O CONTEXTO DA MULHER EM VIVÊNCIA DE RUA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10855093


Maria Luiza Nunes dos Santos1
Cristina Maria Oliveira Martins Formiga2
Annatércia Áurea da Cruz Ferreira Evaristo3
Luanna Costa Pachêco de Souza4
Uberlândia Islândia Barbosa Dantas de Meneses5
Edilma Martiniano Pereira6
Aline Pacheco Eugênio7
Vanessa Ferreira Duarte8
Alessandra Ferreira Mendes Jiticovski9


RESUMO

Essa pesquisa teve como objetivo identificar os questionamentos supracitados e expor os resultados identificados. Contribuindo diretamente para a área da enfermagem, visto que a mesma atua nos meios de promoção, prevenção e assistência a saúde da população em questão, através do CnaR (Consultório na rua).Neste estudo foi realizado uma revisão integrativa da literatura, por meio de busca de artigos nas bases de dados BVS, SCIELO e LILACS. Busca realizada entre os meses de entre outubro de 2021 e abril de 2022. Diante do exposto, é possível dizer que o impacto do agravante da desigualdade social, reflete veemente no âmbito da saúde. É visto que a população em situação de rua (PSR) enfrenta diversos desafios e vive em modo de sobrevivência. Porém, ao fazer um recorte dessa população com um olhar mais direcionado ao público feminino, constata-se que há um impacto muito maior, visto que alguns processos fisiológicos da mulher, como por exemplo, a menstruação e a gravidez, a torna mais vulnerável além da sua condição de ausência de moradia.

Palavraschave: Mulheres.Gestantes. Risco. Pobreza.

1. INTRODUÇÃO

Em 1948 a Organização Mundial de Saúde (OMS, define saúde não apenas como a ausência de doença, mas como o estado de completo bem-estar físico, mental e social. Até 1988, a saúde não era validada como um direito público subjetivo, sendo vista nos textos constitucionais preexistentes, apenas como mais um serviço público (BRASIL, 2015).  Deste modo, apenas cidadãos que prestavam serviço e contribuíam para a previdência social tinham direito a assistência médica.

No ano de 1988, foi criado e estabelecido pela Constituição Federal Brasileira o Sistema Único de Saúde (SUS), que reconhece a saúde como um direito de todos, sendo dever do estado garantir esse acesso. O SUS conta com alguns princípios como a Universalidade, Equidade e Integralidade que tem por objetivo garantir uma assistência adequada e igualitária para todos os usuários.

A criação e implementação do SUS foi algo de grande impacto na sociedade, pois o sistema conta com diversos programas, ações e políticas de atenção a saúde de diversos grupos de acordo com suas necessidades e/ou particularidades. Dentre esses, a Política Nacional de Atenção Integral a Saúde da Mulher (PNAISM), elaborada no ano de 2004 e tendo como base o Programa de Atenção Integral a Saúde da Mulher (PAISM) elaborada no ano de 1983; A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) que conta, desde o ano de 2011, com a estratégia do Consultório na rua, atendendo desta forma o público que vive em situação de rua com abordagem multiprofissional (BRASIL, 2015).

As pessoas que vivem em situação de rua, devido a diversos fatores como drogas, violência, fome; se tornam mais susceptíveis ao adoecimento e por questões sociais, são usuários que em grande parte das vezes, não procuram o serviço de saúde. Esse público é composto por homens e mulheres adultos, crianças, idosos e gestantes. A estratégia do Consultório na Rua consiste em assistir esse público, prestando toda a assistência necessária, buscando reduzir danos e por em prática os princípios de equidade, universalidade e integralidade incorporados no SUS desde 1988 (HALLAIS; BARROS, 2015).

As mulheres que vivem em situação de rua, enfrentam diversos desafios, além dos problemas que conferem a todo esse público, bem como o enfrentamento da pobreza menstrual e também em processos naturais como a gravidez. A gestação traz consigo uma série de questões a serem avaliadas, como a saúde do feto, a existência de doenças sexualmente transmissíveis na mãe, o uso de drogas e todos os riscos que podem existir, alimentação, histórico de doenças crônicas (SARMENTO, 2020).

