IMPACTOS DA TERAPIA DE ACEITAÇÃO E COMPROMISSO NA CLÍNICA PSICOLÓGICA DE UM HOSPITAL ONCOLÓGICO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10616610


Lucas de Almeida Ferreira1,
Everton Adriano de Morais2


RESUMO

O câncer é uma doença complexa que vai além da biologia, abrangendo aspectos emocionais, psicológicos e culturais. Ele se origina da transformação de células normais em tumorais, progredindo por diferentes estágios e afetando vários órgãos. A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) é uma abordagem clínica que enfatiza a flexibilidade psicológica e se mostra valiosa no cuidado de pacientes com câncer. A história da ACT, enraizada na análise do comportamento, identifica processos psicopatológicos comuns em pacientes oncológicos. A ACT tem uma base empírica sólida e é eficaz na promoção de mudanças positivas. No contexto do tratamento do câncer, a ACT oferece uma abordagem valiosa, ajudando os pacientes a lidar com emoções e a abraçar valores, promovendo a saúde mental e a qualidade de vida durante a jornada do câncer. Em resumo, este estudo tem a pretensão de discutir os impactos da terapia de aceitação e compromisso na clinica psicológica de um hospital oncológico.

PALAVRAS-CHAVE: Terapia de Aceitação e Compromisso; Neoplasias; Saúde mental; Terapêutica.

INTRODUÇÃO:

A compreensão da etiologia do câncer transcende os limites da mera análise biológica, requerendo uma perspectiva multidimensional que abarque aspectos físicos, emocionais e psicológicos. O desenvolvimento desse conhecimento é crucial para entender as fases evolutivas que culminam na manifestação da enfermidade. O câncer emerge a partir da metamorfose de células normais em células tumorais, progredindo por uma série de estágios que vão desde as células pré-cancerígenas até as malignas. Essa disrupção afeta indiscriminadamente diversos órgãos e tecidos do corpo humano, conforme estabelecido pela OMS (2022).

À medida que a neoplasia se torna mais prevalente, conforme elucidado por Sinski (2021), torna-se claro que sua abordagem vai além do âmbito físico. A doença assume uma dimensão multidimensional, influenciada por fatores físicos, psicológicos e culturais. No curso do tratamento, as experiências dos pacientes são moldadas por diferentes perspectivas e concepções sobre o câncer, além de serem impactadas por recursos disponíveis e acessibilidade aos serviços de saúde (Rodrigues; Abrahão; Lima, 2020). A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2022) confirma o câncer como uma das principais causas de mortalidade global. Contudo, é fundamental destacar que a percepção popular frequentemente é marcada por mitos e tabus, gerando apreensão e incerteza. Infelizmente, essa dinâmica leva muitos a considerar o câncer como uma sentença de morte irremediável.

A dificuldade na detecção precoce da doença é uma realidade, frequentemente resultando em diagnósticos em estágios avançados com prognósticos desfavoráveis (Rodrigues; Abrahão; Lima, 2020). À medida que a enfermidade avança e se torna irreversível, a necessidade de identificar a fase terminal e a trajetória em direção ao óbito se torna imperativa (Carvalho; Cassis, 2022).

Nesse contexto de adoecimento oncológico, a abordagem clínica da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) emerge como um método com potencial relevante para o cuidado de pacientes com câncer. A ACT, que se baseia nos princípios do comportamento humano, enfatiza a flexibilidade psicológica como componente central. Essa flexibilidade implica na capacidade de estar plenamente presente no momento presente e de vivenciar as experiências internas, direcionando-se para uma vida alinhada com valores pessoais (Monteiro, et al., 2015).

A história da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) se estende por três décadas, enraizada nas bases da análise do comportamento tradicional. Este modelo, derivado da ciência comportamental contextual e do contextualismo funcional, difere de abordagens convencionais, embasando-se no pragmatismo (Hayes; Strosahl; Wilson, 2021). A ACT, fundada em meados de 1987, foi estruturada por Steven Hayes e colegas, inserindo-se na categoria das terapias cognitivas e comportamentais de terceira geração (Costa, 2017).

Embora influenciada pelo behaviorismo radical, a ACT possui características distintivas, como abordagem aos processos verbais e pesquisa básica com seres humanos, consolidando-se como uma ciência independente (Mello; Almeida, 2021). A evolução da ACT pode ser dividida em três fases: o “distanciamento compreensivo” nas décadas de 1970 e 1980, a teoria dos quadros relacionais (TQR) entre 1985 e 1999 e, a partir de 2000, a publicação do livro “Terapia de Aceitação e Compromisso: Uma Abordagem Experiencial à Mudança do Comportamento” (Hayes; Strosahl; Wilson, 1999) marcou o início formal da abordagem (Barbosa; Murta, 2014).

