ANÁLISE DO PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DAS OSTEOMIELITES EM PLATÔ TIBIAL NO ATUAL CENÁRIO BRASILEIRO: REVISÃO DA LITERATURA 

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10613032


Pedro Augusto de Lima Barroso1; Ana Gabriela Mascarenhas da Silva Teixeira2; Ana Rita Bizerra Nascimento3; Luiz Filipe de Aragão Costa Ferreira4; Gustavo Oliveira Freitas5; João Victor Schultz Casado6; Lucas Ruan da Silva Sefer7; Phelipe dos Santos Araújo8; Renan de Vasconcelos Neves Filho9; Franklin Max Trindade da Silva10; Anderson Medeiros de Lima11


RESUMO 

A osteomielite é uma infecção óssea que envolve a medula óssea, osso cortical e/ou periosteal. Pode ser causada por bactérias, principalmente Staphylococcus aureus, e ocorre mais frequentemente em crianças e idosos. Os sintomas típicos incluem dor localizada, edema, calor e limitação de movimento, além de febre em casos mais graves. O diagnóstico é baseado em achados clínicos, exames de imagem e culturas microbiológicas. O objetivo deste trabalho é realizar uma análise da atual literatura sobre osteomielites, trazendo a perspectiva dos principais patógenos e quais são os diálogos científicos atuais que facilitam a disseminação da informação científica entre as áreas: ortopedia, infectologia e clínica médica. O presente estudo trata-se de uma revisão da literatura, cuja metodologia foi conduzida conforme metodologia PRISMA, baseada em evidências e um fluxograma. Para a construção desta revisão, obedeceu-se tais fases, sendo elas: sistematização, categorização e tornar acessível os dados estratificados no âmbito da coleta dos dados. No contexto epidemiológico atual brasileiro, as osteomielites se destacam por sua alta incidência em diversas faixas etárias, especialmente em áreas com dificuldades de acesso à saúde e condições socioeconômicas desfavoráveis. Fatores como traumas, doenças crônicas e limitações no acesso a cuidados e a médicos adequados contribuem para esse cenário. O agente mais comum, o Staphylococcus aureus, mostra-se prevalente, mas outras bactérias e microrganismos multirresistentes também estão envolvidos. O diagnóstico enfrenta desafios, especialmente em regiões remotas com acesso limitado a exames precisos. No contexto desafiador das osteomielites no Brasil, é crucial investir em saúde pública e prevenção, especialmente em áreas com difícil acesso aos cuidados de saúde. Diagnosticar precocemente e garantir tratamentos adequados são fundamentais, exigindo políticas inclusivas e esforços coordenados entre profissionais e instituições para enfrentar esse desafio epidemiológico e reduzir seu impacto, especialmente em comunidades vulneráveis. 

Palavras-Chave: Osteomielite; Epidemiologia; Platô Tibial.

ABSTRACT 

Osteomyelitis is a bone infection involving the bone marrow, cortical and/or periosteal bone. It can be caused by bacteria, mainly Staphylococcus aureus, and occurs more frequently in children and the elderly. Typical symptoms include localized pain, edema, heat and limitation of movement, as well as fever in more severe cases. Diagnosis is based on clinical findings, imaging tests and microbiological cultures. The objective of this work is to carry out an analysis of the current literature on osteomyelitis, bringing the perspective of the main pathogens and what are the current scientific dialogues that facilitate the dissemination of scientific information between the areas: orthopedics, infectious diseases and clinical medicine. The present study is an integrative review, whose methodology was conducted according to the PRISMA methodology, based on evidence and a flowchart. To construct this review, six phases were followed, namely: elaboration of the guiding question; literature search; data collect; critical analysis of included studies; discussion of results and presentation of the review. In the current Brazilian epidemiological context, osteomyelitis stands out for its high incidence in different age groups, especially in areas with difficult access to healthcare and unfavorable socioeconomic conditions. Factors such as trauma, chronic illnesses and limitations in access to adequate medical care contribute to this scenario. The most common agent, Staphylococcus aureus, is prevalent, but other multiresistant bacteria and microorganisms are also involved. Diagnosis faces challenges, especially in remote regions with limited access to accurate tests. In the challenging context of osteomyelitis in Brazil, it is crucial to invest in public health and prevention, especially in areas with difficult access to healthcare. Early diagnosis and ensuring adequate treatments are fundamental, requiring inclusive policies and coordinated efforts between professionals and institutions to face this epidemiological challenge and reduce its impact, especially in vulnerable communities. 

