e doutorado. 

Para os dados qualitativos, as respostas foram categorizadas de acordo com a metodologia de Bardin (2011). Para este autor, a categorização é um processo do tipo estruturalista, e consiste em organizar os objetos de um dado universo agrupando os elementos que apresentam características incomuns, impondo certa organização às mensagens através de uma representação simplificada dos dados brutos. 

 Desta forma, após a técnica de análise temática caracterizada pela descrição das falas, identificação de significados similares e diferentes, interpretação e formulação dos achados, emergiram as seguintes categorias: 

Quadro 01: Categorias da Metodologia de Bardin. 

Fonte: Autoria própria (2024). 

Categoria 1: Papel dos Enfermeiros Obstetras nas salas de parto.  

“Estar atento às necessidades da paciente, como também todo o ambiente, medicações, ausculta fetal e acompanhamento até o nascimento do bebê” (Turquesa). 

“Promover uma assistência humanizada e segura aos parturientes e familiares, a fim de oferecer uma experiência prazerosa sobre o nascimento, ressignificando o processo de parir” (Diamante). 

“O Enfermeiro Obstétrico tem um papel de acolher, de acompanhar aquela mulher em todo o processo do trabalho de parto, tendo que lidar com o emocional, a dor, de incentivar e fazer acontecer junto a paciente, o processo de nascimento como digo, para que seja um momento único de nascimento de uma mãe e de um bebê” (Turmalina). 

“Além da vigilância e cuidados, identificar qualquer alteração que possa existir” (Esmeralda). 

“Oferecer apoio à parturiente e aos familiares durante o trabalho de parto” (Topázio). 

Nesta categoria, foram analisadas as falas dos profissionais a fim de percebermos os níveis de compreensão, e como essa percepção se relaciona com o tipo de serviço oferecido à parturiente.  

 Foi possível observar, a partir dos relatos acima, como as profissionais compreendem seu papel enquanto enfermeiras obstetras, sendo: oferecer apoio à parturiente e aos familiares; proporcionar um ambiente acolhedor; ofertar uma assistência segura e humanizada; bem como, estar atenta às necessidades da paciente em todo o processo de trabalho de parto. 

A literatura aponta sobre a importância da assistência prestada pelos enfermeiros obstetras nas salas de parto. Mediante a isso, é importante para os mesmos entenderem esse papel, exercendo de forma segura e humanizada. 

Essas declarações trouxeram à discussão, atributos imprescindíveis para execução de uma assistência de enfermagem qualificada. A compreensão dos profissionais entrevistados neste estudo está em consonância com o trabalho de Gomes, Oliveira e Lucena (2020), para eles, o papel do enfermeiro obstétrico deve estar baseado nas boas práticas, e compreende dentre outras competências, proporcionar às mulheres o direito a uma assistência respeitosa, na qual sua autonomia e direitos são preservados, tendo como produto final, a garantia de proporcionar com sua atuação, um momento humanizado e de felicidade plena à parturiente. 

O registro de uma das entrevistadas aborda sobre o importante papel da enfermagem obstétrica em realizar a vigilância materno-fetal, e em identificar qualquer alteração que possa prejudicar a saúde do binômio. Ferreira, Coutinho e Queiroz (2023), afirma que os cuidados realizados pelo EO a gestante e à puérpera, são essenciais para que qualquer intercorrência possa ser identificada em tempo hábil, e tratada adequadamente. Dessa forma, é possível evitar que o problema evolua para mau desfecho para a mãe ou bebê.  

Categoria 2: Dificuldades apresentadas pelos Enfermeiros para realização da assistência de Enfermagem Obstétrica. 

“Inúmeras dificuldades, dentre elas a postura da maioria dos profissionais médicos, que ainda não compartilham o trabalho colaborativo. Outra dificuldade é a falta de motivação da maioria das EOs na atuação como E.O, e seu papel na equipe” (Diamante). 

“A intromissão de outros profissionais que atrapalham muito o nosso serviço” (Pérola). 

“Maiores dificuldades de nossa assistência seriam a nossa autonomia não ser respeitada, muitas vezes, outra categoria profissional, no caso médicos, não deixarem que atuemos da maneira que um E.O teria que atuar com o mínimo de intervenções possíveis” (Turmalina). 

“Organização do setor, dimensionamento de profissionais. Tem momentos que é só um enfermeiro para uma demanda grande, não tem como você ficar ali e prestar uma assistência melhor só com um enfermeiro”(Ametista). 

“Muitas vezes a intervenção médica sem necessidade, falta de trabalho em equipe” (Turquesa). 

