REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10914283
Gisele Santos Alves;
Marcela Vitória Sousa Dias;
Prof. Orientador: Ricardo Yamashita*
RESUMO
Toda gestação compõe um processo biológico natural na vida da mulher. Contudo, ocorrem algumas mudanças fisiológicas no organismo da gestante que refletem também na saúde oral. Alguns estudos comprovam a relação existente entre a saúde bucal e a saúde funcional geral do corpo, bem como os seus efeitos no feto. Portanto, destaca-se a importância do profissional de Odontologia no amparo durante a gestação. O Cirurgião-Dentista não só é responsável pelo acolhimento seguro dessa paciente, mas também deve cuidar com a segurança do embrião, de maneira que o profissional e paciente se sintam tranquilos com qualquer tratamento proposto. Com ênfase nas possíveis evidências abordadas neste estudo, o trabalho propõe abordar, por meio de revisão da literatura, a importância do atendimento odontológico para gestantes frente às alterações e cuidados inerentes a esse período. Todo acompanhamento odontológico da gestante é de suma importância, já que algumas doenças orais podem estar absolutamente ligadas às complicações para o bebê e a mãe.
Palavras-Chave: Odontologia.Saúde Bucal. Gestantes.
ABSTRACT
Every pregnancy is a natural biological process in a woman’s life. However, some physiological changes occur in the pregnant woman’s body that also affect oral health. Some studies prove the relationship between oral health and the general functional health of the body, as well as its effects on the fetus. Therefore, the importance of the Dentistry professional in providing support during pregnancy stands out. The Dental Surgeon is not only responsible for the safe reception of this patient, but must also take care of the embryo’s safety, so that the professional and patient feel at ease with any proposed treatment. With an emphasis on the possible evidence addressed in this study, the work proposes to address, through a literature review, the importance of dental care for pregnant women in light of the changes and care inherent to this period. All dental care for pregnant women is extremely important, as some oral diseases can be absolutely linked to complications for the baby and mother.
Keywords: Dentistry. Oral Health. Pregnant women.
1. INTRODUÇÃO
O período gestacional é um processo fisiológico complexo e constitui uma fase em que a mulher passa por diversas alterações físicas e emocionais. No entanto, é necessário um acompanhamento com um cirurgião dentista durante a gestação para prevenir possíveis doenças como gengivite, periodontite e lesões cariosas. Caso não diagnosticado e tratado, pode gerar complicações tanto para mãe quanto para o feto (BASTIANI et al., 2010).
A manutenção e o acompanhamento de todas as fases da gestação, deve ser incluído nas atividades de rotina da Equipe de Saúde Bucal. Nenhuma necessidade de cuidados em saúde bucal das gestantes deve ser negligenciada pelo cirurgião dentista, pelo medo de se colocar em risco a saúde do bebê. Manter o diálogo constante com o médico obstetra, aliado aos conhecimentos sobre os procedimentos seguros em cada fase da gestação, cada situação específica de gravidez dará ao cirurgião-dentista a segurança necessária para o atendimento e resolução das principais necessidades em saúde bucal das gestantes (Ribeiro, 2019)
As transformações ocorridas no corpo da gestante culminam na criação de condições adversas, assim como alterações bucais, deixando-as mais suscetíveis a cárie e doença periodontal. Dentre as principais alterações bucais pode-se citar: náuseas, aumento da salivação e alterações no periodonto. A união dessas transformações aos hábitos de vida pode resultar no aparecimento ou agravamento de doenças periodontais (Nascimento et al., 2012).
Durante a gestação, existem algumas preocupações e mitos relacionados aos procedimentos odontológicos, como por exemplo o mito da gestante não poder realizar tratamentos durante a gravidez. Cuidar da saúde bucal é essencial, pois afeta a saúde geral da mãe e do bebê, procedimentos não invasivos como profilaxia ou restaurações simples podem ser feitos, já procedimentos invasivos como exodontia e endodontia, devem ser feitos somente em caso de urgência ou após o nascimento. Problemas dentários também estão associados a gestação, o que é um mito, já que as alterações no comportamento da gestante nesse período, como a alimentação mais frequente, podendo estar associada ao aumento de ingestão de alimentos ricos em sacarose juntamente com uma higienização bucal deficiente, alterações hormonais e imunológicas podem agravar a saúde bucal. No entanto é fundamental manter uma boa higiene bucal e visitas regulares ao dentista, para reduzir esses riscos (POLETTO et al., 2008).
