ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM NO CENTRO CIRÚRGICO E SUA RELEVÂNCIA NA OPERAÇÃO SEGURA: UM ESTUDO DE REVISÃO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10864061


Thiago de Sousa Farias1; Raquel Machado Borges2; Raissa da Silva Medeiros3; Márcia Costa da Silva4; Igor Rodrigues da Fonseca5; Romário Alencar Silva6; Evellyn Serra Oliveira7; Marcos Farias Carneiro8; Maria de Fátima Pereira dos Santos9; Glória Aurenir de Lima Lopes Domingos10


INTRODUÇÃO

O centro cirúrgico é a unidade do ambiente hospitalar onde são realizados procedimentos anestésico-cirúrgicos, diagnósticos e terapêuticos, tanto de caráter eletivo quanto emergencial. Esse cenário apresenta uma dinâmica peculiar de assistência em saúde, em função do atendimento a uma variedade de situações e realização de intervenções invasivas que requerem o uso de tecnologias de alta precisão. Além disso, o trabalho no centro cirúrgico é marcado pelo desenvolvimento de práticas complexas e interdisciplinares, com forte dependência da atuação individual de alguns profissionais, mas também a necessidade do trabalho em equipe em condições, muitas vezes, marcadas por pressão e estresse (PANZETTI et al., 2020).

Por essas características, os centros cirúrgicos são considerados cenários de alto risco, extremamente suscetíveis a erros. As complicações cirúrgicas respondem por grande proporção das mortes e danos (temporários ou permanentes) provocados pelo processo assistencial, consideradas evitáveis. Por esse motivo, em 2004, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou uma campanha intitulada “Cirurgias Seguras Salvam Vidas”, como parte da Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, visando despertar a consciência profissional e o comprometimento político para a melhoria da segurança na assistência à saúde, apoiar o desenvolvimento de políticas públicas e a indução de boas práticas assistenciais (ABREU et al., 2019)

 No contexto das organizações de saúde, uma boa prática é aquela que, por meio da correta aplicação de conceitos, técnicas ou procedimentos metodológicos, possui uma fiabilidade comprovada para conduzir a um resultado positivo para o paciente.Para isso, o desenvolvimento de boas práticas em Saúde e Enfermagem requer, além de evidências científicas e fundamentos teóricos, a compreensão do ambiente e contexto em que a assistência é desenvolvida. Também é importante considerar as crenças, os valores e os princípios éticos daqueles que constroem e dos que são alvo das ações e serviços, focando na promoção e melhoria das condições de vida e saúde da população (PASSOS, 2017).

Portanto, a formulação de boas práticas pauta-se na análise das ações desenvolvidas pelos serviços de saúde por meio de um processo de reflexão crítica sobre o que funciona bem em determinada situação. Isso requer pensar a ação, seu porquê e como ela poderia ser mais efetiva. Na busca pela qualidade dos cuidados em saúde, o enfermeiro é um profissional com potencial para desenhar processos de melhoria contínua da assistência, a partir do planejamento de estratégias para diminuição de erros pelos diferentes integrantes da equipe e indicação de boas práticas assistenciais. Essa posição estratégica dos enfermeiros deve-se à proximidade com o paciente e à atuação desses profissionais em praticamente todas as áreas das organizações de saúde, tanto no desenvolvimento de atividades assistenciais quanto em cargos gerenciais (MELO et al., 2022).

Nesse sentido, no contexto do centro cirúrgico, a busca pela segurança e qualidade da assistência no período transoperatório tem se configurado como uma importante atividade gerencial do enfermeiro. A Enfermagem está presente em todas as etapas do período perioperatório, sendo considerada a principal equipe e agente de mudança para a transformação do sistema de saúde, visando torná-lo mais seguro. No ambiente cirúrgico, o enfermeiro tem um papel fundamental em garantir que melhores práticas de cuidado proporcionem a segurança do paciente (BASTOS & CARDOSO, 2020).