“Reconhecimento, espaço, apoio que não temos ainda” (Topázio). 

“Por ser uma maternidade de alto risco, onde não seria o total perfil da gente, o público alvo ainda tem muita resistência com as enfermeiras obstetras fazendo assim desestimular bastante”(Esmeralda). 

“A gente lida com pessoas que não tem o mesmo pensamento de uma assistência humanizada” (Rubi). 

Ao serem questionadas sobre quais seriam as dificuldades enfrentadas no seu cotidiano, estas destacaram aspectos sobre a postura da maioria dos profissionais médicos; intromissão de outros profissionais da equipe; intervenção médica sem necessidade; e a organização do setor, envolvendo questões sobre o dimensionamento de profissionais e excesso de atribuições.  

As adversidades enfrentadas no dia a dia das enfermeiras obstétricas refletem no desempenho da sua prática profissional, a falta de motivação e o desestímulo para a sua atuação estão presentes no relato desses profissionais.  

Às dificuldades levantadas pelas enfermeiras, é corroborada pela revisão de literatura realizada por Jesus et al. (2021), dentre os desafios encontrados nesse estudo foram mencionados:  a resistência dos profissionais médicos; desvalorização da prática profissional; necessidade de reconhecimento profissional; dimensionamento inadequado. 

Em relação à resistência dos profissionais médicos, o estudo de Magalhães e Taffner(2020), expõe que essa problemática resulta em vários conflitos que geram uma ruptura do trabalho em equipe, no qual não ocorre o compartilhamento das responsabilidades, dificultando o trabalho interprofissional e incorporação das boas práticas nos serviços de saúde. 

Maciel e Dornfeld (2019) traduzem o cotidiano da enfermagem obstétrica quanto aos conflitos. Esses profissionais enfrentam dificuldades de aceitação dentro da equipe multiprofissional, que perpassa a equipe médica, e se faz presente até entre a própria equipe de enfermagem. A supremacia médica é evidente quando as enfermeiras obstetras avaliam o comportamento dessa categoria frente a sua atuação. Toda essa situação hostiliza o ambiente, o deixando tenso, envolto de competição e disputa de poder, assim como pela desconfiança na capacidade da EO em prestar assistência ao parto. 

Diante desse cenário, é nítido que a autonomia do enfermeiro obstétrico não é respeitada, no qual predomina uma cultura organizacional centrada na figura do médico e verticalizações nos processos de trabalho, com isso, as enfermeiras obstetras sentem que necessitam provar constantemente sua capacidade (Maciel; Dornfeld, 2019). 

 Ribeiro (2020) destaca a importância da preservação da autonomia da EO, para que o que está descrito na lei do seu exercício profissional seja de fato colocado em prática.  Só com sua autonomia assegurada, é que o enfermeiro obstetra poderá desenvolver suas habilidades, com liberdade e sem obstáculos, podendo ter suas próprias condutas e decisões, livres de intervenção de outra categoria profissional. 

De acordo com Esser (2016), para além de um espaço restrito de atuação, que envolve a limitação imposta por outras categorias, as enfermeiras obstetras assumem as atividades administrativas do setor, tomando a maior parte do seu tempo, sendo outro fator dificultador, que limita o seu desempenho. Essa sobrecarga de atribuições prejudica a assistência obstétrica, e com isso, restringe o oferecimento das boas práticas de assistência ao parto, preconizadas pelo Ministério da Saúde. 

Esse acúmulo de funções, também está diretamente relacionado ao dimensionamento de enfermagem.  O déficit na escala é apontado no estudo de Jesus et al. (2021), como outro elemento que prejudica o trabalho da EO. Poucos profissionais resultam em muita demanda, e sobrecarga de papeis, reduzindo a atuação do enfermeiro obstetra, e com isso, o afastando da assistência direta às parturientes, desvirtuando dessa forma, o foco do seu processo de trabalho. 

A falta de reconhecimento também é apontada no estudo de Ribeiro (2020), no qual, as enfermeiras relatam que às gestantes atendidas, tendem a valorizar o produto final de todo o processo, que é a expulsão do concepto. O profissional que segurou o seu filho no momento do nascimento, é quem recebe todo o reconhecimento, momento em que há predomínio da atuação médica. Dessa forma, muitas vezes é desconsiderado todo o processo de partejar feito pela EO, o cuidado, a vigilância e acolhimento intraparto são em muitos momentos desconsiderados por essas mulheres, ocasionando a percepção de desvalorização, e causa de desestímulo por parte das enfermeiras obstetras.  