O modelo psicopatológico da ACT identifica processos que geram sofrimento, resultantes de respostas aversivas a estímulos internos. Tais processos incluem fusão cognitiva, atenção inflexível, baixa clareza de valores, esquiva experiencial e inércia, entre outros. Esses aspectos são comuns em pessoas que enfrentam o câncer, impactando suas emoções e comportamentos (Barbosa; Murta, 2014).

A flexibilidade psicológica, premissa da ACT, abrange seis processos inter-relacionados: aceitação, desfusão, atenção no momento presente, self contextual, valores e ação compromissada. Esses processos formam o alicerce da saúde psicológica, permitindo uma resposta adaptativa às demandas da vida (Hayes; Pistorello; Biglan, 2008). A ACT possui forte base empírica, com estudos demonstrando eficácia na promoção de mudanças significativas. Intervenções comportamentais e cognitivas centradas em valores têm sido aplicadas com sucesso em contextos clínicos, favorecendo resultados positivos (Barbosa; Murta, 2015).

No contexto hospitalar, a abordagem clínica se entrelaça com elementos culturais, fisiológicos e sociais, requerendo uma perspectiva que vá além do aspecto biológico. No tratamento oncológico, as dimensões emocionais e psicológicas se sobrepõem, impactando o paciente e seus familiares. A ACT, ao ser aplicado em pacientes recém-diagnosticados, oferece um espaço para lidar com as emoções emergentes e permite uma perspectiva mais ampla sobre o diagnóstico. Isso auxilia os pacientes a desfazerem a fusão cognitiva e a se comprometerem com uma vida alinhada aos valores, apesar das incertezas do adoecimento (Barbosa; Murta, 2014).

Em suma, a compreensão do câncer como uma enfermidade multifacetada, a evolução da ACT ao longo dos anos e sua aplicação na abordagem oncológica representam uma integração valiosa entre a ciência e a prática clínica, promovendo a saúde mental e a qualidade de vida dos pacientes que enfrentam esse desafio.

METODOLOGIA:

Trata-se de um estudo de revisão narrativa, realizado a partir de artigos científicos nas bases de dados Perspectivas em analise do comportamento e RBTCC e Google Acadêmico, utilizando-se a busca: “terapia de aceitação e compromisso, terapia de terceira geração”, câncer e cuidados paliativos. De outro modo, este estudo utilizou livros da área como elemento de complementação desta pesquisa. Os critérios de inclusão foram publicações entre 2008 e 2022, sendo os tipos de estudos aceitos, através de livros e artigos que conceituassem a terapia de aceitação e compromisso, as terapias de terceira geração e a etiologia do câncer. Após levantamento, encontramos 13 artigos, dos quais preencheram os critérios desse estudo.

REVISÃO NARRATIVA:

ETIOLOGIA DO CÂNCER:

Para compreensão da manifestação do câncer como enfermidade se faz necessário obter um conhecimento abrangente da sequência evolutiva que o caracteriza. A gênese do câncer advém da metamorfose de células normais em células tumorais, atravessando uma sucessão de estágios que abarcam desde células pré-cancerígenas até células malignas. Este desarranjo acomete indiscriminadamente variados órgãos e tecidos do corpo humano (OMS, 2022).

Segundo elucidado por Sinski (2021), a neoplasia tem se tornado cada vez mais frequente ao longo dos anos, sendo uma realidade não incomum deparar-se com indivíduos acometidos por algum tipo de câncer na contemporaneidade. No entanto, é de suma importância ressaltar que a afecção carcinomatosa transcende o âmbito físico. Ela se configura como um estado multidimensional, sendo influenciada por fatores físicos, psicológicos e culturais.

No decurso do tratamento do câncer, as vivências dos pacientes são moldadas por distintas perspectivas e concepções a respeito da enfermidade oncológica. São diversos os elementos que impactam a trajetória percorrida por um indivíduo sob terapia, indo além das escolhas pessoais e englobando a disponibilidade de recursos humanos e materiais, assim como a acessibilidade aos serviços de saúde (Rodrigues; Abrahão; Lima, 2020).

