PERIODONTITE APICAL: A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO FRENTE À ROTINA CLÍNICA

APICAL PERIODONTITIS: THE IMPORTANCE OF DIAGNOSIS AND CLASSIFICATION IN THE CLINICAL ROUTINE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10629671


Adriana Alencar da Cunha¹;
Iracema Paulino de Alencar².


Resumo

A periodontite apical é uma condição inflamatória que afeta os tecidos ao redor da raiz do dente, geralmente resultante de uma infecção bacteriana no canal radicular. O estudo desse tema é essencial, pois a periodontite apical pode levar à perda dentária, causar desconforto significativo e potencialmente contribuir para complicações sistêmicas de saúde. A periodontite apical muitas vezes passa despercebida, mas seu diagnóstico precoce é crucial para evitar a progressão da doença. O dentista utiliza radiografias e exames clínicos para identificar a presença da infecção e determinar a extensão do comprometimento. O diagnóstico preciso é a base para um tratamento eficaz. Já o tratamento envolve a remoção da polpa infectada, limpeza do canal radicular e preenchimento subsequente com materiais adequados. Em casos mais avançados, pode ser necessário realizar procedimentos cirúrgicos para alcançar uma limpeza completa. Em resumo, estudar o diagnóstico e tratamento da periodontite apical é vital para preservar a saúde bucal, prevenir perdas dentárias e mitigar possíveis impactos sistêmicos associados à infecção. O diagnóstico precoce e intervenção adequada são fundamentais para garantir resultados bem-sucedidos e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Palavras-Chave: Periodontite Apical; Diagnóstico; Tratamento. 

1 INTRODUÇÃO

A inflamação periapical constitui uma resposta biológica de defesa natural que tem como responsáveis vários agentes etiológicos (microbianos, químicos, físicos e outros). O caráter inflamatório e/ou infeccioso envolvido na alteração periapical sinaliza o diagnóstico e a opção terapêutica.

A agressão traumática ou infecciosa na polpa dentária produz alterações inflamatórias na região periapical. Quando chegam à região periapical, microrganismos com distintas características (estruturais, metabólicas e patogênicas) estimulam as respostas inflamatória e imunológica.

Desta maneira o presente artigo para ser norteado de uma maneira objetiva, necessariamente precisa de uma problemática, o qual foi determinada pela seguinte pergunta: Qual a importância do tratamento e diagnóstico da periodontite?

Para responder a presente questão, foi traçado alguns objetivos, tendo como precursor principal, analisar como é realizado o diagnóstico e o tratamento da periodontite. Já os objetivos secundários são: Compreender a priodontite apical; Analisar como é o diagnóstico deste problema; Identificar os benefícios e malefícios do tema proposto.

Ja a justificativa deste trabalho está alicerçado em estudar o diagnóstico e tratamento da periodontite apical é crucial para profissionais da saúde, pois essa condição inflamatória afeta os tecidos ao redor da raiz dentária. Compreender os métodos diagnósticos, como exames radiográficos e testes clínicos, permite identificar precocemente a doença.

Além disso, aprofundar-se nos protocolos terapêuticos, que incluem procedimentos endodônticos e possíveis intervenções cirúrgicas, é essencial para promover uma abordagem eficaz, prevenindo complicações e contribuindo para a saúde bucal global do paciente.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A inflamação periapical é consequência da extensão da inflamação/ infecção pulpar e pode se desenvolver em fase anterior à necrose pulpar. A influência do grau de patogenicidade dos microrganismos (toxinas, enzimas, produtos metabólicos, constituintes celulares, mediadores inflamatórios) e as respostas orgânicas do hospedeiro determinam os diferentes aspectos da periodontite apical.

A sequência de eventos patológicos pulpares e periapicais. Estrela e colaboradores analisaram a acurácia em 1.508 imagens de tomografias computadorizas de feixe cônico (TCFC), radiografias periapicais e panorâmicas na detecção da periodontite apical.

As TCFC apresentaram acurácia superior em comparação com os métodos convencionais. A periodontite apical foi corretamente identificada em 54,5% dos casos com o uso de radiografias periapicais e em 27,8% dos casos com radiografia panorâmica. (LELES. 2001)

Em outro estudo, Estrela e colaboradores propuseram um novo índice para analisar as lesões periapicais, valendo-se de tomografia periapical de feixe cônico.