A progressão da gengivite é um fator primordial, visto que pode desencadear a periodontite, afetando a gestação com contrações prematuras e prejudicando diretamente o feto com complicações consequentes do parto prematuro, sendo uma delas o baixo peso (RODRIGUES; GUEDES, 2022).
2. CONDUTA DE ATENDIMENTO CLÍNICO DA GESTANTE
A primeira consulta deverá ser consulta de avaliação e de orientações. O cirurgião-dentista deverá realizar avaliação geral da paciente, verificando o período de gestação e as intercorrências obstétricas e clínicas. Caso haja alguma intercorrência, o mesmo deverá entrar em contato com o ginecologista/obstetra responsável e solicitar uma avaliação da gestante e autorização para iniciar o tratamento odontológico, inclusive quanto ao uso de medicamentos e anestésicos. A gestante deverá ser orientada sobre prevenção da cárie, sobre a higiene bucal dela e do bebê, controle da dieta, alterações hormonais e a importância da prevenção de doenças gengivais, para evitar transtornos durante a gestação como parto prematuro e/ou recém-nascido de baixo peso.( Barbosa CC, 2011)
O primeiro trimestre é o período mais crítico da gestação, período da organogênese, pois ocorre o desenvolvimento dos órgãos do embrião. Esse período é considerado critico, devido ao maior risco de aborto espontâneo. Sendo assim, o cirurgião-dentista deve evitar procedimentos odontológicos nesse período, entretanto deve-se fazê-lo quando necessário (Garbin et al., 2011).
O segundo trimestre da gravidez é o momento mais indicado para a realização de alguns atendimentos eletivos (SILVA; STUANI; QUEIROZ, 2006). Durante esse período, a organogênese está completa e o feto já está desenvolvido. A mãe se sente mais confortável do que nos estágios iniciais ou finais de sua gravidez (BRASIL, 2006).
2.1 EXAMES RADIOGRÁFICOS NA GESTANTE
Os exames radiográficos são seguros durante a gestação, pois envolvem uma baixa dose de raios-x, uma exposição breve e a radiação é direcionada apenas para a área examinada. Portanto, o cirurgião dentista deve solicitar caso necessário para um diagnóstico mais preciso, desde que sejam tomadas todas as precauções e métodos de proteção, como filme ultrarrápido, avental de chumbo, protetor de tireoide e evitar repetições por erro de técnica (NASCIMENTO et al.,2012)
Existe um tabu na Odontologia, tanto para a população leiga quanto para alguns profissionais, acerca da realização de radiografias dentárias em mulheres grávidas. Em geral, acredita-se que a radiografia deve ser evitada no primeiro trimestre de gestação, principalmente entre a 4ª e 5ª semanas de gestação, devido a organogênese ser um momento crítico. Porém, se todas as medidas preventivas forem adequadamente adotadas, como uso de avental plumbífero com chumbo e ajuste de dose e duração dos raios-X, não há necessidade de evitar ou adiar os exames radiológicos para o pós-parto, principalmente em situações de urgência odontológica 12,15,16. Os profissionais devem realizar uma anamnese e exame clínico detalhado para evitar ao máximo o erro de técnica, a fim de reduzir as repetições e exposições desnecessárias aos raios-X. Ademais, os profissionais podem lançar mão de filmes/sensores ultrassensíveis, reduzindo o tempo de exposição das pacientes aos raios-X. (Vasconcelos R, 2012).
