MENTAL DISORDERS: FROM DIAGNOSIS TO COPING AT YOUNG AGE
REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10681783
Vitória Emanuelle Coutinho Villela1
Maryellen Silvestre de Oliveira2
Emilene Dias Fiuza Ferreira3
RESUMO
É inegável a extensão do prejuízo de transtornos mentais à saúde humana, principalmente quando se fala de crianças e adolescentes. Pensando nisso, o objetivo principal deste estudo é coletar e avaliar dados de pacientes com transtornos mentais, especialmente depressão e ansiedade, que frequentam o Centro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi) em Maringá, Paraná. Os objetivos específicos abrangem a investigação da influência da família no desenvolvimento desses transtornos, a análise do enfrentamento das patologias pelos pacientes e a avaliação dos medicamentos mais utilizados, incluindo seu mecanismo de ação e eficácia. O estudo segue uma metodologia transversal e descritiva, com análise quantitativa e qualitativa, envolvendo a aplicação de um questionário estruturado a familiares de pacientes até 18 anos, com a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UniCesumar. Os resultados apresentaram pontos e questões pertinentes sobre a prevalência e manifestação dos transtornos, bem como fatores familiares e sociais relacionados a eles, orientando a melhoria dos cuidados oferecidos no CAPSi de Maringá e contribuindo para o desenvolvimento de estratégias eficazes de atendimento e políticas públicas de saúde mental voltadas para crianças e adolescentes.
Palavras-chave: Transtornos mentais. Menor de idade. Diagnóstico e enfrentamento.
ABSTRACT
The extent of the harm caused by mental disorders to human health is undeniable, especially when it comes to children and adolescents. With this in mind, the main objective of this study is to collect and evaluate data from patients with mental disorders, especially depression and anxiety, who attend the Centro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi) in Maringá, Paraná. The specific objectives include the investigation of the family’s influence on the development of these disorders, the analysis of how patients cope with pathologies and the evaluation of the most used medications, including their mechanism of action and effectiveness. The study follows a cross-sectional and descriptive methodology, with quantitative and qualitative analysis, involving the application of a structured questionnaire to family members of patients up to 18 years of age, with the approval of the UniCesumar Research Ethics Committee. The expected results presented pertinent points and questions about the prevalence and manifestation of disorders, as well as family and social factors related to them, guiding the improvement of care offered at CAPSi in Maringá and contributing to the development of effective care strategies and public health policies. mental health aimed at children and adolescents.
Keywords: Mental disorders. Minor. Diagnosis and coping.
1 INTRODUÇÃO
Segundo Kaplan (2016), humor pode ser caracterizado como uma emoção que afeta a percepção e a conduta do ser humano em relação ao mundo. Uma desregulação nesse humor pode estar relacionada a transtornos mentais, que estão associados à perturbação da maneira de pensar, angústia individual e desgaste da capacidade do ser humano de realizar funções diárias (TADOKORO, 2012).
A depressão é um transtorno mental que afeta a saúde de mais de 15% dos brasileiros, podendo ser isolada ou agregada a alguma patologia (OMS, 2020). A apresentação clássica do transtorno depressivo caracteriza-se por episódios pontuais de alterações cognitivas e somáticas, que têm extensão de pelo menos duas semanas, manifestando sintomas característicos, como falta de energia, dificuldade para pensar e tomar decisões, perda de apetite e peso, alterações no sono e na atividade e pensamentos recorrentes de morte (DSM-5).
A primeira menção a esses transtornos foi designada como distúrbios de melancolia, documentados por Hipócrates por volta de 400 a.C., mas não estavam relacionados à patologia. Em 1899, Emil Kraepelin começou a visualizar depressão como um quadro de psicose maníaco-depressiva (HUTTEL et al., 2011).
Os transtornos de ansiedade estão relacionados com a antecipação de um possível acontecimento, gerando perturbações comportamentais excessivas e excitação psíquica e fisiológica (DSM-5). De acordo com Kaplan, a ansiedade está entre os transtornos mentais mais comuns, afetando até 20% da juventude.
No século XIX inicia-se uma classificação para o termo ansiedade, a partir de trabalhos clínicos de Sigmund Freud, onde definiu o mesmo como uma crise aguda de angústia, neurose de angústia e expectativa ansiosa, que resultaram futuramente em uma categorização mais específica, na qual subdividiu-se esses conceitos em ataques de pânico, transtornos de pânico e transtornos de ansiedade generalizada (VIANNA et al., 2009). Apenas em 1960 houve-se uma notoriedade a esses transtornos quando mencionados na infância e adolescência.
Nesse contexto, discute-se duas vertentes, a primeira menciona que transtornos mentais afetam crianças, adolescentes e adultos da mesma maneira. E a segunda, a qual reflete relação com o conceito de maturidade, afirma que a criança e o adolescente são afetados de maneira singular. Durante a infância e adolescência, o ser humano está em constante desenvolvimento físico e psíquico, o qual corrobora a origem e a maneira como se exteriorizam medos e aflições, o que acaba influenciando em uma possível instauração de transtornos depressivos e de ansiedade.
Desta forma o objetivo geral desta pesquisa consiste em coletar e avaliar dados de pacientes com transtornos mentais, principalmente depressão e ansiedade, para compreender a manifestação e relação entre esses transtornos, especificamente em crianças e adolescentes do Centro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi) de Maringá-PR. Os objetivos específicos buscarão verificar a extensão da influência da família no desenvolvimento dos transtornos mentais das crianças e adolescentes, relacionando com o modo do paciente enfrentar a patologia e o tratamento e avaliar e comparar os fármacos mais utilizados nesses pacientes, bem como seu mecanismo de ação e eficácia durante o tratamento.
