POSSÍVEIS EFEITOS TERATOGÊNICOS DE FÁRMACOS UTILIZADOS DURANTE A GESTAÇÃO 

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10713943


Maria Eduarda Nakayama Albertini1
Amanda Facci Fontanini2
Emilene Dias Fiuza Ferreira3


RESUMO 

A presente revisão sistemática aborda a temática dos efeitos de fármacos utilizados durante a gestação, com ênfase em estudos publicados desde 2016. A gestação é um período crítico, onde decisões sobre o uso de medicamentos podem impactar tanto o desenvolvimento fetal quanto a saúde da gestante. Para realizar essa análise, foi conduzida uma busca abrangente nas bases de dados PubMed, Medline e Scielo, utilizando palavras-chave específicas como “efeitos teratogênicos”, “fármacos na gravidez”, entre outras. Estabeleceu-se critérios de inclusão e exclusão que consideraram a data de publicação, idiomas, e relevância dos estudos. Os resultados incluíram a seleção de 13 artigos que oferecem uma visão detalhada dos efeitos dos medicamentos durante a gestação, com base em evidências científicas recentes. Essas conclusões fornecem um guia valioso para profissionais de saúde, gestantes e suas famílias ao tomar decisões informadas sobre o uso de medicamentos durante a gravidez. No entanto, enfatiza-se a importância da pesquisa contínua nessa área devido à evolução constante da medicina e da farmacologia, a fim de garantir cuidados de saúde materna e fetal cada vez mais seguros e eficazes. 

Palavras-chave: Gestação. Fármacos. Efeitos. Impactos na saúde. 

ABSTRACT 

This systematic review addresses the issue of the effects of drugs used during pregnancy, with an emphasis on studies published since 2016. Pregnancy is a critical period, where decisions about the use of medications can impact both fetal development and the health of the pregnant woman. To carry out this analysis, a comprehensive search was conducted in the PubMed, Medline and Scielo databases, using specific keywords such as “teratogenic effects”, “drugs in pregnancy”, among others. Inclusion and exclusion criteria were established that considered the date of publication, languages, and relevance of the studies. The results included the selection of 13 articles that offer a detailed view of the effects of medications during pregnancy, based on recent scientific evidence. These findings provide a valuable guide for healthcare professionals, pregnant women, and their families when making informed decisions about medication use during pregnancy. However, the importance of continued research in this area is emphasized due to the constant evolution of medicine and pharmacology, in order to ensure increasingly safe and effective maternal and fetal health care. 

Keywords: Pregnancy; Drugs; Effects; Health impacts.

1. INTRODUÇÃO 

A relação entre gestação e o uso de medicamentos é um tema de crescente importância no campo da saúde, uma vez que engloba uma série de desafios e considerações essenciais para garantir a saúde tanto da gestante quanto do feto. A gravidez é um período de transformações físicas e emocionais significativas na vida de uma mulher, marcado por um complexo processo de desenvolvimento fetal que exige uma atenção especial (Tomson et al., 2019). Durante a gestação, muitas mulheres se deparam com a necessidade de tratamento médico para uma variedade de condições, sejam elas crônicas, agudas ou relacionadas à própria gravidez. Essa realidade traz à tona a questão crucial de como os medicamentos afetam a saúde da gestante e do bebê em desenvolvimento (Straub et al., 2022). 

A administração de medicamentos durante a gravidez não pode ser encarada de maneira simplista. É um processo complexo que exige uma avaliação minuciosa dos riscos e benefícios envolvidos em cada caso. O uso inadequado de medicamentos durante a gravidez pode resultar em uma série de efeitos adversos sérios, incluindo malformações congênitas, complicações obstétricas, baixo peso ao nascer e efeitos a longo prazo na saúde tanto da mãe quanto da criança (Masarwe et al., 2023). Portanto, é fundamental compreender os aspectos fundamentais relacionados ao uso de medicamentos durante a gravidez. Essa compreensão vai muito além de apenas prescrever ou evitar medicamentos; envolve também uma consideração cuidadosa dos aspectos éticos, legais e sociais associados a essa prática (Tomson et al., 2019). 

