EFETIVIDADE DO PROTOCOLO SPIKES PARA COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS PARA MÉDICOS E ESTUDANTES DE MEDICINA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

EFFECTIVENESS OF THE SPIKES PROTOCOL FOR COMMUNICATING BAD NEWS TO PHYSICIANS AND MEDICALSTUDENTS: A SYSTEMATIC REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10825327


Alana de Souza Rodrigues1
Alice Soto Santana2
Joana Oliveira Vasconcelos2
Júlia Mateus Soares2
Orientador: Ihann Almerio Diniz Antônio Guimarães Costa3


RESUMO

Introdução: Uma má notícia pode ser compreendida como aquela que altera drasticamente e negativamente a perspectiva do paciente em relação ao futuro da sua saúde. A comunicação da mesma aos pacientes, é um dos obstáculos que os profissionais de saúde enfrentam. A importância das estratégias serem bem aplicadas na prática médica, é estabelecer um bom desfecho clínico para o paciente. Objetivo: Esse estudo tem como objetivo realizar uma revisão de dados da literatura verificando se existe efetividade na implementação do protocolo SPIKES para uma melhor comunicação de más notícias que pode ser utilizado por médicos e estudantes de medicina. Método: Trata-se de uma revisão sistemática, sendo uma análise qualitativa e descritiva na qual foi utilizada a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), PubMed e SciELO como bases de dados. Resultados: Através desta revisão, foram encontrados 11 estudos longitudinais que abordaram o uso e efeito do protocolo SPIKES na comunicação de más notícias entre médico e estudantes de medicina com os seus pacientes. Conclusão: Desse modo, o estudo busca revelar que, seguindo os passos do protocolo, é possível aprimorar a capacidade comunicativa, obter mais segurança ao dar o diagnóstico ao paciente e seus familiares, realizando o manejo do paciente sabendo lidar com suas possíveis reações.

Palavras-chaves: Comunicação. Más notícias. Protocolo SPIKES. Educação médica.

ABSTRACT

Introduction: Bad news can be understood as one that drastically and negatively changes patient’s perspective of the patient regarding to the future of their health. Communicating it to the patients is one of the obstacles that healthcare professionals face. The importance of the strategies will be well-applied in medical practice, it is to establish a good clinical outcome for the patient. Aim: This study aims to review data from the literature verifying whether there is effectiveness in the implementation of the SPIKES protocol for better communication of bad news which can be used by doctors and medical students. Method: This is a systematic review, being a qualitative and descriptive analysis in which the Virtual Health Library (BVS), PubMed and SciELO were used as databases. Results: Through this review, 11 longitudinal studies were found that addressed the use and effect of the SPIKES protocol in the communication of bad news between doctors and medical students with their patients. Conclusion: In this way, the study seeks to reveal that, following the steps of the protocol, it is possible to improve communicative ability, gain more security when giving the diagnosis to the patient and their family members, and manage the patient by knowing how to deal with their possible reactions.

Keywords: Communication. Badnews. SPIKES protocol. Medical education.

INTRODUÇÃO

Sabe-se que uma boa comunicação é uma das habilidades fundamentais para o médico estabelecer um atendimento de qualidade e boa relação médico-paciente, assegurando a informação que foi transmitida para o mesmo e facilitando assim o seu seguimento clínico. Comunicar uma má notícia é relatar uma informação que pode impactar a perspectiva de um indivíduo acerca do seu futuro, e para o paciente pode estar relacionada ao tratamento de sua enfermidade incluindo seus efeitos colaterais, estágios de gravidade da doença e suas chances de cura.1

