USO INDISCRIMINADO DE MEDICAMENTOS PSICOESTIMULANTES E O DESEMPENHO ACADÊMICO EM ESTUDANTES DE MEDICINA A CURTO E LONGO PRAZO

INDISCRIMINATE USE OF PSYCHOSTIMULANT MEDICINES AND ACADEMIC PERFORMANCE IN MEDICAL STUDENTS IN THE SHORT AND LONG TERM

USO INDISCRIMINADO DE MEDICAMENTOS PSICOESTIMULANTES Y RENDIMIENTO ACADÉMICO EN ESTUDIANTES DE MEDICINA A CORTO Y LARGO PLAZO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10799063


Eduarda Righi; Gabriel Tavares Maciel Luz Costa; Jovanna Bezerra Varão; Maria Victória Paulino Soares Carvalho; Aline Aires Aguiar.


RESUMO  

Esta pesquisa, teve como objetivo descrever através de evidências científicas o quanto o uso indiscriminado de medicamentos psicoestimulantes pelos estudantes de medicina afetam o rendimento acadêmico. O presente estudo refere-se a uma revisão integrativa de literatura, de caráter descritivo-exploratório, seguindo as etapas da metodologia proposta por Mendes, Silveira e Galvão, 2008. A pesquisa para o estudo foi realizada a partir do levantamento bibliográfico nas bases de dados científicas das bibliotecas virtuais: MEDLINE e LILACS. Os resultados mostraram que a análise das motivações para o uso indiscriminado de medicamentos psicoestimulantes entre estudantes de medicina revelou uma série de fatores subjacentes a essa prática. Os estudantes, muitas vezes, recorrem a essas substâncias com a intenção de aprimorar sua capacidade cognitiva e enfrentar o grande volume de estudos e demandas acadêmicas. Contudo, é preocupante observar que essa busca por melhorias no rendimento muitas vezes ocorre à margem de uma avaliação médica adequada. Assim, diante dos principais achados na literatura é evidente a urgência de abordar esse fenômeno de forma abrangente e multidisciplinar. Os estudos revisados demonstraram uma prevalência preocupante do uso dessas substâncias, muitas vezes sem a devida supervisão médica, indicando uma tendência alarmante de automedicação para enfrentar as demandas acadêmicas.

Palavras-Chave: Estimulantes do Sistema Nervoso Central; Substâncias para Melhoria do Desempenho; Estudantes de Medicina. 

ABSTRACT 

This research aimed to describe, through scientific evidence, how much the indiscriminate use of psychostimulant medications by medical students affects academic performance. The present study refers to an integrative literature review, of a descriptive-exploratory nature, following the steps of the methodology proposed by Mendes, Silveira and Galvão, 2008. The research for the study was carried out based on a bibliographic survey in the databases scientific information from virtual libraries: MEDLINE and LILACS. The results showed that the analysis of motivations for the indiscriminate use of psychostimulant medications among medical students revealed a series of factors underlying this practice. Students often turn to these substances with the intention of improving their cognitive capacity and facing the large volume of studies and academic demands. However, it is worrying to note that this search for improvements in performance often occurs without an adequate medical evaluation. Thus, given the main findings in the literature, the urgency of addressing this phenomenon in a comprehensive and multidisciplinary way is evident. The studies reviewed demonstrated a worrying prevalence of the use of these substances, often without proper medical supervision, indicating an alarming trend of self-medication to face academic demands.

Keywords: Central Nervous System Stimulants; Performance Enhancing Substances; Medical students.

