ENERGIA RENOVÁVEL: OS DESAFIOS E OPORTUNIDADES NO BRASIL 

RENEWABLE ENERGY: CHALLENGES AND OPPORTUNITIES IN  BRAZIL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10672815


Bernardo Hamuyela Luciano1
Isoldina Ngueve Chindemba Capingana2
Jésyca Emília Luciano Nhime3
Samara Linhares Carlos4
Marcelo Barbosa Carvalho5


RESUMO 

O objetivo deste estudo é conhecer mais sobre as fontes de energia renováveis como a melhor  alternativa na promoção do desenvolvimento sustentável no Brasil. No entanto, apesar de  diversas medidas políticas para promover as energias renováveis, ainda existem obstáculos no  País que afetam o desenvolvimento deste setor. O objetivo deste artigo é resumir, analisar e  identificar os principais desafios para o desenvolvimento de energias renováveis no Brasil neste  momento. Para tanto, foi realizada pesquisa bibliográfica e a partir dos resultados obtidos,  verifica-se que os obstáculos surgem tanto de fatores econômicos e não econômicos, tais como: impecílios administrativos, institucionais, governamentais, de ambiente e aceitação pública. 

Palavras-chave: Fontes renováveis. Desenvolvimento de Energia. Políticas públicas. 

1. INTRODUÇÃO 

Afim de se estabilizar energeticamente e na segurança nacional, nos pós crise do  Petróleo de 1970, vários países inclusive o Brasil, iniciaram pesquisas e desenvolvimento no  campo de fontes em energia renováveis e alternativas. Desses movimentos, pode-se citar O  Programa Nacional do Álcool (PROÁLCOOL), o Programa Emergencial de Energia Eólica (PROEÓLICA) e o Programa de Promoção de Fontes Alternativas de Energia (PROINFA), que  foram formas importantes de desenvolver e diversificar fontes de energia no Brasil. O fornecimento descentralizado de energia tais como: Solar, resíduos sólidos urbanos, entre outros, fontes não tão comuns, demonstra que o Brasil tem oportunidade de expansão  produtiva nestas fontes.  

Citando Agência Internacional de Energia (AIE, 2011), concluí que existem barreiras  econômicas e não econômicas sobre os projetos de energias renováveis . Como exemplo, mesmo que se tenha condições favoráveis para o desenvolvimento de energia renovável no  mercado, o custo de uma determinada tecnologia excede o custo de alternativas concorrentes. As barreiras do tipo burocráticas, administrativas e ambientais são as chamadas barreiras não  econômicas. 

Infelizmente, não para por aí, fatores contra como: Condições macroeconômicas,  incluindo fatores políticos e regulamentares, dinâmica do mercado elétrico, capacidade de  infraestrutura são fatores não econômicos que também atrapalham o desenvolvimento. 

Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é resumir, analisar e identificar os principais  desafios para o desenvolvimento de energias renováveis no Brasil hoje. A metodologia adotada  é da coleta e análise de dados a partir de pesquisas bibliográficas (livros, teses, artigos, revistas  profissionais, pesquisas na Internet e dados fornecidos por órgãos governamentais). 

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 

O Brasil ocupa uma posição muito especial no cenário de Energias Renováveis, dada a  importância histórica da energia hidrelétrica no sistema elétrico nacional, também pode inferir  que a energia renovável é uma história de sucesso no Brasil.  

A participação das fontes de energia renováveis na matriz de geração de energia do  Brasil é de 85%. Isto se deve, principalmente, à participação da energia hidroelétrica, uma  tecnologia muito conhecida e amplamente aplicada no Brasil.  

Porém, se o Brasil quiser manter essa matriz limpa, precisará desenvolver e trabalhar  forte face às novas oportunidades e desafios. 

2.1. COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS 

Historicamente, os combustíveis fósseis vem sendo um recurso posicionado fortemente na matriz energética mundial. Desde a Revolução Industrial, sucessivos paradigmas  tecnológicos têm-se baseado na utilização crescente de combustíveis fósseis.  

Em 2014, a maior parte das necessidades energéticas mundiais tiveram base no petróleo,  gás natural e carvão. Porém, já naquele momento, os combustíveis fósseis causavam externalidades ambientais importantes. A um bom tempo, os combustíveis fósseis vêm tendo  recorrentes posicionamentos nas agendas políticas energéticas dos países.  

