INTERVENÇÕES NUTRICIONAIS E COMPORTAMENTAIS NO PROCESSO DE EMAGRECIMENTO EM INDIVÍDUOS COM OBESIDADE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10634352


Eder Magnus Almeida Alves Filho1 – Autor;
Dra. Kyzzes Barreto Araújo2 – Orientador


RESUMO

A obesidade vem se tornando o maior problema nas sociedades modernas e países desenvolvidos justamente por estar relacionada ao desenvolvimento de diabetes mellitus, dislipidemia e hipertensão arterial, além de favorecem o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Considerando o Brasil um país com muitas desigualdades e diferenças regionais, foi criado em 2006, por meio da Portaria nº 399/GM, o Pacto pela Saúde considerando as seguintes dimensões: Pacto pela Vida, Pacto de Gestão e Pacto em Defesa do SUS, para a universalização da saúde populacional. Sendo assim, constrói-se este estudo com o principal objetivo de discutir sobre as principais intervenções nutricionais e comportamentais no processo de emagrecimento em indivíduos com obesidade. Para atender ao objetivo desta pesquisa, realizou-se uma revisão bibliográfica da literatura, de abordagem descritiva e de caráter qualitativo. A obesidade é uma doença crônica decorrente de vários fatores fisiológicos e hereditários, mas também está fortemente relacionada aos maus hábitos de vida. É definida como o acúmulo de tecido adiposo no corpo, seja este localizado ou não, causado pelo balanço calórico positivo constante ou por distúrbios do sistema endócrino e/ou metabólico. Dessa forma, a partir da construção deste estudo, conclui-se que são necessárias atividades educativas que trabalhem conteúdos alimentares que sejam inseridos na realidade de cada indivíduo, assim como ações integradas que visem à saúde utilizando diferentes tipos de recursos pedagógicos de acordo com o objetivo proposto e com a participação da comunidade para que tenham a ciência e a autonomia necessárias para a adoção de hábitos alimentares saudáveis ao longo da vida.

PALAVRAS-CHAVE: Obesidade. Estilo de vida. Hábitos nutricionais. Intervenções em saúde.

1. INTRODUÇÃO

O perfil epidemiológico da população mundial vem sofrendo grandes modificações ao longo dos anos. Algumas doenças, antes vistas como epidemias, hoje estão sob controle ou até mesmo erradicadas, como algumas doenças parasitárias. Entretanto as decorrentes de maus hábitos de vida como diabetes, obesidade, hipertensão arterial estão cada vez mais presentes na vida das pessoas e na realidade dos profissionais que atuam diretamente na área da saúde. Moura, Carvalho e Silva, 2007 destacam o estilo de vida como um importante fator de risco à saúde e possibilidade de desenvolvimento de doenças e agravos não transmissíveis (DANTs).

Carneiro et al (2003) afirma que, a obesidade vem se tornando o maior problema nas sociedades modernas e países desenvolvidos justamente por estar relacionada ao desenvolvimento de diabetes mellitus, dislipidemia e hipertensão arterial, além de favorecem o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Considerando o Brasil um país com muitas desigualdades e diferenças regionais, foi criado em 2006, por meio da Portaria nº 399/GM, o Pacto pela Saúde considerando as seguintes dimensões: Pacto pela Vida, Pacto de Gestão e Pacto em Defesa do SUS, para a universalização da saúde populacional. 

A Promoção da Saúde, compreendida na diretriz do Pacto pela Vida, tem como objetivo “enfatizar a mudança de comportamento da população brasileira de forma a internalizar a responsabilidade individual da prática de atividade física regular, alimentação adequada e saudável”. É evidente, portanto, que as Políticas Públicas de Saúde hoje investem na promoção da saúde buscando estilos de vida saudáveis por meio do incentivo a práticas alimentares saudáveis uma vida fisicamente ativa, principalmente no sentido de prevenir e tratar as DANTs que estão diretamente associadas á obesidade: 

O Ministério da Saúde define a obesidade como “um agravo de caráter multifatorial envolvendo desde questões biológicas às históricas, ecológicas, econômicas, sociais, culturais e políticas”. (BRASIL, 2006). A obesidade apresenta-se então como uma doença multifatorial que pode levar a outras doenças e co-morbidades e a atividade física constitui-se como uma das principais ferramentas de controle desta doença.