Entende-se que durante a graduação de medicina o preparo dos futuros médicos é bastante voltado para a técnica e execução de procedimentos, proteção da vida e reabilitação. O Código de Ética Médica ressalta a relação com pacientes e familiares, onde é vedado ao médico deixar de informar para o paciente o diagnóstico e como ocorrerá o tratamento.2 Entretanto, quando se trata de más notícias, há maiores entraves em estabelecer esse diálogo adequadamente devido a existência de uma lacuna no ensino médico acerca de uma melhor comunicação. Nesse viés, em razão da precariedade no ensino das habilidades comunicativas, são percebidas as repercussões que a informação negativa pode causar na vida do paciente, afetando seu estado físico e mental, além de afetar o próprio profissional que transmite essa notícia.3, 4

Um dos protocolos educativos mais utilizados como base para a divulgação de más notícias, é o protocolo SPIKES, que por sua vez traça seis passos para orientar os profissionais de saúde na hora de comunicar uma má notícia. Sendo: Ssetting up (preparando o ambiente), P-perception (percepção), I- invitation (convite), K- knowledge (conhecimento), E- emotions (emoções), S- strategy and summary (estratégia e resumo).5

Tal protocolo foi desenvolvido para que profissionais médicos ou acadêmicos de medicina, pratiquem habilidades necessárias para se dar uma notícia ruim ao paciente, frente às reações emocionais, utilizando comunicação verbal adequada, aprendendo a lidar com as expectativas do paciente, dos seus familiares e com a esperança.6 Além disso, sabe-se que as equipes de saúde dos centros de terapia intensiva e centro de clínica médica são orientadas a compreender que pacientes e familiares esperam certo nível de empatia, sensibilidade e qualidade da informação, por mais difícil que seja o recebimento da notícia.7

Ao longo do tempo foram criados outros protocolos, tais como o P-A-C-I-E-N-T-E que foi baseado no SPIKES e o CLASS, e outros questionários utilizados para facilitar essa tarefa. Todos com o propósito de informar o paciente de maneira adequada, sempre considerando suas vontades e ressaltando a importância do cooperativismo entre a relação médico-paciente.3

Outra questão relevante a destacar é que, as atitudes inadequadas dos profissionais de saúde em relação à comunicação podem ser influenciadas, não apenas por conhecimento precário ou treinamento insuficiente das práticas comunicativas, mas também por condições socioculturais, crenças religiosas e filosofias de vida.7

Os criadores do protocolo SPIKES concluíram que, um plano apresentando diretrizes de ação, tomada de decisão compartilhada e estratégias de enfrentamento de situações pertinentes às necessidades do paciente, aumentou significativamente a confiança dos profissionais.8

Dessa maneira, admite-se a existência de divergências na literatura, tornando inconclusivo o efeito dos dados empíricos sobre treinamento de habilidades de comunicação. Entende-se que há necessidade de melhorias e treinamento reforçado das técnicas de comunicação, englobando a fala, a adequação correta da linguagem, a postura do profissional e dentre outros elementos da comunicação. Em virtude disso, o paciente terá melhor concepção sobre o prognóstico clínico da sua enfermidade e uma melhor relação médico-paciente, no que tange a perspectiva futura da doença.9

Presume-se que haja uma precariedade no ensino das estratégias para transmissão de notícias ruins durante a graduação de medicina, o que repercute em sentimentos de incapacidade e dificuldades no estabelecimento da relação médico-paciente. Apesar de a efetividade das técnicas para aprender a transmitir más notícias ainda ser questionada, verifica-se que a habilidade para lidar com essa situação não é inata e pode ser bastante difícil de se executar mesmo através das experiências clínicas.3,10

Através deste estudo, se busca estimular o ensino sobre as práticas de comunicação de más notícias e reforçar sua importância nas faculdades de medicina. Alinhado a isso, evidenciar que, com o treinamento adequado seguindo o protocolo, haverá um encorajamento e segurança para melhor execução dessa função. Além disso, incentivar profissionais médicos a se apropriar do SPIKES como guia na prática clínica para aprimorar sua confiança e a relação médico-paciente estabelecida.11

O objetivo deste estudo é revisar estudos que abordem a utilização e a efetividade da implementação do protocolo SPIKES utilizado por profissionais médicos e estudantes de medicina para a comunicação de más notícias.

