REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10827333
Júlia Nagano Bezerra1
Chimene Kunn2
RESUMO
O autismo é um transtorno complexo que desafia a sociedade e os sistemas de saúde em todo o mundo. Nos últimos anos, as pesquisas em genética e epigenética têm fornecido insights valiosos sobre suas bases biológicas. Este estudo busca compreender as implicações clínicas dessas descobertas, visando aprimorar o diagnóstico, tratamento e intervenção para indivíduos autistas. Além disso, discutirá as considerações éticas e sociais associadas a esse avanço científico, ressaltando a importância da colaboração interdisciplinar e do envolvimento da comunidade. O autismo é um transtorno complexo que desafia a sociedade e os sistemas de saúde em todo o mundo. Nos últimos anos, as pesquisas em genética e epigenética têm fornecido insights valiosos sobre suas bases biológicas. Este estudo busca compreender as implicações clínicas dessas descobertas, visando aprimorar o diagnóstico, tratamento e intervenção para indivíduos autistas. Além disso, discutirá as considerações éticas e sociais associadas a esse avanço científico, ressaltando a importância da colaboração interdisciplinar e do envolvimento da comunidade.
Palavras-chave: Autismo. Epigenética. Genética. TEA.
ABSTRACT
Autism is a complex disorder that challenges society and healthcare systems around the world. In recent years, research in genetics and epigenetics has provided valuable insights into their biological basis. This study seeks to understand the clinical implications of these findings, aiming to improve diagnosis, treatment and intervention for autistic individuals. Additionally, it will discuss the ethical and social considerations associated with this scientific advancement, highlighting the importance of interdisciplinary collaboration and community involvement. Autism is a complex disorder that challenges society and healthcare systems around the world. In recent years, research in genetics and epigenetics has provided valuable insights into their biological basis. This study seeks to understand the clinical implications of these findings, aiming to improve diagnosis, treatment and intervention for autistic individuals. Additionally, it will discuss the ethical and social considerations associated with this scientific advancement, highlighting the importance of interdisciplinary collaboration and community involvement.
Keywords: Autism. Epigenetics. Genetics. TEA.
1 INTRODUÇÃO
O autismo, um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por déficits na comunicação social, padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades, representa um desafio significativo para a sociedade e os sistemas de saúde em todo o mundo (MAENNER et al., 2020). A complexidade desse transtorno, aliada à sua alta variabilidade fenotípica e multifatorialidade, tem estimulado uma busca incessante por respostas em várias áreas da ciência (ALMEIDA, GIODANI, et. al).
Nos últimos anos, a pesquisa em genética e epigenética emergiu como uma fonte crucial de insights sobre as bases biológicas do autismo. Estudos genômicos têm identificado uma ampla gama de variantes genéticas associadas ao autismo, incluindo mutações de novo, variações no número de cópias de genes, polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs) e fatores de risco hereditários. Ao mesmo tempo, a investigação epigenética tem revelado modificações no padrão de expressão gênica e na metilação do DNA que podem influenciar o desenvolvimento e funcionamento do cérebro em indivíduos autistas (GUPTA, STATE).
A escolha deste tema se justifica pela necessidade de compreender mais profundamente as implicações clínicas dessas descobertas em genética e epigenética do autismo. À medida que avançamos no entendimento das bases biológicas desse transtorno, surge a oportunidade de traduzir essas descobertas em estratégias mais eficazes de diagnóstico, tratamento e intervenção para indivíduos afetados. Além disso, o aprofundamento do conhecimento sobre os aspectos genéticos e epigenéticos do autismo pode abrir novas perspectivas para o desenvolvimento de terapias personalizadas e abordagens preventivas.
Ao longo deste trabalho, nosso objetivo é explorar as implicações clínicas das descobertas em genética e epigenética do autismo. Investigaremos como essas descobertas podem informar a prática clínica, influenciando a identificação precoce de indivíduos em risco, a seleção de intervenções terapêuticas e o aconselhamento genético para famílias afetadas. Além disso, discutiremos as considerações éticas e sociais associadas ao avanço do conhecimento científico sobre o autismo, destacando a importância da colaboração interdisciplinar e do engajamento da comunidade no enfrentamento desse desafio complexo.
