ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL ENFERMEIRO NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE COM CARCINOMA DE MAMA

ROLE OF THE NURSE PROFESSIONAL IN CARE FOR PATIENTS WITH BREAST CARCINOMA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10689571


Débora Gonçalves Ferreira de Lima1
Beatriz Ferreira Barbosa2
Letícia Caroline de Lima Dias3
Rafael Lucas Barros Abreu Silva4
Edson Wanderley da Silva5
Alicy Gabrielle Silva de Castro6
Vany Leite Ribeiro7
Lenio José de Pontes Costa8
Wanuska Munique Portugal9
Andriu dos Santos Catena10


Resumo

O câncer, no mundo, tem se tornado um grave problema de saúde pública, e dentre os mais variados tipos dessa patologia a neoplasia maligna mamária tem se destacado na população feminina, sendo caracterizada pelo crescimento desordenado de células anormais nos lobos ou nos ductos mamários. No manejo dessa doença desempenha a enfermagem um papel de extrema importância, onde seus serviços serão prestados de forma integral, desde a atenção primária até o último nível de atenção em saúde. Esse trabalho trata-se de um estudo de caráter de revisão bibliográfica, baseado em levantamento de dados retirados de artigos de revista, ministério da saúde e plataformas de artigos de saúde diretamente ligados ao tema proposto. O carcinoma de mama apresenta-se geralmente através de um nódulo duro, indolor e irregular, podendo também apresentar outras características. Atuando o enfermeiro não só na detecção precoce desses sinais, como também na prevenção por meio da conscientização do autocuidado visando a redução das causas modificáveis da doença, assim como no tratamento, no manejo das medicações, no controle dos sinais e sintomas durante o uso de quimioterápicos, e até mesmo estendendo seus cuidados até os paliativos. portanto, a fundamental importância da assistência do enfermeiro em todo processo oncológico, visto que seus cuidados auxiliam em todos os níveis de atenção.

Palavras-chave: Câncer. Mama. Mulher. Assistência. Enfermeiro.

1 INTRODUÇÃO

Caracteriza-se o câncer como a proliferação descontrolada de células anormais que crescem para além dos seus limites habituais, podendo assim invadir tecidos adjacentes ou se espalhar para outros órgãos, processo referido como metástase. De acordo com o relatório da Organização Mundial de Saúde, em 2018, essa doença foi responsável por cerca de 9,6 milhões de mortes em todo o mundo1. Trata-se carcinogênese como uma atividade que ocorre quando uma célula normal é exposta a um carcinógeno e adquire mutações acumulativas, tornando-se neoplásica, culminando em sua proliferação de forma desordenada2

O carcinoma de mama é a neoplasia maligna de maior ocorrência no sexo feminino, depois do câncer de pele não melanoma. Observa-se no carcinoma mamário o crescimento rápido e anormal das células da mama, onde se proliferam descontroladamente até ocasionarem a formação de tumores2. Estima-se que houve 59.700 casos novos dessa doença no Brasil em 2019. A taxa bruta de incidência representa 56,33 por 100 mil mulheres, sendo o câncer com maior número de óbitos entre o sexo feminino3.

O câncer de mama é uma patologia de causa multifatorial, que envolve fatores internos (relacionados à hereditariedade e processos hormonais) e fatores externos (associados ao ambiente, fatores químicos e biológicos). Diversos fatores são considerados como de risco ao desenvolvimento do câncer de mama, como tabagismo, uso de hormônios e/ou terapia de reposição hormonal prolongado, obesidade, fumo e etilismo crônico4. São consideradas de risco elevado para a doença: mulheres com menarca precoce e/ou menopausa tardia; com histórico de casos de câncer de mama em familiares consanguíneos, sobretudo em idade jovem, e de câncer de ovário2,5.