Em conformidade com as informações fornecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2022), o câncer figura entre as principais causas de mortalidade em escala global. Não obstante, é premente enfatizar que a percepção popular acerca dessa doença frequentemente se reveste de mitos e tabus, engendrando um clima de temor e incerteza quanto ao porvir. Infortunadamente, tal dinâmica incita muitos indivíduos a conceberem o câncer como um mal irremediável, quase uma sentença de morte.

Essa perspectiva é exacerbada pela dificuldade em detectar prematuramente o mal. Rotineiramente, os pacientes recebem o diagnóstico em estágios avançados, nos quais o prognóstico assume uma configuração desfavorável (Rodrigues; Abrahão; Lima, 2020). Ao atingir uma etapa avançada e irreversível, a enfermidade demanda a identificação da fase terminal e da trajetória ativa em direção ao óbito. Esses processos podem estender-se por semanas ou dias e representam um estágio no qual o desenlace inevitável consiste no falecimento do paciente (Carvalho; Cassis, 2022).

Diante do adoecimento oncológico a abordagem clínica da ACT que se relaciona aos princípios básicos do comportamento pode ter grande relevância ao atendimento de pessoas com câncer. A terapia de aceitação e compromisso tem a flexibilidade psicológica como elemento primordial desse processo. Neste contexto a flexibilidade psicológica pode ser descrita como a capacidade de estar em contato com o momento presente e com as experiências internas, enquanto se dirigi para uma vida valorosa (Monteiro, et al., 2015).

HISTORIA DA TERAPIA DE ACEITAÇÃO E COMPROMISSO (ACT):

O desenvolvimento da terapia de aceitação e compromisso vem ocorrendo há três décadas, fortemente amparado nas bases de conhecimento que alicerçam a análise do comportamento tradicional. Deste modo o modelo parte da ciência comportamental contextual, se diferenciando de outras abordagens, tendo forte sustentação no pragmatismo e, em uma ciência denominada contextualismo funcional (Hayes; Strosahl; Wilson, 2021).

A terapia de aceitação e compromisso foi fundada por volta dos anos 1987, tendo como um dos principais sistematizadores Steven Hayes e colaboradores. Dentro da história da act, ela vem sendo incluída na grande área de conhecimento das terapias cognitivas e comportamentais, as então chamadas de terapias de terceira geração (Costa, 2017).

Por outro lado apesar da influencia do behaviorismo radical na fundamentação e estruturação da act, muitas autores argumentam que o modelo possui características próprias, especialmente na maneira de estudos dos processos verbais, pesquisas básicas com seres humanos e uma visão contextualista, constituindo-a como uma ciência independente da analise do comportamento (Mello; Almeida, 2021).

Segundo, Barbosa e Murta (2014), a terapia de aceitação compromisso (ACT), pode ser divindade em três momentos históricos dos quais somam para o seu surgimento e sua base. Quando se trata do primeiro momento os autores referem datar às décadas de 1970 e 1980 onde teve inicio ao modelo da terapia de aceitação e compromisso até esse momento então denominado de “distanciamento compreensivo”. Já o segundo momento ocorreu entres os anos de 1985 e 1999 quando se desenvolveu a teoria dos quadros relacionais (TQR), objetivando os estudos da linguagem da cognição humana. A partir do surgimento da teoria TQR uma nova compreensão sobre o comportamento verbal proposto por Skinner (fundador do behaviorismo Radical) foi sendo considerada. Neste mesmo período, o nome do modelo que até então era distanciamento compreensivo passou a ser terapia de aceitação e compromisso. A mudança teve a pretensão de diferenciar a ACT de modelos cognitivos tradicionais.

Por outro lado o terceiro momento descrito por Barbosa e Murta (2014), compreende de 2000 até o momento presente. Este período é marcado como o marco inicial através da publicação e divulgação do livro Terapia de Aceitação e Compromisso: Uma Abordagem Experiencial à Mudança do Comportamento (Hayes; Strosahl; Wilson, 1999). Ao olhar ainda dentro do contexto histórico, simultaneamente ao surgimento da ACT, ocorre o que a literatura vai chamar de ondas das terapias cognitivas e comportamentais. Tal descrição serviu para designar períodos e formas diferentes de lançar mão de abordagens cognitivas e comportamentais através de suas técnicas e compreensão.  Nesse movimento diversos autores surgem questionando tanto bases cognitivas quanto as comportamentais. A descrição desses períodos é realizada por um dos grandes sistematizadores da ACT Steven Hayes (Luceno-Santos; Pinto-Gouvea; Oliveira, 2015).