MÉTODOS

Será feita uma revisão sistemática da literatura, sendo um estudo qualitativo e descritivo acerca da análise do protocolo SPIKES elaborado para comunicação de más notícias entre médicos e pacientes. O estudo será realizado com base nas recomendações estabelecidas pela declaração de Colaboração Cochrane e os artigos identificados serão avaliados de forma independente por quatro autoras sendo revisados conforme as recomendações do método PRISMA (Principais Itens para Relatar Revisões sistemáticas e Meta-análises)12. Será utilizada como base de dados das pesquisas a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), PubMed e SciELO selecionando os seguintes descritores: “Comunicação”, “Más notícias”, “protocolos SPIKES”, conforme os 
Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), mediante a utilização do operador booleano “AND”. A estratégia PICO também foi utilizada para a formulação da pergunta de investigação e na pesquisa dos artigos, sendo P – médicos e estudantes de medicina, I – protocolo SPIKES para comunicação de más notícias, C – não houve grupo de comparação, O – efetividade do protocolo para a atuação médica. Serão selecionados artigos originais e longitudinais que abordam o método SPIKES para estabelecer uma boa comunicação de notícias ruins, utilizados por profissionais médicos e estudantes de medicina, publicados em qualquer idioma.

Como critérios de elegibilidade, serão incluídas pesquisas que englobam o protocolo SPIKES, cuja amostra seja médicos e estudantes de medicina e estudos observacionais. Como critério de exclusão, serão descartados os artigos que apliquem outros protocolos, aqueles que apresentarem outros profissionais da saúde que não médicos ou estudantes de medicina, outras revisões ou capítulos de livros e artigos duplicados. Não haverá corte temporal na escolha dos artigos.

Os estudos que cumprirem com os critérios de inclusão serão avaliados quanto ao nível de evidência através da escala GRADE (Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation)13. Quanto a variáveis de interesse serão: aplicabilidade do protocolo na prática médica, percepção do médico e dos estudantes de medicina após utilização do método, melhora na relação médico-paciente e comunicação assertiva de uma má notícia.

Inicialmente, foram analisados e selecionados artigos a partir da leitura de títulos e resumos pelas quatro autoras, e posteriormente revisados na íntegra pelas mesmas de maneira independente, nessa etapa foi utilizada a plataforma RAYYAN para a organização dos artigos. O estudo será cadastrado na base de dados através do PROSPERO (International Prospective Register of Systematic Reviews).

RESULTADOS

Numa primeira fase, foram encontrados 93 artigos nos quais 9 foram excluídos por serem duplicados e 84 artigos foram revisados por títulos e resumos sendo 37 excluídos. Numa segunda fase, foi realizada a leitura na íntegra de 47 artigos, sendo 36 descartados por outras razões. Ao final, totalizaram 11 estudos que foram incluídos na revisão (figura 1).

O Quadro 1 apresenta 11 estudos longitudinais que aplicaram algum treinamento para aprender a dar más notícias utilizando o método SPIKES. A maioria dos textos utilizaram como amostra estudantes de medicina (6 artigos). Os demais (5 artigos) tiveram amostras variadas entre profissionais médicos residentes e profissionais especializados.

