A INFLUÊNCIA DAS POSIÇÕES MATERNAS DURANTE O PARTO NORMAL E SEUS DESFECHOS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10864018


Jéssica de Freitas Soares1; Ana Kelly de Lira Lima2; Vitor Caetano Soares3; Amanda Edwards Borba4; Nayla Santos Cruz5; Rodrigo da Silva Bezerra6; Sabrina do Nascimento Alves Sousa7; Samanta Gabriele dos Santos Rodrigues8; Giuliana Facco Machado9; Carlos Francisco de Melo10; Amanda Sâmara da Silva Rodrigues11; Beatriz Dias de Paula Leite12


RESUMO

Sendo o parto, um momento cujo a parturiente deve ser a protagonista, a posição de parir faz-se um ato de empoderamento que muitas vezes torna-se invalidado. A mulher deve obter-se de conhecimento acerca das diversas posições possíveis e estas posições devem ser orientadas de acordo com as suas influências durante o parto normal. A partir disso, vê-se necessidade de conhecer quais são os fatores de influência que estas posições agregam e seus possíveis desfechos no trabalho de parto, visto como relevante por estar diretamente relacionado ao nível de cuidado na assistência voltada à parturiente e ao bem estar do bebê. Este presente estudo teve como objetivo descrever de acordo com a literatura, a influência das posições maternas durante o parto normal e os seus desfechos. Tratou-se, portanto, de uma revisão integrativa, utilizando-se da estratégia PICo para formulação da questão-norteadora. As buscas foram realizadas por meio das bases de dados MEDLINE, LILACS, BDENF e IBECS, acessadas por meio do Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (CAPES). Após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, resultou-se por fim, em uma amostra de 6 estudos, notando-se assim, a importância do tipo de posição materna aplicada durante o trabalho de parto normal. Observou-se que as posições verticais contribuem para o momento expulsivo do parto, reduzindo assim, a dor durante as contrações uterinas, o tempo de parto e ações intervencionistas. Já as posições supinas e horizontais, provocam maiores ações de intervenções, como as episiotomias, causando maior desconforto para a parturiente. Por fim, concluiu-se primeiramente, que é necessário que as mulheres possam obter-se de tal conhecimento, para estarem em posição de protagonistas durante o parto, ademais, os profissionais devem também, prestar maior assistência a estas mulheres, compreendendo o seu papel de cuidadores, orientando sobre as melhores posições maternas, porém, sempre respeitando a escolha da mulher.

Descritores: Mulheres grávidas; Postura; Parto normal; Complicações obstétricas; Parturientes; Sala de parto.

INTRODUÇÃO

O ato de parir é para a mulher, uma ação que proporciona autonomia e empoderamento em relação ao seu corpo, porém, este ato vem tornando-se cada vez mais regido de instruções que impossibilitam o protagonismo da mulher e entre as ações que envolvem esse protagonismo, a escolha da posição para o momento do parto é imposta a estar, torna-se um ponto a ser analisado para que possa ser descrito a influência que tais posições exercem durante o parto normal (MARTINS; MATTOS; SANTOS, 2016).

Confirmando o que fora dito anteriormente, de acordo com Ferreira, Silva e Pereira (2020), têm-se que o ato de parir foi recebendo ao longo dos anos uma visão de que a mulher não fosse capaz de parir de modo natural, fazendo com que as gestantes estimulando-as a escolher ou aceitar métodos intervencionistas, tornando-se cada vez mais distante da condição de protagonista da cena do parto, insegura, submetendo-se deste modo, a todas as ordens e orientações.

Ademais, os cuidados com as gestantes durante o momento de parto foram mudando ao longo dos anos, antigamente os partos ocorriam em ambiente domiciliar e após a inserção do modelo hospitalocêntrico, muitas gestantes almejavam parir em ambiente hospitalar com a necessidade de buscar métodos que as ajudassem no alívio da dor no parto. Entretanto, com a aplicação das medidas intervencionistas, o parto tornou-se uma experiência de sofrimento à parturiente. Logo, a medicalização do corpo feminino e as práticas intervencionistas desnecessárias comprometem a autonomia e a perspectiva da gestante no que cerne ao processo de parturição (LIMA et al., 2021 ; FERREIRA; SILVA; PEREIRA, 2020).