Pressupõe-se que até 10% de crianças e adolescentes apresentarão algum critério diagnóstico para pelo menos um transtorno mental em algum momento da vida, com prevalência de transtornos de ansiedade e depressão (SADOCK, et al., 2016). Os casos infantis de transtornos mentais são subjetivos, pois são uma perturbação orgânica que abrange aspectos biopsicossociais, onde a criança e adolescente ainda não têm percepção e conhecimento estabelecidos de suas próprias emoções, o que os tornam mais vulneráveis e predispostos à fatores que comprometam sua integridade física e mental (HUTTEL et al., 2011). Além disso, o tratamento infantil difere-se do tratamento do adulto, uma vez que os fármacos psicoativos, como ansiolítico e antidepressivos não são considerados de primeira escolha para crianças e adolescentes, por conta dessa subjetividade (ASBAHR, 2004).
Nota-se a importância do entendimento da crescente prevalência de transtornos mentais na juventude, visto que, a proatividade nessa fase da vida é muito importante, e crianças e adolescentes que apresentam transtornos mentais são debilitadas, o que as impedem de brincar ou brigar, levando a um isolamento maior, podendo agravar ainda mais o caso. Por isso é muito importante analisar os
fatores envolvidos no desenvolvimento desses transtornos e se o tratamento feito seria o ideal e, até mesmo, sua efetividade (BAHLS, 2002).
Ademais, observa-se que a literatura brasileira possui escassez significativa de pesquisas relacionadas a essa temática, o que dificulta o conhecimento mínimo da população a respeito do assunto, além de dificultar um diagnóstico precoce pelos profissionais de saúde, empecilhando um bom prognóstico.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 TRANSTORNOS MENTAIS NA INFÂNCIA
Os transtornos mentais na infância representam um conjunto de condições psiquiátricas que afetam profundamente o funcionamento emocional, cognitivo e comportamental de crianças e adolescentes. Com o passar do tempo, a definição e o conceito desses transtornos evoluíram, destacando a importância de abordar questões de saúde mental em idades mais jovens. Esse aumento na conscientização é uma resposta às estatísticas preocupantes que apontam para uma crescente prevalência desses transtornos na infância, tornando-se uma preocupação de saúde pública global (DA SILVA MAZON, 2020).
As estatísticas revelam que aproximadamente 1 em cada 5 crianças em todo o mundo enfrentará um transtorno mental durante a infância ou adolescência. Entre os transtornos mais comuns nessa faixa etária estão a ansiedade, a depressão, o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e os transtornos do espectro do autismo (TEA). No entanto, compreender as causas subjacentes desses transtornos é uma tarefa complexa, envolvendo uma interação multifatorial de fatores genéticos, biológicos, psicológicos e ambientais (SILVA et al., 2021).
Os fatores genéticos desempenham um papel importante na predisposição para muitos transtornos mentais na infância, embora não sejam determinantes isolados. Além disso, fatores ambientais desafiadores, como exposição a traumas, abuso, negligência, estresse familiar e eventos adversos na infância, também estão associados ao desenvolvimento desses transtornos. A identificação precoce de fatores de risco e a intervenção adequada podem desempenhar um papel fundamental na prevenção ou mitigação do desenvolvimento desses transtornos em crianças (GAWSKI et al., 2022).
O impacto dos transtornos mentais na vida da criança é substancial, afetando seu desempenho escolar, relacionamentos interpessoais e qualidade de vida. Além disso, as crianças que lidam com esses transtornos muitas vezes enfrentam o estigma social e a discriminação, agravando ainda mais seus problemas de saúde mental. Esse impacto se estende à família da criança, incluindo pais, irmãos e outros cuidadores, que frequentemente experimentam estresse, culpa, ansiedade e desafios na busca de tratamento e apoio adequados (DA SILVA MAZON, 2020).
O tratamento e o apoio adequados são cruciais para melhorar o funcionamento da criança e reduzir o impacto dos transtornos mentais na família. Isso envolve uma variedade de abordagens terapêuticas, como terapia cognitivo-comportamental, terapia familiar e, quando apropriado, terapia medicamentosa. É essencial ressaltar que o tratamento personalizado é necessário, pois as necessidades de cada criança com um transtorno mental podem ser únicas (GAWSKI et al., 2022).
A detecção precoce e o tratamento eficaz desempenham um papel significativo na melhoria do prognóstico das crianças com transtornos mentais, oferecendo-lhes melhores oportunidades de desenvolvimento. Além disso, programas de prevenção e promoção da saúde mental na comunidade podem desempenhar um papel importante na redução da incidência de transtornos mentais na infância (SILVA et al., 2021).
Profissionais de saúde, educadores e pais têm um papel fundamental na identificação e no apoio a crianças com transtornos mentais, destacando a importância de uma abordagem integrada e colaborativa entre os setores de saúde e educação. O reconhecimento da importância dos transtornos mentais na infância é fundamental para o desenvolvimento saudável de indivíduos e comunidades. Investir na promoção da saúde mental na infância é investir no futuro, contribuindo para uma sociedade mais saudável e resiliente (DA SILVA et al., 2021).
2.2 DIAGNÓSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS NA INFÂNCIA
O diagnóstico de transtornos mentais na infância é um procedimento complexo e crítico que demanda uma avaliação completa das manifestações clínicas e comportamentais da criança. Inicialmente, esse processo envolve a coleta de informações detalhadas sobre o histórico médico e familiar, bem como observações clínicas para traçar um perfil completo do desenvolvimento da criança (FRANCA et al., 2021).
Para alcançar um diagnóstico preciso, profissionais de saúde mental e psiquiatras recorrem a critérios de diagnóstico comuns, frequentemente encontrados em manuais como o DSM-5 e a CID-10. Esses critérios estabelecem os sintomas específicos necessários para a identificação de transtornos mentais, proporcionando uma estrutura padronizada para a avaliação clínica (VASILEVA et al., 2021).