Quadro 1: Estudos longitudinais que aplicaram método SPIKES

Referência:Amostra:Intervenção:Variável principal/ desfecho principal analisado:Resultado:
Schmitz et al.1467 Estudantes de medicinaAnalisou em 3 grupos os efeitos da comunicação de más notícias de diferentes formatos de apresentação. Um grupo de alunos em texto, o segundo grupo em vídeo e o terceiro grupo em vídeo com dicas em texto destrinchando as etapas do SPIKES.Abordagens de aprendizagem relacionadas a vídeos que incorporam dicas que orientam a atenção podem preparar efetivamente os alunos de graduação para encontros de SP (pacientes simulados).O grupo de vídeo com dicas deram más notícias aos SPs de forma significativamente mais adequada do que dos outros grupos. Os alunos que aprenderam com a versão em texto ignoraram com mais frequência emoções desagradáveis expressas pelos SPs.
Szmulewicz et al.1580 Residentes de ginecologia e obstetrícia e anestesiologiaTreinamento em comunicação de más notícias em um centro de simulação feito com vídeos e três cenários diferentes. Aplicação de questionários no dia da simulação e 3 e 6 meses após a sessão.Autoavaliação acerca da reação, melhoria das competências de comunicação e mudança na prática médica. Avaliação externa feita por formadores utilizando os seis passos do protocolo SPIKES e avaliação de longo prazo (impacto do curso na pratica profissional).Na autoavaliação, acreditaram que a simulação foi útil para melhorar suas competências. As avaliações a longo prazo foram mais baixas em relação àquelas após a simulação.
Chhpujani et al.16400 oftalmologista s e residentes de oftalmologia, 100 pacientes com glaucoma.Aplicado questionário para 400 oftalmologistas e questionário para 100 pacientes com glaucoma. Residentes de oftalmologia treinaram o protocolo SPIKES por meio de simulações e comunicaram más notícias a 100 novos pacientes. Aplicado questionário on-line anônimo aos oftalmologistas e aos pacientes.Avaliar o enfrentamento da dificuldade dos oftalmologistas em comunicar más notícias, diante da falha do ensino e preparação dessa especialidade em. A pesquisa busca também avaliar a perspectiva desses profissionais ao utilizar o protocolo SPIKES, perspectiva dos pacientes com glaucoma após o atendimento desses profissionais.Após treinamento utilizando o método SPIKES adaptado para pacientes com glaucoma, as deficiências por parte dos profissionais encontradas na primeira fase da pesquisa, foram reduzidas na segunda fase. Reforçou a importância do uso da estratégia para aliviar as preocupações dos prestadores de cuidados e dos pacientes.
Westmorela nd et al.1742 estudantes de medicina do 5º anoWorkshop educacional baseado no protocolo SPIKES para ensinar comunicação de más notícias e sessões de dramatização (OSCE) utilizando casos clínicos. Aplicado um questionário pré e pós-workshop.Exposição inicial dos estudantes a dar más notícias, educação e treinamento recebidos antes, capacidade percebida e abordagem para dar más notícias.Pré-workshop 23% (8/35) se sentiram “bem” ou “muito bem”. Pós-workshop a confiança e habilidade dos estudantes aumentou para 83% (30/35).
Ghoneim et al.1815 bolsistas do programa de Medicina Neonatal-Peri natal do Baylor College of MedicinePalestras didáticas com objetivos de aprendizagem sobre o SPIKES. Aplicadas 4 simulações: “pré-intervenção ”, “fins educacionais” “pós-intervenção”, e após 3-4 meses “acompanhamento” Métodos avaliativos: 1 – Avaliação do avaliador cego 2 – Questionário de autoavaliação 3 – Prova de conteúdo 4 – Avaliação padronizada dos pais (SPE)Efeito a longo prazo de um currículo de comunicação baseado em simulação para bolsistas da UTIN e seu desempenho na comunicação de notícias difíceis.Não houve mudanças significativas nas pontuações do BRE pré e pós-intervenção, e diminuíram na de acompanhamento As pontuações foram mais altas “pós-intervenção”, que foi mantida na de “acompanhamento” 3. Aumentaram na pós-intervenção e foi mantido no acompanhamento 4. Não houve mudança significativa nos escores de SPE pré e pós-intervenção
