ADMISSIONS FOR MYOCARDIAL INFARCTION: A COMPARATIVE STUDY BETWEEN MUNICIPALITIES WITH DIFFERENT FOLLOW-UP LEVELS ACCORDING TO PREVINE BRASIL
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10815024
Gabriel Oliveira Campos1; Cínthia Andrade de Espíndola2; Lucas Gabriel Ferreira Costa3; Eclésio Cavalcante Santos4; Arélli Pâmella Brasileiro Chaves5; Karinne Martins Coelho6; Allana Renally Cavalcante Santos de Moraes7; Amanda Carolinne Araújo de Oliveira Farias8; Leonardo Leitão Batista9; Edenilson Cavalcante Santos10.
RESUMO
Objetivo: Investigar se há associação entre a prevalência de internações por IAM e o indicador com pressão arterial aferida em dois diferentes municípios do Nordeste brasileiro: Campina Grande – PB e Sobral – CE. Métodos: Tratou-se de um estudo ecológico, observacional e descritivo, em que se avaliou os dados referentes ao indicador 6 do Previne Brasil, a partir dos dados do SISAB, e a prevalência de internações por IAM, a partir de dados do SIH/SUS e IBGE entre os anos de 2020-2023. Os dados foram tabulados e analisados no software IBM Statistics SPSS 21.0. Resultados: Após coleta e análise dos dados foi identificada diferença estatisticamente significativa entre as medianas do indicador 6 dos dois municípios, tendo Sobral apresentado a melhor avaliação. Em relação a prevalência de internações por IAM não houve diferença estatisticamente significativa entre os municípios. Não sendo também evidenciada associação estatisticamente significativa entre a prevalência de IAM e o indicador 6, para nenhum dos municípios avaliados. Conclusão: Nota-se a necessidade de novos estudos com amostra maior, para melhor análise, como também se faz importante a avaliação de outros fatores de risco de IAM.
Palavras-chave: Hipertensão arterial sistêmica; Infarto agudo do miocárdio; Estratégia Saúde da Família; Previne Brasil.
Abstract
Objective: To investigate whether there is an association between the prevalence of AMI hospitalizations and the indicator with blood pressure measured in two different municipalities in the Northeast of Brazil: Campina Grande – PB and Sobral – CE. Methodology: This was an ecological, observational, and descriptive study, where data related to Indicator 6 of Previne Brasil were evaluated based on SISAB data, and the prevalence of AMI hospitalizations was assessed using data from SIH/SUS and IBGE between the years 2020-2023. The data were tabulated and analyzed using IBM Statistics SPSS 21.0 software. Results: After data collection and analysis, a statistically significant difference was identified between the medians of Indicator 6 in the two municipalities, with Sobral showing a better evaluation. Regarding the prevalence of AMI hospitalizations, there was no statistically significant difference between the municipalities. Also, no statistically significant association was found between the prevalence of AMI and Indicator 6 for any of the evaluated municipalities. Conclusion: There is a need for further studies with a larger sample for better analysis, and it is also important to assess other risk factors for AMI.
Keywords: Systemic Arterial Hypertension; Acute Myocardial Infarction; Family Health Strategy; Previne Brasil.
1 INTRODUÇÃO
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma doença crônica não transmissível (DCNT) caracterizada por elevação persistente da pressão arterial (PA) (≥140/90 mmHg e/ou em uso de medicação anti-hipertensiva). Tal condição geralmente é assintomática e costuma evoluir com alterações estruturais e/ou funcionais no coração, cérebro, rins e vasos. A HAS é o principal fator de risco para doenças cardiovasculares (DCV), doença renal crônica (DRC) e morte prematura (MALTA et al., 2018).
Em 2010, a prevalência de hipertensão arterial no mundo foi de 31,0%, sendo maior entre homens do que entre as mulheres (MALTA et al., 2018). Já no Brasil, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde de 2013, 21,4% dos adultos brasileiros referiram diagnóstico da doença, o que corresponde a 31,3 milhões de pessoas (IBGE, 2014).