Os avanços na medicina e na farmacologia têm proporcionado uma ampla variedade de opções terapêuticas para tratar condições médicas que afetam as gestantes. No entanto, a disponibilidade dessas opções também levanta questões complexas sobre a segurança e a eficácia desses medicamentos durante a gravidez. É um equilíbrio delicado entre a necessidade de tratar condições médicas e os potenciais riscos que esses medicamentos podem representar para o feto em desenvolvimento (Masarwe et al., 2023). 

Nesse contexto, tanto a pesquisa quanto a prática clínica têm se esforçado para entender e esclarecer os riscos e benefícios associados ao uso de medicamentos durante a gravidez. Isso envolve a realização de estudos epidemiológicos, ensaios clínicos e análises detalhadas dos dados disponíveis para determinar a segurança e a eficácia dos medicamentos em gestantes (Dathe et al., 2019). 

Além disso, é importante destacar que o tema transcende o campo da medicina pura. As decisões relacionadas ao uso de medicamentos durante a gestação não afetam apenas a saúde da gestante, mas também têm implicações a longo prazo para a saúde das futuras gerações. Portanto, essa é uma preocupação que envolve não apenas médicos e gestantes, mas também toda a sociedade (Straub et al., 2022). 

Cabe também destacar que a conscientização sobre essas questões é essencial, não apenas entre os profissionais de saúde, mas também entre as gestantes e suas famílias. A gestante desempenha um papel ativo na tomada de decisões relacionadas ao tratamento durante a gravidez, tornando a educação e o aconselhamento fundamentais para permitir que ela tome decisões informadas e responsáveis sobre sua saúde e a de seu filho (Masarwe et al., 2023). 

Assim, dentro do contexto apresentado acima, o presente artigo tem por objetivo, realizar uma revisão sistemática sobre os possíveis efeitos de fármacos utilizados durante a gestação. 

A condução desta revisão sistemática sobre os possíveis efeitos de fármacos utilizados durante a gestação é justificada pela relevância científica e clínica deste tópico. A gestação é um período crítico que requer atenção especial devido à influência significativa que a exposição a medicamentos pode ter tanto no desenvolvimento fetal quanto na saúde materna. A revisão sistemática é uma abordagem metodológica reconhecida pela sua capacidade de sintetizar e avaliar criticamente a evidência científica disponível, contribuindo assim para a construção de conhecimento sólido na área da saúde. 

Além disso, a escolha de considerar estudos publicados a partir de 2016 é justificada pelo desejo de apresentar informações atualizadas que reflitam as práticas clínicas e as pesquisas mais recentes. A medicina e a farmacologia estão em constante evolução, e a revisão de estudos recentes permite uma análise mais precisa e relevante dos possíveis riscos e benefícios associados ao uso de fármacos durante a gestação. 

2. METODOLOGIA

Para conduzir esta revisão sistemática, adotou-se uma abordagem metodológica estruturada com o objetivo de analisar e sintetizar as evidências científicas relacionadas aos possíveis efeitos de fármacos utilizados durante a gestação, com foco em estudos publicados a partir de 2016. A revisão sistemática é uma técnica amplamente reconhecida que busca identificar, analisar e resumir as evidências disponíveis sobre um tópico específico de pesquisa, seguindo um protocolo predefinido. 

Para coletar artigos relevantes, utilizou-se três bases de dados biomédicos amplamente reconhecidas: PubMed, Medline e Scielo. Essas bases de dados oferecem acesso a uma vasta gama de revistas científicas e são fontes confiáveis para estudos relacionados à saúde e à medicina. 

Delimitou-se palavras-chave de busca abrangentes e específicas, fundamentais para identificar estudos pertinentes ao tema da revisão. As palavras-chave incluíram termos como “efeitos teratogênicos”, “fármacos na gravidez”, “medicamentos e desenvolvimento fetal”, “teratogenicidade durante a gestação” e “segurança de medicamentos na gestação”. 

Foi estabelecido critérios de inclusão e exclusão para garantir a qualidade e a relevância dos estudos a serem considerados nesta revisão. Para inclusão, os estudos precisavam ser publicados a partir de 2016, abordar os efeitos de fármacos durante a gestação, estar disponíveis em inglês, espanhol ou português e apresentar dados relacionados à teratogenicidade, desenvolvimento fetal ou segurança de medicamentos na gravidez. Para a exclusão, foram considerados estudos publicados antes de 2016, que não se referirem especificamente ao tema, que estivessem em idiomas diferentes dos previamente mencionados e que não oferecessem informações relevantes sobre o tema da revisão. A figura 1 abaixo apresenta o fluxograma das etapas de seleção dos artigos para o desenvolvimento da presente revisão sistemática.

