PRESENÇA DE FORAME PARIETAL GIGANTE EM CRÂNIO SECO DE ADULTO: RELATO DE CASO

PRESENCE OF GIANT PARIETAL FORAMEN IN DRY ADULT SKULL: CASE REPORT

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10825685


Iramárya Peixoto Ulisses Bento1, Helida Valéria Rocha Gomes1, Mylena Pereira Pinheiro1, Larissa Andrade Batista1, Rafaela Félix Amorim1, Maria Eduarda Alves de Oliveira1, Ana Luize de Morais Reis1, Débora Kelly Holanda de Sousa1, Maria Eugênia Coelho Oliveira1, Erasmo de Almeida Junior2, Émerson de Oliveira Ferreira2


RELATO DE CASO

Resumo

Um dos segmentos do corpo que apresenta grande variabilidade de suas estruturas é o crânio, inclusive sendo muito utilizado no estudo do dimorfismo sexual em Antropologia Forense. Um dos acidentes anatômicos presente neste segmento são os forames parietais, chamados também de forames emissários, localizados na junção 1/3 média e 1/3 posterior do osso parietal. A frequência do forame parietal bilateral chega a 59% e o diâmetro médio varia entre 0,6mm a 5mm. Se seu diâmetro exceder 5mm, são chamados de forames parietais gigantes. O objetivo do nosso estudo é descrever um caso de forame parietal gigante encontrado em uma Coleção Osteológica da Região Nordeste do Brasil, pertencente ao Centro de Antropologia Forense da FAP-Araripina (PE). Tratava-se do crânio número 170, do sexo masculino, 63 anos, falecido em 2017, que apresentava do lado direito um forame classificado como parietal gigante. Após esta observação, realizamos algumas medidas com relação à esta estrutura. O forame do lado direito apresentou diâmetro longitudinal de 6,8mm, diâmetro transverso de 5,2mm, distância à sutura sagital de 12,0mm e distância à sutura lambdoide de 25,6mm. O esquerdo apresentou as seguintes dimensões: diâmetro longitudinal com 3,5mm, diâmetro transversal com 4,2mm, distância para a sutura sagital com 10,2mm e distância para a sutura lambdoide com 24,8mm. Esperamos que mais estudos sejam realizados em nossa população com relação a esta estrutura.

Palavras-chave: crânio, forame parietal gigante, relato. 

Abstract

One of the segments of the body that presents great variability in its structures is the skull, which is also widely used in the study of sexual dimorphism in Forensic Anthropology. One of the anatomical features present in this segment are the parietal foramina, also called emissary foramina, located at the junction of the middle 1/3 and posterior 1/3 of the parietal bone. The frequency of bilateral parietal foramen reaches 59% and the average diameter varies between 0.6mm and 5mm. If their diameter exceeds 5mm, they are called giant parietal foramina. The objective of our study is to describe a case of giant parietal foramen found in an Osteological Collection in the Northeast Region of Brazil, belonging to the Center for Forensic Anthropology at FAP-Araripina (PE). It was skull number 170, male, 63 years old, deceased in 2017, which presented on the right side a foramen classified as giant parietal. After this observation, we carried out some measurements regarding this structure. The foramen on the right side had a longitudinal diameter of 6.8 mm, a transverse diameter of 5.2 mm, a distance to the sagittal suture of 12.0 mm and a distance to the lambdoid suture of 25.6 mm. The left one had the following dimensions: longitudinal diameter of 3.5 mm, transverse diameter of 4.2 mm, distance to the sagittal suture of 10.2 mm and distance to the lambdoid suture of 24.8 mm. We hope that more studies will be carried out in our population regarding this structure.

Keywords: skull, giant parietal foramen, report.

Introdução

Em Anatomia, variação anatômica é um desvio da morfologia normal de um órgão ou estrutura de um indivíduo que não traz prejuízo à função, podendo ocorrer interna ou externamente. Além disto, existe os fatores gerais de variação do corpo humano que são: idade, sexo, raça, biotipo e evolução, ocorrendo também fatores individuais como impressões digitais e arcadas dentárias (DÂNGELO; FATTINI, 2007). Um dos segmentos do corpo que apresenta grande variabilidade de suas estruturas é o crânio, inclusive sendo muito utilizado no estudo do dimorfismo sexual em Antropologia Forense. Anatomicamente o crânio é dividido em Neurocrânio, com a presença de oito ossos e esplancnocrânio (face) com quatorze ossos. No neurocrânio, um dos ossos encontrados são os parietais, classificados como ossos laminares do tipo díploe, por apresentar duas camadas compactas e uma esponjosa na sua estrutura. Um dos acidentes anatômicos presentes nestes ossos são os forames parietais, chamados também de forames emissários, localizados na junção 1/3 média e 1/3 posterior do osso parietal (MOORE, 2019; MURLIMANJU et al., 2015).Os forames parietais atuam como uma via para as veias emissárias, conectando o seio sagital superior às veias occipitais e, algumas vezes transitam por aí um pequeno ramo da artéria occipital. Esta passagem pode conduzir à propagação de infecções desde a calvária até os seios venosos da duramáter, podendo também aliviar a pressão intracraniana. A frequência do forame parietal bilateral chega a 59% e o diâmetro médio varia entre 0,6mm a 5mm. Se seu diâmetro exceder 5mm, são chamados de forames parietais gigantes ou forames parietalalia permagna. O forame parietal gigante é um defeito na ossificação do osso parietal e os portadores desta variação podem apresentar sintomas como enxaquetas, vômitos e intensa dor quando uma leve pressão for aplicada ao crânio ( MAGALHÃES et al. 2018). O tratamento cirúrgico pode ser necessário quando o diâmetro é muito grande ou quando continua aumentando de tamanho com o crescimento da criança (BENITEZ; SURUR, 2016; KORTESIS et al., 2003). Diante do exposto, o objetivo do nosso estudo é descrever um caso de forame parietal gigante encontrado em uma Coleção Osteológica da Região Nordeste do Brasil.