De acordo com dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), 17,9 milhões de pessoas morrem anualmente de DCV no nosso planeta. No tocante às DCV, o infarto agudo do miocárdio (IAM) figura como a principal causa de morte no Brasil e no mundo.
Em 2017, segundo o DATASUS, 7,06% dos óbitos foram causados por IAM. Ele, também, representou 10,2% das internações no Sistema Único de Saúde (SUS) sendo responsável por 25 % das internações em maiores de 50 anos (NICOLAU et al., 2021).
A Estratégia Saúde da Família (ESF) em vigor no Brasil desde 1994, gerou um modelo descentralizado de atenção preventiva, com foco nas condições de saúde da comunidade. O panorama atual da assistência no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS) vem se modificando, como no aumento das (DCNT), devido ao elevado número de óbitos em, estimado em mais de 38 milhões de pessoas, a APS realiza uma função essencial no controle e tratamento dessas doenças (OLIVEIRA et al., 2021).
Em 2019, o Ministério da Saúde lançou uma nova política de financiamento da Atenção Primária à Saúde (APS), denominada “Previne Brasil”, que é um modelo de financiamento misto, que busca equilibrar valores financeiros per capita referentes à população cadastrada nas equipes de Saúde da Família, com o grau de desempenho assistencial das equipes, além de incentivos para ações estratégicas. (HARZHEIM, 2020).
Dentre a avaliação de desempenho assistencial realizado pelo Previne Brasil, foram apresentados 7 indicadores de saúde: Proporção de gestantes com pelo menos 6 (seis) consultas pré-natal realizadas, sendo a 1ª até a 20ª semana de gestação, proporção de gestantes com realização de exames para sífilis e HIV, proporção de gestantes que passaram por atendimento odontológico, cobertura de exame citopatológico, cobertura vacinal de poliomielite inativada e de pentavalente, percentual de pessoas hipertensas com pressão arterial aferida em cada semestre, percentual de diabéticos com solicitação de hemoglobina glicada (BRASIL, 2019).
Considerando que a hipertensão arterial é um fator de risco importante para o IAM, principal causa de morte em nosso país e, observando-se o esforço do Ministério da Saúde em melhorar o acompanhamento de hipertensos na APS, o presente estudo tem o objetivo de investigar se há associação entre a prevalência de internações por IAM e o indicador com pressão arterial aferida em dois diferentes municípios do Nordeste brasileiro.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Atenção Primária à Saúde (APS)
O debate acerca da prevenção e promoção de saúde ganhou destaque desde a década de 70 na conferência de Alma Ata. No Brasil, a consolidação dessas ideias foram iniciadas com a implementação do SUS na década de 90 e seus desenvolvimento e aperfeiçoamento se dá no âmbito da APS (MEDINA et al., 2014).
Esta é caracterizada por ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde. No Brasil, a atenção primária é desenvolvida por meio das Unidades de Saúde da Família, estas oferecem um serviço descentralizado, estando presente próximo a moradia dos indivíduos (MOROSINI; FONSECA; BAPTISTA, 2020).
Ao desenvolver tais atividades a APS contribui na saúde da população de forma positiva levando a um maior e melhor acesso aos serviços de acordo com a necessidade; maior enfoque em prevenção e promoção; redução da mortalidade; maior qualidade no atendimento; diagnóstico e tratamento precoce de doenças; redução de procedimentos especializados desnecessários e potencialmente prejudiciais (LIMA et al., 2018).
Para aperfeiçoar a APS, em 2011, o Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde implementou o Programa Nacional para Melhoria do Acesso e Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB), que é um programa gerencial que utiliza da avaliação como parte do planejamento das ações para a melhoria da qualidade nos serviços de APS (LIMA et al., 2018).