RESUMEN 

Esta investigación tuvo como objetivo describir, a través de evidencia científica, en qué medida el uso indiscriminado de medicamentos psicoestimulantes por parte de estudiantes de medicina afecta el rendimiento académico. El presente estudio se refiere a una revisión integrativa de la literatura, de carácter descriptivo-exploratorio, siguiendo los pasos de la metodología propuesta por Mendes, Silveira y Galvão, 2008. La investigación para el estudio se realizó a partir de un levantamiento bibliográfico en las bases de datos científicas. información de bibliotecas virtuales: MEDLINE y LILACS. Los resultados mostraron que el análisis de las motivaciones para el uso indiscriminado de medicamentos psicoestimulantes entre estudiantes de medicina reveló una serie de factores subyacentes a esa práctica. Los estudiantes suelen recurrir a estas sustancias con la intención de mejorar su capacidad cognitiva y afrontar el gran volumen de estudios y exigencias académicas. Sin embargo, es preocupante constatar que esta búsqueda de mejoras en el rendimiento muchas veces ocurre sin una evaluación médica adecuada. Así, dados los principales hallazgos de la literatura, se evidencia la urgencia de abordar este fenómeno de manera integral y multidisciplinaria. Los estudios revisados demostraron una preocupante prevalencia del uso de estas sustancias, muchas veces sin adecuada supervisión médica, indicando una alarmante tendencia a la automedicación para enfrentar las exigencias académicas.

Palabras clave: Estimulantes del Sistema Nervioso Central; Sustancias que mejoran el rendimiento; Estudiantes de medicina.

INTRODUÇÃO 

A utilização de psicoestimulantes remonta ao século XIX, quando o medicamento benzedrina (anfetamina) foi sintetizado pela primeira vez em 1887 pelo químico romeno Lazăr Edeleanu. Na época, a benzedrina foi usada como descongestionante nasal e broncodilatador. Mais tarde, durante a Segunda Guerra Mundial, as anfetaminas foram usadas pelos militares para aumentar a vigilância e a resistência física. Após a guerra, as anfetaminas tornaram-se populares como uma droga recreativa e, eventualmente, como uma ajuda para a perda de peso (Rasmussen, 2008).

Na década de 1950, o uso de anfetaminas se espalhou para o tratamento do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) em crianças. Porém, no Brasil, sua utilização foi difundida apenas em 1998, após aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa, 2012). Desde então, as anfetaminas e outros psicoestimulantes, como o metilfenidato (Ritalina), têm sido amplamente utilizados para tratar o TDAH em crianças e adultos (American Psychiatric Association., 2013).

De forma específica, a Ritalina (metilfenidato) é um medicamento psicoestimulantes que atua no sistema nervoso central. A ação da Ritalina se dá pela inibição da recaptação de dopamina e noradrenalina nos neurônios pré-sinápticos, resultando em um aumento desses neurotransmissores na fenda sináptica e, consequentemente, em uma maior atividade neurotransmissora nos neurônios pós-sinápticos (Faraone et al., 2021).

Essa ação no sistema nervoso tem como objetivo aumentar a concentração e a atenção, em pessoas que têm TDAH, um transtorno que afeta a capacidade de se concentrar e controlar impulsos. Desse modo, a Ritalina ajuda a regular a atividade neural, aumentando a capacidade de concentração e reduzindo a impulsividade.

Nesse aspecto, longe do seu propósito inicial, o uso de medicamentos psicoestimulantes, como a Ritalina (metilfenidato) e o Adderall (anfetamina), foi amplamente aderido por estudantes universitários que buscam os efeitos positivos da sua utilização, sem observar os efeitos colaterais a curto e longo prazo. Sendo que essa prática de uso inadequado tem sido relatada desde os anos 1990, embora tenha se tornado mais comum nas últimas décadas (Mccabe et al., 2014).

O uso indiscriminado de medicamentos psicoestimulantes tem se tornado uma preocupação crescente na sociedade contemporânea, especialmente entre estudantes universitários. Esse fenômeno é particularmente relevante no contexto acadêmico, onde a pressão por desempenho e sucesso é intensa. Entre os grupos mais suscetíveis a esse comportamento estão os estudantes de medicina, cuja carga de estudos e responsabilidades é extremamente elevada (Alves, 2023).

A relação entre o uso de medicamentos psicoestimulantes e o desempenho acadêmico em estudantes de medicina é um tema que tem despertado interesse tanto na comunidade científica quanto na sociedade em geral. O uso dessas substâncias para aumentar a concentração, melhorar a memória e prolongar o tempo de estudo é amplamente discutido, mas os impactos reais a curto e longo prazo sobre o desempenho acadêmico ainda carecem de uma compreensão abrangente (Rodrigues; Andrade, 2022).

