A MULTIMODALIDADE NO USO DA TIRINHA NO LIVRO DIDÁTICO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10719959


Maria das Dores Licindo de Carvalho¹


RESUMO: A interação humana revela aspectos que necessitam ser pensados e analisados, a fim de que se possa atingir uma comunicação eficiente. Nesse processo de interlocução, a linguagem se realiza orientada por uma finalidade específica. Por isso, este artigo tem como objetivo geral compreender como é abordada das múltiplas linguagens no gênero ‘tira’ em um livro didático de Língua Portuguesa do 6º ano do ensino fundamental, e os específicos, destacam-se: caracterizar o gênero textual tirinha; descrever as práticas didáticas adotadas no trabalho com a tira com vistas a exploração da linguagem verbal e não verbal e discutir a importância da tira e suas contribuições no aprendizado sobre linguagem verbal e não verbal. O gênero tirinha, por apresentar uma linguagem mista, que faz uso da palavra e da imagem torna-se um poderoso recurso educativo a ser utilizado nas salas de aula. Para esta investigação, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, através do método documental, de uma análise do livro. Para subsidiar nossa pesquisa nos baseamos em Marcuschi(2008), Antunes(2009), Oliveira(2007), Bechara(1985), além do documento oficial: Parâmetro Curricular Nacional de Língua Portuguesa. As tiras foram coletadas em um livro didático do 6º ano, adotado na maioria das escolas municipais de Barras – Piauí. Após análise das tiras e experiência de sala de aula pode-se constatar que é um gênero abordado no livro didático com questões relacionadas ao uso da linguagem verbal e não verbal em contextos de uso do cotidiano, além de ironia, característica primordial das tiras.

PALAVRAS – CHAVE: Linguagem verbal. Linguagem não verbal. Livro didático. Gênero Tirinha.

ABSTRACT: Human interaction reveals issues that need to be designed and analyzed, so that it can achieve efficient communication. In this process of dialogue, the language takes place guided by a particular purpose. Therefore, this article has as main objective to understand how is addressed to verbal and non-verbal language in the genre ‘strip’ in a textbook of English Language of the 6th year of elementary school, and specific, are: to characterize the genre comic strip; describe teaching practices in working with the strip with a view to exploitation of verbal and non verbal and discuss the importance of the strip and its contributions in the learning of verbal and non verbal. Gender strip, by presenting a mixed language, which makes use of word and image becomes a powerful educational resource to be used in classrooms. For this research, we carried out a literature search. The strips were collected in a textbook of 6th year, adopted in most public schools Bars – Piaui. After analysis of the strips and classroom experience can be seen that it is a genre discussed in the textbook with issues related to the use of verbal and non-verbal in everyday contexts of use, and irony, prime feature of the strips.

KEYWORD: verbal language and non-verbal language. Textbook. Comicstrip.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como tema  linguagem multimodal  e como objeto de estudo a tira no livro didático do 6º ano do ensino fundamental. Conforma Marcuschi (2006) o estudo de algum gênero mostra o funcionamento da sociedade e suas diversas linguagens que são utilizadas. Estes gêneros textuais são  utilizados para a comunicação ou fins pedagógicos que se fazem por meio do verbal e não verbal, isso é, a partir da abordagem multimodal permitindo aos leitores que explorem o texto, observando ideologias e sentidos que vão além da palavra, sendo observado as partes constituintes de cada texto, explorando todos os recursos disponíveis.

Neste trabalho escolheu-se o gênero tira por perceber, através de práticas em sala de aula, que despertam o interesse dos alunos  com a capacidade de impregnar o imaginário, com modos de leitura que desenvolvem a criticidade do alunado por meio de  textos multimodais.

Neste estudo adotou-se o seguinte objetivo geral, analisar como é abordada a  linguagem multimodal no gênero ‘tira’ em um livro didático de Língua Portuguesa do 6º ano do ensino fundamental, e como objetivos específicos, destacam-se: caracterizar o gênero textual tirinha; descrever as práticas didáticas adotadas no trabalho com a tira com vistas a exploração das diversas formas de linguagem e discutir a importância da tira e suas contribuições no aprendizado sobre  a linguagem multimodal. 

Para a realização desse estudo realizou-se uma pesquisa bibliográfica através do método documental com base nas discussões propostas por Marcuschi (2008), Antunes (2009), Oliveira (2007), Bechara (1985), Ramos (2017), Ribeiro (2019), além do documento oficial: Parâmetro Curricular Nacional de Língua Portuguesa (1998).