Em 2019 uma nova proposta de financiamento denominada Previne Brasil , reestruturou a organização da política de saúde com três mudanças principais para a atenção básica: extinguiu os pisos fixo e variável (PAB); introduziu o repasse dos recursos federais pelo número de pessoas cadastradas; e estabelece nova forma de pagamento por desempenho.
O desempenho da USF foram avaliados pelas seguintes variáveis: Proporção de gestantes com pelo menos 6 (seis) consultas pré-natal realizadas, sendo a 1ª até a 20ª semana de gestação, proporção de gestantes com realização de exames para sífilis e HIV, proporção de gestantes que passaram por atendimento odontológico, cobertura de exame citopatológico, cobertura vacinal de poliomielite inativada e de pentavalente, percentual de pessoas hipertensas com pressão arterial aferida em cada semestre, percentual de diabéticos com solicitação de hemoglobina glicada indivíduos (MOROSINI; FONSECA; BAPTISTA, 2020).
Os indicadores de desempenho refletem a importância dada a saúde materno infantil e as DCNT, que representam cerca de 70% da carga de doença do Brasil. Esse quadro tornou o debate sobre a prevenção e cuidado dessas doenças como função preponderante da APS, visto que o funcionamento dessa permite um acompanhamento longitudinal do usuário. (MEDINA et al., 2014).
2.2 Hipertensão arterial sistêmica (HAS)
A prevalência de HAS que já é alta, tende a continuar aumentando, é esperado que no mundo cerca de 1,4 bilhão de adultos sejam hipertensos, correspondendo a cerca de 31% da população mundial. A Hipertensão pode ser classificada em primária e secundária, sendo a primária responsável por 90% dos casos, essa se associa com má dieta e sedentarismo, enquanto a secundária, responsável por 10% dos casos, se relacionam com outras doenças que levam ao aumento pressórico (CAREY et al., 2018).
A HAS primária se origina devido à combinação de fatores genéticos e ambientais, em que se destacam o consumo excessivo de sódio, o sedentarismo, dieta pobre em potássio, sobrepeso, obesidade, como também, determinantes sociais como emprego, acesso a saúde e educação (CAREY et al., 2018).
O diagnóstico de hipertensão arterial é dado em indivíduos com PAS ≥ 140 mmHg e/ou PAD ≥ 90 mmHg. Quando utilizadas as medidas de consultório, o diagnóstico de HAS deverá ser confirmado por medições repetidas em duas ou mais visitas médicas em intervalo de dias ou semanas, como também, o diagnóstico, poderá ser realizado com medidas fora do consultório (MAPA ou MRPA), excetuando-se aqueles pacientes que já apresentem lesão de órgão-alvo (LOA) ou doença cardiovascular (WILLIAMS et al., 2018).
O tratamento dessa condição é manejado com terapia não farmacológica e farmacológica. Dentro do tratamento não farmacológico se destaca a interrupção do tabagismo, que apesar de não diminuir pressão arterial, diminui o risco cardiovascular; a diminuição do consumo de sódio e a dieta a DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension) demonstraram uma diminuição da PA em metanálise; a perda de peso também demonstrou efeito hipotensor, A prática regular de atividade física diminui a incidência de HAS. Além disso, os hipertensos que alcançam as recomendações apresentam uma redução de 27 a 50% no risco de mortalidade (BARROSO et al., 2020).
A maioria dos hipertensos precisará de fármacos somado às modificações do estilo de vida para alcançar controle da PA. As cinco principais classes de fármacos anti-hipertensivos são os diuréticos (DIU), bloqueadores dos canais de cálcio (BCC), inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA), bloqueadores dos receptores da angiotensina II (BRA) e betabloqueadores (BB), sendo indicado, prioritariamente, para início do tratamento diuréticos, BCC, IECA ou BRA (BARROSO et al., 2020).