Dentre outras questões. As gestantes em situação de vulnerabilidade são acompanhadas pela equipe do Consultório na Rua, onde são orientadas sobre os cuidados necessários a serem tomados dentro do que sua situação permite. Essas mulheres em grande parte das vezes são dependentes de substâncias e tem grandes chances de viverem expostas a um risco de todos os tipos de violência, ao comércio de seu próprio corpo, vítimas da fome, do frio e de todos os outros problemas inseridos no contexto dessa população (ANDRADE et al., 2021).

Diante do exposto, existem questionamentos que precisam ser analisados para que a assistência seja cada vez mais aperfeiçoada e eficaz. Tais como: Qual o perfil geral dessas mulheres que vivem nessa situação de vulnerabilidade? Quais as dificuldades e riscos enfrentados por essa população de modo geral?

Deste modo, essa pesquisa teve como objetivo identificar os questionamentos supracitados e expor os resultados identificados. Contribuindo diretamente para a área da enfermagem, visto que a mesma atua nos meios de promoção, prevenção e assistência a saúde da população em questão, através do CnaR (Consultório na rua).

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA

A população em situação de rua se qualifica como um grupo heterogêneo, que que está vinculado a pobreza extrema, relações familiares e comunitárias bastante frágeis ou corrompidas e moradia não habitual, de modo que, buscam espaços públicos ou áreas deterioradas para esse fim. Essa condição pode ser vista como temporária ou definitiva (LIMA et al., 2021).

O alto número de pessoas em situação de rua está presente em vários países, independentemente de sua fase de desenvolvimento, de seus sistemas econômicos e políticos. Este fato manifesta-se pela inaptidão dos estados em contrapor-se diante da crescente desigualdade social, assim como na falha em oferecer resolução aos problemas subsequentes da imigração e urbanização; e na proteção e assegurando os dos direitos humanos às populações mais vulneráveis (ONU, 2015).

De acordo com a Pesquisa Nacional da População em Situação de Rua, realizada entre agosto de 2007 e março de 2008 pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome em 71 cidades do país (23 capitais e 48 municípios com mais de 300 mil habitantes), foram identificadas 31.922 pessoas em situação de rua maiores de 18 anos. Nessa conjuntura foram levadas em consideração tanto as pessoas que pernoitam em instituições como albergues e casas de passagem, como as que se localizam nas calçadas, praças, rodovias, lugares abandonados, becos e outros (SICARI; ZANELLA, 2015).

O estudou expressou que as causas que levam pessoas a viverem nas vias das cidades são múltiplos. A fragilidade das condições de vida é uma delas, porém recair a compreensão do fenômeno a questões econômicas limita sua compreensão e reduz a complexidade que o conota. De acordo com a pesquisa nacional referenciada, as principais razões relatadas que levaram as pessoas a viver nas ruas se caracterizam por uso abusivo de álcool e outras drogas (35,5%), o desemprego (29,8%) e conflitos familiares (29,1%). A explicação da ida e permanência nas ruas devido a uma escolha pessoal também aparece não de forma frequente e expressiva, porém é uma opção que deve ser considerada. Ao relatarem a escolha como a responsável pela vida nas ruas justifica que a busca pela sensação de liberdade é a principal motivação (BRASIL, 2009).

O Sistema Único de Saúde (SUS) foi desenvolvido e estabelecido pela Constituição Federal Brasileira que identifica a saúde como um direito de todos e dever do estado. Dentro do SUS, existem múltiplos programas, ações e políticas de atenção a saúde de muitos grupos de acordo com suas necessidades e/ou particularidades. Dentre essas, o sistema conta com a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) que conta, desde o ano de 2011, com a estratégia do Consultório na rua, atendendo desta forma o público que vive em situação de rua com abordagem multiprofissional e dessa forma reduzindo os danos decorrentes da situação de alta vulnerabilidade (BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013).

2.2. MULHER EM SITUAÇÃO DE RUA

A expressão ‘situação de rua’ descreve tanto a carência de moradia quanto também descreve um grupo social. A relação limitada entre a negação de direitos e uma identidade social define a ausência de moradia da escassez de outros direitos socioeconômicos. Nesta conjuntura, é normal que as pessoas em situação de rua vivenciem preconceito, exclusão social e criminalização (NARDES; GIONGO, 2020).