O índice periapical para TCFC (CBCTPAI) leva em consideração o maior diâmetro das radiolucências periapicais, envolvendo duas variáveis – a expansão da cortical óssea periapical e a destruição óssea periapical. As medidas foram realizadas por meio do programa Planimp, sendo a referência para o índice o maior diâmetro da lesão.

Conforme afirmado por Siqueira Jr. (1997), a severidade da agressão bacteriana é influenciada pelo número de bactérias patogênicas e pela virulência que apresentam. Esses fatores podem induzir uma resposta inflamatória aguda, resultando em periodontite apical ou abscesso agudo, ou, de maneira crônica, levando à formação de granuloma, cisto ou abscesso perirradicular crônico, com subsequente deterioração óssea.  (BUENO. 2009)

Se a agressão causada por bactérias que se projetam do forame apical for intensa, ocorrerá uma resposta inflamatória aguda no ligamento periodontal, conhecida como periodontite apical aguda, caracterizada por aumento da permeabilidade vascular e edema, causando elevação da pressão hidrostática tecidual.

Quando a resposta inflamatória eficazmente controla a intensidade da agressão, ela se torna crônica, envolvendo células imunocompetentes como linfócitos, plasmócitos e macrófagos, iniciando uma resposta imunológica adaptativa específica. (BUENO. 2009)

A contribuição potencial de várias fontes para a concentração e cristalização do colesterol na região periapical é uma consideração, porém, destaca-se que as células inflamatórias locais desempenham um papel crucial como principal fonte de colesterol, liberado durante a desintegração de membranas em lesões crônicas. Esses cristais se formam inicialmente no tecido conjuntivo periapical inflamado, agindo como corpos estranhos e desencadeando uma resposta celular gigante. (LELES. 2001)

Conforme DHILLON (2014) observa, a terapia endodôntica convencional visa eliminar agentes infecciosos do canal radicular e evitar reinfecção, mas a dinâmica tecidual em lesões de periodontite apical com cristais de colesterol transcende a presença de irritantes no canal.

Macrófagos e células gigantes ao redor dos cristais não apenas não conseguem degradar o colesterol cristalino, mas também são fontes importantes de mediadores inflamatórios e reabsorção óssea, com evidências clínicas sugerindo impacto adverso na cicatrização pós-terapêutica dos tecidos periapicais devido ao acúmulo desses cristais (BUENO. 2009)

Siqueira Jr. (2001) abordou, em uma revisão de literatura, as causas potenciais para o insucesso do tratamento do canal radicular, destacando que, frequentemente, a falha está associada à persistência de micro-organismos na porção apical dos canais radiculares, mesmo em dentes tratados adequadamente.

Garcia et al. (2007) indicam que, mesmo com uma limpeza e obturação adequadas dos canais, a periodontite periapical pode persistir como uma radiolucência assintomática após o tratamento endodôntico. Recomendam que, diante de uma lesão periapical persistente, o profissional deve considerar o retratamento do canal, cirurgia periapical ou extração, e sugerem um estudo histológico para correlacionar sintomas clínicos e sinais radiográficos (ESTRELA Et all. 2009)

Ezpeleta et al. (2013) relataram um caso de falha no tratamento endodôntico de um primeiro molar inferior de três raízes devido a uma leitura incorreta da radiografia pré-operatória, resultando na não identificação e tratamento da raiz disto-lingual adicional. Isso destaca a importância da precisão no diagnóstico radiográfico para evitar falhas terapêuticas.

2.1 Periodontite Apical Sintomática

A periodontite apical sintomática e uma inflamação que ocorre no periodonto apical em consequência de irritações traumáticas, as quais determinam reações inflamatórias e imunológicas.