Valores de pressão arterial elevados são associados ao risco para cardiopatia isquêmica, acidente vascular encefálico, doença renal crônica e mortalidade precoce. Metanálise com 61 estudos observacionais demonstrou que o risco inicia-se com valores de PA tão baixos quanto 115 mmHg de PA sistólica (PAS) ou 75 mmHg de PA diastólica (PAD), dobrando a cada 20 mmHg de elevação da PAS ou 10 mmHg de PAD (LEWINGTON et al, 2002).
2.3 Infarto agudo do miocárdio (IAM)
O termo IAM é usado quando há evidência de injúria miocárdica com necrose em um cenário clínico de isquemia miocárdica, na prática é usado para designar pacientes com dor torácica ou outros sintomas sugestivos de isquemia associado a elevação do segmento ST, no eletrocardiograma, em ao menos 2 das derivações contiguas, no entanto, alguns casos evoluem sem elevação do segmento ST, sendo chamados de IAM sem supra de ST (IBANEZ et al., 2017).
Os fatores de risco para desenvolvimento de IAM são divididos em modificáveis e não modificáveis, dentre os não modificáveis se destacam o envelhecimento, história familiar e o sexo masculino, já entre os modificáveis há o tabagismo, HAS, diabetes mellitus e hiperlipidemia (DZUBUR; GACIC; MEKIC, 2019).
O diagnóstico dessa condição envolve a avaliação da dor torácica, quanto a probabilidade de ser um quadro típico de angina, da alteração eletrocardiográficas específicas, como elevações do segmento ST ou infradesnivelamento do mesmo, além disso o aumento de enzimas cardíacas, em especial da troponina (PIEGAS et al., 2015).
O tratamento do IAM se divide entre o tratamento inicial e o tratamento para reperfusão. A terapia inicial é realizada com diversas classes de medicamentos como: antiplaquetários, anticoagulantes, betabloqueadores, inibidores da enzima conversora de angiotensina, estatinas, nitrato, analgésicos e oxigênio suplementar, se necessário.
Em relação a reperfusão, ela pode ser realizada de três formas: trombólise, intervenção coronária percutânea e revascularização cirúrgica. Dentre eles, a intervenção coronária percutânea é a terapia de primeira escolha, estando a trombólise indicada quando não há tempo hábil para realização de intervenção percutânea e a revascularização cirúrgica para falha do tratamento percutâneo ou em complicações específicas (PIEGAS et al., 2015).
3 METODOLOGIA
3.1 Caracterização do estudo
Tratou-se de um estudo ecológico, observacional e descritivo que envolve dados coletados do município de Campina Grande – PB e Sobral – CE.
3.2 Local de realização da pesquisa
O estudo foi realizado a partir da pesquisa nas bases de dados do Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB), no Sistema de Internações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os dados são referentes aos municípios de Campina Grande – PB e Sobral – CE.
Campina Grande é uma cidade localizada no Estado da Paraíba, que apresenta uma população segundo o censo do IBGE de 2010 de 385213 pessoas e um Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de 0,720. Segundo o IBGE, em 2009, a cidade apresentava 112 estabelecimentos de saúde do SUS.
Sobral é uma cidade localizada no Estado do Ceará, com população de 188233 pessoas segundo o censo do IBGE de 2010 e um IDHM de 0,714 segundo o mesmo censo, a cidade consta com 69 estabelecimentos de saúde do SUS. Além disso, em 2022 a cidade foi reconhecida pelo trabalho de excelência na Atenção Primária do Sistema Único de Saúde (SUS), o Seminário Nacional de Qualificação do Desempenho da APS: Boas Práticas de Gestão entregou troféus e certificados para representantes de 29 municípios brasileiros, dentre eles a cidade de Sobral.
3.3 População do estudo e coleta de dados
A população do estudo foi composta pelos dados de internação hospitalar por IAM e pelo indicador 6 do Previne Brasil para Campina Grande – PB e Sobral – CE entre os anos de 2020 e 2023.