No que se trata de mulheres em situação de rua, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, no Brasil, são vistos poucos estudos sobre a temática, mostrando o primórdio de investigações sobre as peculiaridades dessa população. Estima-se que a porcentagem de mulheres em situação de rua seja de 18% no cenário nacional, bastante inferior aos homens (BRASIL, 2008).

A circunstância dessas mulheres e de seus bebês envidencia um mal-estar social baseado nas históricas e desiguais relações de gênero, classe e raça que recaem sobre corpos específicos: mulheres, em sua grande maior parte pretas e pobres, cuja história de vida é marcada por violências estruturais e institucionais (SANTOS et al., 2020).

Refere-se a mulheres que vivem em um profundo quadro de desamparo e desproteção social, desafiando normas instituídas sobre o que é ser mulher e mãe, incitando respostas do Estado (SANTOS et al., 2020). Sarmento (2020) destaca a inexistência de políticas públicas específicas para mulheres em situação de rua, exceto de quando estão grávidas, situação na qual, grande parte das vezes, são designadas a elas ações punitivistas que fidam com a retirada de seus filhos.

As práticas proibicionistas – aí inserido a internação, laqueadura e a separação forçada entre as mulheres e seus bebês –, a principio privativas a algumas capitais brasileiras, se tornaram objeto de denúncias de movimentos sociais associados aos Direitos Humanos, como os movimentos feministas e as universidades. Esses denunciavam que mulheres em situação de rua e, ou, com antecedentes de uso de drogas tinham seus filhos sequestrados ainda nas maternidades e encaminhados para a adoção, pela Justiça, à revelia das mães, mesmo quando estas externavam o desejo pela criança e buscavam meios para garantir a sua criação (SANTOS et al., 2020).

As denúncias expressavam que esse modo de operar é parcial, pois realçava o uso da droga deixando de considerar a história e o contexto de vida dessas mulheres; seletivo, uma vez que as decisões afetavam, em sua grande maioria, corpos de mulheres pretas e pobres em situação de rua, “presas” ao acessarem serviços públicos da assistência social ou da saúde; e moral, levando em consideração que quase nunca essas mesmas decisões levavam em consideração os homens, genitores dos bebês, como parte do processo reprodutivo (Associação Brasileira da Rede UNIDA, BRASIL, 2018).

Nas últimas décadas, essas respostas acarretaram a estruturação de uma rede de cuidado integrada entre atenção básica e saúde mental, com a expansão dos Centros de Atenção Psicossocial e a instituição das equipes de Consultórios na Rua. Em compensação, foram adotadas providências para o enfrentamento do uso de drogas (BRASIL, 2010).

Segundo as políticas existentes no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), gestores e profissionais de saúde são obrigados a estarem atentos às particularidades expressadas por essas gestantes em situação de rua, com propósito de acessibilidade de ações e serviços de saúde. A atenção básica tem como estratégia principal os consultórios na rua que são constituidos por equipes multiprofissionais que executam atividades de saúde de maneira completa, tendo como principal objetivo o cuidado com a referida população, e inserção à saúde (SILVA, 2019).

As equipes multidisciplinares do programa consultório de rua atuam na atenção básica de saúde, ofertando atendimento clínico e psicossocial, promovendo cuidados em saúde para essas gestantes que vivem em uma condição de vulnerabilidade social (SILVA, 2019).

2.3 CONSULTÓRIO NA RUA

O Consultório na Rua (CnaR) é um mecanismo intinerante de saúde que integra a Rede de Atenção Básica e desenvolve ações de atenção psicossocial, devendo seguir os fundamentos e as diretrizes estabelecidas pela Política Nacional de Atenção Básica. Por esta razão, trabalha em conjunto com as unidades básicas de saúde e com os Centros de Atenção Psicossocial, sobrepondo que a assistência e o cuidado sejam realizados no próprio território de rua (HALLAIS; BARROS, 2015).

Por sua vez, a enfermagem no exercício de sua função volta-se a prestar assistência ao indivíduo sadio ou doente, família e comunidade, executando atividades assistenciais, gerenciais, educativas e investigativas para promoção, manutenção e recuperação da saúde individuais e coletivas (MATUMOTO et al., 2011).

Tendo em conta o papel fundamental do enfermeiro na assistência longitudinal desse grupo que expressa alta vulnerabilidade social, este estudo se fundamenta na medida em que traz à tona uma prática do enfermeiro de alta relevância social propensa à qualificação do cuidado e ao resgate da cidadania na perspectiva do acesso universal aos serviços e a atenção à saúde (CARDOSO et al., 2018).