Essa inflamação, localizada no ligamento periodontal apical, caracteriza-se por reação exsudativa aguda, composta de células polimorfonucleares, leucócitos e algumas células mononucleares dispersas. Além do edema, nessas situações traumáticas ocorrem focos de hemorragia. A dor está presente e é patognomônica, pois a inflamação periapical caracteriza o quadro sintomático até que o osso sofra reabsorção e possa acomodar o edema. Nos casos de infecção com agressão severa, o resultado final pode ser a formação de abscesso periapical  (ESTRELA Et all. 2008)

A periodontite pode ser subdividida em dois grupos: a periodontite apical sintomática de natureza traumática (em que se presume a ausência de microrganismos) e a periodontite apical sintomática de natureza infecciosa (em que se presume a presença de microrganismos). A primeira é observada após o tratamento de dente com polpa vital, e a segunda, em casos de polpa infectada. Em decorrência da caracterização dos fatores etiológicos, não é difícil identificá-las de acordo com essa distinção,

2.2 Peridontite Apical Sintomática Traumática

A periodontite apical sintomática traumática é uma manifestação inflamatória que pode ocorrer tanto após a realização de uma restauração em que permanece contato prematuro quanto após a instrumentação e obturação de um dente com vitalidade pulpar. O processo normalmente evolui para a cura com a remoção do agente etiológico (ESTRELA Et all. 2009)

O aparecimento de dor após o tratamento endodôntico em dentes portadores de vitalidade pulpar decorre da instalação de processo inflamatório no ligamento periodontal. Diferentes fatores etiológicos podem ser responsáveis pela agressão presente, como o ato da pulpectomia, o limite apical de instrumentação, a substância química irrigadora, a medicação intracanal, o material obturador e a técnica de instrumentação.  (ESTRELA Et all. 2008)

A correta execução das etapas operatórias, dos princípios biológicos e mecânicos do preparo e da obturação do canal radicular favorece o sucesso do tratamento, identificado pela ausência de sintomatologia pós-operatória e por vestígios da reparação tecidual.

A presença de periodontite apical sintomática de origem traumática depende da habilidade profissional, da substância química, do cimento obturador ulizados, do número de sessões realizadas e das condições sistêmicas do paciente.

2.3 Peridontite Apical Sintomática Infecciosa

A periodontite apical sintomática infecciosa caracteriza-se clinicamente por dor localizada após o preparo de dentes com polpa necrosada, independentemente de tratamento prévio. (ESTRELA Et all. 2009)

O aspecto radiográfico é variável, podendo ser normal ou apresentar alargamento espaço correspondente à membrana periodontal e rarefação óssea periapical. O quadro clínico de periodontite apical sintomática infecciosa está muito próximo ao do de abscesso periapical sem fístula na fase inicial.

O limite entre um e outro muitas vezes parece impreciso, porém microscopicamente observa-se no abscesso edema e mobilidade dentária nesse quadro. periapical a presença de coleção purulenta, o que pode implicar edema e mobilidade dentária nesse quadro.

A periodontite apical assintomática pode sofrer indução à exacerbação sintomática por aumento da virulência de microrganismos ou diminuição das defesas orgânicas. Essa exacerbação pode ser notada pela extrusão, pelo forame apical, de bactérias e seus subprodutos, de raspas dentinárias contaminadas e de certas medicações. (ESTRELA Et all. 2008)

A dor proveniente da infecção periapical, após exacerbação aguda ao tratamento de processo inflamatório crônico e assintomático, põe em risco a reputação do profissional responsável.

Nessas situações, a lesão inflamatória crônica pode estar adaptada ao irritante, e, quando o tratamento é realizado, novos agentes agressores (microrganismos, dentina infectada, medicamentos, soluções irrigadoras, proteínas teciduais alteradas quimicamente) podem introduzir-se na lesão, promovendo uma reação violenta e uma consequente alteração de adaptação local.

A exteriorização de uma fase assintomática subclínica é imprevisível. Por esse motivo, o paciente deve sempre ser esclarecido e informado sobre um possível quadro de pós-operatório sintomático, impossível de prever.

2.4 Abscesso Periapical Sem Fístula

O abscesso periapical sem fístula é uma alteração inflamatória periapical associada à coleção purulenta, composta por desintegração tecidual e caracterizada pela presença de exsudato.

Essa alteração aparece quando ocorre uma baixa da resistência orgânica do hospedeiro, concomitante ao aumento do número e da virulência dos microrganismos, denotando a intensidade do processo inflamatório. O conhecimento da microbiota do abscesso periapical mostra-se importante quando é necessário instituir um tratamento local e sistêmico (ESTRELA Et all. 2008)

Os fatores etiológicos responsáveis pelo aparecimento do abscesso periapical estão comumente envolvidos com microrganismos que, pela evolução da cárie dentária, resultaram na infecção pulpar, a qual posteriormente evolui para periodontite apical infecciosa.