Figura 1 – Fluxograma das etapas empregadas na seleção dos artigos 

Fonte: a autora (2024). 

A análise dos artigos selecionados foi conduzida de maneira sistemática e crítica. Avaliou-se a relevância dos estudos em relação ao tema da revisão e a qualidade de sua metodologia. Durante esse processo, foi extraído informações cruciais, como resultados de pesquisas, conclusões dos autores e as evidências apresentadas. 

Além disso, foi realizada uma leitura exploratória preliminar para compilar o conjunto de dados. Todo o material selecionado foi submetido a uma leitura objetiva ou rápida, a fim de verificar se a obra em questão contribui ou não para a metodologia da pesquisa. Em complemento, também foi realizada leitura seletiva para completar a leitura extensiva a fim de verificar a consistência do conteúdo que seria criado. Isso foi feito para confirmar a coerência do material. Por fim, foram criados registros dos dados utilizados, iniciando com o nome do autor e finalizando com a data de publicação da obra em questão. 

A interpretação de dados é o processo de usar técnicas para examinar os dados, a fim de chegar a uma conclusão com base nessa análise. A interpretação de dados é uma das etapas mais importantes no processo de processamento de dados. Esta última seção incluiu uma síntese das informações estudadas e desenvolvidas, bem como uma leitura analítica de todo o material, com ênfase na ciência por trás de sua organização. Nesta fase da investigação, a coleta e análise dos dados levaram ao desenvolvimento de uma solução para o problema de pesquisa, que tinha objetivos amplos e específicos. 

3. RESULTADOS 

A tabela 1 abaixo apresenta uma sintaxe os artigos selecionados para o presente estudo: 

Tabela 1 – Artigos selecionados para o estudo

AUTORES TÍTULO COMPLETO ANO OBJETIVO
Nie Q, Su B, Wei JNeurological teratogenic effects of antiepileptic drugs during pregnancy 2016Analisar os efeitos teratogênicos de medicamentos antiepilépticos no desenvolvimento neurológico fetal em mulheres grávidas com epilepsia.
Tomson T, Battino D, Perucca ETeratogenicity of 
antiepileptic drugs 2019
Avaliar a teratogenicidade de medicamentos antiepilépticos e seu impacto nas malformações congênitas, restrição de crescimento intrauterino e desenvolvimento cognitivo após exposição pré-natal.
Straub L, Hernández Díaz S,Association of 
Antipsychotic Drug 
Exposure in Pregnancy 
With Risk of 
Neurodevelopmental 
Disorders: A National Birth 
Cohort Study 2022
Avaliar se a exposição pré-natal a medicamentos antipsicóticos aumenta o risco de transtornos do neurodesenvolvimento em crianças.
Masarwe S, Shvartsur 
R, Hadar E
Teratogenic Medications 2024Discutir medicamentos teratogênicos, seus mecanismos de ação e a importância da vigilância na saúde materna e fetal.
Dathe K, Schaefer CThe Use of Medication in 
Pregnancy 2019
Fornecer orientações sobre o uso de medicamentos durante a gravidez, destacando os medicamentos toleráveis e contraindicados.
Aryan H, Movassagh i S, Ghasemi AEffects of Maternal 
Exposure to Lamotrigine 
during Pregnancy on 2020 Gonadal Toxicity in Fetus 
Rats
Investigar os efeitos teratogênicos da lamotrigina nas gônadas fetais em ratos.
Contejean A, 
Leruez-Ville M, Treluyer JM, 
Tsatsaris V, Ville Y, Charlier C, Chouchana L.
Assessing the risk of 
adverse pregnancy 
outcomes and birth defects 
reporting in women 
exposed to ganciclovir or 
valganciclovir during 
pregnancy: a 
pharmacovigilance study. 2023
Avaliar o risco de resultados adversos na gravidez e relatos de defeitos congênitos em mulheres expostas ao ganciclovir ou valganciclovir durante a gravidez por meio de um estudo de farmacovigilância.
Gheysen 
W,  Kennedy D.
An update on maternal 
medication-related 
embryopathies. 2020
Fornecer uma atualização sobre embriopatias relacionadas a medicamentos maternos e destacar a importância da avaliação dos riscos e benefícios dos medicamentos durante a gravidez, considerando as limitações da informação disponível.
Hillemacher T, Simen S, Rehme MK, Frieling H.Antipsychotika in der 
Schwangerschaft: eine 
systematische 
Übersichtsarbeit 
[Antipsychotics during 
pregnancy: a systematic 
review]. (em alemão) 2021
Realizar uma revisão sistemática sobre o uso de antipsicóticos durante a gravidez, avaliando os riscos e benefícios, incluindo efeitos teratogênicos, mortalidade fetal, complicações perinatais, distúrbios pós-natais e diabetes gestacional.
Kraemer 
KH, DiGiovanna JJ, Tamura D.
Xeroderma Pigmentosum. 2022Descrever as características clínicas e o diagnóstico do Xeroderma pigmentoso (XP), uma condição genética rara, e discutir o manejo, a prevenção e o aconselhamento genético relacionados à XP, incluindo o tratamento durante a gravidez.
Andersen SL, 
Andersen S.
Antithyroid drugs and birth 
defects. 2020
Resumir as evidências atuais sobre o risco de defeitos congênitos associados ao uso de medicamentos antitireoidianos (ATDs) durante o início da gravidez e discutir questões relacionadas ao tratamento do hipertireoidismo na gravidez.
LENOIR, 
Camille et al.
Outcomes of drug 
exposition during 
pregnancy: Analysis from a 
teratology information 
service. 2020
Caracterizar exposições a medicamentos durante a gravidez aconselhadas por um Serviço de Informações Teratológicas (TIS) e analisar os resultados conhecidos dessas exposições, incluindo taxas de aborto, complicações na gravidez e malformações.