O quadro de desnutrição no Brasil que era predominante até a década de 1980, é substituído atualmente por uma transição epidemiológica que apresenta altas taxas de obesidade, com todos os efeitos diretos e indiretos sobre as ocorrências de doenças crônicas (BARRETO; CARMO, 2007). 

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) há uma tendência de aumento da obesidade em homens e mulheres das várias faixas etárias e rendas. Assim, a prevenção da obesidade por meio do diagnóstico precoce é imprescindível para a promoção da saúde, qualidade de vida e bem estar. De acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2009), para o controle dessa epidemia a população necessita equilibrar o balanço energético, mantendo assim, o peso nos padrões de saúde adequados, limitar o consumo de gorduras e aumentar o de frutas, verduras, legumes, cereais integrais e oleaginosas, limitar o consumo de açúcares livres e de sal (sódio). (BRASIL, 2006, pág. 16). 

O gasto energético é relativo e depende dos componentes essenciais que são o metabolismo basal (gasto energético do indivíduo em repouso, mantendo apenas suas funções vitais), a termogênese (calor produzido através da combustão dos alimentos ingeridos) e, por fim, a atividade física, único componente que podemos modificar de forma mais efetiva juntamente com a redução da ingestão calórica. O estilo de vida e a adoção de hábitos alimentares saudáveis são fatores externos que influenciam diretamente na obesidade além da combinação de vários fatores como disfunções hormonais, doenças metabólicas e fatores psicológicos (BARBOSA, 2009), desta forma as pessoas podem manter um equilíbrio entre o consumo de energia por meio da alimentação e gasto energético por meio das atividades físicas. Porém, o excesso de ingestão de alimentos com alto valor energético, rico em gorduras saturadas e sódio e pobres em fibras e outros nutrientes (BRASIL, 2006), além da inatividade física, tem mostrado que a manutenção deste equilíbrio não é uma condição comum na população brasileira (VIGITEL, 2011). 

A alimentação saudável associada à prática regular de atividade física é fundamental para a manutenção da saúde e o controle das DANTs como diabetes mellitus, hipertensão arterial, cardiopatias, obesidade, dislipidemias, dentre outros. “A atividade física deve ser reconhecida como um componente essencial de qualquer programa de redução ou controle de peso”. (BARBOSA, 2009, pág. 25). 

Segundo Barbosa (2009) diversas mudanças no estilo de vida e hábitos alimentares ocorridos na população mundial aumentaram as chances dos indivíduos de se tornarem obesos. “Nós somos vítimas de nosso próprio sucesso evolutivo, desenvolvendo uma dieta calórica concentrada, mas minimizando a quantidade de energia despendida. Contudo, apenas recentemente a obesidade passou a ser considerada a mais importante desordem nutricional nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Além disso, o aumento de sua incidência está distribuído em quase toda a população mundial, em ambos os sexos. (BARBOSA, 2009, pág. 2) 

Dados da Associação Médica Brasileira (AMB, 2010), indicam que 65 milhões de pessoas, ou seja, 40% da população total do Brasil estão acima do peso e 10 milhões enquadram-se na obesidade. As Políticas Públicas hoje estão voltadas para a promoção da saúde e prevenção de agravos e doenças não transmissíveis. O planejamento e posterior desenvolvimento de ações relacionadas a essas doenças no nível da atenção primária devem ser a consolidação destas políticas. A visão da Atenção Básica sobre a situação de saúde e necessidades da população vem mudando o paradigma de tratamento medicamentoso e hospitalar pautado no modelo biomédico, adotando o modelo que visa à qualidade do cuidado e atenção plena à saúde que consiste no modelo da Promoção da Saúde (BUSS, 2003). 

Segundo pesquisa publicada na Revista Médica The Lancet1 (2012), “a inatividade física é responsável por uma em cada dez mortes por doenças com problemas cardíacos, diabetes e câncer de mama ou colateral”. Os pesquisadores ainda afirmam que a solução para o sedentarismo está em uma mudança de mentalidade, sugerindo a criação de campanhas com objetivo de alertar a população quanto aos riscos da inatividade, além de informar dos benefícios da prática de atividades físicas. 