O levantamento das tiras (objeto desse estudo) foi realizado no livro didático de Língua Portuguesa. Português Linguagens, dos autores William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães (2015).

O texto apresenta uma estrutura formada por 03 seções. Na primeira, tece-se considerações acerca da comunicação e da linguagem, com foco na linguagem multimodal. Na segunda, apresenta-se o gênero textual tira como um recurso disponível no LD, bem como sua importância no ensino aprendizagem no contexto escolar. Na terceira e última seção, caracteriza-se a tira como um gênero sincrético, e faz-se uma análise de uma atividade proposta pelo livro didático.

Este trabalho se justifica a partir de uma reflexão e análise sobre a importância da linguagem mista, e ainda o uso da tira como recurso didático-pedagógico, o que se acredita possibilitar ao aluno a aquisição de conhecimentos que permitem interpretações e possíveis conclusões, pois as linguagens existentes que representam toda a experiência do ser humano na vida social. Kleiman (2005) afirma que hoje os textos são multimodais, usando linguagens verbais, imagens, fotos e recursos gráficos em gerais. Portanto, não é apenas a linguagem verbal  a que contribuí para o sentido, a imagem se tornou uma forma de expressão e de comunicação muito poderosa.

1   COMUNICAÇÃO E  LINGUAGEM: TECENDO CONSIDERAÇÕES

Comunicação não se faz somente com palavras, mas com gestos, toques, imagens visuais e sonoras e até sensações olfativas ou gustativas fazem parte dos recursos de que se dispõe para a comunicação. Com as palavras, os sentidos também adaptam o ser humano ao meio sócio-ambiental, constituindo fontes de conhecimentos (ALCURE, 1996).

Kleiman (2005) diz que a imagem faz parte do conjunto de recursos necessários para ensinar a ler, ela pode desempenhar o papel de coadjuvante, co-partícipe na interpretação do texto verbal, ajudando a construir os primeiros sentidos, que depois serão tornados mais precisos pela leitura completa do texto.

Desde os primórdios, o homem tem se utilizado de um conjunto de signos, isto é, da linguagem para se comunicar. No entanto, a mera existência da linguagem não é suficiente para o êxito da comunicação, pois esta se efetiva quando ocorre a interação entre os interlocutores. Nesse sentido, o homem desenvolveu diferentes formas de linguagem, e em cada situação ele escolhe uma forma e usa de acordo com as condições e o momento de interação. 

Portanto, é essencialmente a linguagem  que faz  o ser humano diferente dos outros animais, pois detém a capacidade de viver o tempo presente, retomar o tempo passado e ainda estender-se ao tempo futuro. Segundo Oliveira (2007, p. 7), “para compreender o mundo de forma plena e se comunicar o ser humano usa as duas formas de expressão: verbal e não-verbal, que são muitas vezes, campos complementares e simultâneos”.

Verifica-se que todas as conquistas que o homem alcançou no curso de sua história estão de alguma forma relacionadas à comunicação. Sem a comunicação não haveria cultura (conjunto de crenças, valores e comportamentos próprio de uma comunidade), pois os conhecimentos de cada indivíduo não seriam transmitidos e assim desapareceriam com a sua morte.

1.1 LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL

Conforme Cereja (2004, p.230), “a linguagem é todo sistema formado por símbolos que permite a comunicação entre os indivíduos”; A linguagem verbal é aquela que tem por unidade a palavra, as linguagens não verbais, têm outros tipos de unidade, como o gesto, os movimentos, a imagem, a nota musical. As manifestações da linguagem verbal e da linguagem não-verbal são complementares em seu processo global, tornando a comunicação humana mais rica, compreensível e acessível.

Bechara (1985) entende por linguagem qualquer sistema de signos empregado na intercomunicação social para expressar e comunicar ideias e sentimentos, isto é, conteúdos da consciência. Por apresentar-se como o ato de comunicação entre as pessoas, o uso da linguagem para esse ato de comunicação pode ser através das palavras falada ou escrita; dos gestos, das imagens. A linguagem pode ser verbal, não verbal ou multimodal.

Ressalte-se que a linguagem verbal e não verbal é a principal arma do homem para exprimir seus estados, emoções e comunicação. A linguagem, pela sua natureza, é transdisciplinar, não menos quando é enfocada com objeto de estudo e exige dos professores essa expectativa em situação didática e aprimoramento constante constatou-se que a linguagem é considerada como a capacidade humana de articular uns com os outros. 