A assistência em saúde ofertada pelo CnaR está canalizada para acolher demandas heterogêneas e complexas, levando em consideração a “saúde não centrada somente na assistência aos doentes, mas, sobretudo, na promoção de saúde e no resgate da qualidade de vida, com intervenção nos fatores que a colocam em risco” incluindo também atendimento para dificuldades ou complicações advindas da exorbitância do álcool e outras drogas (HALLAIS et al., 2015).

2.4. PAPEL DA ENFERMAGEM NO ATENDIMENTO A MULHER EM SITUAÇÃO DE RUA

Estando na rua, a vida da mulher é marcada pela baixa escolaridade; histórico de violência sexual; uso de substâncias psicoativas; ausência no uso de métodos contraceptivos; uso do corpo para conseguir obter dinheiro e/ou drogas, dando-lhes condições mínimas de saúde e sobrevivência (BASTOS; BERTONI, 2014).

Devido das experiências de maus-tratos, discriminação, preconceito, frequentes episódios de abuso sexual e traumas vivenciados desde cedo por essas mulheres, evidencia-se a ausência de procura pelo serviço, contribuindo para uma não adesão às práticas de cuidado em saúde. Nessa perspectiva, é importante que a gestão desse grupo social seja visto sob o ponto de vista da cultura, pela forma, própria, que essas mulheres possuem de conduzir a vida, uma vez que a história e as experiências dessas pessoas precisam ser consideradas, para que assim possam se vincular e obter um acompanhamento mais adequado (OLIVER; CHEFF, 2012).

A dificuldade de acesso aos serviços públicos é uma violação dos direitos das mulheres em situação de rua, e é uma realidade em seu cotidiano. A busca da mulher por esses serviços, é marcada muitas vezes por discriminação, negação, preconceitos e estigmas. Além disso, a exigência de documentações pelas instituições, se constitui como uma barreira no dia-a-dia desse subgrupo (PINTO, 2019).

Esse cenário complexo resulta na necessidade de um cuidado com vistas à promoção da saúde e a prevenção de doenças. Considerando essa possibilidade, a Atenção Primária em Saúde (APS) e os demais elementos da Rede de Atenção à saúde, a exemplo do consultório na rua, se tornam importantes dispositivos de acolhimento desse segmento social (CAMPANELLA, 2020).    

Além da precariedade e vulnerabilidade que mulheres em situação de rua enfrentam durante à gravidez, elas também são estigmatizadas pelas profissionais e tem dificuldades de acesso a uma consulta de pré-natal quando solicitam uma unidade de saúde (BRASIL, 2012).

A APS matricia o consultório na rua, que tem por objetivo oferecer melhor assistência em saúde para a população em situação de rua, inserindo práticas de prevenção de doenças e promoção da saúde, buscando melhorar o acesso dessas pessoas aos serviços de saúde, visando uma melhor qualidade de vida, pautada pelo SUS (LONDERO; CECCIN; BILIBIO, 2014).

Na APS, as consultas de pré-natal são realizadas por enfermeiros. Assim, é importante que este profissional conheça todas as dinâmicas que envolvem o pré-natal, para poder contribuir com ações qualificadas, por meio do vínculo construído entre a gestante e o profissional, visando a prevenção, diagnóstico e tratamento de complicações obstétricas (COSTA, 2013; MARTINELLI et al., 2014).

Para atingir essa qualidade, é muito importante ter dados precoces sobre a gestante em situação de vulnerabilidade social, com o objetivo de fazer promoção e prevenção em saúde. Deste modo, é necessário obter dados acerca do uso de substâncias psicoativas e informá-las sobre as consequências no período gestacional, parto e puerpério, além das alterações fisiológicas decorrentes da gravidez (ARAÚJO et al., 2017).

Posto isto, é importante que os profissionais de saúde, principalmente a(o) enfermeira(o), tenham uma abordagem diferenciada e imparcial frente à gestantes e mães em situação de rua, incentivando o empoderamento e a superação das dificuldades que as impedem de cuidar dos filhos. Portanto, a formação dos profissionais deve considerar uma sensibilidade a essa situação, para que saibam lidar com o estigma, oferecendo tempo para consultas com o objetivo de estabelecer vínculos, confiança e respeito ao encaminhá-las aos grupos de apoio, com mulheres que já passaram por situação semelhante (FORTIN et al., 2014).