No âmbito dos fatores internos, a predisposição genética é de importante relevância para o desenvolvimento do câncer de mama, visto que o histórico familiar dessa neoplasia se caracteriza como um fator de risco para o aparecimento da doença. Esse tipo de câncer é geralmente caracterizado pela mutação dos genes da família Breast Cancer genes (BRCA), como o BRCA1 e BRCA2, classificados do ponto de vista funcional como supressores de tumor, responsáveis por atividades como a de controle da expressão genética, do ciclo celular e reparação de danos ao genoma6

De fato, o principal fator genético/hereditário ao carcinoma mamário está relacionado à presença de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2. O efeito cancerígeno surge quando esses dois genes perdem sua função nos dois alelos, seguido por mutação na linhagem e evento que os silencie, perdendo então a capacidade de interromper o ciclo celular, de repará-lo ou mesmo de provocar apoptose7. Em algumas pessoas, esses genes de supressão tumoral não funcionam corretamente quando alterado ou quebrado, ocasionando consequentemente na reprodução desordenada de células anormais e, portanto, formação do carcinoma8

A doença apresenta maior incidência em mulheres a partir dos 50 anos em razão do acúmulo de exposições aos inúmeros fatores de risco ao longo da vida e das alterações biológicas provenientes do processo de senilidade celular9. Como resultado da multiplicação descontrolada, ocorre formações tumorais nos tecidos locais da mama, tendo origem geralmente nos ductos ou nos lóbulos mamários. O tipo histológico de tumor mais encontrado no câncer de mama é o carcinoma ductal invasivo, que equivale de 70 a 80% dos casos, onde se origina nos ductos lactíferos e que pode levar a infiltração do tecido adjacente, a partir daí adquirindo a possibilidade da distribuição dessas células para outras partes do corpo por meio do sistema linfático, ou seja, metástase10.

O câncer de mama se caracteriza por sinais e sintomas bem conhecidos e esclarecidos dentro da comunidade científica. Apresenta-se geralmente como nódulo duro e indolor com margens irregulares, podendo apresentar em conjunto ao mesmo ou de maneira isolada sintomas como secreção mamilar espontânea e unilateral, sendo ela sanguinolenta ou não, edema na pele da mama com aspecto semelhante a uma “casca de laranja” retração, inversão ou erosão mamilar, assim como também linfonodos axilares com tamanho avolumado11.

Em geral, a formação tumoral se desenvolve de forma lenta, podendo levar anos para que a célula cancerígena se prolifere e forme um tumor visível. Diante desse processo, a falta de informação, a dificuldade de acesso ao diagnóstico e ao tratamento adequado contribuem para situações em que os pacientes só procuram atendimento em estágios já avançados da doença, o que por sua vez dificulta um bom prognóstico10.

Segundo a portaria nº 1399 (2019) da Secretaria de Atenção Especializada à Saúde (SAES), vinculado ao Ministério da Saúde, quando confirmado o diagnóstico de neoplasia maligna, a paciente deve ser direcionada à Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON) ou ao Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (CACON). Dessa forma, será oferecida assistência especializada e integral ao paciente atuando no estadiamento clínico e tratamento, incluindo cuidados paliativos quando necessários12.

As linhas de cuidados e atenção ao paciente oncológico são estratégias utilizadas de forma organizacional, distribuindo os pacientes de acordo com suas necessidades e classificação de risco, inicialmente na prevenção até os cuidados paliativos13. As ações de prevenção e detecção precoce são realizadas nos centros de atenção primária por meio de rastreamento. As pacientes, portanto, serão encaminhadas às unidades de média complexidade com suspeita de câncer para que seja feita uma investigação e traçado um diagnóstico3.

O enfermeiro apresenta papel fundamental para a detecção precoce do câncer de mama, por ser um profissional que atua na promoção à saúde, tratamento e reabilitação, estimulando a adesão da mulher dentro da Atenção Primária à Saúde (APS). É atribuído ao enfermeiro como assistência às pacientes com câncer de mama, ao longo de todo o acompanhamento – iniciado pela consulta da enfermagem: avaliar e examinar sinais e sintomas da doença; realiza o Exame Clínico das Mamas (ECM) de acordo com a idade e quadro clínico; encaminhar e acompanhar em todo serviço de assistência no diagnóstico e tratamento; solicitação de exames de acordo com protocolo e a realização e participação de atividades de educação continuada14.

Assim, neste trabalho, objetiva-se avaliar a atuação do profissional enfermeiro na assistência às mulheres com câncer de mama, desde o primeiro nível de atenção em saúde até assistências com maiores aparatos tecnológicos, como atenção secundária e atenção terciária, visando destacar uma maior integralidade da assistência prestada.