Na 21ª Conferência das Partes (COP21), realizada em Paris, em dezembro de 2015,  foram formuladas medidas eficazes para limitar o aumento das temperaturas médias globais.  No âmbito do Plano Nacional de Compromisso de Redução de Emissões, o chamado INDC,  abaixo de 2°C até 2100. 

A transição energética global para uma economia de baixo carbono depende da redução  da utilização de combustíveis fósseis na produção de eletricidade. Atualmente é responsável  por um terço das emissões globais. A redução das emissões de outros setores de consumo exige  um aumento do consumo de eletricidade.  

Isso reforça a importância de uma matriz energética limpa com alta proporção de fontes  de energia renováveis, permitindo a eletrificação futura e consequentemente a redução dos  atuais níveis de emissões. 

2.2. ESPECIFICIDADES NO BRASIL DAS NOVAS RENOVÁVEIS 

Devido à grande disponibilidade de recursos renováveis no Brasil, existe uma matriz  energética limpa em relação à média mundial. Nesse sentido, o Brasil se comprometeu na  COP21 a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% em 2025 em comparação com  2005, e em 43% numa base comparável até 2030.  

Em relação ao setor energético, o Brasil estabeleceu três metas (INDC) no Acordo de  Paris.  

✔ Alcançar uma participação de 45% de energias renováveis na matriz energética  em 2030; 

✔ Aumentar a participação da bioenergia para 18% até 2030, aumentando assim o  consumo de biocombustíveis, a oferta de etanol (incluindo de segunda geração) e a participação  do biodiesel nas misturas de diesel; 

✔ Aumentar a utilização de recursos renováveis, além da energia hídrica, em toda  a matriz energética, de 28% para 33% de participação até 2030 (EPE, 2016). Para atingir as metas propostas, o Brasil precisará repensar o papel das termelétricas.  Nos últimos anos, o papel desempenhado pelas termelétricas no Brasil tem sido insuficiente do  ponto de vista econômico e ambiental. A construção de parques termelétricos no Brasil partiu  da perspectiva do uso pouco frequente, priorizando a flexibilidade por meio de tecnologias com  baixos custos de capital e altos custos operacionais.  

Mesmo assim, o Brasil está em uma posição privilegiada para permitir uma expansão  significativa da energia renovável intermitente, característica importante atualmente. Por um  lado, o sistema elétrico brasileiro pode ser considerado dinâmico, espera-se um elevado  crescimento a longo prazo, permitindo ajustes expansionistas para adaptar o sistema a uma  maior produção de energia a partir de fontes de energia renováveis intermitentes.  

Mas por outro lado, o sistema elétrico já é altamente flexível devido à grande proporção  de produção hidroelétrica (70% da capacidade instalada) e o armazenamento de água (211  TWh, equivalente a aproximadamente 5 meses de produção de eletricidade). Isso possibilita a  produção no Brasil com custos de integração reduzidos.  

2.3. ENERGIA EÓLICA E SOLAR NO BRASIL 

Considerando o potencial nacional da energia eólica e solar, o Brasil criou um  mecanismo de incentivo para promover essas fontes de energia. Os principais elementos desses  mecanismos são contratos de longo prazo celebrados por meio de leilões (PPAs) e  financiamentos privilegiados por meio do BNDES. Isto também se aplica às novas energias  renováveis, uma vez que a maior parte do financiamento da indústria energética é feita através  do BNDES.  

Contudo, o financiamento do BNDES está vinculado à política industrial para produção  de componentes em nível nacional. Assim, o BNDES criou diretrizes específicas de conteúdo  local para novas energias renováveis. Embora o desenvolvimento da indústria eólica tenha  apresentado grandes efeitos na internalização de componentes, sua adaptação às políticas de  energia solar ainda precisa ser avaliada.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Embora as fontes de energia renováveis sejam uma excelente alternativa para promover  o desenvolvimento sustentável, ainda existem obstáculos/barreiras que afetam o  desenvolvimento deste setor a nível global.  