Outras manobras durante o preparo do canal radicular de dentes com necrose pulpar podem conduzir microrganismos para essa região, com aumento de seu número e virulência, facilitado pelas interações microbianas e pela baixa da resistência orgânica. Da mesma maneira, a periodontite apical assintomática pode sofrer novo agudecimento e caminhar para o abscesso periapical.

Os aspectos clínicos característicos do abcesso periapical incluem presença de dor intensa e localizada, dor à palpação e à percussão do e mobilidade dentária.

O acúmulo de exsudato no espaço ligamento periodontal promove a compressão da lâmina dura, determinando a extrusão dentária e a compressão de fibras nervosas, além da ação de vários mediadores, intensificando o quadro de dor (ESTRELA Et all. 2008)

O grau de tumefação é variável, dependendo da extensão, da evolução e da difusão do abscesso. Além de dor e edema, podem aparecer febre e debilidade. O abscesso periapical pode ser avaliado em três diferentes fases de evolução (inicial, em evolução e evoluído), o que caracteriza melhor o diagnóstico e favorece o tratamento.

2.5 Abscesso Periapical Sem Fístula (Fase Inicial)

As características clínicas e radiográficas do abscesso em fase inicial são dor intensa, espontânea, pulsátil, contínua e localizada; dor à palpação apical e à percussão; sensação de dente crescido e resposta negativa ao exame de vitalidade pulpar.

Considerando que a coleção purulenta está confinada ao espaço do ligamento periodontal, promovendo compressão do ápice dentário e da lâmina dura alveolar, é comum a mobilidade dentária (ESTRELA Et all. 2008)

O aspecto radiográfico de destruição periapical é pouco evidente, variando da normalidade ao aumento do espaço do ligamento periodontal. A conduta terapêutica adotada nessa fase inicial é dividida em local e sistêmica.

2.6 Abscesso Periapical Sem Fístula (Em Evolução)

As características clínico-radiográficas do abscesso em evolução englobam dor espontânea (com menor intensidade que na fase inicial), pulsátil e localizada; edema evidente sem ponto de flutuação e aumento volumétrico da área agredida; e resposta negativa ao exame de vitalidade pulpar.

O aspecto radiográfico, apesar de não ser apreciável, em algumas situações caracteriza-se pelo alargamento do espaço periodontal apical. A coleção purulenta atravessa a lâmina dura alveolar e invade os espaços medulares (trabéculas ósseas), alcançando a região de subperiósteo. Podem-se observar situações de inflamação com edema sem formação momentânea da coleção purulenta, promovendo tumefação e assimetria facial.

Em alguns casos de abscesso em evolução, à medida que aumenta o edema facial, diminui a sintomatologia. Nessa fase, algumas características clínicas devem ser bem analisadas, entre as quais: consistência do edema (encapsulado, duro), tratamento prévio com antibiótico e interrupção (mas não involuído), trismo e febre. Deve-se considerar essa fase como uma das mais críticas dos abscessos, exigindo a vigilância segura e constante do paciente, principalmente quando ocorre febre.

2.7 Abscesso Periapical Sem Fístula (Evoluído)

As características clínico-radiográficas do abscesso evoluído, caracterizando o estágio final, abrangem dor espontânea (com menor intensidade que na fase inicial), pulsátil e localizada; edema evidente com ponto de flutuação e aumento volumétrico da área agredida; e resposta negativa ao exame de vitalidade pulpar. A área de tumefação mostra certa consistência, porém cede com pouca resistência (local da coleção purulenta).

O aspecto radiográfico, apesar de não ser apreciável, em algumas situações caracteriza alargamento do espaço periodontal apical e rarefação óssea periapical difusa. A coleção purulenta atravessa a lâmina dura alveolar, invade os espaços medulares (trabéculas ósseas), vence a região de subperiósteo e instala-se na região submucosa. Tumefação e assimetria facial são comumentemente observadas; além disso, a região se mostra avermelhada. É comum o paciente apresentar debilidade e até febre.

3 METODOLOGIA

A abordagem teórica qualitativa refere-se a uma metodologia de pesquisa que busca compreender e interpretar fenômenos sociais, culturais ou psicológicos, utilizando métodos como entrevistas, observações e análise textual. No contexto do diagnóstico e tratamento da periodontite apical, esta abordagem poderia envolver a exploração das experiências dos pacientes, percepções dos profissionais de saúde e fatores contextuais.