MODELO PSICOPATOLOGICO DA ACT: INFLEXIBILIDADE

Para a terapia de aceitação e compromisso o sofrimento surge dentro de processos psicológicos normais, mas que em algum momento se tornam problemáticos e aversivos gerando sofrimento significado as pessoas. Esse modo não saudável pode residir em ideias oriundas das práticas culturais presentes em determinado meio social, das quais subjetivam as pessoas e modelam seus comportamentos (Saban, 2015; Hayes; Strosahl; Wilson, 2021).

Uma das pioneiras nos estudos sobre act no Brasil é Michelle Saban, autora do livro introdução à terapia de aceitação e compromisso. Segundo Saban (2015), dentro dos processos psicopatológicos estão os de fusão, os de evitar, os de avaliar e os de dar razão. Com o avança de estudos sobre a act foi possível pensar de maneira mais ampla, desse modo, é possível descrever esses processos tais como, predominância de passado conceitual e futuro temido, baixo conhecimento sobre si próprio, esquiva das experiências, falta de clareza de valores, fusão cognitiva, estar atrelado a o eu conceitual, inercia, impulsividade e persistência na esquiva (Hayes; Pistorello; Biglan, 2008).

É importante ressaltar que ao ser desenvolvida a terapia de aceitação e compromisso foi projetada como uma abordagem transdiagnostica de tratamento que se baseava em processos psicológicos comuns dos seres humanos. Uma das frases de Stven Hayes em seu livro traduzido para português em 2021 é: “pessoas sofrem”, trazendo a compreensão que o sofrimento é um fenômeno humano e universal (Hayes; Strosahl; Wilson, 2021).

Diante disso o modelo da terapia de aceitação e compromisso se propõe a ser explicativo unificado de mudança do comportamento que abrange tanto o comportamento saudável quanto o psicopatológico. Este é um conjunto de princípios integrados, quais visam flexibilizar a função dos processos cognitivos, assim como aumentar o contato com as consequências presentes (Barbosa; Murta, 2014).

Além desses processos, existe um modelo de processos de saúde para ACT que é o modelo de flexibilidade psicológica tais como: Aceitação; atenção para o momento presente; valores; desfusão; self como contexto e ação compromissada (Barbosa; Murta, 2014).

FLEXIBILIDADE PSICOLOGICA: O MODELO DE SAÚDE ACT

Hayes; Pistorello; Biglan (2008) destacam os processos pertencentes ao modelo de saúde considerando seis processos que juntos forma o que eles chamam de flexibilidade psicológica. Estes processos são: Aceitação, desfusão, atenção no momento presente, self contextual, valores e ação compromissada.

Para Monteiro, et al., (2015), a aceitação é definida como a ação de entrar em contato efetivamente com as experiências internas quando ocorrem e a desfusão cognitiva como a redução do significado literal das experiências internas. De outro os autores descrevem o momento presente como a capacidade de ser flexível e fluido, o self contextual, como uma maneira de tomar perspectiva sobre os eventos internos e externos, no eu aqui e agora. Ainda dentro dos processos os autores definem valores como elementos da vida que nos preocupamos e que motivam o comportamento em certas atividades e a ação compromissada se direciona a padrões de comportamentos flexíveis em direção aos valores.

SUSTENTAÇÃO EMPÍRICA DO MODELO ACT:

A act dispõe de forte sustentação empírica dos processos apresentados. Segundo Barbosa e Murta (2015), estudos tem demostrado à efetividade do modelo de flexibilidade psicológica correspondendo a mudanças efetivas. De outro modo os estudos dos resultados da act apresentam-se mais efetivos quando se considera os objetivos.

Dentro das possíveis intervenções a partir do modelo, estão tanto procedimentos comportamentais como os cognitivos. Tais intervenções centram-se em características valorosas para o individuo (Costa, 2017).

A teoria dos quadros relacionais (RFT) é outra base de sustentação da act, a partir dela pode se conceber o sofrimento psicológico tendo sua principal fonte os controles comportamentais de estímulos derivados. Diante disso as funções aversivas poderiam ter sido adquiridas não apenas por exposição direta, mas através de relações de estímulos derivados. Tais relações aversivas poderia se sobrepor sobre o ambiente e fortalecer esquivas (Mello; Almeida, 2021).

A teoria dos quadros relacionais é uma abordagem da linguagem e da cognição humana. Tal teoria amplia a concepção de comportamento verbal e é resultado de uma pesquisa no papel da linguagem, na origem, no tratamento do sofrimento psicológico (Barbosa; Murta, 2014).