2.2 TERAPEUTA MEDICAMENTOSA
Os anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs) compreendem uma ampla gama de medicamentos, incluindo ácido acetilsalicílico e ibuprofeno, frequentemente prescritos por cirurgiões-dentistas. No entanto, o ácido acetilsalicílico deve ser administrado com precaução, uma vez que além de potencialmente prolongar o trabalho de parto e inibir a síntese de prostaglandinas relacionadas às contrações uterinas, havendo também evidências que em doses muito elevadas, podem ter efeitos teratogênicos (SILVA; RODRIGUES JUNIOR, 2021).
A prescrição para tais pacientes deve ser realizada de forma racional e cuidadosa, evitando-se desta forma, os efeitos colaterais e as reações adversas. É de extrema importância que o Cirurgião–Dentista, como profissional da saúde, avalie a necessidade, a eficácia e a relação risco/benefício dos medicamentos que podem ser prescritos para tais pacientes, além das alterações corpóreas e bucais decorrentes desta fase (AMADEI et al., 2011).
Torres (2006) considera que o uso dos anestésicos locais em pacientes gestantes deve ser evitado, em especial no primeiro trimestre da gravidez. Embora, caso surja uma urgência e seja realmente necessário a realização do procedimento, indica o uso da lidocaína de forma responsável.
Todavia, Rodrigues et al.(2017) afirmam que deve dar preferência pelas soluções anestésicas que possuem uma maior capacidade de ligação às proteínas plasmáticas, como bupivacaína com 95%, mepivacaína com 77% e lidocaína com 64%, pois estes terão uma menor passagem placentária e consequentemente menor concentração no feto.
3. ALTERAÇÃO ODONTOLÓGICA ORAIS
Silva et al.(2018) têm apontado possíveis relações de risco existentes entre doenças bucais, principalmente doença periodontal e complicações gestacionais, como parto prematuro, nascimento de recém-nascidos de baixo peso e pré eclâmpsia, relacionando estes, com a baixa produção do hormônio progesterona.
O penfigoide gestacional também chamado de herpes gestacional é uma doença autoimune aguda que aparece por volta do segundo trimestre de gestação. Podem surgir desde erupções cutâneas a lesões bucais, como múltiplas bolhas, geralmente hemorrágicas, que evoluem para ulcerações dolorosas. As áreas mais afetadas são: mucosa jugal, palato, língua e gengiva. O tratamento é realizado com corticóides (LASKARIS, 2007; ALEIXO et al., 2010).
O granuloma gravídico é uma condição de alteração frequentemente encontrada durante a gravidez, comum no primeiro trimestre, sendo desencadeado pelo aumento dos níveis hormonais na gestante e a má higiene bucal. É considerado um tumor benigno, conhecido também como granuloma piogênico, apresenta-se 10 como uma lesão circunscrita de cor vermelha, que ocorre na maioria das vezes na região da gengiva na maxila. A remoção cirúrgica é recomendada quando causa problemas de mastigação, dificuldade na higiene bucal ou resulta em ulceração. Caso contrário, os irritantes locais devem ser eliminados, e o tumor deve ser mantido até o pós-parto, quando normalmente ocorre sua remissão espontânea (GUIMARÃES et al, 2021).
4. ATENÇÃO BÁSICA NA GESTAÇÃO
Dentro dos serviços prestados no período pré-natal, inclui o odontológico. Durante a gravidez, a mulher fica temporariamente em risco de alguns problemas bucais devido às alterações fisiológicas que podem ocorrer nesse período. Dessa forma, o pré-natal odontológico é de suma importância, visto que se torna uma medida de promoção da saúde, contribuindo não somente com a estabilidade da saúde bucal, como também na prevenção de futuros problemas sistêmicos (Nogueira, 2018
As ações educativas e preventivas com as futuras mães no período gestacional possuem a finalidade de gerar uma evolução odontológica da saúde oral da gestante e da criança e instituir um novo conceito sobre os atendimentos neste período (ELIAS et al., 2018).
5. CONCLUSÃO
É crucial que o cirurgião-dentista tenha o conhecimento e esteja apto para que o atendimento às gestantes seja realizado de forma mais humana e adequada, já que algumas doenças orais podem estar ligadas na saúde do bebê. Lendas antigas, mitos ainda são os principais motivos para não aceitar o pré-natal odontológico por parte das gestantes. Além disso, o dentista deve ter o conhecimento sobre a terapêutica medicamentosa, prescrição de remédios e uso de anestésicos, além dos exames radiográficos que devem ser respeitados em cada período gestacional.