Além dos critérios, são frequentemente utilizados instrumentos de avaliação e escalas para fornecer uma medida objetiva dos sintomas da criança. Isso pode incluir questionários de autorrelato, entrevistas clínicas estruturadas e escalas de avaliação comportamental. A incorporação desses instrumentos auxilia na complementação das informações subjetivas coletadas durante a avaliação clínica (LEE; BAHN, 2021).
Entretanto, o diagnóstico de transtornos mentais em crianças traz consigo desafios singulares, em grande parte devido às mudanças normais no desenvolvimento infantil. As crianças podem manifestar sintomas de forma distinta em relação aos adultos e podem não ter a capacidade plena de comunicar seus sentimentos e pensamentos. Essa falta de comunicação pode ser agravada pelo fato de que muitos transtornos mentais na infância compartilham sintomas sobrepostos, tornando a diferenciação entre eles uma tarefa delicada (VASILEVA et al., 2021).
A consideração dos fatores de desenvolvimento, como a idade da criança, é fundamental para a precisão do diagnóstico. Além disso, é necessário distinguir entre sintomas normais do desenvolvimento infantil e sintomas de transtornos mentais. Para superar esses desafios, os profissionais de saúde devem possuir especialização e treinamento específico na avaliação de crianças (FRANCA et al., 2021).
A colaboração com pais e cuidadores é uma peça-chave no processo diagnóstico, já que eles podem oferecer informações valiosas sobre o comportamento e o funcionamento da criança em diferentes contextos. Um histórico detalhado e a observação do comportamento da criança em diferentes ambientes são práticas recomendadas. A avaliação multidisciplinar, envolvendo profissionais de saúde mental, psicólogos, pediatras e educadores, proporciona uma visão abrangente do quadro clínico da criança, levando em consideração aspectos físicos, emocionais e cognitivos (LEE; BAHN, 2021).
A despeito dos desafios, o diagnóstico precoce e preciso de transtornos mentais na infância é crucial, uma vez que permite o início do tratamento e do apoio adequados. Além disso, a educação e a conscientização sobre a importância do diagnóstico adequado desempenham um papel fundamental para garantir que as crianças com transtornos mentais recebam o apoio de que necessitam (FRANCA et al., 2021).
Neste cenário em constante evolução, novas abordagens e ferramentas de diagnóstico estão sendo desenvolvidas com o objetivo de aprimorar a precisão e a sensibilidade do diagnóstico em crianças. Em última análise, um processo de diagnóstico bem-informado e sensível às necessidades das crianças é fundamental para garantir que elas possam superar os desafios dos transtornos mentais e prosperar em suas vidas, com a ajuda adequada e o apoio de profissionais de saúde e da comunidade (LEE; BAHN, 2021).
2.3 ENFRENTAMENTO DE TRANSTORNOS MENTAIS NA MENOR IDADE
O enfrentamento de transtornos mentais na menor idade é uma jornada complexa que envolve uma série de abordagens terapêuticas e estratégias de apoio. Uma das abordagens mais eficazes no tratamento de transtornos mentais em crianças é a terapia cognitivo-comportamental (TCC). A TCC é uma abordagem baseada em evidências que se concentra na identificação e modificação de padrões de pensamento e comportamento negativos, permitindo que as crianças gerenciem melhor suas emoções e sintomas (DE ARAUJO DANTAS et al., 2023).
Além da TCC, em alguns casos, são consideradas intervenções farmacológicas. No entanto, o uso de medicamentos em crianças é geralmente uma opção de segunda linha e requer supervisão rigorosa de um médico especializado em saúde mental infantil (FARIA; RODRIGUES, 2020).
O apoio familiar desempenha um papel fundamental no enfrentamento de transtornos mentais na infância. Os pais e cuidadores desempenham um papel central no apoio emocional e na gestão do tratamento de seus filhos. É crucial que os familiares sejam educados sobre o transtorno mental da criança, compreendendo os sintomas, tratamentos e estratégias de enfrentamento (DE ARAUJO DANTAS et al., 2023).
A comunidade também tem um papel vital no apoio às crianças com transtornos mentais e suas famílias. Grupos de apoio locais e organizações sem fins lucrativos podem oferecer recursos e conexões com outros que enfrentam desafios semelhantes. Além disso, a educação e a sensibilização desempenham um papel importante na redução do estigma em torno dos transtornos mentais infantis (FARIA; RODRIGUES, 2020).
Escolas desempenham um papel essencial na promoção da saúde mental infantil, incluindo a implementação de programas de apoio e a inclusão de educação sobre saúde mental no currículo. Profissionais de saúde, pais e a mídia também desempenham um papel na disseminação de informações precisas sobre transtornos mentais infantis e na redução do estigma (AMARAL; CAPONI, 2020).
Para garantir um tratamento eficaz, é essencial adotar uma abordagem personalizada, levando em consideração as necessidades individuais da criança. Uma equipe multidisciplinar, composta por profissionais de saúde mental, psicólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais e outros, pode trabalhar junta para fornecer um tratamento abrangente (DE ARAUJO DANTAS et al., 2023).
A terapia cognitivo-comportamental é uma das abordagens mais amplamente utilizadas e eficazes. Ajuda as crianças a desenvolver habilidades de enfrentamento, melhorar o autocontrole e reduzir a intensidade dos sintomas. Terapeutas familiares também podem ser valiosos ao ajudar as famílias a melhorar a comunicação, estabelecer limites e criar um ambiente de apoio (AMARAL; CAPONI, 2020).
Intervenções farmacológicas são consideradas em casos específicos, quando a terapia não produz resultados satisfatórios ou quando os sintomas são graves e debilitantes. No entanto, o uso de medicamentos em crianças requer uma avaliação cuidadosa dos riscos e benefícios, com monitoramento constante por parte de um profissional de saúde mental (DA SILVA MAZON, 2020).
3 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo transversal descritivo, de análise quantitativa e qualitativa, com ênfase em estudo de campo, com a finalidade de analisar, através de questionário estruturado, uma parcela dos familiares de pacientes com transtornos mentais que fazem acompanhamento no CAPSi da cidade de Maringá, para entender a situação individual de cada paciente.