Diante disso a compreensão do contextualismo funcional e a RFT são a base para um analise funcional, pois, tal identificação das variáveis derivadas pode favorecer a identificação de processos pertinentes, dos quais estão relacionadas à transferência e mudanças de funções na teoria das molduras relacionais, e consequentemente nas analises clinicas. Desse modo as intervenções em act estão amparadas na redução do controle verbal, qual, causa sofrimento nas pessoas (Freitas, et al.,2022).

INTERSECÇÃO ENTRE A CLÍNICA ACT E A ONCOLOGIA:

A prática psicológica no contexto hospitalar é acompanhada por uma serie de elementos culturais, fisiológicos e sociais. Ao considerar o adoecimento como multidimensional, é importante que se atente para o tipo de abordagem empregado nos atendimentos. Um modelo que considere o contexto faz diferença quando se trata de uma condição como a do adoecimento oncológico. 

No hospital não se adoeci apenas fisicamente, porém, ao adoecer de forma biológica com a incidência da doença no físico existe uma manifestação do emocional nas pessoas adoecidas e em seus familiares. Dessa maneira, é necessário olhar a partir de um prisma psicológico.

Pensando desta maneira, ao atender as pacientes no ambulatório de psicologia destinado ao acolhimento de pessoas recém diagnosticas com câncer a abordagem utilizada foi a terapia de aceitação e compromisso (ACT), com objetivo de acolher e fortalecer o compromisso dessas pessoas com uma vida valorosa e significativa, mesmo diante da condição em que enfrentam.

Muitos pacientes ao serem diagnosticados com uma condição ameaçadora de vida chegam chorosos ao ambulatório, cheios de documentos e duvidas a respeita de toda a burocracia envolvida nos processos para iniciar o tratamento, ou mesmo angustiados pela espera dos exames de que tem como objetivo saber o grau de doença.

Aceitar para terapia de aceitação e compromisso, não significa aceitar a vida como ela, mas entender que as emoções e pensamentos oriundos de um diagnosticam, dos processos de tratamento e descoberta de novas tumorações não está sob o controle de nenhuma pessoa. O adoecimento oncológico pode acontecer com qualquer um.

Em diversos momentos dos inúmeros atendimentos realizados na clinica de acolhimento de um hospital oncológico os pacientes ao serem diagnosticados com certo tipo de câncer fusionavam em seus pensamentos, tendo pensamentos totalmente catastróficos que em sua maioria faziam sentido, pois estavam enfrentando uma condição que ameaçava sua vida.

Alguns desses pacientes chegavam ao serviço de oncologia sem performance para realização de nenhum tipo de tratamento modificador da doença, e em muitos casos depois de uma serie de exames eram encaminhados para cuidados paliativos exclusivos. O que significava que não existia nenhuma terapêutica modificadora da doença, mas os cuidados seriam um caminho a ser perseguido na terapêutica do paciente. 

Ao entrar na sala de acolhimento psicológico, muitas pessoas ficavam sem reação nenhuma, na expectativa que seria apenas mais um profissional com quem falariam ou mesmo escutariam algo sobre a doença. A terapia de aceitação e compromisso permite que ao abordar esses pacientes logo após o diagnóstico e prognostico eles possam ter um espaço responsivo para dar evasão aos sentimentos emergentes no momento.

Durante o período de atendimentos no acolhimento psicológico existiam muitas configurações familiares, redes de apoio com muitas figuras e outras extremamente fragilizadas. Ao considerar a possibilidade de um tratamento de câncer as pessoas enfrentam muitas questões subjetivas, porém, existe uma linha tangente onde elas se encontram tais como, o adoecimento e a incerteza como será vida a partir do diagnóstico.

A terapia de aceitação e compromisso tem o objetivo central de trabalhar a abertura das pessoas para aceitarem as emoções e pensamentos presentes em cada momento enquanto se dirigem para vida que gostariam de viver. No entanto ao receber qualquer diagnóstico as pessoas sentem medo e angustias e não é raro que a maneira como elas se enxergam é conceitual, como descrita na act, self conceitual. Alguns diagnósticos acabam gerando ainda mais pensamentos de medo devido ao que é propagado culturalmente.

Neste contexto, quase sempre é difícil vislumbrar um caminho diferente do senso comum, pois como dito em outro momento muitos pensamentos sobre a doença fazem sentido e podem se tornar reais. Nos atendimentos grande parte dos pacientes tiveram pessoas que morreram ao enfrentar o adoecimento o que potencializava em muito a fusão cognitiva.