3. MÉTODO

Uma revisão integrativa, cujo método se constitui como um instrumento da Prática Baseada em Evidências (PBE), que propicia um acervo de informações fidedignas que podem ser utilizadas para auxiliar a tomada de decisões por parte dos profissionais, tornando as práticas de saúde mais eficientes (OLIVEIRA et al., 2013).

Para composição da revisão integrativa foram trilhadas seis etapas: escolha da temática, definição dos objetivos, seleção das palavras-chave e formulação da questão norteadora da pesquisa; definição da base de dados para busca; estabelecimento dos critérios para seleção da amostra; análise geral dos resultados da busca; construção e preenchimento de um formulário para registro dos dados coletados; análise dos dados e interpretação dos resultados (BEYEA; NICOLL, 2012).

A etapa inicial se constituiu em definir uma temática considerável, os objetivos do estudo, as palavras-chaves, além de erguer o questionamento a ser respondido por meio da coleta dos dados (BEYEA; NICOLL, 2012). Para guiar o estudo, adotou-se a seguinte questão norteadora: quais as evidências disponíveis na literatura sobre o conhecimento científico produzido relacionado com a assistência de enfermagem as mulheres que vivem em situação de rua?    

Na segunda etapa, para coleta de dados foi realizada entre Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Biblioteca Virtual Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Os termos utilizados para a busca foram selecionados a partir dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “MULHERES”, “SAÚDE”, “GESTANTES”, “RISCO” e “POBREZA”. combinados por meio do conector booleano “AND”. Também foi utilizada a palavra-chave “VULNERABILIDADE”.

Como critérios de inclusão dos artigos, durante a terceira etapa, foram definidos: os artigos sobre a temática com textos na íntegra e disponível na Internet; artigos em português e inglês, publicados entre janeiro de 2012 e novembro de 2021. A quarta etapa teve como princípio a análise geral dos resultados da busca. Foi realizada a análise de 20 artigos, sendo excluídos 3, restando 17. A avaliação foi realizada obedecendo 3 etapas: Leitura dos títulos; Leitura dos resumos e leitura do texto na íntegra.

Em seguida, na quinta etapa, onde é recomendada a construção e preenchimento de um formulário para registro dos dados coletados, dez textos foram organizados com as informações desejadas, registrados em um instrumento (formulário), que compôs o banco de dados com: título do estudo; o período, local e idioma de publicação; o país sede do estudo; a amostra, os objetivos, a metodologia empregada; E a assistência de enfermagem frente ao contexto de vulnerabilidade social enfrentado por mulheres.

Por fim, na sexta etapa, para análise dos dados, utilizou-se a análise de conteúdo, com o uso de categorias temáticas, construindo, desta forma, uma análise ampla da literatura. Em seguida foi realizada a exposição dos resultados.

ACRÔNIMODEFINIÇÃODESCRIÇÃO
PPopulaçãoMulher/ gestante
IIntervençãoCriação da PNAB; Consultório na rua
COContextoSituação de rua

Fonte: Dados da pesquisa (2022).

4. RESULTADOS

Inclusão dos estudos

Figura 1 -Diagrama PRISMA dos estudos incluídos na revisão integrativa

5. DESENVOLVIMENTO E DISCUSSÃO

Caracterização dos estudos incluídos

Quadro 1 – Síntese de artigos sobre Florence Nightingale, 2015 a 2019, João Pessoa, Paraíba, Brasil, 2019. (n = 05)