Como reflexão e com vistas à superação da realidade enfrentada no cotidiano da EO, Magalhães e Taffner (2020) apontam para a necessidade de promover a construção de diálogos, e sobre a importância da divulgação do papel do enfermeiro obstetra dentro da equipe multiprofissional, possibilitando assim o desenvolvimento da sua autonomia e liberdade de atuação nos centros obstétricos. 

Magalhães e Taffner (2020) também trazem a discussão, a importância do fortalecimento e a consolidação da EO dentro dos serviços de saúde. A atuação das enfermeiras obstetras nas salas de parto, e na execução dos partos de risco habitual, tem se mostrado eficaz, essa inserção reflete na melhoria da assistência obstétrica no nosso país, e na redução das atuais taxas de morbimortalidade materna e perinatal. 

Categoria 3: Fatores que interferem na assistência do Enfermeiro Obstetra. 

“O espaço físico que precisa ser melhorado” (Topázio). 

“Pacientes que não colaboram muitas vezes, não nos escutam, acompanhantes que às vezes mais atrapalham do que ajudam as próprias pacientes; Se as salas de indução e as salas de parto fossem mais perto umas das outras e leitos mais privativos também eu acho que ficaria mais fácil de trabalhar” (Turquesa). 

“Credibilidade que a instituição dá aos enfermeiros obstétricos; confiança das parturientes e familiares no trabalho da enfermeira obstetra e principalmente a motivação das enfermeiras obstétricas na realização dessa assistência” (Diamante). 

“O acompanhante que não tem o perfil para ser um bom acompanhante ele atrapalha não só o nosso serviço, como o emocional da gestante” (Pérola). 

Ao serem questionadas sobre outros fatores que interferem na sua assistência como enfermeira obstetra foram relatados: problemas na estrutura física da instituição; falta de privacidade das mulheres em trabalho de parto; pacientes e acompanhantes pouco colaborativos; confiança das parturientes no trabalho oferecido pela EO.  

A presença do acompanhante é garantida desde 2005, momento em que foi sancionada a Lei 11.108,que assegura às parturientes o direito à presença de um acompanhante de livre escolha, em todos os serviços de saúde, públicos ou privados, durante o trabalho de parto, parto e pós-parto (Brasil, 2005).  Portanto, a presença do acompanhante é obrigatória, e por isso, os serviços de saúde, bem como, os profissionais devem estar cientes e receber essas pessoas.   

O estudo de Sousa et al. (2020) discorre sobre a presença do acompanhante no trabalho de parto, por meio da percepção dos profissionais, e traz que, a presença do acompanhante é em sua maioria, benéfica, contribuindo para um maior apoio emocional, maior sensação de segurança e conforto para as gestantes, colaborando na evolução, e êxito do processo do trabalho de parto.  

Souza et al. (2020)em outro momento, corrobora com as falas apresentadas pelas enfermeiras obstetras entrevistadas, no qual, afirma que a presença do acompanhante pode atrapalhar a assistência ofertada, pois, por desconhecer a fisiologia do trabalho de parto, o acompanhante pode demonstrar repúdio aos procedimentos realizados, portanto, se faz necessário que ele esteja preparado para estar junto da mulher, entendendo todo o processo do parto e atuando junto à equipe.  Da mesma forma, o profissional deve procurar reconhecer as potencialidades da presença do acompanhante, e com isso, juntos, promover apoio e um cuidado seguro ao binômio.  

No que diz respeito à questão da confiança das parturientes, ela pode estar associada a falta de reconhecimento das competências das enfermeiras obstetras, limitando o exercício da sua autonomia. Essas barreiras, configuram o pouco espaço para o seu exercício profissional, restringindo o olhar da mulher frente a assistência ofertada pela EO na assistência ao trabalho de parto (Esser, 2016). 

Esser(2016) mostra também em seu estudo, que às enfermeiras obstetras são submetidas à pressão institucional, que às fazem desvirtuar das boas práticas, dessa forma,prevalecendo o modelo biomédico, centrado no excesso de procedimentos invasivos, e práticas desnecessárias no contexto de parturição. 

No tocante às questões relacionadas à melhora da ambiência, como mudanças na infraestrutura física e dos leitos, Esser(2016) concorda com os relatos apresentados e demonstra que essa realidade é encontrada em outras instituições de saúde.  Ele traz essa problemática, como outro dificultador da assistência, no qual, o ambiente desfavorável e com pouca privacidade, o torna inseguro, e longe do que é preconizado pelas boas práticas.  

Categoria 4: Necessidade de atualização dos profissionais.  

“Inserção de oficina de boas práticas na assistência obstétrica, e em emergências obstétricas” (Diamante). 