Em sequência, foi feita a análise dos dados, comparando a prevalência desses transtornos com a idade e as relações interpessoais de cada paciente. O universo amostral incluiu pacientes do sexo masculino e feminino até 18 anos em acompanhamento no CAPSi do município de Maringá-PR, que manifestaram o desejo de participar da pesquisa por espontaneidade.
Foi realizada uma entrevista por meio de questionário estruturado composto por questões objetivas e descritivas. O critério de inclusão foi a aceitação de participação mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) em duas vias de igual teor e forma. Ademais, o mecanismo foi interpretação dos dados, reconhecendo a influência das interações familiares e sociais desse paciente, correlacionando com a teoria clínica e o tratamento indicado, baseado em revisão bibliográfica, com artigos das plataformas de base Scielo, Pubmed e Google Acadêmico, Periódico CAPES com assuntos pertinentes ao trabalho.
Todos os procedimentos de intervenção deste estudo foram submetidos ao Comitê de Ética em Pesquisa da UniCesumar e aprovado sob o número do parecer:5.900.123 e o número do CAAE 66710323.0.0000.5539. Os dados qualitativos e quantitativos foram tabulados e posteriormente interpretados e apresentados em forma de recursos de informática (Microsoft Excel®, Microsoft Word®).
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
A presente seção apresenta a tabulação dos dados coletados conforme descrição da coleta empregada na metodologia acima. A primeira questão avaliada foi a idade dos adolescentes participantes no estudo, o gráfico 1 (abaixo) apresenta os dados obtidos. A análise dos dados sobre casos de transtornos mentais em crianças e adolescentes revela informações importantes sobre a distribuição desses transtornos em diferentes faixas etárias. Observa-se que a prevalência de casos é mais significativa entre os adolescentes, particularmente nas idades de 16 e 17 anos, onde há cinco casos registrados em cada uma dessas faixas etárias. Isso sugere que a adolescência pode ser um período de maior vulnerabilidade para o desenvolvimento de transtornos mentais, possivelmente devido a desafios relacionados à transição para a vida adulta, como pressões acadêmicas, sociais e emocionais.
Além disso, as idades de 11, 12 e 13 anos também apresentam presença significativa, com dois casos cada uma. Esse dado ressalta a importância de se abordar questões de saúde mental já durante a pré-adolescência, uma vez que os desafios emocionais e psicológicos podem começar a surgir nessa fase de desenvolvimento.
Por outro lado, as crianças mais jovens, de 6 e 7 anos, mostram um número mais baixo de casos, com apenas um caso registrado em cada uma dessas idades. Isso pode indicar que os transtornos mentais nessa faixa etária são menos comuns, embora não se deva subestimar a necessidade de atenção e apoio adequados para crianças mais novas que enfrentam desafios emocionais.
Gráfico 1 – Idade dos participantes
Fonte: as autoras (2024).
Seguindo, avaliou-se o sexo dos participantes. Os dados abaixo (gráfico 2) mostram que há um total de 10 casos registrados em pacientes do sexo masculino e 13 casos em pacientes do sexo feminino. Essa discrepância nos números sugere que os transtornos mentais parecem ser mais prevalentes entre as crianças e adolescentes do sexo feminino. No entanto, é importante notar que essa análise inicial não fornece informações detalhadas sobre os tipos específicos de transtornos mentais ou a gravidade dos casos em relação ao sexo.
Para uma compreensão mais completa da relação entre transtornos mentais e sexo, é necessário realizar análises mais aprofundadas, levando em consideração fatores como o tipo de transtorno, a idade dos pacientes e outros dados demográficos. É importante reconhecer que as questões de saúde mental podem afetar pessoas de todas as idades e de todos os gêneros, e as diferenças observadas nos dados podem ser influenciadas por uma série de fatores, incluindo fatores socioculturais e de acesso ao atendimento de saúde mental.
Gráfico 2 – Sexo dos participantes
Fonte: as autoras (2024).
Os dados do gráfico 3 (abaixo) mostram que há um total de 12 casos registrados entre pacientes da etnia branca, 2 casos entre pacientes da etnia negra e 9 casos entre pacientes da etnia parda. Esses números sugerem que a maioria dos casos de transtornos mentais em crianças e adolescentes está entre aqueles que se identificam como brancos. No entanto, é importante destacar que esses dados, por si só, não podem ser usados para tirar conclusões definitivas sobre a relação entre etnia e transtornos mentais.
É fundamental reconhecer que a saúde mental é influenciada por uma série de fatores complexos, incluindo fatores genéticos, ambientais, socioeconômicos e culturais. Portanto, as diferenças na prevalência de transtornos mentais entre diferentes grupos étnicos podem ser atribuídas a uma variedade de razões e não podem ser simplificadas apenas pela etnia. Além disso, é importante evitar estigmatização ou generalização com base na etnia. Cada caso de transtorno mental é único e deve ser avaliado e tratado individualmente, levando em consideração todas as circunstâncias pessoais e contextuais.
Gráfico 3 – Etnia
Fonte: as autoras (2024).
A análise dos tipos de transtornos mentais enfrentados pelos pacientes no CAPSi (gráfico 4) revela uma paisagem complexa e diversificada de desafios de saúde mental entre crianças e adolescentes. Cada diagnóstico representa uma história única, com implicações específicas para o tratamento e o acompanhamento necessário.
Primeiramente, alguns pacientes foram identificados com diagnósticos mais amplos e menos específicos, como “Alteração de comportamento”, “Transtorno de Personalidade”, “Vício” e “TP” (Transtorno de Personalidade). Esses diagnósticos genéricos podem indicar a necessidade de avaliações mais aprofundadas para determinar os transtornos específicos presentes, ressaltando a complexidade das condições de saúde mental.