2 REFERENCIAL TEORICO
2.1 Autismo: Definição e Características
O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a forma como uma pessoa se comunica, interage socialmente e processa informações. É caracterizado por uma gama de desafios comportamentais e cognitivos que podem variar de leve a grave. A definição oficial de autismo mudou ao longo do tempo, com a última edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) consolidando os transtornos do espectro do autismo (TEA) sob uma única categoria diagnóstica (MSD, 2022).
Características do Autismo
Déficits na Comunicação: Indivíduos com autismo podem ter dificuldades na comunicação verbal e não verbal. Isso pode incluir atrasos na linguagem, dificuldade em iniciar ou manter conversas e uso repetitivo de linguagem (GESHHWIND, 2011).
Dificuldades na Interação Social: Pessoas com autismo podem ter dificuldades em entender e responder aos sinais sociais convencionais. Isso pode se manifestar como dificuldade em fazer amigos, falta de interesse em compartilhar experiências sociais e dificuldade em entender emoções e intenções dos outros (MSD, 2022).
Comportamentos Repetitivos e Interesses Restritos: Um dos sinais característicos do autismo são os comportamentos repetitivos e padrões de interesse restritos. Isso pode incluir movimentos repetitivos (como balançar as mãos), fixações em objetos ou tópicos específicos e adesão rígida a rotinas (LAI et al,. 2008).
Sensibilidades Sensoriais: Muitas pessoas com autismo têm sensibilidades sensoriais incomuns, o que significa que podem ser hipersensíveis ou hipoativas a estímulos sensoriais como luz, som, textura e sabor.
Variação na Gravidade dos Sintomas: O autismo é um transtorno altamente variável, com alguns indivíduos exibindo sintomas leves que podem passar despercebidos, enquanto outros apresentam dificuldades significativas que afetam sua qualidade de vida e funcionamento diário (MSD, 2022).
Outras Características: Além das características principais mencionadas acima, o autismo pode estar associado a uma série de outros sintomas, incluindo dificuldades de sono, ansiedade, impulsividade e desafios na motricidade.
Essas características podem se manifestar de maneira única em cada pessoa com autismo, resultando em um espectro amplo de habilidades e desafios (LORD et al., 2020).
2.2 Bases Genéticas do Autismo
2.2.1 Hereditariedade do Autismo
O autismo tem uma forte base genética, com estudos indicando que fatores genéticos desempenham um papel significativo na suscetibilidade ao transtorno. Pesquisas sugerem que o autismo é altamente hereditário, com uma forte influência de predisposição genética (GUTA; STATE, 2006).
2.2.2 Estudos de Família e Gêmeos
Estudos de família e gêmeos têm sido fundamentais para entender a contribuição dos fatores genéticos no autismo. Descobriu-se que familiares de indivíduos autistas têm uma probabilidade aumentada de desenvolver o transtorno, em comparação com a população geral. Além disso, estudos com gêmeos idênticos (monozigóticos) revelaram uma concordância significativamente maior para o autismo em comparação com gêmeos não idênticos (dizigóticos), indicando uma forte influência genética.
2.2.3 Variações Genéticas Associadas ao Autismo
Avanços na tecnologia genômica permitiram a identificação de várias variações genéticas associadas ao autismo. Isso inclui variantes de genes específicos, deleções ou duplicações em certas regiões do genoma, bem como mutações genéticas raras. Estudos de associação genômica ampla (GWAS) e análises de exoma têm ajudado a identificar genes candidatos e loci genéticos que podem estar envolvidos no desenvolvimento do autismo (GUTA; STATE, 2006)
2.2.4 Modelos Genéticos do Autismo
Além de estudos em humanos, modelos genéticos em animais, como camundongos e macacos, têm sido úteis para estudar as bases genéticas do autismo. Esses modelos permitem aos pesquisadores investigar como as mutações genéticas específicas afetam o desenvolvimento cerebral, comportamento social e outras características associadas ao autismo (Carvalheira; Vergani; Brunoni, 2004).
2.2.5 Complexidade Genética e Heterogeneidade do Autismo
Embora a base genética do autismo seja complexa, com múltiplos genes contribuindo para o risco, também há uma considerável heterogeneidade genética. Isso significa que diferentes indivíduos com autismo podem ter mutações genéticas diferentes, contribuindo para a variabilidade na apresentação clínica do transtorno.