“Minicursos ou palestras que possam ser feitas periodicamente, elas ajudariam” (Turquesa). 

 “Atualização em protocolos, práticas em situações realistas, capacitação principalmente como acolher a mulher de forma mais humanizada” (Turmalina). 

Nesta Categoria vemos através das falas, que as enfermeiras obstetras participantes da pesquisa demonstraram a necessidade de atualizações voltadas para boas práticas na assistência obstétrica,e em emergências obstétricas. A inserção de minicursos, palestras, atualização em protocolos e práticas em situações realísticas, feitas periodicamente ajudaria esses profissionais a se manterem atualizados. 

Os relatos das participantes concordam com Possati Et al. (2017), visto que humanizar o parto e o nascimento envolve a revisão de ações e condutas dos profissionais de saúde. Por conseguinte, acredita-se que a formação e a frequente atualização profissional e da própria gestão das instituições são fundamentais para a implementação de práticas humanizadas. 

Maciel e Dornfeld (2019)em seu estudo reforçam a necessidade na melhoria da formação e qualificação profissional da EO, visando à melhoria na qualidade da assistência ofertada.  Eles afirmam, que o profissional deve ser capaz de buscar conhecimento de forma contínua, dessa forma, é possível modificar o cotidiano da sua assistência, bem como, estimular o desenvolvimento de novas habilidades e competências. Diante disso, ao se manter atualizado, o enfermeiro obstetra será capaz de embasar o seu cuidado nas melhores evidências científicas, com autonomia. 

Categoria 5: Satisfação ao realizar a assistência à parturiente 

“Realização profissional, muitas vezes recebemos parturientes que tiveram uma experiência negativa no primeiro parto e conosco conseguiram ressignificar esse processo, não como doloroso, mas como prazeroso” (Diamante). 

“Sou apaixonada por obstetrícia, só precisamos mais ser reconhecidos como enfermeiras obstétricas” (Topázio). 

“Principalmente o vínculo criado com essa paciente durante um momento tão precioso de sua vida”(Esmeralda).  

“Apesar de tudo, eu ainda amo a obstetrícia, o cuidar, está perto, vê o final de tudo aquilo ali, dá assistência ao parto, à mãe e ao bebê” (Turquesa).  

“Satisfação por ter proporcionado um ambiente acolhedor que proporcionou aquela mulher uma vivência melhor daquele processo do trabalho de parto até o nascimento, em fazê-la conhecer seu próprio corpo, e claro, ser testemunha de um nascimento de um ser fisiologicamente perfeito, onde conseguimos sentir a presença de Deus em tudo” (Turmalina). 

As Enfermeiras entrevistadas apresentaram um entusiasmo ao relatar sobre a realização profissional no atendimento às parturientes. Para Oliveira et al. (2021) interagindo com o paciente e seus familiares o enfermeiro obstetra oferece uma assistência de excelência e humanizada a parturiente, recém-nascido, e seus acompanhantes, esse momento gera vínculo, confiança, respeito mútuo e sobretudo satisfação profissional e pessoal em contribuir para a melhoria da assistência e do serviço. 

No tocante a satisfação profissional, ela foi percebida nos relatos presentes nas enfermeiras obstetras entrevistadas no estudo de Maciel e Dornfeld (2019)ao refletirem sobre sua atuação, elas consideram prazeroso ver que é possível um novo modo de fazer em obstetrícia, menos intervencionista, e mais humanizado. A gratificação pessoal existe, quando é visto o resultado por exercer a assistência de forma diferenciada. Os benefícios para o binômio, como a ressignificação do parto, a rápida recuperação no pós parto, a formação de vínculo, promoção do aleitamento materno e maior conforto para as mulheres e famílias. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

O presente estudo mostrou como os profissionais que trabalham em uma maternidade pública de referência no município de João Pessoa-PB interpretam as dificuldades enfrentadas no processo de cuidado à parturiente e suas famílias dentro da instituição. 

Foram evidenciadas as principais problemáticas enfrentadas no cotidiano da assistência, sendo o trabalho do enfermeiro obstetra cercado de muitos desafios. Esses impedimentos envolvem a estrutura física, interferência de outros profissionais, alta demanda, falta de motivação, dentre outros. 

Mesmo com tantos aspectos dificultadores, as enfermeiras obstetras conseguiram identificar cenários positivos, resultantes do seu processo de trabalho, especialmente em relação ao binômio, mãe-bebê. A satisfação segue preservada, sendo um combustível, para persistir na luta em continuar desempenhando esta função que é legítima, e também, transformadora. 