Transtornos do humor, como “Depressão” e “Transtorno Bipolar” (TAB), foram identificados em 9 e 2 casos, respectivamente. Esses transtornos podem ter um impacto significativo no estado emocional dos pacientes, exigindo intervenções terapêuticas específicas para estabilizar suas emoções e melhorar a qualidade de vida.
Os transtornos de ansiedade também são prevalentes, com 12 casos identificados. A ansiedade pode se manifestar de várias formas e pode ser debilitante para os pacientes, tornando essencial o tratamento direcionado para aliviar os sintomas e melhorar o funcionamento emocional. Além disso, o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) foi mencionado em 8 casos. Este é um transtorno comum entre crianças e adolescentes, caracterizado por dificuldades de concentração e hiperatividade, e frequentemente requer uma abordagem multidisciplinar para um tratamento eficaz.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é identificado em 4 casos, indicando desafios relacionados à comunicação e interações sociais. O TEA demanda intervenções específicas e apoio para o desenvolvimento das habilidades necessárias. Transtornos menos frequentes incluem “Esquizofrenia”, “Transtorno Obsessivo-Compulsivo” (TOC) e “Transtorno de Personalidade” (TP), cada um mencionado em 1 caso. Esses diagnósticos são geralmente complexos e requerem tratamentos especializados e estratégias de manejo.
Gráfico 4 – Transtornos
Fonte: as autoras (2024).
Os tempos de diagnóstico variam consideravelmente entre os pacientes. Os períodos de diagnóstico variam de 1 mês a 7 anos (tabela 1). Isso indica que alguns
pacientes receberam um diagnóstico relativamente rápido, enquanto outros passaram um período significativamente mais longo antes de serem diagnosticados. É importante observar que o tempo de diagnóstico pode ser influenciado por vários fatores, incluindo a natureza do transtorno mental, a gravidade dos sintomas, a busca por ajuda médica e o acesso aos serviços de saúde mental. Pacientes que receberam um diagnóstico em 1 mês podem ter se beneficiado de uma detecção precoce e intervenção rápida, o que é positivo para o tratamento de transtornos mentais.
Por outro lado, pacientes que receberam um diagnóstico após vários anos podem ter enfrentado desafios na identificação de seus sintomas ou podem ter enfrentado barreiras no acesso aos cuidados de saúde mental. A variação nos tempos de diagnóstico destaca a importância de uma maior conscientização sobre a saúde mental e o acesso a avaliações e serviços de diagnóstico. O diagnóstico precoce é fundamental para iniciar o tratamento e o apoio adequados, melhorando as perspectivas de recuperação.
Tabela 1 – Tempo de diagnóstico
PACIENTES | TEMPO DE DIAGNÓSTICO |
Paciente 1 | 1 mês |
Paciente 2 | 8 meses |
Paciente 3 | 5 anos |
Paciente 4 | 1 ano |
Paciente 5 | 1 ano |
Paciente 6 | 8 meses |
Paciente 7 | 1 ano |
Paciente 8 | 2 anos |
Paciente 9 | 1 ano |
Paciente 10 | 5 meses |
Paciente 11 | 9 meses |
Paciente 12 | 5 anos |
Paciente 13 | 1 ano |
Paciente 14 | 2 anos |
Paciente 15 | 6 meses |
Paciente 16 | 2 anos |
Paciente 17 | 3 anos |
Paciente 18 | 9 meses |
Paciente 19 | 5 meses |
Paciente 20 | 7 anos |
Paciente 21 | 1 ano |
Paciente 22 | 3 anos |
Paciente 23 | 5 anos |
Fonte: as autoras (2024).
Cada paciente exibe sintomas únicos que podem indicar diferentes transtornos e necessidades de tratamento. Dentre os sintomas mencionados abaixo (tabela 2), observa-se uma variedade de dificuldades, incluindo problemas de aprendizado, agitação, alterações de comportamento, ansiedade, tristeza profunda e até mesmo tentativas de automutilação e suicídio. Essa diversidade de sintomas destaca a complexidade das questões de saúde mental em crianças e adolescentes e a necessidade de uma abordagem individualizada. Alguns pacientes apresentam dificuldades de aprendizado, o que pode sugerir a presença de transtornos de aprendizagem ou outros desafios acadêmicos. Outros manifestam agitação, resistência à ordem e falam sozinhos, possivelmente indicando problemas de comunicação ou transtornos do espectro autista (TEA).
Além disso, há casos de pacientes que experimentam crises, o que pode ser um sinal de transtornos neurológicos subjacentes, como convulsões. A presença de alucinações, surtos psicóticos e alterações de humor repentinamente também exige atenção imediata, pois pode estar associada a transtornos psicóticos ou de humor, como esquizofrenia ou transtorno bipolar.
A ansiedade, a anedonia e a falta de concentração são sintomas frequentemente relatados, sugerindo a presença de transtornos de ansiedade e depressão, bem como transtornos de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). A automutilação e as tentativas de suicídio são preocupantes e indicam a gravidade da angústia emocional que alguns pacientes enfrentam. Por outro lado, a dificuldade de processamento auditivo central, alterações de comportamento, irritação e falta de socialização são sinais que podem estar relacionados a questões sensoriais, problemas interpessoais ou transtornos disruptivos do comportamento.