Keywords: Osteomyelitis; Epidemiologic; Tibial Plate. 

1. INTRODUÇÃO 

O processo patológico denominado de osteomielite é uma inflamação que ocorre no sistema ósseo do corpo humano, sendo ocasionado normalmente por microrganismos de origem bacteriana, porém em alguns casos podem ter sua etiologia por uma infecção viral. O processo infeccioso pode se disseminar de forma hematogênica e também pelo contágio direto no osso ou por contiguidade. 

De acordo com Heitzmann 2017, o termo osteomielite começou a ser empregado na área médica a partir do ano de 1980, substituindo as seguintes denominações: “abscesso ósseo”, “necrose óssea” e “osteíte”. 

Os principais pacientes acometidos pelas osteomielites, de acordo com Vasconcelos et al (2021), são as crianças, sendo em grande parte localizadas nos ossos longos. Em contraponto a este fator, o pesquisador Saavedra Lozano (2017) discorre que a maioria são pacientes diabéticos, com Insuficiência Renal (IR) e submetidos à radiação que podem ter estruturas ósseas comprometidas, tais como quadril e sacro. 

Destaca-se ainda que a osteomielite tem a capacidade de afetar qualquer osso do organismo, o que está intrinsecamente relacionado à sua evolução. Essa evolução pode se dar de maneira abrupta, caracterizada como aguda, em que os processos inflamatórios apresentam um período usualmente compreendido entre 4 a 6 semanas. Além disso, há a possibilidade de manifestar-se de forma crônica, estendendo-se por meses a anos, conforme mencionado pelo professor Matteson (2017). Esses diferentes períodos de manifestação da osteomielite estão diretamente associados à sintomatologia apresentada pelo paciente, demandando uma abordagem multidisciplinar que envolve diversas especialidades médicas, desde infectologia e ortopedia até a clínica geral. 

Nesse contexto, o mecanismo fisiopatológico da osteomielite, é caracterizado por uma localização difusa, ou seja, acomete a metáfise e a diáfise dos ossos longos, tais como: fêmur, tíbia, úmero ou as articulações do quadril, do tornozelo, do ombro e do cotovelo. Existem fatores que predispõem a sua etiologia, a saber de recém nascidos, idosos com mais de 80 anos, cirurgia articular, pacientes imunossuprimidos, neoplasias e uma grande ingestão de anti-inflamatórios (sejam esteróides ou não). 

Neste aspecto, os pacientes portadores de osteomielites têm um grande desafio para serem diagnosticados e receberem o tratamento farmacológico adequado, pois recorrentemente o uso prolongado de antimicrobianos confere uma alta resistência aos patógenos causadores da doença, gerando grandes ônus para o sistema de saúde, seja privado, seja público. 

Dentre os principais causadores, de acordo com um estudo de Paganini (2007) e corroborando o estudo de Vasconcelos et al (2021), os principais agentes infecciosos das osteomielites são: Staphylococcus aureus, seguido por Kingella kingae ou Streptococcus do grupo A. Vale destacar que o tipo de microorganismo está caracterizado de acordo com a faixa etária dos pacientes e os fatores etiológicos pré-existentes, como mencionado nesta seção anteriormente.

Em contrapartida, os patógenos menos comuns são: Pseudomonas, Salmonella, Haemophilus influenzae tipo B (HIB), entre outros que fazem parte do ambiente hospitalar. 