Portes et al.199 médicos especialistas em medicina fetal (FMS)Cenários de simulação híbrida dividindo 3 grupos: Estagiários, Ultrassonografistas que raramente comunicam más notícias e Ultrassonografistas que realizam diagnósticos de malformações diariamente. .Aplicação de questionário avaliando experiências dos pacientes baseadas nos 6 itens do SPIKES e a autoavaliação da técnica dos participantes e satisfação sobre a utilidade do protocolo.88% declararam que o método seria útil para prática diária. 88,9% declaram que pode ser útil no ensino de anúncio de más notícias na ultrassonografia fetal e para formação inicial 100% acreditam ser útil para a formação continuada.
Isquierdo et al.2060 Estudantes de medicinaCenários simulados de comunicação de más notícias com pacientes padronizados, sendo 2 oficinas (D1 e D30) com intervalo de 30 dias. D1 foi aplicada simulação e apresentação do protocolo SPIKES. Aplicação de questionário após cada oficina.Desempenho de estudantes de medicina submetidos a simulações de comunicação de más notícias (CMN).Melhora de desempenho em D30 em relação a D1 Todos afirmaram que houve contribuição para o aprendizado de comunicação de más notícias. 28,3% afirmaram que o sentimento de confiança era o mesmo que antes do treinamento, 56,7% que houve melhora e 15,1% confiantes. O treinamento foi capaz de melhorar a habilidade de comunicação.
Schmitz et al.21114 estudantes de medicina do quarto ano que frequentavam um curso obrigatório de comunicação clínica com pacientes e world.Trabalharam em um módulo de learning que introduziu o protocolo SPIKES para transmitir más notícias aos pacientes. Separados em três grupos: formato de texto, vídeo e vídeo com mais dicas de texto denotando as etapas do protocolo.Expor os estudantes a trabalhar sua habilidade de comunicar más notícias de forma simulada e posteriormente receberem feedbacks sobre sua atuação perante o cenário.O desempenho geral dos alunos em dar más notícias é divergente, dependendo do formato do exemplo. Contradizendo a visão de que o vídeo em si é o formato mais apropriado para aprender habilidades de comunicação.
Oliveira et al.2240 alunos da Escola Bahiana de Medicina e Saúde pública (EBMSP)Método Role play com simulação de atendimento pré e pós treinamento de comunicação de más notícias com protocolo SPIKES, leitura e discussão do caso clínico completo, uma semana antes da simulação.Avaliou a comunicação eficaz, nervosismo/insegura nça e acolhimento empático após a aplicação do protocolo.Após a utilização do protocolo os estudantes se sentiram mais confiantes e seguros para transmitir o diagnóstico e acolher o paciente. Reforçaram que a atividade estimula a reflexão e críticas, o que facilitou a aprendizagem. Aprenderam as habilidades de comunicação
Poei et al.2360 estudantes do primeiro ano de medicina.Casos de aprendizagem baseado em problemas e uma sessão simulada para ensinar os alunos como apresentarem resultados ruins usando o protocolo SPIKES e suas etapas. Aplicado questionário pós experiência.Avaliar a sua confiança em transmitir más notícias antes e depois da simulação.A simulação favoreceu a habilidade de comunicar notícias difíceis a seus pacientes bem como demonstrar confiança aos estudantes em momentos complicados. 96% relataram que o simulado ajudou no aprendizado, e a confiança dos estudantes em transmitir notícias ruins melhorou de 32% para 91%
Park et al.24Participaram 14 residentes de emergência do Hospital General.O workshop incluiu palestrantes de diferentes especialidades usando o modelo SPIKES junto com simulação e os participantes foram solicitados a preencher um formulário de autoeficácia e fichas de avaliação.Avaliou a necessidade da experiência e por parte dos participantes, utilidade do workshop, qualidade educativa e utilidade global das sessões.Os 14 residentes do hospital acharam o workshop e a simulação necessária. A parte da simulação foi considerada a mais útil (43%), com a dramatização 14 % e a palestra 7 %. Dos participantes, 36% consideraram todas as sessões igualmente úteis. Todos os participantes concordaram que o curso deveria continuar como parte da sua atividade acadêmica regular anual.

