REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10879750
Alana Silva Estumano
Ariane de Oliveira Benchimol
Ana Cecília Moreira da Silva
Silvana Ribeiro da Silva Lima
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo expor um relato de experiência de uma atividade de extensão, com o tema ‘’Librando com o sorriso nas mãos’’ vinculado ao curso de Odontologia da Faculdade Gamaliel, situada no município de Tucuruí- PA. Tendo como metologia, atividades voltadas para educação em saúde bucal e atendimento odontológico realizadas na Clínica Escola Gamaliel, para a comunidade surda. Detalhamento do caso: atividades educacionais, atendimento odontológico e ações que possam contribuir na promoção e prevenção odontológica voltadas para a comunidade citada anteriomente. Considerações: O atendimento à pessoa surda é um desafio para os profissionais da saúde e para a pessoa surda, logo, a equipe de saúde bucal deve estar organizada e capacitada para atender os usuários com este perfil, a fim de oferecer o cuidado de acordo com sua particularidade e demanda.
Palavra-chave: Comunidade Surda, Saúde bucal, Atenção Odontológica à Pessoa Surda
INTRODUÇÃO
O Ministério da Saúde, por meio da Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência, garante o atendimento destes indivíduos em toda a rede assistencial do sistema único de saúde (SUS). As equipes de saúde devem estar organizadas e capacitadas para atender os usuários com este perfil, a fim de oferecer o cuidado em todos os níveis de atenção (BRASIL, 2010).
No Brasil a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, foi reconhecida em 24 de abril de 2002 como meio legal de comunicação e expressão pela Lei nº 10.436, e é por meio desta que a comunicação dentre a comunidade surda se estabelece (BRASIL, 2002; KOSLOWSK, 2000;).
Rocha GRS, et al. (2021) ressalta que o processo de comunicação na atenção à saúde é imprescindível e para tanto, precisa receber a devida atenção. O autor aponta que o dentista deve ser capaz de se adaptar as realidades vivenciadas, objetivando estabelecer relações de vínculo, promovendo segurança em seu atendimento, de modo que possa permitir que seus pacientes desenvolvam autonomia em seus cuidados em saúde bucal. O paciente com surdez deve desfrutar de todos os benefícios de um cuidado de saúde que tenha as características de resolutividade, humanização e integralidade, e isto só é possível quando todos os indivíduos envolvidos puderem se comunicar de maneira satisfatória.
Há obstáculos existentes, um deles é a barreira linguística que pode afetar significativamente a assistência à saúde, tornando difícil o estabelecimento de uma comunicação adequada, acarretando falta de compreensão entre o profissional e o paciente. Essas barreiras resultam em menor frequência da pessoa surda aos serviços de saúde se compararmos ao número de pessoas ouvintes. Isso se dá por diversos fatores tais como: o medo, a desconfiança; a frustração, além da violência simbólica oriunda da falta de preparo dos profissionais de saúde e falta de conhecimento a respeito deste paciente. Outra questão é a dficuldade em informar seus sintomas ao profissional de saúde, uma vez que este não domina Libras, isso assentua-se quando o paciente surdo não está acompanhado de alguém que o auxile na comunicação.
Desse modo, o objetivo deste trabalho é relatar as experiências de uma atividade de extensão, denominada “Librando com sorriso nas mãos’’ vinculado ao curso de Odontologia da Faculdade Gamaliel, situada no município de Tucuruí- PA, a atividade voltada para educação em saúde bucal e atendimento odontológico realizado na Clínica Escola Gamaliel para a comunidade surda.
RELATO DE EXPERIÊNCIA
A atividade de extensão ‘’Librando com o sorriso nas mãos’’ da disciplina de Libras, coordenada pela professora Silvana Ribeiro, em colaboração com acadêmicos de odontologia, visa incluir a comunidade surda as ações que possam contribuir na promoção e prevenção odontológica. O primeiro encontro para as atividades educacionais foi realizado na biblioteca da faculdade Gamaliel, localizada em Tucuruí-PA no dia 11 de novembro de 2023. O público- alvo foi a comunidade surda com a faixa etária de 8 a 60 anos, residentes do município.