Relato de caso

Após a análise de 485 crânios secos de adultos, pertencentes ao Centro de Antropologia Forense da FAP-Araripina, localizada no Estado de Pernambuco, com o objetivo de analisar variações do forame parietal com relação a localização, número e distância para outras estruturas, nos deparamos com um tipo especial que nos chamou a atenção.

Tratava-se do crânio número 170, do sexo masculino, 63 anos, falecido em 2017, que apresentava do lado direito um forame classificado como parietal gigante. Após esta observação, realizamos algumas medidas com relação à esta estrutura. O forame do lado direito apresentou diâmetro longitudinal de 6,8mm, diâmetro transverso de 5,2mm, distância à sutura sagital de 12,0mm e distância à sutura lambdoide de 25,6mm. O esquerdo apresentou as seguintes dimensões: diâmetro longitudinal com 3,5mm, diâmetro transversal com 4,2mm, distância para a sutura sagital com 10,2mm e distância para a sutura lambdoide com 24,8mm. A distância entre os dois forames partindo da borda medial de ambos os forames foi de 22,0mm. Após realizar as mensurações foram feitas fotografias do crânio em estudo (Figuras 1 e 2).

Figura 1. Forame parietal de tamanho normal.

Fonte: acervo pessoal (FAP-Araripina)

Figura 2. Forame parietal gigante.

Fonte: acervo pessoal (FAP-Araripina)

Discussão

Alguns estudos têm sido realizados com relação a este tema. No Departamento de Coleta de Ossos Humanos da Universidade Federal de Pernambuco, Magalhães et al. (2017) após analisar 105 esqueletos, encontrara, dois crânios com a presença de forames parietais gigantes, um de 96 anos e outro de 81 anos. Em um dos crânios o forame parietal apresentou comprimento sagital de 5,5mm e largura de 3,1mm. No segundo crânio as medidas foram: comprimento sagital de 5,0mm e largura com 3,4mm. O nosso estudo apresentou o forame com dimensões maiores do que estes dois. Um caso bem interessante de forame parietal gigante foi descrito por Dharwal (2012). Neste relato os forames se apresentaram com dimensões bem altas, ou seja, o forame direito apresentou comprimento de 17,3mm e largura de 27,6mm. O do lado esquerdo com comprimento de 15,3mm e largura de 25,4mm, realmente muito grandes. Outro caso interessante foi descrito por Tubbs, Smyth e Oakes (2003), que após analisarem mais de 500 crânios secos, encontraram dois crânios apresentando forames parietais normais e forames parietais gigantes nos mesmos crânios. Analisando fósseis humanos do Pleistoceno, Wu, Xing e Trinkaus (2012) encontraram um crânio apresentando forame parietal gigante único. Kortesis et al. (2003) afirmam que a prevalência de forame parietal gigante vai de 1-15000 a 1-25000. Os mesmos relatam tratamento cirúrgico em dois bebês com o objetivo de reduzir o forame parietal gigante. Em um deles foi realizado enxerto ósseo autólogo de calvária e em outro o tratamento foi realizado com sistema de malha e hidroxiapatita, não havendo complicações em nenhum dos dois. Com relação a prevalência ela se apresenta muito baixa, após levantamento de 485 crânios em nosso estudo, verificamos a presença de apenas 1 caso. 

Conclusão

O forame parietal quando excede em seu diâmetro 5mm é denominado de forame parietal gigante. A causa é um defeito na ossificação do osso parietal e os portadores desta variação podem apresentar sintomas como enxaquetas, vômitos e intensa dor quando uma leve pressão for aplicada ao crânio. Quando o tamanho é muito grande normalmente o tratamento é cirúrgico. Dada a importância desta estrutura, esperamos que mais estudos sejam realizados em nossa população. 

Referências Bibliográficas

BENÍTEZ, D.A.; SURUR,A. Agujeros parietales gigantes. Revista Argentina de Radiologia, v.80, n.2, p.140-141, 2016.

DÂNGELO, J.G.; FATTINI, C.A. Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar. 2ª ed. São Paulo: Atheneu; 2007.

DHARWAL, K. Foramina parietalia permagna: the ins ando uts? Folia Morphol., v. 71, n.2, p. 78-81, 2012.

KORTESIS, B. et al. Surgical management of foramina parietalia permagna. J Craniofac Surg., v. 14, n. 4, p. 538-44, 2003.

MAGALHÃES, C.P. et al. Existence of enlarged parietal foramina in boné collections. Journal of Morphological Sciences, v. 35, n. 2, p. 125-128, 2018.

MOORE, K.L. Anatomia orientada para a clínica. 8 Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. 

MURLIMANJU, B.V. et al. Morphology and topography of the parietal emissary foramina in South Indians: na anatomical study. Anat Cell Biol., v. 48, n. 4, p. 292-298, 2015.

TUBBS, R.S.; SMYTH, M.D.; OAKES, W.J. Parietal foramina are  not synonymous with giant parietal foramina. Pediatric Neurosurgery, v. 39, n.4, p. 216-217, 2003. 

WU, XIN-JIE; XING, S.; TRINKAUS, E. Na enlarged parietal foramen in the late archaie xujiayao 11 neurocranium from Northern China, and rare anomalies among Pleistocene Homo. plos one, v.8, n.3, 2012.


1Graduandos do Curso de Medicina da FAP-Araripina (PE)

2Docentes do Curso de Medicina da FAP-Araripina (PE)