2.3 Epigenética: Conceitos Fundamentais
2.3.1 Definição de Epigenética
A epigenética refere-se aos processos regulatórios que influenciam a expressão gênica sem alterar a sequência do DNA. Em vez disso, a epigenética envolve modificações químicas nas histonas (proteínas que ajudam a estruturar o DNA) e no próprio DNA, que podem afetar a forma como os genes são ativados ou silenciados.
2.3.2 Marcadores Epigenéticos
Os principais marcadores epigenéticos incluem modificações como metilação do DNA, acetilação de histonas, metilação de histonas e RNA não codificante. Essas modificações desempenham um papel crucial na regulação da expressão gênica, determinando quais genes estão ativos ou inativos em diferentes tipos de células e em diferentes condições ambientais (PAIVA, RESENDE, OLIVEIRA, 2019).
2.3.3 Metilação do DNA
A metilação do DNA é uma modificação epigenética comum que envolve a adição de grupos metila (-CH3) às bases de citosina no DNA. Essa modificação geralmente resulta na supressão da expressão gênica, bloqueando o acesso aos fatores de transcrição e recrutando proteínas de ligação à metilação (PAIVA, RESENDE, OLIVEIRA, 2019).
2.3.4 Acetilação de Histonas
A acetilação de histonas envolve a adição de grupos acetila (-COCH3) às histonas, relaxando a estrutura da cromatina e permitindo o acesso aos genes para transcrição. Isso geralmente leva à ativação da expressão gênica (ZAZULA, 2021)
2.3.5 Importância da Epigenética no Desenvolvimento e Doenças
A epigenética desempenha um papel crucial no desenvolvimento normal, diferenciando células especializadas em diferentes tecidos e órgãos. Além disso, mudanças epigenéticas podem estar envolvidas na patogênese de várias doenças, incluindo câncer, distúrbios neuropsiquiátricos e transtornos do neurodesenvolvimento, como o autismo (ZAZULA, 2021).
2.3.6 Interseção entre Genética e Epigenética no Autismo
Estudos recentes têm explorado a interação complexa entre fatores genéticos e epigenéticos no autismo. Descobertas sugerem que alterações epigenéticas, como mudanças na metilação do DNA, podem influenciar a expressão gênica em genes associados ao autismo, contribuindo para sua etiologia e fenótipo clínico.
2.4 Epigenética e Autismo
2.4.1 Alterações Epigenéticas no Autismo
Estudos recentes têm identificado várias alterações epigenéticas associadas ao autismo. Isso inclui mudanças na metilação do DNA, acetilação de histonas e expressão de microRNAs em pacientes com autismo em comparação com controles saudáveis. Essas alterações podem ocorrer em genes envolvidos em processos neurais importantes, como diferenciação celular, migração neuronal, sinaptogênese e plasticidade sináptica (CORREIA; CUNHA, ANDRADE, et al, 2021).
2.4.2 Metilação do DNA e Autismo
A metilação do DNA é uma das modificações epigenéticas mais estudadas no contexto do autismo. Vários estudos identificaram padrões anormais de metilação do DNA em genes associados ao desenvolvimento do sistema nervoso e comunicação neuronal. Essas mudanças na metilação do DNA podem afetar a expressão gênica e contribuir para as características clínicas do autismo, como dificuldades de comunicação, interação social e padrões de comportamento repetitivos.
2.4.3 Acetilação de Histonas e Autismo
Além da metilação do DNA, alterações na acetilação de histonas também foram implicadas no autismo. A acetilação de histonas está envolvida na regulação da expressão gênica, e desregulações nesses processos podem afetar a função cerebral e o desenvolvimento neuronal. Estudos têm demonstrado associações entre modificações na acetilação de histonas e sintomas autistas, destacando o papel da epigenética na patogênese do transtorno (CORREIA; CUNHA, ANDRADE, et al, 2021).
2.4.4 MicroRNAs e Autismo
Os microRNAs (miRNAs) são pequenas moléculas de RNA que regulam a expressão gênica pós-transcricionalmente. Disfunções na expressão de miRNAs têm sido observadas em indivíduos com autismo e podem influenciar o desenvolvimento cerebral e a plasticidade sináptica. Estudos têm identificado perfis de expressão alterados de miRNAs em regiões cerebrais relevantes para o autismo, sugerindo um papel importante dessas moléculas na etiologia do transtorno.