2 METODOLOGIA

O presente estudo trata-se de uma revisão da literatura do tipo integrativa a respeito da assistência de enfermagem às pacientes com câncer de mama. Portanto, essa pesquisa possui o objetivo de realizar a sintetização de resultados adquiridos de maneira ampla, sistemática e organizada, consequentemente todas as informações são mais extensas e variedades. Os tipos de amostras que podem ser usadas na literatura integrativa fornecem resultados com tabelas completas mesmo que se trabalhe com conceitos complexos, dos problemas e/ou teorias que são voltados para os cuidados na área de saúde15

A revisão bibliográfica foi realizada no período de pesquisa entre o período de março à novembro de 2022, sendo realizado em três etapas: o período exploratório, caracterizado por uma imersão dos autores no assunto para uma exploração preliminar; a investigação focalizada que consiste na coleta de dados; e considerações finais, utilizadas para análise de dados coletados e formatação da redação final, conforme abordado na Figura 1.

A base de dados utilizada consiste em publicações do Ministério da Saúde, cartilhas, artigos publicados em revistas e retirados de plataformas como Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Google Acadêmico, os quais estão diretamente ligados ao tema proposto. Foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: artigos diretamente ligados ao tema, periodicidade dentro do período de 2017 e 2022, onde seus resultados contribuíram para objetivos gerais e específicos deste trabalho e que conte primordialmente com a veracidade dos fatos com base em evidências.

Como Critérios de inclusão abordou os artigos que tratassem mediante o tema de Câncer de Mama, publicados dentro do recorte temporal supracitado e publicados nos idiomas em Inglês, Português e Espanhol. E como Critérios de Exclusão: Artigos duplicados, fora do eixo temporal e não disponíveis na íntegra.  

FONTE: Os autores, 2023.

Figura 1. Dados científicos do presente estudo relacionado aos achados bibliográficos.

3 RESULTADOS 

A fim de apresentar os resultados desta revisão em um formato sinóptico, elaborou-se um quadro síntese (Quadro 1) que enfatiza informações relevantes dos estudos selecionado, baseado em 5 pilares de categorização: (1) autor e ano de publicação; (2) título da pesquisa; (3) tipo de estudo utilizado no delineamento metodológico; (4) principal(is) objetivo(s) da pesquisa; e (5) considerações finais do estudo.

QUADRO 1: Caracterização dos artigos em análise. 

