DIABETES MELLITUS GESTACIONAL: DIAGNÓSTICO

GESTATIONAL DIABETES MELLITUS: DIAGNOSIS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10794972


Sheine Alves de Souza1, Thifisson Ribeiro de Souza2, Gabriel Feres Gomes Chamon Assu3, Isabella Boa Sorte Costa4, Isabella Andrade Cunha5, Thaís Pesqueira Rodrigues6, Larissa Gonçalves Simões7, João Carlos Ribeiro Zorzin8, Ariel Guimarães Monte9, Fabiana Sousa de Macedo10


RESUMO

O diabetes mellitus gestacional é uma complicação metabólica frequente durante a gravidez. Sua prevalência pode ultrapassar os índices de 20% dependendo da população. Epidemiologicamente, mulheres que habitam o Oriente Médio e o norte africano são proporcionalmente mais afetadas do que o normal. No Brasil, a porcentagem de mulheres afetadas pela doença pode chegar a 18%, escancarando a grande necessidade de tornar a temática algo recorrente dentro das discussões que permeiam a comunidade científica. Logo, esta revisão narrativa de literatura reuniu artigos das principais bases de dados objetivando apontar quais são os exames utilizados para diagnosticar o diabetes mellitus gestacional, bem como seus valores de referência. Percebeu-se que os exames essenciais para o diagnóstico são: teste de tolerância à glicose e glicemia em jejum. Feitos de forma adequada e no momento correto ao longo do acompanhamento pré-natal, esses exames podem evidenciar (quando alterados) o diagnóstico para a doença.

Palavras-chave: Diabetes Gestacional; Índice Glicêmico; Glicemia.

1 INTRODUÇÃO

O diabetes mellitus gestacional é uma complicação metabólica frequente durante a gravidez. Sua prevalência pode ultrapassar os índices de 20% dependendo da população. Epidemiologicamente, mulheres que habitam o Oriente Médio e o norte africano são proporcionalmente mais afetadas do que o normal (LENDE e RIJHSINGHANI, 2020; RODRÍGUEZ e MAHDY, 2023). 

No Brasil, a porcentagem de mulheres afetadas pela doença pode chegar a 18%, escancarando a grande necessidade de tornar a temática algo recorrente dentro das discussões que permeiam a comunidade científica.

Em 2018, um estudo feito por Plows et al. conclui o seguinte:

O diabetes mellitus gestacional (DMG) é uma complicação grave da gravidez, na qual mulheres sem diabetes previamente diagnosticada desenvolvem hiperglicemia crônica durante a gestação. Na maioria dos casos, esta hiperglicemia é o resultado de uma tolerância diminuída à glicose devido à disfunção das células β pancreáticas num contexto de resistência crónica à insulina. Os fatores de risco para DMG incluem sobrepeso e obesidade, idade materna avançada e histórico familiar ou qualquer forma de diabetes. As consequências do DMG incluem risco aumentado de doença cardiovascular materna e diabetes tipo 2, macrossomia e complicações no nascimento do bebê. Existe também um risco a longo prazo de obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares na criança. O DMG afeta aproximadamente 16,5% das gestações em todo o mundo, e esse número deverá aumentar com a escalada da epidemia de obesidade. Embora existam várias estratégias de gestão – incluindo insulina e intervenções no estilo de vida – ainda não existe uma cura ou uma estratégia de prevenção eficaz. Uma razão para isto é que os mecanismos moleculares subjacentes ao DMG são mal definidos.

Portanto, tendo em vista a grande importância de abordar os aspectos deste tema, o estudo presente possui o objetivo principal de apontar quais são os exames utilizados para diagnosticar o diabetes mellitus gestacional, bem como seus valores de referência.

2 METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão narrativa de literatura que utilizou artigos publicados de forma integral e gratuita nas bases de dados U.S. National Library of Medicine (PUBMED) e Scientific Electronic Library Online (SciELO). Deu-se preferência para a bibliografia publicada nas línguas inglesa, portuguesa, espanhola e francesa, considerando o domínio de pelo menos um autor do estudo em cada idioma, garantindo uma tradução mais fidedigna do conteúdo revisado. O unitermo utilizado para a busca foi “Gestational diabetes”, presente nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS).