2.4.5 Implicações Clínicas e Terapêuticas
Compreender as bases epigenéticas do autismo tem importantes implicações clínicas e terapêuticas. O conhecimento desses mecanismos epigenéticos pode informar o desenvolvimento de novas abordagens diagnósticas e terapêuticas personalizadas para o autismo. Além disso, a identificação de biomarcadores epigenéticos pode facilitar o diagnóstico precoce e o monitoramento do progresso do tratamento em pacientes com autismo.
2.5 Interseção entre Genética e Epigenética no Autismo
2.5.1 Influência Genética na Regulação Epigenética
Estudos têm demonstrado que fatores genéticos podem influenciar a regulação dos processos epigenéticos envolvidos no autismo. Variantes genéticas associadas ao autismo, como mutações em genes reguladores da metilação do DNA ou da acetilação de histonas, podem alterar a dinâmica epigenética e contribuir para as características clínicas do transtorno (ZANOLLA; FOCK, PERRONE, et al, 2015).
2.5.2 Epigenética como Mecanismo de Modulação da Expressão Gênica
A epigenética desempenha um papel fundamental na modulação da expressão gênica ao longo do desenvolvimento neural. Alterações epigenéticas podem ativar ou silenciar genes envolvidos em processos neurobiológicos críticos, como a diferenciação neuronal, migração celular, formação de sinapses e plasticidade sináptica. Essa regulação fina da expressão gênica é essencial para o desenvolvimento e funcionamento adequado do cérebro e pode ser afetada por fatores genéticos e ambientais (ZANOLLA; FOCK, PERRONE, et al, 2015).
2.5.3 Interação entre Fatores Genéticos e Ambientais na Epigenética do Autismo
Além das influências genéticas, fatores ambientais também podem modular os padrões epigenéticos associados ao autismo. Exposição a toxinas ambientais, estresse, dieta e outros estímulos podem alterar a metilação do DNA, a acetilação de histonas e a expressão de microRNAs em regiões cerebrais relevantes para o autismo. Essas mudanças epigenéticas podem contribuir para a patogênese do transtorno e modular a expressão fenotípica do autismo em indivíduos suscetíveis geneticamente.
2.5.4 Implicações para o Desenvolvimento de Terapias Personalizadas
A compreensão da interseção entre genética e epigenética no autismo tem importantes implicações para o desenvolvimento de terapias personalizadas. Abordagens terapêuticas que visam modular os processos epigenéticos afetados em pacientes com autismo podem oferecer novas oportunidades de tratamento. Além disso, a identificação de perfis epigenéticos específicos pode permitir a estratificação de pacientes com base em suas características moleculares, levando a uma abordagem mais precisa e eficaz no tratamento do transtorno.
2.6 Desafios e Avanços na Pesquisa
2.6.1 Heterogeneidade Genética e Epigenética
Um dos principais desafios na pesquisa sobre genética e epigenética do autismo é a considerável heterogeneidade observada tanto no nível genético quanto epigenético. A complexidade e diversidade das alterações genéticas e epigenéticas entre os indivíduos com autismo dificultam a identificação de padrões consistentes e a compreensão abrangente dos mecanismos subjacentes ao transtorno (GOMES, 2020).
2.6.2 Integração de Dados Genômicos e Epigenômicos
Avanços tecnológicos na área da genômica e epigenômica têm permitido a geração de grandes conjuntos de dados em larga escala. No entanto, a integração e análise desses dados de forma abrangente representam um desafio significativo. A compreensão dos complexos sistemas biológicos envolvidos no autismo requer abordagens integradas que combinem informações genéticas e epigenéticas, bem como dados clínicos e funcionais. (GOMES, 2020).
2.6.3 Identificação de Biomarcadores
A identificação de biomarcadores genéticos e epigenéticos precisos e específicos para o autismo é crucial para o desenvolvimento de métodos de diagnóstico precoce, estratificação de pacientes e monitoramento da progressão do transtorno. No entanto, a busca por biomarcadores robustos enfrenta desafios relacionados à heterogeneidade do autismo e à variabilidade entre os indivíduos (LAVOR; LOPES, DAMACENO, et al, 2021).
2.6.4 Avanços em Modelos Experimentais
Avanços na geração de modelos experimentais, incluindo modelos celulares e animais, têm proporcionado insights valiosos sobre os mecanismos genéticos e epigenéticos do autismo. Modelos que recapitulam aspectos específicos do transtorno têm sido instrumental na investigação dos processos patofisiológicos subjacentes e na avaliação de terapias potenciais (LAVOR; LOPES, DAMACENO, et al, 2021).