Autores como Siqueira E Garcia destacam que a pesquisa qualitativa busca compreender significados, contextos e complexidades dos fenômenos estudados. No caso específico da periodontite apical, seria pertinente explorar as vivências dos pacientes, considerando fatores emocionais, sociais e culturais que podem influenciar o diagnóstico e tratamento.

Na análise do material, é crucial identificar padrões emergentes, temas recorrentes e nuances nas narrativas dos participantes, permitindo uma compreensão mais profunda dos dados coletados.

Por fim, a base teórica para este estudo está alicerçado na pesquisa bibliográfica, com meios de buscas como gooogle academico, artigos e revistas que tratam sobre o tema abordado.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A periodontite apical é uma condição odontológica que afeta a região periapical dos dentes, apresentando desafios diagnósticos e classificatórios. Essa patologia, muitas vezes negligenciada, desempenha um papel crucial na saúde bucal, destacando a necessidade de uma abordagem eficaz na rotina clínica.

O diagnóstico precoce da periodontite apical é essencial para evitar complicações graves. A identificação rápida dos sinais e sintomas, como dor persistente, inchaço e sensibilidade à pressão, permite a implementação de medidas terapêuticas antes que a condição se agrave (LELES. 2001)

No entanto, diagnosticar a periodontite apical nem sempre é direto. A complexidade anatômica e a variabilidade nos sintomas podem tornar o processo desafiador. A integração de exames radiográficos, testes pulpares e avaliação clínica é crucial para um diagnóstico preciso.

A classificação adequada desempenha um papel vital no direcionamento do tratamento. As categorias, como periodontite apical aguda e crônica, fornecem uma estrutura para a compreensão da progressão da doença e a seleção de abordagens terapêuticas personalizadas.

Ao compreender a importância do diagnóstico e classificação, os profissionais de odontologia podem aprimorar suas habilidades clínicas. Isso não apenas beneficia o paciente, proporcionando tratamento adequado, mas também contribui para a eficiência e eficácia dos serviços odontológicos. (ESTRELA Et all. 2008)

A variedade de abordagens terapêuticas disponíveis destaca a necessidade de uma análise individualizada. Desde tratamentos endodônticos convencionais até cirurgias periapicais, a escolha da abordagem deve ser guiada pela gravidade, extensão e características específicas da periodontite apical.

A periodontite apical ressalta a necessidade de educar os pacientes sobre a prevenção e os cuidados bucais adequados. A promoção de hábitos saudáveis pode ser um componente vital na prevenção dessa condição e na manutenção da saúde bucal a longo prazo (LELES. 2001)

Além das implicações físicas, a periodontite apical pode ter impactos psicológicos significativos. A dor associada à condição pode afetar a qualidade de vida do paciente, destacando a importância de uma abordagem holística no cuidado odontológico. (ESTRELA Et all. 2008)

O grau de virulência dos microrganismos, associado à resistência do hospedeiro, determina o tipo de lesão periapical. A agressão de pequena intensidade e longa duração pode determinar uma inflamação periapical crônica, denominada osteíte condensante.

Entre as características geralmente encontradas, observa-se a síntese excessiva de osso periapical, localizada ao redor dos ápices dentários, o que demonstra, pelo aspecto radiográfico, aumento da densidade óssea (opacidade e evidência acentuada das trabéculas ósseas, circunscrita por osteoblastos em atividade), ao invés da transparência do osso reabsorvido.

O sinal patognomônico é a área radiopaca circunscrita à volta de uma ou de todas as raízes do dente. Clinicamente, o dente está assintomático e, após o tratamento endodôntico, as alterações radiopacas costumam voltar ao normal.

O cenário dinâmico da odontologia exige uma abordagem baseada em evidências. A pesquisa contínua sobre métodos diagnósticos aprimorados, classificações mais refinadas e terapias inovadoras é fundamental para avançar no tratamento da periodontite apical.

Em síntese, a periodontite apical desafia os profissionais de odontologia a integrar habilidades diagnósticas aprimoradas e abordagens terapêuticas personalizadas. A atenção dedicada a essa condição na rotina clínica não apenas aprimora a qualidade do atendimento, mas também contribui para a saúde bucal global e o bem-estar dos pacientes.