Entender os efeitos do uso indiscriminado de medicamentos psicoestimulantes sobre o desempenho acadêmico dos estudantes de medicina é fundamental não apenas para a promoção da saúde desses indivíduos, mas também para garantir a qualidade da formação profissional na área da saúde. O acesso facilitado a esses medicamentos e a pressão por resultados acadêmicos podem levar os estudantes a recorrerem a essas substâncias sem considerar os riscos envolvidos (Rodrigues; Andrade, 2022).

Uma abordagem holística que considere tanto os aspectos individuais quanto os fatores contextuais é necessária para uma compreensão completa desse fenômeno e para o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção e intervenção. A pressão por desempenho acadêmico aliada à facilidade de acesso a medicamentos psicoestimulantes pode criar um ambiente propício para o uso indiscriminado dessas substâncias entre os estudantes de medicina. Os efeitos a curto e longo prazo desse comportamento sobre o desempenho acadêmico e a saúde mental dos estudantes são questões que merecem atenção e investigação aprofundada (Alves, 2023).

A prevalência do uso de medicamentos psicoestimulantes entre estudantes de medicina é um reflexo das demandas e expectativas impostas pelo ambiente acadêmico e pela sociedade em geral. No entanto, os efeitos desse uso sobre o desempenho acadêmico desses estudantes ainda são controversos, com estudos apresentando resultados conflitantes (Rodrigues; Andrade, 2022).

Assim a justificativa para este estudo, reside na relação entre o uso de medicamentos psicoestimulantes e o desempenho acadêmico em estudantes de medicina que é um tema complexo que envolve questões éticas, de saúde pública e educacionais. Compreender os fatores que influenciam o uso dessas substâncias e os impactos que elas têm sobre a formação acadêmica desses estudantes é essencial para promover uma cultura de saúde e bem-estar no ambiente universitário.

Com isso, o objetivo desta pesquisa foi: Descrever através de evidências científicas o quanto o uso indiscriminado de medicamentos psicoestimulantes pelos estudantes de medicina afetam o rendimento acadêmico.

MÉTODOS

O presente estudo refere-se a uma revisão integrativa de literatura, de caráter descritivo-exploratório, seguindo as etapas da metodologia proposta por Mendes, Silveira e Galvão, 2008. O estudo foi conduzido com o objetivo de compilar informações de vários estudos de forma sistemática, organizada e completa sobre as motivações que levam os acadêmicos de medicina a fazer uso de psicoestimulantes.

A pesquisa para o estudo foi realizada a partir do levantamento bibliográfico nas bases de dados científicas das bibliotecas virtuais: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) sob a aplicação dos descritores: “Estimulantes do Sistema Nervoso Central”, “Substâncias para Melhoria do Desempenho” e “Estudantes de Medicina”. Selecionados pelo Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) pela aplicação do operador booleano AND.

A mostra deste estudo foi apresentada como uma compilação abrangente e estruturada de informações provenientes de diversas fontes acadêmicas. Através desta mostra, os leitores terão acesso a uma síntese detalhada e crítica das descobertas existentes, oferecendo insights valiosos sobre um tema de importância crescente na área da saúde. A apresentação da mostra deste estudo seguiu uma estrutura clara e coerente, refletindo a meticulosidade da metodologia empregada.

A análise de dados para esta revisão integrativa de literatura foi realizada de maneira sistemática e abrangente, seguindo as etapas definidas pela metodologia proposta por Mendes, Silveira e Galvão (2008). Primeiramente, os dados coletados a partir dos estudos selecionados foram organizados em categorias relevantes que abordam as diferentes motivações para o uso de psicoestimulantes por acadêmicos de medicina. Essas categorias incluem fatores como desempenho acadêmico, pressão dos colegas, expectativas externas e influências sociais, entre outros.

Em seguida, foi realizada uma análise comparativa entre os estudos incluídos, buscando identificar padrões comuns e variações nas motivações relatadas pelos acadêmicos de medicina em diferentes contextos e momentos. Essa análise permitiu uma compreensão mais aprofundada das tendências predominantes e das nuances do fenômeno em questão, destacando possíveis áreas de convergência e divergência entre os estudos revisados.