Autor/Ano publicaçãoTítuloTipo de estudoObjetivoConsiderações
Rodrigues et al., 2020Importância do enfermeiro para o controle do câncer de mama: revisão narrativa.Revisão narrativa.Verificar o papel do enfermeiro na orientação do autoexame das mamas.O enfermeiro é profissional responsável para ação do controle de câncer de mama, porém apresenta dificuldades para exercer sua função sendo necessário preparo através de capacitações e conscientizações para detecção precoce do câncer de mama.
Santos & Gonzaga., 2018.Fisiopatologia do câncer de mama e os fatores relacionados.Revisão bibliográfica.Avaliar o desenvolvimento do câncer de mama femininoA cooperação interdisciplinar entre os profissionais de saúde é um fator importante para diminuir a mortalidade do câncer de mama e promover melhor qualidade de vida às pacientes.
Santos et al., 2020.Prevalência e fatores associados ao diagnóstico de câncer de mama em estágio avançado.Estudo transversal.Investigar a prevalência e os fatores associados ao diagnóstico de câncer de mama em estágio avançado.A partir dos resultados obtidos na pesquisa, pode ser elaborado planejamento de ações de prevenção secundária a fim de antecipar o diagnóstico de câncer de mama dos grupos mais vulneráveis e assim colaborar para a redução da prevalência do diagnóstico em estágio avançado.
Nogueira, 2017.Câncer de mama: relato de caso em um hospital particular.Relato de caso.Relatar um caso de câncer de mama.Proporcionou aprimorar o conhecimento sobre o câncer de mama; incentivar a prática do autoexame e realçar a importância do tratamento humanizado aos pacientes internados com essa doença. 
Oliveira, 2020.Fatores de risco e prevenção do câncer de mama.Revisão bibliográfica.Avaliar os fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de mama.A doença é estrógeno-dependente, o que justifica os fatores de risco relacionados às características reprodutivas da mulher, além da ligação entre os hábitos de vida e influências ambientais, como exposição a radiações e obesidade, por exemplo.
Belfort et al., 2019.O papel do enfermeiro no diagnóstico precoce do câncer de mama na atenção primária.Revisão qualitativa e descritiva.Compreender o papel do enfermeiro no diagnóstico precoce do câncer de mama e estratégias de prevenção.Os profissionais apresentam conhecimento acerca do câncer de mama e do seu rastreamento, contudo, ainda deficitários e confusos. Há necessidade de políticas públicas que priorizem a capacitação dos profissionais para que possa refletir na melhoria dos indicadores de saúde.
Muller et al., 2018.Contribuição da enfermagem na reabilitação da mulher com câncer de mama: revisão narrativa.Revisão narrativa.Instruir sobre a assistência prestada durante o tratamento de carcinoma mamário.Cabe ao enfermeiro não apenas os preparos das medicações em oncologia, mas agir em todo o processo dos cuidados, desde o controle dos sinais e sintomas que podem causar um forte impacto na funcionabilidade das mulheres.
Silveira et al., 2021.Atuação da equipe de enfermagem frente a prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama: uma revisão integrativa.Revisão integrativa.Identificar a atuação do Enfermeiro e sua equipe frente a prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama.O enfermeiro possui papel primordial na orientação sobre autocuidado e em promoção em saúde, tendo a responsabilidade de desenvolver ações, estratégias, com objetivo de alcançar o diagnóstico precoce da mulher com câncer de mama.
Souza et al., 2020.Atuação da enfermagem no cuidado a pacientes com câncer de mama: revisão integrativa.Revisão integrativa.Relatar a atuação do enfermeiro frente a mulheres com diagnóstico de câncer de mama.Observa-se diferentes desafios enfrentados pelo enfermeiro no cuidado a paciente com diagnóstico de câncer de mama, sendo sua atuação indispensável na orientação sobre a doença.
Feitosa et al., 2018.Assistência de enfermagem no rastreamento do câncer de mama. Revisão integrativa.Inteirar sobre a importância e atuação do profissional enfermeiro no rastreamento do câncer de mama.O monitoramento do câncer é feito primordialmente pelo rastreio na atenção primária, onde o enfermeiro adota linhas de ações voltadas para os exames preconizados para o rastreio e busca ativa, a fim de propiciar a detecção precoce da doença e maior eficácia do tratamento.
Ferrari et al., 2018.Orientações de cuidado do enfermeiro para a mulher em tratamento para câncer de mama.Estudo qualitativo, descritivo.Identificar as principais queixas relatadas pelas mulheres em tratamento quimioterápico para câncer de mama.As intervenções que os enfermeiros expuseram ao estudo foram pontuais, respaldadas cientificamente e relevantes frente às queixas relatas pelas mulheres, salientando o protagonismo desse profissional no cuidado, e na supervisão do procedimento.
Markus et al., 2017.A atuação do enfermeiro na assistência ao paciente em cuidados paliativos.Revisão integrativa.Investigar a atuação do enfermeiro na assistência ao paciente em Cuidados Paliativos.A atuação do enfermeiro na assistência ao paciente em cuidados paliativos é extremamente relevante por realizar a interface entre equipe de saúde e familiares, com respeito a condição humana e a qualidade de vida desses pacientes.

Fonte: Os autores, 2022.

4 DISCUSSÕES

A fisiopatologia do câncer é caracterizada por um crescimento desordenado de células capazes de invadirem os tecidos e órgãos rapidamente, ocasionando na formação de tumores que podem acometer todas as regiões do corpo. Esse processo se diferencia do crescimento de células normais, onde as mesmas em vez de sofrerem apoptose continuam a crescer e se multiplicar formando outras células anormais. As neoplasias são classificadas em benignas e malignas, onde no primeiro caso o crescimento é lento, organizado e apresenta limites notáveis. Já no segundo caso é caracterizado por crescimento de células anormais capazes de invadir tecidos próximos e até gerar metástase, condição essa que pode levar à morte16.

Uma célula para ser considerada cancerígena deve sofrer mutações em seu material genético com impacto direto no controle do ciclo celular, afetando a capacidade de divisão celular, reparo e promoção da apoptose, ou seja, morte celular programada17. O câncer de mama é caracterizado pelo desenvolvimento anormal das células da mama, que multiplicam-se repetidamente até formarem um tumor maligno, sendo a neoplasia com maior número de casos em mulheres no Brasil e no mundo, caracterizando-se portanto em grave problema de saúde pública mundial mediante à sua incidência elevada e morbimortalidade18

No caso do câncer de mama a mutação do material genético, o surgimento de células anormais e consequentemente a formação do tumor maligno ocorre em células dos lobos mamários, as quais são produtoras de leite, ou nos ductos, por onde é drenado o leite. Esse câncer acomete em sua grande maioria a população do sexo feminino, contudo, também existe casos na população masculina17.