Não obstante o exposto, a problemática central desta pesquisa reside na seguinte indagação: qual é o perfil epidemiológico das principais osteomielites que acometem o platô tibial no cenário brasileiro contemporâneo? Este questionamento se apresenta como um elemento orientador crucial para o objetivo primordial deste estudo, que consiste em realizar uma análise, com base na literatura atual, das principais manifestações de osteomielite no platô tibial no contexto brasileiro. 

Para isso, foi delineada uma sistematização para poder compreender o assunto da melhor maneira, por meio de tabelas e referencial teórico recente. 

2. METODOLOGIA 

Trazendo a perspectiva de Michel (2015), no processo de investigação se torna necessário uma sequência de fases para poder alcançar o produto final da pesquisa, tais fases são: a sistematização, categorização e tornar acessível os dados estratificados no âmbito da coleta dos dados. 

Com isso a missão de atingir o que foi proposto, segue a perspetiva do objetivo geral do presente trabalho, que nesta investigação é uma pesquisa documental, exploratória e descritiva. 

A pesquisa documental permitiu obter uma compreensão aprofundada do tópico de estudo. Para esta pesquisa nas áreas da Ortopedia, Infectologia e Epidemiologia, é fundamental examinar materiais disponíveis, como livros, artigos e outras fontes de informação, a fim de adquirir conhecimento sobre o assunto e estabelecer conexões entre as áreas supracitadas. 

Com relação a partir da investigação exploratória, Gil (2002), discorre que tem o propósito de reunir dados, informações e orientações sobre uma questão ou problema que ainda não tenha sido abordado em estudos anteriores. Nesse contexto, a pesquisa atual tem a oportunidade de explorar informações essenciais que podem ser compartilhadas de maneira científica nas áreas relacionadas ao objeto de estudo. 

Prosseguindo com os objetivos delineados, é importante salientar que esta investigação incorpora uma abordagem de natureza descritiva. O seu propósito primordial é o de minuciosamente relatar um fenômeno ou situação específica, de acordo com a perspectiva de GIL (1999). 

A síntese de uma pesquisa descritiva proporciona ao pesquisador uma ampla base de conhecimento sobre o tema a ser estudado. Isso ocorre porque esse tipo de estudo se dedica a detalhar minuciosamente os principais eventos e mudanças relacionados ao objeto de investigação, como mencionado por MATTAR (2001, p.23) 

3. REFERENCIAL TEÓRICO 

3.1 Principais Patógenos relacionados a osteomielite 

As infecções ósseas são frequentemente responsáveis por impactos significativos de morbimortalidade da população brasileira, sendo comum internações hospitalares que podem levar a risco de vida ou a amputações. Durante os anos de 2009 e 2019 houve 183.975 internações por osteomielite no Brasil (SANTOS, 2021). 

Um diagnóstico precoce é fundamental para diminuir complicações relacionadas à doença, que geralmente está relacionada a uma tríade composta pelo patógeno, aspectos relacionados ao hospedeiro e pela fonte de infecção (ILIARD, 2017). 

As infecções causadas por via hematogênica são na sua maioria monomicrobianas e correspondem a aproximadamente 20% dos casos, enquanto aquelas por inoculação direta são geralmente polimicrobianas e correspondem a 80% dos casos. A inoculação direta pode ocorrer em traumas ou cirurgias (MATTERSON, 2017). 

É consenso na literatura médica que na osteomielite, o patógeno mais importante é sem dúvida S. aureus, seja isoladamente ou como parte de infecção mista. Tal importância epidemiológica desse agente se deve a virulência desta espécie, incluindo a capacidade de secretar produtos que causam danos à célula hospedeira e ajudam a escapar da resposta imune, bem como a produção de fatores de adesão. Em bebês, S. aureus, Streptococcus agalactiae (grupo B) e Escherichia coli são os isolados ósseos recuperados com maior frequência. Em crianças, S. aureus, Streptococcus pyogenes (grupo A) e (pelo menos em populações não imunizadas) Haemophilus influenzae são mais comuns. Em adultos, outros patógenos além de S. aureus incluem estafilococos coagulase-negativos, Enterococcus spp, Streptococcus spp, P. aeruginosa, várias espécies de Enterobacteriaceae e, ocasionalmente, bactérias anaeróbias obrigatórias (LIPSKY; BERENDT, 2010). 