AutorAno de publicaçãoTítuloTipo de estudo  Base de Dados
SANCHOTENE; ANTONI; MUNHÓZ2019MARIA, MARIA: Concepções sobre ser situação de rua.mulher em situação de ruaEstudo exploratório qualitativo descritivoBVS
ESMERALDO; XIMENES2021Mulheres em Situação de Rua: Implicações Psicossociais de Estigmas e PreconceitosPesquisa qualitativaScielo
SANTOS; BAPTISTA; CONSTANTINO2021“De quem é esse bebê?”: desafios para o direito à maternidade de mulheres em situação de ruaRevisão integrativa de literaturaScielo
HALLAIS; BARROS2015Consultório na Rua: visibilidades, invisibilidades e hipervisibilidadePesquisa de campoScielo
ANDRADE et al.2021O acesso aos serviços de saúde pela População em Situação de Rua: uma revisão integrativaRevisão integrativaBVS
CARDOSO et al.2018Desafios e potencialidades do trabalho de Enfermagem em Consultório na RuaPesquisa exploratória qualitativaScielo
FREITAS et al.2019Assistência de enfermagem à mulher em situação de rua no ciclo gravídico-puerperal: Uma revisão de literaturaRevisão de literaturaScielo
ARAUJO et al.2019Integralidade no cuidado de gestantes em situação de ruaRevisão integrativaScielo

Fonte: Dados da pesquisa (2022)

Após a análise da íntegra dos estudos selecionados, foi possível constatar que a desigualdade social é uma problemática social de grande proporção e que gera um impacto direto e de grande intensidade na qualidade de vida das pessoas (HALLAIS; BARROS, 2015).

A população em situação de rua é um grupo heterogêneo, que tem em comum a pobreza, a ruptura ou enfraquecimento dos vínculos familiares, vivência de um processo de desfiliação social por falta de trabalho e moradia. São pessoas que vivem em sua maioria em logradouros públicos, áreas degradadasutilizam albergues para pernoitar (FREITAS et al., 2019). Nesta conjuntura, há um número cada vez maior de pessoas excluídas dos direitos sociais básicos, como saúde, educação, moradia, trabalho, segurança, lazer e outros, e até mesmo dos direitos humanos, com alguns grupos expostos à invisibilidade (ANDRADE et al., 2021).

Diante do exposto, é possível dizer que o impacto do agravante da desigualdade social, reflete veemente no âmbito da saúde. É visto que a população em situação de rua (PSR) enfrenta diversos desafios e vive em modo de sobrevivência. Porém, ao fazer um recorte dessa população com um olhar mais direcionado ao público feminino, constata-se que há um impacto muito maior, visto que alguns processos fisiológicos da mulher, como por exemplo, a menstruação e a gravidez, a torna mais vulnerável além da sua condição de ausência de moradia (ESMERALDO; XIMENES, 2021).

Entre tantos riscos a que a mulher em situação de rua está exposta, a gravidez indesejada é um dos principais e mais incidentes. A falta de contracepção culmina em uma gestação que pode vir a trazer riscos de grande complexidade para a mulher e seu bebê. Visto que o acesso a saúde para a PSR é bastante prejudicado e ineficiente (ARAUJO et al., 2019).

A experiência da maternidade para essas mulheres é extremamente complexa, não apenas pela falta de moradia, mas por todo o cenário, marcado por relações desiguais de classe, raça e gênero (SANTOS; BAPTISTA; CONSTANTINO, 2021).

Constatou-se que as principais concepções sobre ser mulher referem-se às violências a que são submetidas por causa de seu gênero e à impossibilidade de exercer a maternidade da forma idealizada. (SANCHOTENE; ANTONI; MUNHÓZ. 2019). A estratégia do consultório na rua veio como uma tentativa de melhorar a assistência prestada a população que vive em situação de vulnerabilidade, visto que o acesso as portas de entrada do SUS, é bastante comprometido. A procura pelo serviço de forma espontânea é bastante escassa, por razões diversas, tais como o medo, vergonha, ausência de noção sobre os riscos oferecidos pela falta de acesso a saúde, decorrente de baixa escolaridade… Entre outros (CARDOSO, et al., 2018).

A prática do pré-natal é essencial e pode ser feita pelos profissionais atuantes no consultório de rua com apoio de hospitais e maternidades para melhor atender os casos de alto risco. A percepção da gestante, com objetivo de aproximação e vínculo é um ponto crítico e que enfrenta muita resistência, pois é identificado como uma exposição da sua condição de vida (ARAÚJO, et al., 2019). As prerrogativas indicam que estas gestantes, são para lutar e não para proteger. Nessa perspectiva, destaca-se que para a criação de vínculo e acolhimento, é necessário criar um referencial terapêutico, para a prestação de uma assistência efetiva no pré-natal. (ARAÚJO, et al., 2019).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista os aspectos mencionados, é pertinente dizer que o estudo possibilitou analisar que a população em situação de rua é um público de extrema vulnerabilidade social e necessita de um olhar mais responsável e sensível por parte do estado e dos prossionais de sáude.