As pessoas não se comunicam apenas com palavras. Na verdade, movimentos faciais e corporais, gestos, olhares, apresentação e mesmo a entonação de voz também falam. Constituem os elementos não-verbais da comunicação, de grande importância na transmissão da mensagem, e qualquer comunicador precisa ter conhecimento dessa realidade. Para uma comunicação plena, torna-se necessário harmonizar estas duas linguagens: verbal e não-verbal. O profissional da comunicação e também da educação, para ter êxito, precisa conhecer e dominar a linguagem dos sinais, dos símbolos, dos gestos, da postura, do comportamento. 

As informações verbais são plenamente voluntárias: o ato de falar constitui um elaborado processo, que vai desde a ideia até o enunciado da mensagem. Já o comportamento não-verbal pode ser uma reação involuntária ou um ato comunicativo. Por isso, ele nem sempre obedece a uma lógica evidente. A ambiguidade desse comportamento acaba sendo uma característica importante da comunicação não-verbal.

Diante desse cenário, o estudo das tiras no livro didático de Língua Portuguesa apresenta-se como uma ferramenta importante para a aquisição deste conhecimento já que nelas são exploradas tanto a linguagem verbal como a linguagem não verbal.

2 A TIRA COMO RECURSO PEDAGÓGICO NO LIVRO DIDÁTICO

Neste estudo, devido à presença da linguagem verbal e não verbal, e ainda por despertar o interesse do aluno como também por presença frequente em livros didáticos, adotou-se o gênero tira como ferramenta no ensino aprendizagem sobre linguagem. Para isso, escolheu-se como local de circulação do referido gênero, o suporte Livro Didático (LD), por ser um recurso presente no dia a dia do aluno e bastante utilizado no ambiente escolar.

Quando se discute sobre o uso da tira em LD, pode-se afirmar que  na maioria das vezes,  esse processo envolve a aquisição da leitura como também estudo sobre a Língua. 

Ramos (2017) justifica a necessidade de um olhar sobre elas, contudo com uso pedagógico, pois as mesmas serão de valia se estiverem articuladas com uma proposta didática clara que saiba usar o conteúdo do texto e os recursos presentes neles, observando tantos os elementos verbais quanto os visuais.

Nesse sentido, as aulas de língua portuguesa devem ser planejadas a partir de um olhar mais detalhado sobre o uso da tirinha, com vista na exploração da linguagem verbal e não verbal do texto. 

Seguindo o pensamento de Ramos e Kleiman o professor em sala de aula deve afastar-se de métodos descontextualizados e possibilitar que os conhecimentos sobre os diferentes recursos da linguagem possam representar uma importante ferramenta de trabalho visando aprimorar as habilidades de comunicação da linguagem do aluno, na qual seu conhecimento de mundo seja totalmente ampliado.

A seguir imagem da capa do livro analisado.

Imagem 01:

No LD analisado constatou-se a presença de 41 tiras, explorando os recursos multimodais.

Conforme demonstrado no quadro 01 a seguir:

QUADRO 01: Distribuição do gênero textual tirinha presentes no LD 6º ano

Unidade 01Unidade 02Unidade 03Unidade 04
Distribuídas em 3 capítulos com 11 tirinhas .Todas as tirinhas sendo bem explorado o uso da linguagem verbal e não verbal.Distribuídas em 3 capítulos com 11 tirinhasDistribuídas em 3 capítulos com 10 tirinhasDistribuídas em 3 capítulos com 10 tirinhas.Todas as tirinhas  com questões  nos mais diversos contextos sociais
Fonte: LICINDO, 2020.

Pelo exposto no quadro 01, percebe-se que o gênero tira se faz presente em todas as unidades do LD,  acompanhadas de atividades para serem exploradas em sala de aula.

2.1  O gênero tira 

As tirinhas são narrativas curtas, desenvolvidas geralmente em três quadros, e que exige do leitor, no momento da leitura o conhecimento prévio. São caracterizadas como auxilio dos diálogos somados a elementos visuais.