A Organização Mundial de saúde recomenda a prática de no mínimo 30 minutos de atividades físicas por dia, podendo ser contínuos ou distribuídos ao longo do dia, além da prática das atividades da vida diária (AVDs) – lavar o carro, passear com o cachorro, cuidar do jardim, subir escadas, etc. São estas recomendações mínimas que se pretende que a população atendida pela Equipe de Saúde da Família Lua, consiga atingir durante e após as intervenções.

Sendo assim, constrói-se este estudo com o principal objetivo de discutir sobre as principais intervenções nutricionais e comportamentais no processo de emagrecimento em indivíduos com obesidade. Para atender ao objetivo desta pesquisa, realizou-se uma revisão bibliográfica da literatura, de abordagem descritiva e de caráter qualitativo.

2. DESENVOLVIMENTO 

2.1 Obesidade

A obesidade é uma doença crônica decorrente de vários fatores fisiológicos e hereditários, mas também está fortemente relacionada aos maus hábitos de vida. É definida como o acúmulo de tecido adiposo no corpo, seja este localizado ou não, causado pelo balanço calórico positivo constante ou por distúrbios do sistema endócrino e/ou metabólico. (BRASIL, 2006) 

A obesidade pode ser do tipo androide, aquela em que o excesso de gordura se concentra na região abdominal, especialmente intervisceral, elevando consideravelmente o risco de doenças cardiovasculares, ou do tipo ginecoide, que ocorre quando a gordura encontra-se distribuída perifericamente. (BARBOSA, 2009).

A obesidade no Brasil, considerada hoje como epidemia, acomete pessoas de todas as faixas etárias. O excesso de peso está diretamente relacionado aos casos de morbimortalidade humana. De acordo com os dados do Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças por Inquérito Telefônico), a porcentagem de brasileiros com sobrepeso que, em 2006, estava em 42,7%, em 2011 chegou a 48,5%. A mesma comparação ocorreu com os obesos, que subiu de 11,4% para 15,8% no mesmo período. A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2009) considera como parâmetro para a conceituação de sobrepeso o índice de massa corporal (IMC) acima de 25 kg/m², e acima de 30 kg/m² para obesidade.

Além do IMC, outro método utilizado para a avaliação do excesso de gordura, nesse caso abdominal, é a relação cintura quadril (RCQ), que admite valores de até 1 para homens e 0,85 para mulheres e a circunferência abdominal, com valores aceitáveis de até 88 cm para mulheres e 102 para homens. A gordura na região central vem sendo utilizada como preditor de saúde, pois apontam um fator de risco de mortalidade por doenças cardiovasculares e comorbidades. (CABRERA, 2005). 

A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008-2009 apontou que os distúrbios do aumento do peso corporal atingem homens e mulheres de todas as faixas etárias, sobretudo a obesidade infantil que é preocupante, pois reflete diretamente no quadro de saúde dos futuros adultos que poderão apresentar um quadro de diversas doenças associadas à obesidade como diabetes, hipertensão e outras doenças cardiovasculares, que comprometem a qualidade de vida das pessoas. Os problemas decorrentes do excesso de peso e obesidade são diversos. A inatividade física é um determinante funcional para o controle e manutenção do peso corporal. 

Em 2012, a revista médica The Lancet publicou um estudo em que divulga dados relacionados às doenças que decorrem da inatividade física como o diabetes, as cardiopatias e o câncer de mama e de cólon. Este estudo revela que, no Brasil, 13,2% das mortes são causadas por essas doenças. A inatividade física dos brasileiros é responsável por 8,2% dos casos de doenças cardíacas, 10,1% de diabetes tipo II, 13,4% de câncer de mama e 14,6% dos casos de câncer de cólon.