Portanto, destaca-se a relevância deste estudo acerca de boas práticas para a segurança do paciente no centro cirúrgico, a partir de recomendações de enfermeiros. Além disso, apesar da extensa produção acadêmica disponível sobre segurança do paciente, uma revisão integrativa sobre as principais temáticas exploradas como medidas preventivas para a segurança do paciente no ambiente hospitalar evidenciou a escassez de estudos relacionados à cirurgia segura (BARBOSA et al., 2018). O objetivo deste estudo é descrever as recomendações de enfermeiros para boas práticas de segurança do paciente em centro cirúrgico.

MÉTODO

Este estudo constitui uma revisão integrativa realizada nos meses de janeiro e fevereiro de 2024, buscando responder a seguinte pergunta norteadora: O que há disponível na literatura científica atual sobre a atuação do enfermeiro na segurança do paciente cirúrgico? Para tanto, foi realizada uma busca de artigos científicos nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS); através dos seguintes descritores: Segurança do Paciente (Patient Safety), Enfermagem Cirúrgica (Surgical Nursing), Centro Cirúrgico (Surgery Center), Enfermagem Perioperatória (Perioperative Nursing).

Tais descritores, antes do início da busca dos artigos, foram verificados na consulta aos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e no Medical Subject Headings (MeSH) e foram cruzados utilizando o indicador AND da seguinte forma: Segurança do Paciente AND Enfermagem Cirúrgica, Segurança do Paciente AND Centro Cirúrgico, Segurança do Paciente AND Centro Cirúrgico AND Enfermagem Perioperatória e Segurança do Paciente AND Enfermagem Cirúrgica.

Os critérios de inclusão estabelecidos foram: artigos disponíveis na íntegra com um recorte temporal de 2020 a 2024, nos idiomas português, inglês e espanhol e que respondessem à pergunta norteadora do estudo. Foram excluídos livros, manuais, dissertações, teses, monografias e relatos de casos e experiências, bem como artigos de revisão.

Os autores definiram as seguintes fases para a realização da revisão integrativa: elaboração da pergunta norteadora; busca/amostragem na literatura e coleta de dados (por três revisores independentes); análise crítica dos estudos incluídos; discussão dos resultados e apresentação da revisão integrativa. 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A história da realização das cirurgias mostra o desenvolvimento do trabalho do enfermeiro de Centro Cirúrgico (CC) que, desde os primórdios, era responsável pelo ambiente seguro, confortável e limpo para o transcorrer do procedimento. As atividades, que antes se resumiam ao auxílio na restrição do paciente e à limpeza e manutenção do ambiente, hoje são focadas na competência técnica – científica de profissionais envolvidos na previsão e provisão de recursos materiais e humanos, no relacionamento multidisciplinar e interdisciplinar e na interação com o paciente e sua família (BIANCHI E LEITE, 2006). 

Diante disso, segundo Bianchi e Leite (2006), na constituição da equipe de Enfermagem, o enfermeiro ocupa tanto a posição de coordenador quanto a de enfermeiro assistencial. Isto porque é ele quem planeja, gerencia, administra e realiza atividades e procedimentos que ocorrem na unidade. Dessa forma, no que diz respeito ao gerenciamento desta unidade, o Enfermeiro deve, cada vez mais, assumir função de líder e coordenador do ambiente, uma vez que é de sua competência prever, prover, implementar, avaliar e controlar os recursos humanos e também os materiais. 

Assim, a qualidade e a eficiência de sua atuação podem ser avaliadas pelo transcorrer do ato anestésico-cirúrgico com o menor risco possível para o paciente e pela satisfação da equipe multidisciplinar em trabalhar nesse setor. Quanto à parte assistencial, a maioria das ações que o enfermeiro realiza é para o paciente, ou seja, desempenha uma assistência indireta, uma vez que a administração dos recursos humanos e materiais como, por exemplo, o agendamento de cirurgias, supervisão dos profissionais da equipe de Enfermagem, provisão de materiais, entre outros, são ações fundamentais para que o procedimento anestésico-cirúrgico ocorra de modo correto e seguro, garantindo ao paciente a preservação e melhor qualidade de vida (FONSECA; PENICHE, 2009). 