Objetivando uma abordagem mais atual acerca do objetivo almejado, um recorte temporal foi incorporado à filtragem, que incluiu pesquisas publicadas entre janeiro 2014 e fevereiro de 2024. No entanto, livros referência da medicina também foram consultados no intuito de melhor conceituar os termos aqui utilizados, trazendo maior assertividade e confiabilidade à pesquisa.

Durante o mês de fevereiro de 2024, os autores deste estudo se dedicaram a uma busca minuciosa pelos estudos elegíveis dentre aqueles encontrados. A seleção incluiu a leitura dos títulos dos trabalhos, excluindo aqueles cujo tema não era convergente com o aqui abordado. Posteriormente, realizou-se a leitura integral dos estudos e apenas 70 dos 4832 artigos encontrados foram utilizados aqui de alguma forma, conforme exemplificado pelas figuras a seguir (Figura 1 e 2):

  Figura 1 – Artigos encontrados na PUBMED: metodologia utilizada

Figura 2 – Artigos encontrados na SciELO: metodologia utilizada

Além disso, vale também ressaltar que o presente estudo dispensou a submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), tendo em vista que não aborda e nem realiza pesquisas clínicas em seres humanos e animais. Por conseguinte, asseguram-se categoricamente os preceitos dos aspectos de direitos autorais dos autores vigentes previstos na lei brasileira (BRASIL, 2013).

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

O diabetes mellitus gestacional deve ser rastreado inicialmente na primeira consulta do primeiro trimestre de gestação (antes das 20 primeiras semanas) por meio da glicemia em jejum. A gestante deve ser devidamente orientada sobre a duração do jejum, necessitando ser entre 8 e 12 horas para que a medida seja adequada para o diagnóstico. Considera-se alterado, portanto, glicemia em jejum entre 92 e 125 mg/dL. Valores superiores a este indicam diabetes prévio e, abaixo, glicemia normal sem alteração (ALEJANDRO et al., 2020; CLEARY et al., 2021; FARRAR et al., 2017; MODZELEWSKI et al., 2022; NASCIMENTO et al., 2024).

Para as gestantes que tiverem valores considerados normais para o exame da glicemia em jejum, indica-se ainda a realização do teste de sobrecarga entre as semanas 24 e 28, o período mais diabetogênico da gravidez, onde há um pico de secreção do hormônio lactogênico placentário, sendo este um contra insulínico que promove o desenvolvimento do diabetes gestacional (KAUTZKY-WILLER et al., 2023).

No teste de sobrecarga, é realizada primeiramente a medida da glicemia em jejum. Posteriormente, realiza-se a sobrecarga com 75g de glicose, medindo-se a glicemia uma hora e duas horas após. Na primeira avaliação, o valor normal deve ser inferior a 92 mg/dL. Na segunda e na terceira coleta, os valores devem ser, respectivamente, inferiores a 180 e 153 mg/dL. Qualquer identificação de elevação dos valores mencionados podem indicar o diabetes gestacional (ALFADHLI, 2015; CHOUDHURY e RAJESWARI, 2021; PILLAY et al., 2021; SWEETING et al., 2022).

É de suma importância ressaltar que basta um valor alterado em qualquer dos exames mencionados para o fechamento do diagnóstico. Porém, caso a gestante tenha iniciado o acompanhamento pré-natal após as primeiras 20 semanas de gestação, é recomendado que o teste oral de tolerância à glicose (TOTG) ainda seja feito conforme explicado. Porém, se não houver acompanhamento até a 28ª semana, realiza-se o teste de sobrecarga imediatamente para avaliar a gestante.

A detecção precoce através do rastreio sistemático de glicemia é crucial para a implementação de medidas preventivas e terapêuticas adequadas. Modificações no estilo de vida, incluindo dieta equilibrada e atividade física regular, são recomendadas para gestantes em risco ou diagnosticadas com a doença, visando o controle glicêmico e a prevenção de complicações.