No mundo, independente da condição socioeconômica do país, o câncer de mama ocupa sempre as primeiras posições de neoplasias malignas femininas. Segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia, foram 2,1 milhões de casos novos em 2018 no mundo, o que equivale a 11,6% dentro de todos os cânceres estimados, correspondendo esse valor a um risco estimado de 55,2/100 mil. Para o Brasil, a estimativa no triênio 2020-2022 é de 66.280 novos casos de câncer de mama, o que corresponde a uma estimativa de 61,61%  casos a cada 100 mil mulheres, sendo o câncer mais frequente nas regiões brasileiras, sem levar em consideração o câncer de pele não melanoma. A região sudeste é a que apresenta taxas mais altas com risco de 81,06% a cada 100 mil, seguida pela região sul com 71,16/100 mil; centro oeste com 45,24/100 mil; região nordeste com 44,29; e por último e com as menores taxas a região norte com risco estimado de 21,34/100 mil19.

A prevenção dos agravos à saúde é classificada em primária e secundária, onde a primária consiste em modificar ou eliminar fatores de risco, e a secundária ao diagnóstico e tratamento precoce. Na detecção precoce do carcinoma de mama, os meios mais eficazes são o exame clínico da mama (ECM) e a mamografia. Com o ECM realizado a partir dos 40 anos e o exame mamográfico após os 50 anos, e simultaneamente aos 35 anos em grupos de alto risco20. Ressalta-se que também existe a prevenção terciária contra o câncer de mama, onde primordialmente se visa a reabilitação da saúde visto a progressão da doença21

A intervenção primária se baseia em minimizar a exposição aos fatores modificáveis que culminam em uma maior chance de desenvolvimento da doença, como controle de peso e da ingestão de bebidas alcoólicas, alimentação saudável, prática de exercício físico, amamentação e proteção contra a exposição à radiação iônica e aos pesticidas.  Em relação à prevenção secundária, é realizada na ausência de sintomas, mas biologicamente a patologia já tem se iniciado, tendo essa categoria de prevenção o intuito de mudar a progressão da doença por meios que possibilitem a detecção e o tratamento precoce. A prevenção terciária ocorre quando já se teve o início biológico da doença, assim como os sintomas, tendo então sua principal finalidade voltada para a manutenção e recuperação do equilíbrio funcional21.

O enfermeiro dentro da equipe multiprofissional desempenha um papel muito importante na saúde da mulher, levando a promoção, prevenção e recuperação da saúde em todo ciclo de vida. Esse profissional atua na educação e saúde, realizando consultas de enfermagem, exames clínicos, encaminhamento a especialistas e acompanhamento em todo o serviço de saúde. Portanto, enfatiza-se o papel do profissional enfermeiro no diagnóstico precoce do câncer de mama22.

 Na assistência do paciente oncológico, cabe ao enfermeiro não apenas os preparos das medicações, sobretudo agir em todo o processo dos cuidados, desde o controle dos sinais e sintomas que podem causar um forte impacto na funcionabilidade das mulheres, até todas as questões sociais pelas quais estão envoltas. Portanto os cuidados da enfermagem no tratamento da mulher com câncer de mama consistem em visar e conservar a capacidade funcional da paciente durante o uso dos medicamentos quimioterápicos. É de função da enfermagem e toda equipe multiprofissional realizar procedimentos que venham diminuir os efeitos colaterais causados pelos quimioterápicos23.

A sistematização da assistência de enfermagem é de suma importância dentro do processo de conscientização e ensinamento da população com intuito de promover o autocuidado que implica na detecção precoce e diminuição do número de casos de câncer de mama. Enfatiza-se a importância da capacitação do profissional enfermeiro para que possam ter um olhar aguçado na identificação de possíveis sinais e sintomas precocemente, aumentando as possibilidades de cura. A educação permanente nas instituições e cursos de capacitação são necessárias para que os enfermeiros concebam ações educativas para o rastreamento e diagnóstico precoce do câncer de mama. O profissional deve atuar na execução, divulgação e rastreamento em todo processo educativo, alertando a população da importância da adesão aos exames clínicos, mamografia e autoexame, atuando em todos os serviços de atenção com participação fundamental no processo de educação e saúde16.