2.6.5 Perspectivas Futuras e Implicações Clínicas
Apesar dos desafios, os avanços na pesquisa genética e epigenética do autismo oferecem perspectivas promissoras para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas e estratégias de intervenção. A compreensão mais profunda dos mecanismos moleculares envolvidos no transtorno pode levar a intervenções mais direcionadas e personalizadas, melhorando assim os resultados clínicos e a qualidade de vida dos indivíduos afetados (MUOTRI, 2020).
2.7 Perspectivas Futuras e Implicações Clínicas
2.7.1 Terapias Direcionadas
Com o avanço contínuo na compreensão dos mecanismos genéticos e epigenéticos do autismo, há uma crescente ênfase no desenvolvimento de terapias direcionadas. Terapias farmacológicas, baseadas em intervenções genéticas e epigenéticas específicas, estão sendo exploradas como potenciais abordagens para modular os circuitos neuronais afetados pelo ttranstorno. (PESSOA, 2022).
2.7.2 Diagnóstico Precoce e Personalizado
O conhecimento aprofundado das bases genéticas e epigenéticas do autismo tem o potencial de revolucionar o diagnóstico precoce e personalizado. Biomarcadores genéticos e epigenéticos podem ser identificados para permitir a detecção precoce do transtorno e a estratificação de pacientes com base em perfis moleculares específicos, facilitando assim a intervenção precoce e personalizada (KLIN, 2006)
2.7.3 Intervenções Não Farmacológicas
Além das terapias farmacológicas, há um crescente interesse em intervenções não farmacológicas para o autismo, incluindo terapias comportamentais e de estimulação precoce. O conhecimento das bases genéticas e epigenéticas pode informar a otimização dessas intervenções, adaptando-as aos perfis individuais dos pacientes e maximizando sua eficácia (PESSOA, 2022).
2.7.4 Aconselhamento Genético e Familiar
A compreensão das bases genéticas e epigenéticas do autismo é fundamental para o aconselhamento genético e familiar. Familiares de indivíduos com autismo podem se beneficiar de informações sobre o risco de recorrência do transtorno em futuras gestações, bem como sobre a possibilidade de intervenções preventivas e estratégias de manejo (BOSA, 2006).
2.7.5 Necessidade de Pesquisa Contínua
Embora haja progressos significativos na compreensão do autismo sob uma perspectiva genética e epigenética, muitas questões permanecem sem resposta. A complexidade do transtorno e a diversidade de fatores genéticos e epigenéticos envolvidos exigem pesquisa contínua e colaborativa para elucidar completamente os mecanismos subjacentes e desenvolver abordagens terapêuticas eficazes (GUTA; STATE, 2006).
2.8 Considerações Éticas e Sociais
2.8.1 Consentimento Informado e Privacidade
Com o avanço da pesquisa em genética e epigenética do autismo, surgem questões éticas relacionadas ao consentimento informado e à privacidade dos participantes. É essencial garantir que os indivíduos e suas famílias compreendam completamente os propósitos, riscos e benefícios da pesquisa, e que seu direito à privacidade e confidencialidade seja protegido (MORAES; BIALER, LERNER, 2021).
2.8.2 Equidade no Acesso e Benefício
Ao desenvolver terapias e intervenções baseadas em descobertas genéticas e epigenéticas, é crucial considerar a equidade no acesso e benefício. Garantir que todos os pacientes, independentemente de sua origem socioeconômica ou geográfica, tenham acesso igualitário a diagnóstico, tratamento e cuidados adequados é fundamental para evitar disparidades na saúde (MORAES; BIALER, LERNER, 2021).
2.8.3 Estigma e Discriminação
A crescente compreensão das bases genéticas e epigenéticas do autismo pode influenciar as atitudes e percepções em relação ao transtorno. No entanto, também existe o risco de que esse conhecimento possa aumentar o estigma e a discriminação contra indivíduos autistas e suas famílias. É importante promover uma narrativa empoderadora e inclusiva em torno do autismo, destacando as habilidades e contribuições únicas das pessoas com o transtorno (MORAES; BIALER, LERNER, 2021).