Fonte: a autora (2024). 

Adiante, a próxima seção apresenta uma discussão detalhada com base nos artigos selecionados para esta revisão sistemática, tendo a finalidade de se alcançar o objetivo proposto na introdução deste artigo. 

4. DISCUSSÃO 

A exposição a fármacos durante a gestação é uma preocupação crucial, já que muitos medicamentos são necessários para tratar condições médicas, mas seu uso durante esse período requer uma avaliação cuidadosa dos possíveis efeitos no feto. Este tópico é particularmente relevante quando se trata de medicamentos antiepilépticos (DAEs), como destacado por Nie, Su e Wei (2016). Eles ressaltam que a epilepsia afeta uma proporção considerável de mulheres grávidas, e a prescrição de DAEs durante a gravidez envolve o desafio de equilibrar o controle das convulsões maternas com a minimização dos efeitos teratogênicos no feto. Estes medicamentos estão associados a uma série de possíveis malformações congênitas, desde anomalias menores até graves disfunções cognitivas e retardo no desenvolvimento fetal. 

No entanto, é importante notar que o risco de malformações congênitas varia entre os diferentes DAEs, conforme enfatizado por Tomson, Battino e Perucca (2019). O valproato, por exemplo, apresenta um risco particularmente elevado nesse aspecto. Além disso, o risco de malformações congênitas relacionadas aos DAEs pode estar relacionado à dose administrada. Além das malformações físicas, a exposição pré-natal ao valproato também está associada a deficiências cognitivas e traços autistas em crianças, enfatizando ainda mais a complexidade das considerações em relação a esses medicamentos. 

O estudo de Straub et al. (2022) expande a discussão para a exposição pré-natal a medicamentos antipsicóticos e seu possível impacto no desenvolvimento neurológico das crianças. Embora os resultados tenham variado, o estudo destaca que a exposição a antipsicóticos durante o final da gravidez pode ter implicações no risco de transtornos do neurodesenvolvimento (NDD). No entanto, após ajustes para características maternas, a maioria das associações não se mostrou significativa. Notavelmente, o estudo identificou um possível aumento do risco de traços autistas com o uso do aripiprazol. Isso destaca a necessidade de monitoramento cuidadoso do neurodesenvolvimento em crianças nascidas de mães com transtornos mentais, ressaltando a importância da consideração dos riscos e benefícios desses medicamentos durante a gravidez. 