O profissional enfermeiro tem um papel crucial no preparo do autocuidado e promoção à saúde da paciente portadora do câncer de mama, responsabilizando-se de desenvolver ações, gerando estratégias com utilização das tecnologias disponíveis com objetivo de alcançar o rastreamento e diagnóstico precoce dessa patologia. Além disso, cabe ao enfermeiro conscientizar as mulheres sobre a necessidade do autocuidado, adaptando as pacientes a um novo estilo de vida de mais cuidados e visita a unidade de saúde24.

Destaca-se que o profissional de enfermagem é um dos principais agentes de saúde responsáveis para ação do controle do câncer de mama através da realização de educação permanente às mulheres, incentivando a importância da realização do autoexame e enfatizando a necessidade de observação de sinais de alterações possíveis nas mamas16.

Destaca-se que alguns desses sinais surgem como nódulo duro, indolor e com bordas irregulares, podendo também apresentar aspectos de depressão e mudanças da pele, retração da mama e secreção sanguinolenta espontânea e unilateral11. Mesmo assim, observa-se que muitos profissionais ainda apresentam dificuldades para a detecção precoce do câncer de mama, sendo fundamental capacitações para que os profissionais possam realizar a triagem da doença ainda nos estágios precoces16.

Em todo o processo do tratamento oncológico, cabe a equipe de enfermagem o importante papel do acolhimento à paciente, confortando-a em seus medos, estabelecendo uma relação de confiança para apoiá-la no tratamento, estando sempre vigilantes no controle dos efeitos colaterais dos procedimentos, avaliando e monitorando o paciente e verificando as demandas do mesmo, os sinais e sintomas da doença e toda e qualquer circunstância consequente as intervenções médicas na rotina da paciente25.

O rastreamento se torna a primeira linha de ação na monitorização do câncer de mama, visto que o procedimento se baseia na avaliação periódica de mulheres em grupo de risco sejam elas sintomáticas ou não, a fim de promover a detecção da doença em fases iniciais onde os tratamentos disponíveis apresentam maior eficácia. Esse ponto é salientado por diversos estudos, que apontam que uma em cada oito mulheres desenvolve a neoplasia mamária, aumentando ainda mais a importância do monitoramento da patologia que é feita primordialmente pelo primeiro nível de atenção em saúde, sendo o enfermeiro de extrema importância dentro desse processo26.

Para que o enfermeiro exerça sua total excelência no rastreamento e que por consequência esse processo tenha sua maior taxa de eficácia é necessário que o profissional esteja apto para tal e que tenha conhecimento das ações a serem adotadas. Na população feminina os exames de rastreio são o autoexame, mamografia, ultrassonografia e o exame clínico das mamas, além da busca ativa que é uma estratégia que contribui para o rastreamento. Para que os programas de controle dessa neoplasia sejam eficazes, necessita-se do cumprimento das metas de cobertura da população alvo, periodicidade adequada para a realização dos exames em conjunto com o acompanhamento adequado para cada usuário dentro do serviço de saúde26.

Atualmente para o câncer de mama estão disponíveis três linhas de tratamento, sendo eles o cirúrgico, radioterapia e quimioterapia. Para a quimioterapia, faz-se o uso de medicações que promovem alterações na vida cotidiana dos pacientes devido a seus efeitos adversos, como por exemplo a queda de cabelo, fadiga intensa, náuseas, dor, dispneia, perda de interesse por atividade que antes eram prazerosas para o indivíduo afetado. O enfermeiro exerce um papel de destaque por se encontrar mais próximo da prestação de cuidados durante todos os estágios da doença e consequentemente do aparecimento de toda essa sintomatologia citada anteriormente no tratamento. Suas intervenções serão feitas para além da preparação e administração dos quimioterápicos, mas também para o repasse de orientações para o autocuidado em virtude das queixas sintomatológicas causadas pelo uso dessas medicações, assim como explicitar a importância do tratamento para que a paciente tenha maior segurança e consequente melhor adesão a terapia27.

Na paliação oncológica, será ofertado cuidados voltados para o controle dos sintomas relacionados ao adoecimento e a intervenção em intercorrências que podem levar à morte especialmente nos casos de pacientes que apresentam doença crônica, grave e degenerativa. O profissional enfermeiro, assim como toda a equipe de enfermagem e multiprofissional, contribui para um melhor conforto e bem-estar da pessoa doente e seus familiares nesse momento, assim como auxilia no enfrentamento das dificuldades encontradas pelo paciente para realização de tarefas, adesão ao tratamento, conflitos psicológicos e dúvidas. Tudo isso através de um cuidado amoroso e essencialmente humanizado, o que possibilita a criação de relações que propiciem alívio a tensão própria da situação e consequentemente uma melhor comodidade28. 