Tabela 2 – Sinais e sintomas
PACIENTES | SINAIS E SINTOMAS |
Paciente 1 | Dificuldade de aprendizado |
Paciente 2 | Agitação, resistência à ordem e falar sozinho |
Paciente 3 | Agitação e nervosismo |
Paciente 4 | Crises |
Paciente 5 | Alteração de comportamento e alucinações |
Paciente 6 | Dificuldade de aprendizado e falta de atenção |
Paciente 7 | Alteração repentina de humor e automutilação |
Paciente 8 | Ansiedade e anedonia |
Paciente 9 | Isolamento, automutilação e nervosismo |
Paciente 10 | Agitação e alteração de comportamento |
Paciente 11 | Surtos psicóticos |
Paciente 12 | Tristeza profunda e tentativa de suicídio |
Paciente 13 | Agitação, preocupação excessiva |
Paciente 14 | Tristeza, tendência suícida |
Paciente 15 | Ansiedade, tristeza e isolamento |
Paciente 16 | Tendência suícida, tristeza e agitação |
Paciente 17 | Ansiedade e anedonia |
Paciente 18 | Crise, ansiedade e automutilação |
Paciente 19 | Ansiedade e falta de concentração |
Paciente 20 | Agitação, Irritação, falta de socialização |
Paciente 21 | Dificuldade de processamento auditivo central |
Paciente 22 | Alterações de comportamento, nervosismo |
Paciente 23 | Ansiedade e falta de concentração |
Fonte: as autoras (2024).
Cada paciente é único, e a escolha do tipo de acompanhamento é fundamental para fornecer o suporte necessário para promover sua recuperação e bem-estar emocional. Inicialmente, é preocupante notar que um paciente não está atualmente recebendo nenhum tipo de acompanhamento (gráfico 5). Essa situação deve ser abordada prontamente para garantir que essa criança ou adolescente tenha acesso aos cuidados necessários para sua saúde mental. A ausência de tratamento pode agravar os problemas de saúde mental e afetar negativamente a qualidade de vida do paciente.
Por outro lado, um paciente está em acompanhamento psicológico, o que sugere que suas necessidades de tratamento estão sendo abordadas principalmente por meio de intervenções terapêuticas, como terapia individual ou de grupo. Isso destaca a importância do suporte emocional e da terapia como componentes-chave no tratamento de transtornos mentais.
A maioria dos pacientes (16 no total) está recebendo uma abordagem integrada de acompanhamento, combinando intervenções psicológicas e psiquiátricas. Essa abordagem reflete o reconhecimento da complexidade das condições de saúde mental e a necessidade de tratar os aspectos emocionais e médicos em conjunto. Envolve sessões de terapia com psicólogos, juntamente com consultas e tratamento médico com psiquiatras, quando necessário. Essa abordagem multidisciplinar visa abordar de maneira abrangente os desafios de saúde mental dos pacientes.
Por fim, a presença de 5 pacientes (gráfico 5) em acompanhamento psiquiátrico puro indica que, em alguns casos, o tratamento médico e farmacológico desempenha um papel mais proeminente no manejo dos sintomas e transtornos mentais. Isso pode envolver o uso de medicamentos prescritos por psiquiatras para tratar especificamente os sintomas e promover a estabilidade emocional.
Gráfico 5 – Tipo de acompanhamento
Fonte: as autoras (2024).
Seguindo, avaliou-se a frequência de acompanhamento profissional, os dados mostram (gráfico 6) que a maioria dos pacientes (15 no total) está em um regime de acompanhamento semanal com profissionais de saúde mental. Essa frequência regular sugere uma abordagem consistente e contínua para o tratamento, que pode ser fundamental para a estabilidade e progresso dos pacientes. Além disso, um grupo menor de pacientes (7 no total) está em um regime de acompanhamento mais intensivo, com duas sessões por semana. Essa frequência mais alta pode ser indicativa de casos mais complexos ou de maior necessidade de apoio terapêutico. Nesses casos, a intensidade do acompanhamento pode ser necessária para abordar questões mais graves ou para fornecer suporte adicional em momentos de crise.
No entanto, é importante observar que um único paciente não está atualmente recebendo acompanhamento profissional. Essa situação merece atenção especial, pois cada paciente deve ter acesso ao tratamento adequado para suas necessidades de saúde mental. Pode ser necessário investigar a razão para a falta de acompanhamento e garantir que esse paciente receba a assistência necessária.
A frequência de acompanhamento profissional é um aspecto crítico do tratamento de transtornos mentais em crianças e adolescentes. A escolha da frequência certa de acompanhamento é baseada em avaliações clínicas individuais, levando em consideração fatores como a gravidade dos sintomas, o diagnóstico específico e o progresso do tratamento. A abordagem individualizada é essencial para garantir que cada paciente receba o cuidado mais apropriado para sua condição.
Gráfico 6 – Frequência de acompanhamento profissional
Fonte: as autoras (2024).
Cada medicamento desempenha um papel específico no manejo dos sintomas e no apoio à recuperação dos pacientes, refletindo a complexidade das condições de saúde mental. A Risperidona é o medicamento mais frequentemente prescrito, sendo mencionada em 6 casos (gráfico 7). Esse medicamento é comumente utilizado no tratamento de transtornos psicóticos, como a esquizofrenia, e também pode ser indicado para controlar agitação e comportamento agressivo. Sua presença frequente sugere a importância do controle dos sintomas psicóticos em alguns pacientes.
Logo em seguida, o Lítio é mencionado em 5 casos (gráfico 7). O Lítio é um estabilizador de humor amplamente utilizado no tratamento do transtorno bipolar, indicando que alguns pacientes enfrentam desafios relacionados a alterações extremas de humor e necessitam de intervenção farmacológica para estabilizá-los. A Venlafaxina é prescrita em 4 casos, sugerindo seu uso em situações de transtornos de ansiedade e depressão. Esses transtornos são comuns em adolescentes e podem ser debilitantes, tornando a Venlafaxina uma opção terapêutica relevante.
Outros medicamentos, como Sertralina, Ritalina, Levomepromazina e Imipramina, são mencionados em frequência menor, indicando uma variedade de diagnósticos e necessidades de tratamento, que podem incluir depressão, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e transtornos do humor. É importante notar que alguns medicamentos são prescritos em apenas 1 caso, como Clorpromazina, Carbolitium, Ansitec, Cloridina, Fluoxetina, Biperideno, Haloperidol, Quetiapina e Rivotril. Isso sugere que esses medicamentos são utilizados em situações específicas, como psicose, ansiedade extrema ou outros transtornos mentais graves, onde sua eficácia pode ser particularmente relevante.