Em contraponto, de acordo com Sousa et al. (2018), a mulher tem o direito de ser informada sobre as posições de parto e escolher a que achar mais confortável para parir, podendo ser orientadas em diversas posições. Deste modo, as posições maternas, que podem variar entre diversas podendo ser litotômicas ou verticalizadas, necessitam ser descritas, desde a partida de sua escolha até os seus desfechos, para que possa-se concluir a importância da sua influência durante o parto normal.

OBJETIVO

Descrever conforme a literatura, a influência das posições maternas durante o parto normal e os seus desfechos.

MÉTODO

Trata-se de uma revisão integrativa com abordagem qualitativa, realizada a partir de base de dados de origem internacional e nacional, ampliando as diferentes visões de conteúdos sobre determinado tema, possibilitando um levantamento de dados eficaz e diversificado, revisão esta cujo objetivo, segundo Souza, Silva e Carvalho (2010), está na definição de conceitos, revisão de teorias e evidências, e análise de problemas metodológicos de um tópico particular, gerando assim, um panorama compreensível de conceitos que demonstram complexidade, teorias ou problemas de saúde relevantes, tornando-se uma ampla abordagem metodológica.

Diante disto, foi pesquisado quanto a influência das posições maternas durante o parto normal e os seus desfechos, de modo que o embasamento teórico pudesse contribuir a respeito do que fora objetivado no estudo.

Este estudo seguiu as etapas sugeridas por Mendes, Silveira e Galvão (2008), sendo estas: a elaboração do tema e da pergunta-problema para nortear o estudo; a definição dos critérios de inclusão e exclusão; a definição das informações e categorizações dos estudos; a avaliação destes estudos incluídos na revisão; a apresentação e interpretação dos resultados e por fim, a apresentação da revisão.

As referências científicas buscadas foram norteadas pela seguinte pergunta: “Qual a influência das posições maternas durante o parto normal e quais são os seus desfechos?” A questão fundamentou-se na estratégia PICO, cujo P (população): parturientes; I (interesse): influência das posições maternas; Co (contexto): parto normal.

As buscas foram realizadas no mês de junho, nas bases de dados MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), BDENF (Base de Dados em Enfermagem) e IBECS (Índice Bibliográfico Español en Ciencias de la Salud), acessadas por meio do Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (CAPES). Realizou-se uma busca inicial pelos Termos MeSH (Medical Subject Headings) e pelos Termos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), buscando os termos correspondentes aos conceitos implicados na pesquisa, a partir do acrônimo PICO. As equações de buscas foram combinadas com operadores booleanos “OR” e “AND”. Considerando as características de cada base e do índice, as estratégias foram adaptadas a cada uma delas (Quadro 1).

Fonte: Elaborado pelos autores.

Os critérios de inclusão definidos para a busca foram: artigos sobre a temática, que estivessem disponíveis na íntegra, nos idiomas de língua inglesa, portuguesa e/ou espanhola, apresentando no mínimo um dos descritores escolhidos, publicados entre os anos de 2016 e 2021. Deveriam ser excluídos: artigos de revisão e artigos cujo conteúdo não se aproximava do tema sugerido.

Inicialmente a busca resultou em um total de 1919 artigos científicos. Após a identificação dos artigos, os estudos foram submetidos a uma triagem, que incluiu inicialmente a exclusão de 102 artigos duplicados. Após a leitura de títulos e resumos, por dois revisores independentes, foram excluídas 1753 publicações. A final, após a aplicação dos critérios de elegibilidade, obteve-se uma amostra de 6 artigos.

O processo de seleção dos artigos foi ilustrado (Figura 1) de acordo com o Preferred Reporting Items for Systematic Review and Meta-Analyses (PRISMA), para relatar o processo de identificação, seleção, elegibilidade e inclusão. O texto completo dos estudos selecionados foi recuperado e avaliado.

Figura 1 – Fluxograma PRISMA do processo de busca na literatura. Brasil, 2021.

RESULTADOS

Obtiveram-se, portanto, seis artigos para compor esta revisão integrativa. Considera-se então, que a amostra final é constituída de cinco artigos (83,3%) artigos com abordagem qualitativa e um artigo com abordagem quantitativa, tendo sido cinco artigos disponíveis na língua portuguesa e um artigo disponível na língua inglesa. Em relação aos tipos dos estudos presentes nesta revisão, houve predomínio de estudos descritivos-exploratórios.

Os principais achados apontados na literatura podem ser divididos entre: o conhecimento das parturientes acerca das posições maternas e as suas percepções; o poder de decisão das parturientes sobre as posições escolhidas e por fim, sobre a influência que estas posições exercem durante o trabalho de parto normal.