A educação em saúde bucal se deu por meio de palestras educativas com temas de odontologia relevantes, como: Cuidados com a higiene bucal; Escovação correta dos dentes; Uso correto do fio dental; Formação da cárie dentária e, A importância do acompanhamento odontológico. Foram utilizados materiais lúdicos, macromodelos, cartazes autoexplicativos ilustrados, fio dental e creme dental.( imagem 1) As palestras foram realizadas por dois alunos de odontologia, mediada pela professora Silvana Ribeiro, formada em libras, a mesma disponibilizou seus alunos do curso de libras para interpretação dos conteúdos em libras.
Durante a palestra, notamos que o público-alvo apresentou entendimento sobre os assuntos discutidos, mas, que a comunidade surda desconhecia sobre o uso correto do fio dental, quantidade de creme dental, e como ter uma escovação correta.
Durante as discussões abertas após as palestras, relatos de dificuldades ao procurar serviços odontológicos, foram mencionados. Mediante a isso, encaminhamos este público para realizarem consulta odontológica na Clínica Escola Gamaliel.
ATENDIMENTO NA CLÍNICA ESCOLA A COMUNIDADE SURDA
No dia 25 de novembro de 2023, realizamos o primeiro atendimento odontológico a comunidade surda, o ambiente foi decorado com materiais lúdicos para o acolhimento e educação em saúde bucal. A equipe de atendimento foi composta por acadêmicos de odontologia, professores e intérpretes (imagem 3). Neste dia, foi o primeiro contato direto da comunidade surda em uma clínica odontológica atendida pelos acadêmicos. Portanto, neste primeiro momento, o objetivo foi passar segurança e tranquilidade ao paciente para que posteriormente pudéssemos realizar os procedimentos de acordo com cada particularidade.
Radiografia, profilaxia, selante, restauração e extração foram alguns dos procedimentos odontológicos ofertados na Clínica Escola, com objetivo de adequar o meio bucal destes pacientes, foi realizado também uma consulta breve, no ententao, eficaz, para que assim, o paciente não mantivesse a boca aberta por um logo tempo ou que pudesse gerar medo e estresse. ( imagem 3 e 4).
A presença dos intérpretes de libras, foi de grande importância para mediar a comunicação do acadêmico com o paciente, onde foi possível a realização dos procedimentos odontológicos através desta tradução em libras e gestos para que ambos pudessem compreender. (imagem 5).
A capacitação no estudo em libras é de suma importância para o acadêmico e para o dentista, buscando desta forma, a capacitação necessária para dialogar com a pessoa surda. Entende-se que esta ação poderá diminuir os obstáculos impostos pela dificuldade de comunicação, além da promoção da saúde bucal, realizando um correto diagnóstico e consequentemente o melhor tratamento para o paciente.
REFERENCIAL TEORICO
Visto o elevado número de pessoas portadoras de algum tipo de deficiência auditiva no Brasil, quase 170.000 de acordo com o IBGE (2000), faz-se necessário verificar se o atendimento a esta população consegue seguir o preconizado pelo Ministério da Saúde na Política Nacional de Saúde Bucal (2004), ou seja, em primeiro lugar é necessário conhecer as particularidades da identidade e da cultura surda de modo a propiciar o desenvolvimento de habilidades comunicativas e favorecer a relação entre pacientes surdos e médicos/profissionais de saúde
O atendimento à pessoa surda é um desafio para os profissionais da saúde e para o próprio surdo. O uso da linguagem verbal precisa ser substituído por outro recurso de comunicação, a Língua de Sinais. Sendo a LIBRAS a língua pela qual o surdo se expressa, os profissionais da saúde, especialmente os que trabalham em centros especializados na assistência à pessoa surda, como os da Instituição deste estudo, necessitam estudá-la ou pelo menos adquirir noções básicas da Língua de Sinais.