Ainda de acordo com os autores supracitados a forma fúngica da doença ocorre em pacientes com fatores de risco para infecções fúngicas profundamente estabelecidas (p. ex., condição de imunossupressão, terapia antibiótica de amplo espectro recente, tratamento com dose alta de corticosteroide), manifesta-se de forma indolente, requer biópsia de osso para diagnóstico e é tratada com agentes antifúngicos. A infecção micobacteriana (habitualmente tuberculosa) também ocorre em hospedeiros imunocomprometidos, em especial naqueles infectados pelo vírus HIV), assim como em imigrantes de áreas de alta endemicidade e naqueles que viajam por estes locais. 

Os mecanismos de infecção são complexos e variam com o agente envolvido. Um dos fatores de manutenção e cronificação das infecções é a capacidade de adesão e produção de uma camada de polissacarídeos conhecida como biofilme (HEITZMANN et. al, 2017). 

O comportamento das bactérias na formação do biofilme, permitiu compreender fenômenos de recidiva de infecções, resistência aos antibióticos, e o impacto da presença de implante cirúrgico no sítio infectado. As bactérias formadoras de biofilme existem em duas formas: planctônica (livre) e fixa. Quando há um volume elevado de bactérias planctônicas, é possível ocorrer a migração para a corrente sanguínea, o que resulta em septicemia. A bactéria planctônica pode aderir-se a uma superfície como tecido necrosado ou corpo estranho (implante cirúrgico), e tornar-se fixa. Já na forma fixa (séssil), as bactérias sésseis tendem a formar um biofilme de polissacarídeo sobre a superfície tecidual ou o implante. A infecção instaurada na presença de biofilme é mais resistente aos antibióticos, pois o medicamento não consegue ultrapassar o glicocálix (camada mais externa) do biofilme de forma efetiva (JORGE; CHUEIRE; ROSSIT, 2010).

3.2. Osteomielite de Platô Tibial 

O platô tibial corresponde à superfície articular da epífise proximal da tíbia. As fraturas do planalto tibial podem resultar tanto em incongruência da superfície articular quanto em instabilidade da articulação do joelho. Os objetivos primários do tratamento são a restauração anatômica da superfície articular, o restabelecimento do eixo mecânico do membro inferior e a restituição de uma articulação estável ao longo de todo o arco de movimentos do joelho (KFURI JÚNIOR, 2018). 

Essa fratura geralmente é causada por forças de impacto direto, como quedas, acidentes automobilísticos ou práticas esportivas de alto impacto (RUANET, 2023). 

O platô tibial desempenha um papel crucial na articulação do joelho, permitindo a estabilidade e a movimentação adequada da articulação. Quando ocorre uma fratura nessa região, é comum que haja um desalinhamento dos ossos e danos associados aos tecidos moles, como ligamentos e cartilagem (NELATON, 2017) . 

Os sintomas de uma fratura de platô tibial podem incluir dor intensa no joelho, inchaço, dificuldade em suportar peso, instabilidade e limitação da amplitude de movimento. Em alguns casos, pode haver deformidade visível ou crepitação ao mover o joelho. O diagnóstico de uma fratura de platô tibial geralmente é feito com base em exames de imagem, como radiografias, tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM). Esses exames ajudam a avaliar a extensão da lesão, o grau de deslocamento dos fragmentos ósseos e a presença de lesões associadas (REUTER,2023). 

O tratamento de uma fratura de platô tibial depende da gravidade da lesão e das características individuais do paciente. Fraturas menos graves, com pouco deslocamento, podem ser tratadas de forma conservadora, utilizando imobilização com gesso ou órteses, além de fisioterapia para ajudar na recuperação. No entanto, fraturas mais graves, com deslocamento significativo ou lesões associadas, geralmente requerem intervenção cirúrgica. A cirurgia pode envolver a redução e fixação dos fragmentos ósseos com o uso de placas, parafusos ou hastes intramedulares. Em casos mais complexos, pode ser necessário realizar enxertos ósseos ou transplantes de cartilagem para restaurar a função articular (KAVAGANH, 2018).