4.1 Diagnóstico e Tratamento

Dada a complexidade decorrente da ocorrência simultânea de envolvimento endodôntico e periodontal, identificar as lesões endo-perio apresenta um desafio diagnóstico considerável (ROCHA, 2017).

A precisão no diagnóstico da fonte de infecção é fundamental para estabelecer um plano de tratamento eficaz e garantir um prognóstico favorável a longo prazo (AKSEL; SERPER, 2014).

Uma pesquisa conduzida por Santos e Lins (2007) investigou o conhecimento dos especialistas em endodontia em Maceió-AL sobre o diagnóstico e tratamento das lesões endo-perio. Os resultados indicaram que esses especialistas ainda enfrentam desafios na identificação e abordagem adequada dessas lesões.

Para assegurar um diagnóstico preciso, é imperativo integrar o entendimento da patologia com uma avaliação meticulosa do estado de saúde pulpar e periodontal, valendo-se de diversos exames clínicos.

A utilização de recursos como exame visual, palpação, percussão, sondagem, mobilidade dental, teste de vitalidade pulpar, radiografias e rastreamento de fístula desempenha um papel crucial na identificação de lesões endo-perio (SHENOY; SHENOY, 2010).

Tanto a vitalidade pulpar quanto a morfologia da lesão periodontal são elementos fundamentais no processo diagnóstico. Enquanto as lesões de origem endodôntica manifestam-se por meio de bolsas estreitas e profundas com perda óssea vertical, a periodontite se caracteriza por lesões ósseas horizontais generalizadas com a presença de biofilme e cálculo.

A limitação intrínseca da técnica radiográfica bidimensional, em alguns casos, prejudica a visibilidade adequada da extensão da lesão, do número de raízes e canais envolvidos, ou de possíveis comunicações existentes. Nestas circunstâncias, sobretudo em casos de lesões persistentes, a recomendação é a utilização da tomografia computadorizada de feixe cônico para garantir um diagnóstico mais preciso (SHENOY; SHENOY, 2010).

Além dos exames clínicos e radiográficos, o histórico da doença atual do paciente desempenha uma função crucial na elaboração do diagnóstico e na formulação do plano de tratamento apropriado (SHENOY; SHENOY, 2010).

Após o diagnóstico, enfrenta-se frequentemente a desafiadora tarefa de definir um tratamento eficaz para as lesões endo-perio, dada a considerável variabilidade prognóstica entre essas lesões (ROCHA, 2017). O tratamento dessas condições é amplamente percebido como um desafio para os profissionais, pois exige terapias eficientes tanto na esfera endodôntica quanto na periodontal (RAHEJA et al., 2014). A escolha entre os diversos tratamentos é baseada em parâmetros periodontais, endodônticos e restauradores, sendo a extração considerada a última opção (PINTO, 2018).

O êxito do tratamento está intrinsecamente ligado ao diagnóstico preciso e à habilidade do profissional em classificar a lesão e administrar o tratamento de maneira adequada, levando em conta a resposta do hospedeiro (HEASMAN, 2014).

Vários fatores críticos influenciam o sucesso a longo prazo dos dentes afetados por lesões endo-perio, como a gravidade e extensão da lesão periodontal inicial e infecções periapicais, o planejamento do tratamento, a tomada de decisões fundamentadas na experiência clínica e habilidade do profissional, além da motivação do paciente (HEASMAN, 2014).

No contexto das lesões secundárias, o tratamento deve ser reservado para casos crônicos e estabelecidos. Quando ambas as lesões estão presentes, a abordagem inicial preferencial envolve a remoção de cáries e restaurações, juntamente com a instrumentação e o uso de medicação intracanal (SHENOY; SHENOY, 2010).

Adiar o tratamento periodontal de raspagem e alisamento radicular para lesões com origem primária pela infecção pulpar preserva a integridade da camada de cemento até que a infecção do canal seja removida, reduzindo o risco de reabsorção radicular e promovendo a cicatrização periodontal (ROCHA, 2017).

A escolha da medicação intracanal depende dos sinais e sintomas apresentados (SHENOY; SHENOY, 2010). O hidróxido de cálcio é frequentemente a opção mais indicada devido às suas propriedades anti-inflamatórias e bactericidas, que inibem a reabsorção e favorecem a reparação dos tecidos por meio dos canais de comunicação (KAMBALE et al., 2014).