Ao final, foram exploradas as implicações práticas e teóricas dos resultados obtidos, identificando lacunas na literatura existente e sugerindo direções para pesquisas futuras. Além disso, foram discutidas possíveis estratégias de intervenção e prevenção que pudessem ser derivadas dos achados desta revisão, visando contribuir para o desenvolvimento de abordagens mais eficazes no manejo das motivações para o uso de psicoestimulantes entre acadêmicos de medicina.

Assim, por se tratar de estudo com dados secundários sem identificação, o projeto desta pesquisa é dispensado de apreciação pelo Comitê de Ética em Pesquisa. No entanto, seguirá as diretrizes específicas que regem a ética e normas das pesquisas científicas conforme a lei 466/12. 

Com o levantamento de dados, obteve-se na literatura 44 resultados. Com a aplicação dos critérios de elegibilidade ficaram 14 estudos, com a leitura dos títulos e resumos, este número reduziu para 8 e com a leitura na íntegra, foram selecionadas 05 amostras para compor os resultados descritos no quadro 1.  

RESULTADOS A amostra selecionada, foi organizada no quadro 1, estruturada nas respectivas informações de título do estudo, autor, ano de publicação, objetivo de pesquisa e principais desfechos selecionados. 

Quadro 1: Descrição da amostra selecionada. 