Mendonça (2010) a tirinha é um tipo de quadrinho, porém, sintética em que a narrativa se desenvolve em um número reduzido de quadros, com narrativa organizada quadro a quadro. Para Ramos (2017) a sequência narrativa  está organizada em quadros dispostos horizontalmente em que cada quadro contém uma parte da ação, com linguagem além de verbal, elementos não verbais, tais como: a imagem dos personagens e cenário, balões variados que expressam os pensamentos, sentimentos , expressões faciais e expressões de movimentos. Isso tudo sendo uma combinação para dar sentidos ao texto.

Silva (2018), diz em sua pesquisa, que apesar das tirinhas apresentarem textos de grande potencial informativo e composicional, elas não são exploradas em toda sua riqueza e dimensão linguística e imagética, sendo quase sempre usadas como meio pretexto para o trabalho gramatical. De acordo com a autora esse tipo de leitura de nada enriquece e aperfeiçoa a leitura dos alunos e as competências e habilidades que estão envolvidas nesse processo como inferência, prática situada do aluno, pensamento crítico e autonomia.

Ainda sobre isso a autora  diz:

Apesar de se tratar de um texto de múltiplas linguagens, nas análises feitas dos manuais didáticos da Coleção Português Linguagens 3  (CEREJA,MAGALHÃES,1990,1994,2013) pudemos constatar que apenas a linguagem verbal foi explorada . Toda a riqueza simbólica, imagética e composicional desse gênero foi ignorada, dando lugar ao estudo de apenas um de seus aspectos, curiosamente o de importância secundária na constituição desse gênero.(SILVA, 2018)

Por ser uma produção que soma elementos verbais e visuais as atividades com uso das tirinhas poderiam explorar esse universo de possibilidades linguísticas pois  elas têm um papel importante no processo de produção de sentidos muitas vezes não explorada . O texto geralmente tem a finalidade de refletir sobre algum tema social, na maioria das vezes fazendo críticas aos valores socioculturais, os quais fica explícito trabalhar outras competências gerais da BNCC que envolvem os atos de ler, escrever e produzir sentidos, como reflexo das práticas plurais, heterogêneas e multimodais de linguagem presentes nos textos.

O trabalho de Luiza (2011) sobre os livros didáticos de português também aponta que a maior parte das atividades apresentadas nos livros que adotamos nas escolas não aborda questões de leitura e produção textual que considerem, de modo interessante, a imagem ou os textos multimodais. Isso parece desalinhado em relação ao que vimos acontecer na circulação social dos textos, pois os recursos multimodais estão presentes em todos os textos.

Teixeira (2008)¹ analisou livros didáticos em sua investigação, a pesquisadora constatou problemas na relação das imagens com o texto, das imagens com o significado pretendido e na organização dos modos semióticos nas unidades. Com base nisso, a autora sugere que os produtos de livros didáticos  precisam ampliar seus conhecimentos sobre a multimodalidade  a fim de explorar de forma mais adequada e eficaz a produção desses materiais.

Do que se vê em livros didáticos, vestibulares e outros materiais relacionados ao ensino, há tantos usos inteligentes das tirinhas quanto precários. Em alguns casos, há a tendência de priorizar aspectos ao uso  estrutural da língua, supervalorizando a escrita  ou a gramática e deixando em segundo plano a parte visual, ou a interpretação crítica tão importante para o processo de construção de sentidos.

Conforme Marcuschi (2010,p.30) a supervalorização da escrita, sobretudo a escrita alfabética, leva a uma posição de supremacia das culturas com escrita ou até mesmo dos grupos que dominam a escrita dentro de uma sociedade desigualmente desenvolvida. 

Beaugrande (1997, p.11) sugere que o texto não é uma simples sequência de palavras escritas ou faladas, mas um evento que envolve uma enorme riqueza de aspectos, tais como: um som, uma palavra, uma significação, imagens, o texto se torna em geral multimodal.

Nos LD, as tiras têm sido utilizadas como artifício para  ensino aprendizagem como também prender a atenção do aluno, uma vez que se fosse desprovido de ilustrações (linguagem não verbal) e segmentos de humor transformaria se apenas em um invólucro de palavras, o que provavelmente o tornaria algo enfadonho e sem atrativos. 

Em geral, as tiras são utilizadas em diversos segmentos comunicativos, seja em jornais ou revistas, sempre com um propósito que vai alem daquele de apenas informar um fato ou fazer humor inclusive com temas sérios, ela traz em si mesma, embutida, outra informação a ser desvendada. 

No entanto, no livro didático do 6º ano, sua função parece ser ainda maior, constituindo-se como um  de se abordar determinados assunto.