O sedentarismo é o termo que se refere à restrição de movimentos corporais caracterizado pela ausência ou diminuição das atividades físicas incluindo as atividades da vida diária (AVDs). De acordo com o Colégio Americano de Medicina esportiva (ACSM, 2009) o sedentarismo é definido como “uma maneira de viver ou estilo de vida que requer uma atividade física mínima e que incentiva a inatividade por meio de decisões específicas e barreiras estruturais e/ou financeiras”. Sabe-se que as pessoas sedentárias estão mais expostas aos riscos funcionais e psicossociais como perda da mobilidade, diminuição da flexibilidade, pré-disposição às DANTs que são consequências do sedentarismo na saúde da população.

De acordo com um estudo publicado na revista científica The Lancet (2012) uma hora e meia de exercícios semanais que poderiam ser realizados quinze minutos diários, já seriam suficientes para aumentar a expectativa de vida em até 3 anos e redução em 14% do risco de morte súbita devido ao aumento do transporte de oxigênio em todos os tecidos do corpo e consequente melhora de suas funções. Além disso, qualquer que seja o exercício realizado, estará sempre associado a um maior gasto calórico, redução dos níveis de colesterol, melhora do sistema imunológico entre outras adaptações. Como forma de eliminar o sedentarismo, o Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM, 2010) recomenda a prática de “150 minutos semanais de modalidades aeróbicas, como caminhar (rápido), correr, nadar ou pedalar, e duas sessões de exercícios de força que trabalhem a maior parte dos músculos do corpo, como musculação”, além de exercícios que trabalhem a flexibilidade e o equilíbrio corporal. Ao exercitar, o corpo humano passa por transformações. 

A capacidade dos órgãos vitais como o coração e os pulmões é aumentada, melhorando assim o transporte de oxigênio e nutrientes pelo sangue através dos tecidos e o gasto calórico tende ao equilíbrio. A atividade física regular, ou seja, aquela com frequência mínima de 150 minutos semanais (ACSM, 2010), reflete diretamente no sistema nervoso central, diminuindo os níveis de estresse, depressão, déficit de memória e cansaço mental, além de melhorar a disposição, a mobilidade corporal, o tônus muscular e o controle do peso, prevenindo então o sobrepeso e a obesidade. 

Sendo assim, ações que favoreçam a prática de atividade física, podendo prevenir e reduzir a obesidade e doenças associadas na população deve ter destaque nas propostas feitas pela atenção primária em saúde, pois, a redução do sedentarismo e promoção de estilos de vida mais saudáveis com a participação da atenção básica à saúde e seus profissionais pode representar uma mudança na melhoria dos índices de saúde da população reduzindo os custos relacionados à gestão dos serviços. Esta mudança representa um efeito positivo na prevenção e minimização das perdas decorrentes do processo de envelhecimento. “A atividade física deve ser, portanto, parte fundamental dos programas de promoção da saúde”. (BRASIL, 2011)

2.2 Intervenções nutricionais e comportamentais

As intervenções voltadas para o conhecimento nutricional e mudanças de hábitos alimentares têm como objetivo fornecer informações sobre recomendações nutricionais, e principalmente, promover uma mudança de comportamento (TORAL; CONTI; SLATER, 2009). Assim, as atividades de Educação Alimentar e Nutricional (EAN) constituem uma estratégia para promoção de hábitos alimentares saudáveis assumindo o papel de uma importante ferramenta para aumentar a compreensão dos indivíduos acerca de uma alimentação equilibrada e refletir sobre as melhores escolhas de alimentos que ajudem na prevenção da doença e na promoção da saúde (IULIANO et al., 2009; RODRIGUES; RONCADA, 2008). 

De acordo com o Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional para Políticas Públicas, ele confirma o conceito acima e amplia-o, como:

Educação Alimentar e Nutricional é um campo de conhecimento e de prática contínua e permanente, transdisciplinar, intersetorial e multiprofissional que visa promover a prática autônoma e voluntária de hábitos alimentares saudáveis. A prática da EAN deve fazer uso de abordagens e recursos educacionais problematizadores e ativos que favoreçam o diálogo junto a indivíduos e grupos populacionais, considerando todas as fases do curso da vida, etapas do sistema alimentar e as interações e significados que compõem o comportamento alimentar (BRASIL, 2012, p.23). 

Neste sentido, vários métodos de intervenção e recursos pedagógicos têm sido propostos para promover a Educação Alimentar e Nutricional.