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O câncer de mama é uma das patologias que mais acometem as mulheres no Brasil. Sendo um dos maiores problemas de saúde pública, o qual temos que enfrentar. A prevenção e o diagnóstico precoce são de extrema importância para o combate dessa patologia. Sabe-se que é de suma importância a sistematização da assistência de enfermagem no cuidado de pacientes oncológicos, dentro do processo de conscientização, ensinamento, como objetivo de instruir a população sobre o autocuidado, informatizando o rastreamento do diagnóstico precoce da neoplasia mamária.  

Das análises e estudos realizados, evidenciou-se que é imprescindível a atuação do profissional enfermeiro frente à assistência da paciente com câncer de mama. Uma vez que ele auxilia em todo o processo de cuidado, iniciado na prevenção na atenção básica estendendo-se até os cuidados paliativos e todo acompanhamento no processo de cura e reabilitação da paciente no serviço de alta complexidade. Portanto, podemos constatar que o profissional enfermeiro atua em todos os processos a partir da prevenção, ao descobrimento da doença, até toda a assistência prestada à mulher com o carcinoma mamário.

REFERÊNCIAS

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3Instituto Nacional de Câncer – INCA. A situação do câncer de mama no Brasil: síntese de dados dos sistemas de informação [Internet]. 2019. Disponível em: https://www.inca.gov.br/publicacoes/livros/situacao-do-cancer-de-mama-no-brasil-sintese-de-dados-dos-sistemas-de-informacao

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6Brasil. Ministério da Saúde. Prevenção [Internet]. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/c/cancer-de-mama

7Coelho AS, Santos MA da S, Caetano RI, Piovesan CF, Fiuza LA, Machado RLD, et al. Hereditary predisposition to breast cancer and its relation to the BRCA1 and BRCA2 genes: literature review. Revista Brasileira de Análises Clínicas [Internet]. 2018;50(1). DOI: https://doi.org/10.21877/2448-3877.201800615

8BRCA: The Breast Cancer Gene – BRCA Mutations & Risks [Internet]. National Breast Cancer Foundation. Disponível em: https://www.nationalbreastcancer.org/what-is-brca/

9Instituto Nacional de Câncer – INCA. Detecção Precoce do Câncer [Internet]. 2021. Disponível em: https://www.inca.gov.br/publicacoes/livros/deteccao-precoce-do-cancer

10Costa LS, Carmo ALO do, Firmiano GGD, Monteiro J de SS, Faria LB, Gomides LF. Fatores de risco relacionados ao câncer de mama e a importância da detecção precoce para a saúde da mulher. Revista Eletrônica Acervo Científico. 2021 Jul 20;31:e8174. DOI: https://doi.org/10.25248/reac.e8174.2021

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12Brasil. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção Especializada a Saúde. Portaria SAES/MS Nº 1399 [Internet]. Disponível em: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document//portaria_1399_17dez2019.pdf

13Mendes EC, Vasconcellos LCF de. Cuidados paliativos no câncer e os princípios doutrinários do SUS. Saúde em Debate. 2015 Set;39(106):881–92. DOI: https://doi.org/10.1590/0103-1104201510600030026

14Teixeira M de S, Goldman RE, Gonçalves VCS, Gutiérrez MGR de, Figueiredo EN de. Atuação do enfermeiro da Atenção Primária no controle do câncer de mama. Acta Paulista de Enfermagem [Internet]. 2017 Jan;30(1):1–7. DOI: https://doi.org/10.1590/1982-0194201700002

15Ercole FF, Melo LS de, Alcoforado CLGC. Integrative review versus systematic review. Reme: Revista Mineira de Enfermagem. 2014;18(1). DOI: https://doi.org/10.5935/1415-2762.20140001

16Rodrigues JRG, Salun AALA, Oliveira VASC de, Lima PB de, Nunes MR. Importância do enfermeiro para o controle do câncer de mama: revisão narrativa. Revista Eletrônica Acervo Saúde. 2020 Jul 23;(55):e3668. DOI: https://doi.org/10.25248/reas.e3668.2020

17TA, Gonzaga MFN. Fisiopatologia do câncer de mama e os fatores relacionados. Revista Saúde em Foco. 2018;(10). Disponível em: https://portal.unisepe.com.br/unifia/wp-content/uploads/sites/10001/2018/06/048_FISIOPATOLOGIA-DO-C%C3%82NCER-DE-MAMA-E-OS-FATORES.pdf