Do ponto de vista macroeconômico, estas barreiras desempenham um papel  significativo na determinação do custo das energias renováveis e impedem potencialmente  investimentos significativos na construção de uma matriz mais renovável e sustentável no  futuro, e podem ser categorizadas como:  

✔ Barreiras econômicas – O custo direto de uma determinada tecnologia em  comparação com tecnologias concorrentes, tendo em conta todos os custos externos e aumentos  em condições ideais;  

✔ Barreiras não econômicas – Que impedem a implementação ou resultam em custos  mais elevados do que o preço pedido; 

✔ Barreiras de incerteza política – Estão relacionadas com descontinuidades e/ou  instabilidade nos quadros políticos e regulamentares; 

✔ Barreiras institucionais – Incluem procedimentos de licenciamento complexos ou  lentos; 

✔ Barreiras de mercado – Estruturas de preços voláteis e não competitivas entre  energias renováveis e fósseis, informação assimétrica, falhas de mercado, subsídios elevados  para combustíveis fósseis, falha dos métodos de cálculo de custos para incorporar os custos  sociais e ambientais no preço final, etc; 

✔ Barreiras econômicas – relacionadas com a falta de oportunidades como: Aumento  dos subsídios financeiros, incentivos fiscais e oportunidades de financiamento para novos  projetos no setor das energias renováveis. 

Isto mostra que as barreiras económicas e não económicas estão estreitamente  relacionadas e são interdependentes. 

Kreiss; Ehrhart e Haufe (2017) falam que o não interesse de investidores públicos ou privados, é um dos maiores obstáculos financeiros. Mondal, Kamp e Pachova (2010)  acrescentam que o retorno do investimento a longo prazo, os custos de manutenção e construção  e a falta de conhecimentos locais também são fatores que têm um impacto negativo no  desenvolvimento das energias renováveis.

Existem outros desafios para o desenvolvimento de energia renovável no Brasil são eles:  a necessidade de grandes investimentos iniciais e altos custos associados e a necessidade de  novas fontes de energia (principalmente energia eólica e solar).  

Também pode-se inferir que as regiões mais adequadas para prestar apoio técnico à  utilização de fontes de energia renováveis estão muitas vezes longe dos centros urbanos e  necessitam de grandes redes energéticas.  

3.1. INCENTIVO PARA O DESENVOLVIMENTO 

Existe um amplo consenso na literatura de que a intervenção governamental é necessária  para promover o uso de energias renováveis. E assim como outros países ao redor do mundo, o  Brasil desenvolveu políticas focadas em energias renováveis para reduzir barreiras, atrair  investimentos, fomentar o desenvolvimento e a inovação e promover flexibilidade na estrutura  energética (REN21, 2016; SANTOS, 2017). 

Exemplos de fontes de energia alternativas provenientes de países desenvolvidos são  normalmente utilizados como prova de que as ferramentas de criação de mercado são eficazes  na promoção do desenvolvimento de tecnologias de energias alternativas. Tais medidas  baseiam-se na premissa de que a utilização de fontes de energia tradicionais cria externalidades  negativas, ou seja, impactos na sociedade e no consumo que não se refletem diretamente nos  mercados e nos preços dos produtos. Portanto, os governos têm justificativa para intervir para  corrigir imperfeições do mercado (ou externalidades negativas), promovendo energia limpa. 

Nesta área, os principais instrumentos que podem contribuir para a promoção e  expansão das energias renováveis no mercado incluem medidas regulatórias, incentivos fiscais,  financiamento público e medidas de inovação. Essencialmente, estes mecanismos aumentam o  consumo de eletricidade proveniente de fontes renováveis, estimulam o progresso tecnológico  e permitem reduzir o custo da produção de energia a partir destas fontes até ao ponto em que  possam tornar-se competitivas com as fontes de energia convencionais. 

Os incentivos fiscais são fundamentais para fazer com que investimentos cheguem ao  País, para o setor energético e possam viabilizar construções de usinas e compra de equipamentos.  Deve-se notar que, na maioria dos casos, os projetos de energias renováveis não convencionais  não são economicamente viáveis e, portanto, requerem financiamento público. Este produto  permite ao investidor obter financiamento especial para aquisição e manutenção de  equipamentos, pagamento de obras, etc.

Finalmente, no que diz respeito às políticas de inovação, as principais medidas incluem  intercâmbios entre empresas privadas e públicas, grandes empresas e pequenas e médias  empresas, universidades e agências governamentais, com o objetivo de produzir ciência e  tecnologia dentro das fronteiras nacionais.  

De acordo com a IEA (2011), o papel do governo no processo de desenvolvimento de  novas tecnologias precisa ser simplificado e focado na remoção de barreiras nas fases finais do  processo de desenvolvimento tecnológico. A correção das distorções de preços deveria então  ser o foco das políticas públicas.  