Os estudos fizeram uso de metodologias ativas e passivas sendo representada por exposição de conteúdo em formato de simulações realísticas de atendimento pré e pós treinamento de comunicação de más notícias, e vídeo, palestras e workshops respectivamente. Os artigos variaram na contextualização do protocolo SPIKES nos questionários, no método de ensino ou na avaliação final após as simulações. A maior parte dos estudos fizeram simulações realísticas com cenários de comunicação de notícias difíceis 15, 16, 17, 18, 19, 20, 22, 23, 24. Os artigos que se apropriaram de métodos passivos de ensino foram a minoria 14, 17, 18, 21, 24.

As   variáveis   mais   analisadas  pelos   estudos  foram   a  autopercepção  dos próprios participantes 15, 16, 19, 22, 23, 24, e o desempenho e habilidades 17, 18, 20, 21, 22 ao realizar as atividades baseando-se no protocolo SPIKES. Um dos estudos fez uma análise das diferentes abordagens de aprendizagem utilizadas para ensinar as habilidades do protocolo14.

Nesta revisão, todos os estudos obtiveram resultados positivos quanto à efetividade da utilização do protocolo SPIKES para comunicação de más notícias, sendo consideradas a avaliação feita após as simulações e respostas de questionários auto avaliativos respondidas pelos participantes dos estudos.

DISCUSSÃO

É sabido que algumas instituições de formação médica estão buscando incluir capacitações para aprimorar a comunicação de más notícias, visando melhorar a relação médico-paciente e tornar efetiva a relação de confiança no profissional. É importante destacar que, o cuidado na comunicação do médico com o paciente na prática médica, vem recebendo destaque, sendo prova disso o aumento significativo no número de publicações acerca desse assunto nos últimos anos.

Um exemplo interessante foi o estudo experimental brasileiro que através de um método educativo de simulação de atendimentos, leituras e discussão de casos clínicos, analisou que, nas simulações após a aprendizagem do protocolo, houve uma melhora na confiança e habilidades comunicativas dos estudantes de medicina 22. O estudo Poei 23 também mostrou que a utilização do protocolo em estudantes contribuiu com o aprendizado e gerou segurança ao comunicar notícias difíceis. Além disso, os alunos obtiveram a partir de 96% em 5 passos dos 6 e 87% dos estudantes concordaram que a experiência ajudou em seu preparo. Em razão disso, pode-se pensar que, quanto mais precoce a inserção dessas habilidades no ensino médico, maiores as chances de formar profissionais capacitados e confiantes na prestação de cuidados aos seus pacientes.

Verificando as possíveis formas de intervenções, a principal característica percebida foi a validação do grupo participante em sua grande maioria, no reconhecimento da simulação como forma de se sentirem confiantes 17, 20, 22, 23. O autor Westmoreland et al.17 aplicou questionários analisando o feedback dos participantes e resultado após as simulações avaliando competência de transmitir más notícias antes e após implementar o workshop, e tais resultados foram significativamente diferentes obtendo melhor pontuação após a atividade. Dessa forma, é reforçado que esse método possa ser mais efetivo do que as outras metodologias de ensino.

Por outro lado, Schmitz et al.14 abordou três condições de aprendizagem em seu estudo, variando entre módulo com texto-exemplo, vídeo-exemplo e vídeo-exemplo baseado em mais dicas, introduzindo conteúdos do protocolo SPIKES. Nesse estudo, foi possível perceber que outro método de aprendizagem pode ser efetivo para melhorar as habilidades comunicativas dos estudantes, sendo confirmado pelo grupo que utilizou o vídeo com mais dicas que obteve pontuações maiores do que os grupos que utilizaram o vídeo simples ou apenas o texto. Dessa forma, a aplicação dessa estratégia pode se mostrar útil para os futuros profissionais.