Em contraste, o estudo de Masarwe et al. (2023) examina o uso da ondansetrona durante a gestação para tratar náuseas e vômitos. Suas descobertas sugerem que esse medicamento não está significativamente associado a um aumento no risco de defeitos congênitos ou outros problemas graves, como fenda palatina, anomalias cardiovasculares congênitas, espinha bífida oculta, parto prematuro ou crescimento intrauterino restrito. No entanto, os autores reconhecem a necessidade de pesquisas prospectivas adicionais para consolidar a compreensão da segurança do tratamento com ondansetrona durante a gravidez. Cabe também destacar que a exposição a fármacos durante a gestação é uma questão crítica que envolve uma série de considerações importantes em relação à saúde da gestante e do feto. Isso se torna evidente ao considerar exemplos marcantes de medicamentos que, inicialmente, eram considerados inofensivos, mas causaram sérias consequências para o desenvolvimento fetal. Um desses exemplos é a talidomida, que resultou em malformações graves em bebês e levou à implementação da Regra de Rotulagem para Gravidez e Lactação (PLLR) pela Food and Drug Administration (FDA) dos EUA. Tsamantioti e Hashmi (2024) corroboram com esta questão, destacando a importância desse entendimento, enfatizando que o primeiro trimestre da gravidez é particularmente suscetível a malformações causadas por medicamentos teratogênicos. 

Outro aspecto fundamental é o reconhecimento de que nem todos os medicamentos são igualmente seguros durante a gravidez. Medicamentos antiepilépticos (DAEs), por exemplo, são frequentemente necessários para controlar convulsões maternas, mas apresentam um desafio delicado na avaliação dos riscos e benefícios, especialmente no que diz respeito a malformações congênitas e disfunções cognitivas no feto. Tomson, Battino e Perucca (2019) enfatizaram que a escolha do DAE adequado é crucial, uma vez que diferentes medicamentos apresentam diferentes níveis de risco, com o valproato sendo notório por apresentar um alto risco de malformações congênitas e deficiências cognitivas em crianças expostas. 

Dathe e Schaefer (2019) enfatizaram a prioridade da segurança dos medicamentos no tratamento de mulheres grávidas, categorizando medicamentos como “toleráveis” na gravidez se não houvesse evidências confiáveis de efeitos teratogênicos em humanos. Por outro lado, medicamentos com efeitos teratogênicos ou fetotóxicos conhecidos foram considerados “contraindicados”, exigindo avaliação individual de risco para mulheres grávidas expostas a esses medicamentos. 

Além disso, estudos específicos examinam os efeitos de medicamentos durante a gravidez em diferentes contextos. Aryan, Movassaghi, Ghasemi e Darabi (2020) investigaram os possíveis efeitos teratogênicos da lamotrigina nas gônadas embrionárias de ratos, destacando danos potenciais nas gônadas fetais como resultado da exposição a esse medicamento antiepiléptico amplamente utilizado.

Por outro lado, Contejean, Leruez-Ville, Treluyer, Tsatsaris, Ville, Charlier e Chouchana (2023) conduziram um estudo de farmacovigilância relacionado a mulheres grávidas expostas ao valganciclovir/ganciclovir, medicamentos utilizados no tratamento do citomegalovírus (CMV). Embora os resultados preliminares não tenham indicado um aumento significativo na notificação de resultados adversos na gravidez ou defeitos congênitos em comparação com o uso de (val)aciclovir, a identificação de casos de atresia esofágica e anorretal com (val)ganciclovir requer análises adicionais para entender melhor sua relação com o medicamento. 

Além disso, a exposição a medicamentos durante a gravidez é uma preocupação importante e complexa, como discutido por Gheysen e Kennedy (2020). Eles enfatizaram a falta de informações abrangentes sobre eficácia, farmacocinética e teratogenicidade de alguns medicamentos, o que torna desafiador aconselhar mulheres grávidas e seus parceiros sobre a segurança desses medicamentos. O artigo destaca a necessidade de equilibrar os potenciais riscos teratogênicos com os riscos perinatais associados a condições médicas ou psiquiátricas não tratadas. Além disso, foram fornecidas recomendações para aconselhamento pré-concepção e pré-natal. 

Hillemacher, Simen, Rehme e Frieling (2021) realizaram uma revisão sistemática sobre o uso de antipsicóticos durante a gravidez. Eles avaliaram os riscos e benefícios do tratamento com antipsicóticos, considerando vários fatores, incluindo a teratogenicidade. Os resultados indicaram que, pelo menos em monoterapia, o uso de antipsicóticos parecia ser seguro em termos de teratogenicidade durante a gravidez. No entanto, eles enfatizaram a importância da avaliação individual de benefícios e riscos no tratamento de doenças mentais durante a gravidez. 