2.8.4 Responsabilidade Social e Política
A pesquisa em genética e epigenética do autismo levanta questões sobre responsabilidade social e política. Governos, instituições de pesquisa e organizações de saúde devem se comprometer a garantir que os avanços científicos sejam aplicados de maneira ética e responsável, com políticas e regulamentações adequadas para proteger os direitos e interesses dos pacientes e suas famílias (BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE DO MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015).
2.8.5 Educação e Conscientização
A educação e a conscientização são fundamentais para abordar questões éticas e sociais relacionadas ao autismo. Iniciativas destinadas a aumentar a compreensão pública sobre o transtorno, bem como a promover a inclusão e o respeito às pessoas autistas, desempenham um papel crucial na construção de uma sociedade mais justa e compassiva (OLIVEIRA, 2020).
3 METODOLOGIA
Este estudo foi desenvolvido através de uma abordagem de revisão sistemática da literatura, com o objetivo de explorar as implicações clínicas das descobertas em genética e epigenética do autismo. A pesquisa será conduzida por meio de uma análise detalhada de artigos científicos, revisões e estudos relacionados ao tema.
A busca por literatura será realizada em bancos de dados eletrônicos, como PubMed, Web of Science, Scopus e PsycINFO, utilizando uma combinação de termos de busca relacionados ao autismo, genética, epigenética e implicações clínicas. Os termos de busca incluirão “autismo”, “transtorno do espectro autista”, “genética”, “epigenética”, “implicações clínicas”, entre outros.
Os critérios de inclusão para os artigos serão: (1) publicações entre os anos de 2000 e 2023, (2) estudos originais, revisões sistemáticas e meta-análises, (3) artigos escritos em inglês, português ou espanhol, (4) foco nas descobertas genéticas e epigenéticas do autismo e suas implicações clínicas.
Os critérios de exclusão serão: (1) estudos que não estejam diretamente relacionados ao autismo ou à genética/epigenética, (2) artigos de opinião, relatos de caso e editoriais, (3) estudos com amostras pequenas ou metodologia inadequada.
A seleção dos artigos será realizada em duas etapas: primeiro, os títulos e resumos serão avaliados para determinar a relevância do estudo; em seguida, os artigos selecionados serão lidos na íntegra para uma avaliação mais detalhada. A extração de dados será feita de forma sistemática, registrando informações como autor(es), ano de publicação, método de estudo, resultados principais e implicações clínicas.
Os dados serão analisados e sintetizados para fornecer uma visão abrangente das implicações clínicas das descobertas em genética e epigenética do autismo. A revisão bibliográfica resultante será utilizada para identificar lacunas no conhecimento, destacar áreas de interesse para futuras pesquisas e fornecer insights relevantes para profissionais da área da saúde, pesquisadores e formuladores de políticas.
4 CONCLUSÃO
Em suma, a análise das implicações clínicas das descobertas em genética e epigenética do autismo revela uma perspectiva promissora e multifacetada. As evidências apresentadas destacam o potencial dessas descobertas para revolucionar o diagnóstico, tratamento e intervenção do autismo, oferecendo novas perspectivas para famílias afetadas e profissionais de saúde.
Ao examinar as interações complexas entre fatores genéticos e epigenéticos no desenvolvimento do autismo, emergem oportunidades para abordagens terapêuticas personalizadas e intervenções precoces, que podem melhorar significativamente os resultados clínicos e funcionais para indivíduos com autismo.
No entanto, é importante reconhecer os desafios remanescentes, como as lacunas no conhecimento e as implicações éticas e sociais dessas descobertas. Questões relacionadas à privacidade genética, estigma social e equidade no acesso a tratamentos e intervenções devem ser abordadas com sensibilidade e responsabilidade.
Diante disso, instamos a comunidade científica e os formuladores de políticas a continuar investindo em pesquisas que ampliem nossa compreensão do autismo e traduzam essas descobertas em práticas clínicas e políticas de saúde eficazes.
Por meio de uma abordagem multidisciplinar e colaborativa, podemos maximizar o potencial das descobertas em genética e epigenética do autismo, promovendo uma melhor qualidade de vida e bem-estar para indivíduos com autismo e suas famílias.
REFERÊNCIAS
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1 Acadêmica de Medicina do Centro Universitário Aparício Carvalho (FIMCA)
2 Docente do Centro Universitário Aparício Carvalho (FIMCA)