Conforme Shenoy & Shenoy (2010), o tratamento periodontal de raspagem e alisamento radicular deve ser iniciado logo após a instrumentação do canal, sendo reavaliado após 3 meses. A obtenção dos canais não é recomendada até a estabilização da doença periodontal devido ao risco de reinfecção por bactérias periodontais; portanto, a troca da medicação intracanal é indicada enquanto a resposta de cura não for favorável e o tratamento periodontal não for concluído (SOUZA et al., 2016).

Entretanto, outros autores argumentam que o tratamento periodontal deve ser considerado somente após a avaliação dos resultados do tratamento endodôntico (AKSEL, 2014). Em um estudo com 414 microcirurgias periapicais, Song et al. (2018) concluíram que dentes com lesão endo-perio (taxa de sucesso de 72,3%) têm prognóstico menos favorável do que aqueles com lesões endodônticas puras (taxa de sucesso de 87,3%). Quando o periodonto não responde positivamente ao tratamento não invasivo, métodos mais invasivos podem ser indicados para melhorar o prognóstico do caso (KAMBALE et al., 2014).

A intervenção endodôntica intencional surge como uma abordagem potencial para o tratamento de dentes com extensa perda das estruturas de suporte dental e envolvimento endodôntico secundário (KWON et al., 2013).

O prognóstico das lesões endo-perio está intrinsecamente ligado à sua etiologia, à extensão do defeito periodontal e à resposta do hospedeiro ao tratamento realizado, conforme destacado por Decurcio (2007). O uso de terapias regenerativas para reconstruir os tecidos de suporte apresentou uma taxa de sucesso de 77,5%, enquanto o sucesso do tratamento de lesões endodônticas-periodontais sem o uso dessas técnicas regenerativas variou de 27% a 37%.

O diagnóstico, planejamento e tratamento das lesões endo-perio são processos extremamente complexos, e mesmo quando conduzidos de maneira apropriada, a progressão da doença periodontal pode resultar na perda dos dentes, conforme evidenciado por Jaoui, Machtou e Ouhayoun (1995) e Duque (2013).

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Algumas características clínicas colaboram para o estabelecimento do diagnóstico da periodontite apical sintomática traumática, entre as quals destacam-se dor posterior ao preparo do canal radicular com polpa vital (inflamada ou sadia); presença de dor à palpação e percussão; sensação de dente extruído após restauração, com dor ao toque; e contato prematuro. O aspecto radiográfico não é um fator determinante, pois o espaço correspondente à membrana periodontal pode variar de normal a um pequeno espessamento.

O tratamento da periodontite apical sintomática traumática normalmente é direcionado à adoção de medida sistêmica, como a prescrição de anti-inflamatório. O agente etiológico decorre de uma agressão química, física ou traumática em situação clínica de vitalidade pulpar.

Quando o tratamento é realizado pelo próprio profissional, em sessão única ou em duas sessões (desde que mantida medicação intracanal à base hidróxido de cálcio) conduzidas de forma bem orientada, aguarda-se o controle pós-operatório da medicação sistêmica prescrita (medicação anti-inflamatória). Quando o tratamento é realizado por outro profissional, em sessão única, avalia-se o tratamento endodôntico. Se ele for considerado satisfatório, é mantido e aguarda-se o efeito da medicação sistêmica (medicação anti-inflamatória).

Caso haja continuidade do processo de dor e/ou dúvida quanto à qualidade do tratamento, opta-se pelo retratamento (esvaziamento do canal, colocação de medicação intracanal) e aguarda-se o desaparecimento da condição sintomática para nova obturação.

Nos casos de tratamento em duas sessões, em que não se sabe quais foram as condições do preparo do canal radicular nem a substância química e a medicação intracanal utilizadas, abre-se novamente o dente, esvazia-se o canal radicular, coloca-se medicação (à base de hidróxido de cálcio) e aguarda-se o controle da dor e o efeito da medicação local e sistêmica, para então finalizar tratamento endodôntico.

REFERÊNCIAS

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¹Discente do Curso Superior de odontologia do Instituto UNIC-MT Campus Cuiabá e-mail: adrianaalencar685@gmail.com
²Docente do curso superior de enfermagem da escola de saúde pública Cuiabá /MT. Mestre em saúde coletiva e-mail: mailto:cemalencar@yahoo.com.br