TítuloAutor/AnoObjetivo Principais Desfechos 
1Consumo de psicoestimulantes por estudantes de medicina em um centro universitário privado.Oliveira; Dutra; Fofano, 2023Analisar o uso de  psicoestimulantes por estudantes do curso de Medicina de um Centro 
Universitário privado em Minas Gerais.
Neste estudo, dos 244 entrevistados, cerca de 57.4% faziam uso de algum psicoestimulante. Houve maior uso entre os estudantes do 2° ano e as principais substâncias utilizadas fora m: cafeína (85%), energético (65%) e metilfenidato (60%). A melhora na concentração (97%) foi o efeito mais percebido pelos usuários, seguido de redução do sono (83%) e melhora de raciocínio (80%).
2O Uso Indiscriminado Da Ritalina Para Melhoria do Desempenho Acadêmico.Rodrigues; Andrade, 2022Analisar o uso indiscriminado da Ritalina para melhoria do desempenho acadêmico.Constatou-se que os maiores usuários são acadêmicos sob alto nível de estresse e que anseiam melhora cognitiva com propósito de aprimoramento intelectual. Essas pessoas não apresentam  parâmetros para diagnóstico de TDAH ou qualquer 
outra doença que fundamente o uso do medicamento, mas isso não as impede de adquiri-lo, mesmo sem prescrição médica.
3Frequência Do Uso Da Ritalina Por Estudantes Para Um Melhor Desempenho Acadêmico. Brito; Lima, 2022 Analisar a frequência do uso de psicoestimulantes por acadêmicos para um melhor desempenho no âmbito escolar. Neste estudo, as evidências observaram-se o crescente aumento do uso de psicoestimulantes no meio acadêmico com o objetivo de aprimoramento cognitivo,
 4Análise dos efeitos adversos do uso off-label do metilfenidato por estudantes para aperfeiçoamento cognitivo.Silva et al., 2022 Investigar a utilização do metilfenidato sem prescrição médica com o intuito de aumento da cognição e também as possíveis causas e efeitos no organismo de estudantes.Os resultados evidenciaram que nos últimos anos o consumo offlabel de psicoestimulantes por estudantes com o intuito de incrementar a função cognitiva vem aumentando, esse tipo de consumo não é aprovado, pois além da eficácia ser contestada, o uso indiscriminado pode ocasionar graves efeitos adversos ao indivíduo.
5Consumo de psicoestimulantes por estudantes de medicina de uma universidade do extremo sul do Brasil: resultados de um estudo de painel.Júnior et al., 2021 Analisar a evolução do consumo de psicoestimulantes pelos estudantes de medicina da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) durante o período de quatro anos.Os resultados apresentam que a prevalência de uso dessas substâncias aumentou de 58% para 68% entre 2015 e 2018. A proporção de estudantes que começaram a usar psicoestimulantes durante a faculdade aumentou de 15% para 30% neste período. Essa proporção aumentou conforme o ano de graduação, passando de 25% no primeiro ano para 38% no quarto ano. Esse resultado pode ser atribuído principalmente ao uso de metilfenidato, cuja prevalência aumentou de 21% para 56% no período do estudo. 
6Prevalência do uso de drogas de desempenho entre estudantes de medicina de uma instituição de ensino privada de Brasília. Miranda et al., 2021 Analisar a prevalência do uso de drogas de desempenho entre os estudantes de medicina de uma instituição de ensino privada de Brasília.Evidenciou-se as complicações que o uso dessas substâncias pode causar a longo prazo. Esta pesquisa demonstrou que os efeitos colaterais mais percebidos pelos estudantes que usam os estimulantes foram taquicardia, ansiedade, tremor de mãos e cefaleia, consoante ao encontrado nas pesquisas atuais. 
7O consumo de drogas psicoestimulantes entre estudantes de medicina.Minniti et al., 2021Investigar diversas questões sobre uso de drogas psicoestimulantes entre estudantes de medicina.Foi constatado na pesquisa que os estudantes de medicina da Universidade de Marília, bem como em outras instituições, apesar de estarem conscientes sobre suas consequências, utilizam            drogas psicoestimulantes para auxiliar nos estudos em busca do aumento do potencial cognitivo e melhor rendimento acadêmico. 
8Consumo de estimulantes cerebrais por estudantes em instituições de ensino de montes claros/MG.Santana et al., 2020 Analisar o uso de substâncias psicoativas por estudantes de graduação de Montes ClarosMG.Este estudo destacou os malefícios do uso de psicoestimulantes em longo prazo, sobretudo a dependência e a tolerância química. Em função disso, o apoio familiar e o psicopedagógico são indispensáveis para prevenir e tratar as consequências do uso desmedido de psicoestimulantes.
9O uso de substâncias psicoestimulantes sem prescrição médica por estudantes universitários. Pires et al., 2018 Determinar a utilização de medicamentos psicoestimulantes, sem necessidade médica, nos estudantes de Medicina da Faculdade Governador Ozanam Coelho (FAGOC) de Ubá-MG.Comprovou-se neste estudo que 99 (52,94%) estudantes fazem uso de alguma substância psicoestimulante, sendo a ritalina a mais usada pelos alunos (56,56%). 76,76% (76 alunos) utilizam sem prescrição médica, sendo a maioria (68,42%) homens. 
10Estudo sobre o uso de drogas estimulantes entre estudantes de medicina.Mendes et al., 2015Verificar a frequência do consumo de tais drogas pelos estudantes de medicina, identificando as substâncias mais procuradas, os principais motivos do seu uso e os efeitos colaterais.A relação entre o ano no curso de Medicina e o uso de medicamentos estimulantes mostrou um resultado interessante, na medida em que o aluno avança na faculdade, maior é a tendência de uso desses medicamentos. A partir da análise dos resultados observaram-se efeitos colaterais relacionados apenas com o aumento da sudorese e modificação do sono.
11Prevalência do uso de estimulantes em uma amostra de estudantes de medicina dos EUAWebb 2013 Investigar a a prevalência e os correlatos demográficos do uso de estimulantes prescritos entre uma amostra de estudantes de medicina dos EUA.Este estudo sugere uma alta prevalência de uso de estimulantes entre estudantes de medicina em comparação com a população em geral. A experiência pessoal com esses medicamentos como estudantes de medicina pode impactar as atitudes dos médicos e os padrões de prescrição em relação aos pacientes que procuram ajuda para sintomas relacionados ao TDAH.
Fonte: Elaborado pelos autores, 2024. 

A análise das motivações para o uso indiscriminado de medicamentos psicoestimulantes entre estudantes de medicina revelou uma série de fatores subjacentes a essa prática. Dentre os aspectos mais destacados, encontram-se a busca por uma melhoria no desempenho acadêmico, a pressão do ambiente acadêmico e a expectativa de alcançar padrões elevados de sucesso. Os estudantes, muitas vezes, recorrem a essas substâncias com a intenção de aprimorar sua capacidade cognitiva e enfrentar o grande volume de estudos e demandas acadêmicas. Contudo, é preocupante observar que essa busca por melhorias no rendimento muitas vezes ocorre à margem de uma avaliação médica adequada, como evidenciado por Rodrigues e Andrade (2022).