CONHECIMENTO E PERCEPÇÕES DAS PARTURIENTES ACERCA DAS POSIÇÕES MATERNAS

Nesta categoria, têm-se como resultado que as puérperas em sua maioria não possuem um amplo conhecimento a respeito das diversas opções de posições durante o parto normal e este conhecimento deve prover da assistência prestada durante o pré-natal, pois segundo o estudo de Sousa et al. (2018) todas as gestantes afirmaram ter realizado o pré-natal e não conheceram as posições de parto na atenção primária, além do fato de que algumas destas mulheres relataram não possuir conhecimento sobre essas posições no próprio momento de parto.

Segundo Da Silva et al. (2016), o saber das gestantes acerca do posicionamento materno durante o período expulsivo do trabalho de parto normal, apontam para o fato de que as mulheres possuem um conhecimento minimizado apenas às posições verticalizadas e este conhecimento demonstra caráter empírico, advindo de gerações anteriores, demonstrando a ausência de informações sobre a diversidade de posições destinadas a estas puérperas por parte da equipe interdisciplinar na assistência voltada a estas mulheres.

PODER DE DECISÃO DAS PARTURIENTES EM RELAÇÃO A SUA POSIÇÃO MATERNA DURANTE O PARTO NORMAL

Nesta categoria, observou-se nos estudos que a autonomia da parturiente é por muitas vezes reduzida e este fato dá-se pelo que foi dito anteriormente: a ausência de conhecimento sobre as posições maternas.

A pesquisa de Zirr et al. (2018) mostrou que as mulheres que foram instrumentalizadas sobre a importância da liberdade de posição e movimentação durante o trabalho de parto, manifestam maior satisfação de controle sobre o processo de parto, tendo portanto uma melhor vivência da experiência de partejar.

Já na pesquisa de Martins, Mattos e Santos (2016), notaram-se relatos em que a parturiente dialoga a respeito de uma experiência durante o seu parto normal, em que a sua autonomia e o seu poder de escolha não fora respeitado por parte do médico, fazendo com que a sua dor de contração uterina intensifica-se durante o seu trabalho de parto, pela sua posição de escolha ser invalidada.

INFLUÊNCIAS DAS POSIÇÕES MATERNAS DURANTE O PARTO NORMAL

Os estudos evidenciaram que após a inserção da postura vertical, as gestantes relataram experiências positivas. Segundo SOUSA et al. (2018) o parto verticalizado propicia menor duração do trabalho de parto, redução de medidas intervencionistas, diminuição de alterações na frequência cardíaca do recém-nascido e consequentemente, redução da dor ocorridas durante as contrações uterinas em relação aos partos realizados em posições horizontais.

Já na pesquisa de Zileni et al. (2016) a mudança de posições durante o parto colabora na diminuição do trabalho de parto, reduz possíveis complicações, como hemorragias pós parto em que constituem um fator de risco à gestante.

Estas posições, são por maioria das vezes, no momento do parto, orientadas por enfermeiros(as), sendo estes, de acordo com Moura et al. (2020), os profissionais protagonistas do parto humanizado e por este motivo, o enfermeiro deve acolher a mulher da melhor forma para que ela se sinta confortável com a posição orientada, apesar de que, a parturiente pode por algumas situações, preferir parir em posições horizontais, devendo ter a sua escolha respeitada.

DISCUSSÃO

Os resultados descritos a partir da análise dos estudos em questão, têm-se primeiramente que o desconhecimento das gestantes acerca dos seus direitos no processo partejar, aliada a aceitação reduzida pelos profissionais em relação às

suas escolhas durante o parto configuram a prevalência das posições horizontais, sendo estas posições influentes em desfechos indesejáveis durante o trabalho de parto, reforçando ações intervencionistas (SILVA, et al., 2016).

Este fato reforça a ideia de que os profissionais que estão diretamente ligados na assistência da parturiente, devem obter-sem de domínio acerca dos ensinamentos para as mulheres enquanto gestantes e parturientes, empoderando-las visando assim, no seu poder de escolha e no seu papel de protagonista durante o parto, evitando assim, possíveis desfechos negativos e contribuindo para o bem-estar do bebê e da parturiente (MARTINS; MATTOS; SANTOS, 2016).

Além disso, viu-se que é necessário reforçar a prática do parir em posições verticais, sendo elas, posições que evitam diversas intervenções por parte dos profissionais e este fato minimiza, por exemplo, a incidência de episiotomias quando se comparam as posições vertical e supina, causando também, menor incidência de incontinência urinária no pós-parto (Souza, et al., 2018).