Como delineações para o desenvolvimento deste projeto, é possível apontar que, embora o tema seja de grande relevância social e científica ainda há uma escassez de estudos acerca do mesmo, por se tratar de um público de difícil acesso e acompanhamento, visto que se trata de pessoas em situação de vulnerabilidade, com ausência de domícilio, um dos requisitos principais para uma supervisão de qualidade na assistência prestada.

Diante do exposto, é possível dizer que o presente estudo contribui de forma enriquecedora não só para enfermagem, mas para todos os profissionais da área da saúde, com ênfase na equipe do CnaR. Visto que, são os responsáveis pela promoção, prevenção e assistência a população em situação de rua. Contudo, destaca-se também o papel fundamental da enfermagem frente a problemática do enfrentamento da gestação da mulher que vive em situação de vulnerabilidade, uma vez que é atribuição do enfermeiro na atenção básica realizar o acompanhamento de gestantes de risco habitual, de maneira holística.

REFERÊNCIAS

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ANDRADE, Rebeca de et alO acesso aos serviços de saúde pela População em Situação de Rua: uma revisão integrativa. 2021. 13 f. TCC (Doutorado) – Curso de Enfermagem, Saúde Debate | Rio de Janeiro, V. 46, N. 132, P. 227-239, Jan-Mar 2022, 1 Universidade Federal de Mato Grosso (Ufmt), Cuiabá Mt, 2021.

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ESMERALDO, Andréa Ferreira Lima; XIMENES, Verônica Morais. Mulheres em Situação de Rua: Implicações Psicossociais de Estigmas e Preconceitos. 2020. 15 f. Tese (Doutorado) – Curso de Psicologia, Universidade Federal do Ceará, Departamento de Psicologia, Ceará, 2020.

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LIMA, Débora Gabrielle da Rocha; SANTOS, Andressa Medeiros dos; MARTINS, Suzane Coelho. Invisíveis a céu aberto: gestante em situação de rua. 2021. 12 f. Tese (Doutorado) – Curso de Enfermagem, Universidade Estácio de Sá, Brasil, Brasil, 2021.

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SANCHOTENE, Iulla Portillo et alMARIA, MARIA: concepções sobre ser mulher em situação de rua. 2019. 15 f. TCC (Graduação) – Curso de Enfermagem, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Porto Alegre, 2019.

SANTANA, Cássia Soares de; FREITAS, Isabella Larissa da Silva; MESQUITA, Keysse Suelen Fidelis de; ARAðJO, Bárbara Régia Oliveira de; MELO, Givânya Bezerra de; ALMEIDA, Ana Valéria Alves de. Assistência de enfermagem à mulher em situação de rua no ciclo gravídico- puerperal: uma revisão de literatura. 2018. 82 f. TCC (Graduação) – Curso de Enfermagem, O Centro Universitário Tiradentes – Unit/Al, Alagoas, 2018.


1 Graduação em Enfermagem. Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ.

2 Graduação em Enfermagem.  Especialização em enfermagem do trabalho. Enfermeira assistencial na Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH.

3 Enfermeira na Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH-HU UNIVASF. Pós Graduação- Especialista em Saúde Pública.

4 Enfermeira na Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH-HU UNIVASF. Residência de Enfermagem em Urgência e Emergência – UNIVASF.

5 Graduada em Enfermagem. Doutoranda em Enfermagem pelo Programa Associado de Pós-graduação em Enfermagem UPE/UEPB. Mestre em Cuidado em Enfermagem e Saúde pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFPB, Especialista em Saúde Coletiva com concentração em Gestão Pública pelo Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da Universidade Federal da Bahia.

6 Especialização em Saúde da Familia.

7 Graduação em Enfermagem. Especialista em Saúde Mental e Saúde da Família.

8 Graduação em Enfermagem. Universidade Federal de Uberlândia. Pós-Graduada em Urgência e Emergência; Unidade de Terapia intensiva. Especialista em Saúde da Família. Supervisora de Enfermagem da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina da Unidade de Atendimento Integrado Dr Domingos Pimentel de Ulhoa.

9 Graduada em Enfermagem. Doutorado em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Uberlândia.