A frequência crescente do uso de psicoestimulantes entre os estudantes de medicina também é uma constatação alarmante, conforme apontado por Brito e Lima (2022). Esse fenômeno reflete a pressão cada vez maior enfrentada pelos estudantes para obter resultados excepcionais, levando a uma busca por recursos que possam potencializar seu desempenho. No entanto, a utilização dessas substâncias sem a devida orientação médica pode acarretar em sérias consequências para a saúde dos estudantes, como mostrado por Miranda et al., (2021), que identificaram uma série de efeitos colaterais adversos associados ao uso desses medicamentos a longo prazo.

Os resultados também evidenciam a prevalência do uso de substâncias psicoestimulantes, como a Ritalina, entre os estudantes de medicina, mesmo sem a necessidade de prescrição médica, como constatado por Pires et al., (2018). Esse comportamento sugere uma cultura de automedicação e busca por soluções rápidas para os desafios acadêmicos, sem considerar os potenciais riscos envolvidos. Além disso, a alta prevalência do uso de estimulantes entre os estudantes de medicina, em comparação com a população em geral, como indicado por Webb (2015), levanta preocupações sobre o impacto desse fenômeno no futuro exercício da profissão médica e na qualidade do cuidado prestado aos pacientes.

Diante dessas constatações, torna-se evidente a necessidade de políticas e intervenções que abordem não apenas as motivações individuais para o uso de psicoestimulantes entre os estudantes de medicina, mas também os fatores estruturais e sociais que contribuem para esse comportamento. A conscientização sobre os riscos associados ao uso indiscriminado dessas substâncias e o incentivo a estratégias alternativas para lidar com o estresse e a pressão acadêmica são medidas essenciais para proteger a saúde e o bem-estar dos estudantes, como destacado por diversos autores.

CONCLUSÃO 

Diante dos principais achados na literatura é evidente a urgência de abordar esse fenômeno de forma abrangente e multidisciplinar. Os estudos revisados demonstraram uma prevalência preocupante do uso dessas substâncias, muitas vezes sem a devida supervisão médica, indicando uma tendência alarmante de automedicação para enfrentar as demandas acadêmicas. Além disso, os efeitos colaterais associados ao uso prolongado desses medicamentos destacam a necessidade de uma avaliação mais criteriosa dos riscos envolvidos.

No entanto, é importante reconhecer as limitações presentes na literatura atual sobre o tema. A maioria dos estudos se baseiam em dados auto relatados, o que pode gerar viés devido à subjetividade das respostas dos participantes. Além disso, há uma falta de consenso sobre a definição e mensuração do uso indiscriminado de psicoestimulantes, dificultando a comparação entre os resultados e a generalização das conclusões. Essas limitações ressaltam a necessidade de pesquisas futuras mais robustas e longitudinais estruturadas para avaliar de forma mais precisa os efeitos do uso de psicoestimulantes no desempenho acadêmico dos estudantes de medicina.

Sugere-se, portanto, que pesquisas futuras explorem não apenas os determinantes individuais do uso de psicoestimulantes entre os estudantes de medicina, mas também os fatores contextuais e sistêmicos que influenciam esse comportamento. Além disso, investigações longitudinais que acompanhem os estudantes ao longo de seu período acadêmico podem fornecer insights valiosos sobre os padrões de uso de psicoestimulantes e seus impactos a longo prazo. Ademais, são necessários esforços para desenvolver estratégias de intervenção eficazes, incluindo programas de educação sobre o uso responsável de medicamentos, apoio psicológico e alternativas saudáveis para lidar com o estresse acadêmico. Somente por meio de uma abordagem integrada e colaborativa será possível mitigar os efeitos prejudiciais do uso indiscriminado de psicoestimulantes e promover uma cultura de saúde e bem-estar no ambiente universitário.

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