Diante disso, os resultados desse estudo mostraram que as mudanças de posições contribuem positivamente na qualidade do parto, pois há diminuição da frequência das contrações uterinas, porém, vale ressaltar que as contrações são mais intensas e mais eficientes. Assim, colabora na redução da duração do período expulsivo e auxilia na descida do feto. Ademais, as posições verticais trazem à tona maior atuação da gestante durante o seu processo de parturição, resgatando a figura feminina como protagonista do seu parto (SILVA et al., 2016 ; ZILENI et al., 2016).

CONCLUSÃO

Conclui-se, portanto, de acordo com este estudo, que as posições maternas possuem grande influência em relação aos desfechos ocorrentes durante o parto normal e tais posições são ocorrentes a determinar do poder de escolha da parturiente ou do profissional presente na assistência do parto. Visto que as mudanças de posições durante o trabalho de parto propiciam maior autonomia e melhor perspectiva da gestante acerca do parto.

Ademais, vale ressaltar, sendo necessário que os profissionais possuam conhecimento sobre determinadas posições para que assim, possam demonstrar melhor cuidado para as parturientes, além de respeitar a autonomia pessoal das mesmas, gerando mudanças em suas percepções.

Por fim, acredita-se que os resultados deste estudo ao descrever acerca de tais influências, poderão agregar nas práticas de assistência pré-natal e na assistência ao parto, haja visto a necessidade, contribuindo assim, para o resgate da autonomia da mulher e do seu empoderamento como protagonista do momento de parto.

REFERÊNCIAS

FERREIRA, M. S. C., SILVA, P. L., PEREIRA, V. B. Um olhar sobre a experiência do parto: trajetória, possibilidades e repercussões. Phenomenological Studies – Revista da Abordagem Gestáltica, v.XXVI, p.416-427, 2020.

LIMA, B. C. A. et al. Nascimentos da cegonha: experiência de puérperas assistidas pela enfermagem obstétrica em Centro de Parto Normal. Rev. Enferm. UFSM, Santa Maria, v.11, p.1-22, 2021.

MARTINS, C. A; MATTOS, D. V; SANTOS, H. F. L. Autonomia da mulher no processo parturitivo. Rev. enferm. UFPE on line, p.4509-4516, dez. 2016.

MENDES; SILVEIRA; GALVÃO. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Rev. Texto & contexto enferm, dez, 2008.

SILVA, L. S. et al. Os saberes das mulheres acerca das diferentes posições de parir: uma contribuição para o cuidar. Rev. Enferm. UFPE on line., Recife, v.10, set, 2016.

SOUSA, J. L. et al. Percepção de puérperas sobre a posição vertical no parto. Rev. baiana enferm., v.32, 2018.

SOUSA, M.T; SILVA, M.D; CARVALHO, R. Revisão integrativa: o que é e como fazer. Rev. Einstein, 2010.

ZILENI, B. D. et al. Malawi women’s knowledge and use of labour and birthing positions: A cross-sectional descriptive survey. Elsevier, 2016.

ZIRR, G. M. et al. Autonomia da mulher no trabalho de parto: contribuições de um grupo de gestantes. REME rev. min. enferm, jan.2019.


1Enfermeira residente em Enfermagem Obstétrica. Recife- PE jessicafreitasenf@gmail.com
2Enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco – Centro Acadêmico de Vitória. Vitória de Santo Antão/PE. anakelly.lima@ufpe.br
3Enfermagem pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB. Guanambi – Bahia . vitor30soares@gmail.com
4Medicina pela UFAM. Manaus/AM. amandaedwards@hotmail.com.br
5Enfermagem pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. Jequié – Ba. naysantoscruz@hotmail.com
6Fisioterapeuta pelo Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU). Caruaru-PE
7Medicina pela UFDPAR. Piripiri- PI.  sabrinanascimentoo604@gmail.com
8Enfermagem pelo Centro Universitário do Norte- UNINORTE. Manaus- AM. samanta.gabriele48@gmail.com
9Medicina pela Faceres. São José do Rio Preto. giulianafaccom@gmail.com
10Enfermagem pela Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia – MG. carlos.melo@ufu.br
11Enfermagem pela Instituição de ensino Universidade Estadual de ciências da saúde de alagoas. Maceió-Alagoas. amandasrodrigues96@outlook.com
12Medicina pela Universidade de Marília- Unimar. Marília- SP. Biadias446@gmail.com