Após a cirurgia, é essencial seguir um programa de reabilitação adequado, que inclui exercícios de fortalecimento muscular, alongamento e mobilização progressiva do joelho. A fisioterapia desempenha um papel fundamental na recuperação, ajudando a restaurar a amplitude de movimento, a estabilidade e a função do joelho. É importante ressaltar que o tempo de recuperação pode variar dependendo da gravidade da fratura, do tipo de tratamento realizado e das características individuais do paciente. Em casos mais simples, a recuperação pode levar de algumas semanas a alguns meses. No entanto, fraturas mais complexas podem exigir um período de recuperação mais longo, podendo levar até um ano para uma recuperação completa (NELATON, 2017). 

É fundamental seguir as orientações médicas e participar ativamente do processo de reabilitação para obter os melhores resultados. Um acompanhamento regular com o médico e o fisioterapeuta é essencial para monitorar o progresso e ajustar o tratamento, se necessário. 

3.3 O mecanismo de resistência Bacteriana 

A disseminação de patógenos que causam resistência bacteriana nas osteomielites está relacionado diretamente com os dados epidemiológicos pois em grande parte cabe a CCIH verificar a duração da infecção, as principais causas e qual a comorbidade associada como foi visto na introdução deste projeto ( diabetes, doença arterial oclusiva, idade e etc.). 

Levando em consideração o ponto de vista microbiológico, as cepas mais predominantes são: S. Aureus, Staphylococcus coagulase negativa, e os bacilos gram negativos são os agentes mais frequentes isolados nas culturas bacteriológicas (REUTER,2023). Com isso tem que interagir diretamente com as comorbidades associadas em primeira instância o pé diabético ou secundário a Lesões Sob Pressão (LPP): 

[…]apresentam etiologia polimicrobiana envolvendo frequentemente Streptococcus, Staphylococcus, bactérias gram negativas e anaeróbias. Da mesma forma, em pacientes imunossuprimidos, o espectro de patógenos pode ser ainda maior, incluindo patógenos oportunistas. Patógenos raros, como Bartonella henselae, Aspergillus, Mycobacterium avium e Candida albicans também já foram isolados nesses casos ( KAVAGANH, 2018, p.10).

A descoberta do patógeno com antecedência a partir da biópsia do tecido é de suma importância para justamente o planejamento terapêutico ser feito da maneira correta, em conjunto a estes aspectos devem ser analisados os sintomas clínicos, vários métodos de imagem que podem facilitar o diagnóstico de osteomielite crônica. 

Outro fator é o acompanhamento dos exames de sangue e os diagnósticos radiográficos convencionais: tomografia computadorizada, por emissão de pósitrons, e ressonância magnética, todos são de grande importância diagnóstica atualmente. 

3.4 Classificação das Osteomielites 

A osteomielite é caracterizada como heterogênea pois suas manifestações clínicas, são de forma mista nos aspectos clínicos, fisiopatologia e tratamento farmacológico. Outro fator que merece destaque é justamente que as osteomielites são classificadas com a mesma nomenclatura, sendo relacionada diretamente com as características que têm em comum, possibilitando a padronização nas condutas e a comparação de desfechos entre os diversos casos clínicos (CARVALHO,2013). 

Com relação ao histórico da classificação das osteomielites sua emersão foi em 1959 desenvolvida pelo pesquisador Trueta, o mesmo realizou uma investigação na qual foram abordadas apenas as osteomielites agudas que tem como forma de disseminação o tecido sanguíneo e constatou o surgimento de 3 grupos a partir da vascularização óssea de cada paciente, conforme o quadro 01: 

Quadro 01 – Classificação das Osteomielites 

TIPO DE PACIENTESCARACTERÍSTICAS
Crianças menores de 1 anoLesões epifisárias graves e permanentes e muitas vezes acompanhadas de infecções articulares e formação de invólucro.
Crianças com 1 ano e Jovens até 16 anosCausa grande lesões na camada cortical do osso com formação de invólucros, mas poupa a cartilagem de crescimento
Jovens de 17 anos e adultosNesta divisão acomete ossos curtos como as vértebras; nos ossos longos pode invadir todo o osso e frequentemente evolui a cronicidade da infecção da camada medular.