Neste sentido, as externalidades positivas da produção e utilização de energias  renováveis justificam a adoção de políticas públicas (medidas regulatórias, incentivos fiscais,  financiamento público, inovação). Além disso, a energia proveniente dessas fontes renováveis  é a base para a expansão e diversificação da matriz do setor elétrico brasileiro (o que pode  reduzir a dependência energética).  

4. CONCLUSÃO 

O artigo em questão demonstra que as questões relacionadas aos sistemas energéticos  são complexas e multifacetadas, exigindo uma combinação de múltiplos e coordenados  instrumentos de políticas públicas. Também enfatiza que essas ferramentas devem ser  dinâmicas, explícitas e acompanhar a evolução do suporte técnico.  

No entanto, os instrumentos de política regulamentar que possam reduzir custos e tarifas  em toda a cadeia energética poderiam permitir o desenvolvimento e a proliferação destas fontes  de energia, aumentando assim a estabilidade e a certeza política no sector energético.  

A definição de contextos políticos a longo prazo e objetivos relacionados é um elemento  crítico para estimular e criar um ambiente de investimento estável para tecnologias de energias  renováveis. Além disso, a incerteza regulatória que o setor energético brasileiro enfrenta  atualmente criou um ambiente volátil de investimentos para projetos de energia renovável.  Alcançar a expansão neste sentido exigirá que os governos e a indústria trabalhem em conjunto  para estabelecer parcerias público-privadas, identificar mercados-alvo e acelerar a  implementação de protótipos a custos mais baixos.  

Isto permitirá que as energias renováveis desempenhem um papel fundamental na  criação de novas estratégias, no desenvolvimento de nichos de mercado para outros setores da  economia e na atração de novos investimentos.

REFERÊNCIAS 

CAMILLO, E. V. “As Políticas de Inovação da Indústria de Energia Eólica: uma análise do  caso brasileiro com base no estudo de experiências internacionais”. 2013. 

212 f. Tese (Doutorado em Política Científica e Tecnológica) – Instituto de Geociências,  Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2013. 

PAGEL, R. U.; FIOROTTI, A.; CAROLINO C. J. ” Análise dos principais desafios ao  desenvolvimento das energias renováveis no Brasil”. Congresso Brasileiro de Planejamento  Energético 2018. 

EPE [Empresa de Pesquisa Energética]. “Balanço Energético Nacional – Ano Base 2017”. Rio  de Janeiro: EPE, 2018. 

IEA [International Energy Agency]. “Renewable Energy: policy considerations for deploying  renewables”. Paris: IEA, 2011. 76 p. 

KREISS, J.; EHRHART, K. M.; HAUFE, M. C. Appropriate design of auctions for renewable  energy support – pre qualifications and penalties. “Energy Policy”, v. 101, p. 512-520, 2017. 

REN21 [Renewable Energy Policy Network for the 21st Century]. “Global Status Report”.  Paris: REN21, 2016. 
Disponível em https://bravoenergia.com/energias-brasil-desafios-e-oportunidades/  Consultado em 01/02/2024.


1Discente do Curso de Mestrado em Engenharia e Tecnologia Ambiental da Universidade Federal do Paraná – UFPR Campus Palotina e-mail: benyluciano@gmail.com. Mestre em Engenharia e Tecnologia Ambiental, orcid.org/0000-0003-1048-8153
2Mestranda do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC Campus CCS e-mail:  isoldinacapingana.ao@gmail.com. Enfermagem, orcid.org/0009-0000-2943-701x
3Discente do Curso de Engenharia de Energias Renováveis da Universidade Federal do Ceará – UFC Campus Pici e-mail: jessicanhime@alu.ufc.br. Engenharia de Energias Renováveis, orcid.org/0009-0006-2051-5118
4Discente do Curso Superior em Engenharia Civil da Universidade Estadual do Vale do Acaraú Campus Sobral e-mail: samara.linharesc@hotmail.com. Engenharia Civil orcid.org/0009-0005-2385-090x
5Discente do Curso Superior em Engenharia de Produção da Universidade de Franca – UNIFRAN Campus Franca  e-mail: macarvalusa@gmail.com. Engenharia de Produção, orcid.org/0009-0005-9807-7843