Gráfico 7 – Incidência do uso de medicamentos
Fonte: as autoras (2024).
Adiante, avaliou-se a incidência dos pacientes que foram internados (gráfico 8). A maioria esmagadora dos pacientes, representada por 19 casos, não passou por internações, indicando que o tratamento ambulatorial é a estratégia mais comumente adotada pela equipe clínica. Essa abordagem é eficaz em fornecer suporte e tratamento no ambiente ambulatorial, evitando a necessidade de internação, o que sugere uma abordagem pró-ativa na gestão das condições de saúde mental desses jovens.
No entanto, é importante observar que 4 pacientes tiveram experiências de internação. Embora representem uma minoria em relação aos não internados, a internação ainda é uma parte relevante do tratamento em saúde mental. Normalmente, a internação é considerada em situações de crise aguda, onde o paciente enfrenta risco iminente para si mesmo ou para os outros. A decisão de internar é tomada com base na avaliação clínica da equipe de saúde mental, garantindo a segurança e a estabilização do paciente.
A preferência é sempre dada ao tratamento menos restritivo, como o ambulatorial, para permitir que o paciente mantenha a autonomia e a conexão com sua comunidade. No entanto, a internação é uma opção necessária em situações em que o paciente não pode ser adequadamente tratado em um ambiente ambulatorial. Isso destaca a importância de uma abordagem flexível e individualizada no tratamento de transtornos mentais, reconhecendo que as necessidades de cada paciente são únicas.
Gráfico 8 – Incidência de internações
Fonte: as autoras (2024)
Prosseguindo, avaliou-se se os pacientes participantes neste estudo possuem algum familiar que também faz tratamento psicológico e/ou psiquiátrico (gráfico 9). Primeiramente, é notável que a maioria dos pacientes (11 no total) relatou que nenhum dos seus familiares está atualmente em tratamento psicológico ou psiquiátrico. Essa informação pode indicar que essas crianças e adolescentes enfrentam seus desafios de saúde mental em um ambiente familiar com menos histórico de tratamento similar, o que pode impactar a dinâmica e o apoio disponível. Por outro lado, a presença de familiares em tratamento é observada em outros casos. Quatro pacientes mencionam que suas mães estão em tratamento, sugerindo que essas famílias estão lidando com desafios de saúde mental tanto no âmbito dos filhos quanto dos pais. Três pacientes relatam que têm irmãos em tratamento, o que indica que a experiência de transtornos mentais pode ser compartilhada dentro da mesma família, possivelmente criando uma rede de apoio ou compreensão mútua.
Além disso, a presença de outros parentes em tratamento é mencionada, como avós, pais, primos, tios e tias, em números menores. Isso ressalta a complexidade das dinâmicas familiares e como a saúde mental pode ser uma questão que afeta várias gerações e membros da família.
Esses dados enfatizam a importância de considerar o contexto familiar ao abordar os transtornos mentais em crianças e adolescentes. O apoio e o entendimento da família desempenham um papel crucial no processo de tratamento e recuperação. Conhecer a presença de familiares em tratamento pode ajudar a equipe clínica a adaptar suas abordagens terapêuticas e oferecer apoio não apenas ao paciente em tratamento, mas também à família como um todo.
Gráfico 9 – Familiares que fazem tratamento psicológico e/ou psiquiátrico
Fonte: as autoras (2024).
Observa-se que a maioria dos pacientes (16 deles) não mencionou qualquer tipo de afastamento em decorrência dos transtornos mentais (gráfico 10). Isso pode indicar que esses pacientes conseguiram manter um nível de funcionamento regular em suas atividades sociais e escolares, apesar dos desafios enfrentados. Esse resultado é positivo, pois sugere que o tratamento e o suporte fornecidos pelo CAPSi podem ter contribuído para a manutenção da vida cotidiana dessas crianças e adolescentes.
No entanto, é importante notar que alguns pacientes relataram afastamento em diferentes contextos. Três pacientes mencionaram afastamento tanto social quanto escolar, o que sugere que os transtornos mentais afetaram significativamente suas interações sociais e seu desempenho acadêmico. Quatro pacientes relataram afastamento exclusivamente na esfera escolar, o que indica que os transtornos mentais afetaram principalmente seu envolvimento e desempenho na escola.
Esses dados ressaltam a complexidade dos transtornos mentais e como eles podem afetar diversos aspectos da vida de uma criança ou adolescente. O afastamento social e escolar pode ser uma consequência dos sintomas e desafios enfrentados, como dificuldades de concentração, ansiedade, depressão ou comportamentos disruptivos.
Ademais, é importante que a equipe clínica do CAPSi avalie cuidadosamente os casos em que o afastamento é mencionado, a fim de compreender a extensão do impacto dos transtornos mentais e desenvolver abordagens terapêuticas específicas para lidar com essas situações. O objetivo é ajudar esses pacientes a se reintegrarem na sociedade e na escola, promovendo sua recuperação e bem-estar geral.
Gráfico 10 – Afastamento social e escolar
Fonte: as autoras (2024).
Prosseguindo, é importante observar que a maioria esmagadora dos pacientes (22 deles) relatou que não faz uso de substâncias ilícitas ou álcool (gráfico 11). Isso é um sinal positivo, sugerindo que esses jovens conseguiram manter-se afastados dessas substâncias prejudiciais, apesar dos desafios de saúde mental que enfrentam. Essa resiliência pode ser atribuída ao suporte e tratamento fornecidos pelo CAPSi, que promovem estratégias saudáveis de enfrentamento e prevenção do uso de substâncias.