Kraemer, DiGiovanna e Tamura (2022) forneceram informações abrangentes sobre o Xeroderma Pigmentosum (XP), uma condição genética com sensibilidade extrema ao sol e risco aumentado de câncer de pele. Além de destacar as características clínicas e métodos de diagnóstico, o artigo abordou as opções de tratamento para o XP e discutiu a herança autossômica recessiva da doença, bem como as estratégias de aconselhamento genético para famílias em risco. 

O uso de medicamentos antitireoidianos (ATDs) durante a gravidez, especialmente no tratamento do hipertireoidismo causado pela doença de Graves, foi revisado por Andersen e Andersen (2020). O artigo examinou o risco de defeitos

congênitos associados ao uso de ATDs no início da gravidez, com foco no metimazol (MMI) e no propiltiouracil (PTU). Os autores enfatizaram a necessidade de avaliações detalhadas da exposição e do tipo de tratamento em grandes coortes para determinar os potenciais efeitos teratogênicos. 

Lenoir et al. (2020) conduziram um estudo observacional que analisou dados de exposições a medicamentos durante a gravidez, aconselhadas pelo Serviço de Informações Teratológicas (TIS). O estudo envolveu uma coorte de gestantes expostas a diferentes medicamentos, avaliando resultados como taxa de aborto induzido, complicações na gravidez e malformações. Os resultados indicaram uma taxa de malformações próxima à taxa espontânea estimada, sugerindo uma perspectiva tranquilizadora em relação à exposição a medicamentos durante a gravidez. 

5. CONCLUSÃO 

Com base na discussão abrangente sobre os possíveis efeitos de fármacos utilizados durante a gestação, é evidente que essa é uma questão complexa que envolve uma série de considerações críticas para a saúde da gestante e do feto. A análise dos diversos artigos e estudos revela a complexidade das decisões envolvidas na prescrição e exposição a medicamentos durante esse período crítico da vida. 

Primeiramente, a exposição pré-natal a medicamentos pode ter consequências significativas para o desenvolvimento fetal. Isso é evidenciado por exemplos como a talidomida, que resultou em malformações graves, e pelo reconhecimento de que diferentes classes de medicamentos, como os antiepilépticos, apresentam diferentes níveis de risco teratogênico. Essa complexidade exige uma avaliação rigorosa dos riscos e benefícios em cada caso, bem como uma escolha cuidadosa do tratamento, levando em consideração a condição médica da gestante. 

Além disso, os estudos revisados e as revisões sistemáticas destacaram a importância da avaliação individual de cada situação. Embora muitos medicamentos pareçam seguros em relação à teratogenicidade quando usados em monoterapia, é fundamental considerar o contexto geral da saúde da gestante e os riscos associados a doenças não tratadas. Isso ressalta a necessidade de uma abordagem personalizada na tomada de decisões terapêuticas durante a gravidez. Em conclusão, a gestação é um período sensível em que a exposição a medicamentos requer uma abordagem cuidadosa e baseada em evidências. Os profissionais de saúde desempenham um papel fundamental na avaliação dos riscos e benefícios, na escolha de tratamentos adequados e no aconselhamento de gestantes e seus parceiros. A pesquisa contínua é essencial para expandir o conhecimento sobre os efeitos dos medicamentos durante a gravidez, garantindo a saúde e o bem-estar tanto da mãe quanto do feto. Portanto, essa discussão reforça a necessidade de uma abordagem multidisciplinar e individualizada na tomada de decisões relacionadas ao uso de medicamentos durante a gestação, com o objetivo final de proteger a saúde de todas as partes envolvidas. 

REFERÊNCIAS 

Nie Q, Su B, Wei J. Neurological teratogenic effects of antiepileptic drugs during pregnancy. Exp Ther Med. 2016 Oct;12(4):2400-2404. doi: 10.3892/etm.2016.3628. Epub 2016 Aug 29. PMID: 27698740; PMCID: PMC5038337. 

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1Acadêmica de Medicina do Centro Universitário de Maringá – Unicesumar, Maringá, Paraná, Brasil
2Acadêmica de Medicina do Centro Universitário de Maringá – Unicesumar, Maringá, Paraná, Brasil
3Docente do Centro Universitário de Maringá – Unicesumar, Maringá, Paraná, Brasil