Ressalta-se que uma das ferramentas mais utilizadas e conhecidas para obter a capacidade de comunicação mais adequada com o paciente é o protocolo SPIKES, que atua como um facilitador para o médico dentro desse contexto. Apesar de a maioria dos participantes (70%) do estudo Chhpujani et al.16 relataram que desconheciam o protocolo SPIKES antes da atividade, foi demonstrado que as deficiências apresentadas pelos médicos oftalmologistas da área de glaucoma foram reduzidas quando comparadas antes e após o treinamento com protocolo. Além disso, reforçou que deve ser ensinado aos médicos para aliviar as preocupações dos profissionais e dos pacientes.

Em sua pesquisa, Portes et al.19 teve como amostra especialistas em medicina fetal. Já Ghoneim et al.18 aplicou o estudo em um grupo de participantes de programa de medicina neonatal e perinatal. Ambos os estudos obtiveram um resultado positivo quando a autoavaliação dos profissionais acerca da efetividade do protocolo 19, como pontuações mais altas nos escores após a intervenção a partir de palestras e simulações didáticas sobre o SPIKES. Dessa maneira, assim como os resultados de Chhpujani et al.16, é perceptível que independente da especialidade, o método demonstra efetividade para a maioria dos participantes.

Em contrapartida, o estudo de Szmulewicz 15 demonstrou que os residentes de anestesiologia e obstetrícia participantes não dominavam as habilidades comunicativas e que a avaliação a longo prazo demonstrou que os estudantes tiveram um menor desempenho em relação a avaliação realizada após a simulação. Também reforçou que o método interdisciplinar de comunicação de más notícias foi considerado útil e deve ser promovido para melhorar a comunicação de más notícias, não especificando o protocolo SPIKES para a utilização.

Dito isso, com base nas pesquisas, estudos e metodologias realizadas, a fim de obter o parâmetro da melhor aplicabilidade do método SPIKES em dar notícias ruins para os pacientes, foram satisfatórios os estudos que aplicaram a prática da comunicação como forma de estudo entre eles os artigos 18, 19, 20, 23 que referiram após o simulado prático que além de satisfatória a aplicação seria útil para a prática diária, que visto que os que foram em metodologias passivas enxergam como um desafio colocar a o protocolo proposto em ações cotidianas como é colocado no artigo 24 entretanto ainda que utilizado um método que difere dos demais estudos como um workshop conclui-se que encontra-se satisfação dos participantes em aprender sobre o objeto principal sendo ele o SPIKES e a necessidade de ser aplicado o ensino nas escolas de medicina.

CONCLUSÃO

Ao considerar o ambiente médico e a individualidade de cada paciente, é importante lembrar que, embora os protocolos de treinamentos e métodos de aplicabilidade sejam importantes, os médicos devem ser competentes para compreender e comunicar-se com cada paciente. Diante do exposto, observa-se que a elaboração de uma comunicação de forma individualizada, empática e, sobretudo com uma linguagem simples e apropriada, implica em uma maior segurança por parte do profissional para dar notícias ruins e aprimorar a relação médico-paciente.

Além disso, os resultados destrinchados pelos artigos sugerem que diferentes técnicas aplicadas pelas amostras tiveram saldo positivo quanto à forma de se comunicar, mas é preciso maior aporte de novos estudos para constatar a avaliação do protocolo de más notícias, e assim criar modificações a longo prazo para melhor aplicação do mesmo.

Dessa forma, pode-se concluir que a fronteira mais importante encontrada foi o quantitativo de artigos relacionados ao assunto e ao perfil estudado que se mostraram poucos. Apesar disso, os resultados apoiam cientificamente a integração do Protocolo SPIKES nas escolas de medicina como matéria efetiva da grade curricular, uma vez que seu mérito e efetividade foram demonstrados em todos os estudos coletados.

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1Centro Universitário FTC, Curso de Medicina, Salvador, Bahia, Brasil.

2Centro Universitário FTC, Salvador, Bahia, Brasil.

3Centro Universitário FTC, Faculdade de Medicina, Salvador, Bahia, Brasil.