Ochoa-Avilés et al. (2017) verificaram os resultados da implementação do programa de intervenção denominado ACTIVITAL, que nasceu da junção dos dados da avaliação dietética realizada antes do estudo com os objetivos e estratégias de intervenção. A adequação do programa foi realizada através da avaliação das necessidades, incluindo dados qualitativos e quantitativos. O Programa foi dividido em duas etapas. Os resultados dietéticos foram estimados por meio de dois recordatórios de 24 horas no início do estudo, após os primeiros 17 meses (fase um) e após os últimos 11 meses (fase dois) de implementação. Os autores do estudo verificaram que o programa ACTIVITAL teve efeitos positivos sobre a diminuição do consumo de lanches não saudáveis e sobre a atividade e condição física, contribuindo também para a diminuição dos fatores de risco para as doenças não transmissíveis. Embora a intervenção não tenha sido capaz de aumentar a ingestão de frutas e vegetais, o efeito da intervenção foi encorajador e promissor pois atenuou a diminuição da ingestão de frutas e verduras.

Brugués et al. (2016) avaliaram os resultados de uma atividade de 1h de duração projetada e desenvolvida na sala de aula usando suporte audiovisual para melhorar a atenção dos indivíduos e esclarecer as explicações. Este estudo foi conduzido por alunos do 4º ano do curso de Nutrição Humana e Dietética que avaliaram as mudanças no conhecimento saudável antes e depois da única atividade por meio de uma pontuação no questionário (100 pontos). A atividade de uma hora foi baseada em sete questões. Cada questão foi avaliada e uma média total inicial e final, foi calculada (100 pontos no máximo). A atividade de uma hora obteve resultados positivos e é uma ferramenta fácil, rápida e prática para melhorar o conhecimento nutricional saudável.

Daniel et al. (2016) avaliaram o impacto de um Programa Interdisciplinar de Educação Alimentar, Nutricional e em Saúde sobre o conhecimento nutricional e a intenção de mudança de comportamento alimentar com 10 jogadoras de voleibol. O Programa surgiu a partir de um estudo que investigou questões nutricionais e identificou hábitos alimentares inadequados, crenças alimentares e insatisfação corporal. As atividades foram projetadas por um grupo interdisciplinar composto por nutricionistas e psicólogos. Vale ressaltar que o nutricionista tem um papel fundamental nas atividades de educação nutricional pois é capaz de disseminar o conhecimento e estabelecer nos indivíduos um estilo de vida com bons hábitos alimentares principalmente quando trabalhado em equipe de forma multidisciplinar e interdisciplinar. O programa teve impacto positivo no aumento do conhecimento nutricional e mudança de comportamento alimentar.

Silva et al. (2014) avaliaram o impacto das ações de um programa de incentivo à alimentação saudável sobre o perfil lipídico dos indivíduos. As medidas bioquímicas, de maturação e antropométricas e um levantamento sobre o consumo de frutas e vegetais foram coletados para compor os dados no início do estudo que durou 9 meses. As ações realizadas para a escola sob intervenção foram planejadas por um nutricionista. O programa de intervenção teve como objetivo cobrir três eixos principais: aluno, professor / cozinheiros e família. Os resultados do programa mostraram que, nas ações em que o objetivo é a promoção da alimentação saudável, o impacto é positivo no perfil lipídico. Estes resultados mostram que a combinação de ações entre a escola e pais ou responsáveis pode ter resultados positivos no estado de saúde desse público. A abordagem multiprofissional solicitada por tais estratégias é importante, pois propicia a construção coletiva do conhecimento e envolve a equipe de saúde, a escola, o aluno e a família.

A internet e as tecnologias advindas dela ocupam um lugar importante no dia a dia das pessoas, fato que tem proporcionado uma série de implicações sobre os indivíduos, sua saúde, sua cultura, lazer, educação e trabalho. Portanto percebe-se que os indivíduos encontram-se vivendo na emergência de uma sociedade conectada caracterizada pelo desenvolvimento das tecnologias digitais (BITTENCOURT; ALBINO, 2017). 