Os dados foram coletados do SISAB no ano de 2023, no campo “Indicadores de Desempenho”. Se coletará os dados referentes apenas ao indicador 6 (percentual de pessoas hipertensas com pressão arterial aferida em cada semestre), a partir do ano de 2018 até 2023.
Os dados para avaliação da prevalência de internações por IAM foram coletados no SIH/SUS e no IBGE, sendo usado o número de internações por IAM do ano de 2020 até 2023 e a quantidade de habitantes nas cidades de Campina Grande – PB e Sobral – CE de acordo com o Censo de 2020.
A apresentação dos dados acerca do percentual de pessoas hipertensas com pressão arterial aferida em cada semestre foi demonstrada por quadrimestre, método adotado pelo próprio Ministério da Saúde, enquanto os dados de prevalência de internações por IAM por ano. Os dados foram coletados e armazenados no Microsoft Excel, em seguida serão confeccionadas tabelas específicas para cada achado.
3.4 Análise estatística dos dados
Após a coleta, os dados foram tabulados e analisados no software IBM Statistics SPSS 21.0. Foi realizado o teste de Shapiro-Wilk a fim de se verificar a normalidade dos dados. Tendo em vista o pequeno tamanho da amostra e evidenciada a não normalidade dos dados, optou-se pela utilização de testes não paramétricos na busca por associações entre as variáveis.
Foi utilizado o teste de Mann- Whitney para se verificar a diferença entre as medianas dos valores do Indicador de Consulta HAS e Internações por IAM entre os dois diferentes municípios. Em seguida, foi realizado o teste de Kruskal-Wallis que buscou evidenciar possível associação entre os valores atingidos no indicador e o número de internações em Campina Grande – PB e em Sobral – CE.
3.5 Considerações éticas
A pesquisa seguiu as diretrizes estabelecidas pela resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Por se tratar de uma pesquisa com dados secundários de dados públicos, a submissão e aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa considera-se dispensada.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na busca de dados realizados no SIH/SUS, IBGE e SISAB, foram obtidos os valores referentes a quantidade de internações hospitalares por IAM, incidência de internações por IAM e percentual de pessoas hipertensas com pressão arterial aferida em cada semestre, todos referentes as cidades de Campina Grande – PB e Sobral – CE, no período de 2020 até o primeiro quadrimestre de 2023. Os dados encontrados foram distribuídos por quadrimestre.
A figura 1 apresenta os resultados do percentual de hipertensos com PA aferida em cada semestre, segundo dados do SISAB, em relação ao tempo, estando descritos os achados referentes a ambas as cidades.
A Tabela 1 traz os valores para os indicadores do Previne Brasil dos municípios de Campina Grande – PB e de Sobral – CE. O município de Campina Grande apresentou valores mínimo e máximo de 3 (Q1 de 2020) e 16 (Q1 de 2023), respectivamente. Já Sobral apresentou 5 (Q1 de 2020) e 51 (Q1 de 2023) para valores mínimo e máximo. Foi identificada diferença estatisticamente significativa entre as medianas dos dois municípios, tendo Sobral apresentado a melhor avaliação.
Figura 1 – Comparativo do percentual de hipertensos com PA aferida em cada semestre por quadrimestre.
Tabela 1 – Indicadores do Previne Brasil para os municípios de Campina Grande – PB e Sobral – CE com aplicação de teste para análise da diferença das medianas.
Fonte: CAMPOS et al., 2023
A figura 2 exibe a incidência de incidência de internações por IAM, por 100.000 habitantes, de acordo com dados do SIH/SUS e dados de IBGE referentes ao censo de 2022, nas cidades de Campina Grande – PB e Sobral – CE.