Fonte: Adaptado de Carvalho (2013).

Outra aplicação de classificação de osteomielite é do pesquisador Waldvogel em 1970 na qual é subdividido de acordo com a fisiopatologia relacionada em conjunto com o tempo de evolução da infecção. Conforme o Quadro 02: 

Quadro 02- Classificação das Osteomielites de acordo com Waldvogel

É notável a vasta possibilidade de classificação de osteomielites nos diversos contextos, e vale destacar a utilizada pela Sociedade Brasileira de Ortopedia que surgiu em 1999, que Lima e Zumiotti sugerem a classificação de acordo com a proposta por Waldvogel como foi citado no decorrer desta seção, porém com um adendo para uma aplicabilidade voltada ainda mais para a clínica. 

As osteomielites são classificadas como hematogênica, por contiguidade e osteomielite da coluna vertebral a depender da localização e do mecanismo da infecção óssea, e subdivididas como agudas ou crônicas de acordo com o tempo de evolução dos sintomas. Nesta classificação, o termo osteomielite por contiguidade inclui as osteomielites pós-traumática, que são ainda divididas em osteomielites pós-operatórias e pós-fraturas expostas (LIMA, ZUMIOTTI, 1999,P.34).

Vale destacar que esta classificação é utilizada pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo, outro ponto é que este serviço público serve de referências para várias residências de ortopedia espalhadas pelo Brasil. De acordo com Lima et al (1999) a classificação das osteomielite de Lima e Zumiotti é exposta no quadro 03: 

A partir destas classificações pode-se perceber o vasto conhecimento que existem sobre a temática e no decorrer da aplicabilidade do presente projeto é de extrema importância tais literatura para justamente podermos verificar quais destas classificações são mais aplicadas no software abordado. 

3.5 Fatores de Risco para Osteomielites. 

Assim como toda patologia, a osteomielite se predispõe a acontecer com o passar do tempo. Entender os fatores de risco é necessário para justamente poder evitar o seu acontecimento e tratar da melhor forma, de acordo com Villa (2013) e

Santos (2019) estes são os fatores de risco mais comuns associados à osteomielites: 

1. Trauma: causado por lesões graves, como fraturas ósseas expostas, ferimentos penetrantes ou cirurgias ortopédicas ajudam ao aumento de incidência do desenvolvimento de osteomielite, desde então a exposição do sistema ósseo facilita a entrada de bactérias no osso levando à infecção. 

2. Diabetes: os pacientes com diabetes devem ter o cuidado dobrado, pois com a diminuição do suprimento sanguíneo para o sistema ósseo e a redução da capacidade do sistema imunológico de combater as infecções. Outro ponto que merece destaque é um dos quadros desenvolvidos de forma grave na diabetes que é a neuropatia diabética que pode levar a lesões nos pés, aumentando a probabilidade de infecções ósseas. 

3. Cirurgias: procedimentos cirúrgicos especialmente aqueles que envolvem a implantação de dispositivos médicos como as próteses articulares, placas, parafusos que aumentam a incidência de osteomielites. As bactérias podem se alojar ao redor destes dispositivos e infectar o osso. 

4. Pessoas com sistema imunológico enfraquecido, seja devido a doenças crônicas, como HIV/AIDS, ou a tratamentos como quimioterapia, são mais suscetíveis à osteomielite. A capacidade do organismo de combater infecções é reduzida, permitindo que as bactérias se proliferam no osso. 