Para tanto o enfermeiro deve estar em constante aperfeiçoamento, deve buscar adaptar-se às mudanças tecnocientíficas que vem crescendo com o passar dos tempos. Evidencia-se que o Centro Cirúrgico sofre um aumento exponencial de complexidade tecnológica, científica e de relações humanas, o que exige um novo perfil do enfermeiro desse setor, requer dessa profissional capacitação para implantação de ações que atendam a estas mudanças (PENICHE; ARAÚJO, 2009). 

Segundo Figueiredo, Leite e Machado (2006), o Enfermeiro é um membro importante enquanto integrante da equipe multidisciplinar que atua no Centro Cirúrgico, já que as ações que desempenha são imprescindíveis para que os procedimentos sejam realizados de acordo com as condições ideais, técnicas e assépticas, o que possibilita que o processo anestésico cirúrgico seja desempenhado com sucesso. Tendo o Enfermeiro esta responsabilidade, cabe a ele identificar atividades burocráticas e resolvê-las, assim como supervisionar o trabalho da equipe de Enfermagem e funcionamento dos equipamentos, possibilitando não só a segurança do paciente, como também da equipe como um todo. Diante de tais atribuições, concorda-se com Peniche e Araújo (2009) que para desempenhar seu trabalho no Centro Cirúrgico, o Enfermeiro deve saber conduzir a equipe de Enfermagem, a fim de obter o melhor resultado na assistência, sendo o trabalho em equipe primordial para um bom funcionamento desta unidade. As atribuições do Enfermeiro de Centro Cirúrgico são bastante complexas, remetendo-se a diversas competências, dentre elas: assistencial, administrativa, ensino e pesquisa. 

Indo ao encontro de Guido et al. (2008), o papel assistencial é de suma importância, visto que compete ao Enfermeiro a assistência ao paciente e à família, sendo que a comunicação entre todos os indivíduos envolvidos é fundamental para a continuidade do cuidado de forma individualizada. O papel administrativo do enfermeiro inclui o planejamento, organização, direção, controle e avaliação das ações desenvolvidas naquele local de trabalho, requisitos essenciais para a atuação do Enfermeiro nesse setor. Embora a formação deste profissional seja direcionada para o cuidar, na prática desta unidade cirúrgica identifica-se menor atuação do Enfermeiro na assistência direta, quando comparada à atuação administrativa, a qual envolve inúmeros fatores (GUIDO et al., 2008). 

Assim, esse fato leva os enfermeiros a se preocuparem com sua atuação, gerando inquietação a qual é traduzida, sobretudo, pela inadequação de seu desempenho e insatisfação profissional, associadas a um cenário caracterizado por situações de falta de pessoal e sobrecarga de atividades, as quais são agravantes da insatisfação. Somam-se a essas características, as atribuições do Enfermeiro de Centro Cirúrgico, as quais são extremamente complexas e podem ser percebidas como estressoras pelo profissional, principalmente quando seu trabalho não é reconhecido, seja pela equipe multidisciplinar, pelo paciente e seus familiares (RUTHES e CUNHA, 2007).

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Partindo-se do princípio de que o Enfermeiro é um profissional atuante no período perioperatório, sua prática é desempenhada sistematicamente. O Enfermeiro elabora o levantamento de dados sobre o paciente; coleta e organiza os dados do paciente; estabelece o diagnóstico de enfermagem; desenvolve e implementa um plano de cuidados de enfermagem; e avalia os cuidados em termos dos resultados alcançados pelo paciente.

 Portanto, entende-se que esse processo é utilizado a fim de planejar e implementar a assistência ao paciente cirúrgico, possibilitando o andamento das demandas da unidade e favorecendo a realização dos cuidados de forma individualizada e integral, favorecendo assim, a humanização da assistência de enfermagem.

REFERÊNCIAS

ABREU, I. M., ROCHA, R. C., AVELINO, F. V. S. D., GUIMARÃES, D. B. O., NOGUEIRA, L. T., & MADEIRA, M. Z. de A. (2019). Cultura de segurança do paciente em centro cirúrgico: visão da enfermagem. Revista Gaúcha de Enfermagem, 40(1).