De acordo com experiência em sala de aula, nas tiras é possível trabalhar:

  • Imagens
  • Linguagem verbal
  • Não verbal (expressões fisionômicas, gestos, entonação, etc)

Capacidades a serem desenvolvidas pelo aluno:

  • Leitura
  • Interpretação
  • O que foi dito
  • Mensagens subliminares

No LD analisado neste estudo, foi possível identificar as inúmeras aplicabilidades das tiras, as quais são apresentadas a seguir.

As tiras encontradas  em alguns casos, são  as que possuem conteúdos mais voltados para o humor, o entretenimento, sem que se perceba nelas uma pretensão secundaria. Como por exemplo instigar  os estudantes a questionarem sobre a importância do uso de vários elementos para construir significados no texto.

3 CARACTERIZAÇÃO DAS TIRINHAS COMO UM GÊNERO SINCRÉTICO

Esse gênero se enquadra na ordem de narrar caracterizado pelo ato de contar histórias em sequência de pequenos quadros. Conforme Ramos( 2017) as tirinhas são compostas, em média, de três a quatro quadrinhos, mas não sendo incomuns tirinhas com apenas dois quadrinhos ou raras vezes tirinhas com cinco ou mais quadrinhos, embora existem  com até nove quadrinhos.

Ramos (2017, p. 188) diz que é possível usar as tirinhas e histórias em quadrinhos para quase tudo no ensino, basta apenas que se queira utilizá-las e que tenha clareza dos objetivos a serem alcançados. Conforme o autor, essa inclusão acontece por características peculiares das tirinhas, como por exemplo, reunirem muita informação com narrativas tendencialmente curtas de fácil reprodução e edição com densidade de conteúdo.

Programas de fomento à leitura mantidos por governos municipais, estaduais e federais também têm incluído quadrinhos em seus acervos. A maioria são narrativas mais longas, publicadas em formato de  livro. Mas há casos de coletâneas de tirinhas também. O PNBE² (Programa Nacional  Biblioteca da Escola), que tem como objetivo compor acervos em escolas de todo o país, selecionou reuniões de tirinhas já na primeira vez em que passou a incluir quadrinhos entre as obras a serem adquiridas, em 2006.

Nas tirinhas, geralmente há presença de falas, e esta fala é representada por meio de balões, embora, ás vezes, seja representada apenas por um risco. Há casos que ela é inexistente. Os balões podem representar uma fala normal, um pensamento que rompe a expectativa, sendo considerado  um elemento caracterizador dos quadrinhos e das tirinhas. 

Eles contem texto ou imagens, sinais de pontuação ou símbolos e muda de formato dependendo do que se desejar expressar: as falas, os pensamentos ou as emoções (surpresa, alegria, raiva, medo, cansaço , etc .) das personagens. Nas tirinhas outra forma de explorar os recursos multimodais é o tempo e lugar. É através das cores do fundo da tirinha que indicam a passagem do dia para noite, deixando evidente o uso de diferentes linguagens. 

3.1 A Compreensão das Tiras em Quadrinhos no Livro Didático

A partir dos anos de 1990, a maioria dos livros didáticos vem utilizando as tiras em quadrinhos para estudar as propriedades da linguagem e a compreensão. Tal fenômeno decorre do surgimento de novas abordagens de leitura no campo da língua portuguesa proveniente da linguística.  

Além de trabalhar linguagem multimodal, percebe-se que as tirinhas  oferecem atividades diversificadas para a clientela, possuem humor agradável e despertam o interesse das crianças, adolescentes e jovens, e que pode ser explorada de diversas maneiras, devido aos aspectos multimodais, com contextos e conteúdos com conexões lógicas, causa e efeito, o que pode ser observado na atividade a seguir, proposta pelo LD analisado.

Figura 01 modelo de analise:

Essa tira, além de criar humor a partir do uso de alguns sinais de trânsito, utiliza a linguagem não verbal como recurso visual atrativo e de fácil compreensão. Além disso, propõe uma reflexão sobre a construção de sentidos de um texto, o que envolve as experiências e conhecimentos do leitor. A atividade proposta está ancorada nos recursos multimodais, valorizando assim os recursos visuais, inferido sentido ao conhecimento prévio do leitor e levando a refletir sobre situações do convívio ao qual está submetido a situação retratada na tirinha. Aos interlocutores cabe a tarefa de reconstruir as informações para entender a história, devendo acionar conhecimentos prévios e contextuais sobre o texto.