5. Idade Avançada: um dos principais motivos de desenvolvimento de osteomielites com é justamente a susceptibilidade com a idade avançada. O envelhecimento corrobora para o enfraquecimento do sistema imunológico, além de aumentar o número de comorbidade associadas tais como: hipertensão arterial, diabetes mellitus, obesidade e a própria osteoporose. Com isso, outro ponto em destaque é uso de drogas injetáveis, pois com substâncias sendo introduzidas diretamente no corpo é criado um caminho de entrada de bactérias causadoras de osteomielites especialmente em ossos longos. 

Vale salientar que esses são apenas alguns dos fatores de risco associados à osteomielite. Outros fatores, como doenças crônicas, má circulação sanguínea e uso prolongado de corticosteróides, também podem contribuir para o desenvolvimento da infecção óssea. 

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Diante da complexidade da osteomielite, este estudo buscou compreender sua etiologia, manifestações clínicas, diagnóstico e fatores de risco, com enfoque especial nas osteomielites de platô tibial no contexto brasileiro. A revisão da literatura revelou a heterogeneidade da doença, sua variedade de agentes causadores, e os desafios enfrentados no diagnóstico e tratamento. 

A pesquisa documental, exploratória e descritiva, aliada a uma análise criteriosa do referencial teórico, permitiu a sistematização de informações essenciais. A abordagem detalhada sobre os principais patógenos revelou a importância do S. aureus e a complexidade da formação de biofilmes como fatores que contribuem para a resistência bacteriana nas osteomielites. 

A especificidade da osteomielite de platô tibial foi elucidada, destacando a relevância do tratamento cirúrgico e a importância crucial da reabilitação para uma recuperação eficaz. Além disso, as classificações existentes proporcionaram uma compreensão abrangente da diversidade clínica da osteomielite, facilitando a comparação de casos e padronização de condutas. 

A análise dos fatores de risco ressaltou a variedade de condições que podem predispor indivíduos à osteomielite, desde traumas até condições crônicas como diabetes e imunossupressão. A compreensão desses fatores é fundamental para a prevenção e tratamento adequado. 

Em síntese, este estudo contribui para a compreensão aprofundada das osteomielites, fornecendo subsídios para profissionais de saúde na abordagem clínica e gestores na formulação de políticas de saúde. A heterogeneidade da doença destaca a necessidade de abordagens personalizadas, considerando os diversos fatores que influenciam seu desenvolvimento e evolução.

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1Acadêmico de Medicina (UNIPÊ) Instituição: Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ) – E-mail: augustoo.pedro@gmail.com 
2Acadêmica de Medicina (Unifacisa) Instituição: Centro Universitário Unifacisa – E-mail: ana.mascarenhas@maisunifacisa.com.br 
3Acadêmica de Medicina (UNIPÊ) Instituição: Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ) – E-mail: anaritabizerra@hotmail.com 
4Instituição: Coordenador Médico do Núcleo Interno de Regulação da Maternidade Frei Damião (SES-PB) – E-mail: Luiz__filipe_@hotmail.com 
5Acadêmico de Medicina (FAMENE) Instituição: Faculdade de Medicina Nova Esperança (FAMENE) – E-mail: freitas.ogustavo@gmail.com 
6Acadêmico de Medicina (UFPB) Instituição: Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – E-mail: joao.schultz@academico.ufpb.br 
7Acadêmico de Medicina (FAMENE) Instituição: Faculdade Nova Esperança (FAMENE) – E-mail: lucasrsefer@gmail.com 
8Acadêmico de Medicina (FCM-PB) Instituição: Afya – Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba – (FCM-PB) E-mail: araujophelipe@hotmail.com
9Acadêmico de Medicina (UNIPÊ) Instituição: Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ) – E-mail: renandfilho10@gmail.com
10Ortopedista e Traumatologia (SES-PB). Instituição: Secretaria de Saúde do Estado da Paraíba (SES-PB) – E-mail: dr.fraklintrindade@gmail.com
11Residente em Ortopedia e Traumatologia (SES-PB). Instituição: Secretaria de Saúde do Estado da Paraíba (SES-PB) – E-mail: anderson_lima_n@hotmail.com