A Tabela 2, por sua vez, demonstra os números de internações por IAM também organizados por quadrimestre, a fim de facilitar o comparativo entre os dados. Campina Grande apresentou incidência mínima e máxima de internações por IAM de 7 e 31 a cada 100.000hab, respectivamente. A mediana foi de 13,59. Já Sobral apresentou mediana de 10,59 a cada 100.000 hab, com os valores variando entre 6 e 14. Embora Sobral apresente números ligeiramente melhores, não houve diferença estatisticamente significativa entre os municípios.
Figura 2 – Incidência internações por IAM por quadrimestre para Campina Grande – PB e Sobral – CE.
Fonte: SISAB, 2023.
Tabela 2 – Internações por infarto agudo do miocárdio para os municípios de Campina Grande – PB e Sobral – CE com aplicação de teste para análise da diferença das medianas.
Fonte: CAMPOS et al., 2023
As Tabelas 3 e 4 trazem a associação entre o número de internações por IAM e o indicador de Consultas HAS para Campina Grande e Sobral, respectivamente. Não foi evidenciada associação estatisticamente significativa entre as variáveis para nenhum dos municípios avaliados.
Tabela 3 – Associação entre o indicador de consulta HAS do previne e o número de internações por IAM para Campina Grande – PB.
Tabela 4 – Associação entre o indicador de consulta HAS do previne e o número de internações por IAM para Sobral – CE.
A metodologia de estudo ecológico adotada no presente trabalho tem a característica de avaliar associação entre agravos e determinadas exposições, podendo haver comparações regionais e temporais. Seu objetivo é a verificação da hipótese de existência de possíveis associações, porém sem um teste específico para comprová-la. Logo, os estudos ecológicos são úteis na geração de hipóteses que darão suporte a pesquisas analíticas para testa-las (ROZIN, 2020).
Observando-se de maneira holística, os resultados encontrados no acompanhamento de hipertensos, na cidade de Sobral, pelo Programa Previne Brasil se mostraram melhor que na cidade de Campina Grande, porém, estes achados podem ser justificados.
Sobral apresenta proporção de USF para habitantes de aproximadamente 2655 habitantes para cada USF, tendo a cidade 80 USF para 212437 pessoas em 2023. Já Campina Grande apresenta a proporção de cerca de 3448 habitantes para cada USF, contando a cidade com 120 USF e uma população de 413830 em 2023.
Um outro comparativo entre a APS de ambas as cidades é a quantidade de agentes comunitários de saúde (ACS): enquanto Sobral apresenta 405 ACS credenciados, com uma média de 524 pessoas para 1 ACS, já a cidade paraibana apresenta 567 ACS credenciados apresentando média de 729 pessoas para cada agente.
É importante ressaltar que ambas as cidades apresentam valores de acompanhamento de hipertensos menores que sua média e mediana no ano de 2020. Tais valores podem ser influenciados tanto pelo início recente do programa, como também devido a pandemia de COVID 19 que modificou o acompanhamento dessa população e as dinâmicas da APS no período.
A importância da APS no acompanhamento de hipertensos já foi avaliada por outros estudos, observando-se que os hipertensos que são acompanhados pela ESF, apesar de apresentarem situação social, material e sanitária piores que os não acompanhados na ESF tinham prevalência de internações hospitalares semelhantes. Corroborando assim, com a ideia que a APS reduz as desigualdades sociais em saúde (OLIVEIRA et al., 2021).
Outras pesquisas também avaliaram o impacto da ESF na saúde da população, sendo demonstrado a diminuição de mortes por causa evitável, principalmente na população preta e parda acompanhada. Em relação ao impacto na mortalidade por DCV, houve uma redução de 3,7% a cada ano na população negra e parda e de 2,7% na população branca (HONE et al., 2017).
Apesar da literatura mostrar a importância da APS na diminuição de internações hospitalares de pacientes hipertensos, o presente estudo não associou a melhor avaliação no previne brasil com a diminuição de internações hospitalares por IAM. Alguns possíveis motivos que justificam o achado é a presença de diversos fatores de risco modificáveis como dislipidemia, tabagismo, diabetes, acumulo de gordura abdominal e fatores psicossociais. Logo o acompanhamento de apenas um fator pode não ter o impacto esperado (TEO et al., 2021).