BARBOSA, G. A., LIEBERENZ, L. V. A., & CARVALHO, C. A. (2018). A percepção dos profissionais de enfermagem do centro cirúrgico em relação aos benefícios da implantação do protocolo de cirurgia segura em um hospital filantrópico no município de Sete Lagoas, MG. Revista Brasileira de Ciências Da Vida, 6(3), 1– 15. 

BASTOS, G. S., CARDOSO, M. N., & MENDES, P. DE J. A. (2020). Recolocação da estrutura da central de material e esterilização de um hospital privado de Manaus: relato de experiência. Boletim Informativo Unimotrisaúde Em Sociogerontologia, 21(15), 1–12. 

FIGUEIREDO, Nébia Maria Almeida de; LEITE, Joséte Luiza; MACHADO, Wiliam César Alves. Centro cirúrgico: atuação, intervenção e cuidados de enfermagem. São Caetano do Sul, SP: Yendis, 2006.

FONSECA, Rosa Maria Pelegrini; PENICHE, Aparecida de Cássia Giani. Enfermagem em centro cirúrgico: trinta anos após criação do Sistema de Assistência de Enfermagem Perioperatória. Acta paulista de enfermagem. São Paulo (SP), v.22, n.4, p. 428-433, 2009.

GUIDO, Laura de Azevedo; SZARESKI, Charli- ne; ANDOLHE, Rafaela; ZERBIERI, Fabiana Martins. Competências do Enfermeiro em CC: re- flexões sobre ensino/assistência. Rev. SOBECC, São Paulo, v 13, nº1, p. 16-23, jan/mar 2008. 

MELO, A. V. O. G., NORONHA, R. D. B., & NASCIMENTO, M. A. D. L. (2022). Uso de checklist para assistência segura à criança hospitalizada. Revista Enfermagem UERJ, 30(1), 1–9

NUNES, S.S. M.T. Propostas de Rotinas Fiscalizadoras para Centro Cirúrgico e Unidade de Terapia Intensiva . Florianóplolis: UFSC : 2003. POSSARI, J.F. Centro Cirúrgico : Planejamento, Organização e Gestão. 2ª edição. São Paulo. 86 Iátria, 2004

PANZETTI, T. M. N., SILVA, J. M. L., VASCONCELOS, L. A. DE, ARAÚJO, M. A. DA G., OLIVEIRA, V. M. L. P., CASTILHO, F. DE N. F. DE, OLIVEIRA, J. S., COSTA, T. M., RODRIGUES, R. P., RAMOS, A. M. P. C., & MAIA, G. C. (2020). Adesão da equipe de enfermagem ao protocolo de cirurgia segura. Revista Eletrônica Acervo Saúde, 12(2), e2519.

PASSOS, G. (2017). História e evolução da cirurgia para epilepsia. Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia, 25(34), 1–6


1Acadêmico de Enfermagem pela Universidade Ceuma. E-mail: thiagodesousafarias57@gmail.com. Imperatriz- MA
2Enfermeira pela UEPA- Universidade Estadual do Pará. Imperatriz –MA. enferaquel@msn.com
3Acadêmica de Enfermagem pela Facimp Wyden. Imperatriz/MA. raissaenfer2022@gmail.com
4Enfermeira pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA. São Luís-MA. marcia.mcsilva@hotmail.com
5Enfermeiro pela Facimp Wyden. serafinsarcanjos@hotmail.com. Imperatriz MA
6Enfermeiro pela Facimp Wyden evellyn.serra@discente.ufma.br. São Luiz- MA
7Acadêmica de Enfermagem pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA. São Luís-MA. evellyn.serra@discente.ufma.br
8Acadêmico de Enfermagem pela Facimp Wyden. marcosfariaspsn@hotmail.com. Imperatriz/MA 
9Acadêmica de Enfermagem pela Faculdade Anhanguera. Imperatriz/MA. fatimasantos121996@gmail.com
10Enfermeira pela Faculdade Santa Maria. Cajazeiras- PB. glorialopes2012@hotmail.com