A maioria dos estudantes brasileiros estão familiarizados com as tecnologias digitais pois utilizam no seu cotidiano E-mail, Blog, Redes Sociais, Twitter e outros recursos disponíveis no mundo virtual. Por isso, é necessário que estes indivíduos tenham acesso a informação de qualidade sobre assuntos relacionados à promoção da saúde pois o uso dessas ferramentas pode ser um instrumento facilitador para a prática de hábitos saudáveis possibilitando novos conhecimentos sobre alimentação e nutrição durante o tempo disponível (PEREIRA; PEREIRA; PEREIRA-ANGELIS, 2017). 

Duas intervenções deste estudo utilizaram tecnologias digitais: o programa de nutrição disponível na Web (Team Nutriathlon) e o site Teen Choice: Food and Fitness. O estudo de Chamberland et al. (2017), consiste numa plataforma disponível na web que permite a participação dos alunos a gravarem suas porções consumidas diariamente de frutas, verduras, leites e derivados, duas vezes por dia de segunda a sexta-feira. O estudo avaliou o impacto desse Programa de intervenção nutricional na web em que o objetivo era promover o consumo de vegetais/frutas e leite/derivados e identificar facilitadores e/ou barreiras que influenciaram seu sucesso. Esse estudo mostrou que o Team Nutriathlon é um programa inovador de nutrição disponível na web que impacta positivamente no consumo desses alimentos entre estudantes do ensino médio. 

O segundo, foi o estudo de Cullen et al. (2013) sobre o site Teen Choice: Food and Fitness que é um programa on-line em que as pessoas tem acesso a conteúdos de nutrição e metas semanais para melhorarem os hábitos alimentares. O site contém vídeos sobre alimentação saudável, receitas, acesso a um blog de arbitragem, que oferece planos para ajudá-los a atingirem suas metas, além de acompanhamento do progresso on-line. Este estudo avaliou o impacto do site na promoção da nutrição e prática de atividade física. Os estudantes foram escolhidos através de feiras de saúde, escolas, igrejas, organizações comunitárias, jornal, rádio e anúncios publicitários. 

A tecnologia Teen Choice (site) promoveu a melhoria da ingestão de vegetais e frutas e a redução do sedentarismo. A taxa alta de login sugeriu que os materiais do site foram bem aproveitados pelos estudantes. Em ambos estudos o uso de tecnologias digitais ou programas disponíveis na web ajudou os jovens a adotarem hábitos alimentares saudáveis que terão implicações positivas na vida adulta; no entanto, pesquisas futuras são necessárias para determinar seus efeitos a longo prazo e avaliar a continuidade da participação, mudança de comportamento e manutenção. Long e Stevens (2004) também relataram num estudo quase-experimental que a utilização da web forneceu educação nutricional, ajudando-os a promover a autoeficácia para uma alimentação saudável. Considera-se, portanto, que as tecnologias digitais fornecem subsídios para a adoção de novos hábitos e condutas de saúde e trazem a possibilidade de serem incorporadas ao processo educativo, contribuindo para promover a autoeficácia para uma alimentação saudável.

3. CONCLUSÃO

A situação de obesidade é um problema que requer cuidado e atenção. Os maus hábitos alimentares e o sedentarismo são indicadores de que a saúde dos usuários está ficando em segundo plano. A intervenção da equipe multiprofissional do NASF nesta problemática é uma ação positiva acerca do controle dos agravos aplicados ao excesso de peso. Os dados mostram que o percentual desta população é ainda mais elevado quando nos referimos ao sobrepeso, que chega a 40%, incluindo os idosos e apontam para uma necessidade de implantação de intervenções específicas para estes usuários. As Ações de Promoção da Saúde estão voltadas para o controle desses agravos por meio da atividade física, reeducação alimentar e apoio psicológico. 

Dessa forma são necessárias atividades educativas que trabalhem conteúdos alimentares que sejam inseridos na realidade de cada indivíduo, assim como ações integradas que visem à saúde utilizando diferentes tipos de recursos pedagógicos de acordo com o objetivo proposto e com a participação da comunidade para que tenham a ciência e a autonomia necessárias para a adoção de hábitos alimentares saudáveis ao longo da vida.

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