Fusionar Cognitivamente significa responder a literalidade do conteúdo dos pensamentos o que quase sempre acontecia, pois as memorias do adoecimento de um ente querido acabavam provocando pensamentos sobre o adoecimento. Algumas imagens acabam sendo recuperadas ao adentrar um hospital de referencia em tratamento oncológico.

Diante disso, o trabalho do psicólogo na clinica especialmente no modelo da terapia de aceitação e compromisso é encontrar caminhos para que o paciente tome perspectiva sobre os seus pensamentos e sentimentos, tendo abertura no momento presente e tenha compromisso com o itinerário que deseja seguir a partir do diagnóstico. Entender que existe um self contextual, que pode olhar a ocorrência de pensamentos e sentimentos e não se deixar conduzir por eles.

CONLUSÃO

Ao discutir o câncer, a partir de um olhar mais amplo, entendendo o adoecimento como uma condição complexa e multifacetada, que transcende as barreiras da análise puramente biológica é possível compreender a importância de uma abordagem multidimensional que considere não apenas os aspectos físicos, mas também os emocionais e psicológicos.  Por essa razão que sua compreensão não pode ser restrita à biologia, pois abarca também fatores físicos, psicológicos e culturais (Sinski, 2021).

Nesse estudo pode ser encontrando na literatura uma serie de pesquisas apontando para o aumento do câncer na contemporaneidade, sendo evidente que seu impacto além do físico (OMS, 2022).  A literatura mostra que a perspectiva da doença é moldada por variadas crenças popular, assim como mitos e tabus que podem gerar apreensão e incerteza (Rodrigues; Abrahão; Lima, 2020).

Outro fator importante, ao fazer a intersecção da pratica na clinica psicológica e na literatura é a dificuldade na detecção precoce da qual frequentemente resulta em diagnósticos tardios, afetando os prognósticos (Rodrigues; Abrahão; Lima, 2020). Na experiência de atendimentos com pessoas diagnosticadas com câncer, em muitos momentos esses pacientes como discutido em outro momento nesta pesquisa chegam sem nenhuma performance para qualquer tratamento disponível na rede. Isso acontece devida a condição caquética e o agravamento da doença, situação frequente nos serviços de oncologia segundo a literatura consultada e visualizada na clinica de acolhimento psicológico objeto deste estudo.

Nesse contexto, a abordagem clínica da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) emerge como uma ferramenta potente para o cuidado de pacientes com câncer. Dando ênfase na flexibilidade psicológica, a ACT trabalha as formas de enfrentamento diante desses contextos com os pacientes, ajudando a enfrentar suas experiências internas de maneira adaptativa e alinhada aos seus valores pessoais, ainda que diante de situações de adoecimento. Seus processos psicopatológicos identificam aspectos como fusão cognitiva e inércia que são comuns entre pacientes oncológicos (Monteiro, et al., 2015).

No contexto do tratamento do câncer, a interseção entre a clínica ACT e a oncologia se torna crucial. A doença transcende a biologia e se entrelaça com elementos culturais, sociais e emocionais, e a ACT oferece uma abordagem valiosa para enfrentar esses desafios (Rodrigues; Abrahão; Lima, 2020). Diante disso, ao auxiliar pacientes recém-diagnosticados a lidar com suas emoções e a abraçar uma perspectiva alinhada aos valores, a ACT promove a saúde mental na tentativa de trazer a qualidade de vida aos indivíduos e aos familiares que enfrentam a jornada do câncer.

Portanto, a compreensão aprofundada do câncer e a aplicação da abordagem da terapia de aceitação e compromisso geram grande impacto em pacientes oncológicos, proporcionando um caminho para enfrentar o câncer não apenas fisicamente, mas também emocional e psicologicamente, oferendo um ambiente responsivo e seguro, para fortalecer estratégias de enfrentamento positivas diante do adoecimento. O principal objetivo da ACT é trazer a pessoa para o momento presente com abertura para sentir e pensar mesmo que seja difícil enquanto se direciona para a vida que gostaria de viver, possibilitando mais vida aos dias, mesmo quando não mais um tratamento modificador da doença (Monteiro, et al., 2015).

REFERÊNCIAS:

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1Psicólogo (CRP 10/08860).  Pós-Graduando em Oncologia-Cuidados Paliativo – UEPA. E-mail: lucasalmeidaf46@gmail.com

2Psicólogo (CRP 08/19778). Mestre em Psicologia e Doutor em Distúrbios da Comunicação – UTP.

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