Além disso, a atividade solicita que o aluno refita e questione a frequência das diferentes formas de linguagens, as mesmas estão expostas em todos os lugares. Nesse sentido,  entendo que o LD soube explorar alguns  aspectos da tirinha para a produção de sentido do texto.

Figura 02 modelo para analise:

Após a análise nessa tira de Quino,  concluímos que as personagens se inter-relacionam e interagem  por meio da linguagem. Mafalda não consegue estabelecer uma comunicação com a mulher, que, assustada, foge dela. 

Na tira com humor, mostra a importância da linguagem e uso da Língua, seus variados sendo explorada nessa tira, com elementos verbais e não verbais. Mafalda usa gestos e palavras estrangeiras para tentar se comunicar com a mulher, utilizando-se também por meio  da linguagem verbal e não verbal. Nos enunciados das questões há uma tentativa de promover reflexão critica sobre o uso da língua em uma ação comunicativa. Na tirinha o autor utiliza a linguagem como fenômeno socialmente ativo dentro do contexto, apresentando códigos linguísticos desconhecidos, de uma forma proposicional afim de criar um humor na narrativa.

Figura 03 para analise.

O LD soube explorar com presteza esta tira e, além disso, interage com o leitor, fazendo com que seus conhecimentos prévios sejam explorar, pois  na maioria das  vezes o leitor tem conhecimentos de contos e filmes de vampiros. Conforme Silva (2017) a tirinha deve aguçar o imagético do leitor, preenchendo assim as lacunas deixada no texto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo, o objetivo foi compreender como é abordada a manifestações linguísticas no gênero ‘tira’ em um livro didático de Língua Portuguesa do 6º ano do ensino fundamental.

O gênero textual tirinha caracteriza-se, geralmente por apresentar aspectos da linguagem verbal e não verbal, com um panorama no qual existem figuras cinéticas, protagonista e personagens secundários. São compostas, em média, de três a quatro quadrinhos e em alguns casos existem apenas um único quadrinho, considerada como um fenômeno artístico.

No que se refere às práticas didáticas adotadas no trabalho com a tira com vistas a exploração da linguagem verbal e não verbal, foi identificado que o gênero tira é frequentemente explorado, sendo ainda centradas no texto verbal, como também aspectos inerentes a parte imagética do texto, as práticas pedagógicas estão entrelaçadas a história da tirinha no desenrolar da narrativa, recuperadas por meio da capacidade cognitiva, perceptiva o visual do leitor. 

Quanto a importância da tira e suas contribuições no aprendizado sobre linguagem multimodal, percebeu-se  que facilita o trabalho do professor e a aprendizagem do aluno,  pois é possível se fazer uma analise da múltiplas linguagens, construindo novos conhecimentos, além da motivação para a leitura.. Com a tirinha o leitor vivencia situações de leitura com análise sobre o funcionamento da linguagem.

O LD analisado traz um número significativo do gênero tirinha em todos os capítulos e que pode ser explorado em sala de aula pelo professor, desde que ele se proponha a discutir todos os aspectos da linguagem verbal e da não verbal presente no texto, como escrita, diagramação, cores, sons, gráficos, desenhos, contornos, tipo de papel, que combinados representam a presença da multimodalidade nos eventos comunicativos (textos).


¹TEIXEIRA, C. H. E. T. A multimodalidade do gênero “Livro didático de língua inglesa”: imagem, texto e função (Dissertação de Mestrado em Letras). Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2008.
²Em 2017 o PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola) se unificou ao PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) por meio do Decreto número 9.099, de julho de 2017.

REFERÊNCIAS

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BECHARA, Evanildo. Ensino de gramática: opressão? Liberdade? São Paulo: Ática, 1985. 

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MARCUSCH, Luís Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. 3. Ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

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SILVA, Tarcilane Fernandes da. O gênero tirinhas no livro “Português Linguagens 3” e o trabalho com a leitura. Entrepalavras, Fortaleza, v. 8, p. 159-181, jan./abr. 2018.

TEIXEIRA, C. H. E. T. A multimodalidade do gênero “Livro didático de língua inglesa”: imagem, texto e função (Dissertação de Mestrado em Letras). Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2008.


¹mariadasdoreslicindo@gmail.com. Mestranda do Programa de Pós Graduação em Letras da Universidade Estadual do Piauí linha de pesquisa Estudo da  Linguagem Descrição e Ensino.