No entanto, é importante notar que 1 paciente mencionou o uso de substâncias ilícitas ou álcool. Isso indica que, em alguns casos, os transtornos mentais podem estar relacionados ao uso de substâncias, o que pode agravar ainda mais os problemas de saúde mental. O uso de substâncias ilícitas pode ser uma forma de automedicação ou uma tentativa de lidar com os sintomas emocionais, o que, a longo prazo, pode ser prejudicial. A equipe clínica do CAPSi deve abordar essa situação com sensibilidade, fornecendo apoio e tratamento específico para ajudar o paciente a lidar com o uso de substâncias e abordar os transtornos mentais subjacentes de maneira eficaz.
Gráfico 11 – Substâncias ilícitas/álcool
Fonte: as autoras (2024).
Por fim, a maioria dos pacientes, representada por 11 casos, não relatou nenhuma experiência de violência ou agressão (gráfico 12), o que sugere que esses jovens conseguiram manter-se afastados de situações potencialmente prejudiciais em seu ambiente familiar e social. No entanto, a análise também revela preocupações significativas, uma vez que 7 pacientes mencionaram ter experimentado violência física e verbal, enquanto 4 pacientes relataram terem sido vítimas apenas de violência verbal. Esses relatos indicam que uma parcela substancial dos pacientes enfrenta situações de agressão, o que pode resultar em efeitos adversos em sua saúde mental e emocional. A violência física e verbal pode causar traumas, ansiedade e outros sintomas psicológicos, exigindo intervenções terapêuticas específicas para ajudar esses pacientes a lidar com as consequências dessas experiências traumáticas.
A equipe clínica do CAPSi desempenha um papel fundamental ao abordar essas situações sensíveis, oferecendo apoio e tratamento individualizado para cada paciente. Além disso, é crucial que a equipe esteja atenta à identificação de situações de risco em que a violência pode estar presente. Isso permitirá a implementação de medidas preventivas e de proteção adequadas para garantir a segurança dos pacientes e a promoção de ambientes livres de violência.
A prevenção da violência e a promoção de relacionamentos saudáveis são aspectos essenciais do tratamento de transtornos mentais em crianças e adolescentes. Isso implica não apenas abordar as consequências da violência já ocorrida, mas também criar conscientização e oferecer suporte para a prevenção futura. A criação de um ambiente seguro e saudável, tanto dentro quanto fora do contexto familiar, é crucial para o bem-estar desses jovens e para o sucesso do tratamento de seus transtornos mentais.
Gráfico 12 – Violência e/ou agressão sofrida pelos pacientes do estudo
Fonte: as autoras (2024).
5 CONCLUSÃO
A análise abrangente dos dados coletados sobre transtornos mentais em crianças e adolescentes, atendidos no CAPSi (Centro de Atenção Psicossocial Infantil), oferece uma visão holística dos desafios enfrentados por essa população vulnerável. Ao longo desse estudo, examina-se diversos aspectos, desde a demografia dos pacientes até os tipos de transtornos, frequência de acompanhamento e experiências relacionadas à violência e agressão.
É importante destacar que a diversidade é uma característica marcante nos casos de transtornos mentais nessa faixa etária. Observa-se uma ampla distribuição em termos de idade, sexo e etnia dos pacientes. Isso ressalta a importância de considerar cada caso individualmente, levando em consideração as particularidades de cada paciente ao oferecer tratamento e apoio.
A análise dos motivos que levam essas crianças e adolescentes a buscar tratamento no CAPSi revela que uma variedade de transtornos mentais está em jogo. Entre os mais comuns estão a depressão, ansiedade e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Essa diversidade de condições exige uma abordagem flexível e adaptada às necessidades específicas de cada paciente, reconhecendo que não existe uma solução única para todos.
A avaliação dos dados sobre diagnóstico enfatiza os desafios enfrentados no processo de identificação de transtornos mentais em crianças e adolescentes. O diagnóstico requer critérios rigorosos e a utilização de instrumentos de avaliação e escalas, mas a complexidade dos sintomas e a variabilidade individual podem tornar esse processo desafiador. É crucial que os profissionais de saúde mental aprimorem suas habilidades de diagnóstico e avaliação para garantir uma identificação precisa das condições.
Ao discutir as abordagens terapêuticas disponíveis, percebe-se que a terapia cognitivo-comportamental, intervenções farmacológicas, apoio familiar e comunitário, além de educação e sensibilização, são peças fundamentais no tratamento. O envolvimento da família desempenha um papel crucial, pois a dinâmica familiar influencia significativamente o progresso dos pacientes. A atenção à família e à comunidade também é importante para reduzir o estigma associado aos transtornos mentais e aumentar a conscientização.
A análise dos dados sobre a frequência de acompanhamento profissional indica que a maioria dos pacientes recebe atendimento semanal, refletindo o compromisso significativo com o tratamento contínuo. Isso demonstra a importância do suporte contínuo e da monitorização do progresso para garantir uma recuperação eficaz.
A frequência de medicamentos prescritos varia, mostrando uma ampla gama de substâncias, desde antidepressivos até antipsicóticos e estimulantes. Isso destaca a complexidade das condições tratadas e a necessidade de acompanhamento regular e avaliação de efeitos colaterais para garantir a eficácia do tratamento. A análise dos tipos de transtornos ressalta a prevalência de condições como depressão e ansiedade, exigindo abordagens terapêuticas específicas. A frequência de casos de TDAH indica a necessidade de abordagens multidisciplinares que incluam educação e suporte familiar.
A análise da frequência de internação, embora relativamente baixa, destaca a importância de fornecer tratamento ambulatorial sempre que possível, permitindo aos pacientes manter sua vida cotidiana. Por fim, os relatos de experiências de violência e agressão apontam para a necessidade de intervenções específicas para ajudar os pacientes a lidar com os traumas resultantes.
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1 Acadêmica de Medicina do Centro Universitário de Maringá – Unicesumar, Maringá, Paraná, Brasil.
2 Acadêmica de Medicina do Centro Universitário de Maringá – Unicesumar, Maringá, Paraná, Brasil.
3 Docente do Centro Universitário de Maringá – Unicesumar, Maringá, Paraná, Brasil.