Ao longo dos últimos séculos, as políticas de atenção a pessoas com deficiência têm sofrido significativas alterações na sociedade ocidental. O desenvolvimento de ações em saúde bucal deriva de vários princípios (expressos no texto constitucional – universalidade, integralidade e equidade) nos quais se destaca o acolhimento, que envolve ações que abrangem atos de cuidar, escutar, orientar, atender, encaminhar e acompanhar, que caracterizariam o primeiro ato de cuidado junto aos usuários (BRASIL, 2004).
As doenças bucais são altamente preveníveis, mas é necessário tornar as pessoas aptas para sua prevenção através do conhecimento sobre os fatores de risco, para que possam tornar-se sujeitos no processo de promoção de saúde bucal, o que levará, também, à promoção da saúde geral. Sendo assim, deve- se enfatizar a importância de uma alimentação saudável e técnicas adequadas de higiene (WATT, 2005).
O paciente precisa entender e ser entendido. A confiança no profissional é fundamental, logo comunicar-se é uma forma de inserção no seu mundo. Devem ser utilizados preferencialmente, padrões de procedimentos que facilitem o atendimento, dentre eles etsá a utilização de comunicação não-verbal, para atendimento de pacientes portadores de surdez. Quando um intérprete não estiver disponível, recomenda-se que o profissional esteja no campo visual do paciente e use gestos e expressões faciais, figuras, modelos, diagramas e desenhos que estejam relacionados com a mensagem. Além destas recomendações, é importante também explicar todos os procedimentos antes de iniciá-los. A linguagem corporal e expressões faciais são fundamentais na interação profissional-paciente (FERREIRA; HADDAD, 2007).
Naseribooriabadi T, et al. (2017) enfatiza que as falhas na comunicação da maioria dos profissionais de saúde com os surdos contribuem para o conhecimento limitado que este público tem sobre o processo saúde doença. Este fato, facilita para que a qualidade de vida destes pacientes seja afetada, como a ausência de autonomia para o autocuidado, além de sentirem-se dependentes de um acompanhante para realizar a interpretação de sinais. Silva RM, et al. (2020) corroboram com essas informações ao afirmar em que a dificuldade de comunicação entre dentista e paciente surdo é o maior obstáculo durante o atendimento a este paciente.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a professora Silvana Ribeiro, da qual colaborou e orientou esse projeto juntamente com os acadêmicos de odontologia e nos apresentou uma realidade que reforçam a importância dos cuidados bucais, do apoio de familiares e da escola, a necessidade de formação adequada dos profissionais e a implementação de programas educativos que contemplem as especificidades da pessoa surda.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Diretrizes da política nacional de saúde bucal. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. 16 p.
BRASIL. Política nacional de promoção da saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 60 p.
– (Série B. Textos Básicos de Saúde).
PEREIRA, R. M. et al. Percepção Das Pessoas Surdas Sobre A Comunicação No Atendimento Odontológico. Rev Ciência Plural, v.3, n.2, p.53-72, 2017
CHAVEIRO N, BARBOSA M. A. Assistência ao surdo na área de saúde como fator de inclusão social. Rev Esc Enferm USP. 2005;39(4):417-22.
FERREIRA, M.C.D.; HADDAD, A.S. Deficiências sensoriais e de comunicação. In: HADDAD, A.S. Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais. São Paulo: Santos, 2007, p.253-256.
NASERIBOORIABADI T, et al. Barriers and facilitators of health literacy among deaf individuals: a review article. Iran J Public Health, 2017; 46(11): 1465-74.
SILVA LDA, et al. Percepção do adolescente portador de deficiência auditiva sobre saúde bucal. Rev. Ciênc. Saúde, 2020; 22(2): 40-50
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IGUMA, Andréa; PEREIRA, Claudia Barbosa. Saúde em Libras: vocabulário ilustrado – apoio para atendimento ao paciente surdo. 1ed. São Paulo: Áurea Editora, 2010. 223p
WATT, Richard G. Strategies and approaches in oral disease prevention and health promotion. Bulletin of the World Health Association, v. 83, n9, 2005.