Além disso, o pouco tempo de Previne Brasil, associado a seu início coincidir com pandemia de COVID 19, que prejudicou o acompanhamento dos pacientes com DCNT, esse achado foi demonstrado por estudo da Organização Pan-Americana de Saúde em que 89% dos funcionários de serviços de saúde especializados em DCNT foram remanejados para o combate à pandemia (OPAS, 2020).
Outra pesquisa, esta realizada em Feira de Santana, observou-se uma queda de 90% nas consultas cardiológicas ambulatoriais, 45% de queda nas consultas no pronto socorro cardiológico e redução de 36% de internações na enfermaria cardiológica do hospital, também foi observada a diminuição de exames laboratoriais e consultas e rastreio das DCNT (ALMEIDA et al., 2020).
No entanto, diante dos resultados encontrados se torna importante a realização de novas pesquisas com intuito de avaliar se bons acompanhamentos no Previne Brasil associam-se com melhoras em dados como internações, mortalidade, dentre outros. Outros estudos avaliando o IAM com demais fatores de risco também se fazem necessário.
5 CONCLUSÃO
Diante do exposto, observou-se melhor acompanhamento do indicador 6 do Previne Brasil, na cidade de Sobral em relação a cidade de Campina Grande. No entanto, o melhor acompanhamento não indicou uma menor prevalência, estatisticamente relevante, das internações por IAM nesta cidade.
Outrossim, não foi possível estabelecer relação estatística entre os valores do indicador 6 do Previne Brasil com a prevalência de internações por IAM em ambas as cidades avaliadas. Possíveis razões que justificam os achados são a pequena amostra de quadrimestres do Previne Brasil, como também a associação de IAM com outros fatores de riscos que não foram avaliados no presente estudo.
Com isso, nota-se a importância do acompanhamento dos indicadores do Previne Brasil para acompanhamento do funcionamento da ESF, no entanto sua relação com outros indicadores de saúde necessita de novas pesquisas, que serão facilitadas com um valor amostral maior. Além disso, pesquisas avaliando diversos fatores de risco para as DCV podem contribuir no achado, sendo possível avaliar o acompanhamento de diabetes mellitus pelo indicador 7 do Previne Brasil.
REFERÊNCIAS
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¹Graduado em Medicina. Secretaria Municipal de Saúde de Campina Grande-PB. E-mail: camposbiel@hotmail.com
²Graduada em Medicina. Secretaria Municipal de Saúde de Campina Grande-PB. E-mail: ciinthia.cae@gmail.com
³Graduado em Medicina. Secretaria Municipal de Saúde de Campina Grande-PB. E-mail: lucascostamedico@gmail.com
4Mestre em Ciência e Tecnologia Ambiental. Secretaria Municipal de Saúde de Campina Grande-PB. E-mail: eclesiocavalcante@gmail.com
5Graduada em Medicina. Secretaria Municipal de Saúde de Campina Grande-PB. E-mail: arelli_med@hotmail.com
6Graduada em Enfermagem. Secretaria Municipal de Saúde de Campina Grande-PB. E-mail: karinnecmartins@hotmail.com
7Graduada em Enfermagem. Secretaria Municipal de Saúde de Campina Grande-PB. E-mail: allanarenally@gmail.com
8Graduanda em Medicina. Faculdade de Medicina de Olinda. E-mail: amanda.carolinne@hotmail.com
9Doutor em Terapia Intensiva. SOBRATI. Secretaria Municipal de Saúde de Campina Grande-PB. E-mail: leonardoleitaobatista@hotmail.com
10Mestre em Saúde da Família e Comunidade. Secretaria Municipal de Saúde de Campina Grande-PB. E-mail: edenilsoncavalcante@gmail.com