Portanto, verifica-se a necessidade de educação em saúde com mulheres gestantes (ações preventivas e educativas) como parte do tratamento odontológico para desmistificar a inserção de novos hábitos que resultarão na promoção de saúde bucal da mulher e de seus filhos.
REFERÊNCIAS
AMADEI, S. U.; CARMO, E. ED.; PEREIRA, A. C.; SILVEIRA, V. A. S.; ROCHA, R. F. Prescrição medicamentosa no tratamento odontológico de grávidas e lactantes. Rev. Gaúcha Odontológica, v.59, n.1, p.31-37, 2011.
Barbosa CC. A atenção odontológica à gestante: uma revisão da literatura. NESCON/UFMG – Curso de Especialização em Atenção em Saúde da Família. Belo Horizonte; 2011. 38 p.
BASTINI, C. et al.. Conhecimento das gestantes sobre alterações bucais e tratamento odontológico durante a gravidez. Rev. Odontol. Clín.-Cient., v.9, n.1, p.155-160, 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde bucal. Brasília: Ministério da Saúde, Cadernos de Atenção Básica, n. 17, 2006
ELIAS, R. C. F. et al. Tratamento odontológico durante a gestação: conhecimentos e percepções de estudantes de Odontologia. Rev. da ABENO, v. 18, n. 3, p. 114-126,Nov.-Jun. 2018.
Garbin, Cléa Adas Saliba. et al. (2011) Saúde coletiva: promoção de saúde bucal na gravidez. Rev. Odontol UNESP, Araraquara, v.40, n.4, jul-ago.
GUIMARÃES, K. A. et al. Gestação e Saúde Bucal: Importância do pré-natal odontológico. Res., Soc. and Devel., v. 10, n. 1, p. 4-11, 2021
LASKARIS, G. Doenças da boca: texto e atlas.2a ed. Porto Alegre: Artmed; 2007. p.122-123.
Nascimento, É. P. et al. (2012). Gestantes frente ao tratamento odontológico. ev. bras. Odontol., Rio de Janeiro. 69(1).
NOGUEIRA, Moretti, A. S., Garcia, V. B., Cruz, M. C. C. da, Rolim, V. C. de B., & Sakashita, M. S. (2018). P oo9 -A importância do atendimento odontológico em gestantes.
POLETTO, V. C.; STONA, P.; WEBER, J. B. B.; FRISTSCHE, A. M. G. Atendimento odontológico em gestantes: uma revisão de literatura. Stomatos; v.14, n.26, p.64-75, 2008
Ribeiro, L. P. (2019). Assistência odontológica na gestação(Trabalho de Conclusão de Curso). Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos –UNICEPLAC, Brasília, DF, Brasil.
RODRIGUES, A. M.; GUEDES, C. C. F. V. Correlation of premature births with periodontal diseases. Res. Soc. and Develop., v.11, n.14, p. 4-9, Nov-Dez. 2022
RODRIGUES, F.; MÁRMORA, B.; CARRION, S. J.; REGO, A. E. C.; POSPICH, F. S. Anestesia local em gestantes na odontologia contemporânea. Journal Health NPEPS., v.2, n.1, p.254-271, 2017
SILVA, V. C.; SANTANA, G. S.; QUEIROZ, E. C.; MARTINS, L. F. B. Doenças periodontais na gravidez: revisão de literatura. Rev. Encontro de Extensão, docência e Iniciação científica., v.5, n.1, p.01-04, 2018
TORRES, M. L. A. Toxicidade dos anestésicos locais: o debate continua! Rev Bras Anestesiol, v.56, n.4, p.339-342, 2006.
Vasconcelos R, Vasconcelos M, Mafra R, Queiroz L, Barboza C. Atendimento odontológico a pacientes gestantes: como proceder com segurança. Rev. bras. odontol. 2012
*Docente: ricardo.yamashita@unitpac.edu.br