O monitoramento contínuo da glicemia e o ajuste terapêutico, quando necessário, são essenciais para garantir o bem-estar materno-fetal. O pré-natal permite uma abordagem multidisciplinar, envolvendo obstetras, endocrinologistas e nutricionistas, essencial para o manejo eficaz do diabetes gestacional e a promoção de desfechos positivos para a gravidez. Portanto, o pré-natal não só facilita a detecção precoce e o tratamento como também educa as gestantes sobre a importância do controle glicêmico, enfatizando a adoção de um estilo de vida saudável, crucial para a saúde materna e fetal.

4 CONCLUSÃO

Os exames diagnósticos para o diabetes mellitus gestacional devem ser solicitados de acordo com as semanas de gestação durante o acompanhamento do puerpério. Os dois exames solicitados são: glicemia em jejum e teste oral de tolerância à glicose. Qualquer alteração verificada em algum dos exames fecha o diagnóstico da doença.

Ademais, os autores deste estudo entendem que há diversas lacunas existentes no trabalho no que diz respeito à grande abrangência do tema e suas peculiaridades. Logo, fomenta-se novas pesquisas que visem preencher essas lacunas e disseminar conhecimento científico.

REFERÊNCIAS

ALEJANDRO, E.U. et al. Gestational Diabetes Mellitus: A Harbinger of the Vicious Cycle of Diabetes. Int J Mol Sci.; 2020, 21(14): 5003.

ALFADHLI, E.M. Gestational diabetes mellitus. Saudi Medical Journal; 2015, 36(4): 399-406.

BRASIL. Lei Nº 12.853. Brasília: 14 de agosto de 2013. Acesso em 01 de novembro de 2023.

CHOUDHURY, A.A.; RAJESWARI, V.D. Gestational diabetes mellitus – a metabolic and reproductive disorder. Biomed Pharmacother; 2021, 143: 112183.

CLEARY, E.M. et al. Gestational Diabetes. Endotext [Internet]. South Dartmouth (MA): MDText.com, Inc.; 2000–. PMID: 34370430.

FARRAR, D. et al. Different strategies for diagnosing gestational diabetes to improve maternal and infant health. Cochrane Database Syst Rev.; 2017, 8(8): CD007122.

KAUTZKY-WILLER, A. et al. [Gestational diabetes mellitus (Update 2023)]. Wien Klin Wochenschr; 2023, 135 (Suppl 1): 115-128.

LENDE, M.; RIJHSINGHANI, A. Gestational Diabetes: Overview with Emphasis on Medical Management. International Journal of Environmental Research and Public Health; 2020, 17(24): 9573.

MODZELEWSKI, R. et al. Gestational Diabetes Mellitus-Recent Literature Review. J Clin Med; 2022, 11(19): 5736.

NASCIMENTO, R.B. et al. Como diagnosticar o diabetes mellitus gestacional? Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação; 2024, 10(1): 408-413.

PILLAY, J. et al. Screening for Gestational Diabetes Mellitus: A Systematic Review to Update the 2014 U.S. Preventive Services Task Force Recommendation [Internet]. Rockville (MD): Agency for Healthcare Research and Quality (US); 2021.

PLOWS, J.F. et al. The Pathophysiology of Gestational Diabetes Mellitus. Int J Mol Sci.; 2018, 19(11): 3342.

RODRÍGUEZ, B.S.Q.; MAHDY, H. Gestational Diabetes.  StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023.

SWEETING, A. et al. A clinical update on gestational diabetes mellitus. Endocr Rev.; 2022, 43(5): 763-793.


1Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário Metropolitano da Amazônia. sheine.souza@outlook.com

2Graduando em Medicina pela Universidade de Rio Verde. thifissonribeiro@gmail.com

3Graduando em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora. gabrielassu22@gmail.com

4Graduanda em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora. isabellaboasorte@gmail.com

5Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário Antônio Carlos. bellinhacunha97@hotmail.com

6Graduanda em Medicina pela Universidade Nove de Julho. tharodd@gmail.com

7Graduanda em Medicina pela AFYA Faculdade de Ciências Médicas / ITPAC Palmas. larissa.g.simoes@hotmail.com

8Graduando em Medicina pela Universidade de Rio Verde. jcrzorzin@gmail.com

9Médico pela Afya Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba. ariel.gmf13@gmail.com

10Médica pelo Instituto Tocantinense Presidente Antonio Carlos Porto (ITPAC Porto). byannasousa@hotmail.com