Em meio a todos esses processos, é evidente a importância da inserção do enfermeiro obstetra nos serviços voltados à saúde da mulher, como categoria empoderada e autônoma. A literatura aponta que a atuação dessa classe profissional está relacionada com a redução da morbimortalidade materna e perinatal, a humanização da assistência, satisfação materna, diminuição de procedimentos desnecessários e a desmedicalização do parto. 

Nesse sentido, este trabalho proporcionou o conhecimento das principais dificuldades que a enfermagem obstétrica enfrenta ao realizar sua assistência. Tal discussão possibilita a abertura de caminhos, criação de espaços para construção de diálogos, envolvendo o estímulo, à formação de subsídios e estratégias que possam contribuir para o enfrentamento e superação desta realidade. 

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1Enfermeira pela Universidade Federal da Paraíba (2021). Residente do Programa de Residência Uniprofissional em Enfermagem Obstétrica da Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba com sede na Maternidade Frei Damião/PB. E-mail: mabellypessoa@outlook.com;
2Enfermeira pelo Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ (2019). Especialização em Saúde Pública com ênfase em Estratégia de Saúde da Família pela Faculdade da Região Serrana – FARESE (2021). Residente do Programa de Residência Uniprofissional em Enfermagem Obstétrica da Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba com sede na Maternidade Frei Damião/PB. E-mail: edjafidelis@gmail.com;
3Doutora em Ciências da Saúde pelo Instituto de Ensino EAD Michelle Sales (2021). Mestre em Modelos em Decisão e Saúde pela Universidade Federal da Paraíba (2012). Possui graduação em Enfermagem pela Universidade Federal da Paraíba (2008); Graduação em Licenciatura em Enfermagem pela Universidade Federal da Paraíba (2010). Tutora do Eixo Específico da Residência Uniprofissional em Enfermagem Obstétrica da Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba com sede na Maternidade Frei Damião/PB. E-mail: alinealcorreia1@gmail.com;
4Doutora em Educação pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB (2008); Mestre em Educação pela Universidade Federal da Paraíba (2005); Especialização em Avaliação, Acompanhamento e Monitoramento em Educação na Saúde Coletiva (2017); Graduada em Fisioterapia pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB (1990). Tutora do Eixo Transversal da Residência Uniprofissional em Enfermagem Obstétrica da Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba com sede na Maternidade Frei Damião/PB. E-mail: fisioro9@gmail.com;  
5Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica da Escola de Saúde Pública – ESP/PB (SES- PB). Graduada em Enfermagem (UFRN). E-mail:leticiabrunacari@hotmail.com; 
6Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica da Escola de Saúde Pública – ESP/PB (SES- PB).Graduada em Enfermagem (UFPB). E-mail:alinesanttus@gmail.com; 
7Doutora em Saúde Pública pela FIOCRUZ. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde Pública pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Especialização em Formação Integrada Multiprofissional em Educação Permanente em Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Graduada em Enfermagem pela Faculdade Santa Maria (FSM). Coordenadora da Residência em Enfermagem Obstétrica da Escola de Saúde Pública – ESP/PB (SES-PB). E-mail:seldagsa@gmail.com;
8Especialização em Enfermagem Obstétrica pela FASER. Especialização em Gestão do Trabalho e Educação na Saúde pela FIOCRUZ. Especialização em Linhas de cuidado: Saúde Materna, Neonatal e o Lactente pela UFSC. Especialização em Educação na Saúde para Preceptores SUS, pelo Hospital Sírio Libanês. Graduada em Enfermagem pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Preceptora da Residência Uniprofissional em Enfermagem Obstétrica pela Escola de Saúde Pública – ESP/PB (SES-PB). E-mail: patriciamedranmoreira@hotmail.com;
9Especialização em Enfermagem Obstétrica pela FASER, com aprimoramento para Enfermeiras Obstétricas com enfoque no componente Parto e Nascimento- Rede Cegonha. Especialização em Educação na Saúde para Preceptores SUS, pelo Hospital Sírio Libanês. Graduada em Enfermagem pela Faculdade de Enfermagem Santa Emília de Rodat. Preceptora da Residência Uniprofissional em Enfermagem Obstétrica pela Escola de Saúde Pública – ESP/PB (SES-PB). E-mail: luabodziak@gmail.com; |
10Especialização em Ginecologia e Obstetrícia pela FAMENE. Pós graduanda em Ultrassonografia em Ginecologia e Obstetrícia e Terapeuta Sexual pela Genus. Graduação em Medicina pela FAMENE. E-mail: andreacorreiago@gmail.com