18Santos TB dos, Borges AK da M, Ferreira JD, Meira KC, Souza MC de, Guimarães RM, et al. Prevalência e fatores associados ao diagnóstico de câncer de mama em estágio avançado. Ciência & Saúde Coletiva. 2022 Fev;27(2):471–82. DOI: https:// 10.1590/1413-81232022272.36462020

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20Nogueira KRC. Câncer de mama: relato de caso em um hospital particular. Revista de Enfermagem UFPE on line. 2017 Dez;11(12) :5354-60. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/230756/25494.

21Oliveira ALR, Michelini FS, Spada FC, Pires KG, Costa LO, Figueiredo SBC de, Lemos A. Fatores de risco e prevenção do câncer de mama. Revista Cadernos de Medicina. 2019; 2(3): 135. Disponível em: https://revista.unifeso.edu.br/index.php/cadernosdemedicinaunifeso/article/viewFile/1683/778

22Belfort LRM, Lima K de M, Dutra LPF, Negro-Dellacqua M, Martins VH da S, Macedo LJ de A. O papel do enfermeiro no diagnóstico precoce do câncer de mama na atenção primária. Research, Society and Development [Internet]. 2019 [citado em 2023 Out 16];8(5):01-13. Disponível em:  https://doi.org/10.33448/rsd-v8i5.1024

23Muller ET, Alessandro, Pereira ADA, Zamberlam C, Ferreira CLL. Contribuição da enfermagem na reabilitação da mulher com câncer de mama: revisão narrativa. Disciplinarum Scientia | Saúde. 2018 Jan 1;19(2):255–65. Disponível em: https://periodicos.ufn.edu.br/index.php/disciplinarumS/article/view/2510/2172

24Silveira CMB, Gonçalves EF, Fidelis FAM, Santana IR, Sarraceni JM, Ferrari LFS. Atuação da equipe de enfermagem frente a prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama: uma revisão intregrativa. Brazilian Journal of Development. 2021 Jul 19;7(7):72233–48. DOI: https://doi.org/10.34117/bjdv7n7-414

25Souza TC, Monteiro DR, Trevisan BF, Mallmann FH. Nursing performance in the care of patients with breast cancer: an integrative review. Research, Society and Development. 2020 Dez 15;9(12):e14391210939. DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i12.10939

26Feitosa EM, Sá MAP, Andrade EGS, Santos WL. Assistência de enfermagem no rastreamento do câncer de mama. Revista JRG de Estudos Acadêmicos – (Extra). 2018 Dez 20;1(3). DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.4322025

27CF, Abreu EC, Trigueiro TH, Da Silva MBGM, Kochla KA, Souza SRRK. Orientações de cuidado do enfermeiro para a mulher em tratamento para câncer de mama. Revista de Enfermagem UFPE on line. 2018 Mar 3;12(3):676. DOI: https://doi.org/10.5205/1981-8963-v12i3a23299p676-683-2018

28Markus LA, Betiolli SE, Souza SJP, Marques FR, Migioto MT. A atuação do enfermeiro na assistência ao paciente em cuidados paliativos. Revista Gestão & Saúde. 2017; 17(1). Disponível em: https://www.herrero.com.br/files/revista/file808a997f5fc0c522425922dc99ca39b7.pdf


1Enfermeira pelo Centro Universitário Brasileiro – UNIBRA, e-mail: deboraglima1998@gmail.com
2Enfermeira pelo Centro Universitário Brasileiro – UNIBRA, e-mail: biiaferreirabarbosa@hotmail.com
3Enfermeira pelo Centro Universitário Brasileiro – UNIBRA, e-mail: leticiacaroline160501@gmail.com
4,5,6,7Graduandos em Enfermagem pelo Centro Universitário Brasileiro – UNIBRA, e-mail: rafaellucasb78@gmail.com; edwanderle@gmail.com; alicygabryellecastro@gmail.com; vanyribeiro5040@gmail.com.
8Enfermeiro, esp. em saúde da mulher e saúde coletiva, e-mail: leniopontes@gmail.com
9Mestre e Doutoranda em Energias Nucleares – CRCN/UFPE, e-mail: wanuskamportugal@gmail.com
10Mestre e Doutor em biologia aplicada à saúde, e-mail: andriucatena@gmail.com